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Alexandre Spiguel F de Santa Anna Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos em empresas públicas e organizações governamentais: A percepção dos gestores de projetos Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós- Graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio. Orientador: Profa. Sandra Regina da Rocha Pinto Rio de Janeiro Setembro de 2012

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Page 1: Alexandre Spiguel F de Santa Anna Aprendizagem no … Lennon . Resumo Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha. Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos

Alexandre Spiguel F de Santa Anna

Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos em empresas

públicas e organizações governamentais: A percepção dos

gestores de projetos

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio.

Orientador: Profa. Sandra Regina da Rocha Pinto

Rio de Janeiro

Setembro de 2012

Page 2: Alexandre Spiguel F de Santa Anna Aprendizagem no … Lennon . Resumo Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha. Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos

Alexandre Spiguel F de Santa Anna

Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos em empresas

públicas e organizações governamentais: A percepção dos

gestores de projetos

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Profa. Sandra Regina da Rocha Pinto Orientadora

Departamento de Administração – PUC-Rio

Prof. Marcos Lopez Rego Instituto de Pesquisas da Marinha

Profa. Mônica Zaidan Gomes FACC/UFRJ

Profª. Mônica Herz Vice-Decana de Pós-Graduação do CCS

Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2012

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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou

parcial do trabalho sem a autorização da universidade, do autor e

do orientador.

Alexandre Spiguel Fernandes de Sant’Anna

Graduou-se em Administração de Empresas pela PUC-Rio em

2001. Analista Administrativo – Especialidade: Administração - da

Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS, tomando posse em

Agosto de 2005, tendo sido aprovado no concurso público em 1º

lugar em nível nacional, onde atua como gestor diversos projetos

na área de Tecnologia da Informação.

Ficha Catalográfica

CDD: 658

Santa Anna, Alexandre Spiguel F. de

Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos em

empresas públicas e organizações governamentais : a

percepção dos gestores de projetos / Alexandre Spiguel F.

de Santa Anna ; orientadora: Sandra Regina da Rocha

Pinto. – 2012.

113 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (mestrado)–Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro, Departamento de

Administração, 2012.

Inclui bibliografia

1. Administração – Teses. 2. Gerenciamento de

projetos. 3. Aprendizagem. 4. Organizações

governamentais. 5. Gestão do conhecimento. I. Pinto,

Sandra Regina da Rocha. II. Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro. Departamento de

Administração. III. Título.

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À minha querida e amada mãe, Rachel Spiguel (In memorian) que foi cedo

demais, sem ter podido ver os frutos dos seus frutos;

À minha amada esposa Andyara; e,

Ao nosso filho, Rudá,

que acabou de chegar e a quem ainda não pude me dedicar.

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Agradecimentos Certa noite, assistindo às aulas do Curso de Mestrado, mais propriamente de

uma disciplina que abordava o tema Gestão da Mudança, uma colega, durante

seu painel explanatório, chamava nossa atenção para alguns eventos, digamos,

naturais, ou seja, que ocorrem com a maioria de nós, pessoas normais, e que

muitas vezes seriam o estopim de profundas mudanças em nossas vidas.

Minha colega seguiu relacionando-os, como a realização de um curso stricto

sensu – como este que concluo com esta dissertação - uma mudança

significativa no trabalho, a perda de um ente querido, o casamento, a mudança

para uma nova casa...e as obras, a vinda do primogênito: eventos marcantes de

nossa evolução; marcas da vida ao longo do tempo. Agora, e se eles

ocorressem praticamente ao mesmo tempo, no mesmo ano, como lidar com

profundas e drásticas mudanças como essas, e ainda mais, acontecendo "tudo

ao mesmo tempo agora? Foi assim que vida quis que fosse comigo! Com

tantos desafios se sobrepondo, só consegui dar conta dos percalços que, por

vezes, tentaram se sobrepor – sem êxito – à busca pelo saber, devido a estes

que relaciono agora.

Agradeço, imensamente, à minha orientadora Sandra Regina da Rocha Pinto,

cujas ideias me ajudaram a achar um caminho possível a trilhar nesta pesquisa,

e cuja serenidade foi-lhe testada ao máximo.

À Agência Nacional de Saúde Suplementar, que patrocinou este Curso de

Mestrado, e aos muitos que me apoiaram ao longo desta odisseia: Dr. Hésio

Cordeiro e seus assessores, que me estimularam nesta direção. À equipe da

Coordenação de Pessoas e Trabalho – CODPT - responsáveis pela aprovação

desta capacitação. Ao Superintendente de Gestão, à época, Dr. José Jardineiro,

que colaborou para tal contratação. A minha antiga gerente, Carla Godoy, pelo

apoio durante o início das atividades do curso, e as minhas atuais Gerentes,

Márcia Marinho e Sheila Monteiro, que compreenderam a envergadura deste

desafio, dadas as condições no qual ocorria, e me permitiram ter a dedicação

necessária para vencê-lo. E aos meus colegas e amigos de serviço, pela

amizade, apoio e consideração que tanto necessitei.

Aos colegas gestores de projetos, sem os quais não seria possível a realização

desta pesquisa.

Aos Mestres em Administração de Empresas pelo IAG/PUC - Rio, Rafael

Sabbagh Armony e Philipe Deschamps Gonçalves Dias, cujos trabalhos

ajudaram a estruturar minha dissertação.

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Aos colegas da minha turma de mestrado - Turma de 2010 – com quem tive a

felicidade de compartilhar ricos e inesquecíveis momentos de aprendizado.

Ao longo deste Curso de Mestrado, tive a oportunidade de conhecer não

apenas à minha turma de origem – Turma 2010, mas também as turmas

subsequentes de 2011 e 2012, a quem agradeço o carinhoso acolhimento.

À todos os professores do IAG, pela excelência na condução de seus cursos;

em especial à Profª Ana Heloísa, pela oportunidade de aprender como seu

Estagiário em Docência, e para o Profº Marcos Rego, que desde os tempos de

graduação até a conclusão do curso de mestrado – sem contar no convício

“extraclasse” durantes os eventos sobre Gerenciamento de Projetos – esteve

sempre disposto a me receber e orientar no aprendizado da Ciência da

Administração.

À Teresa Campos e ao Fábio Etienne, profissionais dedicados, que com sua

orientação paciente tornam-se guias para nós alunos; e, a toda equipe do IAG,

sempre disponível para nos ajudar.

À minha equipe médica: Dra. Liz Muylaert, Dra. Rosane Sanna, Dr. Felipe

Dias e Dr. Christiano Figueiredo, que me acompanharam e me ajudaram nas

curas necessárias durante este árduo período.

Àqueles da família que não escolhi: meus irmãos de alma.

À minha família: às minhas tias, por seu carinho, ternura e compreensão; aos

meus primos, pelo exemplo que são; às minhas cunhadas, que me ajudaram

com meu filho e com meu trabalho final; à minha sogra, de quem tenho a sorte

de ser genro; e ao meu irmão e sua esposa, pelo amor, amizade e respeito que

me demonstram ter.

E, finalmente: Ao Criador, cuja faísca divida me faz existir. À minha amada e

querida mãe, Rachel Spiguel, responsável maior por eu estar onde estou,

minha mentora maior, exemplo de retidão, disciplina e justiça, de quem herdei

a aptidão pela administração e cujos passos procuro seguir, e que devido aos

desígnios do destino não pode revisar este trabalho - como sempre fazia e o

fez em alguns no início do curso; ao meu pai, Paulo Cesar, um guerreiro a nos

proteger e nos amparar; ao meu pequeno Rudá, minha maior fonte de vontade

e que precisou esperar um tantinho para ter seu pai por inteiro; e, é claro, à

minha amada e companheira esposa, Andyara, cujo apoio e dedicação

incondicional me foram vital, e sem o qual não teria conseguido concluir este

trabalho.

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A vida é o que lhe acontece,

enquanto você está ocupado fazendo outros planos.

Jonh Lennon

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Resumo

Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha.

Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos em empresas públicas e

organizações governamentais: A percepção dos Gestores. Rio de

Janeiro, 2012, 113p. Dissertação de Mestrado – Departamento de

Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

A utilização de boas práticas de gerenciamento de projetos vem

aumentando nas esferas das empresas públicas e organizações

governamentais apresentando como proposta principal o

desenvolvimento e entrega de produtos, serviços ou soluções, dentro

do prazo, custo e escopo planejados, através da aplicação de um

conjunto de boas práticas - o Project Management Body of Knowledge

Guide – PMBOK (PMI, 2008). Este trabalho teve como objetivo a

identificação dos principais fatores que podem favorecer ou

comprometer a aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos. Realizou-

se, para isso, um estudo fenomenográfico, utilizando-se de entrevistas

semiestruturadas, com profissionais praticantes desta boas práticas

em empresas públicas e governamentais. Como resultado foram

identificado os seguintes fatores que favorecem o aprendizado, a partir

da interpretação da opinião dos entrevistados pelo pesquisador:

Comunicação, Liderança, Planejamento, Integração,

Multidisciplinaridade, e Informações. Em seguida, estes fatores foram

relacionados com as fases do projeto onde podem exercem maior

impacto, a fim de orientar os gestores de projetos destas organizações

em quais fatores e em quais fases do projeto devem estar atentos à

sua manifestação, visando favorecer a aprendizagem no ciclo-de-vida

dos projetos em empresas públicas e organizações governamentais.

Palavras-Chave:

Gerenciamento de projetos; aprendizagem; organizações

governamentais; gestão do conhecimento.

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Abstract

Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha

(Advisor). Learning in the cycle-of-life in public companies and

government organizations: Perciptions of Managers. Rio de Janeiro,

2012, 113p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Administração,

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Public firms and governmental organizations have increasingly

used the Project Management Body of Knowledge Guide – PMBOK

(PMI, 2008) aiming the development and timely delivery of products,

services, and solutions with planned time, costs and scope. Given the

complexity and dynamic of the market, it has been necessary not only

to seek efficacy, but also organizational efficiency, increasing the

benefits generated by the utilization of project management best

practices. The purpose of this study was to identify the main factors

that were related to either fostering or hindering the learning process

during project development. It was a phenomenographic study, where

semi-structured interviews were applied to PMBOK (PMI, 2008)

experts in public firms and governmental organizations. The results

showed that communication, leadership, planning, integration,

multidisciplinarity, and information were factors to promote learning

according to the author’s interpretation of the interviewees’ responses.

Finally, these factors were related to each project phase that they exert

the greatest impact upon, hoping to provide some guidance to project

managers while enhancing learning in project life-cycle in public firms

and governmental organizations.

Keywords:

Project Management; Learning; Governmental

Organizations; Knowledge Management.

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Sumário

1Introdução 1

1.1. Problema de Pesquisa 2

1.2. Objetivos 3

1.3. Questões da Pesquisa 3

1.4. Relevância do Estudo 4

1.5. Delimitações do Estudo 6

1.6. Estrutura da Dissertação 7

2 Referencial Teórico 8

2.1. Proposta do Guia de Boas Práticas – PMBOK 8

2.1.2. Definição de Projetos 9

2.1.3. Gerenciamento de Projetos 10

2.1.4. Gerenciamento de Portifólio de Projetos 11

2.1.5. O Papel do Gerente de Projetos 11

2.1.6. Fatores Organizacionais 13

2.2. Ciclo de Vida do Projeto e Organização 13

2.2.1. Ciclo de Vida dos Projetos 14

2.2.2. Fases dos Projetos 16

2.2.3. Atividades de Projetos e Atividades Funcionais 18

2.2.4. Partes Interessadas 19

2.3. Processos de Gerenciamento de Projetos 21

2.3.1. Áreas do Conhecimento do Guia PMBOK 24

2.3.2. Integração 25

2.3.3. Ativos de Processos Organizacionais 26

2.3.4. Lições Aprendidas 29

2.4. Aprendizagem 33

2.4.1. Aprendizagem e Lições Aprendidas 33

2.4.2. Aprendizagem Individual 35

2.4.3. Aprendizagem Através da Comunicação 36

2.4.4. Aprendizagem Através do Repositório de Conhecimento 37

2.4.5 Aprendizagem Através de Projetos 40

Page 11: Alexandre Spiguel F de Santa Anna Aprendizagem no … Lennon . Resumo Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha. Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos

3 Metodologia de Pesquisa 42

3.1. Tipo de Pesquisa 42

3.2. Papel do Pesquisador 43

3.3. Seleção de Sujeitos 44

3.4. Procedimentos de Coleta e Registro de Dados 45

3.5. Limitações do Método 47

4 Análise e Discussão dos Resultados 49

4.1. Introdução 49

4.2. Gerenciamento de Projetos e Aprendizagem

sob a ótica dos Entrevistados 49

4.2.1. Gerenciamento de Projetos para os Entrevistados 50

4.2.2. Aprendizagem sob a ótica dos Entrevistados 53

4.3 Fatores que Influenciam a Aprendizagem em Gerenciamento

de Projetos em Empresas Públicas e Governamentais 57

4.3.1. Comunicação 59

4.3.2. Liderança 62

4.3.3. Planejamento 66

4.3.4. Integração 71

4.3.5. Multidisciplinaridade 76

4.3.6. Informações 78

5 Considerações Finais 90

5.1. Conclusões 90

5.2. Sugestões 95

6 Referências Bibliográficas 97

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Lista de Figuras

Figura 1: Ciclo de vida do projeto. 15

Figura 2: Impacto variável com base no tempo

decorrido do projeto. 15

Figura 3: Repetição sequencial dos grupos de processo

de gerenciamento de projetos com fases sobrepostas. 17

Figura 4: Ciclo dos processos de gerenciamento de projetos. 17

Figura 5: A relação entre as partes interessadas e o projeto. 19

Figura 6: Grupos de processos de gerenciamento de projetos. 23

Figura 7: As nove áreas do conhecimento em gerenciamento

de projetos. 24

Figura 8: Os seis processos de gerenciamento de projetos

e respectivos grupos de processos. 26

Figura 9: Tipos de aprendizado e suas interações e a relação

com o processo do conhecimento, segundo Heijst et al. 34

Figura 10: Aprendizagem individual nas organizações,

segundo Heijst et al. 35

Figura 11: Aprendizagem organizacional através da

comunicação, segundo Heijst et al. 36

Figura 12: Aprendizagem organizacional através do

repositório de conhecimento, segundo Heijst et al. 38

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Lista de Quadros

Quadro 1: Responsabilidades e aptidões do gerente

de projetos segundo Rego. 12

Quadro 2: Lições Aprendidas e Boas Práticas organizadas por

área de gerenciamento do projeto ou fase, segundo Dinsmore. 32

Quadro 3: Perfil dos Entrevistados. 45

Quadro 4: Roteiro de entrevista. 46

Quadro 5: Informações que compõem lições aprendidas,

segundo Ericeira. 89

Quadro 6: Identificação dos fatores para aprendizagem no

ciclo-de-vida dos projetos. 95

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1

Introdução

O surgimento das Agências Reguladoras no Brasil é um fenômeno

recente que se iniciou em 1998, uma vez que nem o modelo de Estado

Neoliberal, tampouco o de Estado Intervencionista deram conta de

garantir o bem-estar social (Dias, 2010) – ou wellfare state - tido hoje

como objetivo maior das políticas estatais, independente dos governos

que as realizam.

Dada a “transferência das funções de utilidade pública do setor

público para o privado, com o fenômeno da privatização” (Kaufmann,

2006, p.1), partindo do pressuposto que a “mão-invisível” como auto-

regulação de mercado não é suficiente para garantir uma concorrência

justa – nem uma relação equilibrada entre os diversos atores do setor,

a saber, por exemplo, no caso da saúde suplementar: beneficiários,

operadoras de planos de saúde e prestadores de serviço – desponta a

necessidade de evitar o surgimento ou mitigar os efeitos nocivos ao

mercado oriundos de diversas assimetrias nas relações do setor.

Neste contexto surge a Agência Nacional de Saúde Suplementar –

ANS – a fim de desempenhar a função regulatória, através da

constituição de marco legal direcionado ao monitoramento do

mercado, e ao controle e fiscalização das operadoras. A ANS se

constitui numa autarquia especial, dotada de autonomia financeira e

administrativa, com a missão institucional de promover a defesa do

interesse público na Saúde Suplementar (Lei Federal nº 9.961 de 28

de janeiro de 2000). A ANS realiza diversos processos para o

adequado cumprimento de sua missão, processos esses executados

por diferentes instâncias da organização, como por exemplo, os

núcleos implantados em outras regiões do país. No entanto, devido à

complexidade e à dinâmica do mercado regulado, faz-se mister a

constante busca por inovação, seja nas proposições às políticas

regulatórias, bem como na gestão da própria organização. Em vista

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2

disto, e no sentido de viabilizar a modernização do Estado – proposto

pelo programa do Ministério do Planejamento e Gestão - MPOG – que

tem como visão o Estado como referência em Gestão, coadunado às

normas recentes gerada pela Secretaria de Logística e Tecnologia da

Informação, SLTI/MPOG, e editada pelo Ministério de Orçamento e

Gestão, que recomenda implementação de processo de governança

na área de Tecnologia da Informação, criando uma janela de

oportunidade para busca, desenvolvimento e aplicação de novas

tecnologias, metodologias, e boas práticas gerenciais,

Assim, foi proposto e aprovado pela Diretoria Colegiada da

instituição a implementação de boas práticas de Gerenciamento de

Projetos, seguindo os pressupostos do Guia PMBOK (PMI, 2008)

desenvolvido pelo Project Management Institute – PMI, fundação sem

fins lucrativos, reconhecida mundialmente, que cuida da padronização,

formação e certificação de profissionais na disciplina de Gestão de

Projetos.

1.1.

Problema de Pesquisa

A aplicação dos conhecimentos, habilidades e técnicas concernentes à

disciplina de Gestão de Projetos, visa entregar, produtos, serviços ou

soluções, de acordo com o escopo planejado, no prazo acordado, com

o custo previsto e com a qualidade anteriormente estabelecida (PMI,

2008). Partindo do pressuposto de que, atingir tais objetivos é o

mínimo esperado pelo gestor de projetos - bem como para o cliente -

quando da aplicação de boas práticas de gestão de projetos, e

levando em consideração que os benefícios gerados pelo projeto -

seja para o cliente, seja para organização – costumam de se dar após

a entrega do produto do projeto (PMI, 2008), buscou-se por descobrir

como potencializar os benefícios gerados para a organização

executora do projeto, através da aprendizagem gerada durante o ciclo-

de-vida do mesmo, e dado que as informações históricas e lições

aprendidas que entram na base de conhecimento corporativo são

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3

importante insumo dos ativos de processos organizacionais (Heijst, et

al, 1996), a questão que se delineia é: quais são os fatores que podem

favorecer ou comprometer a aprendizagem no ciclo-de-vida dos

projetos em empresas públicas e organizações governamentais?

1.2.

Objetivos

O presente estudo visa a entender quais são os fatores que

favorecem ou comprometem a aprendizagem no ciclo-de-vida dos

projetos em empresas públicas e organizações governamentais.

1.3.

Questões de Pesquisa

A questão central desta pesquisa é:

O que os profissionais gestores de projetos, praticantes da disciplina

de Gerenciamento de Projetos proposta pelo Project Management

Institute – PMI, cujas boas práticas estão descritas no Guia PMBOK

(PMI, 2008), e que vivenciam experiências em gestão de projetos de

empresas públicas e organizações governamentais, percebem como

fatores que favorecem ou comprometem a aprendizagem no ciclo-de-

vida dos projetos?

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4

1.4.

Relevância do Estudo

Para atingir seus objetivos as organizações executam processos

de trabalhos, ou seja, fluxos de atividades visando a um objetivo de

negócio. No entanto, para produzir um novo produto, serviço ou

resultado exclusivo, é necessário organizar suas idéias e intenções no

formato de projetos. Tal forma de se organizar e coordenar atividades

não são necessariamente uma novidade, uma vez que a humanidade

sempre realizou projetos, seja na esfera privada, como ter um filho, ou

em sociedade, como na construção das Pirâmides do Egito (Xavier,

2009). Porém, para projetos terem sucesso – o sentido de sucesso

apresentado aqui é compreendido pelos praticantes das boas práticas

de gerenciamento proposta pelo PMI da seguinte maneira:

disponibilizar tal produto, serviço ou resultado exclusivo conforme

escopo planejado, no prazo definido, dentro do orçamento acertado e

com a qualidade esperada (PMI, 2008), é mister que a organização

disponibilize aos líderes de projetos os insumos adequados, sejam de

natureza financeira, material ou humana. Mas se não trata, apenas,

disso: é imprescindível a adequada gestão do projeto, a partir do

planejamento dos recursos e da estratégia de desenvolvimento, bem

como da correta execução e do controle. Com a evolução destes

processos de gestão foram estabelecida boas práticas que são

difundidas aos seus praticantes pelo Project Management Institute –

PMI, instituição sem fins lucrativos que a mais de trinta anos realiza tal

missão. O objetivo precípuo proposto pelas boas práticas de

Gerenciamento de Projetos difundidas pelo PMI é, através da

aplicação dos conhecimentos, habilidades e técnicas concernentes à

disciplina, em diversas áreas do conhecimento, entregar produtos,

serviços ou soluções, de acordo com o escopo definido, no prazo

acordado, dentro custo previsto e com a qualidade anteriormente

estabelecida (PMI, 2008). Partindo do pressuposto que atingir tais

objetivos é o mínimo esperado pelo gestor de projetos, bem como para

o cliente, este estudo tem como objetivo a identificação dos lócus de

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5

oportunidades de aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos, a fim de

gerar para organização benefícios durante a execução do projeto.

