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Anais do XI Encontro do Grupo de Pesquisa Educação, Artes e Inclusão – 22, 23 e 24 de
junho de 2015 Florianópolis – CEART/UDESC – ISSN: 2176-1566
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ADAPTANDO TEXTOS AOS LEITORES DE TELA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Daltro Keenan Junior/Uergs1 RESUMO O presente texto aborda a experiência do autor com a transcrição e adaptação de textos digitalizados para formato acessível aos leitores de tela usados por pessoas com deficiência visual na utilização de computadores. O motivo para a realização dessa tarefa surgiu a partir do ingresso de discente com baixa visão na instituição em que atuo como docente. Com base no aprendizado informal e autodidata e, por meio de relato, em forma de memorial, descrevo as experiências e aprendizagens resultantes do processo de busca pela promoção da acessibilidade, bem como, na descrição de protocolos de realização destas adaptações. Nas conclusões alerto para a necessidade de um planejamento institucional consciente da presença da pessoa com deficiência e aponto soluções para os problemas encontrados na adaptação dos textos.
Palavras-chave: Educação inclusiva. Tecnologia assistiva. Acessibilidade. ABSTRACT The present paper is about the author's experience with the transcription and adaptation of scanned text into an accessible format for screen readers handled by the visually impaired in the use of computers and ICT. The reason for performing this work emerged from the entry of students with low vision in the institution where I work as a teacher. Based on informal and self-taught learning and through reports in the form of memorial I describe the experiences and learning resulted from the search process for the promotion of accessibility as well as in the description of these adaptations achievement protocols. The conclusions warn the need for a conscious institutional planning of the presence of the person with disabilities and point solutions to problems encountered in the adaptation of texts.
Keywords: Inclusive education. Assistive technology. Accessibility.
Introdução
Para um melhor entendimento das proporções e necessidades projetadas
pelo desenvolvimento da educação inclusiva e a crescente democratização do
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ensino na educação básica, fatores estes que têm contribuído para o aumento
significativo do número de matrículas de pessoas com deficiência no ensino
superior, se faz necessário apresentar alguns dados e informações que irão situar o
leitor no atual panorama da educação inclusiva.
Os relatórios do Censo Demográfico de 2010 – Características gerais da
população, religião e pessoas com deficiência - Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2010) contabilizaram, no Brasil, uma população total de
190.755.799 pessoas consideradas como população residente, onde 35.774.392
foram declaradas portadoras de alguma deficiência visual.
Gráfico 1 - População portadora de alguma deficiência visual
Fonte: Elaborado pelo autor
Cabe ressaltar que essa parcela (35.774.392) de pessoas definidas como
“pessoas que enxergam com alguma dificuldade”, ou seja, qualquer pessoa que
utilize alguma correção ótica, como por exemplo, o uso de óculos, ou lentes de
contato e, indiferente do grau ou tipo de déficit de visão, não será tratada aqui como
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pessoa com deficiência visual, utilizarei, portanto, a descrição de pessoa com
deficiência visual definida pelo Decreto 5.296 de 12 de abril de 2004:
[...] a deficiência visual abrange a cegueira e a baixa visão, sendo considerada cegueira quando a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica e baixa visão quando a acuidade visual estiver entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica (BRASIL, 2004).
Sendo assim, um recorte dessa parcela total de pessoas denominadas como
“pessoas com alguma deficiência visual”, descritas no censo de 2010, revela que
506.377 pessoas não enxergam de modo algum, 6.056.533 possuem grande
dificuldade e 29.211.482 enxergam com alguma dificuldade.
Gráfico 2 – Pessoas com alguma deficiência visual
Fonte: elabora pelo autor
Atualmente, o site do IBGE enumera que a projeção para a população
brasileira em junho de 2015 é de aproximadamente 204.364.000 de pessoas.
Fazendo um comparativo entre o número de pessoas com cegueira e baixa visão,
apontadas no censo 2010, que totalizava a soma de 6.562.910, e a projeção atual
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da população da União Federativa do Estado de Santa Catarina, que é de 6.791.403
pessoas, podemos afirmar que, em 2010, o contingente de pessoas com deficiência
no Brasil, era equivalente ao número de cidadãos do estado catarinense.
