alienaÇÃo parental sob o Ângulo da psicologia … · 3.1 psicologia jurídica e seu surgimento...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VOZ DO MESTRE
ALIENAÇÃO PARENTAL
SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA JURIDICA
Pedro Alves de Mattos
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VOZ DO MESTRE
Pedro Alves de Mattos
ALIENAÇÃO PARENTAL
SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA JURIDICA
Rio de Janeiro
2010
Monograf ia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito para obtenção do grau do titulo de especialista. Orientador:
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Pedro Alves de Mattos
ALIENAÇÃO PARENTAL
SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA JURIDICA
Aprovada em: _________________________________
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Rio de Janeiro
2010
Monograf ia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito para obtenção do grau do titulo de especialista. Orientador:
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DEDICATÓRIA
Tenho a alegria de oferecer o presente trabalho a minha família, que
sempre apoiou e incentivou minha trajetória acadêmica.
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AGRADECIMENTOS
Sinto-me no dever de render agradecimentos a toda equipe de
professores pela competência e didática com que conduziram o nosso
curso de Pós-Graduação, em especial meu orientador.
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RESUMO
A presente monograf ia se dedica a analisar um tema muito freqüente nos debates relacionados com os problemas jurídicos, sociais e psicológicos das famílias contemporâneas. Trata-se da alienação parental, que ref lete conflitos entre cônjuges, em que uma das partes procura denegrir perante a criança a imagem do outro genitor. O estudo se inicia por uma breve revisão dos aspectos jurídicos e legais que envolvem o tema, concluindo com a apresentação da lei 12318/10 que procura normatizar a matéria. Em seguida, o trabalho se propõe a fazer algumas ref lexões sobre a consti tuição familiar na sociedade hodierna e os problemas da pós-modernidade que afetam intr insecamente as famílias. Em atenção à psicologia jurídica, o estudo historia a entrada dos prof issionais da psicologia como apoio indispensável às decisões do judiciário. Como contribuição específ ica, se propõe uma intervenção multidiscipl inar dos prof issionais na atuação sobre a al ienação parental de forma mais direta sobre a sociedade. Palavras chaves: Alienação Parental; Psicologia Jurídica; Família, Crianças.
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ABSTRACT
This monograph is devoted to analyse a very common theme in discussions related to the legal and social problems of contemporary families. It is the parental al ienation, that ref lects conflicts between spouses, in which a party seeks to ruin the other parent´s image for the child 's. The study begins with a brief review of legal and juridical aspects of the theme, concluding with the presentation of the Law 12318/10 which seeks to standardize the f ield. Then, the work makes some points about the composit ion of the family in society today and the problems of postmodernity that intr insically affect the families; attention to jur idical psychology, the study entry history of professional psychology as essential support to the juridical decisions. As specif ic contribut ion, we propose a multidiscipl inary approach of the professionals in action on parental alienation more directly on society. Key words: Parental Al ienation; Juridical Psychology; Family; Children.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO... .... ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........ ..8 CAPÍTULO 1 ALIENAÇÃO PARENTAL: ENFOQUE JURÍDICO......... .......9
1.1 Intervenção Legais nas Disputas pela Guarda dos Fi lhos..... ......... .....9
1.2 A Dissolução do Vinculo Conjugal e a Guarda dos Filhos.. . . . . . . . . . . . . . . .10
1.2.1 Direitos e Deveres dos Ex-Cônjugues.. ........ ......... .. ............ .11
1.3 O Insti tuto da Guarda Comparti lhada no Direito de Famíl ia...... ........12
1.3.1 A Guarda Comparti lhada no Direito Comparado.. ... ............ ...14
1.4. A Síndrome de Alienação Parental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
1.4.1 Comentários à Lei de Alienação Parental: 12.318/10............17
CAPÍTULO 2 AS CONSEQÜÊNCIAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL PARA A
FAMÍLIA..... ........ .. ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........ .21
2.1 Casamentos e Separações... ........ ............ ........ ........ ............ ........ .21
2.2 Os Filhos Têm Direitos a Pais Responsáveis..... .... .... ............ ........ .23
2.3 Alienação Parental como Gênese de Doenças e Crimes.......... ........ .28
CAPITÚLO 3 O PAPEL DO PSICÓLOGO JURÍDICO: CONFLITOS,
DIÁLOGOS E PROJETOS DE VIDA.... ............ ........ ........ ............ ........ .31
3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento........... . ........ ... ............ ........ ..31
3.2 O Moderno Prof issional da Psicologia Jurídica......... .. ............ ........ .34
3.3 Psicólogo Jurídico e os Operadores de Direito: Dif íci l Diálogo
Necessário....... ..... ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........36
CONCLUSÃO........ ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........ .43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.... ............ ........ ........ ............ ........ ..45
9
ANEXO......... ........ ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........46
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INTRODUÇÃO
Na Constituição Federal de 88 está consagrado um principio
expresso que dispõe:
“É dever da família, sociedade e do Estado assegurar À cr iança e ao adolescente o direito à vida, saúde, al imentação, educação lazer, cultura, dignidade, respeito, l iberdade (. .) além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência , discr iminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
Abordar como o judiciário brasi leiro tem agido para coibir questões
conflituosas na famíl ia, pelo fato do direito tr i lhar o caminho da evolução
social, continuamente, foi um dos objetivos do presente estudo
monográf ico.
Particularmente, é analisada a questão da alienação parental,
problema muito presente no centro dos debates atuais no Brasi l sobre a
vida familiar contemporânea. Tal temática envolve uma participação
multidiscipl inar entre operadores do direito, psicólogos e outros
prof issionais, de forma individualizada e em equipe.
A questão da al ienação parental i lustra como certos problemas
exigem maior part icipação das forças sociais e, talvez menor ingerência
da just iça, em seus aparatos habituais.
A lei 12.318/10, aqui analisada, veio a ser criada com a f inalidade de
contribuir para a normatização da al ienação parental e desta forma, foi
considerada como um grande avanço na proteção dos direitos das
crianças e dos pais vit imados, cujas disposições já eram trazidas no bojo
da doutrina e da jurisprudência há vários anos.
11
Justif ica-se a escolha da temática por sua importância intrínseca e
por interesse pessoal do psicólogo que atua na just iça e assina esta
monograf ia.
CAPÍTULO 1
ALIENAÇÃO PARENTAL: ENFOQUE JURÍDICO
1.1 Intervenção Legais nas Disputas pela Guarda dos Filhos
Na Constituição Federal de 88 está expresso:
“É dever da famíl ia, sociedade e do Estado assegurar À criança e ao adolescente o direito à vida, saúde, alimentação, educação lazer, cultura, dignidade, respeito, l iberdade (. .) além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência , discr iminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
A guarda dos menores vem sendo, no decorrer do tempo, regulada
através de várias legislações, de acordo com a evolução da sociedade e
em atendimento às suas necessidades. Devem ser observados os
interesses materiais, morais, emocionais e espir ituais dos f i lhos menores,
e as situações são sempre únicas, devendo o Juiz adotar a decisão que
melhor atenda a cada caso concreto (TEIXEIRA, 2009).
Existem, ainda, embora em raras situações, tribunais e Juízes
impregnados de preconceito, o que impede a atribuição da guarda ao pai.
Na real idade ainda persiste, mesmo nos dias atuais, a idéia de que a mãe
continua tendo aquele papel de mãe naturalmente boa, apegada aos
f i lhos, cuja dedicação integral e i l imitada aos mesmos é sua principal
função. Todavia, esse papel tradicional de mãe está completamente
ultrapassado.
