alfred schutz: fenomenologia e açoes sociais

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cleção dos objetos de curiosidade que muda, mas também o grau de conhecimento almejado. 2) Em sua vida cotidiana, o homem é apenas parcialmente -e ousamos mesmo dizer que somente excepcionalmente - interessa- do na clareza de seu conhecimento, isto é, em uma compreensão plena das relações entre os elementos de seu mundo e os princípios gerais que regem essas relações. Ele costuma satisfazer-se com o fato de que há um serviço telefônico que funciona bem a seu dispor, e não se pergunta como todo esse aparato funciona em detalhe e quais leis da física tornam seu funcionamento possíveL Ele compra mercadorias na loja, sem saber como são produzidas, e paga com di- nheiro, mesmo que tenha apenas uma vaga ideia a respeito do que o dinheiro realmente é. Ele assume como um dado que seus contem- porâneos entenderão seu pensamento se ele o expressar na lingua- gem correta, e irão responder a ele, sem se perguntar como essa mi- raculosa performance pode ser explicada. Além disso, ele não busca pela verdade nem pela certeza. Tudo o que ele quer é informação so- bre as probabilidades e uma visão sobre as chances ou riscos que a situação em questão representa para o resultado de suas ações. Que o metrô irá funcionar amanhã é algo que para ele possui pratica- mente o mesmo elevado grau de probabilidade de que o sol irá nas- cer amanhã. Se em razão de algum interesse especial ele precisar de um conhecimento mais específico a respeito de algum tópico parti- cular, a benevolente civilização moderna lhe oferece toda uma rede de birôs de informação e de bibliotecas de referência. 3) Finalmente, seu conhecimento não é consistente. Ele pode considerar simultaneamente como válidos argumentos que são incom- patíveis entre si. Enquanto pai, cidadão, empregado e como membro de sua igreja, ele pode possuir as mais diferentes e menos coerentes opiniões a respeito de questões morais, econômicas ou políticas. Essa inconsistência não origina necessariamente uma falácia lógica. O pensamento dos homens se estende por assuntos que estão situados em diferentes níveis de relevância, e eles não estão conscientes das modificações que teriam que fazer ao passar de um nível ao outro. 88 II O quadro cognitivo do mundo da vida

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Capítulo 2 e 3

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  • cleo dos objetos de curiosidade que muda, mas tambm o graude conhecimento almejado.

    2) Em sua vida cotidiana, o homem apenas parcialmente - eousamos mesmo dizer que somente excepcionalmente - interessa-do na clareza de seu conhecimento, isto , em uma compreensoplena das relaes entre os elementos de seu mundo e os princpiosgerais que regem essas relaes. Ele costuma satisfazer-se com ofato de que h um servio telefnico que funciona bem a seu dispor,e no se pergunta como todo esse aparato funciona em detalhe equais leis da fsica tornam seu funcionamento possveL Ele compramercadorias na loja, sem saber como so produzidas, e paga com di-nheiro, mesmo que tenha apenas uma vaga ideia a respeito do que odinheiro realmente . Ele assume como um dado que seus contem-porneos entendero seu pensamento se ele o expressar na lingua-gem correta, e iro responder a ele, sem se perguntar como essa mi-raculosa performance pode ser explicada. Alm disso, ele no buscapela verdade nem pela certeza. Tudo o que ele quer informao so-bre as probabilidades e uma viso sobre as chances ou riscos que asituao em questo representa para o resultado de suas aes. Queo metr ir funcionar amanh algo que para ele possui pratica-mente o mesmo elevado grau de probabilidade de que o sol ir nas-cer amanh. Se em razo de algum interesse especial ele precisar deum conhecimento mais especfico a respeito de algum tpico parti-cular, a benevolente civilizao moderna lhe oferece toda uma redede birs de informao e de bibliotecas de referncia.

    3) Finalmente, seu conhecimento no consistente. Ele podeconsiderar simultaneamente como vlidos argumentos que so incom-patveis entre si. Enquanto pai, cidado, empregado e como membrode sua igreja, ele pode possuir as mais diferentes e menos coerentesopinies a respeito de questes morais, econmicas ou polticas. Essainconsistncia no origina necessariamente uma falcia lgica. Opensamento dos homens se estende por assuntos que esto situadosem diferentes nveis de relevncia, e eles no esto conscientes dasmodificaes que teriam que fazer ao passar de um nvel ao outro.

    88

    IIO quadro cognitivodo mundo da vida

  • 3Interpretao social e orientao

    individual*

    I. A concepo social da comunidade e do indivduo

    o mundo social como algo dadoComeamos com um exame do mundo social sem suas vrias

    articulaes e formas de organizao que constituem a realidade so-cial para os homens que nele vivem. O homem nasce em um mundoque j existia antes de seu nascimento; e esse mundo no apenasfsico, mas tambm sociocultural. O ltimo um mundo pr-organizado e pr-constitudo cuja estrutura particular o resultadode um processo histrico que, portanto, diferente em cada culturae sociedade.