Portanto, conhecer os principais fatores que favorecem ou

comprometem tal aprendizagem poderá apontar caminhos para, não

apenas colaborar para aprendizagem, como também, para a retenção

deste conhecimento para organização (Heldman, 2009).

Na esfera pública e governamental, o estudo ganha relevância

dada às particularidades oriundas dos marcos legais constitucionais,

de criação das Agências e de gestão governamental, como:

Princípio da Eficiência, que prevê que

Administração Pública deve buscar o

aperfeiçoamento na prestação dos serviços

públicos, mantendo ou melhorando a qualidade

destes, com economia de despesas,

objetivando o binômio: qualidade prestada com

racionalidade de gastos (Constituição

Federal/98), e que pode ser perseguido

através da aplicação das boas práticas de

gerenciamento de projetos, devido aos

benefícios gerados por tal aplicação (PMI,

2008);

Interesse público no objeto gerido ou serviço

prestado por tais organizações (Lei 9961,

01/2000), o que exige dos gestores públicos

melhoria contínua dos serviços prestados;

Temporalidade dos Gestores e Assessores em

cargos de livre nomeação (Lei 9961, 01/200),

que intensifica a importância de, não somente

a aplicação de boas práticas de

Gerenciamento de Projetos - neste caso

específico, pela documentação gerada que

será adicionada à memória da organização e

que possibilitará a continuação dos projetos

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6

quando do término dos mandatos de natureza

temporária – bem como da retenção da

aprendizagem gerada durante seus mandatos;

Estabilidade do quadro funcional de servidores

de carreira (Lei 8112, 12/1990), que permitirá

usufruir de tal aprendizagem ao longo do

tempo de serviço.

Determinação imposta pela norma da

Secretaria de Logística e Tecnologia da

Informação - Ministério de Orçamento e

Gestão (IN SLTI/MPOG 04/2010), que

determina a implementação de processo de

governança na área de Tecnologia da

Informação - incluindo a aplicação de boas

práticas de gerenciamento de projetos

conforme propostas pelo PMBOK (PMI, 2008),

no desenvolvimento das soluções em TI, o que

traz possibilidades de geração de benefícios

para organização executora, que não aqueles

previstos quando da entrega do produto,

serviço ou solução gerado pelo projeto, mas

sim, pela aprendizagem durante seu ciclo-de-

vida.

1.5.

Delimitação do Estudo

Este trabalho estudou, a partir do ponto de vista dos gestores de

projetos, praticantes da disciplina de Gerenciamento de Projetos

proposta pelo Project Management Institute – PMI, que vivenciam

experiências em gestão de projetos de empresas públicas e

organizações governamentais, percebem como fatores que favorecem

ou comprometem a aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos.

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7

Além disso, para seleção dos entrevistados, não foram excluídos

profissionais devido ao tipo de vínculo, podendo ser servidores de

carreira – civis ou militares, servidores nomeados, contratados

terceirizados e consultores, ou devido ao nível do profissional,

incluindo gestores de projetos nível pleno e seniores.

Foi escolhido o Guia PMBOK, proposto pelo PMI (2008), por ser

amplamente reconhecido e utilizado em diversas empresas públicas e

organizações governamentais, e principalmente, por ser recomendado

pela IN 04 - Instrução Normativa MP/SLTI Nº04, norma editada pela

Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação - SLTI do

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MP, para utilização

em todos os órgãos integrantes do Sistema de Administração dos

Recursos de Informação e Informática – SISP – do Poder Executivo

Federal.

1.6.

Estrutura da Dissertação

O estudo aqui apresentado está organizado da seguinte forma:

No capítulo 1 é apresentado o problema de pesquisa que motivou o

trabalho, o objetivo, e as questões de pesquisa. Também é tratada a

relevância do estudo, bem como sua delimitação.

No capítulo 2 são apresentados os aspectos básicos da disciplina de

Gerenciamento de Projetos conforme proposto pelo PMI, bem como

aspectos referentes à Aprendizagem a partir da literatura pesquisada.

O capítulo 3 versa sobre a metodologia utilizada para pesquisa, e

descreve o papel do pesquisador, a seleção dos sujeitos, o

procedimento de coleta e registro de dados e as limitações do método.

No capítulo 4 apresenta-se a análise dos dados e discussão dos

resultados da pesquisa com base no referencial teórico apresentado.

No capítulo 5 são apresentas as conclusões e recomendações deste

trabalho.

Por fim, o capítulo 6 lista as referências bibliográficas utilizadas.

Page 21: Alexandre Spiguel F de Santa Anna Aprendizagem no … Lennon . Resumo Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha. Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos

2

Referencial Teórico

Este trabalho estuda o que os gestores de projetos, praticantes da

disciplina de Gerenciamento de Projetos proposta pelo Project

Management Institute – PMI, em instituições públicas e organizações

governamentais, que vivenciam experiências de Gestão de Projetos

percebem como fatores que favorecem ou comprometem a

aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos.

Dessa forma, o referencial teórico deste estudo tem como principal

base os conhecimentos, processos, hablidades, ferramentas e

técnicas de gerenciamento de projetos proposta pelo PMI, da forma

descrita no Guia PMBOK (PMI, 2008), em conjunto com outros autores

reconhecidos pela comunidade de praticantes, e que abordam as boas

práticas de gerenciamento de projetos.

Ainda, são citados conceitos apresentados por teorias clássicas

sobre Aprendizagem, e suas diversas formas de aplicação nas

organizações.

2.1.

Proposta do Guia de Boas Práticas – PMBOK

O Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos – PMBOK

(PMI, 2008) é um padrão reconhecido para utilização de profissionais

de gerenciamento de projetos, editado e revisto, periodicamente, pelo

Project Management Insititute – PMI, instituição internacional sem fins

lucrativos, fundada em 1969, com sede na cidade de Filadélfia

(Estados Unidos), cujos principais objetivos são: formular padrões

profissionais de gestão de projetos; gerar conhecimento por intermédio

da investigação; e, promover a gestão de projetos como profissão

através de seus programas de certificação (Disponível em:

<HTTP://pmi.org> Acesso em: 5 maio 2012). O Guia PMBOK (PMI,

2008) descreve normas, métodos, processos e práticas já

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9

estabelecidas para os praticantes desta disciplina de gerenciamento

de projetos. Sugere também a utilização de conhecimentos,

processos, hablidades, ferramentas e técnicas que devem ser

aplicadas ao desenvolvimento de projetos, e apresenta um

vocabulário comum para os profissionais da área, que torna-se um

elemento padrão essencial para a profissão. Além disso, orienta os

praticantes de gerenciamento de projetos, através do Código de Ética

e Conduta Profissional do PMI.

2.1.2.

Definição de Projeto

A definição de projeto utilizada pelo PMI é “um esforço temporário

empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo”

(PMI, 2008). É de natureza temporal, ou seja, tem início, meio e fim

definidos. Para geração do resultado esperado do projeto, é

necessário um esforço de trabalho contínuo, que se constituem nos

processos de gerenciamento. Apesar de apresentar elementos

repetitivos em algumas entregas, devido às particularidades de cada

mercado ou organização, cada projeto é um evento único. Um projeto

pode criar um produto, sendo este um item final ou componente de

outro item; a capacidade de realização de um serviço, como funções

empresariais que dão suporte à produção ou à distribuição; ou, um

resultado, no formato de um documento, como por exemplo, num

Projeto de Pesquisa de Mercado para de determinar esta ou aquela

tendência. Os projetos também podem servir para efetuar mudança de

estruturas organizacionais e desenvolvimento de pessoas nas

mesmas, ou ainda, desenvolvimento ou aquisição de equipamentos e

sistemas de informação (IN SLTI/MPOG 04/2010).

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10

2.1.3.

Gerenciamento de Projetos

Gerenciar projetos, segundo o Guia PMBOK (PMI, 2008) é utilizar

um conjunto de conhecimentos, habilidades, ferramentas e técnicas,

aplicadas às atividades do projeto visando atender os requisitos do

projeto. A realização do projeto se dá pela utilização integrada de 42

processos de gerenciamento agrupados em cinco grupos distintos,

que ocorrem em diferentes momentos do desenvolvimento do projeto,

também conhecidos como fases: iniciação, planejamento, execução,

monitoramento e controle, e encerramento. Para gerenciar um projeto

é necessário identificar seus requisitos, adaptando-o às diferentes

expectativas e necessidades das partes interessadas na medida em

que o planejamento do projeto vai sendo realizado, balanceando as

restrições conflitantes dos projetos como escopo, qualidade,

cronograma, orçamento, recursos e riscos. Cada projeto específico

terá restrições nas quais o gerente precisará se concentrar, a fim de

verificar de que forma cada uma impacta no gerenciamento do projeto

buscando formas de balancear seus efeitos. Por exemplo: para

redução do tempo necessário para conclusão do projeto, que se

refletirá no cronograma, provavelmente será necessária também uma

alteração no orçamento, de forma a incluir recursos adicionais. Não

sendo possível um aumento no orçamento, ou escopo, a qualidade

poderá sofrer redução para que seja possível entregar um produto,

serviço ou resultado, com menos tempo e o mesmo orçamento. Tendo

em vista o potencial de mudança, o plano de gerenciamento do projeto

é um processo iterativo, que passa por uma elaboração progressiva

durante seu ciclo de vida, que envolve melhoria contínua e

documentação em forma de um plano que apresente as informações

de maneira detalhada e específica, bem como estimativas mais exatas

quanto possíveis, de forma que, com a evolução do projeto seja

possível para a equipe gerenciar com um nível maior de detalhes.

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11

2.1.4.

Gerenciamento de Portifólio de Projetos

Portifólio de Projetos refere-se a um conjunto de projetos agrupados

a fim de facilitar o gerenciamento adequado destes visando concluí-los

com sucesso e consolidar suas entregas a fim de atingir os objetivos

estratégicos da organização. Utiliza-se o termo sucesso quando um

projeto é concluído de acordo com os requisitos planejados, referentes a

escopo, custo e tempo. O Gerenciamento de Portifólio relaciona-se ao

gerenciamento centralizado de um ou mais portifólio de projetos, e

envolve a identificação, priorização, autorização, gerenciamento e

controle de projetos, concentrando-se em garantir a análise dos projetos

frente à disponibilidade de recursos, com fim de priorizá-los e alocá-los da

forma mais adequada possível, e ainda, que tais projetos estejam

alinhados com a estratégia da organização.

2.1.5.

O Papel do Gerente de Projetos

O Gerente de Projetos é o responsável por atingir os objetivos do

projeto, de acordo com o planejado. É designado pela organização e não

se confunde com o Gerente Funcional ou Gerente de Operações, pois tais

profissionais estão concentrados em gerenciar áreas administrativas ou

operações relacionadas ao aspecto principal do negócio, respectivamente

(PMI, 2008). Exerce um elo importante entre as partes interessadas no

projeto principalmente, o patrocinador, o cliente e a equipe do projeto. Um

gerente de projetos, pode se reportar a um gerente ou outro cargo

funcional, ou até mesmo, a um gerente de portifólio de projetos,

dependendo da estrutura da organização. Para um gerenciamento eficaz

é necessário ao gerente de projetos não apenas compreender e aplicar as

ferramentas e técnicas reconhecidas como boas práticas em gestão de

projetos, como também unir características de três dimensões:

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12

1. Conhecimento, que se refere ao que o gerente sabe

sobre o gerenciamento de projetos;

2. Desempenho, que se refere à capacidade de

realização do gerente enquanto aplica este conhecimento;

3. Pessoal, refere-se ao comportamento do gerente na

execução do projeto ou alguma atividade relacionada. A

efetividade pessoal envolve atitudes, e as principais

características de personalidade e liderança, sem deixar de

lado a capacidade de orientar a equipe, ao mesmo tempo em

que balanceia o atendimento às restrições do projeto.

Outras denominações mais recentes (Rego, 2010) acenam para outras

formas que podem ser assumidas, ou atributos que podem ser

concedidos a esses profissionais, a saber:

Animadores de Equipe;

Coach (acompanham o desenvolvimento de outros gerentes);

Catalisadores;

Visionários;

Atletas da empresa;

Gerentes intuitivos;

Os profissionais;

Coordenadores de equipes;

Chefes de projetos.

Algumas das responsabilidades e aptidões do gerente de projetos são

apresentadas no Quadro 1:

RESPONSABILIDADES APTIDÕES Planejamento Capacidade de Liderança

Organização Capacidade de Desenvolver Pessoas

Controle Habilidades de Comunicação

Habilidades interpessoais

Capacidade de lidar com o estresse

Capacidade de resolver problemas

Capacidade de gerir tempo

Quadro 1: Responsabilidades e Aptidões do GP (Rego, 2000; Gido e

Clements, 2007).

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13

2.1.6.

Fatores Organizacionais

Os fatores organizacionais que influenciam o sucesso de um projeto

referem-se tanto aos fatores ambientais internos quanto externos à

empresa e podem somar-se aos fatores ambientais das demais

organizações. Tais fatores podem ter uma influência positiva ou

negativa no resultado do projeto, aumentando ou restringindo as

condições de gerenciamento. É fundamental, para o Guia PMOBK

(PMI, 2008) a utilização deste importante arcabouço de informações

nos processos de planejamento do projeto. Alguns fatores ambientais

são listados a seguir, observado que não se restringem apenas a

estes:

Cultura, estrutura e processos organizacionais;

Aspectos legais ou padrões governamentais, como: marcos,

regulatórios, normas e padrões;

Infraestrutura;

Recursos humanos disponíveis;

Normas gerais de gestão de recuros humanos;

Condições do mercado;

Tolerância a riscos das partes interessadas;

Situação política atual;

Canais de comunicação estabelecidos na organização;

Arcabouço tecnológico, envolvendo banco de dados; sistemas de

gerenciamento de projetos e demais sistemas de informação.

2.2.

Ciclo de Vida e Organização do Projeto

Os projetos ocorrem em um contexto bem mais amplo que o do

projeto propriamente dito. Para garantir que o trabalho seja conduzido

mantendo o alinhamento organizacional e gerenciado de acordo com

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14

as boas práticas em gestão de projetos é importante a compreensão

de aspectos como o ciclo de vida do projeto e suas fases, a relação

entre as fases, a relação entre as atividades dos projetos e as

atividades funcionais e a influência das partes interessadas.

2.2.1.

Ciclo de Vida dos Projetos

Consiste nas fases do projeto que são, normalmente, seqüenciais,

podendo, às vezes, se sobrepor e cujo nome e número são

determinados pelas necessidades de controle das organizações

envolvidas, e pela natureza dos projetos e sua área de aplicação. O

ciclo de vida pode ser moldado como uma metodologia de acordo com

critérios exclusivos da organização, indústria ou tecnologia

empregada. Posto que todo projeto tem início e fim definidos, pode

existir grande variação nas entregas neste intervalo de tempo.

Portanto, o ciclo de vida oferece uma estrutura básica para o

gerenciamento do projeto.

Independentemente do tamanho e complexidade do projeto todos

apresentam em sua estrutura, conforme apresentado na Figura 1.

Início do Projeto;

Organização e preparação;

Execução do trabalho do projeto;

Encerramento do projeto.

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15

Figura 1: Ciclo de vida do projeto (PMI, 2008).

A estrutura genérica apresentada reúne as seguintes características:

No início do projeto os níveis de custos e de pessoal são mais

baixos, atingindo um valor máximo durante a execução do projeto e

decrescendo rapidamente conforme o projeto vai sendo finalizado;

Os riscos, as incertezas e a influência das partes interessadas, que

são maiores no início do projeto, diminuem ao longo do ciclo de

vida do mesmo;

No início, a capacidade de influenciar no desenvolvimento do escopo

e das características finais no produto do projeto com baixo ou

nenhum impacto nos custos é maior, e torna-se cada vez menor

conforme o projeto avança para o seu término.

A Figura 2 ilustra as características apresentadas, incluindo a idéia de

que os custos com mudanças e correções de erro costumam aumentar

significantemente com a aproximação do término do projeto.

Figura 2: Impacto variável com base no tempo decorrido do projeto (PMI, 2008).

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16

Com base no contexto genérico do ciclo de vida do projeto, o gerente

pode decidir por um controle mais eficaz sobre as entregas do mesmo.

Dependendo do tamanho e complexidade do projeto, este pode

requerer um nível adicional de controle. Para isto, para melhor

condução dos trabalhos necessários para atingir os objetivos

planejados, o projeto pode ser formalmente dividido em fases.

2.2.2.

Fases dos Projetos

Um projeto pode ser divido em fases para proporcionar um controle

mais efetivo do término de uma entrega importante, normalmente

terminadas sequencialmente, podendo se sobrepor em algumas

situações. A estrutura de fases segmenta o projeto em subconjuntos

lógicos que facilitam o gerenciamento, o planejamento e o controle. O

número, necessidade e grau de controle utilizado variam de acordo

com o tamanho, grau de complexidade e impacto potencial do projeto.

As fases de um projeto apresentam características semelhantes:

Quando são sequenciadas, o término de uma fase implica de

alguma forma na entrega ou transferência do produto ou resultado

desta fase para aquela subseqüente. O final de cada fase

representa um marco de reavaliação dos esforços em andamento,

de mudanças ocorridas, ou o término do projeto, caso necessário.

Esse marco também pode ser chamado de saídas de fase,

passagens de fase, passagens de estágio, portões de decisão ou

ponto de término;

O foco do trabalho difere entre as fases, envolvendo diferentes

conjuntos de habilidades e formas de organização;

O principal objetivo ou entrega da fase requer um grau superior de

controle para garantir a entrega com sucesso. A repetição dos

cinco grupos de processos, que serão apresentados adiante,

proporciona este grau de controle adicional e define os limites entre

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17

as fases. A Figura 3 demonstra a repetição sequencial dos grupos de

processo de gerenciamento de projetos no caso de fase sobrepostas.

Figura 3: Repetição sequencial dos grupos de processo de gerenciamento

de projetos com fases sobrepostas (PMI, 2008).

No caso de um projeto formatado em apenas uma fase, os grupos de

processo de gerenciamento de projetos ocorrerão em apenas um ciclo,

sem repetição dos mesmos ao longo do projeto, como demonstrado na

Figura 4.

Figura 4: Ciclo dos processos de gerenciamento de projetos (PMI,

2008)

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18

2.2.3.

Atividades de Projetos e Atividades Funcionais

As organizações governamentais, bem como as empresas públicas

e as privadas, realizam atividades para atingir seus objetivos, sendo

estas categorizadas, basicamente, como processos ou projetos. No

entanto, apesar na natureza distinta das atividades relacionadas à

projetos ou processos - devido características como a da

temporalidade bem definida, no caso dos projetos, por exemplo -

ambas as atividades apresentam mesmas características, como:

São realizadas por pessoas;

São limitadas por restrições, inclusive de recursos;

São planejadas, executadas, monitoradas e

controladas, e;

São realizadas para atingir objetivos organizacionais

ou planos estratégicos.

A principal diferença entre tais atividades deve-se ao fato de que os

processos – ou trabalho de operações – são contínuos e produzem

produtos resultados ou serviços de forma repetitiva, e servem também

de sustentação às organizações ao longo do tempo. Neste sentido, os

trabalhos de operações apóiam o ambiente organizacional onde

ocorrem os projetos, o que tem como conseqüência uma interação

entre os departamentos e recursos envolvidos nas operações e

aqueles aplicados nos projetos. A interação entre estes tipos

diferentes de atividades irá variar durante o ciclo de vida do projeto, no

entanto, em organizações que não apresentam uma estrutura

funcional projetizada - que diferentemente da estrutura funcional

clássica se organiza por projetos, e não por departamentos funcionais

- sempre haverá compartilhamento de recursos, o que normalmente

afeta as restrições dos projetos, bem como o seu gerenciamento.

