ailene o figueiredo (especialista em direito puc/rs ... · revolucionários franceses entre 1789 e...
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TRABALHO E REMUNERÇÃO: ANÁLISE DAS DIFERENÇAS EM RAZÃO
DO GÊNERO
Ailene O Figueiredo (Especialista em Direito PUC/RS)
Guilherme A Figueiredo (Especialista em Direito PUC/RS)
RESUMO:
O presente artigo destina-se a correlacionar os paradigmas definidos pelos Direitos
Humanos como fundamentos objetivos que limitam e simultaneamente, assentam a avaliação
do Estado Democrático de Direito, notadamente a relação entre os Direitos Humanos e
Direitos Sociais, seu tratamento nos ordenamentos jurídicos internacional e nacional, as
características de universalidade, indivisibilidade e interdependência. Análise das normas
internacionais ratificadas e internalizadas pelo Brasil sob a perspectiva da igualdade de
gêneros, aplicáveis sob o prima do trabalho e a análise da diferença de remuneração entre
gêneros. Para tanto foi utilizado o método exploratório, descritivo e analítico, são estudados
os movimentos feministas e suas configurações, as principais teorias sobre o feminismo. Foi
realizado mapeamento de pesquisa entre os anos de 2003 a 2017.
Palavras-chave: cidadania, direitos fundamentais, trabalho, diferença, salário
1 NOTAS INICIAIS
O artigo desenvolvido discute a questão de gênero analisada sob o enfoque da
legislação dos Direitos Humanos e a interdisciplinaridade com o trabalho em razão da
amplitude da questão da igualdade relativo aos direitos sociais, e ao salário projetado no
mercado, suas diferenças, sob a ótica da ciência do Direito. Os Direitos Humanos tem por
característica a indivisibilidade, razão pela qual não é viável o alcance de tais direitos apenas
por parte da sociedade e parte de seu conteúdo.
Na atualidade, ainda constatamos, além das dificuldades econômicas estruturais,
divergências salariais entre gêneros, a qual a sociedade ainda justifica em razão da
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maternidade. Entretanto, é possível afirmar que a discriminação vai além da problemática da
maternidade.
Em pesquisa estatística, a proporção de trabalho formal e informal (pesquisa nacional
por amostra de domicílio, realizada em 2009, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) foi identificado um abismo entre os gêneros relativos a ocupação e a
remuneração, tendo como parâmetro a idade, escolaridade, a jornada e estão situados em 38%.
De acordo com o IBGE de 2014 – pesquisa mais recente encontrada no aspecto
população ocupada, o sexo feminino era maioria com 10 anos ou mais de idade,
aproximadamente (53,7%) era minoria da população (45,4%) da população ocupada. Para as
mulheres esse apontador foi de 40,5% em 2003, mudando para 45,3% em 2011 e estabilizados
em 2014. Entre o sexo masculino, esse percentual era de 60, 8%, mudando para 63,4% em
2014.
De acordo com o Relatório Global sobre Desigualdade de Gênero, divulgado em
outubro de 2013, não há um país sequer onde as mulheres tenham as mesmas oportunidades
que os homens nas áreas de educação, política, economia e saúde. No Brasil 65% das
mulheres fazem a força de trabalho, ante 85% dos homens. Em média as mulheres ganham
61% dos salário dos homens. Apenas 18% das grandes empresas têm mulheres entre seus
executivos.
Elas ocupam apenas 9% das cadeiras do Congresso Nacional. O objetivo do presente
incide sobre o princípio inaugural do Direito do Trabalho, as funções que o mesmo
desempenha na contemporaneidade e o princípio da igualdade de gênero vinculadas a
igualdade de gênero.
Para tanto foi utilizado o método exploratório, bibliográfico, descritivo e analítico,
são estudados os documentos internacionais e recomendações dos movimentos feministas e
suas configurações, as principais teorias sobre o feminismo. Utilizando estudos da área da
História, IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2013 utilizado
para levantamento de microdados.
2 Conceitos de Direitos Humanos, Trabalho e Remuneração
O aspecto generalista dos Direitos Humanos com o reconhecimento de inúmeros
direitos inerentes ao seres humanos, isto é, segundo Wróblewski (2001, p.22) “[...]como
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conjunto dos direitos essenciais da pessoa humana e sua dignidade”. Inaugurada pelos
revolucionários franceses entre 1789 e 1799, caracterizou-se por ser um processo social e
político, e tinha por meta principal a extinção da monarquia e a proclamação da república,
culminando na universalização da noção do ser humano como sujeito de direito acima do
Estado. Tais aspirações tiveram fortes influências da Guerra da Independência Americana, e
estabeleceu em definitivo os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Segundo Norberto
Bobbio (2004, p. 101):
[...] com a Revolução, iniciara-se uma nova época da história, com uma explícita
referência a declaração, cuja a finalidade era, a seu ver, a meta inteiramente política de
firmar os direitos naturais, o principal dos quais é a liberdade, seguido pela igualdade
diante da lei, enquanto uma sua ulterior determinação.