    Contudo, certas caractersticas so comuns a todos os mundossociais porque esto enraizadas na condio humana. Em todos oslugares encontramos divises por sexo, por idade, e algumas divi-ses do trabalho condicionadas por aquelas; e organizaes do pa-rentesco mais ou menos rgidas que dividem o mundo social em zo-nas de distncia social varivel, que vo desde a famlia nuclear atos estrangeiros. Por toda parte encontramos hierarquias de superio-ridade e subordinao, de lder e seguidores, daqueles que coman-dam e daqueles que obedecem. Por toda parte tambm encontramosum modo de vida que aceito e que regulamenta as relaes com oshomens e com as coisas, com a natureza e com o sobrenatural. Mais

    * Transcrito a partir dos seguintes itens das Referncias: 1957a, p. 36-38; 1944, p.501-502; 1957a, p. 57~60, 52-54; 1944, p. 502-504, 505-507, 561.

    1II

  • cio que isso, em todo lugar h objetos culturais, tais como ferramen-tas necessrias dominao do mundo exterior, brinquedos para ascrianas, artigos para decorao, instrumentos musicais de algumtipo, objetos que servem como smbolos para a adorao. J certascerimnias que marcam os grandes eventos no ciclo da vida do indi-vduo (nascimento, iniciao, casamento, morte), ou no ritmo danatureza (plantio e colheita, solstcios etc.).

    Portanto, o mundo social no qual o homem nasce e no qual eleprecisa encontrar seu caminho experienciado por ele como uma es-treita rede de relaes sociais, de sistemas de signos e smbolos, comsua estrutura particular de significados, de formas institucionalizadasde organizao social, de sistemas de status e prestgio etc. O signifi-cado de todos esses elementos do mundo social em toda sua diversi-dade e estratificaes, assim como o padro de sua prpria tecitura, sempre assumido como algo natural. A soma total do aspecto relati-vamente natural do mundo social para aqueles que nele vivem consti-tui - para utilizar a expresso de William Graham Sumner - os costu-mes internos do grupo, que so socialmente aceitos como as formasboas e corretas de lidar com os homens e as coisas. Eles so naturali-zados porque foram testados ao longo do tempo e, sendo socialmenteaprovados, dispensam explicaes ou justificaes.

    Esses costumes constituem a herana social que transmitidas crianas que nascem e crescem dentro do grupo ...

    Isso acontece porque o sistema dos costumes estabelece um pa-dro em termos do qual o grupo interno "define sua situao". Maisdo que isso: tendo sido originado em situaes prvias definidaspelo grupo, o esquema de interpretao resistiu por tanto tempoque se tornou um elemento da situao real. Tomar o mundo comoalgo acima de qualquer questionamento implica o pressuposto bas-tante enraizado de que esse mundo continua a ser, essencialmente,o mesmo que era antes; aquilo que se provou vlido at o momentoo continuar sendo, e que qualquer coisa que ns ou outros comons podem realizar com sucesso s pode ser feita da mesma maneiraque outrora, e trar resultados substantivos semelhantes.

    92

    Autointerpretao da comunidade cultural *

    O sistema de conhecimento ento adquirido - incoerente, in-.onsistente e apenas parcialmente claro - assume para os mem-bros do grupo a aparncia de suficientes coerncia, clareza e con-istncia, conferindo a todos uma possibilidade razovel de com-preender e de ser compreendido. Qualquer membro nascido oucriado no grupo aceita o esquema estandardizado dos padres cul-turais que lhe transmitido inteiramente pronto por seus ances-trais, professores e autoridades, como um guia no questionado einquestionvel para todas as situaes que normalmente ocorremna vida social. O conhecimento vinculado a um padro culturalcarrega em si mesmo sua evidncia - ou melhor, tido como certona ausncia de uma evidncia em contrrio. um conhecimentocom receitas valiosas para interpretar o mundo social e para lidarcom as coisas e com os homens de modo a se obter os melhores re-sultados em cada situao com um mnimo de esforo, evitando-seconsequncias indesejveis. De um lado, essa receita funcionacomo um preceito para as aes, servindo como um esquema deexpresso: qualquer um que deseje obter determinado resultadodever proceder tal como indicado pela receita indica da para essepropsito. De outro lado, essa receita serve como um esquema deinterpretao: quem proceder tal como indicado por determinadareceita dever obter o resultado correlato. Assim, funo da pa-dronizao cultural eliminar investigaes que acabem sendo pro-blemticas, oferecendo instrues j prontas para ser utilizadas,substituindo aquela verdade difcil de ser obtida por confortveistrusmos, ou impedindo que aquilo que aparece como autoexpli-cativo seja substitudo pelo questionvel.

    Esse "pensar como de costume" , tal como podemos chamar essaatitude, corresponde ideia de "concepo relativamente natural do

    * Tendo discutido as caractersticas e limitaes do conhecimento prtico do ho-mem em suas ocupaes cotidianas (c. o tpico "O carter do conhecimento prti-co", capo 2), Schutz volta-se para a questo a respeito das fundaes desse conheci-mento individual, tal como encontrado no sistema cognitivo do "grupo interno", acomunidade cultural [N.O.].

