alnovaçao,.., - pesquisa fapesp...2002/05/17  · ço público. Épreciso incentivar amudan-ça...

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Incentivo fiscal para . ,.., alnovaçao ções favoráveis para a expansão dos investimentos das empresas em P&D, de forma a ampliar mais a inovação. Ou seja, dos 3% de investimentos de- sejados, mais ou menos dois terços de- veriam ser feitos pelo setor privado e um terço pelo setor público, em média. os seus centros de pesquisas sem per- der o posto de trabalho. Levamos o debate sobre a mobili- dade de pesquisadores também à reu- nião da União Européia, no Conselho de Barcelona. Ficou estabelecido um plano de ação de mobilidade que in- clui a assistência social entre países membros da União Européia. Mobili- dade não pode pressupor apenas posto de trabalho, reconhecimento de títulos, da carreira ou do trabalho feito. Deve envolver também questões como a as- sistência social. Ela deve ser idêntica à que o pesquisador tinha em seu país de origem. • No caso específico da Espanha, como estão os investimentos em C&T? - Tivemos, em 2000, um incremento de 14,5% de investimento em P&D. A inovação aumentou 20% e dobrou o número de empresas inovadoras. Mas nós vínhamos de níveis ainda baixos de investimentos nessa área, algo como 1,7% do PIE, contando com a inovação. Sabe- mos que temos que correr, não só em termos de pesquisa e desenvolvimento, mas também para co- locar um marco fis- cal favorável para os investimentos de em- presas, criando um entorno financeiro para que se desenvol- va o capital similla (semente) e o capital de risco. Entrevista: Ana Birulés i Bertran* • Como serão recebi- das na Cúpula de Chefes de Estado, em Madri, as propostas da Conferência AI- cue reunidas na De- claração de Brasília? - A Alcue tem como objetivo in- tensificar as relações entre a União Euro- péia, América Latina e o Caribe. Estamos colocando a ciência, tecnologia e a inova- ção na agenda polí- tica dos governos. A Declaração de Brasí- lia reúne propostas muito importantes e é uma chave para a coesão e para novas formas de cooperação. Acredito que a reunião dos chefes de Estado e governo, em Madri, vai representar um avanço de cooperação política com elementos muito concretos, entre os quais o desen- volvimento sustentável, conhecimento e sociedade da informação. Os temas relacionados à Ciência, Tecnologia, Ino- vação e Conhecimento estão, cada vez mais, nos níveis mais altos da política. E a Conferência de Barcelona também mostrou isso. Não se trata apenas do •O Conselho Europeu de Barcelona reu- niu-se em 15 e 16 de março e sugeriu aos paísesmembros que ampliassem osinves- timentos em Ciência, TecnologiaeInova- ção nospróximos dez anos, até atingir o porcentual de 3% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Em que patamar estão, atualmente, os investimentos europeus nessa área? - Na Europa, os níveis de investimen- to em Pesquisa e Desenvolvimento es- tão, em média, ao redor de 1,8% do PIE. Mas há um peso muito forte dos inves- timentos públicos nas universidades e centros de pesquisa. O peso do setor pri- vado é relativamente mais baixo. E essa defasagem não é só uma questão de pes- quisa e desenvolvimento. Também refle- te a capacidade de transformar pesquisas em produtos e serviços de tecnologia. Aposta-se pouco na inovação. Esse, aliás, foi o tema que a Espanha colocou na Conferência de Barcelona. Ali, pela pri- meira vez na história, reuniram-se os ministros de Pesquisa e os ministros da Indústria de todos os países da União Européia. A avaliação foi de que era ne- cessário avançar, não só em pesquisa e desenvolvimento, mas também de um modo que estimulasse uma maior par- ticipação do setor privado que permi- tisse transformar a UE no espaço euro- peu da Inovação, e a proposta foi ratificada pela conferência. •O tema capital de risco também foi dis- cutido na reunião de Barcelona? - Sim. Todos fica- O desafio de transformar a UE ram de acordo so- no espaço europeu da inovação bre a necessidade de se fazer uma integração dos mer- cados de valores europeus, para esti- mular o desenvolvimento do capital de risco. Outro tema-chave, também discutido em Barcelona - e que temos aplicado na Espanha -, é o da mobili- dade dos pesquisadores entre centros científicos e entre os centros científi- cos e as empresas. No ano passado in- vestimos na mobilidade entre centros científicos. Criamos, neste ano de 2002, uma medida que autoriza os cientistas a pedirem uma licença es- pecial de até quatro anos, para colabo- rar com uma empresa ou para criar a própria empresa, aportando patentes e conhecimento como capital. Até agora as licenças eram muito curtas e apenas para pós-doe. Agora, depois de quatro anos, eles podem voltar para • A proposta de ampliação de 3%, por- tanto, não se refere exclusivamente aos investimentos públicos? - O objetivo é investir 3% do PIE, porém os Estados membros e a União Européia devem criar marcos e condi- 'I- Ministra para a Ciência e Tecnologia da Espanha, presidente do Conselho de Pesquisa da UE,presidente do Conselho Industrial da UE epresidente do Conselho de Telecomunicações da UE PESQUISA FAPESP • MAIO DE 2002 • 17