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Assim, não se pode mais af irmar, como antigamente, que a mãe é
imprescindível na educação dos f i lhos enquanto o pai é totalmente
dispensável. Está comprovado que cabe a ambos os genitores a
responsabil idade pela criação e educação dos f i lhos, para o seu
desenvolvimento saudável e natural, uma vez que enquanto a mãe é
afetuosa e terna com os f i lhos, cabe ao pai dar-lhes l imites.
Tanto a doutrina como a jurisprudência recomenda, assim, o
afastamento dos f i lhos do conflito judicial de guarda. Caso seja a criança
ouvida, deve o Juiz deixar bem claro que a opinião manifestada é
importante, mas não decisiva. O Juiz pode e deve esclarecer ao menor
que a decisão f inal é da Justiça, evitando, assim, o surgimento de novos
problemas emocionais.
1.2 A Dissolução do Vinculo Conjugal e a Guarda dos Filhos
“Nas varas de família ouve-se o eco das apelações insat isfeitas, os desencontros amorosos causando a demanda de uma reparação esperando que a lei possa colocar-se na posição de regular o irregulável”.(Barros, 1997, p.40).
A regulamentação de visitas é um processo interposto pelo genitor
que não possui a guarda da criança para assegurar o seu efetivo
compromisso de visitar as crianças sob o crivo da decisão do juiz que lhe
dará a certeza de sua possibi l idade de visita pela sentença judicial
(BARROS, 1997).
Muitos ex-cônjuges tentam punir-se, mutuamente, por meio da
disputa dos f i lhos, uti l izando-os como instrumento de vazão as suas
dif iculdades ou até como “troféu” tendo em vista a derrota do outro
cônjuge (VAINER, 1999).
Houve um consenso com relação à necessidade dos Juízes de
atribuir a guarda das crianças ao genitor que reúna melhores condições
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para desempenhar o papel de guardião, sempre usando como critério o
melhor interesse dos f i lhos. Atualmente o Direito de Famíl ia, na questão
da guarda dos f i lhos, também se adaptou a uma nova realidade. A notória
preferência dada à mãe na hora da escolha do guardião acabou
provocando um distanciamento entre o pai e seus f i lhos.
Os processos que são interpostos nas varas de famíl ia são os que
correm em segredo de justiça no qual os atos não têm a publicidade
adequada para a preservação das partes, preservando o decoro e
promovendo o bom andamento da lide (SILVA, 2003).
Assim, para propiciar a reorganização das relações entre pais e
f i lhos no interior da famíl ia desfeita pela separação conjugal, foi
estabelecido um novo tipo de guarda, exercida de forma comparti lhada
entre o pai e a mãe, de modo a diminuir os traumas pelo distanciamento
de um dos genitores, normalmente o pai, visando, ainda, acabar com a
f igura do pai periférico ou quinzenal.
1.2.1 Direitos e Deveres dos Ex-Cônjugues
O dever jurídico dos pais é indisponível e irrenunciável. O art igo 229
da CRFB/88 diz que os pais têm o dever de assist ir, cr iar e educar os
f i lhos menores de cuja orientação não afastam os art igos 21 e 22 do
ECA.(APASE, 2005)
Uma das missões dos cônjuges é o dever de sustento.guarda e
educação dos f i lhos, relat ivamente aos f i lhos comuns. O sustento
relaciona-se ao aspecto material, isto é, as despesas com a sobrevivência
adequada e compatível com os rendimentos dos pais, e ainda com saúde,
esporte, lazer, cultura e educação dos f i lhos.A guarda é o direito-dever de
convivência e manutenção do f i lho, com oposição a terceiros, inerentes à
condição de pai ou de mãe.
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Segundo o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu
artigo 33, a guarda obriga à prestação da assistência material, moral e
educacional à criança ou adolescente. Prevê a Constituição Federal que a
educação tem como f inalidade desenvolver a criança a f im de que haja
seu preparo para a cidadania e tenha igualdade de condições necessárias
para se estabelecer com dignidade na vida e no mercado de trabalho, de
onde vai garantir a sua sobrevivência.
A Constituição Federal atual, humanista como é privilegiando mais o
alcance dos seus princípios do que das normas propriamente ditas ao
conferir atenção especial à igualdade dos cônjuges na chefia da
sociedade conjugal e, sobretudo, ao discipl inar sobre a igualdade entre
f i lhos, permitiu maior intervenção posit iva do Estado.
1. O princípio da não discriminação contra os f i lhos nascidos fora do
casamento, ou seja, da igualdade de todos os f i lhos;
2. O princípio da igualdade de direitos e deveres dos cônjuges
1.3 O Instituto da Guarda Compartilhada no Direito de Família
A real idade das Varas de Famíl ia por todo o país mostra que, em
vez de poupados da discórdia dos conflitos adultos, as crianças são
trazidas muitas vezes para o centro do problema, tornando-se até mesmo
protagonistas da separação. As disputas de guarda trazem uma dimensão
jurídica e burocrática ao f im do casamento, esgotando física e
psicologicamente os envolvidos no conflito.
Um caso de alienação parental pode causar patologias como
hipocondria, angústia, insônia, anorexia, estados depressivos e
psicossomáticos, entre outros distúrbios f ísicos, psíquicos e relacionais.
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Cabe aos membros do Ministério Público zelar pelo interesse da
criança em primeiro lugar, sendo essa à parte considerada mais indefesa
da família.
Portanto, não só aos pais cabe promover um ambiente sadio para
seus f i lhos; a Just iça também deve tomar ciência da gravidade que tal
situação pode provocar, fazendo-se presente com o devido respaldo
jurídico que protegerá os mais fragil izados.
Antônio César Peluso, ministro do Supremo Tribunal Federal, em
publicação constante da Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça
de São Paulo, v. 80, p. 16, explana sobre uma série de situações
englobadas na guarda dos f i lhos. Ensina-nos, então:
“Ora, a guarda, enquanto manifestação operat iva do pátr io poder compreende, em princípio, a convivência no mesmo local, desdobrando-se nas faculdades de autor ização para sair de casa, de se comunicar com o menor e sua regulamentação (direto de visitas), de vigi lância, o qual, em tema de responsabi l idade civi l , tem sér ias impl icações, consist indo na necessidade de evitar que os f i lhos estejam sujeitos a per igo de ordem pessoal e que ofereçam perigo a terceiros (. . .) . Abrange ainda acesso a leituras, espetáculos, companhias etc., de correção moderada, educação, formação f ísica e mental, espir itual, segundo as aptidões e capacidades, de exigência de respeito, obediência e até prestação de serviços apropr iados à idade, e dever de assistência material e moral”.
O novo Código Civil atento a mudanças aboliu pelo art. 1.583, o
critério da culpa pela separação, que impedia o genitor que deu causa ao
rompimento de f icar com a guarda dos f i lhos menores.À guarda foram
destinados, no Código Civi l vigente, os art igos 1.583 a 1.590. Os art igos
1.583 e 1.584 sofreram nova alteração e com o advento dessa nova Lei,
em nosso ordenamento jurídico passou a constar, além da guarda
unilateral, a guarda comparti lhada, que poderá ser requerida por
16
consenso entre os pais ou decretada pelo Juiz quando verif icada a
necessidade ou a possibi l idade da sua aplicação, visando sempre o
melhor interesse do f i lho menor.
