amcham highlights - seminário o icms que interessa a todos - 27-05-2013

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A Amcham-SP realizou, em 17/05, o seminário “O ICMS que Interessa a Todos”, sobre o impacto que as mudanças no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços provocariam no setor pri- vado e na competitividade da economia brasileira como um todo. A proposta de unificação da alíquota em 4% foi debatida pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, que acabou propondo alterações, como criação de uma alíquota de 7% para operações com origem no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Espírito Ex-ministro Delfim Netto: “A reforma do ICMS é fundamental para aumentar a produtividade da eco- nomia brasileira”. Economista Fernando Rezende: “O ICMS não e problema de economista ou tributarista, é de psica- nalista. É um imposto à procura de identidade” Paulo Câmara, secretário da Fazenda de PE: “Nosso sistema tributário hoje não combate as desi- gualdades. Há Estados que perdem com essa alíquo- ta unificada em 4% em 12 anos”. Jader Afonso, secretário da Fazenda do MS: “O ICMS é a principal de arrecadação de vários estados e, no Mato Grosso do Sul, representa 90%. É preciso cautela” Andrea Calabi, secretário da Fazenda de SP: Confira frases de destaque do seminário “O ICMS QUE INTERESSA A TODOS” da Amcham-SP São Paulo, 27 de maio de 2013 Santo e outra de 12% para zonas de livres comér- cio, desfigurando o projeto inicial. Com as alterações propostas, o governo perdeu o interesse em manter a Medida Provisória 599 que, além de a unificação do imposto, criava um fundo de compensação para estados que perdessem recei- ta. A MP caducou no dia 3/6, o que posterga sine die a discussão sobre a unificação do imposto. Confira a cobertura completa do encontro: “Nos últimos seis anos, tivemos uma perda de 100 bilhões de dólares na balança comercial da indústria manufatureira” Sérgio Pompílio, vice-presidente Jurídico da Johnson & Johnson: “Difícil justificar para uma empresa estrangeira que o que foi extensivamente negociado não vale mais”. Pedro Bentancourt, gerente de relações governa- mentais da GM: “É fundamental unificar o ICMS e ter um código único tributário”. Gabriel Rico, CEO da Amcham: “153 investido- res estrangeiros procuraram à Amcham, no último ano, interessados no Brasil. A complexidade tribu- tária continua sendo uma das principais barreiras na atração deste capital”.

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A Amcham-SP realizou, em 17/05, o seminário “O ICMS que Interessa a Todos”, sobre o impacto que as mudanças no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços provocariam no setor pri-vado e na competitividade da economia brasileira como um todo. A proposta de unificação da alíquota em 4% foi debatida pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, que acabou propondo alterações, como criação de uma alíquota de 7% para operações com origem no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Espírito

Ex-ministro Delfim Netto: “A reforma do ICMS é fundamental para aumentar a produtividade da eco-nomia brasileira”.

Economista Fernando Rezende: “O ICMS não e problema de economista ou tributarista, é de psica-nalista. É um imposto à procura de identidade”

Paulo Câmara, secretário da Fazenda de PE: “Nosso sistema tributário hoje não combate as desi-gualdades. Há Estados que perdem com essa alíquo-ta unificada em 4% em 12 anos”.

Jader Afonso, secretário da Fazenda do MS: “O ICMS é a principal de arrecadação de vários estados e, no Mato Grosso do Sul, representa 90%. É preciso cautela”

Andrea Calabi, secretário da Fazenda de SP:

Confira frases de destaque do seminário “O ICMS QUE INTERESSA A TODOS” da Amcham-SP

São Paulo, 27 de maio de 2013

Santo e outra de 12% para zonas de livres comér-cio, desfigurando o projeto inicial. Com as alterações propostas, o governo perdeu o interesse em manter a Medida Provisória 599 que, além de a unificação do imposto, criava um fundo de compensação para estados que perdessem recei-ta. A MP caducou no dia 3/6, o que posterga sine die a discussão sobre a unificação do imposto. Confira a cobertura completa do encontro:

“Nos últimos seis anos, tivemos uma perda de 100 bilhões de dólares na balança comercial da indústria manufatureira”

Sérgio Pompílio, vice-presidente Jurídico da Johnson & Johnson: “Difícil justificar para uma empresa estrangeira que o que foi extensivamente negociado não vale mais”.