O contexto inclusivo e a educação superior
Há décadas o Brasil vem debatendo e elaborando marcos legais, políticos e
pedagógicos relacionados à perspectiva inclusiva. Nesse sentido, cabe cada vez
mais aos sistemas de ensino aprimorar suas estratégias político-pedagógicas e de
gestão, a fim de garantir o atendimento especializado em todas as suas
modalidades:
Para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. Isto significa que as pessoas são diferentes, têm necessidades diversas e o cumprimento da lei exige que a elas sejam garantidas as condições apropriadas de atendimento às peculiaridades individuais, de forma que todos possam usufruir as oportunidades existentes. Há que se enfatizar aqui, que tratamento diferenciado não se refere à instituição de privilégios, e sim, a disponibilização das condições exigidas, na garantia da igualdade. (BRASIL, 2004, P. 9)
Assim, o Governo Federal e o Ministério de Educação têm implantado uma
série de programas para garantir os princípios de equidade e valorização da
diversidade, da acessibilidade e da igualdade de condições para promover o acesso
e permanência dos educandos deficientes na escola regular e em todas as
modalidades de ensino. A seguir listo alguns desses programas:
- Programa Escola Acessível (2008), que transfere recursos financeiros às
escolas públicas, para a promoção da acessibilidade arquitetônica e aquisição de
equipamentos de tecnologia assistiva2;
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- Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais (2005),
atualizadas pelos quites 2012/2013, que disponibiliza recursos destinados ao
Atendimento Educacional Especializado (AEE);
- Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial –
Modalidade a Distância (2007), desenvolve em parceria com as Instituições Públicas
de Educação Superior, formação continuada para professores que atuam nas Salas
de Recursos Multifuncionais;
- Programa Incluir: Acessibilidade na Educação Superior (2005), uma parceria
da Secretaria de Educação Especial e a Secretaria de Educação Superior do MEC.
Ações afirmativas, como as cotas para pessoa com deficiência,
disponibilizadas por algumas universidades, também têm promovido o acesso à
educação na modalidade do ensino superior.
No documento intitulado Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), encontramos algumas
orientações sobre inclusão escolar no âmbito do ensino superior:
Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão (BRASIL, 2008, p. 15).
Para Caiado (2013), as pessoas com deficiência têm acessado a modalidade
de ensino superior com maior frequência, “prova disso tem sido o crescente número
de alunos deficientes no ensino superior” (CAIADO, 2013, p.30). São indicativos
desse crescimento da busca pelo acesso à modalidade do ensino superior os dados
apontados no documento - Indicadores Consolidados do Enem 2013 (INEP, 2013),
onde o número de matrículas por tipo de atendimento especial com o critério
cegueira atingiu 993 matrículas, em 2012 e 1.118 matriculas, em 2013, já no critério
baixa visão 7.007 matrículas em 2012 e 8.582 matrículas em 2013. Outro
documento que corrobora com a afirmação de Caiado (2013) é a tabela de
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“Matrículas de Alunos Portadores de Necessidades Especiais nos Cursos de
Graduação Presenciais e a Distância, por Tipo de Necessidade Especial”, disponível
nas Sinopses Estatísticas da Educação Superior – Graduação, relativas ao Censo
Escolar do Ensino Superior (INEP, 2013), que aponta um total de 3.943 alunos com
cegueira e 6.955 alunos com baixa visão matriculados no Ensino Superior.
Abaixo, gráfico que ilustra o vertical crescimento do acesso da pessoa com
deficiência na Educação Superior.
Gráfico 3 - Censo Escolar da Educação Superior MEC/INEP (2013)
Há de se ressaltar que existem casos de pessoas com deficiência que
ingressam no ensino superior e, por motivos de agravamento da doença, falta de
oferta de material didático-pedagógico adaptado e de profissionais com formação
em atendimento especializado, ausência de salas multifuncionais e de tecnologias
assistivas, barreiras atitudinais geradas por colegas e professores, falta de
mobilidade urbana e acessibilidade aos espaços acadêmicos como a biblioteca,
entre outros, acabam por não concluir seus estudos nesta modalidade.
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Memorial como Metodologia
Para descrever o relato das experiências com a adaptação do material
didático-pedagógico e musical, destinados a discente com baixa visão e, realizado
com a finalidade de dar acesso aos conteúdos abordados nas disciplinas do curso
de música, será aqui utilizado, como metodologia, o Memorial. Este formato é muito
comum na área da Educação, podendo ser direcionado à descrição da formação,
onde professores ou licenciandos em formação continuada descrevem e tecem
reflexões sobre sua própria prática, com o objetivo de aperfeiçoar/aprofundar seus
conhecimentos na construção de uma identidade profissional própria. Os autores
Freire e Linhares apontam que o memorial:
Na medida em que apresenta suas impressões sobre o aprendido e sua correlação com o cotidiano profissional, o aluno/professor através da ação-reflexão-ação retira da experiência de sua própria vida os fundamentos para uma ação constante de reformulação da identidade do professor e dos seus saberes. Como num exercício constante e solitário, de auto-análise, o memorial lhe permite compreender as “circunstâncias” em que constrói sua identidade e avalia sua participação no processo de aprendizagem e no cotidiano da prática docente. (FREIRE; LINHARES, 2009, p. 12)
Portanto, é através das experiências vividas e de suas ações e reações na
minha prática docente, seguidas de reflexões e reformulações de novas estratégias
que irão fundamentar as próximas ações e reações, em um ciclo de crescimento e
aperfeiçoamento constantes, que a seguir descrevo com um breve memorial, uma
aproximação com a inclusão e promoção da acessibilidade.