A guarda unilateral não mantinha os laços afetivos entre pais e
f i lhos de forma satisfatória, causando evidente prejuízo pelo afastamento
das crianças de um dos seus genitores.
A guarda compart i lhada surge, tanto na legislação brasi leira quanto
na legislação de outros países. Esse modelo que surgiu recentemente no
nosso ordenamento jurídico possui nuances peculiares, advindas da
evolução social e dos novos costumes familiares visa, primordialmente, o
benefício dos menores, e a adoção desse modelo de guarda assegura que
a autoridade parental seja exercida nas mesmas condições existentes
durante a convivência.
É importante ressaltar que a guarda comparti lhada independe da
existência de bom relacionamento entre os ex-cônjuges. O pai e a mãe se
separam um do outro, mas nunca dos f i lhos, e essa modalidade de guarda
propõe exatamente a efetivação dessa situação, numa divisão mais
equil ibrada do tempo que cada genitor passa com o f i lho, garantindo,
ainda, a part icipação de ambos na educação e criação da prole comum.
1.3.1 A Guarda Compartilhada no Direito Comparado
Embora cada País tenha sua estrutura familiar própria é importante
discorrer sobre a aplicação do inst ituto da guarda comparti lhada fora do
Brasil, considerando, inclusive, que por estarmos na era da globalização,
todo modelo bem sucedido em outras culturas deve ser seguido.
A noção de guarda conjunta surgiu na Inglaterra e se estendeu à
França e ao Canadá, espalhando-se depois, por toda a América do Norte.
Na França surgiu a primeira lei sobre guarda comparti lhada, que foi
17
denominada Lei Malhuret, nome do então Secretário de Estado dos
Direitos Humanos, editada em 22 de julho de 1987, sob o número
87.570/87, que apenas confirmou uma tendência, já que o assunto
formava jurisprudência desde 1976.
Assim, na França adotam-se os dois modelos de guarda, a uni lateral
e a compart i lhada. Em Portugal a guarda compart i lhada foi admit ida pelos
tribunais mesmo antes da elaboração de legislação pertinente. Com a
legalização da guarda compart i lhada, denominada guarda conjunta
naquele País, no ano de 1999, f icou estabelecido que os pais devessem
decidir em conjunto as questões relativas à vida dos f i lhos, dando-se
prioridade ao novo modelo.
Na Alemanha, como regra geral, os pais, ao se divorciarem, decidem
pela divisão da guarda dos f i lhos menores, e na Argentina foi adotada,
pela legislação, como regra básica, o exercício da guarda de forma
conjunta.
No Canadá a Lei do Divórcio estabelece que o tr ibunal deva garantir
à criança o contato constante com seus genitores, na medida dos seus
interesses, razão pela qual os pais são orientados pela autoridade
judiciária à implantação da guarda comparti lhada, caso não seja
requerida, desde logo. A l imitação da aplicação da guarda compart i lhada
ocorre apenas quando é requerido por ambos os genitores.
Nos Estados Unidos o direito desenvolveu essa nova modalidade de
guarda em larga escala. A maioria dos Estados Americanos adota a
guarda compart i lhada como um dos modelos de custódia. Em outros,
como na Califórnia e no Colorado, a legislação prioriza a guarda
comparti lhada, tanto que estatist icamente, a divisão da guarda é adotada
em 80% e em 95% dos casos, respectivamente.
1.4. A Síndrome de Alienação Parental
18
Conceitua-se como alienação parental na lei como “a interferência
na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança
ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigi lância para que
repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este”.
A chamada Síndrome de Alienação Parental (abreviada como SAP) é
um termo designado por Richard A. Gardner , nos anos 80, para se referir
ao que ele descreve como um distúrbio no qual uma criança, deprecia e
insulta um dos pais sem qualquer justif icativa, devido a uma combinação
de fatores, inclui a doutrinação pelo outro progenitor, as tentativas da
própria criança denegrir um dos pais (WIKIPÉDIA, 2010).
Normalmente a Síndrome de al ienação parental acontece nos casos
em que a separação judicial ou divórcio foi marcado pela situação de
lit ígio, ou mesmo nos casos em que um dos cônjuges deseja estabelecer
vingança com o outro, e quando este não obtém êxito esperado no retorno
da relação f ica frustrado e gera na pessoa uma tendência a se vingar.
(Teixeira, 2009).
Desencadeia assim a destruição e desmoralização do outro cônjuge,
normalmente uti l izando o f i lho como instrumento desta vingança para
agredir e ofender ao ex-cônjuge de uma forma contundente, o que é ainda
mais exarcebado quando esse outro além de ter superado o luto da
separação ainda já começou a se relacionar com outra pessoa, o que vêm
a fomentar a raiva muito mais forte do ex-cônjuge. (Idem, 2009).
Os casos mais freqüentes da Síndrome da Alienação Parental estão
associados a situações onde a ruptura da vida conjugal gera, em um dos
genitores, uma tendência vingativa muito grande que existe quando não
se consegue elaborar adequadamente o luto da separação, e da perda e
desencadeia um processo de destruição, vingança, desmoralização e
19
descrédito do ex-cônjuge. Neste processo vingativo, o f i lho é ut i l izado
como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro. (DIAS, 2009).
1.4.1 Comentários à Lei de Alienação Parental: 12.318/10
A lei de alienação parental é a 12.318, promulgada em agosto de
2010 dispõe sobre a alienação parental alterando o art. 236 da Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990, com conseqüências processuais e,
materiais, notadamente no tocante à guarda.
Em seu art. 2 º está elencado expressamente que se considera ato
de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança
ou do adolescente induzida por um dos genitores, ou até mesmo por seus
familiares seja pelos avôs, avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigi lância para que repudie
genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este, abrangendo assim um conceito bastante elástico desta
prática.
O inciso I do parágrafo único do Art. 2° considera ato de alienação
parental a realização de campanha de desqualif icação da conduta do
genitor no exercício da paternidade ou maternidade. Bastante próximos
são os incisos II, III e IV, também do Art. 2° da Lei 12.318/10, que
qualif icam a conduta de se dif icultar o exercício da autoridade parental. O
inciso V prevê na conduta da omissão de informações pessoais relevantes
sobre a criança ou adolescente, já o inciso VI trata da denunciação
caluniosa e o VII prevê como ato de alienação parental a mudança de
domicíl io para local distante, sem justif icat iva, visando a dif icultar a
convivência da criança.
O art. 3º da lei 12318/10 que a alienação parental atenta contra o
direito fundamental à convivência familiar saudável, não apenas com o
genitor, mas também com o grupo familiar. Neste está disposto também
20
às conseqüências da adoção da tese da legit imidade dos avós e familiares
na interpretação do preceito a quem beneficiarão as cautelares e o regime
de convivência mínima que se possa estabelecer, a menos que com a lei
12.010/09, popularmente conhecida como Lei Nacional da Adoção, veio
corroborar com essa convivência famil iar, e só havendo um laudo que se
ateste a sua nocividade na f igura de quaisquer destes, que tal será
evitada ou suprimida.
A Lei 12.010/09, por exemplo, inseriu no Estatuto da Criança e do
Adolescente, a instituição da famíl ia extensa ou ampliada, formada para
além da unidade: pais e f i lhos, englobando parentes próximos com os
quais a criança e os adolescentes tenham vínculo de af inidade e
afetividade.
O caput do artigo 4º autoriza o magistrado a conhecer de ofício a
existência de quaisquer atos de al ienação parental e realizar adoção de
providencias e com esse objetivo o artigo 4º, expressamente, af irma que
haja a prioridade na tramitação processual e a garantia de convivência
mínima entre crianças e adolescentes e os genitores.