Pedro Bentancourt, gerente de relações governa-mentais da GM: “É fundamental unificar o ICMS e ter um código único tributário”.

Gabriel Rico, CEO da Amcham: “153 investido-res estrangeiros procuraram à Amcham, no último ano, interessados no Brasil. A complexidade tribu-tária continua sendo uma das principais barreiras na atração deste capital”.

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Produtividade da economia brasileira dePende da reforma do

icms, aPonta delfim netto

quota interestadual de ICMS. Isso evitaria que as em-presas optassem por montar uma operação em deter-minada localidade apenas por causa dos benefícios fiscais, em vez de critérios logísticos e operacionais.

“Seguramente, um dos aspectos mais importantes é ter um sistema tributário melhor ajustado e que não desperdice recursos. Que dê a possibilidade de os preços relativos determinarem não só a localização, mas também a quantidade das coisas que devem ser produzidas”, observa o ex-ministro.

icms é uma questão nacional

A questão do ICMS não é um problema só dos es-tados, mas também do governo federal, argumen-ta o economista Fernando Rezende, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em reforma tributária.

“Temos que harmonizar a legislação. Não pode-mos manter a regra de 27 leis e regulamentos que tornam os custos das obrigações acessórias (escri-turação fiscal) maiores que o das obrigações prin-cipais (pagamento de tributo). Não por acaso, os departamentos jurídicos das empresas são enor-mes”, comenta Rezende.

Vale lembrar que cada um dos 27 estados brasileiros

A falta de consenso sobre o projeto de reforma do ICMS – em discussão no Senado – atrasa a sua exe-cução e prolonga a guerra fiscal entre os Estados.

Para o economista e ex-ministro Delfim Netto, é pre-ciso insistir na criação de um sistema tributário mais racional e que “não desperdice recursos”, como for-ma de aumentar a eficiência da economia brasileira.

“Temos hoje certo desânimo diante das dificuldades de encaminhamento da questão [do ICMS]. Mas é preciso continuar trabalhando, mostrando que essa reforma do ICMS é fundamental para aumentar a produtividade da economia brasileira”, afirma ele.

O aumento da produtividade é a saída para recupe-rar a economia, pois as condições macroeconômicas favoráveis não vão durar para sempre. Alguns sinais de dificuldade começam a aparecer, como a queda do ritmo de enriquecimento populacional, ao mes-mo tempo em que ela está ficando mais velha.

“O ritmo de oferta de trabalho está um pouco mais lento, e precisamos de aumento fundamental da pro-dutividade para retomar o crescimento que deseja-mos”, argumenta o ex-ministro.

Uma das formas de dar agilidade ao setor privado é encontrar uma forma adequada de padronizar a alí-

Delfim Netto, economista e ex-ministro

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possui códigos próprios de ICMS, o que obriga as empresas a manter departamentos jurídicos que ana-lisam e acompanham todas as atualizações.

A criação de um ICMS que interessa a todas as esferas públicas depende de entendimento conjun-to. “Não se trata apenas de capacidade tributária, regimes de transferências, ou competências le-gislativas. A discussão tem que envolver todos os componentes que significam autonomia aos entes federados e capacidade de coordenação entre eles, para a adoção de políticas de desenvolvimento”, detalha o especialista.

Rezende disse que não há atalhos para uniformizar o sistema tributário. “É preciso dar passos lentos e seguros na direção desejada.”

secretÁrios da fazenda

Os secretários estaduais da Fazenda que parti-ciparam do debate falaram da necessidade de se encontrar um equilíbrio para compensar a perda de receita com a reduçao do ICMS. Paulo Câma-ra, secretário da Fazenda de Pernambuco, disse que o Nordeste apresentou forte desenvolvimento econômico nos últimos anos, mas os indicadores sociais e econômicos do Estado continuam abaixo da média nacional.

Por isso, defendeu que a redução da alíquota seja gradual. “Nosso sistema tributário hoje não combate as desigualdades. Há Estados que perdem com essa alíquota unificada em 4% em 12 anos”.

