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ALFA-GLUCOSIDASE E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DE HEMOZOÍNA EM Rhodnius prolixus Flávia Borges Mury UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO – UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ FEVEREIRO - 2010

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ALFA-GLUCOSIDASE E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DE HEMOZOÍNA EM Rhodnius prolixus

Flávia Borges Mury

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO –

UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

FEVEREIRO - 2010

ii

ALFA-GLUCOSIDASE E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DE HEMOZOÍNA EM Rhodnius prolixus

Flávia Borges Mury

Orientadora: Prof.a Marílvia Dansa de Alencar Petretski

Co-orientador: Prof. José Roberto da Silva

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

FEVEREIRO – 2010

“Tese apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro como parte das exigências para a obtenção do título de Doutor em Biociências e Biotecnologia, área de concentração Biologia Celular".

iii

ALFA-GLUCOSIDASE E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DE HEMOZOÍNA EM Rhodnius prolixus

FLÁVIA BORGES MURY

COMISSÃO EXAMINADORA:

________________________________________________________

Prof. Dr. Francisco José Alves Lemos – LBT / CBB / UENF

________________________________________________________

Prof. Dr. Pedro Lagerblad de Oliveira – IBqM / CCS / UFRJ

______________________________________________________

Prof. Dr. Jorge Luiz da Cunha Moraes – IBqM / Campus Macaé / UFRJ

______________________________________________________

Prof. Dr. José Roberto da Silva – IBqM / Campus Macaé / UFRJ

(Co-orientadora)

________________________________________________________

Profa. Dra Marílvia Dansa de Alencar Petretski – LQFPP / CBB / UENF

(Orientadora)

“Tese apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro como parte das exigências para a obtenção do título de Doutor em Biociências e Biotecnologia, área de concentração Biologia Celular".

iv

“Dedico esta tese primeiramente a Deus, pela dádiva da vida. Aos meus pais,

Mário e Maria Lúcia, por todo o sacrifício em prol do meu sucesso. Ao meu

irmão Fábio, pelo incentivo. Ao meu esposo Williams, por todo o apoio e

companheirismo.”

v

“Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito.

Um se chama ontem e o outro se chama amanhã,

portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer

e, principalmente, viver.” (Dalai Lama)

Agradecimentos

vi

À Prof.a Marílvia Dansa, pela minha orientação e toda a ajuda fornecida

em todos os períodos que necessitei. Obrigada por todo ensinamento e

incentivo, mesmo quando achava que não iria conseguir, ela estava sempre

dizendo-me que sou capaz. Além disso, agradeço pela amizade e confiança.

Ao amigo e co-orientador Dr. José Roberto da Silva, pois foi você quem

começou toda esta história. Agradeço por sempre ser paciente em me ensinar

e ajudar nos experimentos. Obrigada por ter me ajudado a conquistar tantos

novos conhecimentos ao longo da minha formação. Você é um exemplo a ser

seguido!

Aos meus pais, Mário e Lúcia por todo o esforço destinado a minha

formação profissional. Obrigada por tudo o que fizeram por mim,

principalmente, por acreditarem no meu sonho e sempre me darem força para

persistir.

Ao meu irmão Fábio, por ser meu exemplo de vida e incentivo para

continuar esta longa caminhada. Além disso, foi ele o “construtor” dos primers

específicos de α-glucosidase utilizados nos experimentos de qPCR.

Ao meu esposo Williams, por sempre estar ao meu lado em todos os

momentos, difíceis ou de intensa alegria. Por ser esta pessoa alegre e

extrovertida, me dando apoio e confortando sempre que necessário. Espero

que possamos compartilhar infinitos momentos. Obrigada por ser

compreensivo.

À amiga Raquel, que durante 2 anos esteve no laboratório, sendo motivo

de alegria para todos nós. Durante este período conquistou seu espaço no

laboratório e desenvolveu sua dissertação de mestrado.

Ao Wendel, obrigada pela oportunidade de poder trabalhar com você,

ministrando cursos no CEDERJ. Nossa amizade, mesmo depois que você

seguiu outro caminho, persistiu e acho até que aumentou. Você é demais.

Aos alunos e amigos de iniciação científica: Swellen, Bruno, Gabriela,

Magda e Leonardo por todos os momentos que compartilhamos tanto na parte

científica como nas brincadeiras do dia-a-dia.

Ao Dr. Paulo Ribolla e Dr. Jayme Souza-Neto, por terem auxiliado nos

experimentos de RNAi. Sempre que necessário enviavam primers e dsRNA

para a realização dos experimentos.

Agradecimentos

vii

Ao Prof. Gonçalo por todos os ensinamentos na área de biologia

molecular e pela colaboração durante esta tese.

À Bia (Dr.a Beatriz dos Santos Ferreira), que colaborou para a execução

deste projeto, tanto na parte prática quanto teórica. Além disso, foi uma amiga

que conquistei.

Ao Prof.o Carlos Peres, por sua colaboração.

À amiga Elane: você foi extremamente importante, pois nos momentos

difícies era meu ombro amigo. Além disso, mantivemos uma colaboração que

rendeu frutos (um artigo submetido). Espero que nossa amizade continue.

Você é uma pessoa muito especial.

Aos estudantes do LQFPP: Evenilton, Leo, Helga, Thiago, Lucilene,

Nathália.

À Prof.a Kátia, pela utilização de alguns equipamentos em seu

laboratório, pela revisão do manuscrito e também pela revisão desta tese.

A Profª. Elenir, pelas várias vezes em que me cedeu a lupa e pela sua

amizade.

Ao Prof. Franzé, por me ceder o alimentador artificial para alimentar os

Rhodnius.

À Prof.a Olga e a Dra. Viviane pela colaboração na parte da análise da

estrutura secundária da α-glucosidase.

À Prof.a Marília pela ajuda fornecida na discussão dos resultados.

Aos técnicos do laboratório, Cristóvão, Izabela.

Ao Rodrigo, pela manutenção do biotério dos coelhos.

Ao amigo de turma de graduação e de laboratório Fabinho (in

memoriam), você sempre será lembrado por nós.

Agradeço ao Márcio pelas ajudas fornecidas ao utilizar alguns

equipamentos.

À amiga Gleicy, por ter me dado força quando precisei. Estava pronta a

solucionar qualquer problema. Conte comigo!

A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para o

desenvolvimento deste trabalho.

Agradeço a Deus pela vida. Por ter me dado força para prosseguir,

estando ao meu lado, principalmente, nos momentos mais difíceis.

Sumário

viii

ÍNDICE DE FIGURAS ..................................................................................

xi

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................. xix

ABREVIATURAS .........................................................................................

xx

RESUMO ......................................................................................................

xxi

ABSTRACT ..................................................................................................

xxiii

2 – JUSTIFICATIVA DO TRABALHO ......................................................... 29

3 – OBJETIVOS ........................................................................................... 3.1 – Objetivos Específicos .......................................................................

31

31

4 – MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 – Colônia de insetos ............................................................................... 32

4.2 – Alimentação dos insetos ..................................................................... 32

4.3 – Obtenção de hemolinfa de Rhodnius prolixus .................................... 33

4.4 – Obtenção do epitélio intestinal dos insetos ......................................... 33

4.5 – Síntese de hemozoína in vitro ............................................................. 33

1 – INTRODUÇÃO

1.1 – Histórico e aspectos epidemiológicos da doença de Chagas ............ 1

1.2 – A Classe Insecta e a hematofagia ..................................................... 4

1.3 – A ordem Hemiptera ............................................................................. 6

1.3.1 – Rhodnius prolixus e a digestão sanguínea ...................................... 8

1.4 – Heme e mecanismos antioxidantes ....................................................

1.5 – Formação de hemozoína ....................................................................

1.6 – Mecanismo de formação de hemozoína in vivo ..................................

1.7 – As α-glucosidases (α-D-Glicosídeo glicohidrolase; EC 3.2.1.20 ........

1.8 – Membranas perimicrovilares e α-glucosidase ....................................

11

16

19

20

23

Sumário

ix

4.5.1 – Extração de hemozoína ................................................................... 34

4.5.2 – Dosagens de heme .......................................................................... 34

4.6 – Extração de proteínas de epitélio intestinal ........................................ 34

4.7 – Dosagem de proteína .......................................................................... 35

4.8 – Ensaio de atividade da α-glucosidase ................................................. 35

4.9 – Cromatografia de troca iônica ............................................................. 36

4.10 – Eletroforese em gel de poliacrilamida ............................................... 36

4.11 – Ensaio de atividade de α-glucosidase in gel ................................... 37

4.12 – Análises por espectroscopia de FTIR ............................................... 37

4.13 – Ensaio de ligação a hemina-agarose ................................................

4.14 – Silenciamento gênico 4.14.1 – Construção da dupla fita de RNA (dsRNA) ....................................

4.14.2 – Silenciamento da α-glucosidase por dsRNA ..................................

4.15 – Análise molecular 4.15.1 – Extração de RNA e RT-PCR ..........................................................

4.15.2 – Reação em cadeia da polimerase (PCR) semi-quantitativo ..........

4.15.3 – Expressão relativa do gene determinada por qPCR ......................

4.15.4 – Purificação do fragmento amplificado ............................................

4.15.5 – Quantificação do cDNA ..................................................................

4.15.6 – Clonagem do fragmento amplificado no vetor pTZ57R/T ..............

4.15.7 – Produção de células competentes de E. coli, linhagem DH 5α via

cloreto de rubídio ..........................................................................................

4.15.8 – Transformação de células competentes de E. coli com o vetor

ligado ao fragmento amplificado ..................................................................

4.15.9 – Identificação dos clones positivos, extração e digestão dos

vetores ..........................................................................................................

4.15.10 – Sequenciamento dos fragmentos ................................................

4.15.11 – Análise das sequências de nucleotídeos .....................................

4.16 – Análise estatística .............................................................................

37

38

38

39

39

40

41

41

41

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45

46

46

5 – RESULTADOS 5.1 – Efeito da fração protéica do epitélio intestinal de R. prolixus e de

lipídeos na formação de hemozoína ............................................................

47

Sumário

x

5.2 – Capacidade de ligação de heme da α-glucosidase ............................. 48

5.3 – Efeito da cloroquina (CLQ) na atividade da α-glucosidase ................. 50

5.4 – Efeito dos inibidores da α-glucosidase na formação de hemozoína ... 51

5.5 – Efeito da maltose na formação de hemozoína .................................... 54

5.6 – Silenciamento da α-glucosidase na síntese de hemozoína ................ 55

5.7 – Impacto da ingestão de heme sobre a atividade de α-glucosidase ....

5.8 – Controle da expressão do gene da α-glucosidase pelo heme ............

5.9 – Purificação e sequenciamento do fragmento gênico de α-

glucosidase ..................................................................................................

5.10 – Formação de Hz por α-glucosidases de espécies não-hematófagas

60

61

62

67

6 – DISCUSSÃO .......................................................................................... 69

7 – CONCLUSÕES ...................................................................................... 77

8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 78

9 – ANEXO – ARTIGO PUBLICADO ..........................................................

99

Índice de figuras

xi

Figura 1 – Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma

cruzi (a), sendo transmitida por insetos da família Reduviidae, sub-família

Triatominae (b). Estes insetos, muitas vezes designados triatomíneos ou

barbeiros, são comum em lares pobres nas Américas do Sul e Central (c). A

doença afeta cerca de 12 milhões de pessoas, com um adicional de 90

milhões consideradas em áreas de risco. Em (d) cinza – regiões em que há

existência da doença de Chagas como zoonoses (aves e mamíferos

selvagens) e em vermelho são regiões em que ocorre transmissão ativa em

humanos (Monteiro et al., 2001) .......................................................................

3

FIGURA 2 – Ciclo de vida de R. prolixus, mostrando os estágios do ovo ao

indivíduo adulto, passando pelos cinco estágios de ninfa. Adaptado de

Buxton (1930) ....................................................................................................

9

FIGURA 3 – Desenho esquemático do trato digestório de R. prolixus, segundo Billingsley & Downe (1983). 1 - Glândula salivar; 2 - Intestino

médio anterior; 3 - Intestino médio posterior; 4 - Porção anterior do intestino

médio posterior; 5 - Porção posterior do intestino médio posterior; 6 - Túbulos

de Malpighi; 7 - Reto (ampola retal) ..................................................................

10

Figura 4 – Adaptações contra a toxicidade do heme. As maiores defesas

dos insetos hematófagos contra a toxicidade do heme estão concentradas no

intestino médio. O controle de tal toxicidade é realizado pela combinação da

formação de cristais de heme, degradação de heme, enzimas antioxidantes

e moléculas de baixo peso molecular. A hemolinfa com antioxidantes de

baixo peso molecular e proteínas de ligação de heme que previnem a

geração de radicais livres contituem a segunda linha de defesa, resultando

em um baixo nível de estresse oxidativo nos outros tecidos. Hb—

hemoglobina; ROS – espécies reativas de oxigênio; O2- - anion superóxido;

H2O2 – peróxido de hidrogênio; SOD – superóxido dismutase; TrxR –

tioredoxina redutase; TrxPx – tioredoxina peroxidase; Trx red – tioredoxina

reduzida; Trx ox – tioredoxina oxidada; GSH – glutationa reduzida; GSSG –

glutationa oxidada; BPM – baixo peso molecular. Adaptado de Graça-Souza

et al. (2006) .......................................................................................................

15

Índice de figuras

xii

FIGURA 5 – Estrutura molecular do grupo heme ou ferro-protoporfirina IX (Fe(III)PPIX) (Egan, 2008a). Heme é um macrociclo, formado por 4 anéis

pirrólicos unidos por pontes metênicas. O átomo de ferro no heme liga-se a 4

nitrogênios no centro do macrociclo .................................................................

16

FIGURA 6 – Estrutura da hemozoína segundo Egan (2008a). Notar as

ligação entre o ferro de uma molécula de heme com o radical carboxilato da

molécula de heme adjacente. Diferentes cadeias são mantidas juntas por

ligações de hidrogênio ......................................................................................

18

FIGURA 7 – Esquema mostrando a estrutura em cristal da α-glucosidase de Geobacillus (GSJ) – bactéria termófila. Os domínios N-

terminal e C-terminal são mostrados em azul e laranja, respectivamente. O

magenta representa regiões de loops (*A, resíduos 215–218; *B, 293–294; e

*C, 388–400). Os resíduos catalíticos, Asp199, Glu256 e Asp326, são

mostrados no interior do modelo (Pettersen et al., 2004) .................................

23

FIGURA 8 – Modelo da origem das membranas associadas com o sistema

lamelar apical (Cristofoletti et al., 2003). Cisternas do Golgi (a) que começam

a se dirigir ao RER (b). Esses, após perder os ribossomos, formam vesículas

envolvendo as membranas (c) que eventualmente fusionam com a base da

lamela apical esvaziando o conteúdo da membrana para o espaço

interlamelar (d). As membranas se movem ao longo do espaço interlamelar

(e) e, finalmente começam a se associar com a superfície luminal da lamela,

projetando-se para o interior do lúmen (f) .........................................................

Figura 9 – Mapa do sítio de policlonagem do vetor pTZ57R/T (Fermentas

Life Sciences), mostrando os sítios de enzimas de restrição. São mostradas

as enzimas de restrição utilizadas para a digestão (caixa vermelha) ...............

26

42

FIGURA 10 – Participação de proteínas e lipídios polares na formação de cristais de heme. Ctl – controle somente hemina; Ptn – proteína extraída de epitélio intestinal de R. prolixus; PC – micela de

Índice de figuras

xiii

fosfatidilcolina; Ptn + PC - proteína extraída e adição posterior de micela de fosfatidilcolina; PC + Ptn – micela de fosfatidilcolina e adição posterior de proteína extraída; PE – micela de fosfatidiletanolamina; Ptn + PE - proteína extraída e adição posterior de micela de fosfatidiletanolamina; PE + Ptn – micela de fosfatidiletanolamina e adição posterior de proteína extraída ...........................................................

Figura 11 – Cromatografia de troca iônica em coluna DEAE (toyopearl) do extrato protéico do epitélio intestinal de R. prolixus. A coluna foi

equilibrada com o tampão HEPES 20 mM, pH 7,4 e, em seguida, a eluição

foi realizada em um gradiente de três passos com NaCl (0-0,5 M, 0,5-1 M e 1

M, respectivamente). O fluxo foi de 0,5 mL/minuto e foram coletadas 50

frações de 1 mL/tubo ........................................................................................

48

49

FIGURA 12 – (A) Ensaio de identificação de proteínas de ligação de heme no epitélio intestinal de R. prolixus; (B) Atividade de α-glucosidase in gel. 1) proteína extraída de epitélio intestinal de R. prolixus

alimentados com plasma de coelho + hemina-agarose; 2) proteína extraída

de epitélio intestinal de R. prolixus alimentados com plasma de coelho +

hemina-agarose + hemina; 3) proteína extraída de epitélio intestinal de R.

prolixus alimentados com plasma de coelho. 4) proteína extraída de epitélio

intestinal de fêmeas de R. prolixus alimentadas com sangue de coelho.

Ambos os géis são 12% em condições desnaturantes e não-redutoras (SDS-

PAGE). Em B o substrato utilizado foi o metilumbeliferil α-D-glucopiranosídeo

49

FIGURA 13 – (A) Atividade de α-glucosidase e (B) síntese de hemozoína in vitro: ▲ – controle; ■ – presença de CLQ; ● – amostra fervida. O ensaio

de atividade de α-glucosidase foi determinado usando método colorimétrico.

A atividade foi expressa como nmol de ρ-nitrofenolato liberado em 1 min. O

ensaio de formação de hemozoína foi realizado por 24 h a 28 oC, como

descrito em materiais e métodos. Atividade de formação de hemozoína foi

expressa como nmol de cristal de heme, após 24 h, por 15 µg de proteína.

Os resultados são representativos de dois experimentos realizados em

triplicata .............................................................................................................

51

Índice de figuras

xiv

FIGURA 14 – Atividades de α-glucosidase na presença ou ausência de inibidores in vitro. EP – extrato protéico de epitélio intestinal; EP + Eri -

extrato protéico + eritritol; EP + DEPC - extrato protéico + dietilpirocarbonato;

EP + Cs - extrato protéico + castanoespermina; EP + AB - extrato protéico +

anticorpo anti α-glucosidase de D. peruvianus. O ensaio de atividade de α-

glucosidase foi determinado usando método colorimétrico. A atividade foi

expressa como nmol de ρ-nitrofenolato liberado em 1 min. Os resultados são

representativos de dois experimentos realizados em triplicata. Os

experimentos com inibidores foram significativamente diferentes do extrato

protéico sozinho *(P < 0,05) ..............................................................................

52

FIGURA 15 – Efeito dos inibidores da α-glucosidase na formação de hemozoína in vitro. Ctl - hemina; EP – extrato protéico de epitélio intestinal;

EP + Eri - extrato protéico + eritritol; EP + DEPC - extrato protéico +

dietilpirocarbonato; EP + Cs - extrato protéico + castanoespermina; EP + AB

- extrato protéico + anticorpo anti α-glucosidase de D. peruvianus. Os

ensaios de formação de hemozoína foram realizados a 28 oC como descrito

em materiais e métodos. A atividade de formação de hemozoína foi expressa

como nmol de cristal de heme, produzidos após 24 h, por 15 µg de proteína.

Os resultados são representativos de dois experimentos realizados em

triplicata. Os experimentos com inibidores foram significativamente diferentes

do extrato protéico sozinho *(P < 0,05) .............................................................

53

FIGURA 16 – Efeito da adição tardia dos inibidores de α-glucosidase na formação de Hz in vitro. Ctl - hemina; Ctl + AB - hemina + anticorpo; EP –

extrato protéico de epitélio intestinal; EP + AB - extrato protéico + anticorpo

anti α-glucosidase de D. peruvianus; EP → AB – extrato protéico + anticorpo

10 h após iniciar o ensaio; Ctl + DEPC - hemina + dietilpirocarbonato; Ctl +

Cs - hemina + castanoespermina; EP + DEPC - extrato protéico +

dietilpirocarbonato; EP → DEPC – extrato protéico + dietilpirocarbonato 10 h

após iniciar o ensaio; EP 100 0C – extrato protéico fervido por 10 min antes

de iniciar o ensaio; EP → 100 0C – extrato protéico fervido 10 h após iniciar o

ensaio. Os ensaios de formação de Hz foram realizados por 24 h a 28 oC

como descrito em materiais e métodos. Atividade de formação de Hz foi

10h

10h

10h

Índice de figuras

xv

expressa como nmol de cristal de heme, após 24 h, por 15 µg de proteína.

Os resultados são representativos de dois experimentos realizados em

triplicata. Os experimentos com inibidores foram significativamente diferentes

do extrato protéico sozinho *(P < 0,05) .............................................................

FIGURA 17 – Atividade de formação de hemozoína na presença ou ausência de maltose in vitro. Ctl - hemina; Mal - Maltose; FC – fração 27;

FC + Mal → H - fração cromatografia + maltose e hemina adicionada 4 h

após o início do ensaio; FC + H → Mal - fração cromatografia + hemina e

maltose adicionada 4h após o início do ensaio. Os ensaios de

biomineralização forma realizados por 24 h a 28 oC, como descrito em

materiais e métodos. Atividade de formação de hemozoína foi expressa

como nmol de cristal de heme, após 24 h, por 8 µg de proteína. Os

resultados são representativos de um experimento realizado em triplicata. O

experimento em que a maltose foi adicionada antes foi significativamente

diferente quando comparado com a proteína sozinha ou com a hemina

adicionada primeiro *(P < 0,05) ........................................................................

FIGURA 18 – Expressão relativa do gene da α-glucosidase por qPCR no

intestino médio de R. prolixus por injeção de: (A) dsαglu ou (B) dsLacZ in

vivo. Os insetos foram injetados com 2 µL de PBS 100 mM pH 7,4 (controle),

dsα-glu (2 ou 10 µg/fêmea) ou dsLacZ (2 ou 10 µg/fêmea) e analisado 2 (2d)

ou 4 (4d) dias após a alimentação com sangue. Foram realizados 4

experimentos independentes. Cada experimento consiste em um pool de 6

fêmeas adultas. Os insetos injetados com 10 µg de dsRNA 4 dias após

alimentação foram significativamente diferentes dos insetos controle

*(P<0,05) ...........................................................................................................

FIGURA 19 – A) Hemolinfa R. prolixus alimentados com sangue de coelho, na ausência de dsαGlu. B) Aspecto da Hemolinfa de R. prolixus, 4 dias após a injeção de 10 µg de dsαGlu ....................................................

FIGURA 20 – Atividade de α-glucosidase in vivo no intestino médio de R. prolixus injetados com: (A) dsαglu ou (B) dsLacZ. Os insetos foram

54

55

58

59

4h

4h

Índice de figuras

xvi

injetados com 2 µL de PBS 100 mM pH 7,4 (controle), dsLacZ (2 ou 10

µg/fêmea) ou dsα-glu (2 ou 10 µg/fêmea) e analisado 2 ou 4 dias após a

alimentação com sangue. Foram realizados 4 experimentos independentes.