A igualdade é construto fundamental da democracia, onde não é permitido distinções
e privilégios num regime liberal. Silva (2000, p.214) constata:
[...] Por isso a burguesia, cônscia de seu privilégio de classe, jamais postulou um
regime de igualdade. É que um regime de igualdade contraria seus interesses e dá a
liberdade sentido material que não harmoniza com o domínio de classe em que assenta
a democracia liberal burguesa[...] (SILVA, 2000, p. 214)
Organizada por um lado, o Welfare State (SILVEIRA, FERNANDES, 2017, p.20) do
pós guerra veio concretizar ideal socialista substancial de igualdade de condições de vida
digna para todos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, introduz
universalmente de forma objetiva os Direitos Humanos por meio das Organizações das
Nações Unidas(ONU), definidos por Comparato: [...] Os direitos humanos são direitos
consagrados nos tratados internacionais considerados, em tais normas internacionais, como
direitos dos quais são sujeitos todas as pessoas, pelo simples fato de sua humanidade” (2003,
p. 12).
A ONU iniciou suas atividades como Liga das Nações e Organizações e da
Organização Internacional do Trabalho, que serviu para a internacionalização dos Direitos
Humanos, o qual era aplicado apenas em tempos de guerra como direito humanitário
(PIOVESAN, 2007, p. 111), a instituição da OIT em 1919, em pioneirismo ímpar na ordem
jurídica internacional da proteção da dignidade da pessoa humana, é anterior à Declaração
Universal de Direitos Humanos ( DUDH) e dos Pactos Internacionais de Direitos Humano de
1966. Canessa afirma que:
[...] o Direito Internacional do trabalho (DIT) tem tido uma forte influência sobre o
DIDH desde a sua criação. Não foi nenhuma surpresa que a Declaração de Direitos
Humanos (1948) e, posteriormente, ambos os Pactos Internacionais de Direitos
Humanos (1966) incluíssem os direitos trabalhistas. Entendeu-se que o mundo do
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trabalho no qual se desenvolvem os seres humanos tinham que ser protegido por um
conjunto de direitos trabalhistas básicos que garantam respeito à dignidade humana
(CANESSA, 2012, p. 288)
O trabalho é definido por Reis (BARZOTO, 2011, p. 15) como [...]esforço corpóreo
que arranca da natureza os meios de sobrevivência, não é um fim em si mesmo, não diferencia
o homem das demais espécies biológicas. Integra o processo natural, vinculado ao
determinismo próprio da physis. [...]. Num regime de escravidão, os escravos são
considerados objetos, não desfrutando qualquer direito. O Direito do Trabalho desponta
timidamente com o início da Revolução Industrial, em razão da substituição da força humana
pelas máquinas. À partir daí, emergem os conflitos, os trabalhadores passam a associar-se e o
Estado passa a intervir nas relações de trabalho. Surge o constitucionalismo social, em que as
Constituições passam a versar sobre os direitos sociais e trabalhistas, tendo a Constituição do
México como primeiro Estado a incluir o tema.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) por ocasião da celebração do
Tratado de Versalhes datado de 1919 em que foi prevista sua criação, passando esta, a partir
de 1921 a deliberar sobre temáticas trabalhistas e previdenciárias por meio de convenções e
recomendações. Tem por finalidade realizar a justiça social e assegurar aos indivíduos um
regime de trabalho humanizado.
Na perspectiva internacional, o Direito Internacional do Trabalho (DIT) é um ramo
do Direito Internacional Público (DIP), tendo adotado 189 (cento e oitenta e nove)
convenções que tratam de variados aspectos relativos ao trabalho e normatizam os parâmetros
mínimos de proteção aos trabalhadores, aditadas pelas 203 (duzentas e três Recomendações
(http://wwwilo.org/public/english/standarts/relm/country.htm> acesso em 22/07/2017). São os
principais instrumentos internacionais de regulamentação das relações sociais trabalhistas
com o objetivo de assegurar a justiça social e proteção ao trabalho, convergindo juridicamente
o DIT e o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH).
A OIT, no preâmbulo de sua constituição de 1919, elenca três axiomas básicos
pertencentes com os princípios do Direitos Humanos:
[...]1. A paz universal e permanente só pode basear-se na justiça social;
2.Urgência na melhoria das condições de um grande número de pessoas, tendo em
vista que a injustiça, as privações e a miséria levam a um descontentamento tão grande
que põe em perigo a paz e a harmonia universal;
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3. De impedir-se que a falta de adoção, por parte de uma nação, de regime de trabalho
humano não impeça os esforços das demais para melhorar a sorte dos trabalhadores
em cada uma delas. (ZAPATA, 2017, p. 41)
Alicerçada na dignidade da pessoa humana, a OIT emitiu inúmeras Convenções
balizando o standard relativo aos direitos dos trabalhadores. A Convenção n. 29 refere-se ao
trabalho forçado ou obrigatório, datada de 1930, mereceu especial distinção, sendo
considerada norma fundamental pela entidade em 1998 e haver antecedido a própria DUDH,
tal a sua relevância.