Verif icada a existência dos indícios de autoria e materialidade a que
se refere o art. 4º, para evitar ou adiar a produção de efeitos do ato
i l ícito, determinando o juiz a tramitação priori tár ia do feito. A f im de
assegurá-la, expressamente é conveniente realizar a aplicação por
analogia do §1º do art. 1211-B do CPC, com a redação dada pela lei
12008/2009.
Poderá o magistrado determinar a ampliação do regime de
convivência famil iar também em favor dos avós, se adotado pelo apl icador
o entendimento de que podem ser vít imas de atos de al ienação parental e
legit imados a propor ação a esse respeito.
21
Superada a situação de urgência, o juiz, se necessário, determinará
perícia psicológica, conforme disposição do artigo 5° da lei de alienação
parental.
Conforme o Art. 6° da Lei 12.318/10, munido do laudo psicológico ou
biopsicossocial, o juiz irá se pronunciar a respeito da configuração ou não
do ato de alienação parental. Estabelece o art. 7º que, na impossibil idade
de adoção da guarda comparti lhada, será ela atribuída preferencialmente
ao genitor que melhor viabi l izar a convivência do menor com o outro (é
dizer, o que propicie as condições que mais se aproximem das
observadas na guarda comparti lhada). Vale, uma vez mais, o que já se
assentou múlt iplas vezes a respeito da aplicação do disposit ivo aos “avôs”
e familiares.
A lei demonstra que a perícia é fundamental nos casos em que a
própria observação fática não for ef icientemente conclusiva e reitera que
a multidiscipl inaridade nestes casos é fundamental.
Isso acontece já que a intervenção interdiscipl inar entre a psicologia
e o direito é cada vez mais forte viabil izando perspect ivas de integração
onde as responsabil idades de cada área devem ser trabalhadas e a
multidiscipl inaridade favoreça os processos de anál ise, principalmente
nos casos de alienação parental (JESUS, 2001).
O trabalho do psicólogo na área jurídica está sendo visto pela
maioria da população como, predominantemente, individual e diagnóstico
(DIAS, 2010).
Segundo a lei de al ienação quando identif icado qualquer ato ou
indício de material idade ou de autoria de al ienação parental, o processo
terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, depois de
ouvido o Ministério Público, como f iscal da lei, as medidas provisórias
necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente, inclusive para lhe assegurar sua convivência com genitor ou
22
viabi l izar a efetiva reaproximação entre ambos, conforme o caso e desde
que tal convivência não se traduza em verdadeiro risco à integridade
física ou psicológica da criança ou adolescente (ZIMERMAN, 2010).
Nesses casos a lei também expressamente declara o papel da
perícia a ser realizado por prof issional ou equipe multidiscipl inar
competente, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes,
exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e
da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos
envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta
acerca de eventual acusação contra genitor (IDEM, 2010).
A Lei 12.318/10, por meio de seu Art. 8°, bem determina que a
alteração de domicíl io da criança ou adolescente é irrelevante para a
determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito
de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso ou de decisão
judicial.
No Direito de Família não existe a f igura de indenização por isso o
inciso III tem sido amplamente questionado e considerado controverso,
pois Amor não se paga e muito menos convivência e essa é retórica dos
defensores da tese de não ressarcibi l idade dos danos morais e de
indenizações pagas.
23
CAPÍTULO 2
AS CONSEQÜÊNCIAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL
PARA A FAMÍLIA
2.1 Casamentos e Separações
O crescente número de divórcios ocorridos em terr itório brasi leiro
indica a relevância dos estudos a respeito da alienação parental e suas
conseqüências para a família. Sabemos que, a part ir do século XX e, mais
acentuadamente, agora no século XXI, as configurações de família vêm
mudando consideravelmente, abrindo espaço para novos paradigmas de
relacionamentos que antes eram considerados proscritos ou inaceitáveis.
A inserção da mulher do mercado de trabalho, ocorrida desde o
século XIX na Europa e consolidada principalmente após a Segunda
Guerra Mundial, teve como conseqüência a emancipação f inanceira da
f igura feminina, que começou a lutar, também, pela independência social.
Mães que trabalham fora, pais desconhecidos, divórcio, novas famíl ias –
tudo isso passou a ser comum para alguém nascido nas últ imas décadas.
A dessacral ização do casamento, endossada no Brasi l pela Lei do
Divórcio e pela Constituição Federal de 1988, mostrou ser possível, do
ponto de vista jurídico, constituir uma família sem que para isso fosse
preciso passar pelo viés do casamento. A sociedade pretendia-se l ivre e
ansiava por estabelecer vínculos afetivos também f lexíveis. Segundo
Raquel Pacheco Ribeiro e Souza, a sociedade, hoje em dia,
24
[ . . . ] f inca-se em princípios dist intos daqueles sobre os quais repousou em tempos idos, não mais se estabelecendo por questões polít icas, econômicas ou rel ig iosas. A "famíl ia rejuvenescida" revela-se locus de amparo e sol idariedade, onde seus membros se funcional izam uns em relação aos outros, comprometendo-se mutuamente com a formação e com o desenvolvimento sadio de suas personal idades e com o respeito à dignidade de cada um de seus integrantes. (p. 2)
Sabemos que a famíl ia é considerada uma inst ituição sagrada por
quase todas as religiões. O número crescente de divórcios e conflitos
familiares mostra, porém, que tal idéia é, muitas vezes, considerada
ultrapassada e mesmo romântica, não sendo compatível com a real idade
pós-moderna.
A justiça brasi leira é, hoje em dia, testemunha de numerosos casos
de desajuste famil iar que envolvem, inúmeras vezes, os f i lhos de um
casal em pé de guerra. Nem mesmo eles têm força suf iciente para evitar
que o confl ito famil iar se instale e se propague.
Estabelecer leis que protejam os envolvidos no conflito familiar é um
exercício bastante complexo. A discórdia entre um casal pode fazer vir à
tona sentimentos mesquinhos por parte de um dos cônjuges (na maioria
das vezes a mãe), os quais se desdobram em atitudes insensíveis e
impensada, prejudiciais a todos os envolvidos. A tr iste realidade é que a
ruptura de um matrimônio pode, em muitos casos, trazer conseqüências
drást icas, não só para o casal l it igante, mas também para seus f i lhos.
Segundo Leila Maria Torraca de Brito,
[ . . . ] os embates com os ex-cônjuges permanecem por longo período, com repercussão na convivência com a prole. [ . . . ] Pais e mães mostram-se desorientados em relação ao desempenho dos papéis parentais após a separação, com dúvidas a respeito de como l idar com os f i lhos. (p. 25)
25
A dor que o f im do matrimônio provoca pode levar às últ imas
conseqüências: a separação de um casal signif icará, até mesmo, a
separação e destruição de toda uma famíl ia. Se o papel principal dos
pais é proteger seus f i lhos do sofrimento, a inversão de valores que a
situação pode af lorar faz com que as crianças e os jovens sejam vít imas
dos genitores alienadores. São os que passam a controlar – e prejudicar –
a vida seus f i lhos, em uma tentativa desesperada de atingir o genitor
alienado.