Jader Afonso, secretário da Fazenda do Mato Gros-so do Sul, destacou que o ICMS é a principal fonte de receita de seu Estado. “Representa 90% da nossa receita. É preciso cautela [ao propor mudanças]”, segundo ele.

Para Andrea Calabi, secretário da Fazenda de São Paulo, a padronização do ICMS em curto espaço de tempo é vital para a economia paulista. “Nos últimos seis anos, tivemos uma perda de US$ 100 bilhões na balança comercial da indústria manufa-tureira”, argumenta ele.

setor Privado

Sérgio Pompílio, vice-presidente Jurídico da Johnson & Johnson

As empresas presentes ao seminário abordaram as dificuldades práticas que o complexo sistema de arrecadação de ICMS acarreta. “É fundamental unificar o ICMS e ter um código único tributário”, comenta Pedro Bentancourt, gerente de relações go-vernamentais da GM.

Sérgio Pompílio, vice-presidente Jurídico da John-son & Johnson, falou da insegurança jurídica trazi-da pelas constantes alterações no ICMS, que muitas vezes acabam sendo retroativas. “É difícil justificar para uma empresa estrangeira que o que foi extensi-vamente negociado não vale mais”.

O ex-ministro Delfim Netto disse que os motivos apresentados pelos secretários são justificados, e vol-tou a falar em um sistema tributário mais racional. “É preciso nivelar a renda dos estados através de trans-ferências adequadamente construídas”, comenta ele.

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Jader Afonso, secretário da Fazenda do Mato Grosso do Sul

estados ainda tentam consenso sobre icms

As divergências estaduais sobre a reforma do ICMS variam de acordo com os sotaques. A quantidade de alíquotas diferentes, o percentual para zonas de livre comércio e gás, o fundo de compensações e o tamanho das perdas que cada um diz que teria, com as alterações em discussão no Congresso, desenham um confronto complexo entre os secretários estadu-ais da Fazenda de São Paulo, Pernambuco e Mato Grosso do Sul.

“Apesar dos avanços que houve no país, o Nordeste continua sendo pobre. Na taxa de pobreza absolu-ta, estamos no dobro da média nacional”, diz Pau-lo Henrique Saraiva Câmara, secretário da Fazenda de Pernambuco, cujos 65% da arrecadação provêm do imposto estadual. O secretário paulista, Andrea Calabi, comentou, posteriormente, que “o maior nú-mero absoluto de pobres está em São Paulo, que tem a maior população do país”.

Câmara concorda com a assimetria de alíquotas em 4%, 7% e 12%, mas defende a criação de fundos re-gionais de compensação para cobrir as perdas com a redução da alíquota para 4%, em 12 anos. “Precisa ter regras bem claras e definidas, porque há estados que terão perdas”, pontua.

Andrea Calabi, secretário da Fazenda de São Paulo

centro-oeste

O Mato Grosso do Sul é beneficiado pela alíquota de 12% para o gás que vem da Bolívia, que entra em solo brasileiro por lá. O secretário do MS diz que as entradas com tributos, do Estado, cairiam 33% se a redução da alíquota fosse única, em 4%. “90% de nossa arrecadação dependem do ICMS”, justifica Ja-der Rieffe Julianelli Afonso.

“A reforma atendeu um pouco o pleito dos estados mais pobres, mas tem de ser feita com mais cautela e com discussão mais ampla, inclusive sobre a com-pensação”, avalia.

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sul e sudeste

As três alíquotas assimétricas (4%, 7% e 12%) são ponto de clara discordância do governo paulista em relação ao projeto aprovado pela CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, no final de abril.

O secretário Andrea Calabi afirma que o texto dos senadores, diferente do que o governo federal pro-pôs, descumpre o objetivo da reforma, que seria aca-bar com a guerra fiscal, eliminar a insegurança jurí-dica e simplificar a legislação. “É disfuncional para a construção da competitividade nacional. Estamos esfarelando a competitividade construída ao longo de muito tempo”, diz.