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19

2.2.4.

Partes Interessadas

Segundo Freedman:

“O sucesso da organização depende do quão bem são gerenciadas as relações com grupos chaves (key stakeholders) como clientes, empregados, fornecedores, comunidades, agentes financeiros e outros que afetam a realização dos seus objetivos” (2002, p.33).

Pode-se perceber, então, que as partes interessadas – ou

stakeholders como são usualmente chamados pelos profissionais de

gerenciamento de projetos - são todos aqueles que impactam ou são

impactados pelas atividades das organizações. Tal conceito é também

extrapolado para o âmbito dos projetos, aproximando o olhar do

ambiente no qual este ocorre, conforme ilustrado na Figura 5:

Figura 5: A relação entre as partes interessadas e o projeto (PMI, 2008)

As partes interessadas dos projetos, sejam indivíduos ou

organizações, atuam como forças, por vezes, antagônicas, que podem

impactar de forma positiva ou negativa a realização do projeto,

influenciando-o, bem como suas entregas e os membros da equipe do

projeto, por exemplo. Os principais grupos de interesse destacados

pelo PMI (2008) são:

Clientes/usuários;

Patrocinador;

Gerente de Portifólios/comitê de análise de portifólios;

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20

Gerentes de Programa;

Escritório de Projetos;

Gerente de Projetos;

Equipe do Projeto;

Gerentes Funcionais;

Gerentes de Operações;

Fornecedores/parceiros comerciais.

Importante ressaltar que tal grupo de interesse vem ganhando tanta

importância no contexto organizacional e de projetos, que a última

edição do Guia PMBOK (PMI, 2008), contemplou um novo processo,

ao qual chamou: “Identificação de Stakeholders”, e que será tratado

adiante. Por isso, é dever da equipe do projeto identificar as principais

partes interessadas internas ou externas do projeto, a fim de mapear

os requisitos e as expectativas importantes para cada uma daquelas,

pois, conforme a proposição de Freedman, tão bom é o desempenho

de uma organização quão boa é sua relação com as partes

interessadas. O gerente de projetos necessita, ainda, gerenciar a

influência de tais partes interessadas para garantir um resultado bem-

sucedido. Para Heldman (2009, p.5) “Um projeto é bem-sucedido

quando alcança seus objetivos e atende ou excede a expectativa das

partes interessadas”, o que por si só já justificaria uma adequada

gestão destes grupos interessados no projeto. No entanto, no caso

específico deste trabalho, tal tarefa ganha maior importância, pois, em

se tratando de empresas públicas e organizações governamentais, o

principal cliente somos nós, a sociedade, e não apenas determinados

grupos impactados pela utilização ou acesso a produtos ou serviços

de forma voluntária. No caso específico das agências reguladoras,

como por exemplo, da Agência Nacional da Saúde Suplementar, tal

missão, ou finalidade institucional, está prevista em sua Lei de Criação

(Lei 9996/00):

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21

“Art. 3o A ANS terá por finalidade institucional promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde, regulando as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas relações com prestadores e consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das ações de saúde no País.”

2.3.

Processos de Gerenciamento de Projetos

O gerenciamento de projetos consiste na aplicação de

conhecimentos, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades de

um projeto a fim de cumprir os requisitos de mesmo.

Um processo de gerenciamento é um conjunto de ações e atividades

relacionadas entre si, para serem executadas com a finalidade de

entregar um produto, serviço, ou resultado exclusivo. Estes processos

de gerenciamento são caracterizados pelas suas entradas, as

ferramentas e técnicas a eles empregadas, e os resultados destas

operações, ou seja, suas saídas. Importante ressaltar que, os

processos de gerenciamento de projetos podem gerar informações

para aprimorar o gerenciamento de projetos vindouros.

O Guia PMBOK (PMI, 2008, p. 40) descreve, atualmente, 42

processos de gerenciamento de projetos. No entanto, o Guia destaca

que:

“... não significa que os conhecimentos, as habilidades e os processos descritos sempre devem ser aplicados de forma uniforme em todos os projetos. Para qualquer projeto específico, o gerente do projeto, em colaboração com a equipe do projeto, sempre é responsável por determinar quais processos são apropriados e o grau de rigor apropriado para cada um.”.

Portanto, para que o projeto seja bem-sucedido, a equipe do projeto

deve, num esforço conhecido como adequação:

Selecionar os processos de gerenciamento apropriados a

determinado projeto;

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22

Utilizar uma abordagem definida que possa ser adotada para atingir

aos requisitos;

Cumprir tais requisitos visando a atender às necessidades e

expectativas das partes interessadas; e

Conseguir promover um equilíbrio entre as demandas concorrentes

de escopo, tempo, qualidade, recursos e riscos, para gerar o

produto, serviço ou resultado exclusivo.

Os processos de gerenciamento de projetos visam garantir um fluxo

eficaz do projeto ao longo do seu ciclo de vida, e são organizados em

diversas Áreas do Conhecimento, que serão apresentadas a diante, e

agrupados em cinco categorias:

Grupo de processos de iniciação: são aqueles realizados para definir

um novo projeto ou fase de um projeto existente a partir da

obtenção da autorização para seu início;

Grupos de processos de planejamento: são os processos realizados

para definir o escopo do projeto, seus objetivos e desenvolver a

estratégia necessária para alcançá-los;

Grupos de processos de execução: são aqueles realizados para

execução do trabalho definido no plano de gerenciamento do

projeto, com observância em satisfazer as especificações do

mesmo;

Grupo de processos de monitoramento e controle: são os processos

aplicados para acompanhar, revisar e regular o progresso e o

desempenho do projeto, mapear as áreas nas quais serão exigidas

mudanças no plano e iniciar tais mudanças;

Grupo de processos de encerramento: são aqueles executados para

finalizar todas as atividades de todos os grupos anteriores, visando

o encerramento formal do projeto ou fase.

Apesar dos processos de gerenciamento serem apresentados no Guia

PMBOK (PMI, 2008) como elementos distintos e interfaces claras,

ocorre que, na prática tais processos de sobrepõem, interagindo de

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23

forma particular e específica, acrescentando outros detalhes não

abordados pelo Guia PMBOK (PMI, 2008), mas muitas vezes já

conhecidos por gerentes de projetos experientes e que reconhecem

que há varias formas de se gerenciar projetos. A aplicação dos

processos de gerenciamento de projetos se dá de forma iterativa, e

por vezes, muitos deles são repetidos durante o projeto. Desta forma,

é necessária a integração constante entre os processos, o que requer

que os grupos de processos de monitoramento e controle interajam

com os demais conforme ilustrado na Figura 6. É possível, também,

observar, a característica de temporalidade dos projetos, representado

pelo grupo de processos de iniciação, que começa o projeto ou fase, e

o grupo de processos de encerramento, que o termina.

Figura 6: Grupos de processos de gerenciamento de projetos (PMBOK,

2008).

Os grupos de processos de gerenciamento de projetos são

interligados pelas saídas que produzem. Com a sobreposição de

processos ao longo do projeto, a saída de um processo é,

normalmente, a entrada de outro. O grupo de processos de

planejamento determina ao grupo de processos de execução o plano

de gerenciamento e documentos do projeto à medida de sua

execução.

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24

2.3.1. Áreas do Conhecimento do Guia PMBOK

O Guia PMBOK (PMI, 2008) divide o gerenciamento em nove áreas

do conhecimento:

Gerenciamento da integração do projeto;

Gerenciamento do escopo do projeto;

Gerenciamento do tempo do projeto;

Gerenciamento do custo do projeto;

Gerenciamento da qualidade do projeto;

Gerenciamento da comunicação do projeto;

Gerenciamento dos recursos humanos do projeto;

Gerenciamento dos riscos do projeto; e

Gerenciamento das aquisições do projeto.

Para cada uma destas áreas são estabelecidos diversos conjuntos de

processos de gerenciamento, compostos pelos elementos entradas,

ferramentas e técnicas, e as saídas (PMI, 2008). Na Figura 7 estão

representadas as nove áreas do conhecimento, com destaque para a

área do conhecimento Integração. Isto, porque, esta área é a responsável

para integrar os demais conjuntos de processos de gerenciamento das

outras áreas do conhecimento.

Figura 7: As nove áreas do conhecimento em gerenciamento de projetos (PMI, 2008).

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2.3.2.

Integração

Efetuar o gerenciamento da integração do projeto inclui executar os

processos e atividades para identificar, definir, combinar, unificar e

coordenar os vários processos e atividades dos demais grupos de

processos de gerenciamento. A integração inclui, no contexto de

gerenciamento de projetos, características de unificação,

consolidação, articulação e ações integradoras necessárias para o

término do projeto ou fase, para gerenciar as expectativas das partes

interessadas com êxito e atender aos requisitos estabelecidos para o

projeto. No gerenciamento da integração são realizadas decisões

sobre alocação de recursos, concessões entre objetivos e alternativas

conflitantes, bem como o gerenciamento de dependências mútuas

entre as diversas áreas do conhecimento. Os seis processos de

gerenciamento da integração são: (i) desenvolver o termo de abertura,

que consiste na aprovação do documento que autoriza, formalmente,

um projeto ou fase, e a documentação dos requisitos que incorporam

as necessidades e as expectativas das partes interessadas; (ii)

desenvolver o plano de gerenciamento do projeto, que é o processo de

documentar as ações necessárias para definir, preparar, integrar e

coordenar todos os planos de gerenciamento auxiliares; (iii) orientar a

execução do projeto, que consiste em realizar as atividades definidas

no plano de gerenciamento do projeto; (iv) monitorar e controlar o

trabalho do projeto, que é o processo de acompanhamento, revisão e

regulação do progresso do projeto, verificando se os objetivos de

desempenho estipulados no plano de gerenciamento do projeto estão

sendo atendidos; (v) realizar o controle integrado de mudanças, que

consiste em rever, aprovar e gerenciar todas solicitações de mudanças

nas entregas, ativos de processos organizacionais, documentos de

projeto e plano de gerenciamento do projeto; e (vi) encerrar o projeto

ou fase, que é o processo de finalização de todos os grupos de

processos de gerenciamento do projeto visando formalizar o término

do projeto ou fase (PMI, 2008).

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26

Figura 8: Os seis processos de gerenciamento de projetos e respectivos

Grupos de processos (PMI, 2008).

2.3.3.

Ativos de Processos Organizacionais

“Os ativos de processos organizacionais incluem

qualquer um ou todos os ativos relacionados a

processos, de quaisquer ou todas organizações

envolvidas no projeto que podem ser usados para

influenciar o sucesso do projeto” (PMI, 2008, p.35)

Políticas, instruções, planos, procedimentos, abordagens ou padrões

aplicados na empresa para condução do trabalho – inclusive do

trabalho do projeto – são chamados de ativos de processos

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27

organizacionais, e incluem uma série de elementos que podem afetar

diversos aspectos do projeto. Políticas de gerenciamento e segurança,

critérios de avaliação de desempenho, controles financeiros, requisitos

de comunicação, procedimentos de gerenciamento de problemas e

defeitos, do controle de mudança e riscos, são alguns das

configurações que tais ativos podem tomar (Heldmam, 2009). Tais

ativos podem ser divididos em duas categorias: processos e

procedimentos; e, base de conhecimento corporativo (PMI, 2008,

Heldmam, 2009). Segundo o Guia PMBOK (PMI, 2008), os processos

e procedimentos da organização para condução do trabalho, incluem,

mas não se restringem a:

Processos organizacionais padrões, como normas, políticas, ciclos

de vida padrão de produtos e projetos, e políticas e procedimentos

de qualidade;

Instruções de trabalho, diretrizes padronizadas, critérios de

avaliação de propostas e critérios de medição de desempenho;

Modelos como de risco, estrutura analítica do projeto, diagrama de

rede do cronograma do projeto;

Diretrizes e requisitos de encerramento do projeto, tal como

auditorias finais do projeto, avaliações do projeto, validação do

produto e critérios de aceitação;

Requisitos de comunicação da organização, como tecnologia da

informação, política de registros e requisitos de segurança;

Procedimentos de gerenciamento de questões e defeitos que

definem seus controles, a identificação e a solução destas e

acompanhamento de seus itens de ação;

Procedimentos de controles financeiros, como análises de gastos e

despesas, códigos de contabilidade e cláusulas contratuais

padrões;

Procedimentos de controle de mudanças, incluindo o processo para

modificação de normas, políticas, planos e procedimentos oficiais

da organização, e como tais mudanças serão controladas,

aprovadas e validadas;

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28

Procedimentos de controle de risco, incluindo categorização, e

matriz de probabilidade e impacto; e

Procedimentos de priorização, para fins de portifólio de projetos,

aprovação e emissão de autorizações para realização dos

mesmos.

No que tange a base do conhecimento organizacional corporativa para

armazenamento – e futura recuperação e utilização – das informações,

esta inclui, mas não se limita a (PMI, 2008):

Bancos de dados de medição de processos utilizados para coleta e

disponibilização destas medições;

Arquivos do projeto, como: linha de base de escopo, custo,

cronograma e qualidade, linhas de base de medição de

desempenho, cronogramas de projeto, diagramas de rede do

cronograma dos projetos, registros dos riscos e das ações

planejadas e impactos definidos dos riscos;

Bancos de dados de gerenciamento de questões e defeitos que

contenham o status dos mesmos, informações de controle, solução

de problemas e defeitos e resultados dos itens de ação;

Banco de dados de gerenciamento de configuração, onde constam

todas as versões e linhas de base das normas, políticas,

procedimentos, formulários de projetos e quaisquer outros

documentos oficiais de projetos da empresa;

Bancos de dados financeiros, que contenham informações sobre

custo de mão-de-obra, custo de outros insumos de produção,

orçamentos e qualquer estouro dos custos do projeto; e

Bases de conhecimento de informações históricas e lições

aprendidas, como registro e documentos, e todas informações

sobre resultados de decisões de seleção e desempenho de

projetos anteriores, entre outras aquelas que a equipe do projeto

julgar pertinente.

A seguir, veremos mais detalhadamente o processo de documentação

de lições aprendidas.

Page 42: Alexandre Spiguel F de Santa Anna Aprendizagem no … Lennon . Resumo Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha. Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos

29

2.3.4.

Lições Apreendidas

As lições aprendidas englobam tudo que foi aprendido durante a

execução dos processos de gerenciamento, segundo Heldman (2009,

p. 363)

“... inclui documentações que podem ser utilizadas como

modelos em futuros projetos, (...) técnicas empregadas

na resolução de conflitos, tipos de conflitos surgidos

durante o projeto, regras básicas, (...) habilidades

especiais necessárias durante o projeto que não foram

descobertas durante o Planejamento, e o registro das

questões”

São ativos de processos organizacionais e informações históricas que

devem ser recuperados e examinados no início de um novo projeto ou

fase (PMI, 2008). Tais informações poderão ser de grande utilidade

aos gerentes de projetos e às partes interessadas, pois durante a

avaliação de novos projetos as informações anteriores de natureza

similar poderão auxiliar na aceitação e início do mesmo. Além disso,

ainda segundo Heldmam (2009), informações históricas coletadas e

documentadas durante um projeto em execução poderão ser utilizadas

para decidir se um projeto deve – ou não – passar para a próxima

fase, e ajudarão no desenvolvimento da documentação do projeto,

como: termo de abertura do projeto, declaração de escopo do projeto,

e para o plano de gerenciamento do projeto. Compreender projetos

anteriores de natureza semelhante, seus problemas, sucessos e

resultados, poderá colaborar para evitar a repetição de erros durante a

reutilização de ferramentas e técnicas que se saíram bem-sucedida

anteriormente, para atingir metas do projeto atual e satisfazer partes

interessadas (Heldmam, 2009), e para tal aplicação faz-se necessário

documentá-las.

Documentar lições aprendidas é o processo do grupo de processos

de execução, e que se liga aos processos de orientação e execução

do projeto e de distribuição de informações, entre outros. Consiste em

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30

organizar em planilhas e guias de referência das lições aprendidas e

as boas práticas, segundo a área do conhecimento ou a fase de

gerenciamento do projeto, extraídas das experiências obtidas em

vários projetos (Dinsmore, 2009). O Guia PMOK (PMI, 2008) sugere

utilização das informações históricas e base de conhecimento de

lições aprendidas como entrada processos de gerenciamento de

projetos, como ativos organizacionais, ou como resultado destes, a

serem utilizadas nas atualizações dos ativos de processos

organizacionais. As áreas do conhecimento e os respectivos

processos que lidam com tais insumos são (PMI, 2008):

Comunicação: como entrada, no processo de distribuir as

informações do projeto como um dos ativos que podem influenciar

tal processo, e como resultado do processo de reportar o

desempenho, onde a documentação das lições aprendidas pode

incluir as causas das questões, as motivações que definiram

determinada ação corretiva, além de outros tipos de lições;

Qualidade: como saída do processo de realizar o controle da

qualidade, onde a utilização tais informações históricas são

documentadas como lições aprendidas;

Integração: como entrada do processo de encerramento do projeto

ou fase, como componente dos ativos de processos

organizacionais que podem influenciar o encerramento do projeto

ou fase, e ainda, como resultado deste processo, quando são

transferidos à base de conhecimento para uso em projetos ou

fases futuras;

Aquisições: como entrada para o processo de encerrar as

aquisições, quando toda a documentação da aquisição é coletada,

indexada e arquivada, e que poderá ser usada no futuro como base

para novas aquisições.

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31

A documentação a que se refere o Guia PMBOK (PMI,2008) inclui

informações a respeito dos resultados prévios, sejam a respeito das

decisões de seleção de projetos, sejam das informações de

desempenho de projetos, além das geradas pelo esforço realizado no

gerenciamento de risco do projeto, e devem ser armazenados para

que componham o banco de dados histórico do projeto e da

organização executora, para futura utilização.

A realização do processo de coleta, avaliação e armazenamento é

importante para a aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos, pois um

dos facilitadores para gestão do conhecimento consiste na capacidade

de construção destas lições (Ericeira, 2007).

O Quadro 2 apresenta as Lições Aprendidas e Boas Práticas

organizadas por área de gerenciamento do projeto ou fase, segundo

Dinsmore (2009). São sugestões baseadas na experiência de campo,

que ampliam aquelas recomendadas pelo Guia PMBOK (PMI, 2008), e

servem como exemplo da compilação proposta por tal processo.

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32

Área de Gerenciamento ou

Fase

Lições Aprendidas ou Boas Práticas

Iniciação A equipe deve revisar as lições aprendidas nos esforços de processos anteriores durante a fase inicial do planejamento.

Os riscos devem ser identificados e gerenciados.

Planejamento As atividades devem ser gerenciadas para assegurar a conformidade dos produtos, às especificações e à declaração de trabalho.

Planos devem endereçar gerenciamento de riscos.

Execução Embora aja experiência passada com os parceiros, isto não livra novas interações do risco.

É uma boa medida que o fornecedor possa “ouvir e entender” o cliente final e assegurar que o resultado final seja bem sucedido.

Encerramento Cancelar projetos pode ser muito custoso.

Não cancelar projetos também pode ser igualmente custoso.

Termos e Condições do contrato devem definir claramente o processo de encerramento e o método do pagamento envolvido.

Gerenciamento do Projeto

Especificações e declarações de trabalho detalhadas reduzem as potenciais reivindicações futuras de mudança de escopo.

Terceirização deve ser encarada como sendo um projeto apoiado por um gerente de projeto e um plano.

Compras recorrentes de commodities também precisam aceitação técnica e gestão de mudanças.

Interfaces com o vendedor devem ser controladas pelo comprador e o gerente do projeto para prevenir mudanças de escopo não autorizadas.

Quadro 2: Lições Aprendidas e Boas Práticas organizadas por área de gerenciamento do projeto ou fase, adaptado de Dinsmore (2009).

Conforme o exposto, o Guia PMOBK (2008) avalia as informações

históricas e base de conhecimento como importante componente dos

ativos de processos organizacionais a serem aplicados no

gerenciamento os projetos. Se observados estes insumos como

resultado da aprendizagem decorrente da experiência da execução

das atividades necessárias para consecução dos projetos, a realização

do processo de coleta, avaliação e armazenamento destes, pode se

configurar em um elemento fomentador para a aprendizagem no ciclo-

de-vida dos projetos, pois um dos facilitadores para gestão do

conhecimento consiste na capacidade de construção destas lições

(Ericeira, 2007).

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33

2.4.

Aprendizagem

Para Garvin:

“Uma organização que aprende é aquela habilitada

a criar, adquirir, interpretar, transformar e reter

conhecimento e, propositadamente, modificar seu

comportamento para refletir novos conhecimentos.”

