afetividade, base do desenvolvimento humano. · do educar com afeto e como a psicopedagogia pode...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AFETIVIDADE, BASE DO DESENVOLVIMENTO
HUMANO.
Margareth L.D. dos Santos.
Orientadora: Profa. Ms. Fabiane Muniz da Silva.
RIO DE JANEIRO
2009
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AFETIVIDADE, BASE DO DESENVOLVIMENTO
HUMANO.
Monografia apresentada a UCAM como
requisito parcial para conclusão “Latu sensu”,
com especialização em Psicopedagogia.
Por: Margareth L. D. Santos.
2
AGRADECIMENTOS
À Deus e a todos que direta ou
indiretamente colaboraram para a realização
desse trabalho.
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos que
me incentivaram e me auxiliaram na
realização do mesmo.
4
EPÍGRAFE
“Ensinar é uma arte e como tal, não é
algo que se aprende apenas em livros, nem na
escola, mas praticando, sentindo vivendo.”
Anísio Teixeira.
5
RESUMO:
Este estudo trata da influência da afetividade na aprendizagem e no
desenvolvimento humano. O centro da questão é como o fortalecimento das
relações afetivas entre educador e educando contribui para o melhor
rendimento escolar. É incontestável que a afetividade como base da existência
humana desempenha um papel essencial no funcionamento da inteligência,
sendo um fator relevante e parceiro para uma melhor aprendizagem, tornando
o ensinar um processo relacional, onde professor, escola, meio social e não só
os alunos, são responsáveis pelo seu desenvolvimento. Respeitar as
diferenças, abandonar os pré-conceitos, vontade de aprender, saber ouvir,
equilíbrio emocional, coerência, clareza dos objetivos e saber elogiar em lugar
de priorizar os erros, são itens fundamentais na construção de uma relação
afetuosa do educador com o educando. A afetividade não se dá somente por
contato físico, discutir a capacidade do aluno, elogiar o seu trabalho,
reconhecer seu esforço e motiva-lo, constituem formas cognitivas de ligação
afetiva. O objetivo deste estudo é demonstrar como os fatores afetivos se
apresentam na relação professor aluno e a sua influencia no processo de
ensino aprendizagem. Refletindo sobre o compromisso social do professor,
reconhecendo a natureza da inteligência emocional, percebendo a importância
do educar com afeto e como a psicopedagogia pode intervir e mediar os
conflitos afetivos. Sendo imprescindível ver o aluno como ser único pensante e
que constrói o seu mundo, seu espaço e o seu conhecimento com sua
afetividade.
6
METODOLOGIA:
A organização deste estudo nos contempla com uma pesquisa
bibliográfica cientifica de autores que abordam em suas obras a importância do
afeto no desenvolvimento humano. Para o embasamento e fundamentação do
trabalho, foi feita uma leitura crítica analítica de todo o material levantado, um
registro dos artigos disponíveis na internet, organização do material,
elaboração e formatação dos textos. Sendo possível demonstrar a importância
do afeto e observando o educando de uma forma abrangente levando em
consideração suas emoções e sentimentos, privilegiando a escola como um
espaço de aprendizagem e de transformação.
7
SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO............................................................................ 08
CAPÍTULO I
O COMPROMISSO SOCIAL DO PROFESSOR......................... 10
1.1.Educação, escola e sociedade............................................ 10
1.2.Ensino e aprendizagem....................................................... 12
1.3 Relação professor aluno..................................................... 15
CAPÍTULOII
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL...................................................... 19
2.1.A importância do educar com afeto.................................... 23
2.2.Educar uma tarefa de todos................................................. 25
CAPÍTULOIII
A PSICOPEDAGOGIA MEDIANDO OS CONFLITOS AFETIVOS.28
CONCLUSÃO............................................................................... 33
BIBLIOGRAFIA............................................................................ 35
ANEXOS........................................................................................ 37
8
INTRODUÇÃO
A afetividade acompanha o ser humano desde a sua vida intra-uterina,
manifestando como fonte de energia, sendo fundamental perceber o ser
humano como um todo.
Hoje não podemos compreender o ser humano de forma fragmentada,
dividida entre a emoção e a razão, temos que ter um enfoque holístico, global e
integrado da pessoa humana tendo o educador a função de educar e aprimorar
o educando.
A afetividade no ambiente escolar contribui para o processo de ensino-
aprendizagem considerando que o educador não apenas transmite
conhecimentos, mas também ouve os educandos estabelecendo uma relação
de troca, necessária para a formação de pessoas felizes, éticas, seguras e
capazes de conviver com o mundo que a cerca.
“Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo.
Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há
amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não respeita.”
(Paulo Freire, 1983).
O homem como ser social, tem um pensamento reflexivo sobre os
valores e as normas que regem a conduta humana. Os valores com o passar
do tempo mudam e também mudam os homens que compõem a sociedade
devendo a moralidade humana, ser enfocada num contexto histórico e social.
Os valores adquiridos muitas vezes, nos impõem uma maneira de viver que
não é o que desejamos, mas sim o que no momento precisamos.
A sociedade é orientada por duas fontes de moralidade, a razão e
a ética. A razão tem que procurar onde o sentir se realiza. E a ética tem que ir
à base da existência humana, à afetividade.
“A ética deve nascer da base última da existência humana. A razão não
é o primeiro nem o último momento da existência. Ela se abre para baixo de
onde emerge de algo mais elementar e ancestral: a afetividade. Abre-se para
cima, para o espírito, que é o momento em que a consciência se sente parte de
um todo e que culmina na contemplação.” (Leonardo Boff, 2003).
9Afeto e emoção juntos tornam-se um sentir profundo. Pela paixão
apreendemos o valor das coisas.
Segundo Piaget, o desenvolvimento intelectual possui dois
componentes: um cognitivo e outro afetivo. Sendo que o afeto se desenvolve
no mesmo sentido que a cognição ou inteligência. O afeto é o principio
norteador da auto-estima. Depois de desenvolvido o vínculo afetivo, a
aprendizagem e a motivação tornam-se conquistas significativas.
A afetividade como base do desenvolvimento humano vem fundamentar
o estudo da influência dos fatores afetivos no processo ensino-aprendizagem.