    1.1

  • mundo" (relativ natrliche Weltanschaaung), de Max Scheler'; elainclui os pressupostos "bvios" que so relevantes para um gruposocial particular, que Robert S. Lynd descreveu de forma magistraljunto com suas contradies e ambivalncias - como o "esprito decomunidade'". Pensar de maneira habitual pode ser algo contnuo,desde que alguns pressupostos continuem a valer: (1) que a vida,em especial a vida social, continue a ser o que era antes, ou seja, quos mesmos problemas que requerem as mesmas solues continua-ro a ocorrer e, portanto, que nossas experincias anteriores conti-nuaro a valer para lidar com situaes futuras; (2) enquanto pu-dermos confiar no conhecimento que nos foi transmitido por nos-sos pais, professores, governantes, tradies, hbitos etc., mesmoque no entendamos sua origem e seu real significado; (3) que nocurso dos afazeres da vida ordinria seja suficiente saber apenas umpouco a respeito do tipo geral ou do estilo dos acontecimentos quepodemos encontrar em nosso mundo da vida, demodo que possa-mos administr-Ios ou control-los; (4) que nem os sistemas de re-ceitas enquanto esquemas de interpretao e expresso, nem ospressupostos bsicos que acabamos de mencionar sejam apenasparte de nossa esfera pessoal, mas que sejam aceitos e aplicados portodos os nossos contemporneos.

    o significado subjetivo do pertencimento ao grupoO significado subjetivo do grupo, isto , o significado que o gru-

    po tem para seus membros, foi frequentemente descrito em termosde um sentimento de pertencimento, de compartilhamento de inte-resses comuns. Isso est correto; mas, infelizmente, esses conceitos

    1. SCHELER, M. "Problerne einer Soziologie des Wissens". Die WissenJonnen unddie GeselschaJt. Leipzig: [s.e.], 1926, p. 58ss. Cf. BECKER, H. & DAHLKE, H.O."Max Scheler's Sociology ofKnowledge". Philosophy ad Phenomenological Research,2, 1942, p. 310-322, esp. p. 315.

    2. A expresso original Middletown-spirit, que se refere ao modo de vida das pe-quenas cidades americanas, estudadas por Robert Staughtin Lynd e Helen Lynd. Aprimeira cidade estudada foi Muncie, em Indiana, onde procuraram apreender oimpacto da religio, o modo de vida, hbitos de consumo, crenas e expectativas dapopulao, tendo observado nesta e em outras pequenas cidades a importncia doengajamento em atividades comunitrias [N.T.l.

    94

    11II'1l111 analisados apenas de maneira parcial, em termos dos concei-111'1 de comunidade e associao (Maclver), Gemeinschaft e Ge-,'lIschaft (Tnnies), grupos primrios e secundrios (Cooley) e as-111 por diante ...

    significado subjetivo que o grupo possui para seus membrosronsiste em seu conhecimento de uma situao comum com o de-rorrente sistema de tipificaes e relevncias. Essa situao possuilia prpria histria, na qual as biografias dos membros tambm to-rnam parte; e o sistema de tipificao e relevncias que determinam\ situao formam uma concepo relativamente natural do mundolue compartilhada. Aqui os membros individuais esto "em casa",isto , encontram seu caminho sem dificuldade, guiados por um.onjunto de hbitos mais ou menos institucionalizados, costumes,normas etc., que o ajudam interagir com os semelhantes que perten-em mesma situao. O sistema de tipificaes e relevncias com-partilhado com os outros membros do grupo define os papis sociais,as posies e o status de cada um. Essa aceitao de um sistema co-mum de relevncias leva a uma autotipificao homognea por par-te de todos os membros do grupo.

    Nossa descrio vlida tanto para (1) os grupos existenciaiscom o qual eu partilho uma herana social comum, quanto para (2)os assim chamados grupos voluntrios, que foram formados pormim ou aos quais eu aderi. A diferena, contudo, que no primeirocaso o indivduo encontra-se em um sistema de tipificaes, rele-vncias, papis, posies que j pr-construdo, que no foi feitopor ele, mas transmitido por uma herana social. No caso dos gru-pos voluntrios, entretanto, esse sistema no experienciado peloindivduo como j sendo algo pronto e acabado; ele deve ser COllS-trudo pelos membros e, sendo assim, sempre envolve um processode evoluo dinmica. Apenas alguns dos elementos da situao socomuns; outros precisam ser criados mediante uma definio co-mum da situao recproca.

    Aqui est envolvido um problema bastante importante. Comoum membro individual de um grupo define sua situao privada nombito do quadro geral daquelas tipificaes e relevncias comuns,em termos das quais o grupo define sua situao? Antes de formularuma resposta preciso tecer algumas ponderaes.

    111,

  • Nossa descrio meramente formal, e no se refere nem natu-reza do vnculo que mantm o grupo unido, nem extenso, duraoou intimidade do contato social. Portanto, ela igualmente aplicvelao casamento e a uma empresa, ao pertencimento a um grupo de xa-drez ou a uma nao, participao em uma conferncia ou na cultu-ra ocidental. Cada um desses grupos, no entanto, faz referncia a umgrupo mais amplo, do qual ele apenas um elemento. claro que umcasamento ou uma empresa existe no contexto geral do grupo cultu-ral mais amplo, cujo modo de vida (que inclui os costumes, a moral, odireito e assim por diante) predominante nessa cultura, que dadopreviamente aos atores individuais enquanto um esquema de orien-tao e de interpretao de suas aes. Contudo, cabe aos parceirosno casamento ou na empresa definir e redefinir continuamente suasituao individual (privada) dentro desse quadro.