Consoante Basso e Polido:
[...] Os instrumentos adotados pela OIT também foram precursores dos numerosos
tratados de direitos humanos (no níveis multilateral e regional) que seguiram e se
multiplicaram após o término da Segunda Guerra Mundial. Normas internacionais de
proteção dos direitos fundamentais da pessoa foram sendo gradativamente positivadas,
como mesmo demonstra a evolução conceitual e valorativa da Declaração dos Direitos
Humanos de 1948 e da entrada em vigor dos Pactos de 1966 sobre Direitos Civis e
Políticos e Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, adotados pelos membros das
Nações Unidas. (BASSO, POLIDO, 2012, p. 141)
Em regulamentação do trabalho feminino, a OIT, expediu a declaração sobre a
justiça social para uma globalização equitativa, segundo a qual institucionaliza o conceito de
trabalho. No tocante a gêneros, as principais normas são a Convenção 100, sobre igualdade de
remuneração, a Convenção 111, sobre a discriminação no emprego e ocupação, a Convenção
156, sobre trabalhadores com responsabilidades familiares e a Convenção n. 189, sobre
trabalho doméstico, vez que nesta seara, ainda prepondera o trabalho feminino.
A Convenção 100 foi adotada pelo Brasil 1951, e ratificada em 24.04.1957, onde
conceitua a expressão “igualdade entre mão de obra masculina e a mão de obra feminina por
um trabalho de igual valor”, onde cada Estado promover a aplicação de igualdade de
remuneração entre mão de obra feminina e masculina. Garante também a igualdade de
remuneração para trabalho de igual valor, em razão da segregação.
Em 1927, surge a Carta del Lavoro que estabeleceu um sistema corporativista-
fascista e o qual veia a iluminar os sistemas políticos de Portugal, Espanha e o Brasil
(ZAPATA, 2017, p. 75).
No Brasil, em 1930, Getúlio Vargas foi o primeiro presidente a criar o Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio com a incumbência de elaborar decretos sobre profissões, o
Direito do Trabalho foi inicialmente inserido na Teoria do Direito Social, e a qual era
destinada à salvaguardar os direitos dos hipossuficientes. Segundo Cesarino Junior (JÚNIOR,
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1957, p. 35), seria um [...]direito coletivo, assistencial e previdenciário, destinado a promover
a justiça social[...]. A denominação Direito do Trabalho surgiu na Alemanha em torno de
1912 (MARTINS, 2015, p. 27).
Modernamente passou a denominação de Direito do Trabalho, sendo este
conceituado por Martins (MARTINS, 2016, p.39) [...] como conjunto de princípios, regras e
instituições atinentes a à relação do trabalho subordinado e situações análogas, visando
assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas
de proteção que lhe são destinadas.
O trabalho das mulheres ganha a primeira regulamentação no Brasil em 1932 por
meio do Decreto 21.417, que instituiu a proibição do trabalho da mulher no período noturno,
entre 22:00 e 5:00 do dia seguinte, e proibiu igualmente a remoção de peso, concedeu dois
descansos diários de meia hora cada um para amamentação do filhos, durante os seis
primeiros meses de vida. (http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-
21417-17-maio-1932-559563-publicacaooriginal-81852-pe.html acesso em 10/07/2017).
Observando-se que este decreto anuía com a lógica estampada no Código Civil de
1916 no que tange às relações familiares, o qual promovia a identificação da mulher com os
grupos de incapazes e qualquer passo fora do lar devia ser autorizado pelo marido, tanto assim
como a sua rescisão de contrato.de trabalho (CC, 1916).
A primeira Constituição a tratar sobre o trabalho feminino foi a de 1934
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm, acesso em 22/0/2017),
a qual positivou, em cumprimento ao Tratado de Versalhes, em seu artigo 121, a não
discriminação da mulher relativa a salário e estabeleceu outras garantias, tais como o repouso
após antes e após o parto sem prejuízo do salário, proibição de trabalho em locais insalubres e
instituição de previdência em favor da mulher em razão da maternidade.
O salário-mínimo foi instituído pela Lei n. 185 de 14/01/1936. Segue-se a
Constituição de 37, e o Decreto-lei 2.548 de 31/08/1940 que complementa e regulamenta o
salário-mínimo. Este decreto dispunha sobre as hipóteses em que era autorizado as reduções
de salário. Para os aprendizes entre 18 e 21 anos havia uma redução em 15%. Ao atingir os 21
anos cessava a redução. No caso de trabalho feminino a redução era de 10% em caráter
absoluto e definitivo, e sem que fosse estendido às trabalhadoras domiciliares.
