adolescente autor de ato infracional
DESCRIPTION
Este trabalho pretende discutir o conceito de adolescência e o perfil do jovem, no Brasil, segundo recente estudo da UNICEF, como base para compreender a situação do adolescente autor de ato infracional e a atuação da FEBEM – Fundação do Bem Estar do Menor.Para o alcance do objetivo do trabalho buscou-se conhecer a unidade FEBEM, em São José dos Campos, por meio de entrevista com a Assistente Social responsável pelos programas Sócio-educativos específicos, para se construir a aproximação teórico-prática à realidade do adolescente autor de ato infracional. O resultado do trabalho trouxe a ampliação do conhecimento da problemática em questão.TRANSCRIPT
-
O ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL
Bruna Rodrigues1, Elisngela Fabiana Agenor2, rica Cristina SantAna Rosa3, Slvia
Maria Barbosa4, Tereza Cristina Peixoto de Souza5, Elizabeth Moraes Liberato6
1UNIVAP/Faculdade de Cincias Sociais Aplicadas, [email protected] 2UNIVAP/Faculdade de Cincias Sociais Aplicadas, [email protected] 3 UNIVAP/Faculdade de Cincias Sociais Aplicadas, [email protected]
4 UNIVAP/Faculdade de Cincias Sociais Aplicadas, [email protected] 5 UNIVAP/Faculdade de Cincias Sociais Aplicadas, [email protected]
6UNIVAP/Faculdade de Cincias Sociais Aplicadas,[email protected]
Resumo- Este trabalho pretende discutir o conceito de adolescncia e o perfil do jovem, no Brasil, segundo recente estudo da UNICEF, como base para compreender a situao do adolescente autor de ato infracional e a atuao da FEBEM Fundao do Bem Estar do Menor.Para o alcance do objetivo do trabalho buscou-se conhecer a unidade FEBEM, em So Jos dos Campos, por meio de entrevista com a Assistente Social responsvel pelos programas Scio-educativos especficos, para se construir a aproximao terico-prtica realidade do adolescente autor de ato infracional. O resultado do trabalho trouxe a ampliao do conhecimento da problemtica em questo. Palavras-chave: Adolescente, ato infracional rea do Conhecimento: VI Sociais Aplicadas Servio Social Introduo
Para a constituio da fase da vida denominada adolescncia faz-se necessrio considerar diversos aspectos importantes ao ser bio-psico-social. Como qualquer etapa, a adolescncia possui caractersticas e necessidades especiais que corroboraro para a vivncia saudvel desse estgio, bem como de todos os outros subseqentes a ele. Falhas, desatenes e negligncias na construo do desenvolvimento fsico e cognitivo, de qualquer pessoa, podem acarretar prejuzos irreversveis para o prprio indivduo, mas, tambm, para a famlia e sociedade. O que dizer de uma criana ou adolescente autor de ato infracional? Responsabiliz-los perante as falhas de toda uma estrutura ou sistema social?
As respostas devem ser buscadas junto
aqueles que atuam na rea. Para tanto, o objetivo deste trabalho compreender a realidade do adolescente autor de ato infracional inserido na instituio FEBEM So Jos dos Campos. Matrias e Mtodos A conceituao da adolescncia no mundo moderno.
O que est ligado, em primeiro lugar, ao que se pensa sobre adolescncia a idia de transformao. Transformao essa que se
caracteriza principalmente pela mudana de uma fase da vida para outra.
Em alguns casos, pode ser uma fase tranqila:
a pessoa tem conscincia do que est acontecendo, das mudanas pelas quais est passando, e tudo transcorre como em qualquer outro perodo. Em outros casos, a adolescncia provoca crises, dificuldades, preocupaes etc., principalmente se a pessoa no entende o que est se passando com ela. (Piletti)
Certamente o mais importante dos fatores que
envolvem o estabelecimento da adolescncia a aquisio de conscincia, por parte do indivduo, de que passar a ocupar um novo espao no mundo, entrar em uma nova realidade que, tende a produzir confuso de conceitos e perda de certas referncias. A formao dos grupos de adolescentes caracteriza-se pelo encontro dos iguais no mundo dos diferentes e essa busca pelo eu nos outros, na tentativa de obter uma identidade para si.