Nos três capítulos do estudo buscou-se concluir que o afeto é um dos
caminhos mais importantes para se chegar a um bom desempenho, seja no
trabalho, na família ou na educação.
Refletiu-se sobre o compromisso social do professor, a função social da
escola e a relação professor aluno.
Foram apresentados os principais aspectos do desenvolvimento da
inteligência emocional, permitindo a compreensão da importância do educar
com afeto e da educação como sendo uma tarefa de todos.
Abordou-se a intervenção psicopedagógica atuando na mediação de
conflitos, contribuindo para o aprimoramento da atividade docente e de
situações que envolvam um trabalho de melhoria nas relações interpessoais.
Em muitas situações da vida são os afetos, as emoções que determinam
o nosso comportamento. Assim, o educador precisa praticar a ética,
respeitando as individualidades, mas sem perder o caráter transformador da
educação.
A sensibilidade e a ternura deverão ser referências para os encontros de
cada docente. Concebendo o ser humano como um todo, que tem sentimentos,
desejos e emoções e não apenas razão.
10
CAPÍTULO 1
O COMPROMISSO SOCIAL DO PROFESSOR
1.1 Educação, escola e sociedade.
Embora divida a tarefa de educar com outros núcleos sociais, como a
família, as comunidades e os meios de comunicação, a escola ainda é o principal
foco de organização, sistematização e transmissão do conhecimento, e o
educador e o educando, os principais agentes nesse processo.
A escola não tem razão de ser em si mesma. Ela é fruto do meio,
assim como o meio é conseqüência dela.
A relação entre educação, escola e sociedade é alvo de uma
transformação contínua, que influencia os modelos vigentes de educação, de
escola e de sociedade. O desenvolvimento da escola guarda estreita relação
com o desenvolvimento da sociedade e vice-versa. É através do conhecimento,
do domínio da ciência e do desenvolvimento tecnológico que o homem adquire
meios para compreender e transformar a realidade material e a sociedade em que
vive tornando-se apto a exercer sua cidadania.
No mundo em que vivemos a geração da riqueza está profundamente
relacionada à capacidade de produzir conhecimento e tecnologia. Como
conseqüência, a escola assume um papel vital no desenvolvimento sócio-
econômico de uma nação.
Na sociedade a escola colabora para a transformação social na medida
em que motiva as capacidades intelectuais, as atitudes e o comportamento
crítico em relação à sociedade em que está inserida. Permitindo aos cidadãos
não apenas interpretar a realidade, mas interagir com ela de forma consciente,
crítica e produtiva. A curiosidade, o prazer e o interesse motivam a busca pelo
saber.
A escola sendo um espaço de socialização propicia o desenvolvimento
individual, o contexto social e cultural. O contato e o confronto com pessoas de
várias origens socioculturais, de diferentes religiões, etnias, costumes, hábitos e
11valores, fazem dessa diversidade um campo privilegiado da experiência
educativa.
O desenvolvimento de capacidades de relação interpessoal, cognitivas,
afetivas, estéticas e éticas se tornam possíveis através da construção e
reconstrução do conhecimento.
Em um mundo sem fronteiras os horizontes da escola devem expandir-se
na mesma proporção, trabalhando com realidades mais amplas e fazendo-se
presente na comunidade em que está inserida.
Numa perspectiva de construção da cidadania, precisa assumir a
valorização da cultura de sua comunidade, propiciando aos alunos pertencentes
aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber.
Os conhecimentos que se transmitem e se recriam na escola ganham
sentido quando produtos de uma construção dinâmica com os saberes
escolares e os demais saberes. Por isto, é preciso oferecer uma educação que
possa ampliar as referências de mundo, beneficiando todas as formas de
expressão, de linguagem e de participação crítica e construtiva.
“As escolas precisam possibilitar o cultivo dos bens culturais e sociais,
considerando as expectativas e necessidades dos alunos, dos pais, da
comunidade, dos professores, enfim, de todos os envolvidos diretamente no
processo educativo. É nesse universo que o aluno vivencia situações
diversificadas que favorecem o aprendizado, para dialogar de maneira
competente com a comunidade, aprender a respeitar e a ser respeitado, a ouvir
e a ser ouvido, a reivindicar direitos e a cumprir obrigações, a participar
ativamente da vida científica, cultural social e política do País e do mundo.”
(P.C.N., 1997).
1.2-Ensino e aprendizagem
O trabalho docente constitui o exercício profissional do professor sendo o
seu primeiro compromisso com a sociedade. É uma atividade
fundamentalmente social, porque contribui para a formação cultural e científica
da pessoa humana.
12A interação entre o professor e o aluno está pautada na relação
profissional e humana, construída no respeito, na ética, no entendimento de que
o aluno não é passivo nesse processo, ele trás uma gama de conhecimentos,
ocorrendo à troca de saberes. Sendo o professor a base da formação moral e
social do educando.
“A boa aprendizagem é aquela que se consolida e, sobretudo cria zonas
de desenvolvimento proximal sucessivas.” (Vygotsky, 1987).
À medida que a ênfase é colocada na aprendizagem, o principal papel do
professor passa a ser o de ajudar o aluno a aprender.
O processo de aprendizagem é socializador, e deve ser visto como fruto
de um trabalho coletivo no qual o aluno se relaciona com o meio e com as
pessoas.
O educador exerce o papel de facilitador no processo de transmissão do
conhecimento tendo a missão de colaborar para a formação de valores e de
uma base ética que oriente o uso correto do saber científico, estético e
tecnológico.
“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a
viver naqueles cujos olhos aprendem a ver o mundo pela magia da nossa
palavra”... (Rubem Alves, 1987).
Dentre as mais diversas teorias de ensino-aprendizagem,
desenvolvidas ao longo das últimas décadas, o construtivismo de Piaget e o
interacionismo de Vygotsky revolucionaram a concepção de ensino e têm
exercido uma influência decisiva, de modo geral, na teoria psicopedagógicas
da atualidade.
Segundo Jean Piaget, existe alguns fatores do desenvolvimento
mental, como a maturação do sistema nervoso, o ambiente físico, o ambiente
social e a equilibração progressiva que devem ser levados em conta pela
escola, ja que tem como fundamento o desenvolvimento do raciocínio.
