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ALÉM DA CONVENÇÃO DE NOVA YORK: ALÉM DO ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA1

ReflexõesapartirdeumacompreensãocríticadosdireitoshumanosAna Carla Harmatiuk Matos2

Lígia Ziggiotti de Oliveira3

Resumo: O presente artigo apresenta algumas reflexões inspiradas numa concepção crítica de direitos humanos em relação às recentes normativas de proteção das pessoas com deficiência. Assim, objetiva-se problemati-zar as possibilidades oferecidas pela Convenção de Nova York e pelo Es-tatuto da Pessoa com Deficiência frente aos limites contextuais que, no país, obstaculizam a concretização das previsões abstratas nas vivências cotidianas desta população. Longe de rejeitar relevância à positivação dos enunciados, pretende-se aproveitar o momento ímpar de recepção de atu-alizadas normativas para demarcar, precisamente, alguns desafios que de-mandam superação. Para tanto, estabelece-se uma análise dialógica entre dispositivos legais e juízos de realidade, os quais partem tanto de dados estatísticos reveladores da profundidade das fissuras enfrentadas pela po-pulação com deficiência –em relação a aspectos como sexo, gênero, raça, estrato econômico e etário, que se somam às dificuldades para a inclusão social plena–, quanto questões relativas à conjuntura política global atual, pois, ao assimilar valores neoliberais, parece a tendência dominante aves-sa à implementação de políticas públicas capazes de reverter a letra legal em efetivo acesso aos bens materiais e imateriais fundantes de realidades condignas.

Palavras-chave: Crítica, direitos humanos, pessoas com deficiência, gê-nero, raça.

1 Artículo recibido: 30 de octubre de 2015; aprobado: 13 de enero de 2016.2 Doutora em Direito pela Universidade Federal do Paraná (2003). Professora na graduação, mestrado e doutorado em Direito da Universidade Federal do Paraná. Correo-e: [email protected] Doutoranda em Direitos Humanos e Democracia pelo Programa de Pós-Graduação da Uni- Doutoranda em Direitos Humanos e Democracia pelo Programa de Pós-Graduação da Uni-versidade Federal do Paraná. Professora de Direito Civil da graduação em Direito do Centro Universitário Autônomo do Brasil. Correo-e: [email protected]

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ISSN 1889-8068 REDHES no.15, año VIII, enero-junio 2016

Revista de Derechos Humanos y Estudios Sociales16

Abstract: This article presents reflections from the critical theory of hu-man rights compared to recent standards of protection of people with disabilities. Thus, the goal is to discuss the possibilities offered by the New York Convention on the Rights of Persons with Disabilities and by the Statute of Persons with Disabilities against the contextual boundaries that, in the country, hinder the achievement of abstract predictions in the everyday experiences of this population. Far from rejecting the relevance of turning the statements into written law, the aim is to seize this unique moment of acceptance of updated regulations to precisely outline some challenges, which have to be overcomed. To this end, a dialogical analysis between law and reality judgments is set. This analysis stems both from statistics revealing the depth of the problems faced by people with dis-abilities –regarding aspects such as sex, gender, race, age and economic stratum, which add to the difficulties for the complete social inclusion– and from issues related to the current global political situation. When as-similating neo-liberal values, this situation seems averse to the implemen-tation of public policies to revert written law in effective access to tangi-ble and intangible assets, which are the foundation of a decent reality.

Keywords: Critical, human rights, people with disabilities, gender, race.

1. Introdução

Parte-se de uma compreensão de direitos humanos que se configura, essencialmente, como um juízo de realidade. Reside, pois, em reconhecer que se debruçar apenas sobre o arcabouço normativo não satisfaz a abordagem plena dos direitos humanos. Nesse sentido, a opção pelo debate a partir de uma proposta de efetiva transformação das re-lações sociais e institucionais, objetivando a plena inclusão das pessoas com deficiência, visa ultrapassar o discurso celebratório dos inegáveis avanços oferecidos pelos textos legais e problematizar, para tanto, as impotências do presente.

Ora, considerados apenas planos virtuais, e não reais, verifica-se que a Conven-ção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, assinada em Nova York, em 2007, goza de especial prestígio em território brasileiro se considerada a hie-rarquia das fontes. Trata-se do único tratado internacional de direitos humanos inserido com força de emenda constitucional em nosso ordenamento.

A aprovação deste arcabouço protetivo segundo rigoroso rito previsto consti-tucionalmente –em dois turnos de votação nas Casas do Congresso Nacional, referen-

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dada por pelo menos três quintos dos parlamentares–, revela a amplitude do reconhe-cimento da vulnerabilidade e do necessário resguardo das garantias desta população. Tanto é assim que, em julho de 2015, para se adaptar às exigências do documento inter-nacional, instituiu-se a Lei 13.146, denominada Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Este cenário, na esteira de uma perspectiva mais clássica, oculta a relevância da crítica. Através de uma análise puramente evolucionista da história, conclui-se que a as-censão às pessoas com deficiência a tal patamar de reconhecimento como sujeitos de direito representa inegável progresso de nossos tempos, que enuncia, orgulhosamen-te, em um plexo de diplomas, o “direito a se ter direito”4. Por outro lado, opta-se por esclarecer, nesta oportunidade, os potenciais riscos de uma compreensão meramente neutra, abstrata e formal acerca dos direitos humanos.