Cada experimento consiste em um pool de 6 fêmeas adultas. Os insetos

injetados com 10 µg de dsRNA 4 dias após alimentação foram

significativamente diferentes dos insetos controle *(P<0,05) ...........................

FIGURA 21 – Hemozoína produzida por R. prolixus injetados com: (A) dsαglu ou (B) dsLacZ. Os insetos foram injetados com 2 µL de PBS 100

mM pH 7,4 (controle), dsLacZ (2 ou 10 µg/fêmea) ou dsα-glu (2 ou 10

µg/fêmea) e analisado 2 ou 4 dias após a alimentação com sangue. Foram

realizados 4 experimentos independentes. Cada experimento consiste em

um pool de 6 fêmeas adultas. Os insetos injetados com 10 µg de dsRNA 4

dias após alimentação foram significativamente diferentes dos insetos

controle *(P<0,05) .............................................................................................

FIGURA 22 – Influência do heme da alimentação na atividade de α-glucosidase em intestino médio de R. prolixus. P – insetos controle

alimentados com plasma; P + H – insetos alimentados com plasma

enriquecido com hemina (500 µM). Insetos foram alimentados com plasma

de coelho na ausência ou presença de hemina. Quatro dias após

alimentação, epitélios intestinais (n = 20) foram dissecados em salina gelada

(NaCl 100 mM). A atividade de α-glucosidase foi determinada pela medida

da liberação de ρ-nitrofenolato α-D-glucopiranosídio. Resultados mostrados

são representativos de três experimentos independentes realizados em

triplicata. Plasma mais hemina é significativamente diferente de plasma

*(P<0,05) ...........................................................................................................

FIGURA 23 – Influência do heme da alimentação na expressão da α-glucosidase em intestino médio de R. prolixus. P – cDNA plasma; P + H

– cDNA plasma + hemina (500 µM). Insetos foram alimentados com plasma

de coelho na ausência ou presença de hemina. Quatro dias após

alimentação, epitélios intestinais (n = 20) foram dissecados em PBS 100 mM.

Foi realizado extração de RNA total usando Trizol e posterior síntese de

59

60

61

Índice de figuras

xvii

cDNA. Resultados mostrados são representativos de dois experimentos

independentes realizados em triplicata. Plasma mais hemina é

significativamente diferente de plasma *(P<0,05) .............................................

FIGURA 24 – Fragmentos purificados utilizando GFXTM PCR “DNA e Gel Band Purification Kit” e observados em gel de agarose 1%. M)

Marcador de 1 kb; 1) Fragmento de 750 kb; 2) Fragmento de 250 kb; 3) 1 μL

ks 50 ng; 4) 2 μL ks 50 ng .................................................................................

FIGURA 25 – Sequência parcial de nucleotídeos do cDNA de α-glucosidase de R. prolixus e sua sequência deduzida de aminoácidos. A

sequência de nucleotídeos utilizada para o desenho de primers específicos

para qPCR estão sublinhadas ..........................................................................

FIGURA 26 – Alinhamento da sequência de aminoácidos das α-glucosidases

de R. prolixus (AgluRp), Culex quinquefasciatus (AGluCulex, AGluCulex2,

AGluCulex3), α-amylase de Aedes aegypti (AmAeds), maltase-símile Agm2

de Anopheles gambiae (MaltaseAgm2), maltase 2 de Drosophila virilis

(Maltase2Dv), α-glucosidase de Gsj (AgluGsj), Oligo-1,6-Glucosidase de

Bacillus cereus (GluOligo) e α-glucosidase de Saccharomyces cerevisiae

(AgluSc). Resíduos idênticos são indicados por ‘‘*’’; resíduos conservados e

semi-conservados são indicados por ‘‘:’’ e ‘‘.’’, respectivamente. Resíduos de

ácido aspártico e histidina presentes em AGluRp e também presentes em

AGluSc são marcados em cinza. A predição da estrutura secundária usando

JPred server é representada em vermelho (α-hélices), verde (folhas β) e azul

(alças) ...............................................................................................................

FIGURA 27 – Árvore filogenética baseada no alinhamento das sequências protéicas de α-glucosidases usando ClustalW: Rhodnius

prolixus, Aedes aegypti, Culex quinquefasciatus, Anopheles gambiae,

Drosophila melanogaster, Tribolium castaneum, Thermus thermophilus,

Nocardia farcinica, Homo sapiens, Rattus norvegicus, Mus musculus,

Xenopus laevis, Danio rerio, Ixodes scapularis, Bos Taurus e Acyrthosiphon

pisum. A numeração representa as distâncias entre as espécies ....................

62

63

64

66

67

Índice de figuras

xviii

FIGURA 28 – Atividade de síntese de hemozoína usando extrato protéico de epitélio intestinal de Dysdercus peruvianus (A e B) e Quesada gigas (C e D). Os epitélios intestinais foram coletados e

submetidos a extração de proteínas. O ensaio de síntese de hemozoína foi

realizado usando 12 μg de proteína do sobrenadante (S) ou do precipitado

(P). A e C ensaio de formação de cristais de heme; B e D Espectro de

FTIR do cristal produzido in vitro ......................................................................

68

Índice de tabelas

xviii

TABELA 1 – Iniciadores utilizados nos experimentos de RT-PCR e qPCR .....

TABELA 2 – Efeito fisiológico do silenciamento da α-glucosidase

mediado por dsαGlu em Rhodnius prolixus. Os insetos foram injetados

com 2 µL de PBS 100 mM pH 7,4 ou dsLacZ (controle) e dsα-glu (2 ou 10

µg/fêmea); mortalidade e ovoposição foram monitorados 4 dias após

alimentação .......................................................................................................

40

58

TABELA 3 – Análise comparativa dos genes de α-glucosidases de

diferentes espécies usando Blastx ....................................................................

65

Abreviaturas

xix

α-GLU..................................................... α-glucosidase BCA ........................................................ ácido bicinconínico CLQ ........................................................ cloroquina DEPC ...................................................... dietilpirocarbonato dsLacZ ................................................... dupla fita de RNA de β-galactosidase dsRNA .................................................... dupla fita de RNA dsαGlu ................................................... dupla fita de RNA de α-glucosidase Fe(III)PPIX .............................................. ferro protoporfirina IX FP ........................................................... ferroprotoporfirina FTIR ....................................................... espectrometria de infravermelho com transformada de Fourier HO .......................................................... heme oxigenase HRP II ..................................................... proteína rica em histidina II Hz ............................................,.............. hemozoína Kb ........................................................... quilo bases MPMV ..................................................... membrana perimicrovilar NEM ........................................................ N-etilalemida NP ........................................................... Nonidep PAGE ..................................................... eletroforese em gel de poliacrilamida PBS ........................................................ tampão fosfato de sódio PCR ....................................................... reação em cadeia da polimerase PMSF .................................................... fenilmetilsulfonil fluoreto qPCR ...................................................... PCR quantitativo RNAi ....................................................... RNA de interferência ROS ....................................................... espécies reativas de oxigênio RT .......................................................... transcrição reversa SDS ........................................................ dodecil sulfato de sódio WHO ....................................................... Organização Mundial da Saúde

Resumo

xx

RESUMO Insetos hematófagos se alimentam do sangue de um vertebrado, digerem a

hemoglobina e liberam heme no lúmen intestinal. Em Rhodnius prolixus, este

heme é detoxificado por biomineralização, formando hemozoína (Hz).

Resultados anteriores mostraram que uma fração protéica das membranas

perimicrovilares (MPMV) presentes no lúmen intestinal é responsável pela

formação de Hz neste inseto. O objetivo do presente trabalho é demonstrar que

uma α-glucosidase, enzima marcadora das MPMV, é responsável pela síntese

de Hz em R. prolixus. Para isso, foram utilizados inibidores clássicos da α-

glucosidase em ensaios de formação de Hz. Todos os inibidores testados

inibiram a formação de Hz de forma similar à sua ação sobre a atividade

primária da enzima. A atividade de formação de Hz foi sensível a DEPC,

sugerindo uma função crítica dos resíduos de histidina neste processo.

Adicionalmente, um anticorpo policlonal anti-α-glucosidase de um inseto

fitófago, Dysdercus peruvianus, foi capaz de inibir a formação de Hz. Nenhum

dos inibidores apresentou efeito quando adicionado 10h após o início da

reação, sugerindo que a α-glucosidase deva agir em etapas iniciais do

processo. A formação de Hz parece ser dependente do sítio de ligação do

substrato à enzima, visto que maltose, substrato específico da enzima,

bloqueou a atividade de formação de Hz. A associação entre a enzima e a

formação de Hz foi confirmada, quando dsRNA, construído usando a sequência

do gene da α-glucosidase, foi injetado na hemocele de fêmeas de R. prolixus.

O silenciamento do gene causou a redução das atividades de formação de Hz

e α-glucosidásica. Em contrapartida, o heme foi capaz de modular a expressão

da enzima e atuar como regulador da atividade enzimática, já que insetos

alimentados com hemina apresentaram níveis de expressão gênica e atividade

maiores que insetos alimentados sem hemina. A sequência deduzida de

aminoácidos da α-glucosidase de R. prolixus mostrou maior similaridade com

α-glucosidases de insetos, com resíduos críticos de histidina e ácido aspártico

conservados entre as enzimas. Tomados em conjunto, os resultados sugerem

fortemente que a α-glucosidase das MPMV é responsável pelo processo de

nucleação de heme no intestino médio de R. prolixus. Este importante passo

adaptativo pode ter sido essencial para o surgimento da hematofagia entre os

insetos hemimetábolos.

Resumo

xxi

Palavras-chaves: Rhodnius prolixus, hemozoína, cristais de heme,

hematofagia, α-glucosidase

Abstract

xxii

ABSTRACT Hematophagous insects digest large amounts of host hemoglobin and release

heme inside their guts. In Rhodnius prolixus, hemoglobin-derived heme is

detoxified by biomineralization, forming hemozoin (Hz). Recently, the

involvement of the R. prolixus perimicrovillar membranes (PMVM) in Hz

formation was demonstrated. Herein, the role of PMVM α-glucosidase in the Hz

formation was investigated. Hz formation was inhibited by specfic α-glucosidase

inhibitors. Moreover, heme aggregation into Hz was sensitive to inhibition by

DEPC, suggesting a critical role of histidine residues in enzyme activity.

Additionally, a polyclonal antibody raised against a phytophagous insect α-

glucosidase was able to inhibit Hz formation. The α-glucosidase inhibitors have

had no effects when used 10h after the start of reaction, suggesting that α-

glucosidase should act in the nucleation step of Hz formation. Hz formation was

seen to be dependent on the active site of the enzyme, in a way that maltose,

an enzyme substrate, blocks such activity. The gene silencing by RNAi, through

the injection of dsRNA, based on the sequence of α-glucosidase gene,

confirmed the hypothesis and reduced both α-glucosidase and Hz formation

activities. Addicionally, modulation of the enzyme expression by heme was

demonstrated. Insects were fed on plasma or hemin-enriched plasma and gene

expression and activity of α-glucosidase were higher in the plasma plus hemin-

fed insects. The deduced amino acid sequence of α-glucosidase shows a high

similarity to the insect α-glucosidases, with critical histidine and aspartic

residues conserved among the enzymes. Usually, these enzymes catalyze the

hydrolysis of glycosidic bond. The results strongly suggest that an α-

glucosidase is responsible for Hz nucleation in the R. prolixus midgut, indicating

that the plasticity of this enzyme may play an important role in conferring fitness

to hemipteran hematophagy, for instance.

Keywords: Rhodnius prolixus, hemozoin, heme aggregation, hematophagy, α-

glucosidase

Introdução

1

1 – INTRODUÇÃO 1.1 – Histórico e aspectos epidemiológicos da doença de Chagas

Desde a descoberta da tripanossomíase americana em 1909 por Carlos

Chagas, uma doença que posteriormente recebeu o seu nome, o conhecimento

sobre a epidemiologia da doença e seu controle tem evoluído em três fases

bem definidas: a fase de descoberta, a fase de divulgação do conhecimento e a

fase de aplicação deste conhecimento para o controle e vigilância de infecção

humana. A fase de descoberta corresponde a estudos pioneiros de Chagas do

Trypanosoma cruzi em Panstrongylus conorhinus (Panstrongylus megistus) e

em animais de laboratório experimentalmente infectados e sua descrição dos

primeiros casos agudos da doença (Chagas 1909, 1911). Carlos Chagas

publicou suas descobertas em discursos no Brasil e no exterior, e em vários

jornais publicados em português, espanhol, inglês, francês e alemão.

Em 1912, Chagas descobriu que o tatu (Dasypus novencinctus) é um

reservatório silvestre de T. cruzi. Concomitantemente, no mesmo hábitat, ele

encontrou Triatoma megistus infectados com o parasita, definindo assim o ciclo

silvestre da doença de Chagas. Chagas (1924) complementou este achado

com a descrição de T. cruzi entre macacos naturalmente infectados no Estado

do Pará. Em 1930 começou a expansão da doença para outros países.

Nussenzweig et al. (1962, 1963) encontraram diferenças antigênicas em

cepas de T. cruzi isoladas de humanos, morcegos, triatomíneos, e roedores

silvestres, classificadas em pelo menos três tipos imunológicos. Durante este

mesmo período, a análise das sete amostras de T. cruzi de diferentes origens

permitiram Brener & Chiari (1963) agrupá-los em três padrões morfológicos,

previamente descritos por Chagas (1909) como dimorfismo sexual. No entanto,

Deane et al. (1963) não encontraram diferenças patogênicas e morfológicas

entre as cepas de T. cruzi de animais silvestres. Posteriormente, Brener (1965)

correlacionou algumas dessas variações morfológicas com as fases da

infecção.

Mais de 130 espécies foram consideradas potenciais vetores de T. cruzi.

No Brasil, 52 espécies de triatomíneos foram descritas, mas cinco têm especial

importância epidemiológica, pois possuem hábitos domésticos: T. infestans, P.

Introdução

2

megistus, T. brasiliensis, T. pseudomaculata e T. sordida. As outras 47

espécies são selvagens e mantêm um ciclo natural apenas com mamíferos

silvestres. T. infestans, espécie estritamente doméstica, foi eliminada no Brasil,

Chile e Uruguai, e sua erradicação ou controle em outros países da América do

Sul está em andamento (Lent & Wigodzinsky 1979, Forattini 1980, Dias &

Coura 1997, WHO 2002, Dias & Macedo 2005, Coura & Dias 2009).

Mais de 100 reservatórios silvestres de T. cruzi têm sido descritos entre

marsupiais, morcegos, roedores e primatas não-humanos. Entre os

reservatórios domésticos, é importante destacar cães, gatos, ratos e cobaias,

nos países onde eles são criados em casas. Outros animais, como suínos e

caprinos, foram encontrados infectados (Barretto 1964, Deane 1964, Dias &

Macedo 2005; Coura & Dias 2009).

A distribuição geográfica da infecção chagásica, incluindo os seus

reservatórios e seus vetores, se estende desde o sul dos Estados Unidos para

o sul da Argentina e Chile. Assim, abrange todas as Américas, e 90 milhões de

pessoas nesta região estão expostas à infecção. Atualmente, estima-se que 15

milhões de pessoas estão infectadas por T. cruzi ou são capazes de transmitir

a doença. A Figura 1 mostra a distribuição da infecção chagásica nas

Américas, destacando as espécies endêmicas e zonas antropozoonóticas do

Brasil (Monteiro et al., 2001).

Introdução

3

Figura 1 – Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi (a), sendo

transmitida por insetos da família Reduviidae, sub-família Triatominae (b). Estes insetos, muitas

vezes designados triatomíneos ou barbeiros, são comum em lares pobres nas Américas do Sul

e Central (c). A doença afeta cerca de 12 milhões de pessoas, com um adicional de 90 milhões

consideradas em áreas de risco. Em (d) cinza – regiões em que há existência da doença de

Chagas como zoonoses (aves e mamíferos selvagens) e em vermelho são regiões em que

ocorre transmissão ativa em humanos (Monteiro et al., 2001).

Espécies que são exclusivamente domésticas, como o T. infestans e R.

prolixus, tendem a se tornarem eliminadas das suas áreas de dispersão, devido

a um esforço contínuo dos órgãos responsáveis ou da população, em especial

nas regiões em que tinham sido introduzidas. Espécies que estão presentes na

natureza e que são capazes de se tornarem domésticas (T. brasiliensis, T.

pseudomaculata, T. sordida, T. dimidiata e P. megistus) tendem a persistir.

Como esporadicamente invadem habitações humanas exigem uma vigilância

contínua. Consequentemente, será de enorme importância ter uma

configuração técnica e político-administrativa que permita um sistema de

vigilância epidemiológica permanente e sustentável, com uma organização

descentralizada, constante supervisão e ampla participação da comunidade

(Dias 1991, Dias & Schofield 2004).

O controle por meio de inseticidas e as iniciativas de fiscalização

relacionadas com a doença de Chagas no Cone Sul em 1991, nos países

andinos em 1997, no México em 1998 e nos países amazônicos em 2004,

criaram novas expectativas entre a comunidade latino-americana e em países

não endêmicos a respeito da possibilidade de controle da doença de Chagas

em todo o mundo nos próximos 20 anos. Dez anos de ações coordenadas de

Introdução

4

controle tiveram um impacto fundamental na incidência da doença de Chagas,

no âmbito do Cone Sul, que se refletiu numa redução de 94% (WHO, 2002). O

reconhecimento veio algum tempo depois, em 2006, com a entrega de

documento ao Ministro da Saúde certificando que o Brasil estava livre da

transmissão vetorial por T. infestans, principal espécie vetora (o mesmo tendo

acontecido com Chile e Uruguai) (Schofield et al., 2006).

Apesar de eliminado no Brasil, excetuando-se alguns focos residuais no

Rio Grande do Sul e no Nordeste, nos últimos anos começou a haver uma

substituição do T. infestans por outras espécies antes consideradas de

importância epidemiológica secundária (Vinhaes & Dias, 2000). O problema é

que a maioria dessas espécies secundárias é nativa e, diferentemente de T.

infestans, possui ecótopos silvestres extensos, o que faz com que a

reinfestação de domicílios tratados, por insetos vindo do ambiente silvestre,

seja frequente. Situações dessa natureza são mais complexas e seu controle

irá requerer vigilância continuada das próprias comunidades e re-tratamento de

qualquer novo foco doméstico que venha a ser detectado (Ramsey & Schofield,

2003).

1.2 – A classe Insecta e a hematofagia

A classe Insecta possui uma enorme diversidade, como resultado não só

de uma colonização bem sucedida, mas também devido a sua fácil adaptação

aos diferentes ecossistemas. Distribui-se por todo o mundo, das regiões

polares aos trópicos, e engloba espécies que vivem em terra firme, águas

doces, salgadas e termais. Além disso, este sucesso adaptativo dos insetos é

devido a outros fatores, dentre eles a capacidade reprodutiva e a capacidade

de vôo (Hoy, 1994). O êxito dos insetos, que têm sobrevivido há

aproximadamente 300 milhões de anos, se deve também a fatores como a

presença de um exoesqueleto, tamanho reduzido, metamorfose e tipo

especializado de reprodução. As asas permitiram aos insetos se dispersarem

pela Terra, além de vantagens na fuga, reprodução e na procura de alimentos.

O exoesqueleto protege contra choques e esmagamento além de conferir

resistência à penetração de microorganismos patogênicos, gases tóxicos e

água através de seu corpo, além de evitar a desidratação (Ruppert, 2005).

Introdução

5

Os insetos são a forma de vida animal mais abundante do planeta, com

cerca de um milhão de espécies organizadas em, aproximadamente, 800

famílias e distribuídas em 32 ordens (Hoy, 1994). Estima-se que existam 14000

espécies de insetos dentro de 5 ordens que são hematófagas. No entanto,

poucas, entre 300 a 400 espécies, apresentam grande importância para o

homem, seja na transmissão de patógenos de relevância médica ou

veterinária, seja pela perda sanguínea que acarreta baixa produtividade na

pecuária (Lehane, 2005).

A hematofagia surgiu várias vezes ao longo da evolução dos artrópodes

(Ribeiro, 1995). Embora não se conheça o momento exato em que os primeiros

insetos hematófagos surgiram, há uma tendência em ajustar a origem da

maioria dos grupos no período Cretáceo (Mans & Neitz, 2004). A partir dessa

hipótese tornou-se possível inferir que o aparecimento da hematofagia ocorreu

paralelamente ao início da divisão de mamíferos e aves, acompanhados pela

diversificação e expansão dos animais terrestres. Antecedentes de

hematófagos modernos apresentam frequentemente várias características que

são pré-condições para hematofagia. Algumas dessas préadaptações são de

natureza ecológica e a proximidade com os vertebrados foi principalmente o

que facilitou o desenvolvimento dessas características (Lehane, 2005).

Os insetos hematófagos encontram-se agrupados em 4 principais

ordens: Diptera, Hemiptera, Phithiraptera e Siphonaptera. A ordem Hemiptera

abrange cerca de 60.000 espécies, constituindo-se no grupo dominante de

insetos de metamorfose simples. Pertencem a esta ordem os conhecidos

barbeiros, percevejos, pulgões, cigarras e outros (Lehane, 1991). Segundo

Richards & Davies (1988), a ordem Hemiptera surgiu, provavelmente, no

carbonífero, tendo sua maior diversificação no mesozóico, aliada à emergência

das plantas com flores. As peças bucais destes insetos são altamente

eficientes para a extração de fluidos vegetais, indicando a existência de partes

bucais pré-adaptadas ao hábito picador-sugador (Lehane, 1991). A evolução

das partes bucais foi de crucial importância para possibilitar o hábito de se

alimentar de sangue (Lehane, 2005).

Na família Reduviidae encontram-se alguns hemípteros hematófagos

que são vetores de T. cruzi, o agente causador da doença de Chagas. Na

maior parte destes insetos, a alimentação é caracterizada pela ingestão de

Introdução

6

grande quantidade de sangue, feita de uma só vez. Este evento minimiza o

número de visitas que um ectoparasito temporário precisa fazer ao hospedeiro,

diminuindo, portanto, o risco que estas investidas representam para o inseto

(Lehane, 2005). Esta peculiaridade representa, no entanto, desvantagem

significativa para o inseto, uma vez que sua mobilidade é diminuída em função

do aumento de massa corporal. Outra aparente desvantagem desta forma de

alimentação é a grande quantidade de água ingerida, o que requer um sistema

eficiente e rápido de remoção de água e concentração de material solúvel.