Portanto, convêm propiciar à criança um ambiente físico da melhor
qualidade, estimular a interação social e observar o mecanismo da
equilibração (processo pelo quais as estruturas se geram de modo
13integrativo, levando gradualmente o indivíduo a uma compreensão mais
perfeita da realidade exterior).
Segundo Piaget, o conhecimento está em permanente construção e
ocorre por meio das interações do indivíduo com o meio em que vive. Cada
novo conhecimento sedimenta-se sobre conteúdos já adquiridos por
processos de assimilação e de acomodação. Há, portanto um desequilíbrio
inicial, seguido de um novo equilíbrio ou reequilíbrio.
Para Piaget, existem três tipos de conhecimento: o físico, o lógico-
matemático e o social, que representam três etapas sucessivas dentro do
processo de construção do conhecimento. Inicialmente, a criança age e
coordena ações sobre os objetos e, por meio de experiências, realiza
descobertas e invenções (conhecimento físico). A partir dessa série de
ações, coordenadas por seu pensamento, ela estabelece relações com
tais objetos (conhecimento lógico-matemático). E finalmente, após ter
desenvolvido os conhecimentos prévios necessários, a criança passa a agir
sobre tais informações, transformando-as e, principalmente, transformando-
se para incorporá-las a seu dia-a-dia (conhecimento social).
Para Piaget, é irrefutável que o afeto desempenha um papel
essencial no funcionamento da inteligência e que é uma importante energia
para o desenvolvimento cognitivo.
Já para Vygotsky, que dedicou sua vida à aprendizagem significativa e à
metodologia de trabalho em ensino-aprendizagem, é preciso considerar, pelo
menos, duas zonas de desenvolvimento: a real e a potencial. A primeira se
mostra na capacidade de a criança realizar tarefas de forma independente,
sozinha, de maneira correta e sem dificuldades. A segunda zona, a potencial,
refere-se aos aspectos do desenvolvimento em processo de realização, que se
observa, na escola, na incapacidade de a criança executar sozinha
determinadas atividades, necessitando de auxílio ou da orientação do professor
e/ou da interação com os colegas. Tal zona foi denominada de “Zona de
Desenvolvimento Proximal”
Vygotsky, em sua metodologia de trabalho, revoluciona a prática
pedagógica do professor em sala de aula, com alguns princípios fundamentais:
14O homem, sendo um ser social e histórico, transforma o meio e é por
este transformado.
O professor, ao tornar-se um mediador entre o aluno e o conhecimento
sociocultural presente na sociedade, privilegia uma metodologia que favorece a
mudança.
O processo ensino-aprendizagem apóia-se na interação professor-aluno-
meio, devendo o professor ficar atento a dúvidas e a impasses, e
principalmente estar aberto a essas possibilidades.
Baseado nesses princípios teóricos surgiu, na atualidade, o
sociointeracionismo, síntese do construtivismo e do interacionismo, teoria
que concebe o conhecimento como um processo construído pelo
indivíduo, em interação com o meio. Para Vygotsky, o funcionamento
psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre indivíduos e o mundo
exterior as quais se desenvolvem num processo histórico.
Wallon traz a dimensão afetiva como ponto de extrema importância
em sua teoria psicogenética. Apresenta a distinção entre afetividade e a
emoção. Segundo Wallon (1989) ,quando em alguma situação da nossa
vida, há o predomínio da função cognitiva, estamos voltados para a
construção do real. Quando há o predomínio da função afetiva, neste
momento estamos voltados para nos mesmos, fazendo uma elaboração do
eu. Todo o processo de educação significa também a constituição do
sujeito. As emoções para Wallon têm papel preponderante no
desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus
desejos e suas vontades.
No método didático-pedagógico de Paulo Freire, a inspiração para uma
aprendizagem é comprometida com os ideais de igualdade, liberdade e justiça,
o tripé para a formação da cidadania. Para ele, a palavra é um instrumento de
conhecimento do homem sobre si mesmo e sobre a sua situação no mundo.
Além disso, "o papel do educador não é o de encher o educando de
conhecimentos, mas o de proporcionar, através da relação dialógica educador-
educando, a organização de um pensamento correto em ambos". Desse modo,
Paulo Freire propõe que a educação seja encarada como um diálogo.
15“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para
a sua produção ou a sua construção.” (Paulo Freire, 1996).
Nesse processo dialógico entre professor e alunos, ocorre uma troca
dinâmica de experiências sociais, pois todos passam a compartilhar das
experiências dos demais. E, nessa inter-relação social, os alunos, ao
adquirirem instrumentos de ação adequados às suas realidades, irão
paulatinamente modificando, diversificando e enriquecendo seus
conhecimentos; adquirindo, desse modo, além de uma aprendizagem eficaz e
significativa, uma consciência crítica, importante pilar para o exercício da
cidadania. Para Paulo Freire, a educação tem por tarefa principal o
desenvolvimento do senso crítico para formar os verdadeiros cidadãos.
“Ensinar é proporcionar um âmbito experimental. É criar circunstâncias
para que a aprendizagem aconteça.” (Maturana, 1995).
A prática educativa é um constante exercício em favor da construção
do desenvolvimento da autonomia do professor e alunos não só transmitindo
saberes, mas dando significado, construindo e redescobrindo os mesmos.
1.3 Relação professor aluno.
A relação professor-aluno é fundamental para o bom desenvolvimento e
desempenho do educando tanto no que se refere à aprendizagem de
conteúdos como dos que concernem ao desenvolvimento cognitivo e social,
baseada no respeito mútuo, na cooperação, no diálogo e no crescimento.
Numa concepção ampla de educação, todo ser humano é um educador,
uma vez que, na nossa relação social estamos sempre ensinando e sendo
ensinados.
“É na fala do educador, no ensinar (intervir, desenvolver, encaminhar),
expressão do seu desejo, casado com o desejo que foi lido, compreendido pelo
educando, que ele tece o seu ensinar. Ensinar e aprender são movidos pelo
desejo e pela paixão”. (Paulo Freire, 1992).