    Essa obviamente a razo mais profunda. pela qual, segundoMax Weber, a existncia do casamento ou de um Estado significato somente a chance (probabilidade) de que as pessoas agem e agi-ro de uma maneira especfica - ou, na terminologia deste artigo,conforme a estrutura geral das tipificaes e relevncias aceitas semquestionamento pelo ambiente sociocultural particular. Tal estru-tura geral experienciada pelos membros individuais em termos deinstitucionalizaes a serem interiorizadas, e o indivduo deve defi-nir sua situao pessoal singular a partir da utilizao de padresinstitucionalizados para a realizao de seus interesses particulares.

    Aqui temos um aspecto da definio privada da situao depertencimento ao grupo. Um corolrio disso a atitude individualque um indivduo escolhe adotar em relao ao papel social queele deve desempenhar no grupo. Uma coisa o significado do pa-pel social e a expectativa com relao a ele tal como definidos pelopadro institucionalizado (por exemplo, o cargo de presidente dosEstados Unidos); outra coisa o modo particular e subjetivo comque aquele que incumbido desse papel define sua situao em re-lao a ele (a interpretao da prpria misso feita por Roosevelt,Truman, Eisenhower).

    O elemento mais importante na definio da situao privada ,no entanto, o fato de que o indivduo sempre simultaneamente um

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    membro de numerosos grupos sociais. Tal como demonstrou Sim-mel, cada indivduo est situado na interseco de diversos crculossociais, e o nmero destes ser tanto maior quanto mais diferencia-Ia for sua personalidade individual. Isso ocorre porque aquilo quetorna uma personalidade nica justamente aquilo que no pode..er partilhado com outros.

    De acordo com Simmel, o grupo formado por um processo noqual muitos indivduos unem partes de suas personalidades - impul-os, interesses e foras especficos - enquanto aquilo que cada per-onalidade realmente permanece de fora dessa rea comum. Osgrupos so caracteristicamente diferentes conforme as personalida-des totais de seus membros e daquelas partes de suas personalidadescom a qual eles tomam parte no grupo. Na definio que o prprioindivduo faz de sua situao privada, os vrios papis sociais queresultam de sua mltipla participao em diferentes grupos so ex-perienciados como um conjunto de autotipificaes que, por suavez, so organizadas segundo uma ordem particular de domnios derelevncia que, evidentemente, esto em um fluxo contnuo. pos-svel que essas caractersticas da personalidade do indivduo, quepara ele possuem um grau de relevncia mais elevado, sejam irrele-vantes do ponto de vista de qualquer sistema de relevncias que dado no grupo ao qual ele pertence. Isso pode levar a conflitos emsua personalidade, que se originam principalmente na tentativa deviver de acordo com as vrias e frequentemente inconsistentes ex-pectativas em relao a seus papis, algo que inerente ao prpriofato de que o indivduo pertence a diversos grupos sociais. Como jvimos, somente no grupo voluntrio, e no no grupo existencial,que o indivduo livre para determinar de qual grupo ele quer sermembro e qual papel ele quer desempenhar. Contudo, esse pelomenos um aspecto da liberdade do indivduo, na medida em que elepode escolher por si mesmo qual parte de sua personalidade desejaque tome parte em cada grupo; ali ele pode definir sua situao emrelao ao papel que lhe compete; e tambm ali que ele pode esta-belecer sua prpria ordem privada de relevncias, na qual cadamembro dos vrios grupos ocupa uma posio.

    111

  • n. Perspectivas internas e externas

    Viso exterior ao grupo e viso interior ao grupo

    Os membros de um grupo externo no compartilham as 111('mas verdades autoevidentes partilhadas pelo grupo interno. N('nhurn artigo de f ou tradio histrica os compromete a aceuucomo corretos e bons os costumes de outro grupo que no o seuprprio. No apenas o seu mito central que diferente, mas tarnbrn os processos de racionalizao e de institucionalizao. Deusesdiferentes revelam outros cdigos sobre o direito e a boa vida; ou-tras coisas so sagradas, so tabus, e outras proposies sobre o di.reito e a natureza so estabelecdas'. Aquele que de fora avalia opadres predominantes no grupo que est sob considerao dacordo com o sistema de relevncias que prevalece como aspectonatural no mundo ao qual ele pertence. Enquanto no existir umafrmula que traduza os sistemas de relevncias e tipificaes predo-minantes no grupo considerado para os sistemas ao qual pertence oavaliador, aqueles permanecero incompreendidos; mas frequente-mente eles so considerados como inferiores e de menor valor.