Assim, se limitada a função dos juristas unicamente à busca pela incorporação de enunciados normativos ao ordenamento vigente, e à mera análise exegética de seu teor, afasta-se a imprescindível reflexão acerca das reais condições contextuais de se reproduzirem os projetos de emancipação firmados em lei na concretude sentida pelas pessoas com deficiência. Ao se propor a análise das reais condições contextuais em que se inserem os enunciados normativos, revela-se, pois, outro aspecto da chamada teoria crítica dos direitos humanos: o desapego à pretensa neutralidade jurídica, em busca de envolvimentos mais comprometidos com as vivências concretas.

De todo modo, não se nega a conquista que a Convenção de Nova York e o Es-tatuto da Pessoa com Deficiência representam à defesa de seus direitos humanos e fun-damentais5. Se o discurso posterior à incorporação formal insiste em higienizar o pano de fundo da formulação normativa, certo é que nada se criou por benesse, mas sempre em razão de lutas ininterruptas6. A propósito, o conhecido slogan do movimento das pessoas com deficiência, “Nada Sobre Nós, Sem Nós”, veiculado desde a década de 80, reforça a trajetória de pressão do grupo para participar ativamente de decisões relativas

4 Herrera Flores, Joaquín, Teoria crítica dos direitos humanos, Florianópolis, Fundação Boiteux, 2009, p. 39.5 Porque sustentam, direitos humanos e direitos fundamentais, a noção de dignidade da pes- Porque sustentam, direitos humanos e direitos fundamentais, a noção de dignidade da pes-soa humana, passa-se a se referir apenas a “direitos humanos”, considerando, inclusive, a análise integrada entre arcabouço normativo internacional e nacional. Neste sentido: “(...) mesmo não havendo um conceito fechado determinado dos direitos humanos e fundamentais, ou ainda um fundamento consensual destes, nota-se que todos convergem distintamente à ideia da dignidade da pessoa humana” (Fachin, Melina Girardi, Direitos humanos e fundamentais do discurso à prática efetiva: um olhar por meio da literatura, Porto Alegre, Nuria Fabris, 2007, p. 76).6 Maior, Izabel Maria Medeiro de Loureiro, “Apresentação” em Ana Paula Crosara de Resende; Flávia Maria de Paiva Vital (Coord) A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência comenta-da. Brasília, Secretaria de Direitos Humanos, 2008, p. 22.

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a políticas públicas que lhes dissessem respeito, após séculos de invisibilidade, de sub-jugação e de dependência às escolhas alheias7.

Ao mesmo tempo, não se pode olvidar a agressividade com que o neoliberalis-mo tem, contemporaneamente, mitigado relevância às normas da mais alta hierarquia jurídica, atropelando, com isso, mesmo os direitos adquiridos, que têm sido considera-dos secundários diante de determinados interesses financeiros, o que destaca a relevân-cia, outrora considerada conservadora, de se pugnar pela segurança jurídica. De acordo com António Manuel Hespanha, a estabilidade do direito, em uma conjuntura de crise econômica feito a presente em que se sustenta a destruição mesmo daquilo que já se implementou, estimula o jurista a fortalecer progressivamente o instrumental de resis-tência às sequenciais investidas atentatórias às normas jurídicas8.

Em suma, o ponto nodal consiste em reconhecer que a formatação de adequado instrumental normativo, embora relevante, não corresponde ao fim do trajeto empre-endido por defensores de direitos humanos, e sim, a um novo impulso que acompanha o contínuo processo de reconstrução da realidade, a fim de se disputarem também a partir das ferramentas jurídicas tais condições vigentes, que têm negado, sistematica-mente, a plenitude da vida a referida parcela da população.

2. Sobre a compreensão crítica dos direitos humanos

Conforme introduzido, porque a Convenção de Nova York representa o único trata-do internacional aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro com força de emenda constitucional, e em razão do atual Estatuto da Pessoa com Deficiência, entende-se que se pode reforçar a equivocada percepção de que, do ponto de vista jurídico, pouco res-ta a ser feito. A positividade dos enunciados, quando lida assepticamente, oculta o seu avesso em vivências diárias. Daí a oportunidade de se propor uma abordagem comple-xa dos direitos humanos da população com deficiência.

Nesta esteira, preocupante é o fato de o Brasil ser um dos poucos 50 países que contam com elogiosa legislação específica de proteção deste grupo ao mesmo tempo em que figura como um dos que mais atestam a sua mais franca exclusão social9, o que

7 Acerca da história do movimento político das pessoas com deficiência, é possível acessar o seguinte catálogo ilustrado: Secretaria de Direitos Humanos, Para todos: o movimento político das pessoas com deficiência no Brasil. Disponível em: http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-com-deficiencia/pdfs/catalogo-para-todos. Consulta el 10 de julio de 2015.8 Hespanha, António Manuel, O direito e os juristas perante a revolução conservadora, Aula Magna proferida na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná aos 15 de abril de 20139 Resende, Ana Paula Crosara de; Vital, Flávia Maria de Paiva, “Introdução” em Ana Paula Crosara de Resende; Flávia Maria de Paiva Vital (Coord), A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência comentada, Brasília, Secretaria de Direitos Humanos, 2008, p. 18.

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se evidencia nos dados preliminares de que “14,5% da população brasileira possuem algum tipo de deficiência, 70% vivem abaixo da linha da pobreza, 33% são analfabetas ou têm até 3 anos de escolaridade e 90% estão fora do mercado de trabalho”10.

Logo, o evidente paradoxo entre o avanço dos enunciados jurídicos em face do retrocesso sentido pelas existências concretas acompanha a reflexão desenvolvida a partir da proteção e da efetivação da dignidade humana da pessoa com deficiência.