Segundo Andréia Calçada, em trabalho publicado no l ivro Guarda
comparti lhada organizado por Rodrigo C. Pereira em 2005: aspectos
psicológicos e jurídicos, organizado pela Associação de Pais e Mães
Separados, a APASE, o genitor al ienador é visto
[ . . . ] como produto de um sistema i lusório, onde todo o seu ser se orienta para a destruição da relação dos f i lhos com o outro genitor. [ . . . ] é, às vezes, sociopata e sem consciência moral. É incapaz de ver a situação de outro ângulo que não o seu, especif icamente sob o ângulo dos f i lhos. Não dist ingue a diferença entre dizer a verdade e mentir . (p. 139)
Genitor al ienador e genitor alienado sempre são responsáveis pelo
nascimento da criança e pela construção de sua personalidade antes de
tudo são pais e a criança espera que como tais eles se comportam.
2.2 Os Filhos Têm Direitos a Pais Responsáveis
O papel dos pais, no caso de uma separação, é arcar com as
conseqüências psicológicas que o fato provocará em seus f i lhos, da
maneira mais prudente possível. É evidente que a separação consiste em
uma experiência dif íci l para os f i lhos, o que não quer dizer que tenha ela
que ser necessariamente dramática. Os pais devem proporcionar aos
26
f i lhos um ambiente psicológico saudável e amistoso, que assegure a
proteção do f i lho como prioridade de ambas as partes.
Mesmo em um caso de separação amigável, é comum que a criança
não se sinta mais amada ou se sinta rejeitada e culpada pela separação
dos pais. Cabe aos genitores reconfigurar o novo lar e mostrar aos f i lhos
que o processo não deve ser, necessariamente, traumático ou
desgastante.
No caso da alienação parental, a criança perde sua confiança no
núcleo familiar e se sentem sozinhos para enfrentar um conflito do qual
não têm culpa. O genitor al ienador, muita vezes, prioriza seu ódio ao ex-
cônjuge e se afasta afetivamente do próprio f i lho, usando-o como simples
“estratégia de guerra”. A separação não deve ser vista necessariamente
como um processo que traz como conseqüência f i lhos desajustados,
assim como nem todos os jovens desajustados são f i lhos de casais
separados; a saúde psicológica de uma criança depende de fatores que
vão muito mais além do f ísico.
O que pode causar morbidez psicológica por parte da criança ou
adolescente é justamente o conflito, o estado de tensão que uma
separação mal resolvida pode gerar, principalmente se for acompanhada
de um processo de divórcio que demanda tratamento jurídico. A discórdia
familiar torna-se, então, pública e of icial, envolvendo aspectos que muitas
vezes afetam inclusive o lado f inanceiro de ambos os genitores. O grande
estrago está na instabil idade causada pela separação, na insegurança
que ela pode causar, nas incertezas que provoca na mente do f i lho, até
então acostumado a um referente famil iar que já não existe.
Sabe-se que a chave para um bom desenvolvimento psíquico dos
jovens é que eles cresçam em um ambiente estável, l ivre de conflitos
parentais, capazes de se sentirem seguros mesmo após a mudança
brusca de referencial familiar.
27
É extremamente importante, e também prevista por le i, a garantia de
que os f i lhos terão convivência com ambos os genitores depois do
desenlace. Em casos extremos, porém, essa garantia pode ser revogada e
a criança afastada do convívio de uma das partes do antigo casal. Em
todo caso, a harmonia dessa convivência triangular é de crucial
importância para a formação sadia da personalidade dos
f i lhos. É dessa maneira que os f i lhos — e também seus genitores —
colocam-se em posição de reconhecimento da alteridade, respeitando
todos os envolvidos na separação e colocando o bem da criança como
principal prioridade.
Segundo Raquel Pacheco Ribeiro e Souza,
“afastada de um dos pais, a cr iança f ica confusa porque “seu ser ínt imo, o sujeito tal como formado por aqueles dois seres estruturantes, f ica abalado". Não convivendo com o outro genitor (na maior ia das vezes, o pai), os f i lhos acabam por perder o valor s imból ico da imagem paterna, tão relevante para a estruturação psíquica do sujeito (p. 07)”.
É comum detectar-se um alto número de doenças psicossomáticas
tais como perturbações de ansiedade, depressões, estresse síndrome do
pânico nas crianças que convivem com casais em pé de guerra. E esses
problemas são, na maioria das vezes, arrastados pela criança por toda a
sua vida. É comum elas se tornarem adultos com problemas psicológicos
em geral e relacionais, especif icamente.
A real idade das Varas de Família por todo o país mostra que, em
vez de poupados da discórdia dos conflitos adultos, as crianças são
trazidas muitas vezes para o centro do problema, tornando-se até mesmo
protagonistas da separação. As disputas de guarda trazem uma dimensão
28
jurídica e burocrática ao f im do casamento, esgotando física e
psicologicamente os envolvidos no conflito.
O impacto que tais experiências podem provocar na formação da
personalidade das crianças envolvidas é tremendo. Um caso de alienação
parental pode causar patologias como hipocondria, angústia, insônia,
anorexia, estados depressivos e psicossomáticos, entre outros distúrbios
f ísicos, psíquicos e relacionais. Até mesmo os prof issionais que trabalham
com as separações l it igiosas precisam tomar os devidos cuidados em
relação às suas atribuições, pois estão afetando diretamente, e mais do
que ninguém, os f i lhos que sofrem com a separação dos pais.
Cabe aos membros do Ministério Público zelar pelo interesse da
criança em primeiro lugar, sendo essa a parte considerada mais indefesa
da famíl ia. A atitude intervencionista do Estado será necessária todas as
vezes que, agindo por um impulso de vingança ou de ódio e aversão, os
pais passam a agir não mais dentro de seus papéis de pai e mãe, mas
como homem e mulher lutando em um verdadeiro campo de batalha.
Portanto, não só aos pais cabe promover um ambiente sadio para
seus f i lhos; a Just iça também deve tomar ciência da gravidade que tal
situação pode provocar, fazendo-se presente com o devido respaldo
jurídico que protegerá os mais fragil izados.
É muito comum que, nos casos de alienação parental, a falta de
convívio com o outro genitor articule uma espécie de “pacto de lealdade”
(RIBEIRO E SOUZA, p. 13) que rechaça a terceira parte e alimenta uma
relação quase doentia entre os conviventes. Até mesmo o relacionamento
com os não famil iares é afetado por esse círculo fechado que exclui, na
maioria das vezes, a f igura paterna do convívio familiar.
Assim, amor – ódio e abandono tomam proporções extremas e às
vezes perigosa, e os desdobramentos e danos do desenlace conjugal
podem ser irreparáveis.
29
Evandro Luiz Silva, em colaborador do livro Guarda compart i lhada
(2005), reproduz a fala de uma criança que convivia com pais em pé de
guerra:
Psicólogo : - “E por que você não quer morar com ele (seu pai)?”
Paciente : - “Porque minha mãe diz que ele mente... que ele não gosta de
mim”.
Psicólogo : -“ Por que você não falou para a Assistente Social que queria
morar com seu pai e com sua mãe?”
Paciente : - “Porque a mamãe fica brava comigo.. . porque o papai iria f icar
bravo comigo... a Assistente falou que ter duas casas faz mal”.
Nesse trecho da entrevista, pode-se constatar o mal causado na
criança pelos apelos afetivos de um dos genitores, nesse caso a mãe, que
tomava como pessoal o fato de a criança gostar do próprio pai. Estamos
diante de um caso de relacionamento neurótico, do qual os envolvidos
podem passar o resto de suas vidas tentando se livrar, ou mesmo
repetindo com novos cônjuges (no caso dos adultos que cresceram em um
lar desajustado).