Nessa fase, o adolescente busca que se
estruture sua personalidade, seu projeto de vida. medida que o jovem possui competncia para elaborar mentalmente outras realidades, diferentes daquelas a que est habituado, adquiri condies de construir um projeto ou programa de ao e, a partir desse momento, iniciar um trabalho constante para a concretizao da personalidade,
IX Encontro Latino Americano de Iniciao Cientfica e V Encontro Latino Americano de Ps-Graduao Universidade do Vale do Paraba
955
-
pois ser ela a disciplinar a vontade individual e formar a base da sociabilizao.
Na adolescncia h um aumento significativo
das atividades sociais com a insero dos jovens no mundo dos adultos. A sociedade passa a cobrar dos jovens certa independncia no que tange tomada de decises, resoluo de problemas, bem como a definio vocacional. Concomitante a esse fator, o desenvolvimento fsico e a maturidade sexual so pontos desafiantes para o equilbrio emocional dos jovens e adolescentes; por esse motivo, a aceitao da aparncia fsica, das habilidades acadmicas, esportivas e sociais so aspectos que influenciaro no nvel de satisfao com a vida.
O jovem que sente segurana quanto sua
aparncia fsica e habilidade tem mais facilidade para relacionar-se com o sexo oposto e para envolver-se em novas atividades e grupos. Mostra entusiasmo com os vrios aspectos de sua vida e promove mais facilmente seu auto desenvolvimento. (Cria-Sabini)
O jovem com baixa auto-estima pode
apresentar problemas nas fases subseqentes da vida, apresentando depresso, falta de esperana, sentimentos de inutilidade e culpa por ter desperdiado uma etapa de sua vida.
A questo da adolescncia exacerbada
quando envolve a vulnerabilidade do jovem numa sociedade marcada pelas desigualdades sociais, culturais, educacionais e outras.
Para a aproximao realidade do adolescente
autor de ato infracional foi realizado levantamento de dados sobre o jovem no Brasil, aspectos da legislao e entrevista com Assistente Social inserida na equipe de trabalho da FEBEM-So Jos dos Campos. Resultados
Dados sobre o jovem no Brasil Os dados que seguem constam de pesquisa
desenvolvida pela UNICEF, com 5.280 jovens de 12 a 18 anos, no Brasil. (Meninos do Brasil Coop Revista ano XXII n 223 Setembro/2002)
Futuro: A maioria tem confiana no futuro e deposita nos estudos a esperana de realizao de seus sonhos.
Vida Escolar: Em mdia, os adolescentes tm um bom relacionamento com os professores e realmente acreditam na importncia dos estudos, mas apontam: as aulas ajudam pouco a entender o mundo e o pas onde vivem.
Educao: 41% concluram o ensino fundamental; 33% dos adolescentes de 15 a 19 anos freqentam o ensino mdio; 2.232 milhes esto fora da escola. O analfabetismo atinge 1,9 milho de jovens de 15 a 24 anos.
Sexualidade: 13% das jovens de 15 a 19 anos tm pelo menos um filho. Isso representa 1.1 milhes de adolescentes mes. 700.000 meninas so atendidas anualmente em procedimentos de parto na rede pblica de sade. 13,4% das pessoas atingidas pela AIDS so jovens entre 10 a 24 anos; 51,5% disseram usar sempre preservativo nas relaes sexuais; 54% deles afirmam que a famlia a fonte de informaes sobre a sexualidade e 13% consideram confusa a orientao recebida dos pais.