A propósito, a associação teórica da dignidade à condição humana não é recen-te11. É certo que das premissas filosóficas à mais satisfatória incorporação formal pelos diplomas normativos percorreu-se longo caminho. E, se considerada uma abordagem mais clássica, pode-se apresentar tal história como uma narrativa de conquistas que se encerraria com exaustivas garantias a grupos e indivíduos vulneráveis enunciadas em uma pluralidade de tratados internacionais e de constituições nacionais. Através destas lentes, contenta-se com a defesa abstrata de “um conjunto mínimo de direitos, inde-pendentes dos processos históricos e suas condições sociais de produção”12.

Contudo, esta não é a única maneira de se abordarem as vulnerabilidades. Assim, os direitos humanos podem se conceber a partir de uma articulação mais crítica, abran-gente e complexa. Com efeito, entende-se que a mera análise normativa pode conduzir a graves consequências de ocultamento de injustiças, quando “os vários elementos da realidade que, em que pese serem importantes ou decisivos, se qualificam como insig-nificantes, acessórios e secundários a tal ponto que podem ser ignorados, assim como pode ser a vida de alguns ou de muitos seres humanos”13.

10 Resende, Ana Paula Crosara De; �erreira, Antônio �osé do Nascimento, “Pessoa com defi - Resende, Ana Paula Crosara De; �erreira, Antônio �osé do Nascimento, “Pessoa com defi-ciência” em José Geraldo de Sousa Junior, Bistra Stefanova Apostolova, Lívia Gimenes Dias da Fonseca (Coord.), Introdução crítica ao direito das mulheres, Brasília, CEAD, FUB, 2011, p. 275.11 Confi ra-se: “A formulação kantiana expressa no imperativo categórico é traço relevante que Confira-se: “A formulação kantiana expressa no imperativo categórico é traço relevante que reflete a pretensão emancipatória da Modernidade, que tem em Immanuel Kant um dos seus maiores expoentes. Para além disso, mister é examinar a construção jurídica que se segue a Kant, seja a chamada ‘neokantiana’ (que tem em Kelsen um de seus expoentes) ou aquela que, de um modo ou de outro, se vincula a uma perspectiva racionalista, ainda que não fundada diretamente na matriz kantiana (como a da Escola Pandectista) (...) Em outras palavras: a dignidade huma-na de Kant poderia acabar por se reduzir – sobretudo na formulação dos neo-kantianos – à proclamação discursiva, que se encontra em lugar formal, abstrato. A dignidade humana, em Kant, paradoxalmente, pode receber leitura que a reduza a um desdobramento de uma ‘razão metafísica’” (Fachin, Luiz Edson; Pianovski Ruzyk, Carlos Eduardo, “A dignidade humana no direito contemporâneo: uma contribuição à crítica da raiz dogmática do neopositivismo consti-tucionalista” em Revista Trimestral de Direito Civil, vol. 35, jul/set de 2008).12 Sánchez Rubio, David, Sánchez Rubio, David, Encantos e desencantos dos direitos humanos: de emancipações, libertações e dominações, Trad. Ivone Fernandes Morchillo Lixa; Helena Henkin, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2014, p. 84.13 Ibídem, p. 77.

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Notório é o paradoxo de descompasso entre o sentido epistemológico e deonto-lógico dos direitos humanos. Neste sentido, a perspectiva crítica problematiza as condi-ções materiais de se efetivar a positividade dos enunciados, atrelando-as às possibilida-des de lutas coletivas que reivindiquem e que assegurem espaços condignos. Envolve-se, portanto, com a complexidade política e social, em oposição à pretensa pureza do direito, buscando resgatar, permanentemente, o tom concreto da tradicional abstração jurídica. Neste sentido expressa-se Joaquin Herrera Flores14:

Nuestra apuesta teórica se juega su sentido en el marco de las acciones sociales. De ahí su constante atención al estado de las luchas por la dignidad en nuestro mundo y el convencimiento de que para hablar de derechos humanos y actuar en función de los mismos se exige la asunción plena de compromisos y deberes con respecto a los otros, a nosotros mismos y a la naturaliza.

Destarte, descortina-se o caráter insurgente de uma determinada acepção dos direitos humanos, em rejeição à garantia da paz perpétua, da integração harmônica dos povos e da universalização da dignidade como meras consequências de um movimento discursivo. Desagua-se, por tal caminho, em uma conceitualização genérica do sofri-mento humano, o que desvaloriza sua dimensão mais visceral15, ao que não se pretende enveredar.

A ampla recepção da Convenção de Nova York no ordenamento jurídico pátrio, coroado com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, sugere o instigante descom-passo entre o trato normativo e este sofrimento humano experimentado coti-dianamentepelaspessoascomdeficiência. Com efeito, não é crível que, em nível abstrato, alguém resista à ideia de que, como sujeitos de direito, tenham garantidos os direitos à vida, à igualdade, ao pleno emprego, à educação, à saúde, dentre outros tantos constantes nos dispositivos positivados.

De todo modo, não se encontram suficientes respostas à concreta efetivação, mesmo quando revirado este rol de direitos. Conforme apropriada analogia, é como procedeu certo marinheiro escocês que, embora soubesse ter perdido sua carteira em uma taverna, insistiu em procurá-la nos arredores de um farol, pois se tratava do único espaço onde encontrava luz em muitos quilômetros de distância16.

14 Herrera Flores, Joaquín, La reinvención de los derechos humanos, Sevilha, Atrapasueños, 2008, p. 86.15 Santos, Boaventura de Sousa, Santos, Boaventura de Sousa, Se Deus fosse um ativista dos direitos humanos, São Paulo, Cortez, 2013, p. 119.16 Herrera Flores, Joaquín, “Hácia una visión compleja de los derechos humanos” in El vuelo de Anteo: derechos humanos y crítica de la razón liberal. Bilbao, Desclée de Brouwer, 2000, p. 21.