Para que haja uma boa relação entre professor e aluno é necessária
humildade, tolerância e muito diálogo para se iniciar um processo de confiança
16entre ambos. O educador não pode ver a prática educativa como algo sem
importância, é preciso lutar e ter plena convicção de que a transformação é
possível.
Nas relações interpessoais, não só entre professor e aluno, mas também
entre os próprios alunos, o grande desafio é conseguir se colocar no lugar do
outro, compreender suas motivações desenvolvendo a solidariedade e a
capacidade de conviver com as diferenças.
“O diálogo é um encontro no qual a reflexão e a ação, inseparáveis
daqueles que dialogam, orienta-se para o mundo que é preciso transformar e
humanizar”. (Paulo Freire, 1980).
Na possibilidade do diálogo ocorre uma troca de experiências, dividindo
sucessos e derrotas realizam conexões que fortalecem a aprendizagem.
O professor assume a postura de mediador, facilitando o processo de
interação dos alunos com o meio social, com os objetos do conhecimento e
entre si. Seu papel é o de planejador, incentivador e orientador da curiosidade
do aluno em relação a si mesmo e ao mundo que o cerca. É através do
professor que a criança encontrará na escola as ferramentas necessárias para
a sistematização do conhecimento.
“Viver é conhecer. Conhecer é experimentar algo novo. Assim vida e
aprendizagem não estão separadas, já que a cognição envolve todo o
processo da vida, incluindo a emoção, a percepção e o comportamento”.
(Maturana, 1995).
O bom professor é aquele que ensina a aprender. A ação do aluno,
dentro do processo pedagógico, é reflexo da criatividade, da competência e do
envolvimento do professor. O professor precisa estar comprometido com o
aluno, respeitando a sua individualidade enquanto ser humano, criando
vínculos afetivos, estimulando e motivando o educando.
Não basta ao professor ser conhecedor de métodos, mas um intelectual
que queira ensinar. Indo além da formação acadêmica, transformando
informação em conhecimento e consequentemente em experiência.
“Para transformar informação em formação, dois passos são
imprescindíveis: o esforço reconstrutivo do aluno e a participação do professor.
17De longe, podemos nos informar, instruir. Educar é sempre de perto, algo corpo
a corpo, diretamente envolvente. Emocionalmente marcado.” (Pedro Demo,
2004).
A relação entre professor e aluno deve ser dinâmica, pois é o professor
que faz o aluno progredir, à medida que consegue envolvê-lo em desafios cada
vez mais complexos. Os professores devem proporcionar meios para
desenvolver as múltiplas inteligências, sentimentos, emoções e a auto - estima.
Vygotsky (1994) destaca a importância das interações sociais e traz a
idéia da mediação e da internalização como aspectos fundamentais para a
aprendizagem, defendendo que a construção do conhecimento se da a partir
de um processo de interação entre as pessoas.
O favorecimento de situações que privilegiem a afetividade leva os
professores a utilizarem o afeto em suas práticas educativas, favorecendo a
auto-estima e a aprendizagem dos alunos.
Toda aprendizagem está impregnada de afetividade já que ocorre a
partir das interações sociais.
Wallon, afirma que a afetividade desempenha um papel fundamental na
constituição e funcionamento da inteligência, determinando os interesses e
necessidades individuais. Atribui às emoções a base da formação da vida
psíquica.
“A afetividade é a mola propulsora das ações e a razão está a seu
serviço” (Piaget, 1992).
Sendo a escola um espaço privilegiado para aprendizagem. Nela
somam-se experiências, conhecimentos e afeto. Assim cabe ao educador
despertar no educando a curiosidade em busca do conhecimento crítico
formando a sua autonomia. E ao desenvolver a sua autonomia, através do
aprendizado, da execução de uma leitura crítica de mundo, vem todo o restante
do processo de crescimento humano, possibilitando aos educandos o exercício
da solidariedade, cooperação, respeito às normas, as diferenças culturais, a
opinião dos colegas, exercitando de forma consciente a sua cidadania.
18O espaço da sala de aula deve ser um ambiente de investigação e de
respeito onde os alunos possam expressar suas formas de pensamento suas
dúvidas, suas descobertas e construir laços afetivos entre si.
O professor tem papel fundamental no processo de construção do
conhecimento e de valores por parte dos alunos. Assumindo o papel de
mediador entre aluno e os conteúdos, promovendo interações e/ou
intervenções desafiadoras.
O professor deve refletir sobre que imagem de identidade profissional,
papel social e comprometimento com o trabalho passa a seus alunos. A
postura do professor é o norte do aluno, sendo necessário existir um ambiente
de liberdade, respeito, tolerância, responsabilidade, cooperação e
compromisso.
“Tarefa que exige uma forma criticamente disciplinada de atuar com que
a educadora desafia seus educandos. Forma disciplinada que tem que ver, de
um lado, com a competência que a professora vai revelando aos educandos,
discreta e humildemente, sem estardalhaços arrogantes; de outro, com o
equilíbrio com que a educadora exerce sua autoridade – segura, lúcida,
determinada.” (Paulo Freire, 1993).
19
CAPÍTULO 2
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL:
Inteligência emocional está relacionada às habilidades para lidar com as
emoções, de entender e refletir, de modo a promover o crescimento emocional
e intelectual.
O conceito de inteligência emocional revolucionou o antigo conceito de
inteligência, tornando obsoleto os testes de QI.
Na década de 30 Thorndike sugeriu a possibilidade de que as pessoas
pudessem ter “inteligência social”, ou seja, a habilidade de perceber
comportamentos de si mesmo e dos outros e agir de acordo com essa
percepção.
Na década de 80 Gardner apresentou a “Teoria das inteligências
múltiplas”, que envolve sete formas de inteligência. Ao apresentar sua “teoria
no livro” “Estruturas da mente”, Gardner rompeu com a idéia de inteligência
como capacidade única e de possível mensuração através do teste de QI.
Sua teoria amplia o conceito de inteligência, onde nomeia as sete
inteligências;
Inteligência lógico-matemática possibilita calcular, quantificar, considerar
proposições e hipóteses e realizar operações matemáticas. Cientistas,
matemáticos, engenheiros, contadores demonstram forte inteligência lógico
matemática.