(1993, p. 80).

As organizações que aprendem devem deter (Garvin, 1993)

habilidades para executar cinco atividades: sistematização para

solução de problemas; experimentação; aprendizado com suas

próprias experiências passadas; aprendizado com as experiências e

boas práticas de outros; e, transferência do conhecimento rapidamente

e eficientemente para a organização.

2.4.1.

Aprendizagem e Lições Aprendidas

Segundo Heijst et al. (1996), as lições aprendidas podem ser utilizadas

para melhorar o desempenho da organização no futuro. O modelo de

aprendizado apresentado na Figura 9 evidencia as interações e conexões

existentes entre o indivíduo, a comunicação e o repositório no processo

de aprendizagem organizacional. O conceito de aprendizagem introduzido

por Heijst et al. (1996) define lições aprendidas - lessons learned - como

um processo de aprendizagem organizacional, que pode ser definida

como sendo um processo de detecção e correção de erros. O termo

lessons learned é definido pelos autores como sendo as experiências, ou

insights, negativas ou positivas que podem ser usadas para melhorar o

desempenho da organização no futuro.

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34

Figura 9: Tipos de aprendizado e suas interações e a relação com o processo do conhecimento.( Heijst et al ,1996).

Em nível global, Heijst et al (1996, p. 42) distingue duas formas de

aprendizagem organizacional: top-down Learning – ou seja, do nível

estratégico para o operacional - e bottom-up – o contrário da primeira,

ou seja, do nível operacional para o nível mais alto da organização.

Na primeira, também chamada de aprendizagem estratégica, uma

área em especial é identificada e reconhecida como promissora pela

organização, e delibera ações aplicadas para adquirir aquele

conhecimento. A segunda forma destaca pelos autores refere-se ao

processo onde um trabalhador, do nível gerencial ou do “chão de

fábrica” aprende lições as quais devem ser utilizadas, e tais lições

aprendidas são distribuídas pela organização. O foco dos estudos

daqueles autores concentrou-se em analisar a forma bottom up,

porque, segundo eles, esta forma é centrada em torno de onde as

lições aprendidas são concebidas, e subdivide em três formas de

aprendizagem que podem ocorrer em paralelo (Figura 9):

Aprendizagem

Individual

Aprendizado

através da

comunicação

Aprendizado

através do repositório de

conhecimento

Processos de

Aprendizado

Processos de

Conhecimento

Desenvolvimento do

Conhecimento

Combinação do

Conhecimento

Distribuição do

Conhecimento

Consolidação do

Conhecimento

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35

Aprendizagem individual;

Aprendizagem através da comunicação; e,

Aprendizagem através do repositório de conhecimento.

2.4.2.

Aprendizagem Individual

Uma assunção básica do modelo de aprendizagem apresentado é

que a aprendizagem organizacional é baseada na aprendizagem

individual: trabalhadores adquirem experiência com a sua forma de

realizar suas atividades e utilizar estas para promover melhorias no

processo de trabalho (Figura 10).

Figura 10: Aprendizagem individual nas organizações (Heijst et al, 1996).

O processo apresentado no diagrama funciona da seguinte maneira.

Trabalhadores realizam tarefas diariamente e desenvolvem sua

experiência. Com base nestas experiências, eles contribuem com

idéias sobre como o processo de trabalho pode ser melhorado. De

acordo com a conjuntura da organização, eles devem imputar seus

novos insights na prática laboral e validar – ou não – suas lições

aprendidas. Entretanto, para que tal processo ocorra, é necessário,

anteriormente, duas condições serem satisfeitas: (i) os trabalhadores

Experiência

no trabalho

Aprendizagem

individual

Aplicação de

lições aprendidas

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36

precisam ter retorno sobre suas performances – eles precisam saber

os impactos de suas atuações nos processos os quais estão

envolvidos; (ii) os trabalhadores precisam ter certa liberdade para

decidir de que forma executarão suas tarefas – se isso não ocorre, os

trabalhadores não podem experimentar.

2.4.3.

Aprendizagem Através da Comunicação

Um segundo aspecto da aprendizagem organizacional é centrado

em torno do conceito de comunicação, conforme ilustrado na Figura

11. O diagrama demonstra que o aprendizado através da comunicação

inicia-se de forma individual, mas suas experiências são

compartilhadas com seus pares na organização. Comparado com o

aprendizado individual, o aprendizado através da comunicação é mais

eficiente. Isto, porque, o processo de comunicação influencia a

articulação das lições aprendidas, e podem ser aplicadas por outras

pessoas da organização. Pode se distinguir duas formas de

aprendizado através da comunicação: aprendizagem dirigida por

fornecedor e aprendizagem dirigida por demandante. Na primeira, um

trabalhador, individualmente, encontra uma maneira de aprimorar seu

processo de trabalho e comunicá-lo a seus colegas de trabalho,

enquanto na segunda, um trabalhador reconhece um problema no

processo de trabalho atual e solicita aos seus colegas de trabalho que

estes apontem alguma solução para aquele problema.

Figura 11: Aprendizagem organizacional através da comunicação.

Expeiência

no trabalho

Aplicação de

lições aprendidas

Comunicação

Aprendizagem

pelos outros

Aprendizagem

individual

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37

Os autores destacam três opções para se realizar a comunicação:

Personal casting: envio da mensagem apenas às

pessoas diretamente envolvidas.

Broadcasting: envio da mensagem para um

departamento ou organização.

Narrow casting: envio da mensagem a todos os

interessados.

Tendo em vista que o aprendizado através da comunicação é baseado

no aprendizado individual, necessita dos mesmos pré-requisitos

daquela forma de aprendizado, adicionado de mais dois: (i) deve

existir possibilidades de comunicar experiência entre os colegas de

forma regular;(ii) a organização deve ter um clima organizacional no

qual haja retorno pela comunicação de lições aprendidas – inclusive

experiências negativas. No processo de aprendizado através da

comunicação, o conhecimento é desenvolvido, distribuído e

possivelmente combinado com o conhecimento de outras partes da

organização.

2.4.4.

Aprendizagem Através do Repositório de Conhecimento

Um terceiro aspecto da aprendizagem organizacional identificado

por Heijst et al (1996, p. 44), tem seu foco no armazenamento das

lições aprendidas em alguma forma de repositório para então ser

acessado e utilizado quando necessário, conforme representado na

Figura 12.

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38

Figura 12: Aprendizagem organizacional através do repositório de

informações.

Este processo é similar ao de aprendizado pela comunicação, mas

neste, a comunicação é coletada, estocada e resgatada. Para isso, a

memória da organização deve ser coletada, ativa ou passivamente.

Ativar tal coleção significa que pessoas na organização irão investigar

processos de comunicação com objetivo de detectar lições

aprendidas. A coleta de forma passiva ocorre quando os trabalhadores

reconhecem por si próprio valor suficiente para armazenar

determinado aprendizado ou conhecimento na memória corporativa.

Ambas as formas de coleção do conhecimento necessita de critérios

bem definidos para decidir o que é uma lição aprendida. O processo

de armazenagem das lições aprendidas envolve duas atividades:

avaliar as lições aprendidas coletadas e indexá-las. Tais passos são

opcionais, mas caso não sejam realizados será mais difícil recuperar a

informação. Avaliar as lições aprendidas deve envolver a resposta às

seguintes questões:

Esta lição é realmente nova?

Esta lição é consistente com as informações já

armazenadas na memória da corporação?

Esta lição é independente ou deve ser integrada com

documentos já armazenados na memória da corporação?

Esta lição é aplicável o suficiente para ser utilizada?

Experiência

no trabalho

Aplicação de

lições aprendidas

Recuperação / distribuição

Coleção de lições aprendidas

Aprendizado

individual

Armazenamento

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39

Dependendo do resultado desta avaliação, a qual as lições aprendidas

devem ser submetidas, esta será aceita, com ou sem a necessidade

de ser editada, ou rejeitada. No caso desta ser armazenada, o

conhecimento na memória da organização poderá ser distribuído ativa

ou passivamente. No caso de recuperação, os trabalhadores

observam que precisam de partes de informação, ou peças do

conhecimento e consultam a base de dados corporativa. No caso de

distribuição, é decidido que parte da informação deve ser repassada a

um grupo de trabalhadores da organização, iniciando o processo de

aprendizagem pela comunicação. É requisito básico para aplicação

desta forma de gestão do conhecimento que a organização mantenha

algum tipo de repositório do conhecimento. Além disso, os

trabalhadores têm que ser motivados a escreverem aquelas lições e

submetê-las a serem armazenadas. Com a utilização de repositórios, o

conhecimento é desenvolvido, armazenado e distribuído Heijst et al

(1996).

Deve-se enfatizar que os três tipos de aprendizagem são

complementares e ocorrem em paralelo. Estes três tipos de ciclo de

aprendizagem podem interagir de formas imbricadas. Normalmente, os

trabalhadores irão, inicialmente, testar a lição aprendida aplicando,

eles mesmos, o novo conhecimento. Então, eles irão comunicar os

resultados para seus companheiros de trabalho, e se aquela lição é

realmente efetiva, finalmente será inclusa em um guia ou manual

operacional, que fazem parte do repositório do conhecimento da

organização. Quando do resgate para implementação da memória da

organização, estas interações devem ser captadas destes relatos e

aplicadas às atividades a serem realizadas. De outra forma, a memória

acumulada no repositório de conhecimento não irá melhorar a

capacidade de aprendizagem daquela lição.

Em resumo, os requisitos que devem ser satisfeitos para adequada

geração e gestão da memória da organização são:

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40

1. Deve ser fácil para os trabalhadores acessar o conhecimento da

memória da organização para facilitar a aprendizagem individual

por combinação.

2. Deve ser fácil para os trabalhadores decidir quais companheiros de

trabalho poderiam necessitar do conhecimento para uma atividade

em particular.

3. Deve ser fácil para os trabalhadores decidir quais companheiros de

trabalho poderiam se interessar por determinada lição.

4. Deve ser fácil, e gratificante, para os trabalhadores submeter uma

lição aprendida à memória da corporação.

5. Deve haver critérios bem definidos para decidir se é uma lição

aprendida, como deve ser formulada e onde deve ser armazenada.

6. Deve haver mecanismos para manter a memória da corporação de

forma consistente.

7. A memória da corporação deve ter a facilidade de distribuir novas

peças do conhecimento àqueles trabalhadores que delas precisam.

2.4.5.

Aprendizagem Através de Projetos

Outros autores realizaram estudos recentes que demonstram que as

organizações têm utilizado, com freqüência, projetos como veículo

para atingir o aprendizado organizacional, com aplicação, também,

das informações históricas e lições aprendidas. Brady e Davies (2004),

por exemplo, fornecem um modelo para aprendizagem organizacional,

que consiste na interação processos – ou fases - de aprendizado, a

fim de criar e explorar os recursos organizacionais e capacidades

necessárias para aumentar a performance das rotinas e atividades dos

projetos.

Na Fase 1, ‘projetos de vanguarda’ orientam o caminho para novas

estratégias ou tecnologias e colaboram para o ganho de experiência

sobre aquela nova atividade. Na Fase 2, o aprendizado ‘projeto-a-

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41

projeto’ é predominante e o objetivo é capturar e transferir as

experiências e insights dos participantes dos ‘projetos de vanguarda’

para os projetos subseqüentes. Como facilitadores de aprendizagem

membros principais das equipes dos ‘projetos de vanguarda’ podem

transportar seu trabalho para os projetos subseqüentes. Relatos, times

de aprendizagem, lições aprendidas e outros mecanismos formais,

com base em Tecnologia da Informação, como Intranet e banco de

dados – repositórios de lições aprendidas - são desenvolvidos para

codificar o conhecimento retido e transferi-lo para as equipes de

projetos. Quando um número suficiente de novos tipos de projetos é

realizado, surge oportunidade para que ocorra a Fase 3, o

aprendizado de ‘projeto para organização’. Busca-se, então, consolidar

o aprendizado inicial para sistematicamente distribuir o conhecimento

acumulado para os departamentos e unidades de negócio ou

empresas. Estas etapas envolvem a implementação de novos padrões

de processos e ferramentas de Tecnologia da Informação. O objetivo

deste modelo é refinar e estender as capacidades e rotinas à toda

empresa, de forma a aproveitar novas tecnologias, o que para os

autores significa a transição da exploração para o aproveitamento

destas.

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3

Metodologia da Pesquisa

3.1.

Tipo de Pesquisa

Neste estudo optou-se pela pesquisa qualitativa a partir de uma

metodologia de investigação fenomenográfica com o objetivo de tentar

descobrir quais fatores colaboram ou comprometem a aprendizagem

no ciclo-de-vida de projetos em empresas públicas e organizações

governamentais. A pesquisa fenomenográfica tradicional busca

investigar, de forma qualitativa, diferentes formas pelas quais os

indivíduos entendem um particular fenômeno ou aspecto do mundo

que os rodeiam (Marton & Pong, 2005).

Tal abordagem de pesquisa foi desenvolvida, inicialmente, na

década de 70 por um grupo de pesquisadores da área de educação da

Universidade de Gothengurg, na Suécia, na busca de descrever, a

partir do olhar dos estudantes, por quais motivos algumas pessoas

tem um aprendizado melhor que outras (GIBBINGS, 2008;

SANDBERG, 2000). Para Marton & Pong (2005) a Fenomenografia é

uma pesquisa que tem como objetiva descobrir e sistematizar as

formas de pensamento conforme a interpretação dos indivíduos sobre

aspectos da realidade, cujo propósito é a descrição, análise, e o

entendimento de experiências.

O instrumento de pesquisa utilizado para levantamento de dados é

composto por um roteiro de entrevista semi-estruturado, que visa

extrair revelações em relação à Aprendizagem a partir das respostas

fornecidas pelos gestores de projetos, praticantes da disciplina de

Gerenciamento de Projetos proposta pelo Project Management

Institute – PMI, que vivenciam experiências de Gestão de Projetos em

empresas públicas e organizações governamentais, e ainda, quais

seriam os fatores que favorecem ou comprometem tal aprendizagem

no ciclo-de-vida dos projetos (Chen & Partingtong, 2006). O processo

de análise dos dados percorreu as seguintes fases, conforme sugerido

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43

por Creswell (2010): organização e preparação dos dados para

análise, através da transcrição das entrevistas em conjunto com as

notas de campo; leitura das entrevistas transcritas e das notas de

campo com o intuito de obter uma percepção geral das informações e

refletir sobre seus significados na busca de entender quais idéias

gerais que estão sendo apresentadas; detalhamento da análise

através da codificação, ou seja, da organização do material a partir

dos fatores observados; e, análise dos fatores a partir da fala dos

entrevistados e da interpretação do pesquisador.

3.2.

Perfil do Pesquisador

Sou Administrador de Empresas, tendo iniciado minhas atividades

na área da administração em 1987. Tenho atuado na área de saúde

na última década, iniciando minhas atividades como consultor na

Agência Nacional de Saúde Suplementar no início de 2002, e tomando

posse como servidor público federal de carreira, no cargo de Analista

Administrativo, na especialidade de Administração, em agosto de

2005. Atuo na área de gerenciamento de projetos onde exerço a

função de gestor de projetos, tendo liderado o Projeto de

Desenvolvimento de Metodologia de Gerenciamento de Projetos para

a ANS, e estando atualmente responsável pelo Projeto de

Implementação de Gerenciamento de Projetos em TI. Tais projetos

são desenvolvidos em nível governamental, situados no campo da

saúde, mais especificamente, para dar suporte às atividades de

regulação da saúde suplementar no Brasil

Iniciei minha instrução na disciplina de Gerenciamento de Projetos

em 2007, e desde então, tenho participado de congressos e

seminários, nacionais e internacionais, bem como de treinamentos

mais específicos relacionados à implementação de escritórios de

projetos. Estou me preparando para ser avaliado pelo Project

Management Institute – PMI, instituição da qual sou associado, a fim

de adquirir a certificação PMP, Project Management Professional.

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44

Creio que minha experiência profissional em diversas organizações,

públicas e privadas, e em diferentes níveis organizacionais e

diferentes funções, colaboram para concepção de uma visão mais

ampla em relação ao tema em estudo.

3.3.

Seleção de Sujeitos

A seleção de sujeitos foi feita a partir da rede de relacionamentos do

pesquisador e da indicação destes, respeitando os seguintes critérios:

1. O indivíduo devia ser praticante da disciplina de gerenciamento de

projetos proposta pelo PMI, e, portanto, conhecedores dos

princípios de tal disciplina, bem como das boas práticas descritas

no Guia PMBOK (PMI, 2008);

2. O indivíduo devia ter vivenciado experiência em gestão de projetos

em empresas públicas ou organizações governamentais.

Foram selecionados 16 indivíduos, indicados dentre a comunidade de

praticantes da disciplina de gerenciamento de projetos. Além dos

servidores - civis e militares – de carreira, foram também entrevistados

gestores de projeto, que, no momento da entrevista, estavam

contratados por empresas privadas, estando ou tendo estado alocados

como consultores ou prestadores de serviço em empresas públicas ou

organizações governamentais como: Agência Nacional de Saúde

Suplementar – ANS, Agência Nacional do Cinema – ANCINE,

Petrobrás, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social -

BNDES, Marinha do Brasil – MB, Departamento de Informática do

SUS – DATASUS, e das empresas privadas CTIS e TREVIT, ambas

prestadoras de serviço para empresas públicas ou organizações

governamentais. O Quadro 3 consolida o perfil dos entrevistados,

apresentando o gênero, seu nível hierárquico – pleno ou sênior - e o

tipo de vínculo contratual com as empresas públicas ou organizações

governamentais – Servidor Civil, Servidor Militar, Terceirizado ou

Consultor.

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45

Id Sexo Nível Tipo

E1 Masculino Sênior Terceirizado

E2 Masculino Sênior Consultor

E3 Masculino Sênior Servidor Civil

E4 Feminino Pleno Terceirizado

E5 Masculino Sênior Servidor Civil

E6 Feminino Pleno Terceirizado

E7 Feminino Pleno Servidor Civil

E8 Masculino Pleno Terceirizado

E9 Feminino Pleno Servidor Civil

E10 Masculino Pleno Servidor Civil

E11 Feminino Sênior Servidor Civil

E12 Masculino Pleno Servidor Civil

E13 Masculino Pleno Servidor Civil

E14 Masculino Sênior Servidor Civil

E15 Masculino Pleno Servidor Civil

E16 Masculino Sênior Servidor Militar

Quadro 3: Perfil dos Entrevistados

3.4.

Procedimento de Coleta e Registro de Dados

Como o objetivo de estudo se relaciona diretamente com a disciplina

de Gerenciamento de Projetos conforme proposta pelo PMI, optou-se

por utilizar os princípios, conceitos, e boas práticas conforme descritas

no Guia PMBOK (PMI, 2008) como base do roteiro de entrevista,

incluindo, em seguida, questões relacionadas à noção e experiência

relativas à aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos. Foi perguntado

aos entrevistados sua interpretação a respeito dos conceitos básicos

de gerenciamento de projetos, como também a respeito do conceito de

aprendizagem sob a ótica daqueles profissionais. Utilizando, como

base, o roteiro exposto na no Quadro 4, inspirado em Chen &

Partingtong (2006), utilizou-se de entrevistas semi-estruturadas,

conduzidas de forma aberta, a fim de possibilitar que os entrevistados

se aprofundassem nas respostas sem necessária intervenção do

pesquisador. As entrevistas foram realizadas no período de 14 de

junho a 2 de julho de 2012, durando, em média, cerca de quarenta

minutos cada.

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46

Quadro x: Roteiro de Entrevista

Quadro 4: Roteiro de Entrevista

Abertura

1. Você poderia falar de sua carreira até o presente momento?

2. Você poderia falar de sua experiência em projetos? Fale-me um pouco

mais sobre isto.

Núcleo

3. O que significa Gerenciamento de Projetos para você?

4. Quais os principais aspectos da atividade de Gerenciamento de Projetos

para você?

5. Quais as atividades de Gerenciamento de Projetos mais importante para

você?

6. O que você entende por aprendizagem? Fale-me mais sobre isso.

7. Como se dá a aprendizagem durante a realização dos projetos? Poderia

me dar algum exemplo?

8. Para você, quais aspectos podem colaborar para a aprendizagem durante a

realização do projeto? Poderia me dar algum exemplo?

9. E quais aspectos podem comprometer a aprendizagem durante a

realização do projeto? Poderia me dar algum exemplo?

10. Qual a importância da aprendizagem durante a realização dos projetos

para empresas públicas ou governamentais? Fale-me um pouco mais

sobre isso.