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  • Incentivofiscal para. ,..,alnovaçao

    ções favoráveis para a expansão dosinvestimentos das empresas em P&D,de forma a ampliar mais a inovação.Ou seja, dos 3% de investimentos de-sejados, mais ou menos dois terços de-veriam ser feitos pelo setor privado eum terço pelo setor público, em média.

    os seus centros de pesquisas sem per-der o posto de trabalho.

    Levamos o debate sobre a mobili-dade de pesquisadores também à reu-nião da União Européia, no Conselhode Barcelona. Ficou estabelecido umplano de ação de mobilidade que in-clui a assistência social entre paísesmembros da União Européia. Mobili-dade não pode pressupor apenas postode trabalho, reconhecimento de títulos,da carreira ou do trabalho feito. Deveenvolver também questões como a as-sistência social. Ela deve ser idêntica àque o pesquisador tinha em seu paísde origem.

    • No caso específico da Espanha, comoestão os investimentos em C&T?- Tivemos, em 2000, um incrementode 14,5% de investimento em P&D. Ainovação aumentou 20% e dobrou onúmero de empresas inovadoras. Masnós vínhamos de níveis ainda baixos deinvestimentos nessa área, algo como 1,7%do PIE, contando com a inovação. Sabe-mos que temos quecorrer, não só emtermos de pesquisa edesenvolvimento,mas também para co-locar um marco fis-cal favorável para osinvestimentos de em-presas, criando umentorno financeiropara que se desenvol-va o capital similla(semente) e o capitalde risco.

    Entrevista:Ana Birulés i Bertran*

    • Como serão recebi-das na Cúpula deChefes de Estado, emMadri, as propostasda Conferência AI-cue reunidas na De-claração de Brasília?- A Alcue temcomo objetivo in-tensificar as relaçõesentre a União Euro-péia, América Latinae o Caribe. Estamoscolocando a ciência,tecnologia e a inova-ção na agenda polí-tica dos governos. ADeclaração de Brasí-lia reúne propostasmuito importantes eé uma chave para acoesão e para novas

    formas de cooperação. Acredito que areunião dos chefes de Estado e governo,em Madri, vai representar um avançode cooperação política com elementosmuito concretos, entre os quais o desen-volvimento sustentável, conhecimentoe sociedade da informação. Os temasrelacionados à Ciência, Tecnologia, Ino-vação e Conhecimento estão, cada vezmais, nos níveis mais altos da política. Ea Conferência de Barcelona tambémmostrou isso. Não se trata apenas do