A Consolidação de 1943 retirou a permissão da inconstitucional e injustificada
dedução. Entretanto, veio a aprofundar a regulamentação com manifesta intenção tutelar e
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restringir a prorrogação da jornada de trabalho por duas horas, com pagamento de adicional
de 20% por cada hora, desde que a mulher fosse autorizada por atestado médico. Apenas em
casos excepcionalíssimos seria viável a elevação da jornada até 12 horas.
Regulamentou igualmente o trabalho noturno feminino, restringindo às mulheres
maiores de 18 anos, nas atividades de radiofonia, radiotelegrafia, telefonia, enfermagem, e em
casas noturnas, tais como bares, restaurantes, era necessário a apresentação de atestado de
bons antecedentes, a ser fornecido por autoridade competente, acrescido de atestados de
capacidade física e mental; isto é; para serem consideradas aptas ao trabalho noturno, deveria
haver comprovação de não ser prostituta ou mesmo uma insana. Ficaram mantidas as
proibições acerca do trabalho perigoso e/ou insalubre, e quanto a maternidade, a licença foi
ampliada de 8 para 12 semanas, e aditando a autorização se o bebê fosse doente
As Organizações das Nações Unidas (ONU) realizou em 1979 a Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW). Primeiro
Tratado Internacional sobre os Direitos Humanos das Mulheres, tem por objetivo a repressão
sobre a discriminação feminina e a viabilização de direitos da mulher e a igualdade de gênero.
Passou a vigorar desde 1981 com ressalvas, e é o maior e mais importante
instrumento de caráter internacional o qual gera efeitos vinculantes aos Estados-Membros e
que possui a finalidade de resguardar e garantir os direitos humanos das mulheres. É meio de
garantia do pleno exercício dos direitos civis, políticos, econômicos sociais e culturais. As
ressalvas foram abolidas. No tocante às ressalvas, estas se referiam ao artigo 14§4º e 16§1º
(a), (b), (c) e (h), amparado no Código Civil vigente. Só em 1994, isto é, há vinte e três anos,
o Estado brasileiro notificou o Secretário Geral das Nações Unidas sobre a eliminação das
ressalvas.
A Convenção tem como documentos antecedentes, a Convenção dos Direitos
Políticos da Mulheres, datada de 1952; a Convenção sobre as Mulheres Casadas de 1957; a
Convenção sobre a Nacionalidade de Mulheres Casadas de 1962, a Convenção sobre o
casamento por Consenso, Convenção sobre a Idade Mínima para Casamento e Registro de
Casamento de 1962(http://www.compromissoeatitude.org.br/convencao-sobre-a-eliminacao-
de-todas-as-formas-de-discriminacao-contra-a-mulher-cedaw-1979/ acesso em 31/07/2017),
a Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (CEDAW) de 1967, que
englobou em um único instrumento jurídico padrões interacionais que articulavam direitos
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iguais para homens e mulheres, embora não vindo a ser convalidada como tratado, não
vinculando aos Estados-Membros obrigações legais.
Todos esses documentos foram aglutinados e vieram consubstanciar a CEDAW:
[...]sendo considerada a Carta Magna dos Direitos da Mulher simboliza o resultado de
inúmeros avanços – em termos de princípios, normas e políticas- construídos nas
últimas décadas, em um grande esforço global de edificação de uma ordem
internacional de respeito à dignidade de todo e qualquer ser humano.
(https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/122/edicao-1/genero-e-direito).
O Brasil, só a partir de 1984 passa a internalizar o tratado por meio da Lei 89.460/84,
e iniciam-se as mudanças legislativas para implementação das políticas públicas para a
eliminação da desigualdade de gênero. Desde então, inúmeros esforços foram envidados pelo
Governo por meio de políticas públicas para o atingimento de igualdade social não só entre
gêneros, mas a toda sociedade.
3 Legislação vigente sobre a mulher no mercado de trabalho
Contemporaneamente, a Carta da República de 1988 trata dos direitos trabalhistas
nos artigos 7º ao 11º e incluídos no Capítulo II sob o Título “Dos Direitos Sociais, do Título
“Dos Direitos e Garantias Fundamentais. No que tange ao combate à discriminação contra
mulher e aos parâmetros protetivos internacionais como promoção da igualdade através de
políticas compensatórias – artigo 7º XX ( previsão de proteção mercado de trabalho da
mulher, mediante incentivos específicos em lei) e de vertente repressivo-punitiva – art. 7º,
XXX através da proibição da discriminação contra a mulher em que proíbe a diferença de
salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil.