Acredita-se que a capacidade de utilização do sódio para controlar a absorção

de água, represente um dos grandes passos evolutivos para a adaptação

destes insetos a hematofagia, visto que no sangue este se encontra em

abundância e sua absorção se processa ativamente (Barret, 1982). Em insetos

fitófagos, como o Dysdercus peruvianus (Hemiptera, sugador de sementes de

algodão), por exemplo, o potássio é usado para controlar a obtenção de água,

não dependendo da dieta de sódio (Silva et al., 1995).

1.3 – A ordem Hemiptera

A ordem Hemiptera inclui os insetos conhecidos como percevejos

verdadeiros. A maioria dos hemípteros é hematófaga ou sugadora de seiva de

plantas, mas três famílias apresentam várias espécies de pequenos a grandes

insetos hematófagos. A primeira destas famílias é a Cimicidae, em que todos

os membros são hematófagos. A segunda família de percevejos hematófagos é

a Polyctenidae. Todos os membros deste grupo são ectoparasitas

permanentes e hematófagos obrigatórios. Finalmente, a terceira família de

hemípteros que contém os percevejos hematófagos é a Reduviidae, em que

está contida a subfamília Triatominae, na qual todas as 155 espécies são

hematófagas obrigatórias (Lehane, 2005).

Na família Reduviidae encontram-se várias espécies de vetores do T.

cruzi, o agente causador da doença de Chagas. Estes percevejos se alimentam

em uma variedade de vertebrados incluindo o homem e, muitos são

intimamente associados com os sítios de repouso habitual ou com os ninhos de

aves, mamíferos e outros animais (Lehane, 1991).

Introdução

7

Os hemípteros são excepcionais no que diz respeito ao uso de enzimas

catepsina-símile no seu processo digestivo. Isto é consistente com a hipótese

de que os insetos hematófagos tenham surgido a partir de sugadores de seiva

vegetal (Houseman & Downe, 1983; Billingsley & Downe, 1989; Terra et al.,

1988). Os sugadores de seiva (por exemplo, D. peruvianus), não necessitando

de proteases, podem ter perdido suas tripsinas. No entanto, ao se alimentar de

uma dieta rica em sangue podem readquirir a atividade proteolítica no lúmen

intestinal. Isto é possível pelo uso das catepsinas que estão contidas nos

lisossomos de todas as células, redirecionando-as para a digestão extracelular

(Lehane, 2005). Algumas destas espécies sugadoras de seiva foram utilizadas

no desenvolvimento do trabalho, levando em consideração uma abordagem

evolutiva (D. peruvianus e Quesada gigas).

D. peruvianus é um hemíptera fitófago parasita de algodão. O intestino

médio de D. peruvianus é basicamente dividido em quatro regiões distintas: V1,

V2, V3 e V4. As células dessas regiões diferem significativamente quanto a

suas formas. As porções V1 e V2 são compostas por células colunares com

núcleos basais, envoltas por pouca membrana perimicrovilar, já as porções

finais V3 e V4 são formadas por células alongadas cobertas por grande

quantidade de membrana perimicrovilar (Silva et al., 1995).

A cigarra Q. gigas (Hemiptera: Cicadellidae) tem uma ampla distribuição

nas Américas, que vão desde o sul do Texas ao sul da Argentina. Esta espécie

tem sido descrita como importante praga das plantações de café na América

Central e América do Sul, particularmente no Brasil (Martinelli & Zucchi, 1987).

Os cinco estágios ninfais alimentam-se do sistema radicular da planta

hospedeira durante um período de 3-4 anos, antes de emergir como adultos.

Na sequência de emergência, os adultos alimentam-se das partes aéreas da

planta, obtendo nutrientes do xilema. A atividade alimentar das ninfas podem

debilitar a planta e em caso de graves infestações, causar a morte da planta

(Zanuncio et al., 2004). Outras espécies de cigarras foram mostradas como

vetoras de doenças de plantas. Adultos da cigarra Diceroprocta apache, por

exemplo, estão envolvidos na transmissão da bactéria Xylella fastidiosa, que

causa a doença de Pierce em videiras (Krell et al., 2007). As cigarras

dependem de bactérias simbiontes para sintetizar os aminoácidos essenciais

necessários para os insetos, e ausentes em suas dietas.

Introdução

8

1.3.1 – Rhodnius prolixus e a digestão sanguínea

R. prolixus é um Hemiptera hematófago obrigatório da família

Reduviidae. Este inseto possui cinco estádios de ninfa, após os quais se torna

adulto, provido de asas e maturidade sexual (Figura 2). Cada muda, assim

como cada ciclo reprodutivo, é sincronizado por uma única alimentação, na

qual o inseto ingere uma quantidade de sangue equivalente a até nove vezes

seu próprio peso (Friend et al., 1965). Tanto a quantidade, quanto a qualidade

do sangue ingerido afetam diretamente o desenvolvimento e a produção de

ovos de R. prolixus (Friend et al., 1965; Valle et al., 1987). Por volta do terceiro

dia após a alimentação, os ovários encontram-se repletos de ovócitos, sendo a

postura realizada por volta do sexto dia e a eclosão das ninfas verificada no

período de dez a vinte dias. Após a alimentação, o animal segue um período de

jejum prolongado, que pode chegar a alguns meses (Buxton, 1930). Nos

insetos hemimetábolos, o indivíduo pré-adulto é muito semelhante,

morfologicamente, ao indivíduo adulto. Além disso, possuem o mesmo hábito

alimentar em todos os estágios de vida, as formas imaturas têm igual potencial

para transmitir a doença, o que torna esta espécie um vetor por excelência.

Estas características, somadas à grande facilidade de reprodução e ao curto

ciclo de vida, os posicionam como modelos ideais para o desenvolvimento de

ensaios experimentais.

Introdução

9

FIGURA 2 – Ciclo de vida de R. prolixus, mostrando os estágios do ovo ao indivíduo adulto,

passando pelos cinco estágios de ninfa. Adaptado de Buxton (1930).

O aparelho digestório de R. prolixus é dividido em intestino anterior,

intestino médio e intestino posterior. O intestino médio, por sua vez, é dividido

em intestino médio anterior e posterior. O intestino médio posterior é ainda

subdividido em porção anterior e porção posterior (Billingsley & Downe, 1983)

(Figura 3). Após a ingestão, o sangue de hospedeiros vertebrados é estocado

no intestino médio anterior, onde tem início uma intensa atividade de lise das

hemácias (Billingsley, 1990). A digestão das proteínas sanguíneas se inicia na

porção anterior do intestino médio posterior, onde as catepsinas B e D,

aminopeptidases, carboxipeptidases, (Houseman & Downe, 1983) e outras

enzimas hidrolíticas (Ferreira et al., 1988) são ativas. Uma característica

marcante no intestino dos hemípteros é a presença de uma estrutura

membranosa, que reveste as células epiteliais no lado luminal, conhecida como

membrana perimicrovilar (MPMV). Estas membranas separam o conteúdo

luminal das células epiteliais, durante o ciclo digestivo do inseto (Silva et al.,

2004). No intestino médio anterior ocorrem outros processos além do

armazenamento de sangue e hemólise, como diurese e regulação iônica,

digestão de carboidratos e processamento de lipídeos (Bauer, 1981; Billingsley

& Downe, 1989). As células do intestino médio anterior contêm numerosos

1o

estádio2o

estádio3o

estádio

5o

estádio

4o

estádio

ovos

Introdução

10

esferócitos, estruturas multilamelares envolvidas na regulação iônica (Pacheco

& Ogura, 1966; Bauer, 1981; Billingsley & Downe, 1989). O transporte de água

é dependente desta regulação iônica e, consequentemente, da funcionalidade

destas estruturas. Em R. prolixus os esferócitos mantem-se enquanto estrutura

individualizada até os vinte dias após a alimentação, quando então são

absorvidos pelos lisossomos autofágicos. Os esferócitos têm sido considerados

sítios de seqüestro de íons minerais, os quais podem ser mobilizados quando

requeridos (Billingsley & Downe, 1989).

FIGURA 3 – Desenho esquemático do trato digestório de R. prolixus, segundo Billingsley & Downe (1983). 1 - Glândula salivar; 2 - Intestino médio anterior; 3 - Intestino médio posterior;

4 - Porção anterior do intestino médio posterior; 5 - Porção posterior do intestino médio

posterior; 6 - Túbulos de Malpighi; 7 - Reto (ampola retal).

A porção posterior do intestino médio posterior tem uma função mais

relacionada à absorção. Billingsley (1990) mostrou que esta região apresenta

uma maior densidade de mitocôndrias, possui uma área superficial maior e

exibe uma separação das membranas do labirinto basal quando mais

nutrientes estão disponíveis em etapas mais avançadas da digestão. De

maneira geral, o intestino médio de insetos hematófagos mostra poucas

variações. Por exemplo, em mosquitos, o sangue também é estocado e

3

1

2

4

5

6

7

Introdução

11

digerido no intestino médio posterior, embora o principal grupo de proteinases

seja, neste caso, tripsina-símile, diferente de hemípteras nos quais as

proteinases digestivas são, principalmente, do tipo catepsinas (Terra, 1990).

Estas diferenças não podem ser atribuídas à dieta, mas a uma adaptação

relacionada à origem de diferentes ancestrais. Este fato reforça o dado de que

a hematofagia não surgiu em um ancestral comum que deu origem a todas as

espécies existentes até o momento, mas, provavelmente, tem origem

polifilética, como resultado de um processo de convergência adaptativa.

1.4 – Heme e mecanismos antioxidantes

Heme, ou ferro-protoporfirina IX (Fe(III)PPIX), é uma molécula versátil

envolvida em muitos processos biológicos essenciais, incluindo transporte de

oxigênio, transdução de sinais, respiração, fotossíntese e detoxificação de

drogas (Ponka, 1999). No entanto, é bem conhecido que o átomo de ferro da

molécula de heme é um potente pró-oxidante, capaz de gerar espécies reativas

de oxigênio, como hidroxil e radicais peroxil (Ryter & Tyrrell, 2000). Por esta

razão, as células regulam a homeostase do heme. Um componente importante

deste controle é a heme oxigenase (HO). Frequentemente descrita como

antioxidante, esta enzima é expressa por diversos organismos como bactérias

e plantas (Tenhunen et al., 1969; Ortiz de Montellano, 2000). O catabolismo do

heme pela heme oxigenase resulta na liberação de monóxido de carbono,

biliverdina, e ferro (Figura 4). Esta via de degradação do heme tem sido

extensivamente estudada na última década, não só pelo seu papel no processo

de detoxificação do heme e reciclagem de ferro (Ryter & Tyrrel 2000), mas

também porque os produtos de clivagem do anel porfirínico, biliverdina e CO,

possuem importantes papéis fisiológicos (Maines, 1997). Nos mamíferos, CO,

um mensageiro gasoso, tem propriedades antiinflamatórias (Otterbein et al.,

2000) e anti-apoptóticas (Brouard et al., 2002). Biliverdina e bilirrubina (produto

reduzido da biliverdina) podem funcionar como importantes antioxidantes

(Stocker et al., 1987; Stocker, 2004). A ação destrutiva dos componentes do

sangue para o sistema nervoso central, por exemplo, podem ser relacionadas a

dois aspectos: inflamação e estresse oxidativo. O heme tem sido mostrado

recentemente como uma molécula imuno-ativa, capaz de promover ativação de

Introdução

12

neutrófilos e macrófagos e migração de ambos, in vitro e in vivo (Figueiredo et

al., 2007; Porto et al, 2007; Graça-Souza et al., 2002).

Organismos que têm, como fonte de nutrientes, proteínas sanguíneas,

como a hemoglobina, apresentam mecanismos eficientes de digestão destas

moléculas. Hemoglobina compreende 95% das proteínas citosólicas das

células vermelhas do sangue (Ball et al., 1948). Em Plasmodium, a

hemoglobina ingerida é degradada no interior do vacúolo digestório ácido

(Yayon et al., 1984, Ollioro & Goldberg, 1995; Egan 2008a), por plasmepsinas

e falcipaínas, produzindo pequenos peptídeos. Esses peptídeos translocam-se,

subsequentemente, para o citosol do parasito onde, através de mecanismos

ainda não conhecidos, exopeptidases citosólicas completam sua digestão,

sendo aminoácidos resultantes assimilados pelo parasito para crescimento e

maturação (Goldberg et al., 1992; Coombs et al., 2001). Devido a esta massiva

degradação de hemoglobina, uma grande quantidade de heme livre é liberada

como um sub-produto tóxico em Plasmodium (Orijih et al., 1993). Heme, o

grupamento prostético da hemoglobina, é uma molécula envolvida com

processos vitais, como a cadeia transportadora de elétrons (citocromos), a

detoxificação de drogas (citocromo P450) e o transporte de oxigênio

(hemoglobina e hemocianina) em um grande número de organismos vivos.

Ácido úrico é considerado um eficiente mecanismo antioxidante

associado à utilização do heme do hospedeiro no Rhodnius (Graça-Souza et

al., 1997). O ácido úrico é um quelante de radicais livres, e sua concentração

hemolinfática chega a 5 mM. Esta concentração aumenta em decorrência da

alimentação ou à injeção de hemina na hemocele. Além disso, As proteínas de

ligação de heme na hemolinfa de Rhodnius (RHBP) são capazes de interagir

com o heme livre e formar complexos que não acarretam a geração de radicais

livres (Atamna & Ginsburg 1995; Ryter & Tyrrel 2000; Dansa-Petretski et al.,

1995) (Figura 4). Outros parasitas são candidatos a ter sistemas de degradação da

hemoglobina. Entamoeba histolytica, o agente causador da amebíase, ingere

eritrócitos, mas a degradação da hemoglobina não foi totalmente caracterizada

(Langreth 1976). Quantidades maciças de hemoglobina são degradadas pelo

gênero Schistosoma, os agentes causadores da esquistossomose (Dalton et

al., 1996).

Introdução

13

Em insetos hematófagos, o estudo da degradação de heme tem sido

negligenciada, apesar do fato de que esses insetos, sem dúvida, têm que lidar

com uma das mais elevadas concentrações de heme em suas dietas. Estes

animais enfrentam uma intensa condição de estresse oxidativo devido a

degradação da hemoglobina do hospedeiro durante a digestão. Assim, no

curso da evolução, esses animais têm desenvolvido uma série de estratégias

para neutralizar a citotoxicidade do heme para se adaptar com sucesso à

alimentação de sangue (Dansa-Petretski et al., 1995; Oliveira et al., 1999;

Oliveira et al., 2002; Graça-Souza et al., 2006). Nestes insetos, a utilização do

heme ingerido poderia representar uma grande economia em termos

metabólicos, uma vez que minimizaria a utilização da via de biossíntese de

heme, também presente na maior parte dos seres vivos. Isto, de fato, parece

ocorrer em R. prolixus, tendo sido demonstrado que parte do heme gerado no

aparelho digestório é capaz de ser absorvido pelo inseto (Dansa-Petretski et

al., 1995). A capacidade de utilização de heme do hospedeiro vertebrado já é

conhecida no carrapato bovino Boophilus microplus (Braz et al., 1999). Em

Rhodnius, o heme absorvido parece regular, de uma forma ainda pouco

entendida, a ovogênese (Braz et al., 2001).

Enquanto funções úteis do heme são demonstradas em diversas

reações enzimáticas, um número de efeitos deletérios são direta e

indiretamente atribuídos ao heme livre. O acúmulo de heme na sua forma

monomérica, livre em solução aquosa, poderia promover a lise de células. Por

ser um ânion anfifílico, o grupo heme é capaz de alterar a permeabilidade e

seletividade da membrana (Schmitt et al., 1993). Além disso, o aparecimento

de espécies reativas de oxigênio promovido pela presença de heme (Liu et al.,

1985; Gutteridge & Smith, 1988) causa reações deletérias como peroxidação

lipídica, “cross-linking” de proteínas e fragmentação de moléculas de DNA

(Tappel, 1955; Aft & Muller, 1984; Vicent et al., 1988).

A presença de grande quantidade de heme no trato intestinal de insetos

hematófagos faz deste um ambiente altamente oxidante. Assim, a absorção e

posterior utilização deste heme poderiam ser tóxicas para o inseto. Existem, no

entanto, uma série de mecanismos antioxidantes associados à hematofagia já

descritos. Um destes mecanismos é a síntese de uma proteína de ligação de

heme, denominada RHBP (Oliveira et al., 1995) em R. prolixus. Esta proteína,

Introdução

14

que está presente na hemolinfa, liga-se ao heme, inibindo a lipoperoxidação

induzida por heme (Dansa-Petretski et al., 1995). Devenport et al. (2006)

identificaram uma peritrofina de Ae. aegypti – um componente protéico da

matriz peritrófica – como sendo uma proteína de ligação de heme.

Hemeproteínas são uma super família de proteínas que catalisa uma variedade

de reações bioquímicas em virtude da utilização de porfirinas como grupo

prostético (Mense & Zhang 2006). Citocromo-c, isoformas do citocromo P-450,

catalase, óxido nítrico sintase e peroxidases são exemplos representativos de

hemeproteínas (Horie et al., 1975; Rydberg et al., 2004).

Paes et al. (2001) demonstraram que catalase e glutationa cooperam

para controlar a concentração de peróxido de hidrogênio nas células do

intestino médio de R. prolixus e previnem a geração de radicais hidroxil pela

reação de Fenton neste tecido. Paiva-Silva et al. (2006) demonstraram uma

nova via de degradação de heme, tanto no epitélio do intestino médio, quanto

no tecido pericardial. No mosquito Ae. aegypti a via de degradação de heme foi

observada por ser amplamente distinta da demonstrada para o hemíptera

hematófago R. prolixus (Pereira et al., 2007).

Existem outros mecanismos antioxidantes hemolinfáticos descritos para

R. prolixus, como a presença de altas concentrações de ácido úrico na

hemolinfa (Souza et al., 1997). A biocristalização de heme (síntese de

hemozoína) no intestino médio do inseto (Oliveira et al., 1999) representa outro

importante mecanismo da diminuição da disponibilidade de heme livre. O

epitélio do trato intestinal é um importante alvo de ação das espécies geradas

pela ação catalítica do heme, já que este é o local onde se dá o processo

enzimático que leva ao aparecimento do composto. Assim, a síntese de

hemozoína representa uma primeira barreira contra os efeitos tóxicos do

grupamento heme (Oliveira et al., 2000). No intestino do inseto R. prolixus, foi

demonstrado que o heme gerado durante a degradação da hemoglobina pode

se associar às membranas perimicrovilares (Oliveira et al., 2000; Silva, 2001;

Silva et al., 2007; Stiebler et al., 2010). Em Ae. aegypti, na região da membrana

peritrófica, existem pequenos agregados de heme que também parecem

representar uma forma de defesa contra o heme (Pascoa et al., 2002).

Introdução

15

Figura 4 – Adaptações contra a toxicidade do heme. As maiores defesas dos insetos

hematófagos contra a toxicidade do heme estão concentradas no intestino médio. O controle

de tal toxicidade é realizado pela combinação da formação de cristais de heme, degradação de

heme, enzimas antioxidantes e moléculas de baixo peso molecular. A hemolinfa com

antioxidantes de baixo peso molecular e proteínas de ligação de heme que previnem a geração

de radicais livres contituem a segunda linha de defesa, resultando em um baixo nível de

estresse oxidativo nos outros tecidos. Hb—hemoglobina; ROS – espécies reativas de oxigênio;

O2- - anion superóxido; H2O2 – peróxido de hidrogênio; SOD – superóxido dismutase; TrxR –

tioredoxina redutase; TrxPx – tioredoxina peroxidase; Trx red – tioredoxina reduzida; Trx ox –

tioredoxina oxidada; GSH – glutationa reduzida; GSSG – glutationa oxidada; BPM – baixo peso

molecular. Adaptado de Graça-Souza et al. (2006).

Processamento

Proteína de ligação de heme

Derivados biliverdina

Introdução

16

1.5 – Formação de hemozoína Porfirina é o nome dado para uma família de compostos intensamente

coloridos, formados por um grande macro-ciclo de vinte átomos de carbono e

quatro átomos de nitrogênio. O macro-ciclo é construído a partir de quatro

pequenos anéis pirrólicos, cada anel formado por quatro átomos de carbono e

um átomo de nitrogênio. Cada um desses anéis é unido ao seu vizinho por uma

ponte de átomos de carbono (Milgron, 1997). O grupo heme, ou

ferroprotoporfirina IX (Fe(III)PPIX), apresenta um átomo de ferro no centro

desta estrutura (Figura 5). O ferro é essencial para muitos processos redox em

todos os eucariotos e muitos procariotos (Kaplan & O’Halloran 1996). No

entanto, o heme pode ser extremamente tóxico quando na presença de

oxigênio, por gerar espécies reativas de oxigênio através das reações de

Fenton. Uma série de mecanismos envolvidos na proteção de organismos

contra os efeitos deletérios causados pelo heme já foram descritos, e alguns

destes mecanismos estão relacionados à manutenção do heme em uma forma

menos reativa, por exemplo por associação desta molécula a proteínas. Um

mecanismo antioxidante bastante estudado na última década é a

biocristalização do heme em uma forma menos reativa, conhecida como

hemozoína (Hz) (Figura 6).

FIGURA 5 – Estrutura molecular do grupo heme ou ferro-protoporfirina IX (Fe(III)PPIX) (Egan, 2008a). Heme é um macrociclo, formado por 4 anéis pirrólicos unidos por pontes

metênicas. O átomo de ferro no heme liga-se a 4 nitrogênios no centro do macrociclo.

Introdução

17

A hemozoína, originalmente descrita como o pigmento da malária, é uma

molécula química e estruturalmente similar à beta-hematina (Slater et al.,

1991). É insolúvel em tampão bicarbonato básico e solventes apróticos como

dimetil sulfóxido e piridina (Slater et al., 1991). Em contraste, a hematina é

solúvel em ambos os tipos de solventes, por solvatação das cadeias

carboxilato ou por coordenação do solvente com o ferro em seu estado férrico

(Brown & Lantzke, 1969).

O mecanismo de síntese de Hz é pouco conhecido. Existem indícios de

que as unidades de heme sejam primeiro dimerizadas através de ligações

ferro-carboxilato recíprocas. Esta ligação ferro-carboxilato entre hemes

adjacentes permite agregar dois ou mais dímeros para formar hemozoína,

embora o número exato de unidades de heme em cada cadeia não possa ser

determinado (Slater et al., 1991). Os dímeros são ainda estabilizados através

de pontes de hidrogênio entre os grupamentos propionato não dissociados de

moléculas de heme de diferentes cadeias (Bohle & Helms, 1993; Bohle et al.,

1997). A complexa estrutura da hemozoína é mantida por interações iônicas

entre as moléculas de heme e por pontes de hidrogênio entre as cadeias já

formadas (Figura 6) (Egan, 2008a). Esta estrutura diferencia-se de outras

formas, como o monômero de heme, apresentando distinta solubilidade, e

distintos perfis em difração de raio-X e espectrometria de infravermelho (FTIR)

(Pagola et al., 2000).

