agronegócio e agrotóxicos : uma visão a partir da saúde coletiva e da justiça ambiental marcelo...
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Agronegócio e Agrotóxicos : uma visão a partir da Saúde Coletiva
e da Justiça Ambiental
Marcelo Firpo Porto ([email protected])
CESTEH/ ENSP/FIOCRUZ
Desafios para a SociedadeConstrução de outro modelo de desenvolvimento e sociedade que supere o “crescimentismo”, a “pobreza da riqueza” na relação entre seres humanos e destes com a natureza.
DESENVOLVIMENTO DEVERIA SER: * Ambientalmente sustentável (versus degradação
ecossistemas e riscos complexos e incertos...);* Socialmente justo (versus desigualdades, divisão internacional do trabalho e globalização excludente)
Crise Socioambiental
• Velocidade de extinção de espécies e redução da biodiversidade pela degradação dos ecossistemas
• Escassez crescente de recursos naturais e “serviços” dos ecossistemas (água, ar, alimentos...) com uso intensivo de recursos naturais
• População urbana crescente sem infra-estrutura básica• Aumento dos riscos ambientais localizados (poluição
atmosférica, das águas e solo; falta saneamento básico; ruído; acidentes industriais – saúde dos trabalhadores e populações em áreas de risco...)
Crise Socioambiental
• Reconhecimento e gravidade dos riscos ecológicos globais que afetam ecossistemas e territórios globais (camada ozônio, efeito estufa e mudanças climáticas, poluição transfronteiriça...)
• Novas doenças infecciosas ou crônicas decorrentes das mudanças ambientais
• Riscos ambientais: cada vez mais complexos, incertos e inseridos em contextos de injustiças
QUESTÃO FUNDAMENTAL: DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO PARA QUÊ, PARA QUEM E EM
QUAIS ESCALAS ?
Ciclos perversos de desenvolvimento: geradores de degradação sócio-ambiental e injustiças ambientais;
Padrão Boom-Colapso: caracterizado por ser intensivo em recursos naturais, exportador de commodities rurais e metálicas, concentrador de renda, e deixa rastros de territórios devastados ao fim do ciclo econômico.
Rápido, efêmero e desigual, com crescimento na renda, emprego e arrecadação seguido de colapso social-econômico-ambiental e períodos de estagnação.
Exemplos de ciclos Boom-Colapso
ciclo da cana do nordeste;
ciclo do café no vale do Paraíba do Sul;
mineração de ouro nos garimpos da Amazônia e Centro-Oeste;
grandes barragens-hidrelétricas;
grandes carniciculturas (fazendas de camarão);
exploração predatória de madeira;
expansão de monoculturas da soja e eucalipto;
ciclo minério ferro – aço para exportação.
O Caso do Agronegócio e dos Agrotóxicos
MAR DE SOJA
Abordagens Integradas e Contextualizadas
• Estudos que buscam integrar questões de saúde, ambientais, sociais e econômicas
• Ciência cidadã: trabalho articulado com necessidades das populações atingidas e trabalhadores nos territórios;
• Produção compartilhada de conhecimentos e atuação em redes
• Influência sobre políticas públicas tanto localizadas como sistêmicas (apontam para transição do modelo de desenvolvimento e sociedade)
Agrotóxicos, Impactos à Saúde e Externalidades
Alguns exemplos de políticas que internalizam as multas pelo não cumprimento da legislação específica, uso de EPIfiscalização, posto ou central de recebimento de embalagens, resperíodo de carência, uso do receituário agronômico, programas deeducação ambiental, programas de vigilância epidemiológica, monitoramento da água e do solo, monitoramento do limite de toledos alimentos consumidos, incentivo a agricultara não convencional
Uso de Agrotóxicos -
Externalidades
Saúde Humana