Inteligência lingüística consiste na capacidade de pensar e usar a
linguagem para expressar e avaliar significados complexos. Autores, poetas,
palestrantes, exibem grau elevado de inteligência lingüística.
Inteligência corporal cinestésica, permite que a pessoa manipule objetos
e sintonize habilidades físicas. È muito presente em atletas, dançarinos,
cirurgiões e artesãos.
.Inteligência espacial instiga a capacidade para pensar de maneiras
tridimensionais, como fazem navegadores, pilotos, escultores, pintores e
arquitetos.
20Inteligência musical, pessoas que possuem sensibilidade para a
entonação, melodia, ritmo e tom. Compositores, maestros, críticos musicais e
ouvintes sensíveis.
.Inteligência interpessoal, é a capacidade de compreender as outras
pessoas e interagir com elas. È evidente em professores, políticos, atores,
assistentes sociais.
Inteligência intrapessoal, é a capacidade para construir uma percepção
de si mesmo usando tal conhecimento no planejamento e direcionamento da
própria vida.
Posteriormente Gardner apresenta a oitava inteligência a naturalista, que
consiste em observar padrões na natureza, identificando , classificando e
compreendendo os sistemas naturais e aqueles criados pelo homem.
A base da inteligência emocional está centrada nas habilidades
pessoais, na inteligência interpessoal e na inteligência intrapessoal.
Gardner tem o cuidado de explicar que a inteligência não deve estar
limitada as que ele identificou. Ele também declara que cada inteligência
contém várias subinteligências, no domínio da música incluem cantar, escrever
partituras, reger, criticar e apreciar música.
Cada inteligência parece ter sua própria seqüência de desenvolvimento,
emergindo e florescendo em diferentes momentos da vida.
Na década de 90, o pesquisador John Mayer, junto com seus parceiros
David Caruso e Peter Salovey, torna-se uma referência para a pesquisa
cientifica sobre “inteligência emocional”.
Salovey e Mayer publicaram vários artigos em jornais acadêmicos. Em
um de seus artigos, Mayer e seus colaboradores apresentam quatro tipos de
habilidades envolvendo a inteligência emocional:
Habilidade para a percepção das emoções, inclui habilidades envolvidas
na identificação de sentimentos por estímulos, através da voz ou expressão
facial.
Habilidade no uso das emoções implica a capacidade de empregar as
informações emocionais para facilitar o pensamento e o raciocínio.
21Habilidade no entendimento das emoções, consiste em captar variações
emocionais nem sempre evidentes.
Habilidade de controle e transformação das emoções,
Salovey e Mayer propuseram cinco domínios ou competências da
inteligência emocional:
1- Autoconsciência. Conhecer as próprias emoções.
2- Autodomínio. Controlar os sentimentos nos mais variados momentos e
situações. Desenvolver um equilíbrio emocional.
3- Automotivação. Direcionar as emoções e atenção para determinado
objetivo.
4- Empatia. Reconhecer as emoções nos outros.
5- Habilidades sociais. Lidar com as emoções dos outros, interagir com
facilidade, liderar, negociar e solucionar divergências, bem como para a
cooperação e o trabalho em equipe.
Ainda na década de 90, o termo “Inteligência emocional” ganhou grande
popularidade com a publicação do livro “Inteligência emocional” de Daniel
Goleman, em 1995.
Goleman através de análise de pesquisa demonstrou que pessoas de QI
elevado podem fracassar, derrubando o mito que a inteligência é determinada
pela carga genética. Para ele a inteligência é emocionalmente construída
através da forma como vivenciamos as nossas emoções. Assim o sucesso
pode ser produzido por qualquer pessoa que tenha uma inteligência
emocionalmente construída.
A inteligência emocional tem como característica a habilidade e a
capacidade das pessoas perceberem e controlarem as emoções. O princípio
do domínio das emoções está baseado na recomendação de Sócrates –
“Conhece-te a ti mesmo” é à base da inteligência emocional, a consciência de
nossos sentimentos.
“Ter autoconsciência é estar consciente ao mesmo tempo de nosso
estado de espírito e de nossos pensamentos sobre este estado de espírito.”
(Mayer, 2000).
22Segundo Goleman a inteligência emocional é responsável pelo sucesso
ou insucesso das pessoas. Já que na maioria das situações de trabalho
envolve relacionamentos e emoções e pessoas que possuem qualidades como
afabilidade, compreensão, gentileza, tem mais chances de obter sucesso.
A importância do trabalho de Goleman se reflete na emoção.
Goleman evidenciou algumas habilidades emocionais para que as
pessoas alcancem sucesso como;
• Controle de temperamento.
• Adaptabilidade.
• Persistência.
• Amizade.
• Respeito.
• Amabilidade.
• Empatia.
Goleman mapeia a inteligência emocional em cinco áreas de habilidade:
1-Autoconhecimento, a autoconsciência, o conhecimento de si mesmo.
2-Controle emocional, a capacidade de lidar com seus próprios
sentimentos.
3-Automotivação, direcionar as emoções, a busca de um devir.
4-Reconhecer as emoções em outras pessoas, empatia, colocar-se no
lugar do outro.
5-Habilidade em relacionamentos interpessoais, saber lidar com as
emoções do grupo.
As habilidades de autoconhecimento, controle emocional, e
automotivação referem-se à inteligência intrapessoal e reconhecer as emoções
nas pessoas e relacionamentos à inteligência interpessoal, descritas por
Gardner em sua teoria das Inteligências múltiplas.
Razão e emoção devem andar juntas mantendo um equilíbrio.
Para Maturana (1999) cognição tem tudo a ver com o ambiente. O
desenvolvimento de uma competência ou a expressão de um talento qualquer
está muito ligado, não apenas aos fatores internos do individuo, mas aos
23fatores que o circundam. Um ambiente que valorize determinadas habilidades e
competências influência na maneira como elas se desenvolvem.
“Vida e aprendizagem não estão separadas, já que a cognição envolve
todo o processo da vida, incluindo a emoção, a percepção e o comportamento”.
(Maturana, 1999).