Para a formação de Hz a partir de monômeros de heme, 50% dos

grupamentos de ácido propiônico do heme devem estar desprotonados, o que

ocorre em valores de pH iguais ao pKa dos propionatos, entre 4,8 – 5,0. Estes

valores coincidem com a faixa de pH do vacúolo digestório de Plasmodium

(Ridley et al., 1995), local em que esta estrutura foi descrita pela primeira vez, e

do intestino médio de R. prolixus (Oliveira et al., 1999).

Introdução

18

FIGURA 6 – Estrutura da hemozoína segundo Egan (2008a). Notar as ligação entre o ferro

de uma molécula de heme com o radical carboxilato da molécula de heme adjacente.

Diferentes cadeias são mantidas juntas por ligações de hidrogênio.

No modelo Plasmodium, enquanto a formação de hemozoína dentro do

vacúolo protege o parasita dos efeitos tóxicos do heme (Slater, 1992), o

acúmulo de hemozoína no interior dos monócitos/macrófagos e neutrófilos

pode causar efeitos deletérios ao hospedeiro. Estudos prévios mostraram que

a ingestão de hemozoína por cultura de células mononucleares humanas pode

acarretar a liberação de citocinas pro-inflamatórias (por exemplo: TNF-α e IL-

1b) (Pichyangkul et al., 1994) e anti-inflamatórias (por exemplo: IL-10)

(Mordmuller et al., 1998), e prejudicar a função dos macrófagos causando uma

explosão oxidativa (Schwarzer & Arese 1996). Estudos anteriores mostraram

que os níveis plasmáticos de IL-12 são inversamente correlacionados com a

quantidade de neutrófilos na circulação em crianças com malária grave,

sugerindo que a aquisição de hemozoína de uma infecção natural altera a

produção de citocinas (Luty et al., 2000).

Introdução

19

1.6 – Mecanismo de formação de hemozoína in vivo

Antes dos estudos realizados por Fitch & Kanjananggulpan (1987) e

Slater et al. (1991) foi amplamente assumido que hemozoína era simplesmente

um produto de degradação, possivelmente constituído apenas de hemoglobina

parcialmente degradada (Goldie et al., 1990). Alguns autores, entretanto,

sugeriram que ela poderia consistir de Fe (III) PPIX associado com proteínas

ricas em glicina (Ashong et al., 1989). Slater et al. (1991) assumiram que

hemozoína era um polímero de heme. Em 1992, Slater & Cerami verificaram

que o extrato de trofozoíto capaz de promover formação de hemozoína

aparentemente era sensível ao calor e apresentava um pH ótimo em torno de

5, próximo ao pH do vacúolo digestivo. Isto os levou a propor a existência de

uma enzima associada à formação de Hz, que foi denominada heme

polimerase.

Em 1995, Dorn et al. mostraram que existe uma taxa de formação

espontânea de hemozoína, que ocorre em temperatura fisiológica. Entretanto,

a autocatálise se mostrou lenta para explicar a formação de hemozoína in vivo.

Bendrat et al. (1995) sugeriram que os lipídios promovem a formação de

hematina e que tanto hemozoína como β-hematina são “contaminadas” com

lipídios, o que justificaria o comportamento auto-catalítico. Dorn et al. (1998)

investigaram o processo de formação de hemozoína in vitro e verificaram,

inicialmente, que a formação de hematina ocorre espontaneamente mesmo na

ausência de Hz pré-formada, após muitos dias de ensaio. No entanto, os

mesmos autores verificaram que o processo é mais rápido quando foi

adicionado um extrato acetonitrílico de trofozoítas de malária, resultado

reproduzido quando lipídios eram utilizados no ensaio. Sullivan et al. (1996)

mostraram que uma Proteína Rica em Histidina II (HRPII), abundante em P.

falciparum, também é capaz de induzir a formação de hemozoína e sugerem

que estas proteínas poderiam ser capazes de catalizar ou iniciar a formação de

hemozoína in vivo.

Por mais de uma década a estrutura da hemozoína foi proposta como

sendo um polímero de heme e a terminologia polimerização tornou-se

fortemente utilizada (Egan, 2008a). No entanto, Pagola et al. (2000) verificaram

que a hemozoína não é um polímero, mas sim um dímero cíclico de

Introdução

20

Fe(III)PPIX. Esta conclusão não é inteiramente surpreendente dado o fato de

que hemozoína consiste de cristais com faces bem definidas, algo que não

seria observado em um composto polimérico constituído por cadeias de

comprimento variável (Egan, 2008a). Sendo assim, não há uma heme

polimerase envolvida com o processo de síntese de hemozoína. No entanto, o

processo de formação de Hz ainda é controverso. Provavelmente, o

crescimento do cristal é de fato um processo autocatalítico, pois após ocorrer a

nucleação (formação do primeiro dímero), outras moléculas aderem a este

núcleo (Egan, 2008b). A contribuição de proteínas, em maior escala, bem como

de lipídios neste processo ainda é pouco compreendida.

Devido a existência de poucas evidências acerca da função das

proteínas HRP na síntese de hemozoína, Jackson et al. (2004) investigaram a

participação de lipídios neutros neste processo em P. falciparum. Um pouco

depois, Pisciotta et al. (2007) alteraram a perspectiva do processo de formação

de hemozoína, confirmando que o cristal é formado no interior dos corpos

lipídicos dentro do vacúolo digestivo do parasita. A presença de proteína ou

proteínas no processo de síntese de hemozoína havia sido totalmente excluída.

No entanto, uma proteina presente em pequenas quantidades poderia agir

como sítio de nucleação para a formação de hemozoína (Egan, 2008a). Em

Plasmodium, tem sido sugerida a participação de HRP (Lynn et al., 1999) e em

Schistosoma mansoni a influência de lipídios (Oliveira et al., 2005). Pandey et

al. (2003) verificaram que a formação de Hz na presença de HRPII sozinha não

é rápida o suficiente e também pode requerer a participação de lipídios. Em

2008, outro grupo de proteínas foi identificado como promotoras da síntese de

Hz em Plasmodium (Jani et al., 2008). Esta proteína foi denominada HDP

“heme detoxification protein”.

1.7 – As α-glucosidases (α-D-glicosídeo glicohidrolase; EC 3.2.1.20)

Glicosídeo hidrolases ou glicosidases são enzimas implicadas em uma

grande variedade de eventos biológicos por catalisarem a hidrólise de oligo e

polissacarídeos. Esta reação pode estar envolvida em eventos de sinalização

celular, invasão viral, estoque e utilização de alimento, biossíntese de

glicoproteínas, entre outras. As glicosídeo hidrolases são as mais potentes

Introdução

21

entre as enzimas catalíticas conhecidas. A ligação glicosídica é uma das

ligações mais estáveis na natureza, com uma meia-vida para hidrólise

espontânea de, aproximadamente, 5 milhões de anos (Zechel & Whiters,

2000).

Sequências gênicas de milhares dessas importantes enzimas têm sido

determinadas, sendo as enzimas correspondentes agrupadas em famílias

(família 1 a família 106) com base na similaridade de suas sequências

(Campbell et al., 1997; Cazy, 2006). As α-glucosidases são glicosidases

encontradas, principalmente, nas famílias 13 e 31 e, em menor extensão, nas

famílias 4 e 63 (Lovering et al., 2005).

As α-glucosidases catalisam a exohidrólise de ligações glicosídicas do

tipo α-1,4 das extremidades não redutoras de oligo ou polissacarídeos, com

eficiência variada (NC-IUMBM, 2006). As α-glucosidases possuem

especificidade por diversos substratos; algumas preferem di-, oligo-, e/ou

poliglicanos, enquanto outras hidrolisam preferencialmente substratos

heterogêneos como sacarose (Chiba, 1988).

Estudos mais recentes realizados com α-glucosidase de Entamoeba

histolitica mostraram indícios da existência de resíduos de histidina no sítio

catalítico desta enzima (Bravo-Torres et al., 2004). Estas observações foram

possíveis pela utilização de uma droga, dietilpirocarbonato (DEPC), capaz de

modificar resíduos de histidina. DEPC é bem conhecido pela sua alta

especificidade para átomos de nitrogênio não protonados como os do anel

imidazol (Miles, 1977) e tem sido usado para análise de resíduos de histidina

em várias proteínas, incluindo proteínas que contêm heme (Nakanishi et al.,

2008). No entanto, o DEPC pode também agir sobre outros nucleófilos como

alcoóis, aminas e tióis (Wu et al., 2009). Uma α-glucosidase purificada de C.

elegans apresentou 40% de inibição ao ser tratada com DEPC (Torre-

Bouscoulet et al., 2004). Além disso, esta também apresentou uma forte

inibição quando submetida ao tratamento com N-etilalemida (NEM), uma droga

capaz de modificar resíduos de cisteína.

Conduritol B epoxide é um conhecido mecanismo baseado na inativação

da α-glucosidase por ligar especificamente ao grupo β-carboxyl do resíduo de

ácido aspártico do sítio ativo, que é um nucleófilo catalítico (-COO2) (Braun et

Introdução

22

al., 1977; Kimura et al., 1997a). Análises de cinética e modificação química

sugerem que os grupos carboxyl e carboxilato (-COO2 and -COOH) estão

envolvidos diretamente nas reações enzimáticas das α-glucosidases (Kimura et

al., 1997b). Dessa forma, resíduos de histidina e ácido aspártico são

demonstrados como sendo importantes para o sítio catalítico das α-

glucosidases.

A principal função fisiológica das α-glucosidases é produzir

monossacarídeos, a partir de oligo ou polissacarídeos, que são utilizados como

fonte de carbono e energia. No entanto, as atividades de transglicosilação do

tipo exo-glicosidases, por vezes desempenham um papel fisiológico importante

na regulação de genes envolvidos na utilização de carboidratos.

Transglicosilação é um mecanismo para formação de ligações glicosídicas

durante a síntese de polissacarídeos (Allaby, 1999). Um exemplo bem

conhecido é a indução do operon lac em Escherichia coli. O indutor fisiológico

do operon (6-O-β-D-galactopiranosil-D-glicose) é sintetizado a partir de lactose

por atividade de transglicosilação (Miller & Reznikoff 1978). Outro exemplo da

reação de transglicosilação refere-se à α-glucosidase de Aspergillus niger que

catalisa a formação de ligações glicosídicas α-1-6, resultando na produção de

isomaltose (6-O-α-D-glucopiranosil-D-glucopiranose) (Duan et al., 1995). Além

disso, α-glucosidases de Bacillus stearothermophilus e levedura produzem

oligossacarídeos consistindo de ligações α-1-3, α-1-4 e α-1-6 (Mala et al.,

1999).

Apesar da importância biológica das enzimas, apenas três estruturas

completas de α-glucosidases são atualmente depositadas no Protein Data

Bank (PDB), sendo uma de Sulfolobus solfataricus (PDB 2g3m) (Ernst et al.,

2006), uma de Thermotoga maritima (1lwj e 1lwh) (Lodge et al., 2003) e outra

de Bacteroides thetaiotaomicron (2d73) (Kitamura et al., 2008). Shirai et al.

(2008) analisaram a estrutura em cristal da α-glucosidase de Geobacillus

(GSJ). Esta consiste de 3 domínios, baseando-se em estruturas homólogas

(Figura 7). O domínio N-terminal estendido (resíduos 2–102, 170–205 e 229–

471) possui uma volta β-pregueada que abriga o centro catalítico. O

subdomínio (resíduos 103–169 e 206–228) está inserido no interior do domínio

N-terminal. O papel funcional do domínio C-terminal não está claro. A estrutura

GSJ tem três segmentos de peptídeos desordenados: 215-218, 293-294 e 388-

Introdução

23

400 (apresentado como A, B, e C na cor magenta na figura 7). As regiões

desordenadas foram localizadas ao lado do centro catalítico do domínio N-

terminal.

FIGURA 7 – Esquema mostrando a estrutura em cristal da α-glucosidase de Geobacillus (GSJ) – bactéria termófila. Os domínios N-terminal e C-terminal são mostrados em azul e

laranja, respectivamente. O magenta representa regiões de loops (*A, resíduos 215–218; *B,

293–294; e *C, 388–400). Os resíduos catalíticos, Asp199, Glu256 e Asp326, são mostrados

no interior do modelo (Pettersen et al., 2004).

1.8 – Membranas perimicrovilares e α-glucosidase

Como abordado anteriormente, a maioria dos insetos apresenta uma

barreira entre o bolo alimentar e o epitélio intestinal denominada de membrana

ou matriz peritrófica. Os mosquitos, por exemplo, apresentam uma matriz

peritrófica formada basicamente por quitina, proteínas e proteoglicanos, criando

espaços definidos onde enzimas distintas atuam. Esta membrana protege os

Introdução

24

insetos contra patógenos e componentes tóxicos oriundos da dieta (Terra,

2001; Terra & Ferreira, 2005; Hegedus et al., 2009).

A matriz peritrófica foi, provavelmente, perdida em ancestrais Hemiptera

na adaptação ao ato de sugar o floema (Terra, 1990). Os hemipteras não

possuem as membranas peritróficas, mas as membranas microvilares das

células intestinais não estão em contato direto com o bolo alimentar, devido a

existência de uma membrana plasmática extracelular, denominada membrana

perimicrovilar (MPMV), que recebem este nome por recobrirem as

microvilosidades de suas bases até o topo destas, se projetando em direção ao

lúmen intestinal (Terra, 1988; Silva et al., 1995, 1996, 2004). MPMVs foram

descritas tanto em Heteroptera (subordem de Hemiptera) quanto em

Fulgoroidea (superfamília de Homoptera onde se encontram as cigarras,

pulgões, cigarrinhas e colchonilhas) (Reger, 1971; Lane & Harrison, 1979;

Andries e Torpier, 1982; Baerwald e Delcarpio, 1983). Outro grupo relacionado

à ordem Hemiptera que também apresenta o sistema de MPMV é a ordem

Thysanoptera, representada pelo trips, vulgarmente conhecido como

"lacerdinha". Kitajima (1975) descreveu estruturas muito similares às

membranas perimicrovilares nessa espécie, referindo-se a elas como um tipo

especial de glicocálice. A membrana perimicrovilar é uma estrutura

permanente, mas sua extensão parece depender de alimento (Billingsley &

Downe, 1983). Silva et al. (2007) mostraram que as MPMV em R. prolixus são

produzidas em resposta à alimentação e sua produção atinge o máximo no 7º

dia.

As α-glucosidases são proteínas majoritárias presentes nas membranas

perimicrovilares e, por isso, têm sido utilizadas como marcadores moleculares

destas membranas em Hemiptera (Silva et al., 1996; 2007).

Em D. peruvianus as MPMV exercem um papel crucial na absorção dos

aminoácidos e outros nutrientes diluídos na seiva vegetal (Terra et al., 1988).

Segundo o modelo apresentado por esses autores, as membranas microvilares

possuem portassomos, que contribuem para a densidade aumentada da

estrutura destas membranas. Os portassomos são bombas que bombeiam o

potássio ativamente do espaço perimicrovilar para as células do intestino

médio, criando um gradiente de concentração de potássio entre o lúmen

intestinal e o espaço perimicrovilar. Este gradiente é usado como uma força

Introdução

25

motriz para a absorção ativa de aminoácidos, por meio de carreadores

apropriados das membranas perimicrovilares. Outro papel fundamental das

membranas perimicrovilares é o da compartimentalização de processos

enzimáticos envolvidos nos eventos digestivos no intestino dos insetos que as

possuem (Terra, 1990; Terra e Ferreira, 1994). Há evidências de que em R.

prolixus e em D. peruvianus, a digestão de proteínas ocorre com a separação

espacial da digestão inicial, que envolve a participação de proteinases

catepsina-símile no lúmen ventricular, e a digestão intermediária, onde participa

uma aminopeptidase confinada no espaço perimicrovilar (Billingsley e Downe

1985; Ferreira et al., 1988; Terra et al., 1988; Silva et al., 1996).

Alguns hemípteras podem carregar parasitos em seus intestinos,

principalmente Tripanosomatídeos. Em algumas destas interações

parasita/inseto, a colonização do trato digestório por estes microorganismos

parece envolver o ancoramento do parasito nas MPMV (Romeiro et al., 2000).

Assim, estas membranas poderiam estar exercendo um papel de barreira

contra a entrada destes parasitos na hemocele destes insetos, como é

proposto para as membranas peritróficas (Devenport, 2004).

A biogênese das membranas perimicrovilares ainda não está

completamente elucidada. A primeira evidência de uma provável origem destas

membranas foi detalhado por Silva et al. (1995) de acordo com observações

de vesículas com dupla membrana nas células epiteliais do intestino médio de

D. peruvianus. Posteriormente, Cristofoletti et al. (2003) confirmaram esta

origem para o afídio Acyrthosiphon pisum (Figura 8). Neste último modelo,

propõe-se que haja liberação de vesículas que migram do retículo

endoplasmático em direção ao aparato de Golgi. A partir desta organela, as

vesículas de dupla membrana, transportando proteínas secretoras, seriam

liberadas dentro do lúmen intestinal, depois de fusionar as membranas

externas com as membranas microvilares e as membranas internas com as

membranas perimicrovilares.

Introdução

26

FIGURA 8 – Modelo da origem das membranas associadas com o sistema lamelar apical

(Cristofoletti et al., 2003). Cisternas do Golgi (a) que começam a se dirigir ao RER (b). Esses,

após perder os ribossomos, formam vesículas envolvendo as membranas (c) que

eventualmente fusionam com a base da lamela apical esvaziando o conteúdo da membrana

para o espaço interlamelar (d). As membranas se movem ao longo do espaço interlamelar (e)

e, finalmente começam a se associar com a superfície luminal da lamela, projetando-se para o

interior do lúmen (f).

No intestino médio dos insetos, α-glucosidases são encontradas na

forma solúvel ou ligadas à membrana. Alfa-glucosidase solúvel pode ocorrer no

lúmen do intestino médio, como observado em Coleoptera (Colepicolo-Neto et

al., 1986; Baker, 1991), e Himenoptera (Schumaker et al., 1993) ou pode

permanecer no interior do glicocálix, como encontrado em Lepidoptera (Ferreira

Introdução

27

et al., 1993). Em Musca domestica (Diptera), uma α-glucosidase é encontrada

no lúmen intestinal e uma outra permanece no glicocálix (Terra & Jordão,

1989). As α-glucosidases de membrana são proteínas integrais da membrana

microvilar em células intestinais de Diptera (Espinoza-Fuentes & Terra, 1986;

Terra e Jordão, 1989, 1991). A localização da α-glucosidase no intestino

depende amplamente da posição filogenética do inseto, estando diretamente

relacionado com o padrão geral de digestão (Terra 1988; 1990). Atividades de

α-glucosidases foram detectadas em glândula salivar dos mosquitos Aedes

albopictus (Marinotti et al., 1996) e Anopheles darlingi (Moreira-Ferro et al.,

1999) e no intestino médio de mosquitos adultos da espécie Anopheles

stephensi, antes e depois da alimentação sanguínea (Billingsley & Hecker,

1991).

Em Hemiptera, a α-glucosidase é encontrada associada às membranas

perimicrovilares, que envolvem as microvilosidades e se projetam para a luz do

tubo digestório, algumas vezes formando camadas sobre as microvilosidades

das células do intestino médio (Terra et al., 1988; Silva et al., 2004). Ainda em

consideração às glucosidases e sua distribuição, foi observado que, em

trofozoítas de ameba aproximadamente 70% da atividade total de α-

glucosidase estavam presentes sob a forma solúvel da enzima, enquanto o

restante permanece associado com as membranas (Zamarripa-Morales et al.,

1999).

Phlebotomus langeroni são insetos hematófagos, mas também se

alimentam frequentemente de uma dieta rica em carboidratos (Schlein &

Warburg 1986). Um estudo preliminar revelou que as α-glucosidases foram as

glicosidases mais ativas no intestino de flebotomíneos. Nestes insetos foi

observado que a atividade desta enzima aumentou significativamente 1h após

a alimentação com sangue (Dillon & Kordy, 1997). Glicosidases são as

principais enzimas digetivas do inseto sugador de seiva Schistocerca gregaria

(Strebler, 1977), mas a presença de altas atividades em flebotomíneos sugere

que as glucosidases são também importantes para digestão nos insetos

hematófagos. Billingsley & Hecker (1991) encontraram uma maior atividade de

α-glucosidases alcalinas em homogenatos do intestino médio de Anopheles

stephensi quando alimentados com sangue. No caso do hemíptera

hematófago, R. prolixus, as MPMV são sintetizadas em resposta à alimentação

Introdução

28

sanguínea. Consequentemente, a atividade da α-glucosidase aumenta

significativamente nos dias após o repasto sanguíneo (Silva et al., 2007). Este

aumento coincide com o aumento de hemozoína formada no lúmen intestinal

desta espécie, sugerindo a participação dessas membranas na síntese de

hemozoína.

Justificativa do Trabalho

29

2 – JUSTIFICATIVA DO TRABALHO Insetos são uma das principais causas de mortalidade e morbidade

humanas, principalmente como resultado da transmissão de patógenos por

espécies sugadoras de sangue. A transmissão de doenças vetoriadas por

insetos é governada por interações complexas entre o parasita, o vetor e o

hospedeiro vertebrado. O controle efetivo dessas doenças é, portanto, uma

meta desafiadora que requer o conhecimento das ligações entre fatores

biológicos, ambientais e sócio-econômicos.

Hoje é consenso que os métodos convencionais usados para o controle

de insetos vetores apresentam-se ineficientes, e novas estratégias de controle

de doenças e vetores são requeridas. Particularmente importantes são duas

iniciativas: o desenvolvimento de vacinas baseadas na imunidade bloqueadora

da transmissão, e a produção de vetores geneticamente modificados,

resistentes às infecções (Hurd, 1994). Abordagens racionais para essas

estratégias se originam de estudos de fisiologia, bioquímica e biologia

molecular de insetos vetores. R. prolixus é um hemiptero hematófago da família Reduviidae. Nesta

família estão importantes espécies de insetos transmissores da doença de

Chagas. Em R. prolixus vários mecanismos anti-oxidantes tem sido descritos

como fundamentais para que o inseto sobreviva à hematofagia, já que a

digestão do sangue gera grandes quantidades de heme, um produto

extremamente tóxico (Oliveira et al., 1999).