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Para ativar, assim, um pensamento de combate17, comprometido com outra sor-te de respostas, tal como sugere a perspectiva crítica, atrelar a questão às impotências do sistema dominante parece imprescindível. Em outras palavras, é preciso questionar a quem ofende a efetiva concretização de tais direitos. Para tanto, apresentam-se aspec-tos do espaço, do tempo e da pluralidade social em que se insere a Convenção de Nova York e o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

O espaço corresponde, em princípio, ao nacional. Não se pretende recair, con-tudo, no equívoco de se indicarem como contradições locais aspectos que evidenciam complexos problemas globais18. Nesta extensão de fronteiras porosas é que também, quanto ao tempo presente, concorda-se com o juízo que observa a generalização, pelo discurso institucional de vários países, de um contexto de crise que tem indicado como única saída o franco descompromisso político com as garantias firmadas normativa-mente pelos diversos Estados Democráticos de Direito19.

A lição se aplica quando considerada a positividade dos enunciados jurídicos dedicados às pessoas com deficiência em face da negatividade dos investimentos em políticas públicas adequadas à conquista destes espaços de condignidade, ainda tendentes ao retrocesso, se observada a cres-cente prevalência de economias neoliberais que salvaguardam, antes, interesses pouco afeitos aos direitos humanos.

Assim, reverte-se em liberalidade política o cumprimento de um determinado direito, o que requer o reativo envolvimento em lutas sociais:

El tema no es baladí, ya que considerar a “algo” como un derecho requiere políticas públicas por parte del Estado que garanticen su puesta en marcha; pero, al ir planteándolo como una “libertad”, la responsabilidad de si se tiene o no garantizado el “derecho” le corresponde al individuo y no a las instituciones públicas. De ahí, asimismo, la impotencia y el desencanto que las reformas jurídicas producen en la ciudadanía. Y, por ultimo, la enorme responsabilidad del jurista crítico, sobre todo, a la hora de exponer a todos lo que el derecho puede y no puede hacer dadas sus es-trechas vinculaciones con los contextos materiales hegemónicos. Hay que conocer los límites de un instrumento para saber, sobre todo en momentos de crisis, como

17 Consideramos o seguinte excerto: “Mas o pensamento crítico vai além disso. É um pensa- Consideramos o seguinte excerto: “Mas o pensamento crítico vai além disso. É um pensa-mento de combate. Deve, pois, desempenhar um forte papel de conscientização que ajude a lu-tar contra o adversário” (Flores, Joaquin Herrera, Teoria crítica dos direitos humanos, Florianópolis, Fundação Boiteux, 2009, p. 63).18 Bauman, Zygmunt, Bauman, Zygmunt, Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos, Trad. Carlos Alberto Medeiros, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004, p. 73.19 Avelã Nunes critica, em recente obra, o crescente argumento neoliberal de que constitui a Avelã Nunes critica, em recente obra, o crescente argumento neoliberal de que constitui a destruição de referidas garantias a única saída possível à atual crise econômica (Nunes, António José Avelã, O Estado capitalista e suas máscaras, Lumen Juris, 2013).

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usarlo convenientemente y como complementarlo con otras formas de lucha para el acceso al bien20.

Em uma sociedade plural como a presente, as lutas sociais e coletivas resistem, com a convicção de que o argumento oficial “terá que incluir em si a oposição, a con-tra-argumentação, a alternativa, essas realidades a que o pensamento abstrato e tecno-crático é tão avesso”21.

Neste ponto, aguda é a contribuição de uma compreensão crítica dos direitos humanos, ao instrumentalizar tais processos de acesso real a bens materiais e imateriais capazes de possibilitar existências condignas e ao rejeitar, terminantemente, a abstração e o formalismo como respostas aos problemas.

Conforme se passa a problematizar, para a satisfatória superação destes desafios, é indispensável demarcá-los.

3.Asimpotênciasdoespaçoedotempocomoconstitutivasdadeficiência

Dados disponíveis no Relatório Mundial de Pessoas com Deficiência atestam, por exemplo, que no Brasil, 60% de 41 cidades analisadas apresentam barreiras arquitetô-nicas que impedem a circulação de pessoas com dificuldades funcionais. Igualmente, no país, o considerável índice de abandono escolar por falta de óculos a crianças com diversos graus de deficiência visual demonstra como a inadequação à recepção plena da diversidade é um limite ambiental22.

Através da ilustração, introduz-se a concepção, quanto às pessoas com deficiên-cia, de que é o contexto circundante, formado por elementos sociais, culturais, educacionais, urbanísticos, que constroem os verdadeiros obstáculos ao pleno acesso a bens materiais e imateriais desta parcela da população.

Estes fatores, portanto, é que, em realidade, agregam a incapacidade, de forma a potencializar os efeitos negativos de determinada condição física, psíquica ou inte-lectual, que constitui desigualdade intitulada por John Rawls de “loteria natural”23, em razão de provirem do acaso genético, mas também de algum incidente em vida – que

20 Herrera Flores, Joaquín, “Abordas las migraciones: bases teóricas para políticas públicas Herrera Flores, Joaquín, “Abordas las migraciones: bases teóricas para políticas públicas creativas” em Tiempos de América, núm. 13, 2006, p. 82-83.21 Hespanha, António Manuel; Beleza, Teresa Pizarro, “Sair da crise sem sair da cultura consti- Hespanha, António Manuel; Beleza, Teresa Pizarro, “Sair da crise sem sair da cultura consti-tucional” In: Le Monde Diplomatique Portugal, nov. 2012, p. 7. 22 World Health Organization, World Health Organization, World report on disability 2011. Disponível em: http://www.pesso-Disponível em: http://www.pesso-acomdeficiencia.sp.gov.br/usr/share/documents/RELATORIO_MUNDIAL_COMPLETO.pdf. Consulta: 2 de junio de 2015.23 Rawls, John, Rawls, John, Uma teoria da justiça, São Paulo, Martins Fontes, 2002.