Fica evidenciado o alcance no que tange as conquistas constitucionais: a) a igualdade
entre homens e mulheres desde o contexto b) o reconhecimento da união estável como grupo
familiar, c) a reafirmação proibição da discriminação no mercado de trabalho em razão do
sexo e/ou estado civil, insculpido no art. 7º XXX da Carta da República, regulamentado pela
Lei 9.292 de 13 de abril de 1995 que proibindo a exigência de atestado de gravidez e/ou
esterilização e entre outras discriminatórias com finalidade admissionais ou de permanência
da relação jurídica de trabalho); d) proteção especial da mulher no mercado de trabalho
mediante incentivos específicos (art. 7º , XX regulamentado pela Lei 9.799 de 26 de maio de
1999, que insere na Consolidação das Leis do Trabalho regras sobre o acesso da mulher no
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mercado de trabalho); e) o planejamento familiar como uma decisão livre para o casal,
devendo o Estado propiciar os recursos científicos e educacionais para o exercício deste
direito- art. 226§7º.
Em matéria penal, o dever do Estado de coibir a violência no âmbito das relações
familiares- art. 226,§8º, onde foi prevista a notificação compulsória, em território nacional, os
casos de violência contra mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados,
nos termos da lei 10.778 de 24/11/2003, a Lei 13.104 de 09/03/2015, chamada Lei do
Feminicídio que alterou o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de
homicídio, e o art. 1o da Lei n
o 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol
dos crimes hediondos, a Lei Maria da Penha – Lei n. 11.340 de 7/08/2006 para prevenção e
combate a da violência contra a mulher, a Lei 9.504 de 30/09/1997 que dispõe sobre a reserva
para partido ou coligação de mínimo de 30% e máximo de 70% para candidaturas de cada
sexo, j) e a Lei 10.224 de 15/05/2001 que dispõe sobre assédio sexual.
Toda a estrutura legislativa construída ainda não é suficiente para impedir de forma
concreta a discriminação, que insiste permanecer, em razão de cultura arraigada na sociedade.
4 A Igualdade e a Diferença Salarial e Motivos da Diferença
Desde Versalhes, a equiparação salarial entre homens e mulheres está recomendada
internacionalmente. O artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), dispunha que a
todo trabalho igual deveria corresponder salário igual sem distinção de sexo. O artigo 461
estabelece especificamente que:
[...]sendo idêntica a função, a todo o trabalho de igual, prestado ao mesmo
empregador, na mesma localidade, corresponde a igual salário, sem distinção de sexo,
nacionalidade ou idade; trabalho de igual valor, para fins desse capítulo, será o que for
feito com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica, entre pessoas cuja
diferença de tempo de serviço não for superior a dois anos.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm, acesso em
26/07/2017)
Logo, a lei brasileira ao circunscrever parâmetros tais como identidade de funções, e
não só de posto, a inserção de critérios de rendimento, qualidade, produtividade do trabalho
vinha a estabelecer e firmar o acesso a discriminação salarial de gênero, a qual restringia o
acesso da mulher às funções assalariadas, convertendo-a em uma trabalhadora mais cara e
simultaneamente circunscreveu tipos de ocupações onde não era exigido treinamento, tonando
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a mulher menos classificadas pelo mercado como menos qualificadas (MORAES FILHO,
1976, pág. 5,
(https://bvemf.files.wordpress.com/2014/08/pareceres_de_direito_do_trabalho_i.pdf acesso
em 26/07/2017). Importante descortinar o construto social da desigualdade, e os meios
utilizados pela sociedade para fortalecimento do patriarcalismo em detrimento da condição
feminina.
Contemporaneamente, a diferença salarial ainda a diferença de remuneração se impõe
no mercado de trabalho, Calil baliza o aperfeiçoamento do direito da mulher em três fases,
que vai da proibição, perpassa pela promoção da igualdade mas com restrições, e alcança a
última, em movimentos sociais que denomina “ondas de transição”, em que constata:
[...] Delimitamos o período entre a promulgação da CLT até o início dos trabalhos da
Constituinte de 1985. Foi um período de intensas mudanças: sociais, econômicas,
políticas, todas elas afetando o trabalho da mulher, e a terceira que é o direito
proporcional propriamente dito, que começa com a promulgação da Constituição de
1988 e vai até os dias de hoje. É o tempo do direito promocional propriamente dito,
onde se busca promover a igualdade dentre os gêneros. (CALIL, 2000, p. 67)
Conforme IBGE, a População Economicamente Ativa (PEA), a população feminina no
Brasil cresceu 260% contra a masculina na ordem de 73% entre os anos de 1970 e 1990
(ftp://ftp.ibge.gov.br/Estatisticas_de_Empreendedorismo/2011/empreendedorismo2011.pdf,
acesso em 27/07/2017). Apesar desse incremento populacional, o rendimento entre os
gêneros, que neste trabalho tem por base apenas o binário, ainda favorece fortemente o sexo
masculino.