Na literatura existe uma grande controvérsia acerca dos fatores

responsáveis pelo mecanismo de síntese de hemozoína. Há evidências da

participação de lipídios como catalisadores na formação de Hz em P.

falciparum (Ridley et al., 1995). Outra corrente aponta para a presença de

proteínas ricas em resíduos de histidina com atividade heme polimerásica,

também em P. falciparum (Sullivan et al., 1996). Silva et al. (2007) observaram

que há atividade de síntese de hemozoína na fração protéica de epitélio

intestinal de R. prolixus, mas sugeriram a ocorrência de um efeito sinergístico

quando frações lipídica e protéica estão associadas. Certamente o mecanismo

de síntese de hemozoína requer a colaboração de fatores e pode realmente

não ser atribuída a um único fator. No entanto, dados na literatura mostram que

Justificativa do Trabalho

30

drogas quinolinas, como a cloroquina, atuam no Plasmodium através da

inibição da síntese de hemozoína (Sullivan et al., 1996; Meshnik, 1996; Ridley

et al., 1997). As quinolinas parecem inibir a síntese de hemozoína in vitro em

condições fisiológicas (Slater & Cerami, 1992). A ação eficaz do mesmo grupo

de drogas anti-malária em S. mansoni (Corrêa-Soares et al., 2009), por

idêntico mecanismo de inibição da síntese de Hz, abre a possibilidade de

utilização do processo de formação de Hz como um alvo para o

desenvolvimento de novos quimioterápicos para o tratamento de doenças

causadas ou vetoriadas por agentes formadores de Hz.

Ao mesmo tempo, a abordagem fisiológica e evolutiva do estudo do

processo de formação de Hz pode ser a chave para entender as adaptações

que ocorreram em insetos hematófagos em resposta à pressão seletiva.

Conhecer como as diferentes espécies se adaptaram ao longo da evolução,

pode indicar um caminho para o desenvolvimento de novas drogas com ação

sobre a interação patógeno/vetor ou com ação inseticida direcionada a insetos

transmissores de doenças. Consequentemente este estudo poderá fornecer

subsídios para o desenvolvimento de novas estratégias de combate a doenças

transmitidas por vetores.

Objetivos

31

3 – OBJETIVO GERAL

Estudar o papel de uma α-glucosidase na formação de Hemozoína em

Rhodnius prolixus in vivo e in vitro.

3.1 – Objetivos específicos

Comparar a contribuição de lipídios e proteínas no processo de

formação de cristais de heme in vitro;

Investigar a ação da molécula de heme no controle da expressão e da

atividade de α-glucosidase de R. prolixus;

Testar o efeito de inibidores de α-glucosidase na formação de

Hemozoina em Rhodnius prolixus

Verificar a influência do silenciamento mediado por RNA na síntese de

hemozoína in vivo;

Comparar as estruturas de α-glucosidases de diferentes espécies e

relacioná-las com a atividade de síntese de hemozoína;

Verificar se espécies não-hematófagas (Dysdercus peruvianus e

Quesada gigas) são capazes de catalisar a formação de hemozoína.

Materiais e Métodos

32

4 – MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 – Colônia de insetos A colônia de R. prolixus é mantida em uma estufa incubadora digital

modelo FT 1020, Fluxo Tecnologia, no laboratório de Química e Função de

Proteínas e Peptídeos a uma temperatura de 28ºC, e umidade relativa de

aproximadamente 80%. A colônia de R. prolixus teve sua origem a partir de

uma colônia mantida pelo Laboratório de Bioquímica de Insetos, do Instituto de

Bioquímica Médica, UFRJ.

A colônia de D. peruvianus é mantida em frascos de vidro, sob

condições naturais de fotoperíodo, em uma umidade relativa de 50-70% a 24

ºC (+/- 2°C). O inseto tem acesso à água e às sementes de algodão

(Gossypium hirsutum). Estas sementes são previamente desinfetadas por

congelamento. Estes insetos foram cedidos pelo professor Dr. Carlos Peres

Silva (UFSC).

Espécimes de Q. gigas foram coletados no Horto Municipal de Campos

dos Goytacazes durante o período de verão.

4.2 – Alimentação dos insetos R. prolixus são alimentados com uma periodicidade de 20 dias para

adultos e 30 dias para os diferentes estágios, com sangue de coelho,

diretamente na orelha dos animais imobilizados em caixas de contenção. No

caso de dietas artificiais, utilizamos um alimentador artificial descrito por Garcia

et al. (1975). Dietas artificiais com plasma de coelho são usadas para alimentar

os insetos adultos, para que possamos eliminar o heme que fica impregnado

no intestino.

D. peruvianus, 48 horas antes dos ensaios, foram mantidos em uma

dieta contendo sacarose 10%. Este procedimento é necessário para que não

ocorra interferência da dieta natural nos experimentos.

Materiais e Métodos

33

4.3 – Obtenção de hemolinfa de Rhodnius prolixus

A coleta de hemolinfa em adultos de R. prolixus é realizada cortando-se

as pontas das patas anteriores deste inseto e efetuando uma leve pressão

sobre o abdome do inseto.

4.4 – Obtenção do epitélio intestinal dos insetos

Quatro dias após alimentação com sangue ou plasma de coelho, os

intestinos de R. prolixus foram dissecados. Destes insetos foram retirados o

epitélio intestinal o qual foi colocado em 1 mL de salina. Os epitélios intestinais

foram centrifugados a 17000 x g, em centrífuga refrigerada (4oC), por 30

minutos. Os sobrenadantes foram descartados e as amostras foram

ressuspensas em 200 μL de NaCl 0,1 M. Estes epitélios intestinais foram

utilizados para extração de proteínas, RT-PCR e sequenciamento.

4.5 – Síntese de hemozoína in vitro O ensaio de síntese de Hz tem por base o método descrito para o P.

falciparum “in vitro” (Slater & Cerami, 1992), com algumas alterações. A reação

foi realizada para 1 mL de volume final do tampão acetato de sódio 0,5 M, pH

4,8. Para isso foi colocada uma quantidade suficiente das amostras (cerca de

15 μg de proteínas ou 15 μg de micela – fosfatidilcolina e

fosfatidiletanolamina). Em seguida foram adicionados 10 µL da solução de

hemina (SIGMA – USA) 10 mM em NaOH 0,1N. Posteriormente os tubos foram

mantidos sob agitação por 24h em uma estufa a 28ºC. Os lipídios

fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina foram obtidos comercialmente (SIGMA –

USA).

Materiais e Métodos

34

4.5.1 – Extração de hemozoína

Este procedimento está baseado nos métodos de extração de Hz do

plasmódio descritos por Sullivan et al. (1996), com pequenas modificações.

Após 24 h de incubação as amostras foram centrifugadas por 10 min a 15300 x

g. O sobrenadante foi descartado e o precipitado (Hz) ressuspenso em 1 mL de

tampão carbonato-bicarbonato 0,1 M (pH 9,2) + SDS 2,5 %. Posteriormente os

tubos permaneceram sob agitação por 15 min a temperatura ambiente seguido

de uma centrifugação a 15300 x g por 15 min. Novamente o sobrenadante

obtido foi descartado e o processo de lavagem com o tampão carbonato-

bicarbonato foi repetido por mais duas vezes. Após a última etapa de extração,

procedem-se duas lavagens, agitando e centrifugando a 15300 x g com água

destilada, pelo mesmo período utilizado com tampão. Após este procedimento,

a Hz resultante foi sedimentada por centrifugação na mesma velocidade e

ressuspensa em 1 mL de NaOH 0,1 N e agitada por 20 min a temperatura

ambiente. A leitura das amostras foi realizada em um espectrofotômetro

SHIMADSU UVmini-1240, utilizando um filtro com comprimento de onda de

400nm.

4.5.2 – Dosagens de heme As dosagens de heme foram realizadas utilizando-se uma curva padrão

com hemina bovina comercial (SIGMA) diluída em NaOH 100mM. A curva

padrão foi construída a partir de uma solução estoque de hemina na

concentração de 1 mM. As leituras foram obtidas a 400 nm, utilizando-se um

espectrofotômetro Zeiss modelo SPEKOL.

4.6 – Extração de proteínas de epitélio intestinal Os insetos tiveram seus epitélios dissecados como determinado no item

4.3 e extraídos em tampão de extração (fosfato de sódio 20 mM pH 7,4, NP-40

0,1%, imidazol 5 mM, PMSF 1 mM e benzamidina 1 mM). Os epitélios foram

homogeneizados com o auxílio de um homogeneizador do tipo “Potter” e

submetidos a repetidas sessões de congelamento e descongelamento das

amostras em nitrogênio liquido (3 vezes). Posteriormente as amostras foram

Materiais e Métodos

35

incubadas por 12 horas sob agitação a 4°C. As amostras foram centrifugadas a

17000 x g por 30 min, aproveitando-se somente o sobrenadante. As amostras

foram analisadas em SDS-PAGE 12% e utilizadas nos demais procedimentos

experimentais.

4.7 – Dosagem de proteína

A concentração de proteínas nas amostras do conteúdo intestinal foi

determinada pelo método de Bradford (1976). No caso de amostras contendo

NP-40 foi utilizado o método de dosagem de proteína por BCA (Smith, et

al.,1985). A curva padrão foi realizada utilizando ovoalbumina (SIGMA – USA).

4.8 – Ensaio de atividade da α-glucosidase

Os intestinos foram dissecados, homogeneizados em “potter Elvehjem” e

lavados em água destilada gelada, seguindo-se de, aproximadamente 5

centrifugações a 17.000 x g por 30 minutos. As lavagens foram efetuadas até

que a atividade da α-glucosidase fosse extinta do sobrenadante. Após a última

centrifugação, o sobrenadante foi eliminado e o sedimento final foi

ressuspendido em água destilada gelada e imediatamente ensaiado. As

atividades da α-glucosidase, na presença ou ausência dos inibidores, foram

medidas pela determinação do aparecimento de ρ-nitrofenolato (Terra et al.,

1979) a partir de ρ-nitrofenil αD-glicosídeo 5 mM em tampão citrato-fosfato 50

mM pH 5,5. O ρ-nitrofenolato absorve em 410 nm. Esta também é a faixa de

absorção do grupamento heme. Logo, não poderemos utilizá-lo como

parâmetro para medida de atividade da enzima em insetos alimentados com

sangue, ou plasma enriquecido com hemina. Sendo assim, este método foi

utilizado para insetos alimentados com plasma de coelho ou sacarose. No caso

de insetos alimentados com plasma enriquecido com hemina foi utilizado um

protocolo que determina glicose pela ação de glicose oxidase (Dahlqvist, 1968).

Foi utilizado maltose 25 mM em tampão citrato-fosfato como substrato, visto

que a enzima cliva glicose pela extremidade não-redutora. O protocolo foi

realizado com modificações propostas pelo autor, onde o produto de reação foi

Materiais e Métodos

36

revelado em condições ácidas, com adição de ácido sulfúrico 50%. O produto

da reação foi lido em espectrofotômetro a 540 nm.

4.9 – Cromatografia de troca iônica Todas as amostras de extrato protéico de epitélio intestinal de insetos

alimentados com sangue foram submetidas a uma cromatografia de troca

iônica em coluna Mono Q HR 5/5 instalada em um equipamento FPLC Perkin-

Elmer e equilibrada com tampão HEPES contendo NP-40 0.1%, segundo

Bravo-Torres et al. (2004), com algumas modificações. A coluna foi lavada com

o mesmo tampão e a enzima foi eluída com um gradiente linear de 0-0,5 M

NaCl em tampão HEPES em uma razão de 0,5 mL/min. As frações foram

coletadas e parte do seu conteúdo foi utilizada para determinar atividade

enzimática por método fluorométrico, descrito anteriormente.

4.10 – Eletroforese em gel de poliacrilamida Extrato protéico de epitélio intestinal de R. prolixus ou fração 27 da

crmatografia de troca iônica foram submetidas ao processo de eletroforese em

gel de poliacrilamida (12 %), na presença de SDS (Laemmli, 1970). O gel

principal (gel de separação) foi montado em placas de vidro de 10 X 13,5 cm,

misturando-se: 3,3 mL de água destilada; 4,0 mL de uma solução de

aclilamida/bis-acrilamida 30 %; 2,5 mL de tampão Tris 1,5 M pH 8,8; 0,1 mL de

SDS 10 %; 0,1 mL de persulfato de amônia 10 % e 0,004 mL de TEMED. O gel

de empacotamento foi preparado misturando-se: 1,4 mL de água destilada;

0,33 mL de uma solução de acrilamida/bis-acrilamida 30 %; 0,25 mL de tampão

Tris 1,0 M pH 6,8; 0,02 mL de SDS 10 % ; 0,02 mL de persulfato 10 % e 0,002

mL de TEMED. O tampão utilizado na cuba de eletroforese foi Tris 25 mM,

glicina 192 mM, SDS 0,1 %, pH 8,3 (tampão de corrida). A eletroforese ocorreu

por aproximadamente 2 horas com uma corrente constante de 20 mA. As

amostras foram dissolvidas em tampão de amostra (Tris-HCl 0,5 M, glicerol 10

%, SDS 10 %, Azul de bromofenol 1 %, pH 6,8), e aplicados 15 µg de proteína

no poço. O gel foi corado com nitrato de prata segundo Dunn et al. (1994) ou

utilizado para verificar atividade de α-glucosidase.

Materiais e Métodos

37

4.11 – Ensaio de atividade de α-glucosidase in gel

Foram aplicados 15 µg de extrato protéico de epitélio intestinal em gel de

poliacrilamida 12% sob condições desnaturantes e não redutoras. O gel foi

lavado duas vezes em Triton X-100 (2,5%) e, posteriormente, incubado com o

substrato fluorogênico 3-metil – umbeliferil-αD-glicopiranosídeo em tampão

citrato-fosfato 50 mM, pH 5,5, por 10 min a 30ºC. A atividade de α-glucosidase

foi revelada pela formação de metil-glicosídeo cuja florescência é observada

pela exposição do gel à luz ultravioleta (Silva et al., 1996).

4.12 – Análises por espectroscopia de FTIR Para verificar se o sedimento obtido com o processo de extração de

heme (descrito anteriormente) é característico do espectro de hemozoína, a

amostra foi submetida à espectrometria de infravermelho. A amostra foi seca

em dissecador do tipo SpeedVac. Em seguida adicionou-se uma pequena

quantidade de KBr agitando-se a suspenção por alguns segundos. O conteúdo

desta mistura é submetido a uma pressão de 10 toneladas para a formação

das pastilhas em KBr. A amostra foi analisada sob vácuo no espectrômetro

Magna 550 Nicolet (espectroscopia de FTIR – “Fourier Transformed Infrared”).

4.13 – Ensaio de ligação a hemina-agarose A identificação de proteínas de ligação de heme foi efetuada através do

uso de uma resina de hemina-agarose (TsuiTsui & Mueller, 1982). A fração 27

da coluna Mono Q HR 5/5 (15 µL) foi adicionada a 500 µL de tampão fosfato de

sódio 50 mM, pH 7,0, NP-40 e NaCl 0,15 M, com ou sem 10 nmol de hemina e

a mistura foi incubada por 30 min com 10 µL de hemina-agarose. Após a

incubação, as amostras foram lavadas por 10 vezes com 0,5 mL do mesmo

tampão. Em seguida adicionou-se tampão de amostra com SDS (4%) e β-

mercaptoetanol. As amostras foram fervidas por 2 min e submetidas a corrida

eletroforética em SDS-PAGE (12%).

Materiais e Métodos

38

4.14 – Silenciamento gênico 4.14.1 – Construção da dupla fita de RNA (dsRNA)

A síntese de dsRNA foi realizada com o Kit MEGAscript® RNAi Kit

(Ambion) de acordo com as especificações do fabricante. Em um microtubo

(1,5 ml) foi colocado 1 μg de cada plasmídeo contendo os insertos sense ou

antisense específicos de cada gene, os nucleotídeos (ATP, CTP, GTP, UTP) e

a enzima T7 polimerase. O material foi homogeneizado gentilmente e incubado

por 16h a 37 ºC. Após a transcrição dos fragmentos em ambas orientações,

duas fitas complementares foram geradas no mesmo tubo. Desta forma, foi

necessário anelar estas duas fitas para a formação do dsRNA. Para isso, as

amostras foram incubadas a 75 ºC por 5 min e em seguida resfriadas

naturalmente em temperatura ambiente.

Após a formação do dsRNA, o material passou por um tratamento com

DNase/RNase, realizado a 37 ºC por 1h. Este passo é necessário para a

digestão das demais fitas de ácidos nucléicos, tais quais os moldes de DNA e

qualquer RNA simples-fita que não tenha se anelado a outra molécula

complementar. Em seguida, o dsRNa foi purificado com um sistema de

cartuchos com filtros (fornecido pelo kit), para que traços de proteínas, ácidos

nucléicos livres e produtos de degradação, pudessem ser removidos do

material. O dsRNA foi recuperado dos filtros em tampão Tris-HCl 10 mM pH 7,

EDTA 1mM, que é compatível com a injeção. Alíquotas de 1:400 (v/v) de RNA

foram visualizadas em gel de agarose a 1%.

4.14.2 – Silenciamento da α-glucosidase por dsRNA

Um volume de 2 µL de dsRNA em diferentes diluições (2 ou 10 µg) foram

injetados intratoracicamente na hemocele de fêmeas adultas de R. prolixus

usando uma seringa Hamilton. Os insetos usados nos experimentos foram de

segunda alimentação com sangue de coelho, sendo alimentados 2 h após a

injeção. Após 4 dias a 28 ºC e umidade de 80%, o intestino médio, hemolinfa e

conteúdo intestinal foram dissecados em tampão fosfato de sódio 0,1 M (PBS)

pH 7,4. Insetos controle foram injetados com PBS (4 0C), pH 7,4. Os insetos

Materiais e Métodos

39

controle foram injetados com PBS ou dsRNA β-galactosidase de Escherichia

coli (dsLacZ) (Brandt et al., 2008).

4.15 – Análise molecular 4.15.1 – Extração de RNA e RT-PCR

O RNA total foi extraído de, aproximadamente, 6 epitélios intestinais

usando Trizol (Invitrogen, Carlsbad, CA) de acordo com as instruções do

fabricante. O RNA foi quantificado por determinação da sua absorbância a 260

e 280 nm usando espectrofotômetro. Uma porção do RNA total extraído foi

submetida à eletroforese em gel de agarose 1% para análise da qualidade do

mesmo. A primeira fita do cDNA foi sintetizada com 3 µg de RNA total usando

Superscript III system (Invitrogen).

4.15.2 – Reação em cadeia da polimerase (PCR) semi-quantitativo

Para obtenção da sequência da α-glucosidase e análise da expressão na

presença ou ausência de hemina foi realizado PCR semi-quantitativo de acordo

com Blandin et al. (2002) e Hoa et al. (2003), com algumas modificações. As

reações foram realizadas em tampão para enzima Taq DNA Polimerase (1x

concentrado) (Fermentas); 1,5 mM de cloreto de magnésio; 0,2 mM de dNTP,

10 pmoles de cada iniciador, 1 U de Taq DNA polimerase (Fermentas) e água

ultra pura q.s.p 20 µL. Os iniciadores Aglu F e Aglu R são degenerados (Tabela 1) desenhados com base nas sequências gênicas da α-glucosidase de Aedes

aegypti, Drosophila melanogaster e Anopheles aquasalis. O controle endógeno

foi o UGALT (Tabela 1) (Ribeiro et al., 2004). Todas as reações foram

realizadas em termociclador Whatman Biometra® (T Gradient) com os ciclos de

temperatura programados para: 94°C por 3 min, 34 ciclos de 94°C por 1 min,

49°C por 1 min e 72°C por 1 min, e uma etapa final a 72°C por 5 min. Os

produtos da PCR foram revelados em gel de agarose 1.0%, corado com

brometo de etídio e as imagens registradas em fotodocumentador Mini Bis pro

(Bioamerica). Os dados de densitometria obtidos foram adquiridos usando

TotalLab TL100 software (Nonlinear Dynamics).

Materiais e Métodos

40

4.15.3 – Expressão relativa do gene determinada por qPCR O PCR em Tempo Real foi utilizado para avaliar a expressão do gene da

α-glucosidase após silenciamento por dsRNA em diferentes situações

experimentais. Inicialmente realizou-se a extração de RNA e síntese do cDNA,

como descrito no item 4.15.1. O cDNA obtido foi submetido a reação de qPCR

utilizando o Kit SYBR Green PCR Mix (Roche), com a utilização de primers

específicos desenhados usando o Programa Primer 3 versão 4.0 (Rozen &

Skaletsky, 2000) (Tabela 1). O aparelho utilizado foi o LightCycler 2.0 (Roche

Diagnostics). A expressão do gene da α-glucosidase foi normalizado usando o

18S RNAr (Tabela 1) (Whitten et al., 2007). Expressões relativas do gene

foram obtidas baseadas na curva padrão construída utilizando 5 diluições

seriadas da amostra. O número de cópias analisadas do gene foram expressas

pela fórmula R = (Ealvo)ΔCPalvo (controle – amostra )/ (Eref ) ΔCPref (controle – amostra). Os

resultados, tanto para dsα-Glu como para dsLacZ, foram normalizados levando

em consideração insetos de segunda alimentação que estavam 21 dias em

jejum. Tabela 1 – Iniciadores utilizados nos experimentos de RT-PCR e qPCR.

1 Iniciador degenerado baseado na sequência de gênica da α-glucosidase de Ae. aegypti, D. melanogaster e An.

aquasalis. 2 Iniciador específico desenhado com base na sequência gênica da α-glucosidase de R. prolixus.

Gene Sequência (5’ – 3’) Tm pb %CG Amplicon

18S

GTTGGTATTGATGTACGCTGGA

CCTACGGAAACCTTGTTACGA

60.0

59.0

22

21

60.00

48.00

145 pb

UGALT ATGGCACTCCAGTGGGTTAG

AAGAAAGGCGAGGCATTGTA

59.4

55.3

20

20

45.00

55.00

390 pb

α-Glu Deg1 ATA/C/TT/CTNGAC/TTTT/CGTNCCNAAC/TCAC/T

G/ATCG/ATGG/ATTNCCNAA/GNACCCAG/ATT

60.0

59.7

31

29

49.00

49.00

750 pb

α-Glu esp2 TCGCTTGGGATCGCACAT

GCCGGGACGATGCTCAT

64.0

63.0

18

17

56.00

65.56

114 pb

Materiais e Métodos

41

4.15.4 – Purificação do fragmento amplificado

Foram realizadas 50 reações de PCR com volume final de 20 μL cada,

como descrito no item 4.15.2. Em seguida estas amostras foram liofilizadas,

reduzindo o seu volume para 70 μL. Este volume foi aplicado em gel de

agarose 1%. As bandas correspondentes aos fragmentos de 0.75 e 0.25 kb

foram purificadas utilizando GFXTM PCR “DNA e Gel Band Purification Kit”, de

acordo com as especificações do fabricante, com algumas modificações. Este

material foi utilizado para clonagem e sequenciamento.

4.15.5 – Quantificação do cDNA

Com a finalidade de determinar a concentração final do cDNA obtido

após processo de purificação, a amostra foi aplicada em um gel de agarose 1%

juntamente com concentrações conhecidas de um marcador (vetor SuperScript

KS) fabricado pela Invitrogen. Por comparação da intensidade do sinal da

amostra e das bandas do marcador, estimou-se a concentração aproximada do

cDNA.