Sonhos: 59% dos adolescentes acham que sua vida ser melhor que a de seus pais e 80% deles tm um sonho. Os mais freqentes so ter uma profisso, dinheiro e bens materiais.
Perspectivas: 28% acham que o Brasil est se tornando melhor para viver.
Famlia: Para 85%, a famlia a instituio com maior responsabilidade pela garantia dos direitos do adolescente e por seu bem-estar. Estar com a famlia faz com que 70% dos adolescentes sintam-se felizes; 90% sentem-se respeitados pela famlia e 95% consideram a famlia como a instituio mais importante da sociedade.
Para alguns profissionais, da rea, incentivar a
prtica de atividades educacionais, esportivas e culturais e engajar os jovens em movimentos que reforcem sua auto-estima e que mostrem a importncia de viver em comunidade podem estimul-los a possuir um ideal. No entanto, para os adolescentes em situao de vulnerabilidade social, as barreiras encontradas em relao escolaridade, concluso de cursos tcnicos e de graduao, assim como dificuldade de insero futura no mercado de trabalho, se traduzem em falta de perspectiva, que em muitos momentos os conduzem prtica de atos infracionais. Discusso
Adolescente com prtica de ato infracional. A violncia um fenmeno social que se
reproduz subjetivamente e se expressa em condutas tambm violentas, no se limitando somente ao crime (homicdio, latrocnio, assalto, trfico de drogas etc.)
A situao de miserabilidade em que se
encontram estas crianas e adolescentes, alm de estarem desprovidas dos seus direitos bsicos, acarretada pela sociedade, que os estigmatiza como: menor, pivete, malandro, trombadinha, carente etc., frutos de famlias
IX Encontro Latino Americano de Iniciao Cientfica e V Encontro Latino Americano de Ps-Graduao Universidade do Vale do Paraba
956
-
desestruturadas. Temos assim milhares de crianas e adolescentes impossibilitados de viver sua infncia, tornando-se precocemente trabalhadores, vtimas e rus.
H uma perpetuao de crianas e
adolescentes abandonadas e carentes vivendo no chamado processo de triangulao: casa/rua/instituio. Com este processo os vnculos familiares perdem seu significado e essas crianas e adolescentes acabam se deslocando totalmente da famlia e da comunidade para viverem na rua.
A sociedade brasileira produz e potencializa a
violncia; entre outros problemas, temos o desemprego, um salrio que no garante nem o mnimo para a sobrevivncia.
Existe tambm a criminalizao do pobre que
se configura na face mais perversa da problemtica social da criana e do adolescente. Nesta viso de que o pobre uma classe perigosa que traz risco para a sociedade, sendo ameaadora fundamenta-se a tese de que deve ser controlado, educado e interditado. Os adolescentes, com prtica de ato infracional, sofrem ainda privaes no que se refere rede de apoio.
Acredita-se que as medidas scio-educativas
devem ser aplicadas de forma a inserir o adolescente na vida social.
O Cdigo Penal tambm definiu no seu artigo
27 que os menores de 18 anos so penalmente inimputveis, ficando sujeito s normas estabelecidas na legislao especial.
Este critrio tambm consta no ECA sendo que
a infncia definida pela faixa etria que vai at 12 anos incompletos, e adolescncia de 12 a 18 anos, portanto a conduta descrita como crime ou contraveno se constitui em ato infracional.
Em 13 de julho de 1990, o Presidente da
Repblica, decreta e sanciona a Lei n 8.069, que dispe sobre o Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA). Com isso, revogado o cdigo de Menores. A Lei n 8.069 dispe sobre a proteo integral criana e ao adolescente. Considera-se criana, para efeitos dessa lei, a pessoa at 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente o ECA s pessoas entre 18 e 21 anos de idade.
Dentro deste contexto, podemos destacar no Estado de So Paulo, a instituio FEBEM Fundao Estadual do Bem-Estar do Menor.