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é modalidade crescente diante dos corriqueiros episódios de violência no trânsito, no trabalho e, de modo mais abrangente, nas cidades.

Com isso, Romeu Kazumi Sassaki considera imperioso o abandono do para-digma da integração social, segundo o qual cabe a esta expressiva parcela população adequar-se à realidade circundante, em prevalência do emergente paradigma da inclu-são social, segundo o qual à realidade é que cabe a adaptação à singularidade de cada um dos indivíduos24.

A transformação não é sutil. Significa que o grau de realização das pessoas com deficiência não deve depender da capacidade que cada uma tem de se envolver afetiva-mente, de trabalhar, de circular sem dificuldades, de acessar a informação ou de rece-ber educação de qualidade. Não se trata, pois, de avaliar em qual medida determinada condição física, psíquica ou intelectual permite a alguém se adequar a um padrão consi-derado normal. Trata-se de avaliar em qual medida aqueles com quem se envolvem afe-tivamente, os dispositivos que acessam, os espaços onde trabalham25, os espaços onde circulam ou os espaços onde estudam26, possibilitam, concretamente, a existência digna de quem não se enquadra no padrão dominante.

A concepção parece suficientemente incorporada, do ponto de vista normativo, pelo art. 2° da Lei 13.146 de 2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que se base-ando na Convenção de Nova York, proclama que a obstrução da participação plena e efetiva na sociedade dos indivíduos com deficiência provém do grau de interação des-tes com uma ou mais barreiras, classificadas expansivamente pelas alíneas do inciso IV do artigo seguinte.

Portanto, é preciso radiografar as impotências das estruturas sociais e institucio-nais, explicitando as raízes da dificuldade de se recepcionar a diversidade representada pelo que se denomina deficiência. Conforme David Sanchez Rubio, o foco em direitos

24 Sassaki, Romeu Kazumi, “Pessoas com defi ciência e o desafi o da inclusão” Sassaki, Romeu Kazumi, “Pessoas com deficiência e o desafio da inclusão” In: Revista Nacio-nal de Reabilitação Reação, São Paulo, julio-agosto de 2004. 25 Destaca-se o entendimento de Leonardo Wandelli, que sustenta que um olhar crítico sobre Destaca-se o entendimento de Leonardo Wandelli, que sustenta que um olhar crítico sobre o direito fundamental ao trabalho não pode perder de vista que a fundamentalidade não está em simplesmente trabalhar, mas de se realizar dignamente como pessoa através do trabalho que não denigre. Cumpre, portanto, investigar o contexto de trabalho em que se insere o sujeito. En este sentido: Wandelli, Leonardo, Leonardo Vieira, O direito humano e fundamental ao trabalho: fundamentação e exigibilidade, São Paulo, LTr, 2012.26 Para Luiz Alberto David Araújo, “a questão da escola inclusiva é pedra de toque do pro- Para Luiz Alberto David Araújo, “a questão da escola inclusiva é pedra de toque do pro-cesso de inclusão” (Araújo, Luiz Alberto David, A proteção das pessoas com deficiência na constituição federal de 1988: a necessária implementação dos princípios constitucionais. Disponível em: http://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/outras-publicacoes/volume-v-constituicao-de-1988-o-brasil-20-anos-depois.-os-cidadaos-na-carta-cidada/idoso-pessoa-com-deficiencia-crianca-e-adolescente-a-protecao-das-pessoas-com-deficiencia-na-cf-de-88-a-necessaria-implementacao-dos-principios-constitucionais. Consulta: 12 de agosto de 2015)

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humanos devem ser as lógicas tendentes a consolidar exclusões que impedem certos atores de se constituírem como sujeitos27.

Para além da atuação estatal, identificada, por exemplo, na necessária transfor-mação urbanística, partilha-se a responsabilidade à sociedade civil e, prioritariamente, à família pela concretização dos direitos das pessoas com deficiência. Assim, é igualmen-te interessante o destaque, no art. 5° do mesmo Estatuto, da especial vulnerabilidade da criança, do adolescente, da mulher e do idoso no que toca à negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, opressão e tratamento desumano ou degradante.

Porém, nem todas as facetas da construção da deficiência por fatores externos se desvelam da previsão normativa, o que exige especial fôlego de explicitação da recep-ção da pluralidade social, barrada por uma série de aspectos, e da conjuntura política global neoliberal, que se mostra avessa às políticas públicas necessárias à concretização dos direitos humanos das pessoas com deficiência.

4. O desvelamento da pluralidade social e da conjuntura política

A intersecção sugere um grau de transformação do discurso asséptico que acompanha, não raras vezes, os direitos humanos, pois que a universalização de quaisquer enuncia-dos protetivos culmina em ignorar os sentidos diversos das vivências, que se marcam por peculiares construções políticas, econômicas, sociais e culturais. Aproximar a aná-lise de cada grau de exclusão é importante, portanto, para desmitificar a abstração que torna impotente qualquer iniciativa que, efetivamente, compromete-se a competir por um espaço concreto de vida afirmada aos marginalizados. Neste sentido, a deficiência física, psíquica e intelectual é claramente sentida de uma maneira mais impactante por uma determinada parcela da população.