Meu contato com a educação especial
Há alguns anos tenho trabalhado diretamente com ensino da música, em
especial, na área da prática instrumental direcionada ao violão. Atuei por quase 20
anos em uma conceituada fundação de artes do interior do Estado do Rio Grande do
Sul, atualmente, me dedico à docência em um curso de Licenciatura em Música de
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uma IES pública estadual. Nessa trajetória, tenho observado a intensificação dos
debates sobre inclusão educacional e a crescente inserção de alunos com
deficiências, no contexto dos espaços de educação musical. No ano de 2012, a IES
em que atuo como professor recebeu o ingresso de uma aluna com baixa visão. A
falta de um núcleo ou laboratório de produção de acessibilidade nesta instituição,
bem como, minha inexperiência com a educação especial, não foram encarados
como entrave para a inclusão dessa educanda. Além disso, também percebi que,
como eu, a maioria dos professores tinha pouca ou nenhuma experiência com a
educação de pessoas com cegueira ou baixa visão.
Para Ropoli (2010), “opor-se a inovações educacionais, resguardando-se no
despreparo para adotá-las, resistir e refutá-las simplesmente, distancia o professor
da possibilidade de se formar e de se transformar pela experiência.” (ROPOLI, 2010,
p.15). Dessa forma, se adiam projetos do ensino comum e especial focados na
inserção das diferenças nas escolas. Ainda, segundo González (2009), “o destino
marca nossas vidas com sua força, impõe-se, atravessa nossa existência como uma
flecha, sem que possamos impedi-lo (se pudéssemos não seria destino)”
(GONZÁLEZ, 2009, p. 12).
Dentro dos meus limites, tenho dado apoio a esta educanda no que concerne
à adaptação de materiais didáticos ampliados ou digitalizados, acessibilidade virtual
e criação do grupo de estudo sobre Braille e Musicografia Braille. Segundo a
Declaração de Salamanca (1994), os programas de estudos devem ser adaptados
às necessidades dos alunos e não o contrário, sendo que os que apresentarem
necessidades educativas especiais devem receber apoio adicional no programa
regular de estudos, ao invés de seguir um programa de estudos diferente.
Considerando-se que o sistema visual detecta e integra de forma instantânea
e imediata grande parte dos estímulos no ambiente e, opera inclusive nas relações
de comunicação não verbal, em pessoas desprovidas deste sentido ou com níveis
muito baixos desta capacidade, perceberemos que:
Esses alunos recebem e organizam a informação no processo de apropriação do conhecimento e construção da realidade em um contexto
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impregnado de padrões de referências e experiências eminentemente visuais que os coloca em situação de desvantagem. Por isso, necessitam de um ambiente estimulador, de mediadores e condições favoráveis à exploração de seu referencial perceptivo particular. [...] Devem ser tratados como qualquer educando no que se refere aos direitos, deveres, normas, regulamentos, combinados, disciplina e demais aspectos da vida escolar. (BRASIL, 2007, p 14)
Para propiciar o acesso aos materiais didáticos à aluna com baixa visão,
foram instalados e configurados, nos computadores do laboratório de informática da
instituição de ensino, o software NVDA3 conhecido como “leitor de tela” e um
sistema operacional chamado DOSVOX4, que contém uma suíte de aplicativos
destinados à pessoa com deficiência visual. Além disso, pesquisei sobre a
funcionalidade e possibilidades oferecidas pelos programas de OCR (Optical
Character Recognition), e derivado destes, os OMR (Optical Music Recognition),
utilizados na transcrição dos textos e partituras “em tinta” (expressão utilizada por
pessoas cegas para descrever os livros que não são em escrita Braille), usados nas
leituras de determinados componentes curriculares. Esses softwares também são
usados na extração de textos em formato digital, da extensão PDF para o formato
digital com extensão TXT, ou para possíveis ampliações dos textos.
Contudo, ao longo do processo de adaptação desses textos tenho me
deparado com algumas questões:
- A maioria dos textos e livros que fazem parte da bibliografia obrigatória de
todas as disciplinas do curso não é acessível aos softwares de leitura de texto
usados por pessoas com deficiência visual.