[ . . . ] nada é mais terrível para os f i lhos do que uma mãe que possa dizer- lhes: "Sacrif iquei tudo por vocês", ou seja, uma mãe que tenha vivido como uma falsa viúva ou uma falsa solteirona a pretexto de estar encarregada dos f i lhos. Vemos as repercussões disso a longo prazo, não apenas nos f i lhos, porém, mais tarde, na família dos netos. (DOLTO, 1989)
O psiquiatra Richard Gardner escreveu a obra A Síndrome de
Alienação Parental , def inindo essa enfermidade como um distúrbio que
surge, principalmente no contexto das disputas pela guarda e custódia
30
das crianças. Há uma verdadeira lavagem cerebral por parte de um dos
progenitores contra o outro progenitor, deixando a criança em uma
posição delicada e comprometedora na medida em que ela se sente
“cúmplice” desse ódio ao pai ou à mãe.
2.3 Alienação Parental como Gênese de Doenças e Crimes
Tornou-se comum, hoje em dia, falsas denúncias de abuso sexual
como forma de se prat icar a al ienação parental; o impacto que essa
denúncia provoca, na famíl ia menos próxima e no convívio social e
prof issional do acusado, porém, pode ser irrevogável. O f i lho é,
imediatamente, afastado do não-guardião e o acusado perde a
credibil idade até como pessoa. Apesar de não deixar marcas no corpo,
dif icultando o processo de apuro da verdade, a síndrome de alienação
parental deixa marcas psicológicas profundas e na maioria das vezes
indeléveis. Af inal de contas, tão traumático quanto ter um pai ou uma mãe
abusador é ter um pai ou uma mãe capazes de inventar uma mentira tão
grave só para afastar o f i lho da convivência do outro genitor. Nos dois
casos, a criança dif icilmente voltará a confiar no genitor convivente com a
mesma confiança.
A síndrome de alienação parental pode ser vista como um
acontecimento de enorme complexidade. Primeiro porque o abuso
emocional cometido não estabelece uma marca visível, visto que este t ipo
de violência não deixa marcas no corpo, o que complica ainda mais a
prova material desta violência, favorecendo desta forma, o genitor de
traços alienador. Segundo defende José Manuel Aguilar, psicólogo
forense, quando acontecer de indícios da síndrome serem detectados, o
que se deve fazer nestes casos, é compreender que
31
[ . . . ] a estratégia de el iminar qualquer contacto entre o progenitor al ienado e o f i lho é a pior decisão que pode ser adoptada, pr incipalmente porque quando um sujeito perde o contato com o pai, f ica em completa disposição de corromper a verdade, ao desaparecer a prova da real idade que o contacto provoca. (2008, p 94)
Os f i lhos envolvidos podem ser poupados mantendo dessa forma
visitas que podem ser restr itas, desde que acompanhas por um psicólogo
judicial. A criança ou o adolescente, poderá a vir manter contato com o
genitor, visando dessa forma dar a ver ao primeiro e poder perceber e
entender a inf luencia negativa sobre o seu outro genitor não corresponde
a verdade. Dessa forma os prof issionais envolvidos de forma jurídica
poderão assim, considerar se cabe ao guardião a custódia do f i lho,
podendo até mesmo alterar a guarda a favor do outro genitor.
É possível avaliar a capacidade daquele que busca a guarda do f i lho
quando o avaliador leva em consideração o respeito das relações afetivas
estabelecidas entre a criança e ambos os pais. Terá vantagem aquele que
apresentar uma ref lexão clara sobre o convívio do f i lho com o outro
genitor, podendo obter dessa forma a guarda do f i lho.
Para a criança, a experiência poderá ser menos traumática,
dependendo dos vínculos estabelecidos com ambos os genitores, onde se
dist ingue a forma de afetividade, as práticas sociais feitas com ambos os
genitores, além do universo material proporcionado por eles.
Os valores estabelecidos poderão servir de base para estruturar
pós-separação. No entanto, muitas vezes assistimos aos pais em
condições precárias na observância destes mesmos valores mencionados
acima, principalmente por conta da desintegração interior sofr ida por
ambos, sendo dessa forma estabelecida à guarda dos menores a
terceiros.
32
O desamparo das crianças pode e deve merecer a atenção de um
grupo de prof issionais, tais como: juízes, promotores de justiça,
advogados, psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras, para que, dessa
forma, possam ajudar a manter, ou quem sabe conseguir reconstruir a
dignidade da criança ou do adolescente envolvidos em agressões
emocionais pelos próprios pais.
No próximo capítulo será analisada a resposta da sociedade diante
dos problemas provocados pela alienação parental. Através das
providencias presididas pelos representantes da just iça as equipes
especialistas intervém nas famíl ias que vivenciam tais problemas. Será
visto como tentam minorar os efeitos da alienação parentais que incidem
sobre as crianças e adolescentes. Em particular será analisado o papel
importante da psicologia jurídica nesse processo.
33
CAPITÚLO 3
O PAPEL DO PSICÓLOGO JURÍDICO:
CONFLITOS, DIÁLOGOS E PROJETOS DE VIDA
3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento
Este capítulo procura trazer informações sobre essa nova área de
atuação do Psicólogo que é a Psicologia Jurídica, uma área ainda pouco
conhecida, porém de extrema importância para a atuação dos
prof issionais tanto da área do Direito, quanto da Psicologia. A elaboração
deste surge da vontade de comparti lhar os estudos e discussão sobre o
referencial teórico, e contribuir com o debate hodierno sobre as
atribuições dos psicólogos no contexto jurídico, bem como sua art iculação
com demais instâncias envolvidas.
A Psicologia Jurídica surge como uma área de especial idade da
ciência psicológica, relat ivamente recente, em comparação às áreas
tradicionais de formação e atuação da Psicologia como a Escolar, a
Organizacional e a Clínica. É comum e necessário que esta especial idade
tenha uma clara interface com o Direito, e com suas várias correlações
no mundo jurídico, mas de acordo com BRITO (2008, p 114) o psicólogo
em sua prática não deve se limitar às demandas das inst i tuições jurídicas,
ou das partes l it igantes, pois independente da área em que trabalhe, o
prof issional deverá agir com plena clareza dos l imites e dos alcances de
suas atividades. Ele ressalta que se deve priorizar o respeito à cidadania
e a diferenças da pessoa atendida, assim como manter o compromisso
f irme com a ética prof issional.
Segundo BRITO (1993), em sua pesquisa junto a magistrados,
af irma que vários deles reconhecem que surgem problemas que fogem á
área jurídica, tratando-se de questões emocionais sérias, às quais, não
tendo sido resolvidos antes pela partes envolvidas, contribuíam para que
34
estes processos voltassem para os juizes, atrapalhando o andamento dos
trabalhos (p 94). Somado a isso, BARROS (1999) ressalta que há
demandas no campo jurídico que por vezes envolvem fantasias e
frustrações que este não pode regular... desta forma o atendimento
psicológico contribui para que o cl iente possa esclarecer sua demanda e
que questões alheias a este campo possam ter outro endereçamento
(p.440).
Assim, pode af irmar que :
“A função do prof issional psi consiste em interpretar a comunicação inconsciente que ocorre na dinâmica famil iar e pessoal [ . . . ] Seu objet ivo é destacar e anal isar os aspectos psicológicos das pessoas envolvidas, que digam respeito a questões afet ivo-comportamentais da dinâmica famil iar, ocultas por trás das relações processuais, e que garantam os direitos e o bem-estar da cr iança e/ou adolescente, a f im de auxil iar o ju iz na tomada de uma decisão que melhor atenda às necessidades dessas pessoas. (SILVA, 2003, p.39)”.