Para introduzir esta abordagem mais complexa, inicia-se a análise pelos critérios sexuais e de gênero, que determinam fatores de risco acrescidos à parcela da população mais vulnerável à negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, opressão e tratamento desumano ou degradante.

Não obstante, chama atenção o alerta, no parágrafo único do artigo 5º do Es-tatuto da Pessoa com Deficiência, de que o reconhecimento destas personagens como merecedoras de maior atenção no contexto social vale apenas àquele caput. Ilustrativa-mente, o direito ao trabalho, o direito à sexualidade e o direito ao planejamento familiar não apresentam o mesmo recorte. Note-se, porém, que o olhar mais superficial sobre as mulheres, para se citar uma das camadas subjugadas, no que diz respeito a tais âm-bitos, já conduz à percepção de franca desvantagem em relação aos homens. São co-27 Sánchez Rubio, David, Repensar derechos humanos: de la anestesia a la sinestesia, Sevilla, MAD, 2007, p. 27.

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nhecidos, pois, suficientes indicativos de diferença salarial, padrão moral duplo quanto às experiências sexuais destes indivíduos e sobrecarga do universo feminino pelos mé-todos contraceptivos e pelo exercício da maternidade na realidade nacional e interna-cional.

À guisa exemplificativa, se no contexto global uma em cada dez mulheres é ví-tima de estupro pelo menos uma vez na vida, indica-se que o risco se triplica no caso de serem deficientes28. Tome-se como revelador um caso recente de libertação de treze mulheres peruanas que foram sequestradas de um hospital psiquiátrico pelo Sendero Luminoso e mantidas em cativeiro, escravizadas e estupradas, por mais de duas déca-das, assim como as vinte e seis crianças nascidas de tais violências sexuais29.

No que toca ao pleno emprego, em 2011, apenas 0,7% dos vínculos desta na-turezaestabelecidosnoBrasilsereferiamàpopulaçãocomdeficiência,sendoque,desteínfimonúmero,65,74%dototalrepresentamvagaspreenchidasporhomens, e 34,26%, por mulheres30. Além disso, “enquanto, na população bra-sileira em geral, mulheres ganham 17,2% a menos que homens, entre pessoas comdeficiênciaadiferençachegaa28,5%”31. E não são as mulheres minoritárias nem na população total brasileira – em que há 100 mulheres para 96 homens – tampou-co na população com deficiência – em que há 100 mulheres para 76,7 homens32.

Atribui-se a diferença entre homens e mulheres à longevidade maior deste úl-timo grupo, visto que algumas sortes de deficiência vêm com o avanço da idade. Por consequência, aporta-se no aspecto etário como importante diretriz da atuação social e estatal. Existe forte relação entre os efeitos da terceira idade e a manifestação gradual de condições mal processadas pelos fatores ambientais. Expressa-se, por exemplo, na natural perda da capacidade visual e psíquica desta população, o que acresce desafios à melhor democratização dos espaços públicos e privados.

28 Cintra, �lávia, “Artigo 6 – Mulheres com defi ciência”, em Cintra, �lávia, “Artigo 6 – Mulheres com deficiência”, em Ana Paula Crosara de Resende; Flávia Maria de Paiva Vital (Coord) A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência comenta-da, Brasília, Secretaria de Direitos Humanos, 2008, p. 39.29 Agência De Notícias, Agência De Notícias, Peru liberta 13 mulheres e 26 crianças sequestradas pelo Sendero Luminoso. Dispo-nível em: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/07/1661314-peru-liberta-13-mulheres-e-26-criancas-sequestradas-pelo-sendero-luminoso.shtml. Consulta: 29 de julio de 2015. 30 Ministério do trabalho e emprego, Relatório anual de informação social 2011. Disponível em: http:// Ministério do trabalho e emprego, Relatório anual de informação social 2011. Disponível em: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/indicadores/rais-2011. Consulta: 10 de julio de 2015.31 Secretaria de direitos humanos, Secretaria de direitos humanos, 1° Relatório nacional da República Federativa do Brasil sobre o cum-primento das disposições da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência 2008-2010. Disponível em: http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-com-deficiencia/dados-estatisticos-arquivo/relatorio-de-monitoramento-da-convencao-pdf-port. Consulta: 10 de julio 2015. 32 Secretaria de Direitos Humanos; Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa Com Secretaria de Direitos Humanos; Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa Com Deficiência, Cartilha do Censo 2010: Pessoas com Deficiência, Brasília, SDH-PR/SNPD, 2012, p. 9.

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Igualmente, insatisfatória é a neutralidade do ponto de vista racial, com o qual a tradição moderna de generalização jurídica custa a se envolver com seriedade. É re-presentativo o dado de que um terço das mulheres negras brasileiras apresenta algumgraudedeficiência33.

A par da deficiência, considere-se que 80% das mulheres pobres no país são ne-gras34, e a pobreza deve ser indicada como um dos principais obstáculos à concretiza-ção da dignidade humana das pessoas com deficiência:

Cobertura insuficiente, problemas de acesso e estratificação da qualidade dos servi-ços provisionados ou de competência do Estado tendem a ter, como visto, implica-ções relevantes sobre o quadro de manifestação das deficiências, no sentido de pena-lizar as famílias de menor capacidade aquisitiva, que não podem prescindir do poder público, por opção de buscar atendimento junto ao mercado35.