- Não há um conhecimento, por parte dos professores, sobre os formatos de
textos que são acessíveis aos leitores de tela, entre eles, imagens, tabelas e textos
em formato PDF.
- Inexiste um protocolo para a realização de digitalização de textos pautada
na acessibilidade digital.
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Para melhor entendimento dos apontamentos citados acima serão mostrados
alguns exemplos encontrados no processo de adaptação dos textos e apontadas
possíveis soluções, quando estes resultados não são satisfatórios.
Um fato muito comum é a apresentação do texto no formato PDF, oriundo de
um escaneamento em forma de imagens que são posteriormente convertidas para o
formato PDF, resultando em um arquivo de grande tamanho em Megabytes. Para
estes arquivos o leitor de tela emitirá a seguinte mensagem: “Mensagem do NVDA
para texto em imagem: NVDA Alerta, documento vazio este documento parece estar
vazio pode ser uma imagem digitalizada que necessita de OCR ou um documento
danificado” (NVDA).
Um usuário avançado que possua um plugin de OCR instalado em seu leitor
de tela pode realizar a tarefa emitida pelo NVDA, mas ainda necessitará de um
revisor que lerá o texto à procura de imperfeições geradas no momento da extração
do texto e na conversão para o formato TXT realizado de forma automatizada pelo
OCR. A seguir, um exemplo de trecho de um texto já convertido pelo OCR do
formato PDF (a partir de imagens) para o formato TXT:
Figura 1 - Conversão automatizada realizada por OCR
Fonte: elaborado pelo autor
Outro problema é encontrado quando o texto é protegido pelo autor. Neste
caso, o leitor de tela emitirá o seguinte aviso: “Mensagem do NVDA para texto
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protegido pelo autor: falha de proteção, o autor definiu as configurações de
segurança deste documento de forma a impedir o acesso.” (NVDA). Assim, será
necessário “quebrar” a chave embutida pelo autor do texto, deixando claro que, só
será realizada essa operação com o intuito de tornar o texto acessível, não sendo
utilizado para fazer cópias parciais ou totais do texto protegido.
Figura 2 - Exemplo de documento protegido
Fonte: Elaborado pelo autor
Conclusões
Durante o apoio à aluna com deficiência visual, tenho observado que os
espaços virtuais de e-mail, portal do aluno e site institucional, bem como, os espaços
físicos são de baixa acessibilidade. Alerto para a necessidade de um planejamento
coletivo e contínuo, e na avaliação de atividades promovida no ambiente físico da
instituição, cito um exemplo de planejamento que não considerou a presença dessa
aluna com deficiência visual que se locomove com o auxílio de uma bengala. Para
exemplificar, as dificuldades de locomoção, em um determinado momento do
semestre escolar houve a realização de uma instalação de artes visuais, que
transpassou fios de linha em um dos corredores de livre acesso do prédio da
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instituição, não alertando esta aluna da existência desses fios no caminho do
laboratório de informática.
Pela experiência acumulada mediante as adaptações realizadas, concluo que
o formato de escaneamento do livro ou texto (xerox) direto para o formato em PDF,
e não em imagem e depois em PDF, evita os problemas abordados anteriormente.
Quanto maior for a qualidade no processo de escaneamento, que é denominada
pela quantidade de dpi5 utilizada nesse processo, melhor será o resultado da
extração do texto, o que evitará um número excessivo de erros e eliminará a
necessidade de um revisor do texto, gerando assim, uma maior autonomia para
pessoa com deficiência visual. Muitos outros problemas são gerados pela utilização
de tabelas e imagens nos textos acadêmicos, e que, provavelmente, demandaria na
escrita de um novo artigo para abordar estes conteúdos. Meu intuito foi dar um
panorama mais geral dos problemas básicos encontrados na adaptação de textos
aos leitores de tela usados por pessoas com deficiência visual e os aprendizados
adquiridos nesse processo.
1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS/UDESC), sob orientação da Profª Drª Regina Finck Schambeck. 2 A tecnologia assistiva é qualquer item, equipamento ou aplicativo, seja adquirido comercialmente ou por encomenda, modificado ou personalizado, que é usado para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais de uma pessoa com deficiência. (ROBITAILLE, 2010, p. 5, tradução nossa). 3 (NonVisual Desktop Access). Disponível em: http://www.nvaccess.org/ 4 Disponível em: http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/ 5 Pontos por polegada (em inglês dots per inch, dpi) é uma medida de densidade relacionada à composição de imagens, também chamada de "resolução de imagem" ou simplesmente "resolução". De maneira geral, quanto maior o número de pontos por polegada, mais detalhada e bem definida é a imagem. Referências
BRASIL. Decreto n° 5.296 de 2 de Dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica [...]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>. Acesso em: 20 maio de 2015.
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