11. Qual a atividade mais importante para a aprendizagem durante a

realização dos projetos? Poderia me dar algum exemplo?

12. Para você, a aprendizagem está relacionada ao sucesso do projeto? De

que maneira? Poderia me dar um exemplo?

13. Qual a primeira ação que você proporia para colaborar para aprendizagem

durante a realização do projeto?

Encerramento

14. O que você mais gosta na sua experiência profissional na realização de

projetos? Por quê? Poderia me dar um exemplo?

15. O que você menos gosta na sua experiência profissional na realização de

projetos? Por quê? Poderia me dar um exemplo?

Fala livre do entrevistado

16. Existe mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre seu trabalho ou

sobre aprendizagem no gerenciamento de projetos?

(Adaptado de Chen & Partington)

Page 60: Alexandre Spiguel F de Santa Anna Aprendizagem no … Lennon . Resumo Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha. Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos

47

Todas as entrevistas foram realizadas pessoalmente, o que

favoreceu a interação entre o entrevistador e o entrevistado, e foram

gravadas utilizando-se o software Áudio Notes, que possibilita o

assinalamento daqueles pontos que chamam a atenção do

pesquisador no exato momento da entrevista, colaborando para a

transcrição das respostas, como também para o replay das gravações

no dado momento desejado pelo pesquisador, ou seja, aquele

assinalado anteriormente. Aquelas colocações que, na interpretação

do pesquisador, se destacaram das demais, seja por repetição seja

por diferenciação, foram transcritas em uma tabela, para que, de

acordo com a prática da pesquisa fenomenográfica, pudesse se extrair

categoria de significados para os trechos transcritos. As entrevistas

cessaram quando o pesquisador entendeu que ocorreu uma saturação

nas respostas dos entrevistados.

3.5.

Limitações do Método

Entrevistas com profissionais da área de gerenciamento de projetos,

como qualquer pesquisa de campo, possuem limitações que o

pesquisador deve conhecer, no intuito de mitigar seus efeitos. No caso

da pesquisa qualitativa, uma delas encontra-se na maneira de seleção

dos sujeitos, pois “existe chance de que as opiniões, visões,

posicionamentos, e sentimentos dos gerentes de projetos

selecionados não sejam totalmente representativos de suas realidades

e contextos de trabalho e relacionamento” (Rego, 2010, p. 121).

Portanto, optou-se por uma delimitação de profissionais atuantes em

projetos de que vivenciam experiências de Gestão de Projetos em

empresas públicas e organizações governamentais. Além disso,

segundo Creswell, a pesquisa qualitativa é fundamentalmente

interpretativa, estando o investigador envolvido em uma experiência

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48

sustentada e intensiva com os participantes. Com isso, são inevitáveis

as interpretações pessoais na análise de dados qualitativos.

Outra limitação é quanto à veracidade e precisão das respostas

fornecidas pelos entrevistados, além do quê, tais repostas podem

sofrer interferências da atuação do pesquisador no momento da

entrevista (Armony, 2010).

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4

Análise e Discussão de Resultados

4.1.

Introdução

Neste capítulo, buscaram-se identificar quais fatores os profissionais

atuantes na área de projetos, praticantes da disciplina de

Gerenciamento de Projetos proposta pelo Project Management

Institute – PMI, e que vivenciam experiências de Gestão de Projetos

em empresas públicas e organizações governamentais, percebem que

favorecem ou comprometem a aprendizagem no ciclo-de-vida dos

projetos. Foram selecionados fatores que na análise de dados

apareceram de forma mais enfática, seja pelo número de vezes, seja

pela sensibilidade do entrevistador, a partir de seu ponto de vista como

praticante da disciplina de gerenciamento de projetos em organização

governamental.

4.2.

Gerenciamento de Projetos e Aprendizagem sob a Ótica

dos Entrevistados

Os resultados da pesquisa foram analisados a partir dos fatores que

percebidos pelo pesquisador, pela interpretação das respostas às

perguntas sugeridas no roteiro de entrevista e notas de campo

(Creswell, 2007). Tais fatores formaram seis grandes blocos, dos quais

alguns puderam ser percebidos ou materializados de diferentes

maneiras durante a realização dos projetos em empresas públicas e

organizações governamentais, conforme proposta da pesquisa. Para

apresentação e discussão dos resultados, a seguir, foi utilizada a

abordagem de passagens narrativas para comunicar os resultados da

análise sob a ótica do pesquisador, utilizando as lentes teóricas

(Creswell, 2007) e de boas práticas de: Gerenciamento de Projetos,

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50

com foco principal no Guia PMBOK (PMI, 2008); e, Aprendizagem,

com foco principal naquela proposta por Heijst et al. (1996), que

relaciona os processos de aprendizagem com as lições aprendidas,

podendo também, lançar mão de outros autores e suas proposições a

fim de completar este arcabouço teórico. Até mesmo pressupostos ou

marcos legais podem contribuir para análise e discussão. Antes de

focarmos na análise de cada fator, será apresentada, a fim de melhor

contextualizar o ambiente de gerenciamento de projetos daquelas

instituições, bem como a interpretação do termo aprendizagem, a

percepção dos entrevistados a respeito de tais temas.

4.2.1.

Gerenciamento de Projetos para os Entrevistados

Pelas respostas dadas às perguntas relativas ao assunto, pode ser

percebido um nível de conhecimento homogêneo dos princípios, boas

práticas e outros aspectos e detalhes da disciplina de gerenciamento

de projetos, conforme proposto pelo PMI e apresentado no Guia

PMBOK (PMI, 2008). Quando questionados sobre: “_ O que é

gerenciamento de projetos para você?”, um dos entrevistados

remeteu, prioritariamente, aos conceitos difundidos pela instituição

anteriormente citada:

“... para a gente responder isso, a gente sempre é levada

a pensar no Gerenciamento de Projetos analisando todas

as disciplinas da certificação PMI, pegando a bíblia...”

(Entrevistado 1).

O Entrevistado 6 remete a definição clássica apresentada no Guia

PMBOK (PMI, 2008):

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51

“Atender o usuário dentro do prazo, custo, e qualidade

definidos.” (Entrevistado 6).

Uns chamam a atenção para a coordenação e o acompanhamento do

projeto:

“Eu interpreto como... coordenar e acompanhar todo o

projeto em práticas que são difundidas ou utilizadas”.

(Entrevistado 4).

Outros, para as boas práticas que são difundidas por aquele guia:

“Fazer uso de métodos e determinadas boas práticas que

foram aprendidas ao longo desses anos para coordenar

esses projetos que já existem desde o início dessas

civilizações (Entrevistado 8)”

Para o pesquisador, a percepção deste nivelamento sobre o

conhecimento em gerenciamento de projetos entre o grupo de

entrevistados pode colaborar para uma tendência maior de

assertividade na manifestação sobre opinião daqueles - e, portanto,

das repostas dadas - sobre o assunto tratado, o que por sua vez,

pode, também, vir a contribuir para os resultados da pesquisa devido à

melhor compreensão dos indivíduos entrevistados e menor assimetria

de informações à respeito da disciplina ora abordada. Como mais um

exemplo deste nivelamento, a reposta do Entrevistado 9, sintetiza os

principais fundamentos do gerenciamento de projetos conforme

proposto pelo PMI:

“É a forma mais organizada de gerenciar atividades,

projetos, pessoas, dinheiro de uma forma bem

simplificada, usando diversas disciplinas é a forma que a

gente tem de organizar tudo isso para que a um dado

prazo, a um custo pré-definido a gente consiga entregar

determinados produtos”. (Entrevistado 9).

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52

O Entrevistado 14 chama a atenção para os aspectos de unicidade

inerente aos projetos, chamando a atenção para os “desafios” na

realização destes, e para a questão da importância das marcas

deixadas pelos projetos – e, muito provavelmente, pelo gestor e pela

equipe do projeto de forma concomitante - oriundos do seu “sucesso

ou fracasso”:

“Desafio. Fazer alguma coisa que não tem rotina. Fazer

algo que é único e que pode deixar marcas. Às vezes,

boas, às vezes, ruins. Os projetos são sempre

lembrados. Sejam eles de sucesso ou de fracasso.”

(Entrevistado 14).

A respostada apresentada pelo Entrevistado 15 explicita uma visão

sobre gerenciamento de projetos com foco nas pessoas que realizam

o projeto e a importância da “orquestração” destas junto aos demais

recursos do projeto.

“(Gerenciamento de projetos é...) Conseguir fazer essa

orquestração de todos os elementos que estão

envolvidos no projeto, principalmente das pessoas para

que seja atingido o melhor resultado. Você tem os

recursos que estão trabalhando empenhados em

entregar o projeto e também os clientes que vão receber

esse resultado e a gestão dessa transformação que o

projeto resulta que é o grande desafio que o

gerenciamento de projetos vai tentar estudar.

Quantitativamente e qualificativamente, mas tem um

componente humano pessoal muito importante que as

técnicas não conseguem vivenciar.” (Entrevistado 15).

Page 66: Alexandre Spiguel F de Santa Anna Aprendizagem no … Lennon . Resumo Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha. Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos

53

4.2.2.

Aprendizagem sob a Ótica dos Entrevistados

O entendimento a respeito do conceito aprendizagem para os

entrevistados também apresentou certa simetria - da mesma forma

que com o conceito anterior sobre gerenciamento de projetos. Na ótica

do pesquisador este fato pode, novamente, colaborar com os

resultados da pesquisa, pois, pressupõe-se que, se um grupo de

entrevistados demonstra compartilhar um mesmo entendimento sobre

um determinado termo ou conceito, a variabilidade das respostas

dadas poderão estar mais vinculadas à sua opinião, do que a

interpretações errôneas sobre o que está sendo tratado. O

Entrevistado 2 definiu o conceito de aprendizagem de forma próxima

àquelas apresentadas por autores clássicos sobre o assunto:

“É todo e qualquer comportamento, habilidade ou atitude

que você possa aprender ou qualquer informação que

você possa transformar em conhecimento, que possa

agregar valor agora ou no futuro.” (Entrevistado 2).

O Entrevistado 2 completa, ainda, sua noção à respeito de

aprendizagem, introduzindo outra idéia ao conceito:

“Aprendizado, antes de mais nada, é estado de

espírito!”(Entrevistado 2).

O Entrevistado 8 nos remete a noção trazida por Garvin (2000) em

relação a retenção e utilização de novos conhecimentos,

aproximando-o também do aprendizado através de transferência do

conhecimento entre os pares (Heijst et al. 1996).

“A aprendizagem pode ser formal ou informal, pode ter

um aprendizado sozinha, com o auxílio de alguém ou

mesmo até de algum equipamento. É o ato de absorver

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54

conhecimento e também colocá-lo em prática.”

(Entrevistado 8).

A opinião de outro participante da pesquisa remete ao conceito – e

suas formas de ocorrência na organização – como apresentado por

Heijst et al. (1996), mais propriamente, ao segundo aspecto da

aprendizagem organizacional, e que exemplifica bem esta forma de

aprendizagem, centrada em torno do conceito de comunicação, e

onde, mais uma vez, a transferência de conhecimento é realizada

quando os trabalhadores compartilham suas experiências com seus

pares na organização:

“Vou pegar um exemplo bem bacana. Quando você

pensa em uma fábrica de softwares, você tem que ter um

custo baixo para a sua produção, para entregar

programas ou projetos. Você vai ter que contratar

profissionais seniores, que tenham um relacionamento

bom, que gostem de ensinar, que gostem de gente, e

automaticamente vem um monte de gente júnior, com um

custo mais baixo, grudam nesses profissionais, alguns,

não todos, se fosse perfeito seria lindo. E aí há uma

transferência de conhecimento muito legal, o júnior com

aquela agilidade de querer entregar o projeto o mais

rápido possível e o sênior analisando alguns aspectos de

risco e de até por ter experiência, apesar de isto está

escrito em algum lugar que funciona desse jeito, a minha

experiência diz que não funciona, então vamos testar.

Então essa troca é muito legal!” (Entrevistado 2).

As colocações dos entrevistados, também ajudam a esclarecer como

se dá tal aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos, e que serve para

construção do arcabouço conceitual sobre a relação entre os temas

Gerenciamento de Projetos e Aprendizagem, e para nortear a

observação do pesquisador e a extrair as categorias dos fatores de

aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos. A resposta dada pelo

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55

Entrevistado 3 esboça bem a noção também trazida pelos autores

Heijst et al (1996), apontando, agora para o terceiro aspecto de

aprendizagem abordado, onde esta se dá a partir das interações e

conexões existentes entre o indivíduo, a comunicação e o repositório

no processo de aprendizagem organizacional, onde é introduzido o

conceito de lições aprendidas, como um processo de aprendizagem

organizacional, através da detecção e correção de erros, e onde tais

lições aprendidas são definidas pelos autores como sendo as

experiências, ou insights, negativas ou positivas que podem ser

usadas para melhorar o desempenho da organização no futuro:

“Tudo que aconteceu ao longo do projeto, onde você

tinha uma opinião que nem sempre é uma verdade

absoluta e aprender com os erros e acertos nos projetos

futuros. [...] Quando envolvem riscos, eu costumo sempre

anotar, explicando o que eu gastei para poder apresentar

os motivos do porque eu gastei para contornar aquele

risco. Organizar todos os emails e anotar e formalizar

todos os acontecimentos durante o projeto.” (Entrevistado

3).

O Entrevistado 6 apresenta de forma bem definida sua visão sobre o

tema aprendizagem, que se soma de forma coerente às outras aqui

apresentadas colaborando para composição deste arcabouço

conceitual:

“Eu vejo a coisa do dia a dia. Conseguir aprender com os

erros e acertos. Tirar algum proveito dos pontos positivos

e negativos a cada projeto que você está participando

que vai me dar de bagagem para os próximos projetos.

Eu aprendo muito com os acertos, mas principalmente

com os erros, coisas que não deram certo me despertam

mais atenção para que não sejam levadas nos próximos

projetos.” (Entrevistado 6).

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56

Outra resposta, agora no caso, do Entrevistado 5, utiliza o conceito de

aprendizagem pela comunicação e o une a idéia de aplicação de boas

práticas:

“É tentar assimilar com os erros para que eles não

aconteçam de novo. Aprender com os erros dos outros.

Tentar pegar as melhores práticas e os melhores

acontecimentos de algum projeto que você viu e que deu

certo e capturar para os seus próprios projetos.”

(Entrevistado 5).

As opiniões observadas vão se somando e completando a noção

sobre aprendizagem do grupo de entrevistados. Interessante notar,

que, na resposta apresentada pelo Entrevistado 4, é trazido à

discussão o “dia-a-dia” do gerenciamento de projetos como aspecto

oriundo à aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos, que é o foco

principal da pesquisa.

“É o dia a dia, vendo as coisas acontecendo e tomando o

rumo onde as coisas aconteceram certas, fica a lição e

também com os erros o que não funcionou. É um registro

para aprender e aplicar nos próximos projetos...”

(Entrevistado 4).

Pode se notar, que, a partir das repostas dadas, os pesquisados

vinculam aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos às lições

aprendidas no dia-a-dia, como visto anteriormente. No entanto,

atentam também para a dificuldade de realização desta boa prática

importante para o aprendizado e seus reflexos nos projetos

gerenciados:

“É importante (aprendizagem)... sinceramente, eu nunca

trabalhei em uma empresa que a gente usasse aquela

atividade de registrar os erros cometidos e as lições

aprendidas. Eu realmente, nunca vi uma biblioteca de

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57

lições aprendidas nas empresas que eu trabalhei.”

(Entrevistado 7).

Por fim, concluindo este painel de opiniões sobre aprendizagem no

ciclo-de-vida dos projetos, a resposta dada pelo Entrevistado 15 e

apresentada a seguir descreve aspectos oriundos aos apresentados

no referencial teórico, conjuminando os postulados de Garvin (2000),

Heijst et al (1996), e de boas práticas do Guia PMBOK (PMI, 2008),

não necessariamente nesta mesma ordem:

“Aprendizagem é a disciplina de você rever tudo o que

você fez: o que deu certo e o que deu errado, e conseguir

reaproveitar esse conhecimento de alguma forma. Tem

várias formas de se fazer isso: registros, relatórios e

documentação, mas o que funciona de verdade é a troca

de conhecimentos. Esse relacionamento entre as

pessoas que já passaram por situações semelhantes da

empresa ou de outras empresas é a forma mais

interessante de trocar esse conhecimento e tentar não

cometer os erros que outras pessoas ou você mesmo

cometeu na execução de projetos no passado.”

(Entrevistado 15).

4.3.

Fatores que Influenciam a Aprendizagem no Ciclo-de-

Vida de Projetos em Empresas Públicas e

Governamentais

Antes de apresentar os resultados da pesquisa que

apontaram os fatores de aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos,

faz-se mister algumas considerações. Inicialmente, na relação entre os

fatores percebidos e suas diferentes manifestações, e suas

interdependências. Em segundo lugar, sobre a questão destes

aspectos favorecerem ou comprometerem o aprendizado no ciclo-de-

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58

vida de projetos em empresas públicas e organizações

governamentais.

Durante a análise dos dados, a fim de extrair as principais categorias

dos resultados, foram identificados seis fatores principais que

impactam – favorecendo ou comprometendo– a aprendizagem no

ciclo-de-vida de projetos: Comunicação; Liderança; Planejamento;

Integração; Multidisciplinaridade, e Informações. No entanto, por

observação das narrativas no momento da sua revisitação, foram

desdobrados aqueles em outros fatores - talvez de menor vetor do que

os fatores principais, mas que por se aproximar de atividades adstritas

a processos de gerenciamento de projetos, e das habilidades,

ferramentas e técnicas aplicadas a esses, chamaram a atenção do

pesquisador - devendo também ser analisados de forma a apontar

caminhos a seguir para os gestore de projetos em empresas públicas

e organizações governamentais. Portanto, ao longo da análise de

resultados tais subfatores, por assim dizer, também serão

tangenciados. São eles: Patrocínio; Perfil do Líder; Desenvolvimento

de Escopo; Planejamento Inadequado; Execução Inadequada, Lições

Aprendidas; Padronização e Métricas; Distribuição de Informações

Padronizadas; Ausência de Documentação; Capacitação Insuficiente,

Sobre a questão da influência positiva ou negativa dos fatores na

aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, há de se observar o

seguinte: os fatores e subfatores - como explicados no item anterior –

se dividem entre aqueles que poderiam facilitar a aprendizagem, ou

seja, de valência positiva, e aqueles que poderiam comprometer a

aprendizagem, portanto, de valência negativa. No entanto, pode-se

inferir uma relação diretamente proporcional entre essas valências:

quanto mais ênfase receberem os fatores que favorecem a

aprendizagem, maiores serão, provavelmente, as oportunidades de

aprendizagem no ciclo-de-vida. A partir desta inferência, o inverso

também seria verdadeiro: uma menor ênfase – ou inexistência –

destes fatores, por si só, já seriam comprometedores deste

aprendizado, devido ao aspecto lógico desta relação. Não obstante

entender que a não observância de fatores que são positivos para

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59

aprendizagem já seria um dificultador deste processo, foram

destacados outros fatores – ou subfatores, que no caso de ocorrência

durante o projeto poderão influenciar de forma negativa,

comprometendo a aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos.

4.3.1.

Comunicação

Apresentaremos, agora, análise dos resultados com o objetivo de

ajudar a responder a pergunta de pesquisa: o que os profissionais

atuantes na área de projetos, praticantes da disciplina de

Gerenciamento de Projetos proposta pelo Project Management

Institute – PMI, cujas boas práticas estão descritas no Guia PMBOK

(PMI, 2008), e que vivenciam experiências de Gestão de Projetos em

empresas públicas e organizações governamentais, percebem como

fatores que favorecem ou comprometem a aprendizagem no ciclo-de-

vida de projetos? A análise conjunta destes resultados frente aquelas

perspectivas teórica e boas práticas apresentadas visam nos ajudar a

entender como lidar com isso no dia-a-dia.

O fator comunicação foi percebido pelo pesquisador, a partir da

interpretação da transcrição das repostas dadas à entrevista semi-

estruturadas em conjunto com as notas de campo, como fator de

destaque que facilita a aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos.