Assim, progressivamente, aproxima-se das verdadeiras interfaces dos alvos de violações diárias dos direitos humanos, pois que se visa problematizar que a capacidade de recepção da pluralidade não é tão simples quanto sugere uma abordagem abstrata. A fissura mais grave tem, portanto, faixa etária, (im)possibilidade econômica, cor de pele, sexo e gênero. Complementarmente, critérios sexuais, etários e raciais influenciam so-bremaneira no grau de opressão real que hierarquiza os espaços privados e públicos.

A reflexão recebe renovado tom quando associada às questões de dependência e de independência, do controle de si próprio e da alteridade proveniente das relações intersubjetivas, medidas que constituem o leitmotiv do processo de lutas sociais deste grupo. Paralelamente, encontram o conceito contemporâneo de agência humana, “en-tendido como a capacidade que o ser humano deve ter de crescer em autoestima, auto-nomia e responsabilidade”36. Todavia, a dependência e a independência relacionam-se profundamente à concreta capacidade de acesso a bens materiais e imateriais que al-guém detém, e, contra as causas destas impotências, presta-se o olhar interseccionado.

A constelação de diplomas que se enunciam como escudo das minorias deve acompanhar a tratativa abrangente das pessoas com deficiência que, por ventura, re-únam uma série de agravantes à plena inclusão social. Um dos obstáculos formais é a

33 Instituto Brasileiro de �eografi a e Estatística, Censo 2010. Disponível em: http://www. Instituto Brasileiro de �eografia e Estatística, Censo 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_religiao_deficiencia/de-fault_caracteristicas_religiao_deficiencia.shtm. Consulta: 18 de julio de 2015.34 Secretaria de Políticas para Mulheres, Secretaria de Políticas para Mulheres, Relatório anual socioeconômico da mulher, Brasília, SPM, 2015.35 Souza, José Moreira de; Carneiro, Ricardo, Souza, José Moreira de; Carneiro, Ricardo, Universalismo e focalização na política de atenção à pessoa com deficiência. Saúde e sociedade, núm.3, São Paulo, 2007, p. 77.36 Sánchez Rubio, David. Sánchez Rubio, David. Encantos e desencantos dos direitos humanos: de emancipações, libertações e dominações, op. cit., p. 84.

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hierarquização dos tratados de direitos humanos como equiparados a emendas cons-titucionais apenas quando atingida a aprovação de três quintos de cada Casa do Con-gresso Nacional Brasileiro, em dois turnos, sendo que, atualmente, posiciona-se como refratário a tais causas. Neste sentido, é necessária a leitura sistemática das normativas em direitos humanos, de modo a potencializar a proteção a grupos mais afligidos pelas estruturas hegemônicas, que agregam, em uma só identidade, uma complexidade de condições de exclusão.

Resta claro, porém, ao lado desta constatação, que são os relevantes limites con-textuais os merecedores de reflexão mais apurada.

Assim, centrada a ideia de direitos humanos como processo de lutas sociais, a fixação de significantes não é capaz de ressignificar o todo. É necessária a reconstrução progressiva de significados a partir do grupo afetado pelo sofrimento que se combate, e a possibilidade de se aventarem políticas públicas direcionadas aos pontos cegos da emancipação humana, o que exige a interseccionalidade, bem como de se exigir, nas práticas sociais, a responsabilidade de cada qual pela promoção desta condição à po-pulação deficiente.

Todavia, não basta imputar, abstratamente, a missão ao Estado, à sociedade e à família. O excesso de expectativas que se tem depositado nesta tríade sem maiores questionamentos sobre o modus operandi que as acompanha impossibilita o juízo de re-alidade que se faz necessário.

Destarte, é preciso que se identifique, propriamente, a falibilidade da agenda neoliberal que tem se tornado crescentemente hegemônica no Ocidente e é, por defi-nição, contrária à promoção estatal de políticas públicas, inclusive as que satisfaçam a inclusão social das pessoas com deficiência. Isso porque integra, essencialmente, a ra-zão neoliberal defender a plena liberdade de ação das instituições financeiras, a livre cir-culação do capital à escala global, a privatização do público, o favorecimento dos ricos em detrimento dos pobres, a precarização trabalhista, o sufocamento dos sindicatos e o franco ataque às providências estatais37.

Além disso, é preciso que se admita, propriamente, a fraqueza de estruturas sociais ainda profundamente presas a um inconsciente de dominação pautado no que é considerado normal –do ponto de vista físico, mental, psíquico, etário, sexual, de gênero e racial– em aversão àquilo que é considerado desviante. E, por fim, que se reconheçam as limitações das famílias brasileiras, ainda ma-joritariamente comprometidas pela pobreza que impossibilita o atendimento adequado das pessoas com deficiência em seu mais íntimo núcleo, bem como as limitações pro-venientes de todo o contexto discriminatório do qual não se separam, mas de que se nutrem e cujas premissas reproduzem em âmbito doméstico.

37 Nunes, António José Avelã, Nunes, António José Avelã, O Estado capitalista e suas máscaras, op. cit., p. 146.

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Com tais nortes em mente, é possível arquitetar um novo horizonte que deixe de atestar o sofrimento visceral das pessoas com deficiência para, enfim, recepcionar a pluralidade humana em um contexto de afirmação da vida concreta, encarregando os sujeitos excluídos da lógica dominante “de construir uma nova simetria”, que constitua “uma nova comunidade de comunicação consensual crítica, histórica, real”38.

5. Aquém e além da Convenção de Nova York e doEstatutodaPessoacomDeficiência

Conforme salientado, a perspectiva normativa dos direitos humanos não pode esvaziar a busca por práticas sociais que efetivamente os subscrevam. Assim, cogita-se de um conteúdo que se depreenda do real acesso a bens materiais e imateriais por parte de de-terminados grupos que têm sido sistematicamente privados deles, e não a mera enun-ciação de que detêm estes e aqueles direitos39.