4.15.6 – Clonagem do fragmento amplificado no vetor pTZ57R/T

O fragmento amplificado de 0.75 kb, obtido com os primers

degenerados, foi ligado em plasmídeo já preparado para receber produtos de

PCR, com o uso do kit InsT/AcloneTM PCR Product Cloning Kit (Fermentas Life

Sciences). As reações continham 5 μL do produto de PCR, 1 μl de tampão

10X, 1 μL de plasmídeo pTZ57R/T (Figura 9), 0,5 μL da enzima T4 DNA ligase

e água para um volume final de 29 μL. Os tubos contendo as reações foram

mantidos a 16 ºC durante a noite. Os vetores ligados ao fragmento foram

utilizados posteriormente para ensaio de transformação de células

competentes.

Materiais e Métodos

42

Figura 9 – Mapa do sítio de policlonagem do vetor pTZ57R/T (Fermentas Life Sciences),

mostrando os sítios de enzimas de restrição. São mostradas as enzimas de restrição utilizadas

para a digestão (caixa vermelha).

4.15.7 – Produção de células competentes de E. coli, linhagem DH 5α via cloreto de rubídio

Para a produção de células competentes foi produzido inicialmente um

pré-inóculo constituído por uma colônia fresca de E. coli linhagem DH 5α; esta

foi inoculada em um tubo contendo 10 mL de meio SOB, o qual foi incubado a

37oC por 16 horas sob agitação moderada de 250 rpm. Posteriormente, foi

retirado uma alíquota de 1 mL do pré-inóculo e adicionado a um erlenmeyer

contendo 100 mL de meio SOB. O erlenmeyer foi mantido sob agitação de 250

rpm a uma temperatura de 37oC até atingir densidade ótica de

aproximadamente 0,4, as leituras foram efetuadas em espectrofotômetro a 600

nm. Ao atingir a densidade desejada a cultura foi transferida para banho de

gelo por 10 minutos e centrifugada a 2.500 g por 10 minutos a 4oC. O

sobrenadante foi descartado e o sedimento de células foi ressuspenso em 1/3

do volume inicial da cultura em solução RF1 composta de acetato de potássio

30 mM pH 7,5; RbCl 100 mM; MnCl2 50 mM; CaCl2 10 mM; e glicerol 15%;

sendo mantido em banho de gelo por 15 minutos. Em seguida, a ressuspensão

foi centrifugada nas mesmas condições descritas anteriormente. O

sobrenadante foi mais uma vez descartado e o sedimento de células foi

Materiais e Métodos

43

ressuspenso em tampão RF2 (MOPS 10 mM, RbCl 10 mM, CaCl2 75 mM,

glicerol 15%), na proporção 1/125 do volume original da cultura. As células

foram homogeneizadas gentilmente e incubadas em banho de gelo por 15

minutos. Em seguida, alíquotas de 200 µL da solução foram transferidas para

tubos de microcentrífugas previamente autoclavados e resfriados. As amostras

foram imediatamente congeladas em nitrogênio líquido e, posteriormente,

armazenados a - 70oC.

4.15.8 – Transformação de células competentes de E. coli com o vetor ligado ao fragmento amplificado

Como passo inicial para a transformação das células competentes, 200

µL das células armazenadas a – 70oC foram descongeladas em banho de gelo.

Posteriormente, foram adicionados 5 µL da reação de clonagem descrita no

item 4.15.6; em seguida, a mistura foi homogeneizada gentilmente e então o

tubo foi incubado por 15 minutos em banho de gelo. O tubo contendo as

células e o vetor foi transferido do gelo para uma temperatura de 42oC por um

período de 90 segundos e posteriormente foi retornado ao banho de gelo por

mais 10 minutos. Após o choque térmico, foram adicionados 800 µL de meio

SOB e 16 µL de glicose estéril às células e, então, essas foram incubadas a

37oC por 50 minutos. Quantidades específicas das células (50 µL, 100 µL e

150 µL) foram plaqueadas em três placas de Petri contendo meio LB acrescido

de ampicilina (100 µg/mL-1) e recobertas com X-gal (2µg). Ao final do

plaqueamento as três placas foram incubadas a 37oC por 16 horas. Foram

obtidas colônias que receberam apenas o vetor sem o fragmento amplificado,

estas apresentavam coloração azul; e colônias que receberam o vetor

pTZ57R/T ligado ao fragmento de interesse, que apresentavam coloração

branca. Para a análise das colônias foram utilizadas todas as colônias brancas

e uma colônia azul foi utilizada como controle negativo.

Materiais e Métodos

44

4.15.9 – Identificação dos clones positivos, extração e digestão dos vetores

Os vetores pTZ57R/T foram extraídos das células bacterianas e

submetidos a uma digestão com enzimas de restrição para que ao final do

processo fosse liberado o fragmento de interesse. O procedimento teve início

com a transferência de uma alíquota de cada um dos inóculos provenientes

das colônias positivas (brancas) e uma negativa (azul) para tubos de

microcentrífugas distintos, sendo centrifugados, em seguida, a 9 000 g por 2

minutos. Os sobrenadantes foram descartados e aos sedimentos celulares

foram adicionados 300 µL de TENS (Tris-HCl 0,01 M, pH 8,0; EDTA 1 mM;

NaOH 0,1 M e SDS 25 mM) e as amostras foram agitadas por 10 segundos

para que ocorresse a lise das células. Após a lise celular, 150 µL de acetato de

sódio 3 M pH 5,2 foram adicionados e novamente as amostras foram agitadas

por mais 10 segundos, em seguida as mesmas foram centrifugadas a 13.200 g

por 4 minutos. Os sobrenadantes foram transferidos para um novo tubo, e os

precipitados foram descartados. Ao sobrenadante foi adicionado etanol 100%

gelado. As amostras foram homogeneizadas gentilmente e incubadas por 1

minuto a temperatura ambiente, sendo centrifugadas posteriormente, seguindo

as mesmas condições já descritas acima. Os sobrenadantes foram

descartados e os precipitados, lavados com 1 mL de etanol 70%. As amostras

foram centrifugadas nas mesmas condições, os sobrenadantes foram

descartados e os preciptados secos em banho seco a 37oC por um período

aproximado de 10 minutos. Após secagem, os preciptados foram ressuspensos

em 40 µL de TE contendo RNase A (Tris-HCl 0,01 M, pH 8,0; EDTA 1 mM e

RNase A 20 µg.mL-1) e incubados nesse tampão por 1 hora a 37oC.

Ao final deste procedimento, alíquotas dos preciptados ressuspensos

foram submetidas a uma digestão com enzimas de restrição EcoRI e BamHI

para que o fragmento de interesse fosse liberado do vetor. O procedimento da

digestão consistiu na adição de 5 µL da solução contendo os preciptados

ressuspensos a qual continha os vetores pTZ57R/T contendo o fragmento

inserido, 2 µL de tampão da enzima 10X (Tris-HCl 660 mM, pH 7,6; MgCl2 66

mM; DTT 100 mM e ATP 660 µM), 1 µL de EcoRI (5u), 1 µL de BamHI (5u) e

água ultrapura q.s.p. 20 µL. As amostras foram homogeneizadas e então

Materiais e Métodos

45

incubadas a 37oC por 2 horas. Após esse processo, as mesmas foram

analisadas em gel de agarose 1%.

4.15.10 – Sequenciamento dos fragmentos

Para o preparo dos clones para sequenciamento, três clones positivos

foram submetidos a procedimentos descritos no item 4.15.9. Posteriormente, a

concentração do DNA extraído foi estimada como descrito no item 4.15.5. Para

o sequenciamento foram montadas duas reações, uma composta de 10 ng dos

vetores e 3,2 pmol do iniciador reverse (5´CAGGAAACAGCTATGAC 3´) para o

sítio M13 reverse do vetor e outra contendo 10 ng dos mesmos vetores e 3,2

pmol do iniciador forward (5` GTAAAACGACGGCCAG 3´) para o sítio M13

forward do vetor, para que as fitas pudessem ser sequenciadas

separadamente. A reação de amplificação foi preparada com o kit Big Dye

Terminator (Applied Biosystems) segundo informações fornecidas pelo

fabricante. A reação procedeu-se em termociclador, com um aquecimento

inicial de 92oC por 3 minutos e, então, foi submetido a 35 ciclos, baseados na

seguinte programação: 92oC por 30 segundos, 49oC por 1 minuto, 72oC por 1

minuto. Ao final dos 35 ciclos programados, as amostras passaram por um

período de extensão de 72oC por 30 minutos e, em seguida, foram resfriadas a

4oC, ainda no termociclador.

Após realizada a reação de amplificação, a amostra foi transferida para

um tubo de microcentrífuga novo, onde foi adicionado 40 µL de isopropanol

65%, solução foi homogeneizada e mantida por 30 minutos em temperatura

ambiente com o intuito de precipitar o DNA. Os tubos contendo as amostras

foram então centrifugados por 25 minutos a 12 000 rpm. Ao final deste

processo, os sobrenadantes foram descartados e os tubos foram vertidos em

papel para eliminar o restante do sobrenadante. Em seguida, os precipitados

foram lavados com 200 µL de etanol 60% gelado e centrifugados por 5 minutos

a 12 000 rpm. Os sobrenadantes foram descartados e o etanol restante foi

eliminado pela inversão do tubo em papel, seguido de secagem em banho seco

60oC por 10 minutos. Os precipitados foram ressuspensos em 10 µL de

formamida, sendo agitados vigorosamente. Após esta etapa, a solução foi

Materiais e Métodos

46

transferida para a placa do sequenciador automático ABI 3130 (Applied

Biosystems), para a determinação da sequência de nucleotídeos.

4.15.11 – Análise das sequências de nucleotídeos

As sequências de nucleotídeos obtidas foram alinhadas utilizando a

ferramenta do algorítimo do BLAST (http://www.ncbi.nlm.nih.org/Blast) e do

ClustalW (http://www.ebi.ac.uk/Tools/clustalw/).

4.16 – Análise estatística Comparações entre os grupos foram feitas pelo Teste t de Student com

organização não-pareada de dados, usando GraphPad Prism. Para todos os

testes, uma diferença de P<0,05 foi considerada significativa.

Resultados

47

5 – RESULTADOS 5.1 – Efeito da fração protéica do epitélio intestinal de R. prolixus e de lipídeos na formação de hemozoína Existe um grande debate acerca de como exatamente o heme livre

encontrado no vacúolo digestivo de P. falciparum é convertido em uma

molécula não tóxica (hemozoína), a fim de evitar a lise da membrana,

peroxidação lipídica, e outros efeitos do heme livre (Sullivan, 2002; Egan,

2002). Recentemente as evidências deslocaram-se das proteínas ricas em

histidina HRP II ou III (Schneider & Marletta 2005) para os lipídios (Oliveira et

al., 2005; Pisciotta et al., 2007). Uma evidência que mostra a importancia dos

lipídeos adicionalmente ao papel das proteínas é o fato de que um clone de P.

falciparum “knockout”, que não possui HRP II ou III, ainda apresenta

capacidade de sintetizar hemozoína (Sullivan, 2002). No entanto, Tripathi et al.

(2002) sugerem uma combinação entre proteínas e lipídios na formação

eficiente de Hz. Vielemeyer et al. (2004) verificaram a associação de corpos

lipídicos tanto no interior como no exterior de vacúolos digestivos em

Plasmodium. Além disso, em S. mansoni e R. prolixus a formação de

hemozoína foi vista como localizada em gotículas lipídicas e nas membranas

perimicrovilares, respectivamente (Oliveira et al., 2005; Silva et al., 2007).

De posse destas informações, investigamos a participação de lipídios e

proteínas na formação de cristais de heme em R. prolixus. Primeiramente

buscamos avaliar a função das proteínas e, em seguida, a contribuição dos

lipídios polares (fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina) no processo de síntese

de hemozoína. Tanto fosfatidilcolina como fosfatidiletanolamina, 15 µg de cada,

são capazes de promover a síntese de hemozoína. Entretanto a atividade no

ensaio que contem o extrato protéico é sempre maior que a atividade na

presença dos lipídeos (Figura 10). Não foi observado o efeito sinergístico

quando os lipídios são combinados ao extrato protéico. Além disso, a inversão

da ordem de adição das moléculas (proteínas antes + lipídios ou lipídios antes

+ proteínas) não alterou o efeito na síntese de hemozoína (Figura 10).

Resultados

48

FIGURA 10 – Participação de proteínas e lipídios polares na formação de cristais de heme. Ctl – controle somente hemina; Ptn – proteína extraída de epitélio intestinal de R.

prolixus; PC – micela de fosfatidilcolina; Ptn + PC - proteína extraída e adição posterior de

micela de fosfatidilcolina; PC + Ptn – micela de fosfatidilcolina e adição posterior de proteína

extraída; PE – micela de fosfatidiletanolamina; Ptn + PE - proteína extraída e adição posterior

de micela de fosfatidiletanolamina; PE + Ptn – micela de fosfatidiletanolamina e adição

posterior de proteína extraída.

5.2 – Capacidade de ligação de heme da α-glucosidase

Silva et al. (2007) verificaram que a produção de MPMV tem um pico

máximo de formação entre o 70 e 90 dias após alimentação em sangue,

coincidindo com o período em que se observa o máximo de formação de Hz no

lúmen intestinal de R. prolixus. Assim, o próximo experimento mostra o perfil de

proteínas de ligação de heme no extrato protéico do epitélio intestinal de R.

prolixus, através do ensaio da hemina agarose (Figura 12A). A seta em

vermelho na figura destaca uma proteína com capacidade de ligação de heme

usando a fração 27 da cromatografia de troca iônica, que possui atividade de α-

glucosidase. No mesmo gel foi aplicado 15 µg de extrato total de proteínas de

epitélio intestinal de insetos alimentados com sangue de coelho. No entanto,

esta parte do gel foi destinada a um ensaio de atividade da α-glucosidase, com

intuito de detectar se esta enzima poderia ser uma candidata a proteína de

ligação de heme (Figura 12B). A partir do gel de atividade podemos sugerir a

capacidade de ligação de heme da α-glucosidase. A Figura 11 mostra o perfil

cromatográfico obtido na troca iônica, sendo observado o aparecimento de um

CtlPtn PC

Ptn + PC

PC + Ptn PE

Ptn + PE

PE + Ptn

0

5

10

15

Form

ação

Hem

ozoí

na(n

mol

s he

me)

Resultados

49

pico na fração não retida, bem como 3 picos majoritários nas frações eluídas

com o sal.

Figura 11 – Cromatografia de troca iônica em coluna DEAE (toyopearl) do extrato protéico do

epitélio intestinal de R. prolixus. A coluna foi equilibrada com o tampão HEPES 20 mM, pH 7,4

e, em seguida, a eluição foi realizada em um gradiente de três passos com NaCl (0-0,5 M, 0,5-

1 M e 1 M, respectivamente). O fluxo foi de 0,5 mL/minuto e foram coletadas 50 frações de 1

mL/tubo.

1 2 3 4

FIGURA 12 – (A) Ensaio de identificação de proteínas de ligação de heme no epitélio intestinal de R. prolixus; (B) Atividade de α-glucosidase in gel. 1) fração 27 + hemina-

agarose; 2) fração 27 + hemina-agarose + hemina; 3) fração 27 e 4) proteína extraída de

epitélio intestinal de fêmeas de R. prolixus alimentadas com sangue de coelho. Ambos os géis

são 12% em condições desnaturantes e não-redutoras (SDS-PAGE). Em B o substrato

utilizado foi o metilumbeliferil α-D-glucopiranosídeo.

A BA

0 10 20 30 40 500.00

0.25

0.50

0.75

0.00.10.20.30.40.50.60.70.80.91.0

Frações (mL)

Abs

(280

nm

)N

aCl (M

)

Resultados

50

5.3 – Efeito da cloroquina (CLQ) na atividade da α-glucosidase Os efeitos terapêuticos de drogas quinolinas são bem descritos no

tratamento da malária. No entanto, o mecanismo exato de ação não está

completamente entendido (O’Neill et al., 1998). É sabido que as quinolinas

afetam os mecanismos de detoxificação de heme aumentando a interação do

heme com a membrana e, consequentemente, aumentam seus efeitos tóxicos

tanto em P. falciparum como em R. prolixus (Slater et al., 1991; Oliveira et al.,

2000). Outra explicação para efeito da CLQ é que sua interação com o heme

impediria a formação do dímero que inicia a formação do cristal de hemozoína

(Goldberg et al., 1990). Com base nos dados da literatura e nos resultados

mostrados acima (tópico 5.2), a próxima abordagem foi analisar a relação entre

as atividades de α-glucosidase e formação de hemozoína. Para isso

analisamos os efeitos da presença de CLQ e variações de temperatura sobre

as atividades da α-glucosidase e de síntese de hemozoína. A figura 11A

revelou que na presença de CLQ, em diferentes concentrações do substrato,

há uma redução na atividade da α-glucosidase. O mesmo perfil de alteração foi

observado em relação à síntese de Hz, também utilizando diferentes

concentrações de hemina, só que o efeito aqui foi ainda mais drástico (Figura 13B). Quando relacionamos a temperatura (100 0C por 10 min) verificamos que

a estabilidade da α-glucosidase foi alterada e sua atividade foi basal, o mesmo

ocorrendo com a síntese de Hz (Figuras 13A e 13B, respectivamente) .

Resultados

51

FIGURA 13 – (A) Atividade de α-glucosidase e (B) síntese de hemozoína in vitro: ▲ –

controle; ■ – presença de CLQ; ● – amostra fervida. O ensaio de atividade de α-glucosidase foi

determinado usando método colorimétrico. A atividade foi expressa como nmol de ρ-

nitrofenolato liberado em 1 min. O ensaio de formação de hemozoína foi realizado por 24 h a

28 oC, como descrito em materiais e métodos. Atividade de formação de hemozoína foi

expressa como nmol de cristal de heme, após 24 h, por 15 µg de proteína. Os resultados são

representativos de dois experimentos realizados em triplicata.

5.4 – Efeito dos inibidores da α-glucosidase na formação de hemozoína

Eritritol (100 mM) e castanoespermina (30 mM), inibidores específicos de

α-glucosidases, dietilpirocarbonato (DEPC) (10 mM), que reage com e modifica

resíduos de histidina, e um anticorpo policlonal obtido contra α-glucosidase de

D. peruvianus (1:2500) foram usados para investigar a correlação entre as

atividades de α-glucosidase e formação de hemozoína (Figuras 14 e 15,

respectivamente). Os efeitos de eritritol e castanoespermina foram inibitórios

das atividades de α-glucosidase e formação de hemozoína. Os resultados

mostram que ambas as atividades foram bastante sensíveis a esses agentes.

DEPC é usado para revelar diferenças mecanísticas entre as α-glucosidases

de mamíferos, plantas e levedura (Romaniouk & Vijay, 1997; Zeng & Elbein,

1998; Dhanawansa et al., 2002). Com relação a α-glucosidase de R. prolixus,

DEPC inibiu 75% a atividade desta enzima bem como a formação de

hemozoína (85%), sugerindo que resíduo(s) de histidina, dentro ou próximo ao

sítio de ligação ao substrato da enzima, podem ser importantes para ambas as

atividades. Um anticorpo contra α-glucosidase de um hemíptera fitófago D.

A B

0 10 20 30 40 50 600

500

1000

1500

[S]

Ativ

idad

-glic

osid

ase

(mU

/mL)

0 20 40 60 80 100 1400

5

10

15

[μM Hemina]

Form

ação

Hem

ozoí

na(n

mol

Hem

e)

Resultados

52

peruvianus, que é capaz de reconhecer eficientemente a enzima nas

membranas perimicrovilares de R. prolixus (Silva et al., 2004), foi capaz de

inibir drasticamente as atividades de α-glucosidase (83%) e formação de

hemozoína (85%) in vitro (Figuras 14 e 15, respectivamente).

FIGURA 14 – Atividades de α-glucosidase na presença ou ausência de inibidores in vitro. EP – extrato protéico de epitélio intestinal; EP + Eri - extrato protéico + eritritol; EP + DEPC -

extrato protéico + dietilpirocarbonato; EP + Cs - extrato protéico + castanoespermina; EP + AB -

extrato protéico + anticorpo anti α-glucosidase de D. peruvianus. O ensaio de atividade de α-

glucosidase foi determinado usando método colorimétrico. A atividade foi expressa como nmol

de ρ-nitrofenolato liberado em 1 min. Os resultados são representativos de dois experimentos

realizados em triplicata. Os experimentos com inibidores foram significativamente diferentes do

extrato protéico sozinho *(P < 0,05).

O próximo conjunto de experimentos foi desenhado para avaliar se α-

glucosidase age apenas como iniciadora do processo de formação Hz ou se

todo o processo é dependente da enzima. Para isso, o teste de formação de Hz

foi realizado com extrato protéico do intestino médio de insetos previamente

alimentados com sangue, na presença de DEPC (Figura 16A) ou do anticorpo

anti-α-glucosidase de D. peruvianus (Figura 16B), adicionado inicialmente ou

10 horas após o início do experimento. Os resultados mostram que no último

caso os inibidores não foram capazes de bloquear a formação de hemozoína.

Isto indica que a enzima atua especificamente nas etapas iniciais do processo,

EP

EP + Eri

EP + DEPC

EP+ Cs

EP + AB

0

100

200

300

400

500

Ativ

idad

-glu

cosi

dase

(mU

/mL)

* * * *

Resultados

53

provavelmente na etapa de nucleação. Como forma de reforçar este dado, o

efeito da desnaturação térmica da enzima foi testado da mesma maneira. O

extrato protéico foi fervido por 10 min antes de iniciar o processo de síntese de

hemozoína sendo capaz de reduzir sua capacidade de iniciar a nucleação. No

entanto, quando a amostra foi fervida 10 horas após o início do ensaio não

interferiu na ocorrência contínua do processo de formação Hz. Estes resultados

sugerem que a enzima está implicada no processo de formação de Hz,

particularmente na etapa de nucleação, uma vez que os inibidores específicos

da α-glucosidase foram capazes de interferir na formação de hemozoína.

FIGURA 15 – Efeito dos inibidores da α-glucosidase na formação de hemozoína in vitro. Ctl - hemina; EP – extrato protéico de epitélio intestinal; EP + Eri - extrato protéico + eritritol; EP

+ DEPC - extrato protéico + dietilpirocarbonato; EP + Cs - extrato protéico + castanoespermina;

EP + AB - extrato protéico + anticorpo anti α-glucosidase de D. peruvianus. Os ensaios de

formação de hemozoína foram realizados a 28 oC como descrito em materiais e métodos. A

atividade de formação de hemozoína foi expressa como nmol de cristal de heme, produzidos

após 24 h, por 15 µg de proteína. Os resultados são representativos de dois experimentos

realizados em triplicata. Os experimentos com inibidores foram significativamente diferentes do

extrato protéico sozinho *(P < 0,05).