Calabi afirma que está “fazendo contas” para avaliar a viabilidade de alíquota de 9% para o gás. O estado concorda apenas com as alíquotas de 4% e 7% e é o maior prejudicado com a de 12%, aprovada na CAE do Senado para o gás e a Zona Franca de Manaus. “[9%] é pior que 7% e melhor que 12%”, comenta.

Para o secretário, o fundo de recomposição de per-das com a reforma é “fundamental”. “A mudança [proposta] transforma o sistema de cobrança mais

para o destino. Os estados exportadores líquidos perdem”, explica.

Ele ainda criticou as bases de cálculo do atual FPE (Fundo de Participação dos Estados), consideradas inconstitucionais pelo STF (Supremo Tribunal Fe-deral). Segundo Calabi, o Sul e o Sudeste respondem por 56,5% d a população do país e 71,9% do PIB (produto Interno Bruto), e recolhem 78,7% de todo o IR (Imposto de Renda) e o IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) gerados no Brasil. “Mas recebem apenas 15% do bolo federativo”, diz.

desenrolar

Concordância existe principalmente quanto ao fato de que há um emaranhado tributário que sobrepesa a todos e que existe insegurança em relação aos be-nefícios já concedidos pelos Estados durante a guer-ra fiscal, na atração de investimentos.

Segundo Andrea Calabi, de São Paulo, as discussões continuam, no âmbito do Confaz, apesar do “desâ-nimo” provocado pela votação da CAE do Senado. Ele avalia que o processo chegue se finalize entre agosto e setembro.

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iniciativa Privada defende unificação e simPlificação da leGislação tributÁria Para as

emPresas

A falta de unidade na legislação brasileira para os tributos é um grande entrave para as empresas bra-sileiras. “Tenho a impressão que, a cada alteração nos códigos tributários e no ICMS, é desagregada a base industrial do país”, disse Pedro Betancourt, ge-rente de Relações Governamentais da General Mo-tors. Ele acredita que um dos principais problemas enfrentados pela iniciativa privada é a quantidade de exigências e artigos da legislação definidos para cada estado. “Isso agrega complexidade à operação tributária de forma extraordinária. É um peso ad-ministrativo atender a 27 legislações diferentes para um mesmo tributo”, explicou o empresário.

Ele foi um dos palestrantes do seminário “O ICMS que interessa a todos”, que contou com a mediação dos economistas Delfim Netto e Fernando Rezende, além da presença dos secretários de fazenda Andrea Calabi (São Paulo), Paulo Henrique Câmara (Per-nambuco) e Jader Rieffe Afonso (Mato Grosso do Sul). O evento foi realizado na sexta-feira (17/05), na Amcham-São Paulo.

Durante discussão sobre o impacto das mudanças do ICMS, Pedro Betancourt lembrou que seria essencial caminhar para a criação de um código único tribu-tário. “Em algum momento, a gente esqueceu que o

Brasil continua sendo um único país”, falou. De acor-do com o representante da GM, as companhias aca-bam tendo um custo maior para manter um corpo técnico para gerir regulamentações que, na maioria das vezes, são mais simplificadas em outros países.

inseGurança jurídica

Outra grande preocupação dos empresários é em preservar as negociações feitas anteriormente. “Difí-cil justificar para uma empresa estrangeira que aquilo que foi amplamente negociado tenha suas regras al-teradas”, alertou Sérgio Pompílio, vice-presidente do Departamento Jurídico e de Relações Corporativas da Johnson & Johnson. Ele lembrou que a situação fica ainda mais complicada para pequenas e médias empresas, que deixam de entrar no mercado brasilei-ro por causa de uma instabilidade nesse sentido.

Existe ainda um receio sobre os impactos da súmu-la vinculante nº 69, proposta pelo ministro Gilmar Mendes em abril deste ano. O edital propõe um re-forço em uma decisão já estabelecida em 2011 que determina a inconstitucionalidade dos incentivos fiscais estaduais do ICMS que não forem aprovados pelo Confaz (Conselho Nacional de Política Fazen-dária). “Não podemos nos dar ao luxo de perder a

Pedro Betancourt, gerente de Relações Governamentais da General Motors

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Além de fortalecer a indústria nacional, simplificar a legislação tributária também favoreceria o mer-cado externo. “Nós tivemos neste ano, de janeiro a

Gabriel Rico, CEO da Amcham

abril, consultas de 153 empresas internacionais que-rendo vir ao Brasil. Quando se fala da complexidade tributária e jurídica, as empresa param, refletem e muitas delas não voltam a conversar”, disse Gabriel Rico, CEO da Amcham.