    • O Conselho Europeu de Barcelona reu-niu-se em 15 e 16 de março e sugeriu aospaíses membros que ampliassem os inves-timentos em Ciência, Tecnologia e Inova-ção nos próximos dez anos, até atingir oporcentual de 3% do seu Produto InternoBruto (PIB). Em que patamar estão,atualmente, os investimentos europeusnessa área?- Na Europa, os níveis de investimen-to em Pesquisa e Desenvolvimento es-tão, em média, ao redor de 1,8% do PIE.Mas há um peso muito forte dos inves-timentos públicos nas universidades ecentros de pesquisa. O peso do setor pri-vado é relativamente mais baixo. E essadefasagem não é só uma questão de pes-quisa e desenvolvimento. Também refle-te a capacidade de transformar pesquisasem produtos e serviços de tecnologia.Aposta-se pouco na inovação. Esse, aliás,foi o tema que a Espanha colocou naConferência de Barcelona. Ali, pela pri-meira vez na história, reuniram-se osministros de Pesquisa e os ministros daIndústria de todos os países da UniãoEuropéia. A avaliação foi de que era ne-cessário avançar, não só em pesquisa edesenvolvimento, mas também de ummodo que estimulasse uma maior par-ticipação do setor privado que permi-tisse transformar a UE no espaço euro-peu da Inovação, e a proposta foiratificada pela conferência.

    • O tema capital derisco também foi dis-cutido na reunião deBarcelona?- Sim. Todos fica- O desafio de transformar a UEram de acordo so- no espaço europeu da inovaçãobre a necessidadede se fazer uma integração dos mer-cados de valores europeus, para esti-mular o desenvolvimento do capitalde risco. Outro tema-chave, tambémdiscutido em Barcelona - e que temosaplicado na Espanha -, é o da mobili-dade dos pesquisadores entre centroscientíficos e entre os centros científi-cos e as empresas. No ano passado in-vestimos na mobilidade entre centroscientíficos. Criamos, neste ano de2002, uma medida que autoriza oscientistas a pedirem uma licença es-pecial de até quatro anos, para colabo-rar com uma empresa ou para criar aprópria empresa, aportando patentese conhecimento como capital. Atéagora as licenças eram muito curtas eapenas para pós-doe. Agora, depois dequatro anos, eles podem voltar para

    • A proposta de ampliação de 3%, por-tanto, não se refere exclusivamente aosinvestimentos públicos?- O objetivo é investir 3% do PIE,porém os Estados membros e a UniãoEuropéia devem criar marcos e condi-

    'I- Ministra para a Ciência e Tecnologiada Espanha, presidente do Conselho dePesquisa da UE, presidente do ConselhoIndustrial da UE e presidente doConselho de Telecomunicações da UE

    PESQUISA FAPESP • MAIO DE 2002 • 17

  • avanço, do crescimento e do bem-estarfuturo, mas da abertura de muitas ja-nelas do ponto de vista da sociedade.Por exemplo, em Brasília debateu-se aimportância das Ciências da Saúde eSociedade - que abre novas perspecti-vas para a sociedade, ou da sociedadeda informação - que permitem redu-zir o tempo e o espaço, e que possibi-litam que regiões que não têm telefo-ne fixo possam ter telefone e Internet.São temas importantes do ponto devista do avanço científico e econômi-co, com também do ponto de vista so-cial, do fortalecimento dos países e dademocracia.

    • Uma das preocupações dos países daAmérica Latina e Caribe é com a questãodo financiamento para C&T. Qual a saí-da para os países em desenvolvimento?- Como é um pouco cedo para terconclusões, farei uma reflexão sobre o te-ma. No Conselho de Ministro da Indús-tria e de Pesquisa da União Européia, emGiron, que antecedeu o de Barcelona,esteve presente a presidência do BancoEuropeu de Investimentos, porque elestambém acham que deveriam focar seusrecursos na Ciência, Tecnologia e Inova-ção. Eu creio que essa é uma disposiçãoque começaremos a ver crescer entre or-ganismos, bancos e entidades financeirasdedicadas ao fomento. Hoje, o fomen-to, o desenvolvimento e a cooperaçãopassam claramente pelo reforço desseselementos que tratamos na Declaraçãode Brasília. E esse será um elemento-chave na Cúpula de Chefes de Estado eGoverno, em Madri, em maio.