Ctl EP

EP + Eri

EP + DEPC

EP + Cs

EP + AB

0

2

4

6

8

Form

ação

Hem

ozoí

na(n

mol

s H

eme)

* * *

* *

Resultados

54

FIGURA 16 – Efeito da adição tardia dos inibidores de α-glucosidase na formação de Hz in vitro. Ctl - hemina; Ctl + AB - hemina + anticorpo; EP – extrato protéico de epitélio intestinal;

EP + AB - extrato protéico + anticorpo anti α-glucosidase de D. peruvianus; EP → AB – extrato

protéico + anticorpo 10 h após iniciar o ensaio; Ctl + DEPC - hemina + dietilpirocarbonato; Ctl +

Cs - hemina + castanoespermina; EP + DEPC - extrato protéico + dietilpirocarbonato; EP →

DEPC – extrato protéico + dietilpirocarbonato 10 h após iniciar o ensaio; EP 100 0C – extrato

protéico fervido por 10 min antes de iniciar o ensaio; EP → 100 0C – extrato protéico fervido 10

h após iniciar o ensaio. Os ensaios de formação de Hz foram realizados por 24 h a 28 oC como

descrito em materiais e métodos. Atividade de formação de Hz foi expressa como nmol de

cristal de heme, após 24 h, por 15 µg de proteína. Os resultados são representativos de dois

experimentos realizados em triplicata. Os experimentos com inibidores foram significativamente

diferentes do extrato protéico sozinho *(P < 0,05).

5.5 – Efeito da maltose na formação de hemozoína O efeito negativo dos inibidores da α-glucosidase (DEPC,

castanospermina e eritritol) na formação de hemozoína sugere que uma

mesma região da enzima possa estar envolvida em ambas as atividades. A fim

de contribuir com dados que possam ajudar a elucidar essa questão, a

atividade de formação de hemozoína foi realizada na presença de ambos

maltose (30 mM), um substrato da α-glucosidase, e hemina , o substrato da

atividade de formação de Hz. A fração 27 da cromatografia, contendo atividade

de α-glucosidase, foi primeiramente incubada com maltose por 4 horas. Após

este tempo, foi adicionada a hemina mas a síntese de hemozoína não ocorreu

(Figura 17). No entanto, quando a hemina foi colocada no início do ensaio e,

A B

10h

10h

10h

Ctl

Ctl + D

EPC

Ctl + C

s EP

EP + DEPC

DEPC

→EP EP 10

0 °C

100 °

C

→EP

0

2

4

6

8

10

10h10

h

Form

ação

Hem

ozoí

na(n

mol

s he

me)

* *

* * *

Ctl

Ctl + A

B EP

EP + AB

AB

→EP

0

5

10

15

20

10h

*

*

*

Resultados

55

somente após 4 horas a maltose foi adicionada, a formação de hemozoína

ocorreu normalmente (Figura 17). Os resultados mostram que a ligação de

maltose à enzima bloqueou a atividade de formação de hemozoína. Visto que a

ligação de maltose e hemina são processos independentes, a explicação mais

simples é que ambas as partes compartilhem o mesmo sítio de ligação.

FIGURA 17 – Atividade de formação de hemozoína na presença ou ausência de maltose in vitro. Ctl - hemina; Mal - Maltose; FC – fração 27; FC + Mal → H - fração cromatografia +

maltose e hemina adicionada 4 h após o início do ensaio; FC + H → Mal - fração cromatografia

+ hemina e maltose adicionada 4h após o início do ensaio. Os ensaios de biomineralização

forma realizados por 24 h a 28 oC, como descrito em materiais e métodos. Atividade de

formação de hemozoína foi expressa como nmol de cristal de heme, após 24 h, por 8 µg de

proteína. Os resultados são representativos de um experimento realizado em triplicata. O

experimento em que a maltose foi adicionada antes foi significativamente diferente quando

comparado com a proteína sozinha ou com a hemina adicionada primeiro *(P < 0,05).

5.6 – Silenciamento da α-glucosidase na síntese de hemozoína Silenciamento gênico pela utilização de RNA de interferência (RNAi), um

fenômeno evolutivamente conservado, disparado pela presença de dsRNAs, é

uma poderosa ferramenta para o estudo da função de genes em diferentes

organismos (Fire et al., 1998). A introdução de dsRNA induz silenciamento

gênico específico em organismos vivos produzindo um bloqueio na produção

4h

4h

CtlMal FC H

FC + Mal

Mal

FC + H

0

1

2

3

4h4h

Form

ação

Hem

ozoí

na(n

mol

s he

me)

* * *

Resultados

56

da proteína correspondente (Hammond et al., 2001). Como conseqüência,

RNAi mediado por dsRNA tem emergido como uma das técnicas mais

promissoras para estudo da função gênica em diversos sistemas

experimentais, particularmente em organismos não-modelos onde outros

métodos de investigação são freqüentemente limitados (Fraser et al., 2000;

Gonczy et al., 2000). Muito deste sucesso deriva do fato da técnica constituir-

se em um método simples, conveniente e barato de produzir e introduzir

dsRNA dentro dos organismos. RNAi tem subsequentemente sido adaptado

para uso em insetos, incluindo Anopheles gambiae, Drosophila melanogaster,

Manduca sexta, Periplaneta americana, Oncopeltus fasciatus (Blandin et al.,

2002; Hughes & Kaufman, 2000; Kennerdell & Carthew, 1998; Marie et al.,

2000; St. Johnston, 2002; Vermehren et al., 2001; Zhou et al., 2002). O

sequenciamento de bibliotecas de cDNA da glândula salivar de Rhodnius

prolixus tem identificado muitos novos genes com funções desconhecidas

(Ribeiro et al., 2004). A ferramenta funcional do RNAi forneceria meios

potencialmente poderosos de investigar a função de muitas moléculas novas

não caracterizadas em triatomineos. Apesar de RNAi ter sido demonstrado em

muitas espécies, incluindo insetos hemípteras (Hughes & Kaufman, 2000),

somente Araújo et al. (2006) utilizaram esta ferramenta em triatomíneos.

Em R. prolixus a função da α-glucosidase na síntese de Hz foi

investigada pela injeção de dsRNA de α-glucosidase (dsαGlu), construído com

base na sequência gênica da α-glucosidase de Anopheles aquasalis. Dessa

forma, dois experimentos foram realizados. No experimento 1 primers

degenerados, baseado na sequência gênica de α-glucosidase de Ae. aegypti,

D. melanogaster e A. aquasalis, foram usados como molde para síntese de

dsαGlu. Injeções de dsαGlu foram realizadas diretamente na hemocele de

fêmeas de R. prolixus e, posteriormente, foram alimentadas com sangue de

coelho. Quatro dias após a alimentação os insetos foram analisados quanto a

expressão gênica, atividade da enzima e formação de Hz. Animais tratados

com dsαGlu apresentaram uma redução na expressão do gene, como revelado

por análise de qPCR (Figura 18). Este efeito foi mais pronunciado em insetos

injetados com 10 µg de dsαGlu quando comparado com insetos que receberam

apenas 2 µg. Além disso, o efeito foi mais pronunciado em insetos injetados no

quarto dia, quando comparado com insetos injetados no segundo dia após a

Resultados

57

alimentação sanguínea. Isto pode ser resultado da diferença na atividade da α-

glucosidase: no quarto dia, a atividade da enzima é normalmente bem superior

à de segundo dia, quando as membranas perimicrovilares são também muito

mais abundantes (Silva et al., 2007).

Após checar a eficiência do silenciamento por qPCR, nós investigamos

se a injeção da dsαGlu poderia conferir um efeito detectável fenotipicamente.

Para isso, tanto ovoposição quanto a mortalidade destes insetos foram

acompanhadas durante os quatro dias. Os insetos injetados com 10 µg de

dsαGlu apresentaram 44% de insetos mortos e uma redução de 40% na

ovoposição (Tabela 2). Além disso, a hemolinfa destes insetos apresentou um

aspecto avermelhado (Figura 19). Estes resultados estão de acordo com o fato

de que a atividade da enzima no intestino médio de R. prolixus após injeção de

dsαGlu diminui (Figura 20). Este efeito foi mais evidente no quarto dia após a

alimentação sanguínea quando os insetos foram injetados com 10 µg de

dsαGlu antes da alimentação. No segundo dia após alimentação em sangue, a

diminuição na atividade de formação de Hz não foi significativamente diferente

quando os insetos foram injetados com 2 ou 10 µg de dsαGlu. A diminuição da

expressão do gene da α-glucosidase e da atividade enzimática foram

acompanhadas pela inibição da formação de Hz (Figura 21). Esta inibição foi

observada com 10 µg de dsαGlu, mas não com 2 µg de dsαGlu. Esses

resultados demonstraram que o silenciamento foram mais evidente no quarto

dia após alimentação, quando ambas as atividades desta enzima foi

claramente comprometidas. Esses resultados evidenciam que a formação de

Hz é dependente da α-glucosidase.

No experimento 2, dupla fita de β-galactosidase de Escherichia coli

(dsLacZ), em vez de dsαGlu, foi injetada usando o mesmo procedimento. Os

resultados mostram que a expressão do gene da α-glucosidase, como revelado

pela análise por qPCR (Figura 18B), não foi reduzida. A análise da atividade

da α-glucosidase e da síntese de Hz demonstraram que injeções de dsLacZ

não causaram reduções nos parâmetros em comparação aos insetos controle

(Figuras 20B e 21B).

Resultados

58

FIGURA 18 – Expressão relativa do gene da α-glucosidase por qPCR no intestino médio de R.

prolixus por injeção de: (A) dsαglu ou (B) dsLacZ in vivo. Os insetos foram injetados com 2 µL

de PBS 100 mM pH 7,4 (controle), dsα-glu (2 ou 10 µg/fêmea) ou dsLacZ (2 ou 10 µg/fêmea) e

analisado 2 (2d) ou 4 (4d) dias após a alimentação com sangue. Foram realizados 4

experimentos independentes. Cada experimento consiste em um pool de 6 fêmeas adultas. Os

insetos injetados com 10 µg de dsRNA 4 dias após alimentação foram significativamente

diferentes dos insetos controle *(P<0,05).

TABELA 2 – Efeito fisiológico do silenciamento da α-glucosidase mediado por dsαGlu

em Rhodnius prolixus. Os insetos foram injetados com 2 µL de PBS 100 mM pH 7,4 ou

dsLacZ (controle) e dsα-glu (2 ou 10 µg/fêmea); mortalidade e ovoposição foram monitorados 4

dias após alimentação.

PBS 4 dias dsLacZ 10µg dsαGlu 2µg dsαGlu 10µg Mortalidade (%) 10 20 25 44

Ovoposição (ovos /fêmea)

25

22

16

10

C 2d C 4d 2d 4d 2d 4d0

5000

1000075000

100000125000150000

Expr

essã

o R

elat

iva

α-g

luco

sida

seA B

*

*

2d 4d 2d 4d0

5000

1000070000

95000

120000

____ dsRNA 2µg

____

dsRNA 10µg

____ dsRNA 2µg ____ dsRNA 10µg ____ PBS

***

Resultados

59

FIGURA 19 – A) Hemolinfa R. prolixus alimentados com sangue de coelho, na ausência de dsαGlu. B) Aspecto da Hemolinfa de R. prolixus, 4 dias após a injeção de 10 µg de dsαGlu.

FIGURA 20 – Atividade de α-glucosidase in vivo no intestino médio de R. prolixus injetados com: (A) dsαglu ou (B) dsLacZ. Os insetos foram injetados com 2 µL de PBS 100

mM pH 7,4 (controle), dsLacZ (2 ou 10 µg/fêmea) ou dsα-glu (2 ou 10 µg/fêmea) e analisado 2

ou 4 dias após a alimentação com sangue. Foram realizados 4 experimentos independentes.

Cada experimento consiste em um pool de 6 fêmeas adultas. Os insetos injetados com 10 µg

de dsRNA 4 dias após alimentação foram significativamente diferentes dos insetos controle

*(P<0,05).

A B

2d 4d 2d 4d0

10

20

30

40

50

60

Ativ

idad

-glu

cosi

dase

(mU

/epi

télio

)

C 2d C 4d 2d 4d 2d 4d05

1015202530354045

Ativ

idad

-glu

cosi

dase

(mU

/epi

télio

)

*

____ dsRNA 2µg ____ dsRNA 10µg

____ dsRNA 2µg ____

dsRNA 10µg

____ PBS

B A

Resultados

60

FIGURA 21 – Hemozoína produzida por R. prolixus injetados com: (A) dsαglu ou (B) dsLacZ. Os insetos foram injetados com 2 µL de PBS 100 mM pH 7,4 (controle), dsLacZ (2 ou

10 µg/fêmea) ou dsα-glu (2 ou 10 µg/fêmea) e analisado 2 ou 4 dias após a alimentação com

sangue. Foram realizados 4 experimentos independentes. Cada experimento consiste em um

pool de 6 fêmeas adultas. Os insetos injetados com 10 µg de dsRNA 4 dias após alimentação

foram significativamente diferentes dos insetos controle *(P<0,05).

5.7 – Impacto da ingestão de heme sobre a atividade de α-glucosidase

Glucosidases são enzimas importantes na digestão de carboidratos.

Provavelmente, a pressão evolutiva determinou uma função diferente para esta

enzima nos insetos hematófagos, visto que, proteínas, e não carboidratos, são

nutrientes majoritários presentes nas dietas de insetos sugadores de sangue.

Isto parece ser verdadeiro, porque α-glucosidases de levedura, ao contrário

das α-glucosidases de R. prolixus, não apresentam atividade de síntese de

hemozoína (dados não mostrados). Em mosquitos, Sessions et al., (2009)

verificaram que a inibição da α-glucosidase acarreta uma diminuição da

infecção do vírus da dengue (DENV-2). Em outros organismos hematófagos

como, por exemplo, Lutzomyia longipalpis, há um aumento na atividade da α-

glucosidase quando na presença de dieta rica em sangue (Gontijo et al., 1998).

O mesmo resultado já havia sido mostrado por Dillon & Kordy (1997) quando

compararam a atividade de α-glucosidase em flebótomos alimentados com

sangue ou sacarose. No presente trabalho, o efeito da ingestão de heme na

atividade da α-glucosidase foi examinado in vivo (Figura 22). A atividade

absoluta da α-glucosidase derivada do intestino médio de insetos alimentados

2d 4d 2d 4d0

100200300400500600700

Form

ação

Hem

ozoí

na(n

mol

s he

me)

A B

C 2d C 4d 2d 4d 2d 4d0

100200300400500600700

Form

ação

Hem

ozoí

na(n

mol

s he

me)

* ____

dsRNA 2µg ____ dsRNA 10µg

____ dsRNA 2µg ____ dsRNA 10µg ____ PBS

Resultados

61

com plasma foi comparada com insetos alimentados com plasma na presença

de hemina. A atividade no lúmen intestinal de insetos alimentados sem hemina

foi menor quando comparada com insetos que se alimentaram com plasma

suplementado com hemina, onde a atividade da α-glucosidase foi claramente

aumentada, sugerindo uma função deste componente na regulação da

atividade da enzima.

FIGURA 22 – Influência do heme da alimentação na atividade de α-glucosidase em intestino médio de R. prolixus. P – insetos controle alimentados com plasma; P + H – insetos

alimentados com plasma enriquecido com hemina (500 µM). Insetos foram alimentados com

plasma de coelho na ausência ou presença de hemina. Quatro dias após alimentação, epitélios

intestinais (n = 20) foram dissecados em salina gelada (NaCl 100 mM). A atividade de α-

glucosidase foi determinada pela medida da liberação de ρ-nitrofenolato α-D-glucopiranosídio.

Resultados mostrados são representativos de três experimentos independentes realizados em

triplicata. Plasma mais hemina é significativamente diferente de plasma *(P<0,05).

5.8 – Controle da expressão do gene da α-glucosidase pelo heme

Heme é conhecido pela sua ação como um modulador da expressão

gênica em muitos sistemas, como na regulação dos níveis de RNAm de

citocromo P-450 e apoproteínas (Dwarki et al., 1987). O heme é uma molécula

regulatória versátil e conhecida por regular processos celulares diversos, como

diferenciação, transcrição e processamento pós-traducional em diferentes

sistemas (Thomas et al., 1984). Assim, o próximo passo foi investigar se, além

da sua ação sobre a atividade de formação de Hz, esta molécula atuaria como

modulador da expressão gênica. Para isso foram utilizados insetos alimentados

PP +

H0

10203040506070

Ativ

idad

-glu

cosi

dase

(mU

/epi

télio

)

*

Resultados

62

com plasma de coelho na presença ou ausência de hemina. O RNA foi extraído

e por RT-PCR foi analisada a expressão do gene da α-glucosidase, utilizando

primers degenerados, como descrito em materiais e métodos. Como observado

na figura 23, foi possível verificar um aumento do nível de transcrito de α-

glucosidase (fragmento de 750 kb) de insetos que foram alimentados com

plasma na presença de hemina em relação a insetos alimentados apenas com

plasma.

FIGURA 23 – Influência do heme da alimentação na expressão da α-glucosidase em intestino médio de R. prolixus. P – cDNA plasma; P + H – cDNA plasma + hemina (500 µM).

Insetos foram alimentados com plasma de coelho na ausência ou presença de hemina. Quatro

dias após alimentação, epitélios intestinais (n = 20) foram dissecados em PBS 100 mM. Foi

realizado extração de RNA total usando Trizol e posterior síntese de cDNA. Resultados

mostrados são representativos de dois experimentos independentes realizados em triplicata.

Plasma mais hemina é significativamente diferente de plasma *(P<0,05).

5.9 – Purificação e sequenciamento do fragmento gênico de α-

glucosidase

A próxima etapa foi promover a purificação dos fragmentos de 750 e 250

kb do gel de agarose conforme descrito em materiais e métodos (Item 4.15)

para posterior realização do sequenciamento. O fragmento gênico da α-

glucosidase possui um tamanho de 750 kb, sendo este fragmento visualizado

em gel de agarose 1% (Figura 24). O ks foi utilizado com o intuito quantificar o

fragmento a ser sequenciado. Como observado na figura 23, os fragmentos

P P + H0

1

2

3

4

Nív

el d

e ex

pres

são

1,0

3,7 *

Resultados

63

foram totalmente purificados apresentando, aproximadamente, 30 ng/μL em

comparação ao controle Ks (50 ng/μL).

Com intuito de caracterizar a estrutura da enzima o cDNA da α-

glucosidase foi clonado e sequenciado. A figura 25 mostra a sequência de

nucleotídeos e a sequência deduzida de aminoácidos da α-glucosidase de R.

prolixus (GenBank FJ236283). O alinhamento das sequências de α-

glucosidases de Culex pipiens, Ae. aegypti, D. melanogaster, A. gambie,

Geobacillus sp., Bacillus cereus e Saccharomyces cerevisae mostrou que a α-

glucosidase de R. prolixus possui 70% de identidade com Culex, 69% de

identidade com a enzima de Aedes, 59% com a de Anopheles e 24% de

identidade com a de Saccharomyces (Tabela 3). As diferenças e similaridades

entre as enzimas de insetos, bactéria e levedura mostraram que a α-

glucosidase de R. prolixus é mais amplamente relacionada com as de insetos

do que com enzimas de microrganismos (Tabela 3 e Figura 26). A sequência

parcial da α-glucosidase de R. prolixus foi usada em um alinhamento mais

detalhado utilizando o Clustal W para obtenção de um cladograma. Foram

utilizadas sequências de α-glucosidases de insetos hematófagos, não

hematófagos, mamíferos, leveduras, bactérias, peixes e roedores (Figura 27). Neste contexto, α-glucosidase de R. prolixus é mais amplamente relacionada

com α-glucosidase de outros insetos hematófagos como Culex e Aedes. Essas

enzimas (glucosidases) são encontradas em uma ampla variedade de

organismos e seus loci gênicos são altamente conservados para diferentes

espécies (Jacobson et al., 2001).

M 1 2 3 4

FIGURA 24 – Fragmentos purificados utilizando GFXTM PCR “DNA e Gel Band Purification Kit” e observados em gel de agarose 1%. M) Marcador de 1 kb; 1) Fragmento

de 750 kb; 2) Fragmento de 250 kb; 3) 1 μL ks 50 ng; 4) 2 μL ks 50 ng.

750 kb

250 kb

Resultados

64

FIGURA 25 – Sequência parcial de nucleotídeos do cDNA de α-glucosidase de R. prolixus e sua sequência deduzida de aminoácidos. A sequência de nucleotídeos utilizada

para o desenho de primers específicos para qPCR estão sublinhadas.

Resultados

65

TABELA 3 – Análise comparativa dos genes de α-glucosidases de diferentes espécies usando

Blastx.

aNúmero de acesso no GenBank database

bFunção de acordo com o BLASTx cIdentidades (%). dProtein Data Bank

Estudos prévios indicaram que proteínas ricas em histidina de

Plasmodium falciparum (PfHRP2) têm capacidade de ligarem-se a heme (Choi

et al., 1999) e têm sido implicadas na formação de hemozoína (Schneider &

Marletta, 2005). O sítio ativo de α-glucosidases possui resíduos de histidina e

ácido aspártico altamente conservados (Shirai et al., 2008). Aqui a análise da

α-glucosidase de Rhodnius prolixus (AGluRp) mostrou resíduos conservados

de histidina e ácido aspártico no sítio de ligação ao substrato da enzima. No

entanto, um significativo desvio na posição desses resíduos-chave foi

observado quando se compararam as sequências de R. prolixus e de S.

cerevisae (AGluSc) (Figura 26). Através de um alinhamento com α-

glucosidases de insetos, bactérias e leveduras, descobrimos que os resíduos

His69, Asp132 e Asp159 não são conservadas em AGluSc. Este resultado

somado ao fato de que α-glucosidase de levedura não possui atividade de

Acessoa Função b E-value Organismos Similares Identidadec

Insectos

FJ236283 α-glucosidase 3e-145 Rhodnius prolixus 100

XP_001851486 α-glucosidase 8e-102 Culex quinquefasciatus 70

XP_001869889 α-amylase 4e-93 Culex quinquefasciatus 64

XP_001847532 α-glucosidase 5e-90 Culex quinquefasciatus 64

XP_001656785 α-amylase 7e-101 Aedes aegypti 69

CAA60858 Maltase-símile Agm2 4e-86 Anopheles gambie 59

AAB82328 Maltase 2 1e-71 Drosophila virilis 52

Bactéria

PDBd ZEO_A α-glucosidase 6e-47 Geobacillus sp. 27

PDB 1UOK_A Oligo-1,6-Glucosidase 1e-25 Bacillus cereus 27

Levedura

CAA87020 α-glucosidase 2e-22 Saccharomyces

cerevisiae 24

Resultados

66

síntese de Hz (dados não mostrados) pode ser um indício do envolvimento

desses resíduos no processo de biomineralização do heme.