Uma instituio ligada Secretaria de Estado
da Justia e Defesa da Cidadania. Tem como objetivo primordial aplicar em todo o Estado as diretrizes e as normas dispostas no Estatuto da Criana e do Adolescente, na faixa de 12 a 18 anos, autores de ato infracional.
A Febem-SP presta assistncia
aproximadamente 18 mil adolescentes em todo o Estado de So Paulo, inseridos em programas scio-educativos especficos, (privao de liberdade e liberdade assistida), dependendo do grau infracional e da idade.
A Febem tem por finalidade - Cumprir as decises da Vara da Infncia e
Juventude; - Elaborar, desenvolver e conduzir
programas de atendimento integral, que incluem a profissionalizao e a reintegrao social do adolescente;
- Selecionar e preparar pessoal tcnico necessrio execuo de seus programas e objetivos, e aprimorar a sua capacidade profissional, mantendo para isso atividades de formao contnua e aperfeioamento;
- Participar de programas comunitrios e estimular a comunidade no sentido de obter a sua indispensvel colaborao para o desenvolvimento de programas de reintegrao social e/ou cultural, educacional e profissional dos adolescentes;
- Manter intercmbio com entidades que se dediquem s atividades que desenvolve, no mbito particular e oficial, celebrando convnios e contratos com as mesmas, sempre que conveniente e/ou necessrio harmonizao de sua poltica, ou ao cumprimento de seus objetivos;
- Propiciar assistncia tcnica aos municpios que pretendem implantar obras ou servios destinados ao mesmo objetivo.
A atuao da Febem/So Jos dos Campos
- Atendimento Inicial; - Internao provisria; - Internao; - Semiliberdade; - Liberdade Assistida - Semiliberdade.
IX Encontro Latino Americano de Iniciao Cientfica e V Encontro Latino Americano de Ps-Graduao Universidade do Vale do Paraba
957
-
Consideraes Finais Podemos concluir que o adolescente um ser
vulnervel, em relao aos fatores psquicos e sociais. Portanto, necessita de um acompanhamento familiar, educacional e social rigorosos. Verifica-se que quando alguns desses aspectos so negligenciados o adolescente corre o risco de ser marginalizado perante a sociedade, sofrendo danos, que o marcaro por toda vida e em determinado estgio, podero lev-lo prtica de atos infracionais. E so justamente estes adolescentes que realizam tal prtica, os merecedores de maior ateno por parte da famlia e do poder pblico, pois, se no vivem a violncia como agentes, a vivem como vtimas.
A Fundao Estadual do Bem Estar do Menor
(FEBEM) a maior instituio do estado de So Paulo a atender este segmento. Sua trajetria corresponde aos avanos da legislao pertinente ao adolescente autor de atos infracionais. Sendo assim, na atualidade, de acordo com o ECA, a FEBEM tem por principal finalidade promover, atravs de aes scio-educativas, a incluso dos adolescentes atendidos. No entanto, constata-se que nos ltimos anos, a instituio vem passando por conflitos que envolvem rebelies e denncias no enfrentamento do desafio de moldar uma nova Instituio.
Dessa forma observa-se que a FEBEM vem
passando por uma fase de reestruturao, exigindo uma tomada de posio do governo estadual e sociedade, quanto responsabilidade de atendimento legislao e ao programa comprometido com o projeto social/educativo da instituio. Referncias [1] CORIA-SABINI, Maria Aparecida. Psicologia do Desenvolvimento. So Paulo: tica 1993. [2] PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. So Paulo: tica, 10 Edio, 1991. [3] ROSA, Elizabeth Terezinha Silva. Adolescente com prtica de ato infracional: A questo da Inimputabilidade penal, in Revista Servio Social e Sociedade, Cortez, So Paulo, 2001.
IX Encontro Latino Americano de Iniciao Cientfica e V Encontro Latino Americano de Ps-Graduao Universidade do Vale do Paraba
958