    • E nessa questão do financiamentotambém a iniciativa privada pode co-laborar?- Está claro que muitas das empre-sas estão investindo na inovação e empesquisa e desenvolvimento. Tambémestá claro que todos os mercados nãosão iguais. Há elementos mínimos deadaptação. Interessa, por exemplo, queo desenvolvimento de conteúdos e o de-senvolvimento de aplicações nas uni-versidade próximas de onde estão ins-taladas as empresas sejam os mais altospossíveis, já que isso pode lhes garantir

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    • POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

    maior competitividade no mercado. Asempresas espanholas, por exemplo, vie-ram ao Brasil porque o mercado é im-portante e existe capacidade técnica ecientífica. Para a empresa, o entorno de-ve ser inovador. Convênios, a contrata-ção de pesquisa e desenvolvimento nasuniversidades ou a participação econô-mica direta no desenvolvimento do ca-pital de risco são vias que as empresasvêm utilizando para apoiar P&D.

    • Mas como criar condições para am-pliar os investimentos privados?- É preciso ter um ambiente fiscal fa-vorável. E o incentivo fiscal é uma boasaída, inclusive aquele que se denomi-na mecenato, que, no passado, fezmuito pela cultura. Hoje é preciso fa-zer o mecenato científico. Às empre-sas interessa que ao redor de seu tra-balho, da sua zona de produção,existam as universidades, interessaum âmbito de informática, para queaportem dinheiro e que tenham van-tagens fiscais.

    • Há leis de incentivos fiscais para C&Tna Europa?- Existe na Espanha e um pouco naHolanda e há alguns temas de mece-nato no Reino Unido. •

    Brasil,•parceiro

    estratégicoEntrevista:Eric Goles Chacc*

    • Qual é, atualmente, o porcentual deinvestimento do Chile em C&T?- No Chile, em 1999, o aporte de re-cursos em C&T era de 0,6% do ProdutoInterno Bruto (PIE). Hoje é de 0,7%. Eo presidente, Ricardo Lagos, se compro-meteu a passar a 1,2% até 2006. E che-gar a 1,2% significa passar de US$ 500

    milhões em 99 a US$ 1,3 bilhão em 2006.O crucial nesse contexto é fazer com queo setor privado e empresarial faça umaporte, que não seja só recursos públicos.Mas isso não é fácil. Boa parte do esfor-ço para chegar a 1,2% terá que ser, pelomenos nesta primeira etapa, um esfor-ço público. Épreciso incentivar a mudan-ça cultural do setor privado. Sabemos queos países desenvolvidos têm uma parti-cipação de 50% a 60% de investimen-tos privados em C&T. No Chile, temosque olhar de outro ponto de vista. Pre-cisamos fazer com que nossos jovensadquiram um espírito empreendedor queos leve a criar empresas. O venture capi-tal no Chile está apenas começando. Jáexiste um organismo estatal que estáfazendo isso e algumas outras institui-ções de capital de risco. Mas os jovensse formam e ainda procuram por traba-lho. Não se trata apenas de criar centrosde excelência, precisamos também deum bom sistema de divulgação em todoo país, de uma grande quantidade de bol-sas de doutorado e mestrado, de proje-tos individuais concursáveis de ciência,de projetos globais e de apoiar a estru-tura acadêmica das universidades. Ouseja, temos que criar um mecanismoque contenha diversas ferramentas. E esseconjunto de ações tem que caminharjunto, senão qualquer investimento é di-nheiro jogado fora.

    • Qual a importância estratégica dacooperação científica e tecnológica paraos países latino-americanos?- O governo do Chile tem claro que épreciso reforçar nossa colaboração emâmbito científico e tecnológico regional.A América Latina é muito pouco res-ponsável pelo que se faz hoje em C&T nomundo. Participamos de poucas conver-sações nos diversos âmbitos e, sozinhos,nada conseguiremos. Precisamos nosunir, o que implica a necessidade decontatos bilaterais e multilaterais. Es-tamos nos associando a diversos paí-ses com objetivo de cooperação. Como Brasil, o Chile tem múltiplos acordos,em particular com o Ministério da Ciên-cia e Tecnologia (MCT), mas tambémcom a FAPESP e o Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tec-nológico (CNPq).

    • Como está o andamento dos convê-nios com a FAPESP?