Segundo James Heckman, prêmio Nobel de Economia, em 2000 e
professor da universidade de Chicago que se dedica a estudar os efeitos dos
estímulos educacionais oferecidos as crianças nos primeiros anos de vida diz
que existem dois tipos de habilidades que influenciam o sucesso de uma
pessoa. No primeiro grupo estão as capacidades cognitivas, ou seja, olhar o
mundo de uma forma mais abstrata e lógica. No segundo grupo em nível tão
relevante quanto o primeiro estão às habilidades relacionadas ao autocontrole,
à motivação e ao comportamento social.
Estimular desde cedo o aprendizado cognitivo e emocional da criança
gera excelente benefício na vida adulta.
2.1 A importância do educar com afeto;
Conhecimento e afetividade estão sempre associados.
O ambiente escolar é um local onde são estabelecidas relações com o
conhecimento e com os valores, por meio da interação com os colegas e
professores.
O professor deve ter uma capacidade de aproximação afetiva que lhe
permita acolher, valorizar e participar dos conflitos. Cada aluno não é apenas
um número, mas um ser humano único.
O afeto e a inteligência curam as feridas da alma, reescrevem as
páginas fechadas do inconsciente. (Augusto Cury, 2003).
Assegurar condições adequadas de aprendizagem em que haja um
ambiente de confiança e respeito mútuo já é uma contribuição ao
desenvolvimento emocional saudável dos educandos.
Wallon (1998) atribui à emoção um papel fundamental no processo de
desenvolvimento humano.
24Segundo Goleman (1996) “emoções são sentimentos a se expressar em
impulsos e numa vasta gama de intensidade gerando idéias, condutas, ações e
reações. Quando burilados, equilibrados e bem conduzidos transformam-se em
sentimentos elevados, sublimados tornando-se ai virtudes”.
Para que o aluno saiba lidar com as emoções o professor também tem
que estar pronto para desenvolver a sua inteligência emocional e fazer com
que os alunos estejam aptos a lidar não só com o sucesso mas também com
frustrações, medos e angustias. O importante é deixar conhecer-se, pois assim
o professor estará educando a emoção e criando vínculos sólidos e profundos.
Professores são insubstituíveis, por toda a sua sensibilidade que jamais poderá
ser ensinada por máquinas.
“Se você olhar para as coisas com os olhos da razão comum, você
nunca entenderá como é necessário amar.” (Leonardo Boff, 1999).
“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.”
(Paulo Freire, 1996).
“Educar não é repetir palavras, é criar idéias é encantar.” (Augusto Cury,
2003).
Paulo Freire afirma que ambos os professor e aluno estão envolvidos no
diálogo e se confundem na mesma pessoa na troca de conhecimentos e no
equilíbrio de dar e receber. O toque e o diálogo enriquecem a emoção.
Chalita (2001), diz que a habilidade emocional é o grande pilar da
educação, sendo que não é possível desenvolver as habilidades cognitivas
sem trabalhar a emoção.
O processo educacional não está circunscrito unicamente na razão, mas
devem utilizar-se das múltiplas inteligências como formas de interpretação e
expressão da realidade. A curiosidade, o prazer e o interesse motivam a busca
pelo saber. Quando se desperta o gosto por algum campo de atividade, o
aprendizado torna-se mais fácil e natural.
Do construtivismo de Piaget, da arte de pensar de Vigotsky, da
psicogenética de Wallon, das aptidões da inteligência emocional de Salovey e
Mayer, das inteligências múltiplas de Gardner, da inteligência emocional de
Goleman, do caráter social e humano da educação de Paulo Freire, todos têm
25como objetivo a educação da emoção, a educação da autoestima, do
raciocínio, enfim formar pensadores.
2.2-Educar uma tarefa de todos:
Todos querem o melhor para nossas crianças. Queremos que sejam
felizes e se realizem tanto na vida profissional quanto na pessoal.
Pesquisas mostram que quando a família participa da educação das
crianças elas podem sair-se muito melhor na vida e na escola.
A família é capaz de despertar o interesse, a curiosidade e incentivar a
aprendizagem. Não que seja necessário se transformar em professores, mas
basta que acompanhem a vida escolar, valorizem as tarefas, estimulem a
curiosidade para o aprendizado, respeitando cada fase da criança.
“Quanto antes os estímulos vierem mais chances a criança terá de se
tornar um adulto bem-sucedido” (James Heckman, 2009).
Conversar, brincar, fazer coisas do dia a dia junto com as crianças são
formas de demonstrar atenção e carinho.
O importante é criar um clima de cumplicidade para que as crianças se
sintam confiantes e estimuladas. Para que percebam que podem usar na vida o
que aprendem na escola e vice versa.
“Quando os pais são emocionalmente aptos, os filhos
compreensivamente se dão melhor, mostram mais afeição e tem menos tensão
com eles. Mas, além disso, essas crianças são melhores com as próprias
emoções.” (Goleman, 2001).
As crianças que tem uma boa interação familiar progridem mais
depressa. O núcleo familiar é muito importante para o desenvolvimento da
inteligência emocional da criança. A criança respeitada e valorizada pela
família vai ter melhor rendimento na escola e uma vida mais saudável e bem
sucedida.
“Eis a família em sua difícil tarefa. A convivência diária pode ser
desgastante. É preciso criatividade. A convivência diária pode ser penosa. É
preciso amor.” (Gabriel Chalita, 2001).
26Goleman (1997) identificou três tipos de pais:
Os simplistas que não dão importância às emoções da criança.
Os desaprovadores que são muito críticos.
O laissez-faire que demonstram empatia, mas não impõe limites.
“No entanto, filhos de pais que são preparadores emocionais aprendem
a confiar em seus sentimentos, regular as próprias emoções e resolver
problemas. Tem auto-estima elevada, facilidade para aprender e se relacionar
com pessoas.” (Goleman, 1997).
Dialogar com os filhos constrói uma relação de afetividade muito
saudável.
“Dialogar é contar experiências, é segredar o que está oculto no
coração, é penetrar além da cortina dos comportamentos, é desenvolver
inteligência interpessoal.” (Gardner, 1995).
Cultivar a afetividade com os filhos cria laço. O toque e o diálogo são
mágicos enriquecem a emoção. A verdadeira autoridade e o respeito nascem
do diálogo.