    Esse princpio se mantm vlido, mesmo que em menor grau,inclusive nas relaes entre dois grupos que possuem muitas coisasem comum, isto , em que os dois sistemas coincidem em uma ex-tenso considervel. Por exemplo, os imigrantes judeus que vieramdo Iraque tiveram dificuldade em entender que suas prticas de po-ligamia e de casamento de crianas no so permitidas pelas leis deIsrael, a ptria dos judeus. Outro exemplo aparece nas discusses daAssembleia Nacional Francesa de 1789, aps Lafayette ter submeti-do primeira verso da Declarao dos Direitos Humanos moldadaconforme os padres americanos. Vrios oradores se referiram sdiferenas bsicas entre a sociedade francesa e a americana: a situa-o de um novo pas, de uma colnia que rompeu relaes com amatriz, no pode ser comparada com aquela de um pas que teveuma vida constitucional prpria por mais de quatorze sculos. O

    3. T.V. Smith (The American Philosophy ofEquality. Chicago: [s.e.], ] 927) apontouque Locke utilizou as ideias de estado de natureza e de igualdade para destronar ti-ranos, enquanto Hobbes as utilizou para entronar o "deus mortal".

    98

    1

  • u~~duos, mas a relaes de escala mais ampla - isto , s relaes entreos grupos.

    Essa situao pode levar a vrias atitudes do grupo interno emrelao ao grupo externo: o grupo interno pode aderir ainda maisfortemente a seu modo de vida e tentar mudar a atitude do grupoexterno mediante um processo educacional de difuso de informa-oes, ou por persuaso, ou por propaganda. Ou ento o grupo inter-no pode tentar ajustar seu modo de pensar quele do grupo externo,aceitando o padro de relevncias deste, ao menos parcialmente. Ouainda pode ser instaurada uma poltica de cortina de ferro ou de pa-cificao e, finalmente, a ltima forma de romper esse crculo vicio-so com uma guerra em qualquer um dos nveis possveis. Umaconsequncia secundria pode ser a de que os membros do grupointerno que buscam uma poltica de entendimento mtuo sejamconsiderados pelo porta-voz do etnocentrismo mais radical comodesleais, traidores etc., um fato que por sua vez tambm leva a umamudana na autointerpretao do grupo social.

    o estrangeiro na comunidadeO estrangeiro torna-se essencialmente o homem que questiona

    quase tudo o que parece ser inquestionvel aos membros do grupodo qual se aproxima.

    Para ele, as caractersticas culturais desse grupo no possuema autoridade de um sistema de preceitos j testado, e isso simples-mente porque ele no partilha a mesma vvida tradio histricapela qual esse sistema foi formado. claro que tambm do pontode vista do estrangeiro esse grupo possui uma histria peculiar,uma histria que acessvel para ele. Mas ela nunca se torna partede sua prpria biografia, tal como o a histria do grupo ao qualele originalmente pertence. Apenas o modo como seus pais e bisa-vs viveram se torna um elemento de seu prprio modo de vida.Tmulos e reminiscncias no podem ser transferidos nem con-quistados. Assim, o estrangeiro aproxima-se do outro grupo comoum recm-chegado, no sentido mais verdadeiro do termo. Na me-lhor das hipteses ele pode estar disposto e capacitado a tomarparte no presente e no futuro desse novo grupo, em uma experin-

    100

    I'm vvida e imediata; no entanto, ele sempre permanecer exclu-10das experincias de seu passado. Do ponto de vista desse grupo,Ic um homem sem histria.

    Para o estrangeiro o padro cultural de seu grupo natal continuaI ser o resultado de um ininterrupto desenvolvimento histrico e11m elemento de sua biografia pessoal, que por essa mesma razo foi" continua a ser um esquema referencial inquestionvel para sua"concepo de mundo relativamente natural". Portanto, evidenteque o estrangeiro comea a interpretar seu novo ambiente social emlermos de seu pensamento usual. No interior do esquema de refe-rncia que ele trouxe de seu prprio grupo, no entanto, ele encontraima ideia j pronta a respeito dos padres que so supostamente v-lidos no novo grupo - uma ideia que necessariamente logo se prova-r inadequada ...

    Primeiramente, a ideia de um padro cultural do novo grupoque o estrangeiro encontra em seu prprio esquema interpretativofoi originada a partir da atitude de um observador desinteressado.No entanto, esse estrangeiro est em vias de deixar de ser um obser-vador desinteressado para se transformar em um futuro membro dogrupo. Assim, o padro cultural desse grupo no apenas um dosmuitos assuntos que ocupam seu pensamento, mas um segmentodo mundo que deve ser dominado a partir de aes. Consequente-mente, sua posio dentro do sistema de relevncias estrangeiro modificada decisivamente, e isso significa, conforme j vimos, queoutro tipo de conhecimento ento exigido para sua interpretao.Passando da pla teia para o palco, por assim dizer, o antigo especta-dor se torna um membro do elenco, passa a atuar como um coleganas relaes sociais com os outros atores, e toma parte na ao quest acontecendo.

    Em segundo lugar, o novo padro cultural assume o carter deum meio. A distncia convertida em proximidade; suas moldurasvazias so ocupadas por experincias vvidas; os contedos anni-mos so transformados em situaes sociais bem definidas; suas ti-pologias se desintegram. Em outros termos, o nvel da experinciaque ele tem com os objetos sociais do meio incongruente com o n-vel da mera crena que ele tem em relao aos objetos dos quais nose aproxima; ao passar do ltimo ao primeiro, qualquer conceito

    101

  • torna-se inadequado se aplicado ao novo nvel se no tiver sido l'('configurado a partir desses novos termos.