Existe um senso comum entre os gestores de projetos entrevistados,

de que a comunicação é fundamental para que se dê tal

aprendizagem. Conforme Rego (2010), Gido e Clements (2007), o

Quadro 3 destaca, entre a extensa lista de competências necessárias

ao gerente de projetos, habilidades de comunicação como das mais

importantes, e para Heldman (2009, p. 53):

“O Gerenciamento das Comunicações talvez seja a Área

do Conhecimento mais importante em qualquer projeto. E

a maioria dos gerentes de projetos entende a importância

das boas habilidades de comunicação e também de

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60

assegurar que as partes interessadas recebam

informações sobre status do projeto"

O primeiro processo de gerenciamento das comunicações do

projeto, e que se dá na iniciação do projeto ou fase, é a identificação

das partes interessadas, e como destacado por Freedman (2000) e

pelo PMBOK (PMI, 2008) a equipe do projeto é uma das partes

interessadas (key stakeholders) principais. Neste sentido, a narrativa a

seguir destaca que para favorecer a aprendizagem no ciclo-de-vida de

projetos a atenção do líder do projeto deve estar voltada para manter

um canal de comunicação aberto com a equipe. Quando questionado

sobre, em sua opinião, o que favorece a aprendizagem no ciclo-de-

vida dos projetos, o Entrevistado 5 foi taxativo:

“Ter um canal aberto de comunicação.” (Entrevistado 5).

Heldman (2009) chama a atenção que os processos de gerenciamento

das comunicações aí envolvidos devem assegurar a distribuição e o

compartilhamento das informações com todas as partes interessadas.

Tal aspecto foi colocado pelo Entrevistado 15.

“Comunicação aberta com os envolvidos no projeto e

com outras pessoas de fora, que tem uma visão

diferente, que querem colaborar. Muita gente não é

receptiva a isso e quer se blindar, se fechar. Estar aberto

a qualquer fonte de informação de dentro ou de fora do

projeto.” (Entrevistado 15).

O fator comunicação foi também citado de forma enfática pelos

entrevistados, como o primeiro aspecto importante para

aprendizagem, como a narrativa seguinte explicita:

“Primeiro a comunicação. Sem a comunicação fica muito

complicado. Eu posso saber que está acontecendo

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61

alguma coisa, mas se eu não perceber o que está dando

errado e não relatar isso e se as pessoas responsáveis

não me derem feedback o eu não vou ter aprendido

nada. O que eu vou aprender é que eu preciso ter uma

melhor interação com as pessoas. É importante ter

observação e comunicação com as pessoas que estão

trabalhando no projeto.” (Entrevistado 4).

Também foi destacada a comunicação como fator importante para

aprendizagem no sentido de orientar o conflito – “de idéias, não de

pessoas”. Uma das técnicas utilizadas para resolução de conflitos com

base na estratégia de ganha-ganha é denominada confronto

(Heldman, 2009), e pode ser colaborar para aprendizagem como

sugerido pelo Entrevistado 14:

“Muito conflito... de idéias, não de pessoas. A velocidade,

a percepção de cada pessoa é diferente. Cada pessoa

está envolvida com um aspecto diferente do projeto...

Quando cada um tem um olhar diferente, isso vai gerar

conflito. Precisa ter alguém com mais experiência para

discernir sobre tudo isso, orientar.” (Entrevistado 14).

Esta técnica, também denominada resolução de problemas, é uma das

medidas-chave a ser executada na investigação dos fatos e da melhor

solução para o problema (Heldman, 2009, p. 360). Assim, uma vez

revelados os fatos que respaldarão a solução, a partir da idéia de que,

só existe uma melhor – ou mais adequada naquela ocasião – estes

são apresentados às partes conflituosas decisão torna-se clara.

Durante todo este processo ocorrem oportunidades de aprendizagem

conforme proposto pelo segundo aspecto da aprendizagem

organizacional trazido por Heijst et al. (1996): a aprendizagem pela

comunicação. Completando este ciclo de aprendizagem, Heldman

(2009, p. 361) sugere a técnica de Registro de Questões, que,

segundo a autora “é o local onde são documentados os problemas que

impediram que a equipe atingisse as metas do projeto”, o que vai ao

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62

encontro do terceiro aspecto da aprendizagem organizacional sugerido

por aqueles autores: a aprendizagem através do repositório de

conhecimento. De acordo com esta técnica cada problema deve ser

descrito no registro, junto com nome do responsável pela solução, a

data em que a solução foi encontrada, e o momento em que pode ser

necessária. Tal procedimento se assemelha ao proposto por Heijst et

al. (1996) onde conhecimento é armazenado na memória da

organização para ser distribuído, ativa ou passivamente.

4.3.2.

Liderança

Durante as entrevistas algumas repostas dadas pelos entrevistados a

respeito dos fatores que favorecem a aprendizagem no ciclo-de-vida

de projetos, poderiam remeter-se, também, à comunicação, como no

caso das reuniões de equipe. Foram mencionadas as reuniões

periódicas, com as partes interessadas, incluindo equipe e cliente,

como forma de comunicar os avanços – e atrasos – e o que pode ser

aprendido com essas:

“Ter uma reunião com a equipe. A reunião pode ser

semanal ou quinzenal, mostrar o que está acontecendo

no projeto. As coisas que estão acontecendo, sejam boas

ou ruins O que podemos melhorar ou aprender com

isso?” (Entrevistado 6).

Outro entrevistado também reforçou este aspecto, como veiculo de

aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos:

“Conversando e trocando idéias com outros colegas e

informações com todas as pessoas envolvidas. É de

grande ajuda ouvir as opiniões da área requisitante do

projeto ouvindo o que está muito lento, muito grande, etc.

Essa troca de informações constante entre as pessoas é

a melhor forma de aprender. (Entrevistado 12).

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63

No entanto, apesar destes aspectos envolverem a comunicação, na

ótica do pesquisador com base nas proposições e boas práticas

propostas pelo Guia PMBOK (PMI, 2008) e de outros autores, este

aspectos estariam mais ligadas à Liderança, e ao Perfil do Líder,

envolvendo também questões de Patrocínio, e poderiam comprometer

a aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos. Para Brady e Davies

(2004) os líderes das equipes de projetos podem ser aplicados como

facilitadores de aprendizagem, que teriam condições de trazer para

novos projetos a experiência obtida quando da atuação em ‘projetos

de vanguarda’, através de relatos, times de aprendizagem, e das

lições aprendidas,

Desenvolver a equipe do projeto, apresentando oportunidades

de aprendizado, como colocado pelo Entrevistado 12, é onde o líder

mostra sua importância (Heldman, 2009, pg. 365) “... a direção de um

líder capaz, responsável, que pode comparar efetivamente as

necessidades do projeto (e, consequentemente, da organização) e

realizar tudo isso com sucesso” é fundamental para a gestão – e o

sucesso, é claro – do projeto. Neste sentido parece que o perfil do

líder é mais adequado para auxiliar nesta questão. O Entrevistado 2 dá

um exemplo de como esta interação entre o líder e os liderados é

importante:

“... no dia que o soldado deixa de trazer os seus

problemas seja porque ele acha que você não se importa

ou que você não tem capacidade para resolvê-los é a

hora que você deixou de liderá-lo. Isso é extremamente

análogo ao aprendizado porque na hora que qualquer

pessoa na estrutura deixa de trazer uma opinião porque

ele acha que você não se importa ou não sabe o que

fazer com ela, você deixou de liderá-la e destruiu

completamente o ambiente de aprendizado porque ele

não se sente à vontade de dizer (Entrevistado 2).

Page 77: Alexandre Spiguel F de Santa Anna Aprendizagem no … Lennon . Resumo Sant'Anna, Alexandre Spiguel Fernandes; Pinto, Sandra Regina da Rocha. Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos

64

O Entrevistado 8 é da mesma opinião expressada anteriormente, no

que tange o perfil do líder como fator que pode colaborar com a

aprendizagem:

“Um gerente participativo também colabora para que a

comunicação flua. Um gerente presente que esteja de

olho em tudo que está acontecendo, em todas as ações

dos projetos aumenta mais as chances dele participar de

todas as situações de que o projeto vai vivenciar.”

(Entrevistado 8).

O Entrevistado 6 concorda com a influência do fator de liderança para

a aprendizagem em processos, servindo como mola propulsora:

“A liderança é fundamental, você tem uma equipe com

diversos tipos de pessoas, é necessário conhecer cada

um para saber como motivar cada tipo de pessoa”.

(Entrevistado 11).

Por outro lado, a inexistência – ou ausência – de fatores ligados à

liderança, como comunicação e perfil do líder podem comprometer a

aprendizagem em projetos:

“A falta de comunicação, ter um gerente ausente que não

está próximo do projeto ou da equipe. Mesmo que a sua

equipe seja comprometida, quando falta um pouco de

liderança, fica comprometido alguns aspectos do projeto”.

(Entrevistado 8).

Rego (2010, p. 68) apresenta em seu estudo, pesquisa realizada por

Dvir (2008) com o intuito de investigar o ajuste entre a personalidade

de gerentes de projetos, os tipos de projetos gerenciados e o possível

impacto no projeto. Foram identificados traços de personalidade como:

intuitivo, perceptivo, investigativo, empreendedor, entre outros. Mais

importante: os traços de personalidade que caracterizam os gerentes

de projetos mais ligados ao sucesso do projeto foram: aberto a

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65

experiências, com tendência a assumir riscos, inventivo, investigativo e

empreendedor. Tais características parecem remeter a um tipo de

gerente que troca idéias com outros colegas e informações com todas

as pessoas envolvidas, e se relaciona com seus comandados no

sentido de ouvir seus problemas, aprender com eles, ajudar a resolvê-

los e ainda, responsabiliza-se pelo desenvolvimento das pessoas do

projeto como equipe, ocupando-se sobre suas interações, da

comunicação e do gerenciamento de conflitos (Heldmam, 2009).

Outro aspecto que favorece a aprendizagem no ciclo-de-vida dos

projetos e que também estaria relacionado à liderança – e ao perfil do

líder – trazido pelos entrevistados é o treinamento on the job, ou

coaching, conforme expresso na seguinte colocação:

“ Eu gosto muito da palavra ‘coaching’ [...] é uma

oportunidade que a gente perde em qualquer projeto de

fazer esse aprendizado, essa troca de experiência, talvez

a gente pudesse ter em cada projeto um cara

responsável pelo ‘coaching’, ele ia passar a experiência

dele, aprender e a trocar e ajudar o gerente de projeto a

tocar o projeto, a experiência dele é prática, não é mais

acompanhar cronograma” (Entrevistado 1).

Para Dinsmore (2009, p. 265) “o ‘coaching’ profissional combina

medições de auto-avaliação, testes de personalidade e identificação

do estilo preferido de atuação como feedback sobre os

comportamentos pessoais e profissionais” e recomenda esta prática,

entre outras, como “relevantes ao aprendizado”. No entanto, uma boa

atuação como ‘coaching’ demanda, do líder ou gerente do projeto, um

perfil diferenciado, com conhecimento de outros campos de estudo

como a psicologia, e combina educação e treinamento, ou seja,

capacitação, com anos de experiência de trabalho como outros

profissionais, o que resulta em reflexões extremamente valiosas

(Dinsmore, 2009). Tais características poderão habilitar ao líder do

projeto a orientar sua equipe de modo a intensificar suas forças e

eliminar comportamentos que poderão levar ao insucesso.

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66

Porém, para que as proposições feitas pelos entrevistados a fim de

favorecer a aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos como a

realização de reuniões e dinâmicas em grupo, bem como processos

de ‘coaching’ não basta apenas um líder empreendedor e aberto a

experiências. A ocorrência – ou não – de tais fatores e características

de um projeto e sua liderança está fortemente ligada ao aspecto de

patrocínio do projeto. As boas práticas de gerenciamento de projetos

enfatizam a importância de o projeto ter um padrinho, ou seja, “alguém

com poder para defender o projeto ao longo do tempo” (Rego, 2010, p.

73).

“O que mais compromete são as dificuldades do alto

escalão, dos líderes, gerentes gerais, gerentes

funcionais, diretoria colegiada, em patrocinar a adoção

dessa metodologia, capacitando e incentivando os seus

funcionários.” (Entrevistado13).

Geralmente, este patrocinador é um executivo na organização com

autoridade para delegar funções, gerir recursos e impor decisões

relacionadas ao projeto (Heldmam, 2009), e teria o poder necessário

para criar condições que favoreçam a aprendizagem no ciclo-de-vida

do projeto.

4.3.3.

Planejamento

Os processos e atividades presentes nos processos de

planejamento são realizados para estabelecer o escopo total do

esforço, definir e refinar os objetivos e desenvolver o curso de ação

necessário para alcançar esses objetivos. Tais processos

desenvolvem o plano do projeto e os documentos do projeto que serão

utilizados para executá-lo (PMI, 2008). É também, de acordo com os

entrevistados, importante para o aprendizado. O Entrevistado 4 faz um

resumo quando questionado sobre as atividades que favorecem o

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67

aprendizado durante a realização dos processos, incluindo o

planejamento:

“Planejamento e Comunicação do que foi aprendido,

registrado e o que será feito. Planejar bem e transmitir.”

(Entrevistado 4).

Como em alguns projetos nem toda a equipe participa da fase de

iniciação, podendo assim, interferir neste processo de planejamento,

muitas vezes equipes serão agregadas ao projeto para realizar

entregas específicas. No entanto, estes grupos não puderam

compartilhar das oportunidades durante o planejamento. O

Entrevistado 6 separa em dois momentos, as oportunidades de

aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, incluindo o planejamento:

“Para a equipe, o aprendizado principal está na

execução. Para o gestor o aprendizado começa antes, no

planejamento, e depois, no encerramento.” (Entrevistado

6).

O planejamento adequado das atividades é fundamental para o

sucesso do projeto, ou seja, para disponibilizar tal produto, serviço ou

resultado exclusivo conforme escopo planejado, no prazo definido,

dentro do orçamento acertado e com a qualidade esperada (PMI,

2008). Porém, realizar os processos de planejamento da forma

proposta pela disciplina toma tempo e é um custo que deve ser

considerado na realização do projeto. No entanto, pode ser não

apenas fator de sucesso, mas também de aprendizagem, como

suscitado pelo Entrevistado 2.

“Onde você precisa de mais aprendizado é no

planejamento. Você precisa de mais aprendizagem para

pegar toda a carga de todo mundo que está envolvido

nesse projeto antes de começar o projeto somar para

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fazer o planejamento o mais azeitado possível. Planejar é

a primeira parte. Cinco minutos de planejamento

equivalem à uma hora de trabalho”. (Entrevistado 2).

Visto de outra forma, o planejamento – ou suas outras formas de

manifestação, no caso, de sua ausência – se não realizado da forma

adequada pode se tornar um fator que dificulta a aprendizagem no

ciclo-de-vida de projetos.

“Mas eu acho que o quê compromete sempre tudo e

fazendo a gente trabalhar mais horas, improvisar, é o

quanto ele (o projeto) foi mal planejado. O planejamento

em primeiro lugar é o principal agressor de qualquer

outro.” (Entrevistado 2).

O Entrevistado 15 chama a atenção para este aspecto cultural e das

armadilhas oriundas de um planejamento inadequado das atividades,

como forma de não comprometer a aprendizagem no ciclo-de-vida de

projetos.

“Aumentar a cultura de planejamento... e é necessário um

patrocínio para você não cair nessa armadilha de

sucumbir aos prazos, aos orçamentos ou metas

agressivas. Esses projetos envolvem um processo muito

grande de transformação, principalmente em empresas

públicas que investem em melhorias e isso não se faz em

poucos dias, é um processo contínuo.” (Entrevistado 15).

O aspecto abordado pelo Entrevistado 15, sobre a cultura de

planejamento em projetos, é retomado no âmbito das empresas

públicas, chamando, ainda mais, a atenção do pesquisador para este

fator, ou no caso, na ausência deste:

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69

“... os objetivos das principais empresas públicas no

Brasil há um problema de continuidade e a gente sabe

que planejamento estratégico não se faz para cinco anos,

é uma coisa que se faz em dez ou vinte anos.”

(Entrevistado 2).

Outro fator - ou subfator – que deriva do planejamento, que pode

comprometer a realização das atividades, o sucesso do projeto, bem

como os processos de aprendizagem é o que foi interpretado como

desenvolvimento inadequado de escopo. Quando questionado o que

pode comprometer a aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, o

Entrevistado 5 respondeu:

“Ter uma boa definição do escopo [...] que é um dos

problemas mais sérios que eu tenho aqui na Empresa

XPTO.” (Entrevistado 5).

E complementa, citando este fator em conjunto com outros aspectos

que julgou comprometedor para aprendizagem no ciclo-de-vida de

projetos:

“Rotatividade, falta de comprometimento, mudanças

bruscas de escopos, não criar um bom ambiente de

trabalho mútuo. (Entrevistado 5).

Colaborando, de forma indutora, para o insight do pesquisador no que

tange a manifestação balanceada dos fatores que favorecem ou que

comprometem a aprendizagem de forma a possibilitar que os

praticantes da disciplina de gerenciamento de projetos conforme

proposta pelo PMI possam potencializar aqueles que favorecem a

aprendizagem, bem como de mitigar aqueles que comprometem, a

Entrevistada 7 comenta a importância da relação entre o

desenvolvimento de escopo e as lições aprendidas em outros projetos,

como forma de aprendizagem:

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70

“Você ler tudo e rapidamente ver qual foi o escopo do

projeto, as principais dificuldades, as principais decisões

tomadas, o que deu certo e o que deu errado, para

amanhã quando eu for fazer um projeto parecido já ter o

caminho das pedras.” (Entrevistada 7).

Quando questionado sobre o que pode ser comprometedor para

aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, o Entrevistado 1 remete,

mais uma vez, para os fatores planejamento e desenvolvimento

inadequado de escopo:

“Se eu tenho um prazo apertado, não dimensionei os

riscos e os problemas que foram acontecendo. Outro

agressor bonito é o escopo, se bem que hoje em dia a

gente está ficando mais malandro, todos assinam o

escopo, não pode se colocar nada que não esteja no

escopo e o gerente de projeto tem que zelar por isso.

Mas, é humana, a pressão é diferente e aí o grande

problema é o atraso do projeto, fazendo a gente trabalhar

como um alucinado para entregar e cabe ao gerente

transformar esse trabalho alucinado em alguma coisa útil.

Eu acho que o grande problema é planejamento...”

(Entrevistado 1).

O Entrevistado 13 aponta mais uma vez para estes dois fatores:

“Planejamento. Saber que planejar requer cuidado.

Analisando quem tem o conhecimento necessário para

fazer parte do projeto. Cuidado com o escopo do projeto.

Saber o que está sendo pedido pelo seu cliente porque

vai impactar no custo”. (Entrevistado 13).

Como se trata, principalmente, de um aspecto cultural e de

experimentação na prática de realizar planejamento em gerenciamento

de projetos – pois no Guia PMBOK (2008) não há definição sobre

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71

parâmetros adequados relacionado à duração desta atividade – ao

mesmo tempo em que se faz necessário uma mudança cultural nas

organizações brasileiras como um todo - o que não será tratado neste

trabalho – a experiência de planejar e realizar projetos trará o

refinamento fino que possibilitará os praticantes das boas práticas de

gerenciamento de projetos conforme proposta pelo PMI, encontrar o

percentual de tempo adequado para investir nesta atividade. Em

complemento, o Guia PMBOK (PMI, 2008, p. 46) coloca que, “a

natureza multidimensional do gerenciamento de projetos cria

alimentações periódicas de feedback para análise adicional”. Desta

forma, ao passo que mais informações ou características do projeto

vão sendo agregadas, pode se exigir uma revisão destas para um

planejamento adicional. Tais mudanças - conforme aquelas

comentadas pelo Entrevistado 5: “mudanças bruscas no escopo”, que

ocorrem ao longo do projeto ampliam a necessidade de revisitar um ou

mais processos de planejamento. Este detalhamento, progressivo e

freqüente, do plano de gerenciamento é chamado planejamento por

ondas sucessivas, onde o planejamento e a revisão da documentação

são processos iterativos e contínuos (PMOBK, 2008).

4.3.4.

Integração

Integração é dentre as nove áreas do conhecimento em

gerenciamento de projetos aquela responsável por orientar e executar

os processos e atividades para identificar, definir, combinar, unificar e

coordenar os vários processos e atividades dos demais grupos de

processos de gerenciamento, e pode se manifestar como um fator que

favorece o aprendizado durante a realização de projetos. De acordo

com a narrativa do Entrevistado 11 é um fator importante em todo o

processo de aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos:

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“Integração entre as equipes com um fluxo de

comunicação muito claro... é uma ferramenta para

auxiliar em todo o processo.” (Entrevistado 11).

A fala do Entrevistado 13 é enfática e empolgante na experiência

integradora proporcionada pelo ambiente de projetos:

“Integração. É uma experiência fantástica sentar com

diversas áreas e entender os problemas que eles estão

passando e ajudá-los, iniciando com eles determinado

projeto e dando orientação. Hoje, estamos melhorando a

nossa comunicação. Lidar com pessoas tem facilitado

muito a comunicação interna. Isso facilita a integração e a

troca de experiências entre áreas.” (Entrevistado 13).