Educar também significa dizer não, dar limites. Os pais devem deixar
claro quais são os pontos a negociar e quais são os pontos inegociáveis.
A família tem a função de sociabilizar e estruturar os filhos como seres
humanos. Vários estudos e pesquisas têm demonstrado que independente da
classe socioeconômica, as famílias que não oferecem afeto, os filhos tornam-
se crianças problemas. O que faz a diferença é a capacidade de a família
estabelecer vínculos afetivos, unindo-se no amor e nas frustrações. Quando
falta a um jovem essa estrutura familiar (ausência de pai e mãe) outras
pessoas, parentes ou até mesmo a sociedade poderão assumir tal papel,
respeitando as necessidades desse ser em formação.
É na família que a criança vive suas maiores sensações de alegria,
felicidade, prazer e amor. Experimenta tristeza, briga ciúme, medo e ódios.
Onde se aprende a linguagem mais complicada da vida, a da afetividade.
“Se vemos o mundo desta ou daquela maneira, se vemos o mundo com
otimismo, alegria, confiança e beleza, isto tudo tem a ver com a nossa própria
história de vida, com uma infância alegre e florida, com as interações que
27desenvolvemos no viver/conviver, com a história de nossos pais e com as
histórias também vividas pelos nossos ancestrais.” (Maturana, 1999).
A escola deve se conscientizar de que é uma instituição afetiva que
complementa a família. Sem essa consciência, os alunos aprendem, mas não
sabem usar o que aprenderam porque estão afetivamente empobrecidos. A
escola quando trabalha em parceria com a família consegue atingir os objetivos
a que se propõe.
28
CAPÍTULO 3
A PSICOPEDAGOGIA MEDIANDO CONFLITOS
AFETIVOS.
A psicopedagogia hoje no Brasil, tem relevante papel na elaboração de
novos conhecimentos nos espaços institucionais.
A crise vivenciada pela pratica docente estimula a busca por novos
caminhos que atendam aos paradigmas do nosso tempo.
A psicopedagogia surgiu a partir da necessidade da compreensão dos
problemas de aprendizagem visando trabalhar com relações mais afetuosas de
modo que o educando seja criativo, espontâneo, perseverante e transformador
ao trabalhar o seu pensamento.
A psicopedagogia institucional leva em consideração todos os aspectos
que envolvem as condições de aprendizagem, contemplando os aspectos
familiares, metodológicos, ambientais e profissionais permitindo um olhar
globalizado sobre o universo escolar.
A ação do psicopedagogo visa fortalecer todo o processo educativo,
curricular e organizacional que envolve aluno, professores, família e todos os
profissionais ligados com a educação e com a instituição de ensino, numa
perspectiva preventiva de integração família - escola.
A construção de um cotidiano escolar exige que se trabalhe com
dimensões éticas necessárias a construção de uma cidadania ativa, onde a
participação de todos, gere uma gestão escolar democrática e
conscientizadora.
A psicopedagogia tem contribuído muito para o desafio de construir um
cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da
ética e da cidadania, necessária para o saber aprender e ensinar no século
XXI.
Espera-se que o professor do século XXI, tenha paixão por ensinar,
esteja sempre aberto para aprender, que saiba pesquisar e gerenciar uma sala
29de aula. Que saiba mediar os conflitos, trabalhar em equipe que seja solidário e
acima de tudo ético. E que a escola seja formadora e estética.
Paulo Freire, na sua Pedagogia da autonomia, (p.160) diz “ensinar e
aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”.
O bom professor do século XXI deve cooperar, favorecendo o equilíbrio
do intercambio, que só acontece quando os seres humanos interagem uns com
os outros. Assim teremos a escola sonhada por Paulo Freire e por todos
desejados.
“Escola é”...
O lugar onde se faz amigos
Não se trata só de prédios, salas, quadros,
Programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente,
Gente que trabalha que estuda,
Que se alegra se conhece se estima.
O diretor é gente,
O coordenador é gente, o professor é gente,
O aluno é gente,
Cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
Na medida em que cada um
Se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”.
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém
nada de ser como o tijolo que forma a parede,
indiferente , frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
É também criar laços de amizade,
É criar ambiente de camaradagem,
É conviver, é se “amarrar nela”!
Ora, é lógico...
30Numa escola assim vai ser fácil
Estudar, trabalhar crescer,
fazer amigos, educar-se,
ser feliz.”
O trabalho da psicopedagogia é voltado para o aperfeiçoamento das
construções pedagógicas e o seu objetivo central está estruturado no processo
de aprendizagem humana, já que a escola constitui-se em uma organização
sistêmica aberta num conjunto de elementos que interagem e se influenciam
mutuamente através da troca com o meio em que estão inseridos.
O convívio respeitoso na escola é a melhor experiência moral que o
aluno pode vivenciar. A interação social que se estabelece no ambiente escolar
contribui para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Destas interações
sociais vai ser determinado o papel que cada um desempenhará socialmente.
Segundo o filósofo chileno da Unesco Juan Casassus, um bom ambiente
tem mais peso do que os demais fatores. Tornar harmoniosa as relações na
escola é fator decisivo para a educação avançar.
Várias pesquisas demonstram que os alunos com dificuldade de
aprendizagem são menos aceito pelo grupo. E que a baixa popularidade muitas
vezes está associada a comportamentos agressivos. Concluiu-se que quanto
maior for à aceitação social menor será a dificuldade de aprendizagem. Sendo
assim fica clara a importância dos relacionamentos e da afetividade na
aprendizagem.
Neste cenário o papel do psicopedagogo é o de prevenção ao
intermediar conflitos na relação professor/ aluno e/ ou aluno/aluno. Atuando
como agente de inclusão social.
A psicopedagogia mediando conflitos encontra uma abordagem para a
transformação criativa aproveitando tais fatos como uma oportunidade de
crescimento e mudança.
31Os conflitos são divergências que interferem no relacionamento
causando tensão. Para reverter o processo é preciso autoconhecimento e
gerenciamento das emoções.