Não se trata tal constatação de um presságio negativo em relação às positivações que aportam ao sistema jurídico. Pelo contrário, a abordagem contextual visa à cons-trução conjunta e paulatina de significados a este valioso plexo de normas protetivas das pessoas com deficiência.

Em cotejo à lição de Luiz Edson Fachin, sobre as dimensões dos arcabouços constitucionais em que se confortam os Estados Democráticos de Direito contempo-râneos, não estão limitadas as compreensões jurídicas à mera literalidade das leis nem ao mero reconhecimento abstrato dos efeitos da principiologia ou da fundamentalida-de, explícitas ou implícitas, de determinados direitos que muitas vezes só reagem após uma e outra violação pontuais.

A instância prospectiva, de acordo com o autor, ao insistir na projeção de futu-ros melhores, conta com o trabalho da hermenêutica atenta à insuficiente realização de tais preceitos até o presente momento, em busca de se “entender o que passa à volta, na realidade, e não apenas nas fontes escritas pelo conhecimento formal”40.

Com efeito, não se trata de uma rejeição puramente desconstrutiva. Não se tra-ta, portanto, de fazer coro a uma crítica aos direitos humanos. Trata-se de reforçar uma crítica dos direitos humanos. Vale dizer, reforçar a compreensão que, de um lado, reco-nhece o alcance das transformações normativas, e, de outro, não as considera motos-

38 Dussel, Enrique, Dussel, Enrique, Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão, Trad. Ephraim Ferreira Alves; Jaime Clasen; Lúcia Orth, Petrópolis, Vozes, 2012, p. 217.39 Herrera Flores, Joaquín, La reinvención de los derechos humanos, op.cit., pp. 22-24.40 Fachin, Luiz Edson. Fachin, Luiz Edson. Direito civil: sentidos, transformações e fins, Rio de Janeiro, Renovar, 2015, pp. 87.

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perpétuos41 fadadas a ativá-lo e a conduzir, naturalmente, à conquista de espaços con-dignos às pessoas com deficiência.

Em sentido diverso, parece preferível compreender o esforço atual como ver-dadeira demarcação de fronteiras, que, pouco a pouco, permitem a evidência de avan-ços e de retrocessos. Da invisibilidade absoluta, aporta-se, enfim, ao reconhecimento jurídico-formal. Todavia, acompanha tal movimento a exclusão ainda acentuada das pessoas com deficiência.

Assim se oxigena o pensamento crítico: não recai em otimismo que apenas ace-na, em celebração, cego, às novidades positivadas, nem em pessimismo que as recebe com a mais desiludida das indiferenças. Como se adiantou na introdução, configura-se, essencialmente, esta abordagem, como um juízo de realidade, projetando futuros me-lhores a partir da superação radical das condições limitantes do presente.

6.Consideraçõesfinais

As reflexões desenvolvidas nesta oportunidade visaram a contribuir com a lapidação de uma determinada concepção de direitos humanos das pessoas com deficiência. En-tende-se, nesta esteira, que a crescente positivação destinada a esta população contrasta com o que se convencionou denominar como impotências espaciais e temporais inaptas a recepcionar a pluralidade humana.

O argumento não consiste em sustentar a irrelevância dos enunciados positiva-dos em tratado internacional e em recente estatuto destinados às pessoas com deficiên-cia. Pelo contrário: entende-se que o terreno é especialmente profícuo para o comprometimento con-junto em prol da concretização de tais previsões. Neste sentido, conduziu a discussão a necessi-dade de se impulsionar o efetivo acesso a bens materiais e imateriais à população com deficiência.

Assim, elucidativa é a hierarquização das relações sociais contemporâneas, a ne-gar a condição de agência humana às pessoas com deficiência, o que demanda com-prometimento social, familiar e estatal. Critérios sexuais, de gênero, etários, raciais e socioeconômicos foram indicados como desafios que se agregam à compreensão da deficiência como impeditiva de oportunidades reais de proveito dos espaços públicos e privados a relevante parcela da população.

Ademais, apontou-se como dificultosa a configuração generalizada, na conjun-tura global, de tendências neoliberais que esvaziam o campo das políticas públicas, entendidas como imprescindíveis para o alcance daquele objetivo de superá-los. Se o pensamento crítico sobre os direitos humanos visa, em seu esforço teorizado, “(a) de-

41 Sistemas capazes de continuar um movimento iniciado autonomamente, ou seja, pela própria Sistemas capazes de continuar um movimento iniciado autonomamente, ou seja, pela própria energia, sem impulsos externos.

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sempenhar um forte papel de conscientização que ajude a lutar contra o adversário”42, buscou-se, neste ínterim, não recair em maniqueísmo simplista ao se elencarem, com o suporte de reveladores dados da realidade, os possíveis elementos que o representa-riam.

Na urgência pela inclusão plena das pessoas com deficiência à sociedade, a expectativa é que os processos de luta que caracterizam a essência dos direitos humanos encontrem, nos ecos de potência jurí-dica, suficiente instrumental para subsistir, para resistir e para conquistar espaços de condignidade.

Em termos mais precisos do que os que se empregaram, “para que el futuro no sea un mero sueño, que evada la verdad y la carga del presente, tiene que enlazarse con éste radicalmente, por medio de una negación superadora”43. É a partir deste movimento de negação criativa que se deve, enfim, apostar para aportarmos na tão sonhada afirmação deste sem número de vivências humanas contemporaneamente negadas.

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