No que tange à Psicologia Jurídica seu surgimento é bastante
recente, e segundo BRITO (1993), a primeira aproximação da Psicologia
com o Direito aconteceu lá no f inal do século XIX, proporcionando algo
que se deu se o nome de “psicologia do testemunho”. Nas palavras de
(ALTOÉ, 2003) tal prática “t inha como objetivo verif icar, através do estudo
experimental dos processos psicológicos, a f idedignidade do relato do
sujeito envolvido em um processo jurídico.”Pretendia-se com isso, conferir
se tais processos corroboravam com a veracidade dos fatos ou pelo
contrário, dif icultavam.
35
Ela segue informando que:
Sobretudo através da aplicação de testes, buscava-se a compreensão dos comportamentos passíveis de ação jur ídica. Esta fase inic ial foi muito inf luenciada pelo ideário posit ivista, importante nesta época, que privi legiava o método cient íf ico empregado pelas ciências naturais (Jacó-Vi lela, 1999; Foucault , 1996). Mira y Lopes, defensor da cient if ic idade da psicologia na apl icação de seu saber e de seus instrumentos junto às inst itu ições jur ídicas, escreveu o “Manual de Psicologia Jurídica” (1945), que teve grande repercussão no ensino e na prát ica prof issional do psicólogo, até recentemente.
Tais práticas levavam o prof issional a atuar fazendo testes,
elaborando laudos, perícias criminais, e pareceres psicológicos, a partir
de entrevistas e testes realizados, em sua maioria em penitenciárias e
hospitais psiquiátricos penais, para garantir soltura condicional,
comutação de pena, isto, é mecanismos para avaliar se o detento poderia
ser ressocializado ou não Rauter (1994) apud Sônia Altoé, (2003). Mas o
autor ressalta que tais exames e laudos respingavam preconceitos sociais
e julgamentos de valores da época, com pouca isenção ou distanciamento
em relação a uma pessoa sofrendo de medidas punit ivas.
A autora segue citando o jurista, Verani, que para ele:
“aqueles instrumentos oferecidos pela psicologia t inham um uso que favorecia a ef icácia do controle social e reforçava a natureza repressora que está inser ida no direito, ao invés de garantir as l iberdades e os direitos fundamentais dos indivíduos (Verani, 1994, p 14).”
36
Por f im ela lembra que foi a Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), no ano de 1980, que criando, pela primeira vez no Rio
de Janeiro, uma área de concentração, dentro do curso de especialização
em psicologia clínica, denominada “Psicodiagnóstico para Fins Jurídicos”
(Brito, 1999), vem preencher uma lacuna nessa relação, para suprir os
prof issionais de ferramentas teóricas, auxil iando no seu dia a dia.
3.2 O Moderno Profissional da Psicologia Jurídica
A relação entre a psicologia e as práticas jurídicas ainda se dão de
forma estremecida e o lugar do psicólogo nesta área ainda está por se
configurar. Em determinadas situações, o atendimento psicológico por
meio do acolhimento, da escuta diferenciada e da disponibi l idade ao
dialogo, possibil ita muitas vezes ao cliente encontrar alternativas criativas
ou outra compreensão sobre o que esta pode signif icar.
Há uma constante necessidade de o psicólogo jurídico entender as
demandas às quais lhes são direcionadas, e deve-se tentar entender a
problemática em questão de acordo com o conhecimento teórico de sua
discipl ina. BRITO (2003) ressalta que os psicólogos não devem se ater na
leitura de com quem está l idando, ele cita como exemplo, um pedido de
tutela, guarda ou visitação, termos estes que fazem muito sentido no
direito.
Deve-se sim, segundo o autor, focar atenção ao referencial da
psicologia, compreendendo que nas determinadas situações jurídicas
anteriormente citadas estão envolvidas, normalmente, alguns aspectos
que dizem respeito ao desenvolvimento infantil, assim como ao
desenvolvimento da família, e também às relações conjugais, entre
outros.
37
É também importante lembrar que os psicólogos jurídicos devem
estar atentos a um elemento muito importante, que é o contexto social, no
qual os indivíduos se const ituem, assim como “aos estudos sobre relações
de gênero e f i l iação, tendo em vista as mudanças que vem ocorrendo na
famíl ia contemporâneo” (BRITO, 2003, p 19).
No l ivro de BRITO (2008) a descrição do atendimento a uma senhora
ajuda a entender os elementos presentes no dia a dia de um psicólogo
jurídico: o individuo no caso era uma senhora, solicitando a tutela de três
netos. Após ter sido explicado o conceito de tutela, assim como a
implicação para os envolvidos, lhe foi passada a importância e as
funções dos membros da estrutura familiar, assim como seus direitos e
deveres (p. 121).
Ele também cita casos de mulheres que, sentindo-se “impotentes
diante da situação vivida, recorriam à instância jurídica na tentativa de
fazer cessar a violência, de impor um limite a seus companheiros (p.
122). ” A autora ressalta, entretanto, que como aquelas mulheres não
procuravam alguma Delegacia Especial izada em Atendimento a Mulher
(DEAM), para formalizar denúncia contra seus companheiros, elas
procuravam ajuda, buscando informações e/ou orientação para o caso.
Os casos apresentados servem para i lustrar a necessidade da
compreensão da demanda, com isenção e ética, conforme Brito (2008)
“para além dos termos iniciais de sua formulação, uti l izando ferramentas
das quais a psicologia dispõe, assim como outros estudos no campo das
ciências humanas e sociais.” Não se pode deixar de lado também, as
relações estabelecidas dos grupos familiares atendidos, assim como o
contexto social, que venha a surgir das demandas (p 123).
38
3.3 Psicólogo Jurídico e os Operadores de Direito: Difícil Diálogo
Necessário
A questão da al ienação parental i lustra adequadamente como certos
problemas modernos exigem maior participação das forças sociais e
menos ingerência da justiça. É de nossa tradição recorrer à decisão
judicial como primeira alternativa em certas pendências. No caso de
casamentos dissolvidos, muito disso acontece.
No entanto, o desejável é que a sociedade vá assumindo aos poucos
uma série de l it ígios, ao invés de recorrer à justiça. Dois movimentos
devem ocorrer para esta “ l ibertação” da sociedade. A just iça deve se
“movimentar”, delegando ou devolvendo à sociedade a responsabil idade
por decisões que, a rigor, só dela dependem. Medida recente passou a
permitir o divórcio consensual apenas com registro em cartório.
Da parte da sociedade, o movimento deve ser muito mais forte e
abrangente. No campo da família, das relações de trabalho e dos direitos
difusos, este movimento deve se estruturar e crescer.No caso da
alienação parental, a Lei nº 12.318-10 , segundo a APASE (associação
de pais separados) o encaminhamento de soluções, constitui uma grande
inovação em nossas leis. Ao invés de depositar nas mãos exclusivas do
juiz, as alternat ivas de solução, apela para a sociedade. Reconhece que
não basta a visão e o poder de um árbitro único.
Há problemas nas famílias cujas complexidades dependem de um
emaranhado de exigências e negociações à base de concessões
recíprocas, idas e vindas, com passos lentos, e muitas vezes, o apoio de
amigos e de especial istas: psicólogos, médicos, assistentes sociais,
pedagogos. Talvez associações e outras entidades possam ser acionadas,
39
como as escolas dos f i lhos, as f irmas onde trabalham os cônjuges, outras
famílias, ent idades rel igiosas.