Para que a intervenção seja feita de modo consciente com todos os
envolvidos na relação o psicopedagogo precisa conhecer o projeto político
pedagógico da instituição em questão, a preparação pedagógica do professor e
quais os mecanismos usados para alcançar os objetivos de ensino
aprendizagem.
A mediação significa intervenção com que se busca produzir um acordo
através de uma terceira pessoa, o mediador, que desenvolve a função de
facilitador do diálogo.
A mediação escolar é um meio de diálogo e reencontro interpessoal, de
transformação e resolução de conflitos em que o psicopedagogo, auxilia os
alunos a dialogar, a negociar e a alcançar compromissos mutuamente
satisfatórios. Os princípios básicos que devem nortear uma mediação são :
colocar-se no lugar do outro e tentar enxergar quais são os interesses não
declarados do outro.
Para que a mediação ocorra é preciso que haja confidencialidade,
intimidade, liberdade de expressão imparcialidade e compromisso com o
diálogo.
Em situações de conflito o diálogo é uma forma de encontrar a solução
justa fazendo com que o direito de cada um seja respeitado.
A qualidade do diálogo gera um campo fértil para ampliar a atuação e os
relacionamentos enquanto que a falta gera os mais diferentes tipos de conflito.
E preciso estimular o desenvolvimento das relações intra e interpessoal. O
diálogo deve ser feito com bom senso e respeitando as diferenças. É muito
importante escutar o que o outro tem a dizer, saber escutar é uma arte que
deve ser ensinada e cultivada.
“Fala-se muito em sermos tolerantes com o outro, sendo que no fundo
toda tolerância traz consigo a negação do outro, o necessário é aceitar o outro,
mas para isso temos que ter o amor como emoção fundadora”. (Maturana,
1998).
32O afeto complementa o trabalho do psicopedagogo otimizando as
relações afetivas. Desenvolvendo as relações interpessoais e estabelecendo
vínculos. Tendo ações específicas, coerentes e relacionais no ambiente
escolar.
O objetivo do psicopedagogo é encorajar o aluno a tornar-se cada vez
mais autônomo em relação ao meio, a interagir com os colegas procurando
resolver os conflitos através do diálogo, a ser independente e curioso, a usar
iniciativa própria, exprimir suas idéias com convicção e conviver
construtivamente com medos e angustias.
Os alunos descobrindo uma nova maneira de lidar com conflitos na
escola irão fazê-los para além da instituição sendo os mesmos multiplicadores
do processo. Um conflito bem administrado gera inovação, enriquecimento
pessoal e evolução, melhorando a convivência na escola e na vida.
Aprender a mediar conflitos contribui para a formação do indivíduo como
cidadão responsável por seus atos e conseqüências.
Segundo Wallon, o conflito emocional estimula o desenvolvimento, pois
resolve-los implica manter o equilíbrio entre razão e emoção, o que levará a um
maior amadurecimento tanto da afetividade quanto da inteligência.
A escola encontra na mediação de conflitos, um método de ensino –
aprendizagem de transformação positiva permitindo cumprir as suas funções
de formação e socialização.
33
CONCLUSÃO:
Numa concepção mais ampla de educação, todo ser humano é um
educador, uma vez que, nas relações sociais estamos permanentemente
ensinando e sendo ensinados.
O educador é antes de tudo, um ser humano e como tal protagonista de
um projeto histórico.
A intensificação das relações entre professor-aluno, os aspectos
afetivos, emocionais, a dinâmica das manifestações das salas de aula e as
formas de comunicação devem ser caracterizadas como pressupostos básicos
para o processo da construção do conhecimento da aprendizagem e da
organização do trabalho do professor.
Afetividade e inteligência são aspectos indissociáveis, intimamente
ligados e influenciados pela socialização. A inteligência emocional sendo a
capacidade de percepção dos nossos sentimentos contribui com qualidades
que nos tornam mais plenamente humanos.
É fundamental que o professor seja sensível, observador e acolhedor,
procurando intervir apenas quando necessário e estimulando sempre.
Percebendo-se como um agente de transformações, estando preocupado não
só com o processo ensino-aprendizagem, mas também com o desenvolvimento
pessoal dos alunos.
O olhar do professor para o seu aluno é fundamental para a construção
e o sucesso da sua aprendizagem. Quando sentamos na cadeira de alunos (de
qualquer idade), procuramos no professor a afetividade que nos impulsiona
para continuarmos em frente.
Tanto no âmbito familiar quanto no escolar, deve haver uma relação de
afeto, pois é isso que ajudará a construir um ser humano psicologicamente
saudável e isso só acontecerá pelo amor.
Enquanto o individuo se desenvolve no seu espaço social e cultural
afasta-se de uma submissão aprendendo a transferir suas motivações para
34outros objetos e situações, ao mesmo tempo em que condiciona, afetivamente,
suas relações vivenciais.
Afetividade no ambiente escolar é se preocupar com os alunos, é
reconhecê-los como indivíduos autônomos, com uma experiência de vida
diferente da do professor com direito a ter preferências e desejos próprios. É
inspirar a inteligência dos alunos encorajando-os a enfrentar desafios, a
gerenciar os próprios pensamentos.
O importante é o professor ter a sensibilidade de perceber a importância
do fator afetivo, que envolve valores e o próprio caráter necessário para o
desenvolvimento integral do aluno.
Devemos escutar o que o nosso aluno tem a dizer, demonstrar interesse
e admiração. Descobrir suas riquezas e potencialidades como ser humano.
Todos nós trazemos um infinito dentro de nós mesmos, são muitas
experiências e histórias.
Ás vezes esquecemos valores simples como amizade, partilha e
companheirismo. Em alguns momentos nos esquecemos de olhar com
sentimentos positivos para as pessoas, de conversar, de acariciar e de dizer o
quanto elas são importantes para nós.
Somos seres humanos e precisamos a todo o momento ser estimulados
com palavras de incentivo, gestos de carinho e principalmente respeito. E não
é possível combater a insensibilidade, o desrespeito, a falta de solidariedade a
não ser pelo afeto.
Um olhar, um gesto de carinho, uma palavra de apoio na hora certa
fazem toda a diferença.
35
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37
ANEXOS
Pequenas demonstrações de afeto:
38
39