A classificação das diferenças salariais são efetuadas a partir dos seguintes
parâmetros: [...]a diferença na produtividade em razão do sexo, podendo ou não haver
implicações de níveis diferentes de capital humano (MIKI e YUVALI, 2011). A segunda
possibilidade relativa a [...]segregação ocupacional que tanto pode ser originada da
preferência dos indivíduos de diferentes gêneros (FOUARGE, KRIECHEL e DOHMEN,
2014), ou pela [...] preferência de contratação dos empregadores ou consumidores dos
produtos finais (KHUN e SHEN, 2013).
Tal segregação, pelo vértice da demanda Madalozzo (MADALOZZO, 2010) conclui
que a segregação por demanda por trabalho leva à terceira forma de diferenciar salários entre
homens e mulheres: a discriminação.
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Os estudos acima apontam que a discriminação salarial se dá quando [...] para os
mesmos níveis de escolaridade, experiência e controlados por outros fatores que teriam
impacto na produtividade de ambos os sexos, é observada uma diferença salarial entre os
gêneros (KAUFFMAN e HOTCHKISS, 2006).
Os dados levantado pelo IBGE constatam que as mulheres possuíam em 2011, nível
educacional mais elevado que os homens apontando uma diferença de 12 anos de estudos para
as mulheres e 10 anos para os homens, razão pela qual é conclusivo que a diferença salarial
não está relacionado às características pessoais
(ftp://ftp.ibge.gov.br/Estatisticas_de_Empreendedorismo/2011/empreendedorismo2011.pdf).
Segundo Oliveira (OLIVEIRA, 1997, p.109), a segregação pode sobrevir quando as
categorias femininas pagam em média salários inferiores às ocupações masculinas, fator
preponderante para o estabelecimento da desigualdade.
É cediço que a segregação ocupacional tem origem não [...]somente pela opção dos
indivíduos como pelas razões históricas ou ainda pelas condições sociais que resultem
indiretamente na discriminação (MACHADO, OLIVEIRA, WAJNMAN, 2005, p. 83), que
tomam como exemplo as ocupações consideradas extensivas ao trabalho doméstico já
exercida no ambiente privado e intituladas como segregação imediatamente anterior ao
mercado, isto é, são as ocupações que precedem o mercado de trabalho.
Os dados da PNAD- 2013, é observável que a proporção entre homens e mulheres na
População Economicamente Ativa (PEA), e cuja participação das mulheres na força de
trabalho, trabalhando ou a procura de trabalho é inferior a masculina. Nesta pesquisa ainda é
possível identificar a relação entre idade e nível educacional favorável à mulheres, entretanto
a média salarial feminina é 72% da masculina, razão pela qual depreende-se a concretização
da discriminação ou que sejam afastadas da ocupações que remuneram mais.(
http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/homens-recebem-salarios-30-
maiores-que-as-mulheres-no-brasil/ acesso em 26/07/2017).
Outra questão que se impõe é quando se trata de mulheres ocupando profissões
tipicamente masculinas (GIUBETI, MENEZES FILHO, 2005), o diferencial médio ainda é
desfavorável às mulheres, não sendo possível localizar a justificativa, e quanto a intituladas
profissões integradas, em que as proporções de homens e mulheres são assemelhadas, a
diferença sempre é favorável aos homens, mesmo havendo formação educacional superior a
masculina.
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No relatório Estatísticas de Gênero, publicado pelo IBGE em 2014, revela que 19,4%
dos homens e 30,4% das mulheres com 16 anos ou mais não tinham qualquer tipo de
rendimento. Segundo Lavinas, ao efetuarmos a associação da mulher com o incremento da
chefia de família monoparentais, podemos afirmar que se trata da feminização da pobreza
(LAVINAS, 1996, p. 464). Este termo, é considerado polêmico, pois não dimensiona o
quadro de desigualdade de renda entre os sexos. Permanecem excluídos outros diferenciais
tais como o de menor jornada, taxa de desemprego, a inserção no primeiro emprego.
Uma das motivações identificada na pesquisa diz respeito a dupla jornada de
trabalho, e que em razão disso as mulheres propendam a investir menos nas profissões, e no
decorrer da vida, vão sendo privadas as vantagens remuneratórias em relação aos que se
mantém no mercado de trabalho.
Adicione-se ainda a questão diferencial da maternidade, que torna a mão de obra
feminina mais cara em relação a masculina. Alguns países tais Polônia, Alemanha,
Dinamarca, Inglaterra entre outros, com o objetivo equalizar os gêneros autorizam a licença
paternidade, que dependendo do país autorizam de forma remunerada a licença, podendo ou
não ser simultânea a da mulher, ou ainda subsequente a licença da mulher, pelo período entre
um mínimo de seis até 36 meses. (Http://www.brasileiraspelomundo.com/inglaterra-licenca-
maternidade-pelo-mundo-410913529).