    Em terceiro lugar, a imagem que se tinha em seu grupo de orlgem em relao ao novo grupo se mostra completamente inadequada para o estrangeiro que dele se aproxima, em virtude do mero fatode que essa imagem no foi construiria com o intuito de provocaruma resposta ou uma reao por parte dos membros desse grupo.conhecimento que essa imagem oferece, serve apenas como inter-pretao do grupo estrangeiro, no corno um guia de interao en-tre os dois grupos. Sua validade tem como base, primariamente, oconsenso entre os membros do grupo que no pretendem estabele-cer uma relao social direta com os membros do grupo estrangeiro.(Aqueles que pretendem faz-Io esto em uma situao anlogaquela do estrangeiro que est iniciando um contato). Consequen-temente, o esquema de interpretao refere-se aos membros do gru-po estrangeiro meramente como a objetos de sua interpretao, enada alm disso, como destinatrios de possveis atos que emanamdo procedimento interpretativo e no como sujeitos de quem j seantecipa as reaes. Assim, esse tipo de conhecimento , por assimdizer, insulado; ele no pode ser nem verificado, nem falsificado pe-las respostas dos membros do grupo estrangeiro. Este, portanto,considera esse conhecimento - em virtude do efeito de "espelho'v.,como sendo no responsivo e improcedente, e cheio de preconcei-tos, enviesamentos e mal-entendidos. O estrangeiro que se aproxi-ma, no entanto, torna-se consciente do fato de que um importanteelemento de seu "pensamento usual", isto , suas ideias sobre o gru-po estrangeiro, sobre seu padro cultural e seu modo de vida, noresiste ao teste da experincia vvida e da interao social.

    A descoberta de que as coisas em seu novo meio parecem dife-rentes daquilo que ele esperava que fossem frequentemente o pri-meiro choque na confiana que o estrangeiro possui em relao validade de seu pensamento habitual. No apenas a imagem que oestrangeiro possua desse grupo que invalidada, mas todo o esque-

    6. Ao utilizar esse termo fazemos aluso teoria bastante conhecida de Cooley arespeito do self refletido ou espelhado (COOLEY, C.H. Human Nature al1d lhe Soci-alOrder. Ed. rev. Nova York: [s.e.], 1922, p. 184.

    102

    11111 de interpretao corrente em seu grupo de origem. Ele no podeIIIIIls ser usado como um esquema de interpretao em seu novo111('10 social. Para os membros do novo grupo seus padres culturaisdl'Hcmpenham as funes de tal cdigo. Mas o estrangeiro no podeullliz-lo tal como ele , e nem estabelecer uma frmula geral deI nnverso entre ambos os padres culturais, de modo a transformarIt idas as coordenadas de um em coordenadas vlidas para o ou tro -" Isso pelas seguintes razes.

    Em primeiro lugar, qualquer esquema de orientao pressupeque todos os que o utilizam olham para o mundo sua volta como! este fosse organizado a seu redor, como se o indivduo em ques-

    to fosse o centro de tudo. Quem desejar utilizar esse mapa de for-mabem-sucedida deve, antes de qualquer outra coisa, conhecer sualocalizao, em dois sentidos: sua localizao no terreno e sua re-presentao no mapa. Se aplicarmos esse argumento ao mundo so-.ial, isso passa a significar que somente os membros do grupo inter-no, na medida em que possuem um status definido em sua hierar-quia e que so conscientes disso, que podem usar seu padro natu-ral como um esquema de orientao vlido e natural. O estrangeiro,no entanto, deve lidar com o fato de que ele carece de um statuscomo membro do grupo social ao qual ele est prestes a aderir, demodo que ele no tem um ponto de referncia a partir do qual possaorientar-se. Ele se encontra fora do territrio coberto pelo atual es-quema de orientao que vigora no grupo. Assim, ele no pode con-siderar a si mesmo como o centro de seu meio social, e esse fato cau-sa um deslocamento do contorno de suas relevncias.

    Em segundo lugar, o padro cultural e suas frmulas represen-tam uma unidade de esquemas de interpretao e de expresso co-incidentes apenas para os membros do grupo. Para o estrangeiro talunidade no existe. Ele deve "traduzi-lo" em termos do padro cul-tural de seu grupo natal, desde que neste existam elementos equiva-lentes. Caso existam, os termos traduzidos podem ser entendidos erecordados; eles podem ser organizados por recorrncia e, dessemodo, eles esto mo, mas no em mos. Mas, mesmo assim, b-vio que o estrangeiro no pode assumir que sua interpretao donovo padro cultural coincide com aquele que corrente entre osmembros do grupo interno. Muito pelo contrrio, ele deve conside-

    10:\

  • rar essa discrepncia fundamental ao olhar para as coisas e ao IIdcom as situaes.