Notam-se, mais uma vez, a partir destas narrativas, mais um exemplo

do quanto estão imbricados – como não podia deixar de ser, devido à

natureza progressiva, contínua e iterativa dos processos de

gerenciamento de projetos, conforme já comentado – a menção de

outros fatores que favorecem a aprendizagem no ciclo-de-vida dos

projetos, aqui no caso, a comunicação. O Entrevistado 6 compartilha

do mesmo ponto de vista sobre a influência deste fator. Ele comenta,

ainda, como acha importante este fator para aprendizagem no ciclo-

de-vida de projetos, e remete a outros fatores, como perfil do líder e

patrocínio – dado que, como proposto anteriormente, as reuniões de

equipe não se vinculam, apenas, ao fator comunicação, como

também, aqueles subfatores citados:

“Atividades de integração das equipes. O gestor de

projetos deveria fazer uma reunião para passar

experiência. Saber o andamento mesmo de tudo que está

acontecendo.” (Entrevistado 6).

Por outro lado, a ausência deste fator pode surtir um efeito que pode

comprometer – ou dificultar, a aprendizagem no ciclo-de-vida de

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73

projetos. Ele manifesta sua opinião apontando como a falta de

integração – agora, de pessoas, não somente de processos - pode

impactar, negativamente, no processo de aprendizagem, e até mesmo,

na realização do projeto:

“Fica uma equipe de um lado e outra do outro: as equipes

não se falam, falta integração entre as equipes. Tem

coisas que são desenvolvidas aqui que poderiam ajudar

em projetos de outras áreas. Falta de tempo e pressão na

entrega dificulta esse entrosamento. Seria importante ter

uma visão do todo.” (Entrevistado 6).

A opinião do Entrevistado 4 vai ao encontro da citação anterior,

concordando que a falta de integração pode interferir negativamente:

“A falta da comunicação, rivalidade e falta de

entrosamento e (o perfil de) liderança do gerente

atrapalham a aprendizagem”. (Entrevistado 14).

Um subfator que surge como dificultador para o processo de

aprendizagem é a execução inadequada das tarefas, que pode ser

conseqüência de um plano insuficientemente claro, por exemplo:

“O plano de projeto bom é aquele que deixa claro as

responsabilidades de cada um.” (Entrevistado 14).

Quando não é desenvolvido um bom plano de projeto, onde deixe

claros os papéis e o detalhamento das responsabilidades e atividades

para cada membro da equipe, corre-se o risco de uma execução

inadequada das tarefas. No entanto, essa conseqüência para

execução do plano do projeto pode ser também, segundo opinião dos

entrevistados, por falta de integração entre os processos.

“... a execução do projeto é regra de problemas,

principalmente nas coisas que não dependem de você.

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74

No Governo para você comprar qualquer coisa, você

depende do setor de aquisições do seu órgão. Esse setor

vai seguir os seus trâmites legais, que não são simples.

Nem sempre o que você quer é o que você vai ter.”

(Entrevistado 14).

Outro exemplo do impacto da falta de integração em projetos – e

continuidade – nos processos de gerenciamento de projetos em

organizações governamentais, que pode impactar na execução

inadequada das tarefas e no processo de aprendizagem, é trazido pelo

Entrevistado 8.

“Se perde muito tempo aprendendo de novo. Vou te dar

um exemplo prático: no caso do Governo você tem o

problema da licitação. Nem sempre você consegue

manter aquele fornecedor que já estava ali e essa troca

de fornecedor gera um custo muito alto tanto para o

fornecedor que está chegando ou para o fornecedor que

saiu e para o Governo porque você vai perder tempo para

‘reensinar’ ou reaprender.” (Entrevistado 8).

O Entrevistado 2 traz para a discussão, através da sua opinião sobre o

que pode comprometer a aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, o

aspecto do inter-relacionamento dos fatores e subfatores, no caso:

planejamento, desenvolvimento inadequado de escopo, liderança, e

patrocínio.

“Primeiro um projeto mal dimensionado. Se eu estou com

upload muito alto, eu não tenho tempo para levantar a

cabeça. Se eu não tenho tempo para levantar a cabeça,

eu não tenho tempo para aprender. Isso acontecia muito

em consultoria, em projetos que eu cara dizia eu vendi 40

pessoas em seis meses e a gente chegar para o cliente

para poder ter margem, tô colocando 20 pessoas em

quatro meses. Você trabalha catorze horas por dia

entrega o projeto e não aprende um décimo do que

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poderia ter sido aprendido. Então upload é uma coisa

extremamente pesada para o aprendizado. Outra é

liderança, se você tem um líder ruim que não propicie um

ambiente, você não vai conseguir aprender. Esses são os

dois principais: liderança e upload.” (Entrevistado 2).

Outro participante da pesquisa concorda com o fato de que um

dimensionamento inadequado dos requisitos do projeto – escopo,

tarefas e pessoas necessárias para atendê-lo – pode comprometer a

aprendizagem:

“Uma coisa que sempre compromete é a falta de tempo

para a realização das coisas.” (Entrevistado 3).

O Entrevistado 10 corrobora com a colocação feita anteriormente:

“Excesso de demandas com falta de recursos. Não

priorizamos isso”.(Entrevistado 10).

Completando este painel, o Entrevistado 12 resume a questão:

“Um grande comprometimento são os prazos políticos.

Você tem uma coisa, sabe que essa coisa tem falhas,

tem etapas, mas que você muitas vezes tem que queimar

etapas do processo do projeto para fazer mais rápido,

mesmo sabendo que é inviável fazer daquela forma. Isso

atrapalha muito o andamento das coisas e também o

aprendizado, porque você poderia estar aprendendo a

melhorar com essas coisas que você queimou e você

eliminou etapas importantes.” (Entrevistado 12).

Como colocado no início desta seção, a área do conhecimento

Integração trata da coordenação de todos os aspectos do plano do

projeto e envolve um elevado grau de interação com os demais

processos (Heldman, 2009, p. 48). Essa área envolve a identificação e

definição do trabalho do projeto e a combinação, unificação e

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76

integração dos processos apropriados. Destes processos de

gerenciamento da integração emergirão os requisitos necessários a

entender as necessidades do cliente e das demais partes interessadas

de forma satisfatória e gerenciar suas expectativas. As saídas destes

processos, como o plano de gerenciamento do projeto irão nortear a

execução das atividades necessárias ao escopo do projeto, o que

deverá demandar atenção especial do líder do projeto, bem como do

patrocinador e da equipe envolvida.

4.3.5.

Multidisciplinaridade

Este aspecto relativo à equipe do projeto foi muito explorado pelo

Entrevistado 14 - que já havia chamado a atenção para a questão dos

“conflitos... de idéias”, apontando para a possibilidade desta variedade de

idéias, provavelmente oriunda, dos diferentes perfis dos profissionais

envolvidos no projeto como importante para favorecer a aprendizagem, e

portanto, multidisciplinaridade foi interpretada como um fator que colabora

para tal. Segundo sua narrativa a respeito dos processos que podem

colaborar para aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, o time do

projeto constituir um universo heterogêneo junto aos demais os

envolvidos no projeto, pode favorecê-la:

“Misturar pessoas com tempo de formação e níveis de

experiência diferentes. Não se pode forma uma equipe só

com dinossauros, nem o oposto. Projetos funcionam

melhor com pessoas de diferentes empresas.”

(Entrevistado 14).

Não é incomum tal fato – atuar com equipes multidisciplinares, ou de

diversos perfis profissionais e diferentes instituições – na esfera das

empresas públicas e governamentais, principalmente devido à prática

de terceirizar áreas meio - aquelas que não estão diretamente a

missão ou função institucional – destas organizações, o que pode se

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77

tornar um problema de gestão para o gerente do projetos. “Uma

tendência que assusta o gerente de projetos de TI é a terceirização”

(Dinsmore, 2009, p. 447). Tal prática é muito requerida na área de

Tecnologia da Informação, devido à função de sustentação dada pelos

sistemas de informação e de gestão, e que impacta nos projetos desta

área. No caso das instituições militares, a gama de perfis funcionais

aumenta mais ainda:

“Você tem três conjuntos de pessoas com expectativas

diferentes: militares, civis e terceirizados. Cada um está

por projeto e com todas essas pessoas convivendo. Em

alguns órgãos públicos passam os políticos e com outros

objetivos que não estão ligados a atividade fim. Esse é

um grande desafio do serviço público no mundo.”

(Entrevistado 14).

O Entrevistado 16 coloca a necessidade para o nivelamento da equipe

do projeto, que pode ser fruto da multidisciplinaridade e da diversidade

cultural do time do projeto:

“... mas tem que haver um mecanismo de qualificação da

equipe diretamente envolvida no projeto deveria ter o

mesmo nível de conhecimento dos participantes. Alguns

deveriam ter uma habilidade ou capacitação maior do que

de outro. Muitas vezes a gente só sabe disso na hora do

‘vamos ver’”. (Entrevistado 16).

Se por um lado a multidisciplinaridade - como também a diversidade

cultural – pode colaborar para aprendizagem, se não observado e

nivelado tais aspectos entre todos participantes do projeto, a equipe do

projeto poderá ficar desajustada, e como conseqüência produzir

resultados indesejados ao projeto, como: falta de motivação ou atitude

blasée; insatisfação com as atividades do projeto; transformação das

reuniões de acompanhamento em ‘sessões de lamúria’; comunicação

deficiente; e, principalmente, falta de respeito e de confiança no

gerente do projeto. É possível que a ‘à sorte esteja a favor’ do gerente

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de projetos e este consiga reunir a combinação certa de profissionais

logo de primeira vez. No entanto, caso não ocorra tal combinação de

imediato, caberá ao gerente do projeto, com o apoio do patrocinador, a

montagem e desenvolvimento da equipe do projeto (Heldman, 2009).

4.3.6.

Informações

Por fim, serão apresentados e discutidos os resultados referentes a

este último fator crítico de aprendizado. Para tanto, vale observar que

o fator informações é uma categoria que emerge – e com isso, traz

seus significados – dos seguintes aspectos, ou subfatores,

relacionados ao uso e aplicação das informações, a saber: lições

aprendidas; padronização e métricas; distribuição de informações

padronizadas; ausência de documentação; ausência de portifólio de

projetos; capacitação insuficiente. Tais subfatores também serão

tangenciados nesta última sessão de análise e discussão de

resultados.

Na disciplina de gerenciamento de projetos, área do conhecimento

Comunicação é a responsável pelos processos que garantam que

todas as informações do projeto sejam coletadas, documentadas,

arquivadas e descartadas quando apropriado (Heldman, 2009). O

Entrevistado 9 é taxativo quando questionado sobre quais fatores

podem colaborar para a aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos:

“Acesso a informação. Já temos hoje vários padrões,

uma ferramenta chamada ‘XYZ’ onde se encontram os

nossos principais padrões, a nossa metodologia que para

quem é funcionário próprio. A empresa oferece todo um

processo de capacitação em Gerenciamento de Projetos.

Já é exigido que eles (participantes das equipes de

projetos) tenham determinadas competências técnicas,

que os funcionários trabalhem os seus ‘soft skills’, ...,

tem todo esse embasamento técnico e o aprendizado no

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dia a dia. Temos profissionais com muito tempo de

carreira aqui na ‘XPTO’ e outros que estão chegando e

estamos tendo uma troca muito favorável de

experiências.” (Entrevistado 9).

Neste sentido, a primeira, e talvez, a mais importante, configuração em

que o fator comunicação se desdobra são as lições aprendidas, e, de

acordo com a opinião do Entrevistado 3, são relevantes em se

tratando de empresas governamentais:

“Lições anteriores aprendidas são muito importantes,

principalmente em empresas públicas que tem todo um

trâmite burocrático e governamental que quando você

está acostumado com isso, ajuda agilizar o projeto.”

(Entrevistado 3).

O Entrevistado 12 concorda com o aspecto suscitado anteriormente, e

apresenta sua opinião sobre fatores que colaboram para a

aprendizagem, citando informações e lições aprendidas:

“A nossa atenção nas ocorrências. As próprias

ocorrências vão nos mostrando o que a gente precisa

corrigir e melhorar. Conversando e trocando idéias com

outros colegas e informações com todas as pessoas

envolvidas. É de grande ajuda ouvir as opiniões da área

requisitante do projeto ouvindo o que está muito lento,

muito grande, etc... Essa troca de informações constante

entre as pessoas é a melhor forma de aprender.”

(Entrevistado 12).

Outro entrevistado chama atenção para o potencial deste processo

para construção da base de conhecimento da organização

“A atividade de Gestão do Projeto, as reuniões de ponto

de controle que é onde você efetivamente vai ter insumos

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80

para construir a base de conhecimentos. O

acompanhamento tem que existir.” (Entrevistado 11).

O Entrevistado 5 afirma a importância da definição das métricas do

projeto, sem o qual “não se tem nada”.

“Se você não define métricas, você não define

produtividade, nada. Você pode usar a metodologia que

você quiser, a ferramenta que você quiser, você não vai

ter nada.” (Entrevistado 5)

Foi ressaltado que para adequada utilização das informações, o que

poderá colaborar para aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, é

necessário que o registro e distribuição daquelas, para que todos do

projeto tenham ciência e apresentem um padrão formal, conforme

recomendado pelo Guia PMBOK (PMI, 2008), e que possibilite àqueles

que as recebe apropriar-se, adequadamente, de seu propósito e

relevância:

“Documentar os riscos no termo de abertura. Ter mais

tempo para registrar todas as informações padronizadas

na abertura do projeto. O uso das ferramentas para dar

visibilidade do projeto e segurança para a execução dos

projetos porque todos ficam cientes de tudo que vai

acontecer.” (Entrevistado 10).

A documentação – documentação do projeto e registro de outras

informações relevantes - pode colaborar para aprendizagem no ciclo-

de-vida dos projetos, conforme opinião do Entrevistado 10, que traz à

tona, novamente, o aspecto do gerenciamento das lições aprendidas:

“Documentação. Na hora que acontece o problema, se

percebe a necessidade e não se documenta isso, nós

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81

acabamos esquecendo o que aconteceu no projeto e o

problema vai se repetir de novo em um próximo projeto.

O registro é a melhor maneira de consolidar isso, é a

melhor forma para propor melhorias e colocar em prática

já com a lição aprendida para isso não acontecer de

novo.” (Entrevistado 10).

Por outro lado, a ausência de documentação pode comprometer a

aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, uma vez que a equipe e

demais partes interessadas no projeto não possuem documentos – ou

não é permitido ou estimulado o acesso – onde possam encontrar os

requisitos do projeto e demais informações necessárias para o

adequado gerenciamento do projeto.

“Uma equipe não se falar com a outra. Você acaba

gerando muito retrabalho. Você não tem nenhuma

documentação e você também não tem interação entre

as equipes. Então você acaba não conseguindo

identificar isso mais cedo.” (Entrevistado 6)

Aspectos ligados à capacitação surgem como comprometedores do

aprendizado durante o projeto. Se por um lado a diversidade é bem-

vinda ao ambiente de projetos, o desnivelamento em relação à

capacitação básica – por assim dizer - em gerenciamento de projetos

pode ser prejudicial para aquele processo. O Entrevistado 10 destaca

a importância deste fator – ou subfator – para aprendizagem no ciclo-

de-vida de projetos:

“Capacitação ao longo do projeto, troca de experiência

com projetos de outras pessoas. A troca de diversos

líderes e projetos diferentes é essencial.” (Entrevistado

10)

O Entrevistado 13 endossa a colocação anterior:

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82

“É necessário treinar o seu corpo funcional, capacitando

e ensinando.” (Entrevistado 13).

Se de uma forma as lições aprendidas aparecem como fator que

facilita a aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos durante os relatos,

de outra, tais opiniões apontam certa dificuldade em realizar tais

processos, como introduzido anteriormente. Importante ressaltar a

colocação deste entrevistado com relação à utilização das lições

aprendidas em projetos futuros, e que também remete às métricas do

projeto. Destaca-se, aqui, uma das dificuldades apresentadas pelos

pesquisados em relação a este aspecto do gerenciamento de projetos:

como gerenciar lições aprendidas.

“Eu costumo dizer que no Brasil principalmente é muito

comum armazenar a lição aprendida, mas não usa-la nos

projetos seguintes. Eu até costumo usar bastante o que a

gente armazenou com relação a custo, prazo, esforço,

métrica, tempo e gasto utilizado nas atividades, mas

alguns aspectos eu não dou tanta importância que eu

deveria dar. Uma coisa que a gente percebe é que

quando a gente entra na sala de um cliente novo, seja ele

público ou privado, é que existe uma curva de

aprendizado muito grande, que poderia ser minimizada,

se tivesse informação, ferramental ou algo que pudesse

agregar conhecimento ao fornecedor que está chegando

e minimizar isso.” (Entrevistado 8).

O Entrevistado 7 tece o seguinte comentário sobre a constituição e

utilização deste repositório de informações do conhecimento (Heijst et

al., 1996).

“É importante E, sinceramente, eu nunca trabalhei em

uma empresa que a gente usasse aquela atividade de

registrar os erros cometidos e as lições aprendidas. Eu

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83

realmente, nunca vi uma biblioteca de lições aprendidas

nas empresas que eu trabalhei.” (Entrevistado 7)

A opinião do Entrevistado 8 concorda que tal prática não é utilizada de

forma a explorar todo potencial que esta ferramenta, técnica ou

processo de encerramento detém:

“É uma que não é feita, pouco feita ou feita

informalmente. São as reuniões de avaliação. Ninguém

gosta de contar e muito menos escrever sobre os erros.

Ainda mais quando eles estão ligados a não atingimento

de metas, atividades fora do prazo. Não importa, porque

a atividade é sua. Então, contar e colocar no relatório

ninguém gosta de fazer. Uma atividade importante para a

aprendizagem é colocar onde acertamos e onde erramos,

sempre!” (Entrevistado 8).

Quando argüido sobre qual atividade poderia colaborar para

aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, o Entrevistado 4 remete,

mais uma vez, cita o registro de lições aprendidas:

“Registrando tudo e ter um conhecimento histórico das

ocorrências dos projetos anteriores. Lições boas e ruins

aprendidas.” (Entrevistado 4).

O Entrevistado 8, em sua fala, tenta apontar razões para qual tal

atividade não é realizada como da forma recomendada pelas boas

práticas em gerenciamento de projetos:

“Eu acredito que, culturalmente, o Brasil precisa mudar

um pouco. Em outros países a cultura de lições

aprendidas está mais arraigada do que aqui no Brasil. O

Brasil precisa usar mais essas informações, trabalhando

mais as lições aprendidas e definindo melhores formas

de armazenar as informações. Não podemos esquecer

também daquele aprendizado que a gente identifica lá no

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início do projeto, que de repente aquela equipe vai ter

que sofrer para poder tocar esse projeto. No Brasil, isso

também é muito frágil.O Brasil tem atualmente uma

cultura de redução de custos, diminuindo o treinamento

das equipes ao longo dos projetos. Isso também

atrapalha bastante.” (Entrevistado 8).

Este participante da pesquisa conclui sua explanação remetendo ao

primeiro fator que favorece a aprendizagem apresentado nesta análise

e discussão de resultados – a comunicação.

“Um deles (fatores que favorecem a aprendizagem) que

eu já mencionei é a comunicação, importantíssimo,

porque se você tem um membro da equipe que

presenciou uma situação que poderia ser algo a ser

compartilhado durante o projeto para gerar uma lição

aprendida e se ele não compartilhar isso não vai adiantar

nada. Comunicação é fundamental!” (Entrevistado 8).

No entanto, talvez possamos inferir, a partir dos relatos apresentados,

que se as informações e sua utilização configuradas sobre a forma de

lições aprendidas são importantes para favorecer a aprendizagem no

ciclo-de-vida de projetos, tal processo ou não é realizado, ou não é

realizado como devido. Uma das dificuldades da realização deste

processo foi levantada pelo Entrevistado 11, e talvez seja este, o

principal motivo da negligência deste processo de aprendizagem:

“A grande dificuldade que eu acho é que a maioria das

pessoas não quer é documentar o que elas fazem. É

importante ter um diário de bordo, é importante ter uma

memória de tudo que acontece no projeto para não

perder a percepção de tudo, dos erros e dos acertos para

o conhecimento não se perder no meio do caminho.

Olhar aquele projeto fracassado e saber por que ele

fracassou. É importante ter um grupo ou alguém para

estabelecer como que vai ser essa documentação e se

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trabalhar isso porque as pessoas não querem fazer isso.