Os excertos selecionados selecionaram as amostras referentes aos indivíduos que
efetivamente estão participando da força de trabalho, e excluem as mulheres com renda mas
que não trabalham, isto é quando o rendimento não é pessoal, assim como a análise perpassa
pelos tipos de ocupação, com segregação ocupacional ou mesmo integradas.
O maior entrave identificado ainda se traduz ainda na cultura machista, visto não
haver razões objetivas que justifiquem a tal desigualdade, e o qual se revelam em diversas
frentes: na contratação, na remuneração, durante a jornada de trabalho, leia-se não apenas
referente a assédio mas também no demérito trabalho cumprido, na qualidade da ocupação, no
tempo dispendido em dupla jornada, na ausência de divisão das tarefas domésticas, na
ausência da divisão das tarefas com a família, tanto com os filhos como em relação aos
cuidados com os parentes idosos.
As inúmeras discriminações contra a mulher que ocorrem desde a procura por uma
colocação. Algumas normas internacionais diferenciam as discriminações diretas e indiretas
segundo Thome:
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[...]A discriminação direta em razão do gênero ocorre na situação em que se encontra
uma pessoa que seja, tenha sido ou poderia ser tratada, por razão do seu sexo, de
maneira menos favorável que outra em razão comparável, diretamente pelo Estado ou
particulares, fazendo uma diferenciação explícita, sem fundamento, entre homens e
mulheres. (OIT, 2007, p. 50)
A discriminação direta só ocorre por causa de questões legais ou normas religiosas
que proíbem as mulheres de participar de atividades laborais da mesma maneira que
os homens, com leis que proíbam ou restrinjam a participação das mulheres m
contratos de trabalho ou que determinem que a mulher deva receber menos que os
homens.
A discriminação indireta em razão do gênero, por sua vez, é a situação em que uma
disposição, critério ou prática aparentemente neutra põe duas pessoas de um sexo em
desvantagem particular com respeito a pessoas do outro, salvo que dita disposição,
critério ou pratica possa se justificar objetivamente em atenção a uma finalidade
legítima. (THOME, 2012, p. 141)
Segundo esta autora, a problemática do gênero atinge de forma diferenciada as
relações de trabalho, alguns mais outros menos:
[...] Isso ocorre, normalmente, com grupos em situação de vulnerabilidade social, tais
como grupo de mulheres que trabalham no âmbito rural, de mulheres negras, mulheres
imigrantes, meninas, idosas ou com alguma deficiência. Nesses casos, as
discriminações são potencializadas pela presença de outros tipos de discriminação e
costumam ser chamadas de discriminação dupla, múltiplas, discriminações compostas,
sistemas múltiplos de subordinação, intolerâncias correlata, ou ainda,
interseccionalidade de discriminações. (THOME, 2012, 141)
Em estudos sobre as diversas discriminações, Crenshaw (CRENSHAW, 2012,
p.171), qualifica a interseccionalidade [...] como método de análise de múltiplas
discriminação, seja racismo, exploração de classe, ou homofóbicos (BLACKWELL E
NADER, 2002, p. 189), Crenshaw esclarece:
[...] ainda em um diálogo entre dois ou mais eixos de subordinação, tais como gênero,
raça religião, e país de origem e ainda afirma que, para que os direitos humanos
tenham efetividade em sua plenitude, faz-se necessário, primeiramente, analisar como
as outras formas de dominação influenciam na questão do gênero, já que tais dados
são desconhecidos e, posteriormente, antecipar quais as formas de encruzamento das
vulnebilidades mais comuns em determinada região ou comunidade. (CRENSHAW,
2012, p. 171).
O estudos das discriminações possuem outros enfoques tais como a superinclusão
definida como circunstância ou condição imposta a um subgrupo de mulheres,
desconsiderando as dimensões de raça origem, religião ou outra forma qualquer de
dominação. E a subinclusão se refere a uma análise de problemática que não considera o
gênero como ponto relevante em razão de não ser afeto aos ditos problemas comuns das
mulheres do grupo dominante.
A segregação ocupacional, segundo levantamento de Dolado, Felgueroso e Jimeno
(2002), estabelece critérios de oferta e demanda na análise. Pela demanda as mulheres são
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assimiladas, em média como menos qualificadas que os homens, e pela oferta, discerniram
que as mulheres são forçadas a escolherem ocupações em que seja possível harmonizar
trabalho e tarefas domésticas. Tais ocupações requerem menor investimento, e caso,
necessitem para de trabalhar por razões diversas impactará menos a economia doméstica.