    Somente depois de ter coletado um dado montante de conhemento sobre a funo interpretativa do novo padro cultural C/LIestrangeiro pode adota-lo como esquema de sua prpria expressA diferena entre os dois estgios de conhecimento familiar a ququer estudante de lngua estrangeira e recebeu grande ateno pparte dos psiclogos que lidam com teorias da aprendizagem. a dferena entre o entendimento passivo de uma lngua e seu domfnlativo como meio de realizao de seus prprios atos e pensamento",

    A viso interna e a orientao do estrangeiro

    Podemos afirmar que o membro do grupo interno olha de ums relance para as situaes normais que ocorrem a seu redor e apre-ende imediatamente a receita mais apropriada para lidar com elas.Nessas situaes sua ao apresenta todas as marcas distintivas dohbito, do automatismo, da conscincia parcial. Isso possvel por-que o padro cultural lhe fornece receitas tpicas para a soluo deproblemas tpicos enfrentados por atores tpicos. Em outros termos,a chance de obter o resultado padro desejado com a utilizao dareceita bastante objetiva; isso vlido para todos que se compor-tam tal qual o tipo annimo que requerido pela receita. Portanto, oator que segue a receita no precisa verificar se Sua chance objetivacoincide com sua chance subjetiva, qual seja, aquela chance que seabre diante dele, o indivduo, em razo de suas circunstncias pes-soais e de suas faculdades que subsistem independentemente de sa-ber se as outras pessoas, em diferentes situaes, agiriam ou no domesmo modo e com a mesma probabilidade. Mais do que isso,pode-se ainda afirmar que as chances objetivas de eficcia de umareceita so tanto maiores quanto menores forem os desvios em rela-o ao comportamento tpico, e isso especialmente vlido para asreceitas que se referem s interaes sociais. Para funcionar, essetipo de receita pressupe que cada parceiro espere que o outro ajaou reaja de forma tpica, desde que o prprio ator aja tipicamente.Aquele que deseja andar de trem deve comportar-se daquele modotpico que permita ao "agente ferrovirio" ter uma expectativa ra-zovel de que ele tenha uma conduta tpica do tipo "passageiro", e

    l'I'SIl. Dado que esse esquema foi desenhado para um uso ge-I I li' no precisa ser testado para cada indivduo particular que ir1111\ 1o.

    111I1't1 aqueles que cresceram dentro do padro cultural, no ape-1I'II'Cceitase a probabilidade de sua eficincia precisam ser con-

    hhrndas como uma "questo de fato" inquestionvel que lhes con-h'll' Ycgurana e certeza, mas isso se aplica tambm s atitudes tpi-

    ''li I' annimas dos atores. Ou seja, em virtude de seu carter anni-Itllll' tpico, essas atitudes no so colocadas naquele setor de rele-nelas que demanda seu conhecimento explcito, mas naquela re-

    II\() elamera "familiaridade", na qual basta que se confie. Essa in-trr-relao entre chance objetiva, carter tpico e relevncia parece,'I' algo bastante importante.

    No entanto, para o visitante que se aproxima, o padro estabele-I Ido no grupo no garante uma chance objetiva de sucesso, masuma probabilidade meramente subjetiva que deve ser verificadapasso a passo, ou seja, preciso que ele esteja certo de que as solu--es sugeridas pelo novo esquema tambm produziro o efeito de-scjado por ele em sua nova posio como algum de fora e re-.m-chegado, que ainda no possui todo o sistema de padro cultu-ral ao seu alcance e que, ao contrrio disso; ainda est bastante con-fuso com sua inconsistncia, incoerncia e falta de clareza. preci-o, antes de tudo, para usar uma expresso de W.I. Thomas, que eledefina a situao. Portanto, ele no pode ficar limitado a essa primei-ra aproximao do novo padro,confiando apenas em seu vago co-nhecimento sobre seu estilo e estrutura gerais, mas preciso que te-nha um conhecimento explcito de seus elementos, indagando noapenas sobre seu o qu, mas tambm sobre seu por qu. Consequen-temente, as formas das linhas que circunscrevem sua relevncia ne-cessariamente diferem radicalmente daquelas de um membro internodo grupo no que se refere a situaes, receitas, meios, fins, parceirossociais ete. Tendo em mente a discusso prvia sobre a relao entrerelevncia, de um lado, e tipicidade e anonimato, de outro, segue-seque ele utiliza outro padro de medida para o anonimato e tipicida-de dos atos sociais, diferente daquele usado pelos membros inter-nos. Isso porque para o estrangeiro os atores observados no grupodo qual ele se aproxima no possuem - assim como para os outros

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  • atores - aquele suposto carter de anonimato, de quem apenas real!za funes tpicas, mas so indivduos. Por outro lado, ele est inclinado a tomar traos que so individuais como se fossem traos tpi-cos. Assim ele constri um mundo social de pseudoanonimato, depseudointimidade e de pseudotipicidade. Portanto, ele no conse-gue integrar os tipos pessoais construdos por ele em um quadro co-erente sobre o grupo e no pode confiar em sua expectativa de rea-o por parte deles. E tanto menos pode adotar aquelas atitudes tpi-cas e annimas que um membro do grup pode esperar de seus par-ceiros de interao em uma situao tpica. Disso resulta a ausnciade um sentimento de distanciamento por parte do estrangeiro, umaoscilao entre o carter remoto e a intimidade, sua hesitao e in-certeza, e sua desconfiana em relao a todos os assuntos que pare-cem simples e descomplicados para aqueles que confiam na eficin-cia das receitas no questionadas que precisam apenas ser seguidassem que tenham que ser compreendidas.