Essa memória pode vir de reuniões, troca de

experiências em outros projetos ou outras empresas.

Essa interação entre as áreas e empresas são importante

e também idas a seminários também são importantes

para aumentar a troca de experiências”.(Entrevistado 11).

O postulado de Heijst et al. (1996) prescreve como executar este

processo, de forma a aproveitar todo seu potencial para aprendizagem

no ciclo-de-vida de projetos, e, consequentemente para o sucesso

deste e de projetos futuros. Entretanto, antes de retomarmos tal

postulado serão apresentadas as colocações, em forma de sugestão,

trazidas pelos próprios entrevistados, e onde está subjacente toda a

experiência em gerenciamento de projetos que estes profissionais

agregaram ao longo de anos como praticante da disciplina de

gerenciamento de projetos.

Quando perguntado ao entrevistado qual a primeira ação que você

proporia para colaborar para aprendizagem no ciclo-de-vida de

projetos, o Entrevistado 6 foi enfático:

“Troca das lições aprendidas! Passar experiência do que

foi realizado, pelo menos uma vez por semana e com

todos os envolvidos nas equipes sobre o que está

acontecendo.” (Entrevistado 6).

O Entrevistado 10 compartilha da mesma idéia que o participante

anterior, realçando o fato das diferentes abordagens de processos de

gerenciamento dentro da mesma organização:

“Todos devem contribuir com trocas através de reuniões

semanais ou mensais também seria muito interessante.

Cada área tem uma forma diferente de lidar com o

mesmo processo.” (Entrevistado 10).

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As sugestões vão se somando e apontando para aspectos diversos

desta prática do gerenciamento de projetos ainda a ser explorada em

sua totalidade. O aspecto da documentação de lições aprendidas e do

responsável por cumprir este papel é lembrado pelo Entrevistado 11.

“É importante ter um grupo ou alguém para estabelecer

como que vai ser essa documentação e se trabalhar isso,

porque as pessoas não querem fazer isso. Essa memória

pode vir de reuniões, troca de experiências em outros

projetos ou outras empresas.” (Entrevistado 11).

Mas para que estas reuniões de aprendizagem para troca de

experiências - para realização de ‘feedback’ do que está ou não dando

certo, portanto, de lições aprendidas - tenham sucesso, é necessário

que este processo tenha um responsável, um líder, que motive as

pessoas a participarem do processo, a contribuir, e as aponte o

caminho a seguir, e apresente os resultados da implementação do que

foi apresentado por elas:

“O principal aspecto, tanto para a realização de projeto ou

para qualquer atividade, são os instrumentos que você

usa. No caso da reunião de ‘feedback’, os participantes

terem a exata noção de que, o quê estão levando para

aquelas reuniões, está sendo implementado. Se alguma

ação daquilo que foi levantado, está sendo corrigida.

Quais são os problemas e o que estamos fazendo para

resolver” (Entrevistado 16).

O Entrevistado 3 lembra da utilidade de uma ferramenta, um sistema

de gestão de lições aprendidas, por assim dizer, para auxiliar neste

processo de aprendizagem por repositório do conhecimento.

“Uma coisa que eu achei interessante é que nós criamos

em um projeto, um documento único onde somente ali

eram anotadas as atualizações. É importante fazer esse

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tipo de ligação, legal seria ter uma ferramenta para isso.

Eu nunca usei essa ferramenta, sei que existe o ‘project

server’ que ajuda nisso”

Concluindo este painel amostral das sugestões dos participantes da

pesquisa, o exemplo trazido pela Entrevistada 9, que atua em uma

organização tida como referência em gerenciamento de projetos,

recapitula e organiza as colocações anteriores, como se possível fosse

ter combinado a resposta com os outros participantes da pesquisa.

Este fato, a reincidência deste processo de gestão do conhecimento,

talvez possa denotar o quanto os projetos, e as oportunidades de

aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos, prescindam deste tipo de

prática para ocorrer:

“Nós temos uma forma estruturada de estimular as

pessoas aprenderem durante a execução do projeto

através da identificação de boas práticas, de lições

aprendidas e inserir esses itens de conhecimento na

base e também de buscá-los. As pessoas aprendem, só

que hoje isso fica perdido. Temos uma sistemática e para

alguns tipos de projetos, uma obrigatoriedade de, ao final

do projeto se fazer eventos de lições aprendidas

relacionadas a um grupo de projetos que nós chamamos

de projetos prioritários, que são acompanhados pelo

gerente executivo da área responsável pela gestão do

conhecimento. Obviamente que as pessoas aprendem

com as suas experiências dentro do projeto, só que às

vezes, esse aprendizado se perde no decorrer do tempo

da vida profissional. A pessoa nem sabe como resolveu

determinado problema, e essa base de conhecimentos

nessa comunidade serve para estimular a retenção desse

conhecimento. Nós é que construímos, governamos e

conduzimos essa atividade, e damos suporte para as

áreas que querem aderir.” (Entrevistado 9).

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De fato, a contribuição dada pelo participante da pesquisa vai ao

encontro do postulado de Heijst et al. (1996) e demonstra um alto

nível de maturidade em gerenciamento de projetos daquela

organização a que pertence. Primeiramente, há de se salientar que o

foco dos estudos daqueles autores concentrou-se em analisar a forma

na qual tal processo de conhecimento emerge do ‘chão-de-fábrica’ da

organização - bottom up, e não da alta direção, lócus do qual, segundo

os autores as lições aprendidas são concebidas. Deve se observar

aqui que, segundo Rego (2010), para viabilizar esta prática não basta

apenas um líder empreendedor e aberto a experiências, mas também,

um patrocinador com poder. O processo de aprendizagem foi

subdivido em três formas, que podem ocorrer em paralelo:

Aprendizagem individual; Aprendizagem através da comunicação; e,

Aprendizagem através do repositório do conhecimento. Trataremos,

agora, da Aprendizagem através do repositório do conhecimento, que

tem seu foco no armazenamento das lições aprendidas em algum tipo

de repositório que possibilite acesso quando necessário. Similar ao

processo de aprendizado pela comunicação, este se difere pela

capacidade de resgate da comunicação, dada pela coleta e estocagem

desta. A coleta destas lições pode ocorrer de forma passiva ou ativa,

em relação aos trabalhadores que as compartilham, e necessita de

critérios bem definidos para se distinguir o que é uma lição aprendida.

Avaliar a adequação, ou não, das lições aprendidas, significa

responder a questões concernentes à temporalidade, consistência,

interdependência documental e aplicabilidade daquela. Após esta

avaliação, sendo a informação considerada uma lição aprendida, e

após sua edição, se necessário, pela equipe responsável pela gestão

deste sistema, será armazenada para futuro resgate e utilização pelos

trabalhadores da organização. Ericeira (2007) sugere uma estrutura de

perguntas para armazenamento de lições aprendidas:

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89

Pergunta Detalhamento

O que era esperado acontecer? Descrição da situação inicial quando da aplicação de uma tecnologia ou metodologia e as expectativas que se tinha quanto aos resultados a serem obtidos ao iniciar a experiência.

O que realmente aconteceu? Descrição dos resultados que de fato sucederam quando as ações foram executadas enfatizando os desvios com relação ao previsto, alterações de cronograma, novas oportunidades, correções que se fizeram necessárias, etc.

O que podemos aprender? Análise do que pôde aprendido a partir da experiência obtida.

Aprendizado Organizacional Sugestões de modificação nos processos de trabalho e documentos a fim de evitar resultados negativos ou repetir experiências positivas.

Quadro 5: Informações que compõe lições aprendidas (Ericeira, 2007).

Finalizando, de forma resumida, os requisitos que devem ser

satisfeitos para adequada geração e gestão da memória da

organização sugeridos por Heijst et al (1996) são os seguintes: (i) ser

fácil para os trabalhadores acessar o conhecimento da memória da

organização para facilitar a aprendizagem individual por combinação;

(ii) ser fácil para os trabalhadores decidir quais companheiros de

trabalho poderiam necessitar do conhecimento para uma atividade em

particular; (iii) Deve ser fácil para os trabalhadores decidir quais

companheiros de trabalho poderiam se interessar por determinada

lição; (iv) Deve ser fácil, e gratificante, para os trabalhadores submeter

uma lição aprendida à memória da corporação; (v) Deve haver critérios

bem definidos para decidir se é uma lição aprendida, como deve ser

formulada e onde deve ser armazenada; (vi) Deve haver mecanismos

para manter a memória da corporação de forma consistente; (vii) A

memória da corporação deve ter a facilidade de distribuir novas peças

do conhecimento àqueles trabalhadores que delas precisam.

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5

Considerações Finais

Neste último capítulo, serão apresentadas as principais conclusões

deste estudo, bem como sugestões para trabalhos futuros e para os

praticantes desta disciplina de gerenciamento de projetos.

5.1.

Conclusão

O objetivo precípuo deste trabalho foi responder à seguinte questão

de pesquisa: o que os profissionais atuantes na área de projetos,

praticantes da disciplina de Gerenciamento de Projetos proposta pelo

Project Management Institute – PMI, cujas boas práticas estão

descritas no Guia PMBOK (PMI, 2008), e que vivenciam experiências

de Gestão de Projetos em empresas públicas e organizações

governamentais, percebem como fatores que favorecem ou

comprometem a aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos? Para tal,

foi realizada pesquisa qualitativa, optando-se pelo método

fenomenográfico. Após a realização de entrevistas e a análise de

dados da pesquisa foi delineado o referencial teórico relacionado à

disciplina de gerenciamento de projetos conforme proposto pelo PMI

e,Teorias de Aprendizagem.

Após análise dos dados, emergiram, a partir da interpretação do

pesquisador em relação às respostas dadas pelos entrevistados, os

seguintes fatores que colaboram para aprendizagem no ciclo-de-vida

dos projetos: Comunicação; Liderança; Planejamento; Integração;

Multidisciplinaridade, e Informações. Surgiram ainda, por observação

das narrativas no momento da sua revisitação, outros fatores, talvez

de menor vetor do que aqueles fatores principais, e que chamaram a

atenção do pesquisador, tendo sido classificados de subfatores, e que

também foram objetos de estudo quando da análise e discussão dos

resultados, porém, de forma menos intensa que os anteriores. Tais

subfatores serão apresentados adiante, em conjunto com aqueles

principais.

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91

Devido a aspectos como inter-relação entre os processos de

gerenciamento de projetos, padrões de gerenciamento de projetos e

as boas práticas de gerenciamento de projetos, inferiu-se uma relação

de interdependência entre os fatores, pois, conforme verificado no

arcabouço teórico da Ciência da Administração de Empresas - que

abarca a de Gerenciamento de Projetos e de Aprendizagem - de

alguma forma, todos os fatores se relacionam entre si, em maior ou

menor grau, funcionando de forma imbricada no qual uns influenciam

os outros e vice-versa.

Percebeu-se ao longo do estudo a possibilidade de que os fatores

que influenciam a aprendizagem poderiam exercê-la de maneira

positiva ou negativa, no processo de aprendizagem no ciclo-de-vida

dos projetos, funcionando da seguinte forma: aqueles que poderiam

facilitar a aprendizagem, ou seja, de valência positiva, teriam uma

relação diretamente proporcional em relação aqueles que poderiam

comprometer a aprendizagem, portanto, de valência negativa. Quanto

mais ênfase receberem os fatores que favorecem a aprendizagem,

maiores serão, provavelmente, as oportunidades de aprendizagem

durante a realização de projetos. Caso tal reflexão se comprove

verdadeira, o inverso também o seria: uma menor ênfase – ou

inexistência – destes fatores, por si só, já seriam comprometedores

deste aprendizado, devido ao aspecto lógico desta relação.

Independentemente do fato de que, a não observância de fatores que

são positivos para aprendizagem já seria um dificultador deste

processo, foram destacados outros fatores e subfatores, que, caso

ocorram durante a realização do projeto poderão influenciar de forma

negativa a aprendizagem, independentemente da existência, ou não,

daqueles que favorecem.

O fator Comunicação, afeta ou é afetado pelos outros fatores de

aprendizagem observados, sejam aqueles que a favorecem, sejam

aqueles que a dificultam. Foi verificado que, a fim de que este fator

promova o aprendizado durante a realização de projetos, a atenção do

líder do projeto deve estar voltada para manter um canal de

comunicação aberto com a equipe. Também foi destacada a

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92

comunicação como forma de orientar o conflito - de idéias, como fator

importante para aprendizagem, sendo mencionadas as reuniões

periódicas, entre a equipe e com as partes interessadas, incluindo o

cliente.

O fator Liderança, também envolve os subfatores patrocínio e perfil

do líder. Apesar deste fator também estar fortemente relacionado à

comunicação, na ótica do pesquisador, com base nas proposições e

boas práticas propostas pelo Guia PMBOK (PMI, 2008) e de outros

autores, estes aspectos estariam mais ligadas à liderança, e ao perfil

do líder, envolvendo também questões de patrocínio, e poderiam

comprometer a aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos. Este fator

também se manifesta, entre outras formas, no desenvolvimento das

pessoas e da equipe do projeto, como também na constituição de um

ambiente propício para aprendizagem.

O fator Planejamento é percebido como fator que favorece a

aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos, pois, o planejamento

adequado das atividades é fundamental para o sucesso do projeto, ou

seja, para disponibilizar tal produto, serviço ou resultado exclusivo

conforme escopo planejado, no prazo definido, dentro do orçamento

acertado e com a qualidade esperada Guia PMBOK, (PMI, 2008). De

outra forma, a inobservância deste fator pode acarretar na

manifestação de subfatores de valência negativa, ou seja, que podem

comprometer a aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos, como o

desenvolvimento inadequado de escopo e planejamento inadequado

das atividades.

O fator Integração, que, dentre as áreas do conhecimento é a

responsável por orientar e executar os processos e atividades para

identificar, definir, combinar, unificar e coordenar os vários processos e

atividades dos demais grupos de processos de gerenciamento (PMI,

2000), pode se manifestar como um fator que favorece o aprendizado

durante a realização de projetos. Como esta área envolve a

identificação e definição do trabalho do projeto e a combinação,

unificação e integração dos processos apropriados, emergirão, destes

processos de gerenciamento de projetos, os requisitos necessários a

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93

entender as necessidades do cliente e das demais partes interessadas

de forma satisfatória e gerenciar suas expectativas. As saídas destes

processos, como o plano de gerenciamento de projetos, irão nortear a

execução das atividades necessárias ao escopo do projeto, o que

deverá demandar atenção especial do líder do projeto, bem como do

patrocinador e da equipe envolvida (Heldman, 2009).

O fator Multidisciplinaridade – de perfis profissionais, e também em

conjunto com a diversidade cultural dos componentes da equipe do

projeto, foi interpretada como um fator que favorece a aprendizagem.

Se por um lado a multidisciplinaridade - como também a diversidade

cultural – pode colaborar para aprendizagem, se não gerenciados

podem produzir resultados indesejados ao projeto, como: falta de

motivação ou atitude blasée; insatisfação com as atividades do projeto;

transformação das reuniões de acompanhamento em ‘sessões de

lamúria’; comunicação deficiente; e, principalmente, falta de respeito e

de confiança no gerente do projeto. Caberá, portanto, ao gerente do

projeto, com o apoio do patrocinador, a montagem e desenvolvimento

da equipe do projeto (Heldman, 2009).

O último fator apresentado na pesquisa, mas não menos

importante, pelo contrário, foi Informações. Junto a este, emergem

subfatores oriundos da utilização e aplicação da informação em

projetos. São eles: lições aprendidas; padronização e métricas;

distribuição de informações padronizadas; ausência de documentação;

ausência de portifólio de projetos; capacitação insuficiente. Destaca-

se, aqui, o subfator lições aprendidas, que acabou por se mostrar o

cerne da questão de aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos para

os participantes da pesquisa. Diretamente relacionado com os fatores

anteriores, principalmente, perfil do líder, as lições aprendidas,

conforme apresentadas por Heijst et al (1996), são uma poderosa

ferramenta – processo ou técnica, dependendo da abordagem -

segundo os praticantes da disciplina de gerenciamento de projetos,

conforme proposto pelo PMI (2008).

O Quadro 6, fruto de insight e da interpretação do pesquisador sobre

os achados da pesquisa, com base em seu conhecimento sobre a

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disciplina de Gerenciamento de Projetos somada a experiência prática,

apresenta uma síntese sobre os achados da pesquisa:

Os fatores que favorecem a aprendizagem e os fatores que

comprometem a aprendizagem foram distribuídos ao longo dos

processos de gerenciamento de projetos: iniciação, planejamento,

execução, monitoramento e controle, e, encerramento;

A idéia é representar como tais fatores podem se apresentar ‘em

cascata’ ao longo da repetição seqüencial destes grupos de

processos de gerenciamento de projetos.

Neste quadro, estão hachurados aqueles fatores, que, a partir da

interpretação do pesquisador como praticante desta disciplina de

gerenciamento de projetos deveriam estar presentes em todos os

momentos de gerenciamento de projetos, e portanto, seriam os de

maior impacto para aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos, no

caso: Perfil do Líder e Lições Aprendidas.

Por fim, são traçadas linhas destacando a manifestação ‘em cascata’

dos fatores que influenciam a aprendizagem ao longo dos

processos de gerenciamento de projetos, ou seja, no ciclo-de-vida

dos projetos. Tal idéia parte da premissa que, da mesma forma que

a utilização dos recursos de produção varia de quantidade e

intensidade durante o ciclo-de-vida dos projetos (PMI, 2008), os

fatores que podem influenciar a aprendizagem, vistos agora como

‘fatores de aprendizagem’ também poderiam apresentar tal

balanceamento no decorrer da execução do projeto. Esta visão,

uma vez verdadeira, apontaria qual ou quais ‘fatores de

aprendizagem’ deveriam receber maior ou menor ênfase por parte

do gestor do projeto, a fim de fomentar aqueles que favorecem e

mitigar aqueles que comprometem a aprendizagem no ciclo-de-

vida dos projetos.

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Momentos em que

Ocorrem

Iniciação Planejamento Execução Monitoramento e Controle

Encerramento

Fatores e Condições Quais são os/as...

Fatores que Favorecem o Aprendizado

Comunicação Patrocínio Perfil do Líder Integração Equipes Multidisciplinares Lições Aprendidas

Patrocínio Perfil do Líder Equipes Multidisciplinares Lições Aprendidas Padronização e Métricas Desenvolvimento de Escopo

Comunicação Perfil do Líder Equipes Multidisciplinares Lições Aprendidas

Perfil do Líder Lições Aprendidas Distribuição de Informações Padronizadas

Comunicação Perfil do Líder Lições Aprendidas Distribuição de Informações Padronizadas

Fatores que Dificultam o Aprendizado

Perfil do Líder Ausência de Documentação

Perfil do Líder Planejamento Inadequado das Atividades Ausência de Documentação Desenvolvimento de Inadequado Escopo

Perfil do Líder Coordenação Inadequada da Execução Capacitação Insuficiente

Perfil do Líder Patrocínio

Perfil do Líder Patrocínio

Quadro 6: Identificação dos fatores que influenciam a aprendizagem durante a realização de projetos.

5.2.

Sugestões

O tema abordado nesta pesquisa, aprendizagem no ciclo-de-vida

dos projetos, dada a delimitação do estudo definido para este trabalho,

dá margem a uma série de possibilidades de futuras pesquisas

acadêmicas. No intuito de abrir caminho para novas perspectivas para

o tema, o pesquisador sugere, pelo menos, duas linhas de pesquisa.

A primeira está relacionada à proposição dada sobre o aspecto do

balanceamento dos fatores que influenciam a aprendizagem ao longo

da interação dos processos de gerenciamento de projetos. Caso se

comprove verdadeiro, esta noção poderá colaborar para indicar quais

são os fatores que favorecem ou comprometem a aprendizagem no

ciclo-de-vida dos projetos e em qual momento é mais forte sua

manifestação, indicando desta forma, qual e quando um fator deve ser

potencializado ou mitigado.

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96

A segunda vai ao sentido de aferir o potencial de impacto de cada

fator para aprendizagem no ciclo-de-vida dos projetos. Esta também

poderá ser uma maneira de apontar caminhos para que os praticantes

desta disciplina de gerenciamento de projetos atuem na gestão de tais

fatores.

Finalmente, é sugerido aos praticantes desta disciplina de

gerenciamento de projetos em empresas públicas e organizações não

governamentais, ou por que não, solicitado, que observem o que foi

analisado e discutido deste estudo, e em caso de aderência a sua

visão e prática em gerenciamento de projetos, se utilize deste material,

se reportando a este pesquisador sobre os resultados obtido neste

esforço.

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