Álbum de família

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1. Álbum de família. GABRIEL Cumplices de meus pensamentos, desde que a manhã foi coberta pelo céu vazio, você me conhece e se você me conhece como pode ser meu amigo. Quer fazer o papel de Polônio, o que quer dormir com a filha, a encantadora Ofélia, está chegando a marca dela, olha como ela rebola, um papel trágico. Eu vou te fazer virgem de novo mãe para que seu rei tenha um casamento com sangue, agora eu levo a minha mãe pela trilha invisível de meu pai. Sufoquei seu grito com os meus lábios você reconhece o pavor de seu corpo. Deveríamos costurar as mulheres, um mundo sem mães. Então deixe eu comer o seu coração, por quem minhas lagrimas choro. Eu era Macbeth o rei me ofereceu a terceira concubina. Eu conhecia cada marca de nascença em seu quadril, no coração em baixo de seu único casaco.... o machado para o único crânio da usurária. Um privilegiado. Meu nojo é um privilégio. TATIANE Televisão. O nojo de cada dia nojo. Do palavrório preparado da alegria decretada. Como se escreve APRAZIBILIDADE. O homicídio nosso de cada dia nos dai hoje Pai vosso é o nada nojo Das mentiras em que se crê Dos mentirosos e ninguém senão NOJO Das mentiras em que se crê NOJO Das visagens dos intrigantes entalhadas Da luta pelos postos, contas bancárias NOJO Um carro de combate de pontas reluzentes Ando pelas ruas Galeria de rostos Com cicatrizes da batalha do consumo miséria Indigna miséria sem a dignidade Da faca do ringue do punho cerrado Os ventres caídos das mulheres Esperança das gerações No sangue covardia , burrice sufocadas Gargalhadas das barrigas mortas

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Page 1: Álbum de Família

1. Álbum de família.

GABRIEL

Cumplices de meus pensamentos, desde que a manhã foi coberta pelo céu vazio, você me conhece e se você me conhece como pode ser meu amigo. Quer fazer o papel de Polônio, o que quer dormir com a filha, a encantadora Ofélia, está chegando a marca dela, olha como ela rebola, um papel trágico. Eu vou te fazer virgem de novo mãe para que seu rei tenha um casamento com sangue, agora eu levo a minha mãe pela trilha invisível de meu pai. Sufoquei seu grito com os meus lábios você reconhece o pavor de seu corpo. Deveríamos costurar as mulheres, um mundo sem mães. Então deixe eu comer o seu coração, por quem minhas lagrimas choro.

Eu era Macbeth o rei me ofereceu a terceira concubina. Eu conhecia cada marca de nascença em seu quadril, no coração em baixo de seu único casaco.... o machado para o único crânio da usurária. Um privilegiado. Meu nojo é um privilégio.

TATIANE

Televisão.O nojo de cada dia nojo.Do palavrório preparado da alegria decretada.Como se escreve APRAZIBILIDADE.O homicídio nosso de cada dia nos dai hojePai vosso é o nada nojoDas mentiras em que se crêDos mentirosos e ninguém senão NOJODas mentiras em que se crê NOJODas visagens dos intrigantes entalhadasDa luta pelos postos, contas bancáriasNOJO Um carro de combate de pontas reluzentesAndo pelas ruasGaleria de rostosCom cicatrizes da batalha do consumo misériaIndigna miséria sem a dignidadeDa faca do ringue do punho cerradoOs ventres caídos das mulheresEsperança das geraçõesNo sangue covardia , burrice sufocadasGargalhadas das barrigas mortasViva COCA COLA!

FABIOLAQuer comer meu coração, Hamlet? (rindo)

Gabriel

(mãos no rosto) Eu quero ser mulher.

(DANÇA CANDOMBLÉ, RISOS)

Page 2: Álbum de Família

FABIOLA

Eu sou Ofélia. Aquela que o rio não levou. A mulher na forca, a mulher das veias cortadas, a mulher da overdose, a mulher da cabeça no forno, NEVE NOS LÁBIOS.Ontem eu parei de me matar. Estou só com meus seios, minhas coxas e meu ventre.

Eu arrebento as ferramentas da minha prisão, a cadeira a mesa a cama. Eu destruo o campo de batalha que foi o meu lar. Eu arrombo as portas, para que o vento e o grito do mundo possam entrar. Eu quebro a janela. Com minhas mãos ensanguentadas, rasgo as fotografias dos homens que amei e que me usaram na cama, na mesa, na cadeira, no chão.

Ponho fogo na minha prisão. Jogo minha roupa no fogo. Arranco do meu peito o relógio que foi meu coração. Vou para a rua, vestida em meu sangue.

Eu expulso todo sêmen que recebi, eu tomo de volta o mundo que eu pari. Eu transformo o leite dos meus seios em veneno letal.

Viva o ódio, o desprezo, a revolta, a morte. Se ela passar por seus quartos com peixeiras, vocês saberão a verdade.

TatianeO que você matou, você também tem que amar.

Gabriel

Eu era Hamlet ( coro das mulheres), eu estava a beira-mar e falava com a rebentação.(MULHERES: BLABLABLA) ÁS COSTAS DAS RUÍNAS DA EUROPA. (MULHERES: OS SINOS ANUNCIAVAM O FUNERAL)Assassino e viúva um só par, em marcha atrás do caixão, chorando um luto mal pago.

(TATIANE: QUEM É O CADÁVER NO CARRO FUNEBRE POR QUEM OUVIMOS TANTO GRITO E LAMENTO)

FABIOLA: O CADÁVER É DE UM GRANDE DOADOR DE ESMOLAS.

GABRIELNo corredor da população enfileirada, obra de sua habilidade política, ele era homem e apenas tomava tudo de todos. Eu parei o cortejo fúnebre, finquei a espada no caixão, a lamina quebrou, mesmo sem corte com o que sobrou consegui abri.

Mulheres: distribui o criador.

Gabriel

Carne se dá com carne, do luto ao júbilo, do júbilo a glutonia, no caixão vazio o assassino trepa com a viúva.

Fabiola(Fervorosa) Quer que eu te ajude a subir tio? Abre as pernas mamãe!

Page 3: Álbum de Família

TatianeEu me deitei no chão e vi o mundo girar sua órbita no mesmo compasso que a decomposição.

(na projeção eles escrevem no quadro, EU QUERO SER MÁQUINA)