Meio Ambiente
Saúde trabalhador
rural
Saúde consumidores
Biota
Água esolo
Desequilíbrio ecológico
Biomagnifi -cação - efeito indireto saúde
humana
Contaminaçãosuperficial esubterrânea
Intoxicaçãoaguda,
problemas demais
Intoxicaçãocrônica -redução
fertilidade,efeitos tera -
togenios ,mutagenios ,
cancerogenios
Externalidades e instrumentos de regulação do uso dos agrotóxicos
Contaminaçãolocal e a distância
Alguns exemplos de políticas que internalizam as externalidadesmultas pelo não cumprimento da legislação específica, uso de EPI,fiscalização, posto ou central de recebimento de embalagens, respeito aoperíodo de carência, uso do receituário agronômico, programas deeducação ambiental, programas de vigilância epidemiológica, monitoramento da água e do solo, monitoramento do limite de tolerancia
Uso de Agrotóxicos -
Externalidades
Saúde Humana
Meio Ambiente
Saúde trabalhador
rural
Saúde consumidores
Biota
Água esolo
Desequilíbrio ecológico
Biomagnifi -cação - efeito indireto saúde
humana
Contaminaçãosuperficial esubterrânea
Intoxicaçãoaguda,
problemas demais
Intoxicaçãocrônica -redução
fertilidade,efeitos tera -
togenios ,mutagenios ,
cancerogenios
Externalidades e instrumentos de
Contaminaçãolocal e a distância
Impactos Socioambientais da Soja
Restruturação do espaço social
Agrotóxicos
Transgênicos
Desmatamento
1990/91 1994/95 2004/05 var. % 10 anos
Norte 6,3 21,4 521,9 2339
Roraima - - 20Rondônia 2,4 4,8 74,4 1450
Amazonas - - 2,8Pará - - 69Tocantins 3,9 16,6 355,7 2043
Nordeste 282,6 575,9 1.442,10 150
Maranhão 4,6 91,7 375 309
Piauí - 13,6 197,1 1349
Bahia 278 470,6 870 85
Centro-Oeste 2.946,20 4.559,80 10.857,00 138
Mato Grosso 1.100,00 2.295,40 6.105,20 166
Mato Grosso do Sul 1.013,10 1.097,90 2.030,80 85
Goiás 790 1.122,70 2.662,00 137
Sudeste 972 1.163,60 1.891,60 63
Sul 5.535,40 5.358,00 8.588,50 60
Total Brasil 9.742,50 11.678,70 23.301,10 100
Fonte: CONAB, janeiro de 2006.
Tabela 1 - Evolução da área plantada de soja, por região e unidade da federação – da federação – 1990 a 2005– em mil hectares - REGIÃO/UF
Tabela 1: Preço médio (ha)- lavouras - MT, RS, PR, SC, SP
UF 1995 2000 Variação %
MT 609,56 796,12 30,61RS 1631,34 2080,69 27,54PR 2169,45 2932,69 35,18SC 1859,98 2257,93 21,40SP 3440,03 3268,30 -4,99
Exemplos:
Taxa de desmatamento X preço da soja no ano anterior
R2 = 0,7479
05
101520
2530
0 10 20 30 40 50
Preço da soja (R$, valor constante 1994)
Taxa
des
mat
amen
to
(mil
Km
2)
MAR DE SOJA
(Tapurah - MT)
- As maiores empresas do agronegócio no Brasil em 2005
Transnacionais Faturamento em R$ bilhões
Número de empregados - mil
Bunge 23,2 11,0 Cargill 12,9 22,5 ADM 2,8 2,6 Dreyfus (Coinbra) 1,6 5,0 Nacionais Caramuru 1,8 2,4 Grupo Maggi 1,3 1,8
Reprodução modelo boom-colapso na Agricultura
Indicadores Não florestal Desmatada Sob pressão Florestal
IDH 0,654 0,659 0,713 0,648
Conflitos de terra (2003-2006) por 100 mil habitantes
6,9 5,0 15,2 5,8
Casos de assassinatos rurais (2003-2006) por 100 mil hab.
0,2 0,4 5,5 0,6
Casos de trabalho escravo (2003-2006) por 100 mil hab.
36,7 41,3 137,0 11,3
Empregos formais (para cada 1 mil hab.)
114,1 96,3 141,2 94,3
PIB municipal médio em 2004 (US$ milhões)
28,7 46,1 93,6 40,7
PIB per capita médio em 2004 (milhares de US$)
3,2 2,3 6,3 2,2
Fonte: Imazon 2007
Indústria dos Agrotóxicos
• Origem nos experimentos com armas químicas;
• Divisão entre “inovadoras”e especializadas;
• Forte processo de fusão internacional entre décadas 1980 e 2000;
• Concentração cada vez maior no mercado internacional (e nacional) da indústria de agrotóxicos, incluindo sementes transgênicas!!!