A Lei nº 12.318-10 também inova ao def inir as condutas dos juizes
perante a alienação parental. A lei vê o juiz mais como um concil iador do
que como um julgador. Ainda mantém medidas como a da multa e da
suspensão da autoridade parental, que conforme se lê abaixo:
(Art. 6 Art. 6º Caracterizados atos t ípicos de al ienação parental ou qualquer conduta que dif iculte a convivência de cr iança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulat ivamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabil idade civi l ou cr iminal e da ampla ut i l ização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso... .
I I I – est ipular multa ao al ienador;
VII – declarar a suspensão da autoridade parental1.
Tais mudanças ensejam recursos, que sobrecarregariam a justiça,
sem garantias de ef icácia. A medida da alínea IV, ou seja, determinar
acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial2, encaminhar a
psicólogos e outros prof issionais, parece ser o mais ef icaz. Equivale a
uma providência que os cônjuges podem tomar, ou já tomaram por si
próprios.
Em suma, a lei não leva medidas aos juizes para que repitam o
clássico “bater o martelo”. Só falta a lei dizer que não compensa abrir
processo de al ienação parental, e que é mais úti l recorrer a pessoas e a
prof issionais, que no seio da sociedade podem oferecer vários t ipos de
apoio.
1 www.planalto.gov.br/ccivil_03/_.../Lei/L12318.htm 2 idem
40
A propósito da al ienação parental, talvez a psicologia jurídica possa
ser entendida como mais importante que os próprios órgãos jurídicos a
que serve. Um estudo como o presente pode ousar em propostas que
signif iquem contribuições efetivas para alguns graves problemas sociais.
Recomendações e propostas gerais
§ Valorizar as associações de pais, assim como outras
correlacionadas, de acordo com a lei.
§ Buscar apoio das insti tuições em geral, tais como igrejas,
escolas, empresas, etc, as quais podem contribuir, de forma
geral para dar suporte pedagógico, acolhimento,etc.
§ Procurar estabelecer laços com as escolas das vit ima de
alienação, pois através delas se tem acesso a uma parte da
vida na qual os pais em geral não tem acesso, assim como foi
visto anteriormente,em geral, as vit imas podem vir a ter baixo
rendimento escolar.
§ Fazer uso de equipes multidicipl inares não tão somente para
serem realizadas perícias, como diz a lei. Ter apoio de
Assistentes Sócias, Pedagogos e Psicólogos os quais tenham
tanto embasamento teórico no tema da alienação parental,
como prática em casos. E que atendam essas famíl ias e suas
demandas enquanto ações assistenciais, dentro de um
conjunto de polít icas publicas articuladas neste campo.
41
CONCLUSÃO
Nos últ imos anos tanto o meio acadêmico quanto os outros espaços
sociais dir igiram seus olhares para o estudo da psicologia jurídica
enquanto área de extrema importância para a atuação dos prof issionais
tanto da área do Direito quanto da Psicologia.
Tratou a presente monograf ia de demonstrar como a intervenção
interdiscipl inar entre a psicologia, direito e outras ciências estão cada vez
mais forte e indo de encontro as perspectivas de integração e atuação em
diferentes segmentos da sociedade.
O trabalho mostrou como a famíl ia foi se modif icando, através dos
tempos, sofrendo inf luência direta das grandes transformações
socioeconômicas. Também o ordenamento jurídico se foi adaptando, e a
família, a partir da Constituição Federal de 1988, passando a ser
especialmente tutelada pelo Estado, sofrendo, assim, o Direito de Famíl ia
profunda transformação.
A Constituição Federal acabou com a desigualdade entre homens e
mulheres, com a defesa do princípio da isonomia e a idéia de colaboração
deixou de ser defendida, prevalecendo, uma atuação conjunta e igualitária
entre os genitores.
No presente trabalho um grande problema que at inge atualmente os
casais separados, qual seja, o da alienação parental foi aqui abordado,
sob o ângulo da psicologia jurídica. Ênfase particular se deu à atuação
do psicólogo, quer por designação direta do juízo quer por solicitação das
famílias e de outras instâncias sociais.
O trabalho permite concluir pela necessidade de a justiça se
“movimentar”, delegando ou devolvendo à sociedade a responsabil idade
por decisões que, a r igor, só dela dependem, propondo soluções
42
integradas com outros ramos do saber, como a psicologia jurídica, por
exemplo.
43
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manipulados por um cônjuge para odiar o outro. Casal de Cambra:
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46
ANEXO: LEI 12318/10
47
O Presidente da República
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
seguinte Lei:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.
Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida
por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigi lância para que repudie
genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este.
Parágrafo único. São formas exemplif icat ivas de al ienação parental,
além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia,
praticados diretamente ou com auxíl io de terceiros:
I – real izar campanha de desqualif icação da conduta do genitor no
exercício da paternidade ou maternidade;
II – dif icultar o exercício da autoridade parental;
III – dif icultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV – dif icultar o exercício do direito regulamentado de convivência
familiar;
V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais
relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e
alterações de endereço;
VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares
deste ou contra avós, para obstar ou dif icultar a convivência deles com a
criança ou adolescente;
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VII – mudar o domicíl io para local distante, sem justif icat iva, visando
a dif icultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor,
com familiares deste ou com avós.
Art. 3º A prática de ato de alienação parental fere direito
fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar
saudável, prejudica a real ização de afeto nas relações com genitor e com
o grupo famil iar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente
e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou
decorrentes de tutela ou guarda.
Art. 4º Declarado indício de ato de alienação parental, a
requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação
autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o
juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas
provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da
criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com
genitor ou viabil izar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.
Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao
genitor garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em
que há iminente r isco de prejuízo à integridade fís ica ou psicológica da
criança ou do adolescente, atestado por prof issional eventualmente
designado pelo juiz para acompanhamento das visitas.
Art. 5º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em
ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia
psicológica ou biopsicossocial.
§ 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou
biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista
pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do
relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes,
avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a
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criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra
genitor.
§ 2º A perícia será realizada por prof issional ou equipe
multidiscipl inar habil itados, exigido, em qualquer caso, aptidão
comprovada por histórico prof issional ou acadêmico para diagnosticar
atos de al ienação parental.
§ 3º O perito ou equipe mult idiscipl inar designada para verif icar a
ocorrência de al ienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para
apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização
judicial baseada em justif icat iva circunstanciada.
Art. 6º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou
qualquer conduta que dif iculte a convivência de criança ou adolescente
com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá,
cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabil idade
civil ou criminal e da ampla uti l ização de instrumentos processuais aptos
a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I – declarar a ocorrência de alienação parental e advert ir o
alienador;
II – ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor
alienado;
III – est ipular multa ao alienador;
IV – determinar acompanhamento psicológico e biopsicossocial;
V – determinar a alteração da guarda para guarda comparti lhada ou
sua inversão;
VI – determinar a f ixação cautelar do domicíl io da criança ou
adolescente;
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VII – declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço,
inviabil ização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá
inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da
residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de
convivência famil iar.
Art. 7º A atr ibuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência
ao genitor que viabil iza a efetiva convivência da criança ou adolescente
com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda
comparti lhada.
Art. 8º A alteração de domicíl io da criança ou adolescente é
irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações
fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de
consenso entre os genitores ou de decisão judicial.
Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 26 de agosto de 2010.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
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