A relevância da investigação diz respeito, que neste trabalho não se exaure, a correta
identificação das condições das mulheres e o desenvolvimento de políticas eficazes capazes
de corrigir as distorções. Uma interpretação ou uma pesquisa parcial pode gerar conclusões
que não correspondem ao concreto.
A questão que se impõe não pertence apenas minoração do desemprego, mas que a
natureza do emprego tenha qualidade que viabilize a autonomia feminina.
5 Notas Finais
O Brasil tem origem colonial baseada no latifúndio, na mão de obra escrava, na
família tradicional, no patrimonialismo. Não ofertava oportunidade de emprego, além do
doméstico, e ensino para a maioria das mulheres. O Código Civil de 1916 notabilizou a
superioridade masculina ao definir o marido como o chefe da sociedade conjugal, relegando a
mulher unicamente o espaço privado.
A lacuna de instituições democrática, o desnivelamento legal e a cultura patriarcal,
não foram suficientes para obstar o nascimento dos movimentos feministas. Nísia Floresta
que trabalhou pela implantação da educação pública inclusiva (894-1976), Bertha Lutz que
desempenhou papel importantíssimo pelo direito ao voto e Patrícia Galvão, percursora da
liberdade de comportamento e expressão.
Por meio deste estudo, é possível firmar que ao fim da República Velha (1889-1930),
iniciou-se no Brasil o movimento de industrialização e urbanização. Os movimentos pela
igualdade de direitos acirraram-se e viabilizou-se muitas conquistas: direito ao voto em 1932,
vindo a alcançar a maioria do eleitorado a partir de 1998, reduziu-se taxa de mortalidade, e já
vivem em média sete anos há mais que a média masculina, na educação, são a maioria na
população economicamente (PEA), ultrapassaram os homens em todos os níveis, a taxa de
participação no mercado de trabalho. Quanto aos programas de assistência e previdência
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social também são maioria e quanto ao arcabouço legislativo se fundou a igualdade de direitos
por meio da Constituição Federal de 1988.
Segundo Avelar, [...] a progressiva participação das mulheres na vida política,
deflagrada no século XX, deve ser vista sob a perspectiva das mudanças sociais culturais e
políticas das sociedades. (AVELAR, 2002, p. 40). Os movimentos feministas tem importância
ímpar nas conquistas e as quais foram capazes de empreender transformações profundas na
sociedade brasileira.
A transposição do essencialismo rural dominante para a sociedade urbana contribuiu
para o desenvolvimento econômico, reduzindo a taxa de mortalidade e os índices de fome. O
Brasil experimenta em nossos dias a transição de população jovem para a população que
transita entre a idade mediana acima dos cinquenta anos, ou seja, em processo de
envelhecimento, e a mudança do paradigma da velhice para o ser humano acima de 80 anos.
Identifica-se a mudança dos padrões familiares que viabiliza a diversidade de
famílias e a mudança do paradigma. A diversidade religiosa também é ponto relevante e gera
influências sociais importantes. A consolidação da ordem democrática interfere de forma
positiva o atingimento da igualdade.
A simples enumeração de dispositivos legais insculpidas na CEDAW não concretiza
os anseios femininos, mas sim tornaram-se metas a serem alcançadas pelos Estados-Membros,
necessitando de um trabalho conjunto dos Poderes constituídos, e cada qual em sua função,
podem elaborar de forma uniforme, políticas públicas orientadas para os direitos das
mulheres.
A questão salarial ainda se traduz em tema de relevância, pois a assimetria
identificada na pesquisa aprofunda a dependência nefasta que desenvolve e consolida o poder
masculino sobre a mulher. Para Esther Duflo[...] em um sentido de, o desenvolvimento joga
um papel importante na diminuição da desigualdade entre homens e mulheres, em outra
direção, o empoderamento das mulheres pode beneficiar o desenvolvimento (DUFLO, 2011,
p. 2).
A exclusão feminina do mercado de trabalho na atualidade ainda é uma barreira a ser
vencida, pois a mesma não deve se ater apenas a área urbana, mas incluir as variáveis sociais
que cercam a análise. A divisão sexual do trabalho acarreta a desigualdade e concentra
determinado sexo em determinado ramo, dificultando o alcance e a ascensão profissional, que
é justificado pela sociedade com fundamento no instinto maternal.
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A mão de obra feminina sempre teve como característica a precariedade, sofrem ainda
com a feminização do desemprego, o que gera uma menor regulamentação das condições de
trabalho e são maioria na no emprego doméstico. Em linhas gerais foi constatado mesmo
havendo certa redução na desigualdade salarial entre homens e mulheres, a mulher vem sendo
mantida nas faixas salariais mais baixas e intermediárias.
A estrutura normativa fundada na igualdade de gênero no Brasil é vasta, porém a
concretização desses direitos ainda é distante. Sugere a necessidade de inovações no que
tange a políticas públicas nas relações de trabalho e emprego.
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