    Em outros termos, o padro cultural do grupo de aproximaono aparece ao estrangeiro como um abrigo, mas como um campode aventura, no como algo evidente, mas como um tpico questio-nvel que deve ser investigado, no como um instrumento para re-solver situaes problemticas, mas como uma situao problem-tica em si mesma, bastante difcil de lidar.

    Esses fatos explicam duas caractersticas bsicas da atitude doestrangeiro em relao ao grupo que foram discutidas por quase to-dos os socilogos que concederam particular ateno a esse assun-to, quais sejam, (1) a objetividade do estrangeiro e (2) o carter du-vidoso de sua lealdade.

    1) A objetividade do estrangeiro no pode ser suficientementeexplicada por sua atitude crtica. verdade que ele no obrigado aadorar os "dolos da tribo" e possui um vvido sentimento em relao incoerncia e inconsistncia de seu padro cultural. No entanto,essa atitude no resulta tanto de sua propenso a julgar o novo grupoa partir dos padres que ele trouxe consigo, mas especialmente emvirtude de sua necessidade de obter um pleno conhecimento dos ele-mentos constitutivos desse novo padro cultural e de examinar comcuidado e preciso aquilo que para o grupo parece ser autoexplicati-vo. A razo mais profunda para essa objetividade, entretanto, reside

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    1'111 sua prpria amarga experincia sobre os limites do "pensar como1 I" costume", que o ensinou que um homem pode perder seu status,II[\S diretrizes e at mesmo sua histria, e que o modo de vida normalI' sempre muito menos garantido do que parece. Portanto, frequente-mente o estrangeiro pode prever com acuidade o surgimento de umacrise que pode vir a ameaar todo o fundamento dessa "concepo deInundo relativamente natural", enquanto esses sintomas passam de-~percebidos pelos membros nativos, que confiam na continuidadeIc seu modo de vida costumeiro.

    2) O carter duvidoso da lealdade do estrangeiro infelizmentemais do que um simples preconceito por parte do grupo do qual elee aproxima. Isso particularmente verdadeiro nos casos em que oestrangeiro prova-se pouco disposto ou incapaz de substituir inte-gralmente seu antigo padro cultural por aquele do novo grupo.Nesse caso o estrangeiro continua a ser aquilo a que Park e Stone-quist corretamente chamaram de um "homem marginal" , um hbri-do cultural que mistura dois padres culturais diferentes, sem saberao certo a qual dos dois ele pertence. Mas frequentemente a dvidaquanto lealdade surge da perplexidade por parte dos membros dogrupo ao descobrir que o estrangeiro no aceita a totalidade de seupadro cultural como o modo de vida natural e mais apropriado ecomo a melhor dentre todas as solues possveis para qualquerproblema. O estrangeiro considerado ingrato porque ele se recusaa reconhecer que o padrO cultural que lhe oferecido lhe garanteabrigo e proteo. Contudo, essas pessoas no compreendem que oestrangeiro que est em fase de transio no considera esse padrocomo um abrigo protetor, mas como um labirinto no qual ele per-deu a percepo das coisas a seu redor.

    o significado objetivo do pertencimento ao grupoO significado objetivo do pertencimento ao grupo aquilo que

    o grupo possui quando aqueles que so de fora se referem a seusmembros como "eles". Nessa interpretao objetiva a noo de gru-po uma construo conceitual daquele que est de fora. A partir deseu sistema de tipificaes e relevncias ele subsume os indivduos

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  • L\ ...

    ~ A os sociais de otientaao

    ~,C\ ... *c \ntcf\lfctaao

    io, compreens-ncias passadasipectada a ele.

    mostrando certos traos e caractersticas particulares que aicomo uma categoria social homognea somente de seu prpr,to de vista.

    claro que possvel que a categoria social construda \],trangeiro corresponda realidade social, ou seja, que os prinque regem essa tipificao sejam considerados pelos indivdpificados como elementos de sua prpria situao, tal como d un-do por eles, sendo relevante de seu ponto de vista. Mesmo ass dal ,tO sobre o 11\ rteinterpretao do grupo por parte do estrangeiro nunca ir coin heci11\entO 50 conhecl11\en 1 A.11\aiorV

    a .5con el 11\eU 550'0.. 5Val ,plenamente com a autointerpretao do grupo. " onage11\ e narte o rincia Ve '005, 11\eU -O

    ,ln,,- C\Uenar 'a e){.Ve USa11\lb "Eu,naNo entanto, tambm possvel que pessoas que se considc -nasu11\aVe '-n"'anrVIl ."" nOr 11\e roteSSores. tni-, "'l"e.. 11\h'~'; '0.11\1'>'; U,SV ' ticas;

    diferentes entre si sejam colocadas pelo estrangeiro em uma me!' rioe11\e11\. el" chega reS ele 11\e c"racterlS "" nOe11\o b el l-Va "" t 550 ' as .. lece,,categoria social, sendo tratadas como se fossem uma unidade . l11\ente er eloS Vro e eio (istO e, elo