• Em 1990 no mercado internacional as duas maiores empresas faturaram 25,16%, as quatro maiores empresas 45,94%, e as oito maiores 76,5% (55,5%).
• Em 2000 duas maiores empresas faturaram 34,35%; as quatro maiores 59,5%, e as oito maiores 87,56%.
Indústria dos Agrotóxicos
• No Brasil em 1999 as duas maiores concentraram 25,7% do mercado, as quatro maiores 42,3%, e as oito maiores 71,4%.
Intensidade de consumo de agrotóxicos no Brasil e no Mundo
Brasil Mundo
Ano Venda de agrotóxicos
(Milhões US$)
Área plantada
(Milhões ha)
Agrotóxico/ área
(US$/ha)
Venda de agrotóxicos
(Milhões US$)
Área plantada
(Milhões ha)
Agrotóxico/ área
(US$/ha)
1995 1.536 51,08 30,06 37.696,00 1.111,79 33,91
2000 2.500 49,98 50,02 32.769,00 1.124,54 29,14
2005 4.244 62,42 67,99 * 1.163,49 *
Fontes: Vendas de agrotóxicos (Brasil): MAPA, 2007 Vendas de agrotóxicos (Mundo): Aspelin, 1997; Kiely et al. 2004 Área plantada (Brasil e Mundo): FAO, 2007.
ESTRATÉGIAS DE REGULAÇÃO
• Processo de registro• Controle de vendas• Fiscalização das condições de trabalho (aplicação)
e meio ambiente• Incentivos/desincentivos econômicos ao produtor• Educação ambiental e informação dos efeitos dos
agrotóxicos e da alimentação saudável• Redução do uso• P&D em agroecologia e transição agroecológica
Tendências internacionais
• Europa: aumento de restrições quando envolve risco de câncer/alterações genéticas/problemas de fertilidade com retirada de 22 produtos a partir de 2010.
• REACH (2007): Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemical substances
• Redução do duplo padrão clássico• Concentração nos mercados “emergentes” e mais
desregulados do ponto de vista da saúde e meio ambiente• Novo papel internacional de países asiáticos e da América
Latina• Pressão das empresas para impedir que tendência restritiva
européia se espalhe – PRESSÃO SOBRE ANVISA
Double Standard and the International Trade of Pesticides: the Brazilian case (IJOEH, jan 2010)
• Análise do comércio exterior (importação e exportação) entre 1989 e 2006 de um grupo selecionado de agrotóxicos em função de mudanças na legislação dos EUA, União Européia e Brasil.
• Os resultados indicam a permanência de casos de duplo padrão,. demonstrados pela continuidade da exportação de alguns agrotóxicos banidos nos EUA e Europa para o Brasil. A dinâmica do comércio global vem tornando o monitoramento de um comércio injusto mais complexo, uma vez que muitos dos produtos proibidos nos países ricos passaram a ser produzidos e exportados, algumas vezes por subsidiárias de grandes empresas norte-americanas e européias, por países da América Latina e Ásia
Relação entre agrotóxicos, economia, saúde, meio ambiente e alternativas
• Tese de Wagner Lopes Soares (2010): “Uso dos agrotóxicos e seus impactos à saúde e ao ambiente: uma avaliação integrada entre a economia, a saúde pública, a ecologia e a agricultura”;
• Agrotóxico como externalidade negativa;• Tendências de expansão dos agrotóxicos no país;• Custos dos agrotóxicos para a saúde humana;• Políticas públicas para a redução do consumo e a
transição agroecológica;
Alguns resultados importantes para a regulação
• Custos (externalizados) com a saúde: estudo no PR revela que custos podem chegar a 30% dos gastos com a compra. Para piores cenários, custos com intoxicação ultrapassam os USD 100 milhões/ano só no PR.
• Principais fatores que aumentam intoxicação: venda direta pelo vendedor, sem receituário e produtos mais perigosos.
• Municípios que adotam incentivos à agricultura orgânica reduzem intoxicações em 47%
Alguns resultados importantes para a regulação
• Armadilha tecnológica/econômica: agricultores levam até 6 anos para reverter ganhos; proximidade de lavouras que usam; dificuldades com mercado
• Problemas para aumento da oferta e da demanda com produtos sem agrotóxicos
• Políticas públicas para a transição ecológica: informação/educação (consumo consciente); ações de controle e fiscalização com caráter educativo e formador de opinião pública; apoio a políticas intersetoriais