FIGURA 26 – Alinhamento da sequência de aminoácidos das α-glucosidases de R. prolixus

(AgluRp), Culex quinquefasciatus (AGluCulex, AGluCulex2, AGluCulex3), α-amylase de Aedes

aegypti (AmAeds), maltase-símile Agm2 de Anopheles gambiae (MaltaseAgm2), maltase 2 de

Drosophila virilis (Maltase2Dv), α-glucosidase de Gsj (AgluGsj), Oligo-1,6-Glucosidase de

Bacillus cereus (GluOligo) e α-glucosidase de Saccharomyces cerevisiae (AgluSc). Resíduos

idênticos são indicados por ‘‘*’’; resíduos conservados e semi-conservados são indicados por

‘‘:’’ e ‘‘.’’, respectivamente. Resíduos de ácido aspártico e histidina presentes em AGluRp e

também presentes em AGluSc são marcados em cinza. A predição da estrutura secundária

usando JPred server é representada em vermelho (α-hélices), verde (folhas β) e azul (alças).

Resultados

67

FIGURA 27 – Árvore filogenética baseada no alinhamento das sequências protéicas de α-glucosidases usando ClustalW: Rhodnius prolixus, Aedes aegypti, Culex quinquefasciatus,

Anopheles gambiae, Drosophila melanogaster, Tribolium castaneum, Thermus thermophilus,

Nocardia farcinica, Homo sapiens, Rattus norvegicus, Mus musculus, Xenopus laevis, Danio

rerio, Ixodes scapularis, Bos Taurus e Acyrthosiphon pisum. A numeração representa as

distâncias entre as espécies.

5.10 – Formação de Hz por α-glucosidases de espécies não-hematófagas

Alfa-glucosidases têm sido descritas em diferentes grupos de insetos

geralmente associadas ao processo digestivo. Entretanto, alguns trabalhos em

hemípteras mostram o envolvimento dessas enzimas em diferentes funções

que não a digestão. Em pulgões, por exemplo, α-glucosidases parecem ser

essenciais no controle da osmolaridade em dietas contendo sacarose (Ashford

et al., 2000; Salvucci, 2000).

Dessa forma, a próxima etapa foi testar a hipótese de que α-

glucosidases de insetos não hematófagos têm a capacidade de formar

hemozoína in vitro como uma pré-adaptação que permitiu o surgimento da

hematofagia neste grupo de insetos. Esta hipótese foi testada usando-se

epitélio de Dysdercus peruvianus (Figura 28A), um sugador de sementes de

algodão, e Quesada gigas (Figura 28C), a cigarra, em ensaios de formação de

Hz. Os resultados mostram que a incubação do extrato protéico desses

epitélios com hemina promoveu a formação de cristais de heme, insolúveis em

tampão carbonato-bicarbonato:SDS, pH 9,1, no qual o heme monomérico é

solúvel. Para determinar se os cristais de heme têm a mesma estrutura química

da Hz, o material formado pelo ensaio foi submetido ao espectro de FTIR. A

espectroscopia de FTIR detecta a ligação carbono-oxigênio do grupo carbonila

Resultados

68

ao átomo de ferro com a formação do cristal nos picos de 1207 e 1660 cm-1.

Tanto para D. peruvianus (Figura 28B) quanto para Q. gigas (Figura 28D), esses picos estão presentes e são idênticos ao já descrito para R. prolixus

(Oliveira et al., 1999) e a β-hematina sintética (Chen et al., 2001).

FIGURA 28 – Atividade de síntese de hemozoína usando extrato protéico de epitélio intestinal de Dysdercus peruvianus (A e B) e Quesada gigas (C e D). Os epitélios

intestinais foram coletados e submetidos a extração de proteínas. O ensaio de síntese de

hemozoína foi realizado usando 12 μg de proteína do sobrenadante (S) ou do precipitado (P).

A e C ensaio de formação de cristais de heme; B e D Espectro de FTIR do cristal

produzido in vitro.

A B

S P0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

Form

ação

Hem

ozoí

na(n

mol

s H

eme)

S P0.0

2.5

5.0

7.5

Form

ação

Hem

ozoí

na(n

mol

s H

eme)

C D

Discussão

69

6 – DISCUSSÃO A formação de hemozoína, em adição a outras estratégias para superar

a toxicidade do heme (Graça-Souza et al., 2006), é um mecanismo eficiente

para reduzir a disponibilidade de heme no intestino médio de certos

organismos hematófagos, como o Dipetalogaster maxima (Oliveira et al., 2007)

e o R. prolixus (Oliveira et al., 2000; Oliveira et al., 1999).

A primeira evidência que nos levou a sugerir a participação de uma α-

glucosidase no processo de formação de hemozoína foi a forte correlação

observada entre a atividade da enzima e a quantidade de hemozoína formada

no intestino médio de R. prolixus (Silva et al., 2007). Esta atividade foi

associada à fração protéica do epitélio intestinal deste inseto. Isto levou à

conclusão de que o intestino tem um componente protéico que promove a

formação de hemozoína. É provável que o ambiente hidrofóbico da membrana

favoreça esta atividade, pois quando os dois componentes (lipídios e proteínas)

foram colocados juntos no ensaio de formação de hemozoína, foi observado

um efeito sinergístico (Silva et al., 2007). Este fato é interessante, pois apesar

dos lipídios apresentarem uma menor participação é possível que eles criem

um ambiente favorável para a formação de hemozoína. Pisciotta & Sullivan

(2008) propõem que as gotas de lipídeos catalisem a formação de Hz

concentrando o heme lipofílico no ambiente aquoso em que a degradação de

hemoglobina ocorre no Plasmodium. A exclusão da água facilitaria a transição

do dímero aquoso para o que chamaram de dímero cristalino de heme formado

pela ligação Fe (III) – carboxilato. No vacúolo digestivo de Plasmodium existem

corpos lipídicos compostos de lipídios neutros e polares sugerindo que alguns

lipídios polares podem estar na superfície com o interior composto de lipídios

neutros (Pisciotta et al., 2007). No entanto, no presente trabalho foi mostrado

que a contribuição de lipídios polares no processo de síntese de Hz é muito

menor, quando comparada a das proteínas (Figura 10), nas condições

analisadas.

Provavelmente a interface entre a membrana perimicrovilar e a fase

aquosa no lúmen intestinal é um requisito importante para promover a

formação do dímero cristalino neste inseto. Esta teoria está de acordo com as

micrografias eletrônicas de transmissão observadas por Oliveira et al. (2005),

Discussão

70

que descobriu a formação de hemozoína no interior de vesículas delimitadas

por uma bicamada. Silva et al. (2004) mostraram uma forte e pontual marcação

quando a MPMV era incubada na presença de diaminobenzidina, numa

condição que detecta a atividade peroxidásica associada à presença de heme,

indicando uma associação específica do heme às membranas. A soma desses

resultados reforça a idéia de que o ambiente lipofílico da membrana pode ser

essencial para a síntese de Hz.

Embora a literatura apresente fortes evidências que sugerem que lipídios

são importantes fatores na formação de hemozoína, Egan (2008b) verificou

que o estudo da função de proteínas pode ser visto como um futuro importante

nesta área. O autor sugere que o crescimento da estrutura cristalina é um

processo auto-catalítico, mas a nucleação para formação de hemozoína

depende de um ambiente lipídico. No entanto, ainda não está claro como esta

nucleação ocorre (Egan 2008b). A partir dos resultados obtidos no presente

trabalho, é razoável supor que a α-glucosidase desempenhe a função de heme

nuclease para formação de hemozoína no intestino médio de R. prolixus. Visto

que esta é uma enzima presente nas membranas perimicrovilares, é possível

que a α-glucosidase inicie a ligação do heme (Figura 12) liberado a partir da

degradação da hemoglobina do hospedeiro vertebrado e, assim, promova a

formação do dímero inicial. A habilidade para catalisar reações de

transglicosilação é uma característica das α-glucosidases (Ferrer et al., 2005).

Na reação de transglicosilação, a enzima transfere unidades glicosídicas de

uma molécula doadora ativa para aceptores específicos, formando ligações

glicosídicas específicas. Estas reações são essenciais para formação de

glicoconjugados envolvidos principalmente em eventos de reconhecimento

celular (Lovering et al., 2007). Assim, a habilidade das α-glucosidases de

formarem uma ligação glicosídica pode ajudar a explicar sua ação na formação

da ligação ferro-carboxilato, etapa chave na formação de hemozoína.

Esforços têm sido empreendidos para se caracterizar o mecanismo de

formação de hemozoína no parasita da malária, Plasmodium, e em outros

modelos, mas esta ainda é uma questão controversa, pois diferentes fatores

têm sido sugeridos como determinantes no processo de formação de

hemozoína. A consequência destas muitas visões é que ainda não há um

consenso sobre o mecanismo de formação de hemozoína in vivo (Egan,

Discussão

71

2008a). No Plasmodium, a presença de uma enzima foi implicada no processo,

quando o extrato bruto de trofozoítos foi capaz de promover a formação de

hemozoína in vitro, sendo aparentemente sensível ao aquecimento, já que tal

atividade foi extinta quando a amostra foi fervida (Slater & Cerami 1992).

Depois disso, uma nova proteína, HDP (“heme detoxification protein”) foi

associada à síntese de Hz no Plasmodium (Jani et al., 2008). O presente

trabalho mostra que uma α-glucosidase promove a formação de hemozoína no

intestino médio de R. prolixus.

Oliveira et al. 2000 mostraram que a formação de hemozoína in vitro

induzida por uma fração particulada de epitélio intestinal de R. prolixus foi

fortemente inibida por cloroquina (CLQ). In vivo, quando os insetos foram

alimentados com sangue na presença de CLQ, a síntese de Hz também foi

inibida. Estes resultados foram confirmados em nosso trabalho e, além disso,

observamos que a CLQ foi capaz de inibir a atividade da α-glucosidase in vitro

(Figura 13). Entretanto, o mecanismo de inibição da CLQ sobre a atividade

primária da enzima ainda não é compreendido. Adicionalmente, quando um

anticorpo anti α-glucosidase de D. peruvianus foi usado no ensaio de síntese

de hemozoína, verificou-se uma diminuição no processo de síntese (Figura 14 e 15). Estes ensaios confirmaram a relação direta entre uma carboidrase e a

atividade de formação de cristais de heme, assim como a reciprocidade de

ação dos inibidores das duas atividades da enzima..

DEPC é um inibidor de várias enzimas por modificação de resíduos de

histidina, formando N-carbetoxihistidil (Coan & DiCarlo, 1990) ou por

condensação dos ε-amino grupos dos resíduos de lisina com os grupos

carboxílicos dos resíduos de ácido glutâmico e ácido aspártico (Wolf et al.,

1970). Lynn et al. (1999) têm sugerido que ácido aspártico é mais importante

para o pH necessário à formação de hemozoína. Nakanishi et al., (2008)

verificaram que o uso do DEPC pode ser um método eficaz para caracterizar o

estado de protonação de resíduos de histidina no sítio ativo de heme proteínas.

De acordo com nossos dados, e com os requerimentos físico-químicos para a

formação de hemozoína (Egan 2008a), proteínas devem representar uma

importante função como sítio de nucleação para o crescimento do cristal de

heme. Esta hipótese tem sustentação nas figuras 16A e B que mostram que a

adição de inibidores de α-glucosidase, após o ensaio ter sido iniciado,

Discussão

72

interferem negativamente na atividade de síntese de hemozoína. Estes

resultados mostram que o DEPC tem uma ação inibitória sobre a atividade de

formação de Hz, o que indica que resíduos de histidina estão provavelmente

envolvidos neste processo. Entretanto se a adição dos inibidores for feita 10 h

após o início do ensaio o efeito inibitório na síntese de hemozoína não é mais

observado. O mesmo resultado foi obtido a partir da desnaturação térmica da

enzima. Se a enzima for desnaturada termicamente 10 horas após o início da

incubação, a formação de Hz não pode mais ser interrompida. Assim,

sugerimos que esta enzima age como sítio de nucleação, iniciando o processo

de formação de hemozoína. Uma vez iniciada, a formação de hemozoína pode

continuar, provavelmente por autocatálise, na ausência da enzima. Portanto, se

a nucleação ocorrer de maneira eficiente, o crescimento do cristal ocorre de

maneira espontânea (Egan 2008a).

O sequenciamento do cDNA da α-glucosidase de R. prolixus mostrou

que sua sequência deduzida de aminoácidos apresenta alta identidade com α-

glucosidases de outros insetos hematófagos (Figura 27 e Tabela 3). Outro fato

importante na análise das sequências é a presença de alguns importantes

resíduos de aminoácidos conservados no sítio ativo das α-glucosidases de

insetos, como histidina, ácido aspártico e ácido glutâmico. No entanto, alguns

desses resíduos chaves não foram observados em α-glucosidase de levedura.

Esta diferença estrutural pode ocasionar com mudanças na geometria do sítio

ativo e especificidade do substrato, bem como na eficiência catalítica. A alta

proporção de ácido aspártico é sugestiva da função deste aminoácido no

processo de ligação de heme nos pHs menores que 6.0 (Lynn et al., 1999). Em

um primeiro momento, isto sugere que o sítio da enzima que acomoda o heme

poderia conter resíduos carboxilato. Propriedades de ligação a metais estão

associadas com aminoácidos contendo cadeias laterais carboxilato, imidazol e

hidroxil (Tainer et al., 1992). Em R. prolixus a ligação de heme na enzima

poderia envolver tanto resíduos de histidina como de ácido aspártico no sítio de

ligação ao substrato. Assim, a inibição por DEPC (Figura 15 e 16A), somada

aos dados obtidos por comparação das sequências (Figura 26), nos permite

propor o envolvimento dos resíduos His69, Asp132 e Asp159 no sítio

enzimático envolvido com a atividade de síntese de Hz.

Discussão

73

A atividade primária da enzima α-glucosidase é catalisar a reação de

clivagem específica de oligossacarídeos como a maltose, em glicose (Dixon &

Webb, 1979). A figura 17 mostrou que a pré-incubação deste substrato no

meio de reação inibe a formação de Hz. Assim, é razoável supor que o heme

poderia ligar-se à α-glucosidase no mesmo sítio que a maltose. Portanto, do

ponto de vista da atividade de formação de Hz, a maltose parece se comportar

como um inibidor competitivo, impedindo o acesso da hemina sobre o sítio de

ligação ao substrato, já que a concentração de maltose (500 mM) testada foi

suficientemente maior do que a concentração de hemina (100 mM).

O silenciamento do gene da α-glucosidase por injeção de dsαGlu

resultou em uma redução das atividades de α-glucosidase e de formação de

hemozoína em um padrão muito similar (Figuras 20 e 21). Os fenótipos foram

analisados 2 e 4 dias após a alimentação sanguínea. No entanto, o efeito do

RNAi foi evidente somente no 40 dia após a alimentação. A atividade de α-

glucosidase é baixa nos primeiros estágios da digestão sanguínea no intestino

médio de R. prolixus (Silva et al., 2007). Similarmente, a formação de

hemozoína no lúmen intestinal é também baixa neste período. No 20 dia após

alimentação, é provável que o nível de RNA mensageiro de α-glucosidase seja

baixo, o que explica o efeito discreto do RNAi. No entanto, no dia 4 após

alimentação, o nível de RNAm de α-glucosidase é maior, o que reflete uma alta

atividade de α-glucosidase. Em consequência o efeito do silenciamento é mais

evidente. Concomitantemente com a redução na atividade de α-glucosidase, é

possível detectar também uma redução na quantidade de hemozoína formada

no intestino médio de R. prolixus 4 dias após alimentação, demonstrando que o

silenciamento da enzima comprometeu a habilidade de formação de

hemozoína no intestino médio deste inseto. Esta é a primeira demonstração de

uma carboidrase envolvida em processos de detoxificação de heme.

As consequências da inibição da formação de hemozoína são bem

conhecidas (Graça-Souza et al., 2006; Kumar et al., 2007). A alteração dos

níveis de heme livre no intestino médio poderia resultar na sua passagem para

a hemocele, aumentando o potencial pró-oxidante deste ambiente, o que

poderia levar a um aumento do risco de danos fisiológicos (Oliveira et al.,

2000). Além da diminuição da atividade de formação de Hz, em insetos

injetados com dsα-Glu, a hemolinfa apresentou uma coloração vermelha

Discussão

74

intensa. Isto sugere lise das membranas celulares e extravazamento para a

hemocele de parte do sangue ainda não digerido, presente no trato digestivo

(Figura 19). Interessantemente, durante os experimentos de RNAi, 44% dos

insetos morreram (Tabela 2), sugerindo uma forte ação do silenciamento da α-

glucosidase em processos fisiológicos vitais. Estes resultados mostram o

impacto da inibição dos processos de detoxificação de heme e o papel crucial

da enzima α-glucosidase nesta atividade essencial.

Insetos hematófagos como Phlebotomus papatasi (Jacobson & Schlein,

2001) e Aedes aegypti (Whitby et al., 2005), apesar de possuírem uma dieta

pobre em carboidratos, possuem uma alta atividade de α-glucosidase quando

alimentados com sangue. Em R. prolixus, a hemina ingerida na alimentação foi

capaz de aumentar tanto a expressão do gene da α-glucosidase quanto a

atividade da enzima, sugerindo que o heme pode ser um importante regulador

da síntese da α-glucosidase (Figuras 22 e 23). Esta característica poderia

representar um mecanismo adaptativo como um forma de lidar com o alto

conteúdo de heme durante a digestão de sangue. Dillon & Kordy (1997)

compararam as atividades de α-glucosidase do intestino médio de flebótomos

que se alimentaram de sangue com aqueles que se alimentaram com

sacarose. Os resultados revelaram uma maior atividade específica no intestino

médio dos insetos que se alimentaram de sangue. É possível que esta enzima

desempenhe uma função na detoxificação de heme também neste modelo.

Para melhor compreensão do processo de formação de hemozoína no

lúmen intestinal de R. prolixus, o presente estudo forneceu dados importantes

para complementar os pontos discutidos na revisão realizada por Egan

(2008a). Deve ser lembrado que enzimas proteolíticas como catepsina B

símile, catepsina D símile e carboxipeptidades A e B são secretadas com

atividade máxima entre 6 e 7 dias após alimentação (Terra, 1988), agindo na

hemoglobina do espaço luminal. Durante o mesmo período, a α-glucosidase

apresenta uma elevada atividade com um aumento na produção de

membranas perimicrovilares (Silva et al., 2007; Billingsley &Downe 1983).

Neste contexto, α-glucosidase pode iniciar a ligação de heme durante sua lenta

liberação pela degradação da hemoglobina, permitindo a precipitação do heme

livre em um ambiente com pH ácido do intestino médio de R. prolixus. Stiebler

et al., (2010) mostraram que a degradação da hemoglobina, e consequente

Discussão

75

liberação de heme, é rapidamente acoplada à síntese de Hz nas membranas

perimicrovilares de R. prolixus. É possível que este acoplamento se dê através

da nucleação da Hz pela α-glucosidase nas membranas perimicrovilares, em

que o processo de crescimento do cristal é sustentado em um ambiente não

tamponante. A investigação do mecanismo de ação da α-glucosidase neste

processo pode fornecer resultados importantes para o desenvolvimento de

novas drogas ou novas estratégias de controle do vetor.

A principal meta do estudo da evolução molecular é entender a dinâmica

e os mecanismos através dos quais mudanças nas sequências gênicas mudam

a função e consequentemente o fenótipo (Golding & Dean, 1998). O completo

entendimento deste processo requer análises de como mudanças na estrutura

da proteína mediam o efeito de mutações na sua função (Vatzaki et al., 1999).

Além disso, o estudo das construções de proteínas tem elucidado as relações

entre estrutura e função que determinam o processo evolutivo (Turner et al.,

2005). Para identificar diretamente o mecanismo pelo qual mutações geraram

novas funções, no entanto, é necessário comparar proteínas através do tempo. No curso da evolução, organismos que selecionaram o sangue como

fonte de nutrientes, consequentemente adotaram um conjunto de estratégias

para superar a toxicidade do heme e adaptá-las a este hábito alimentar (Graça-

Souza et al., 2006). A hematofagia tem aparecido independentemente muitas

vezes durante a evolução dos artrópodes (Ribeiro, 1995) e diferentes grupos

de organismos hematófagos, nos dias atuais, são derivados de ancestrais não-

hematófagos. Para o sucesso destes organismos, algumas adaptações pré-

existentes foram determinantes, como o desenvolvimento de partes bucais com

características perfuro-cortantes (Lehane, 2005). Adicionalmente algumas

características fisiológicas também foram essenciais no sucesso do hábito de

se alimentar de sangue (Ribeiro & Francischetti 2003). Neste caso, se alguns

insetos hematófagos são derivados dos insetos fitófagos, pré-adaptados a

sugar seiva, a conservação de enzimas como as α-glucosidases poderia

representar uma das mais importantes pre-adaptações que resultaram na

aptidão à hematofagia. Na presente tese, foi possível observar que D.

peruvianus e Q. gigas são capazes de formar cristais de heme in vitro (Figura 28). Assim, nossos resultados corroboram esta idéia, mostrando que a

Discussão

76

estrutura da α-glucosidase pode ter sido uma pré-condição importante para a

hematofagia em alguns grupos de insetos com digestão ácida.

Conclusões

77

7 – CONCLUSÕES ► Nas condições aqui utilizadas, a fração protéica do intestino médio de R.

prolixus apresenta uma maior capacidade de síntese de hemozoína quando

comparada à ação de lipídios polares;

► Cloroquina, droga antimalária, foi capaz de inibir a atividade da α-

glucosidase e os inibidores específicos da α-glucosidase apresentaram efeito

inibitório sobre a síntese de hemozoína, indicando que esta é a enzima

responsável pela formação de cristais de heme em R. prolixus;

► O silenciamento do gene da α-glucosidase por RNAi foi capaz de reduzir a

atividade de síntese de hemozoina, confirmando o envolvimento desta enzima

neste processo. Além disso, foi observada uma alteração nos padrões

fisiológicos vitais como redução na ovoposição e aumento da mortalidade neste

grupo de insetos;

► A atividade e a expressão de α-glucosidase no intestino de insetos

alimentados com plasma enriquecido com hemina são maiores quando

comparadas as de intestino de insetos alimentados com plasma na ausência

de hemina, sugerindo uma regulação desta enzima pelo heme;

► Os resíduos conservados His69, Asp132 e Asp159 presentes no sítio de

ligação ao substrato provavelmente são relevantes na atividade de síntese de

hemozoína;

► Nossos resultados indicam claramente que a α-glucosidase do epitélio

intestinal de Rhodnius prolixus é responsável pela etapa de nucleação no

processo de formação de hemozoína.

Referências Bibliográficas

78

8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS Aft, RL & Muller, GC (1984). Heme-mediated DNA strand scission. J. Biol.

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Anexo

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9 – ANEXO

Anexo

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