De acordo com Rico, o Brasil é uma opção muito atraente para os investidores por causa do tamanho do mercado interno, da evolução da renda per capi-ta, mas quando eles olham para as dificuldades tri-butárias, desistem facilmente.

No final do seminário, Pedro Betancourt, represen-tante da GM, aproveitou para fazer um apelo às au-toridades presentes para que essa possibilidade de simplificação seja, de fato, posta em prática. “Há um clamor na indústria não só paulista, mas brasileira, e eu peço o apoio dos secretários da Fazenda para que façam um esforço na próxima reunião do Confaz para trabalhar a favor de nós, que produzimos, pois o assunto não está resolvido”, finalizou.

unanimidade no Confaz. Fico desesperado se a situ-ação deixar de ser uma guerra tributária para virar federativa e, aí sim, uma secessão”, explicitou Pedro Betancourt, da GM.

entraves Para o investimento

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Guerra fiscal leva brasil a estado de debilitação

ProGressiva

A guerra fiscal que os Estados praticam entre si para atrair investimentos privados enfraquece a coesão federativa e evidencia a necessidade de o governo federal reconduzir uma política de desen-volvimento regional.

“A única saída que vislumbro é o governo federal protagonizar o debate e tornar a questão regional objeto de fato de uma nova estratégia nacional de desenvolvimento”, disse o economista Fernando Re-zende, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em reforma tributária.

“Vamos entrar em um processo de debilitação pro-gressiva da indústria nacional e perda da capacida-de de acompanhar o ritmo de desenvolvimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e outros países a que estamos associados”. Veja abai-xo a entrevista de Rezende ao site da Amcham:

Amcham: Que balanço o senhor faz das discus-sões do seminário?Fernando Rezende: Há grande dificuldade em saber como enfrentar o futuro. O que existe hoje é um ra-zoável entendimento entre os estados em pacificar o passado ou sancionar benefícios concedidos. Isso faz parte do reconhecimento necessário que os entes públicos envolvidos têm a fazer. Essa é uma armadi-lha que o Brasil tem que sair, pois faz o País perder

capacidade de gerar investimentos em indústrias modernas, criar alto valor agregado e empregos de qualidade. O grande problema é como transitar des-sa situação para o futuro.

Amcham: Mas que saídas o senhor enxerga para esse impasse?Fernando Rezende: Estamos vislumbrando com clareza um embate entre os estados que querem preservar a unanimidade da concessão de novos benefícios e aqueles que acham necessário nego-ciar incentivos em um regime mais flexível. A úni-ca saída que vislumbro é o governo federal prota-gonizar o debate e tornar a questão regional objeto de fato de uma nova estratégia nacional de desen-volvimento. Ela não pode ser vista como problema a ser tratado individualmente por cada estado. Isso quebra o espírito da coesão federativa, que estamos sofrendo no momento.

Amcham: Sob que aspectos o governo federal pode tratar a questão do desenvolvimento regional?Fernando Rezende: A questão regional é formada por um trinômio. O primeiro é que o Brasil precisa de infraestrutura moderna, sendo que atração de investimentos é fundamental para esse desenvol-vimento. Mas o governo federal tem dificuldades para ampliar os investimentos, então é fundamen-tal criar debate para integrar as ações da federação

Fernando Rezende, economista

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a respeito do assunto. Outro ponto é a inovação, ciência e tecnologia, mas cada caso deve ser estu-dado de maneira separada. Grande parte das opor-tunidades do Nordeste pode estar associada às suas vantagens comparativas e competitivas regionais, a exemplo da exploração de algumas atividades industriais e outras ligadas ao turismo. Em outro caso, a economia da Amazônia tem grande poten-cial na exploração das riquezas naturais, desde que seja feita com a devida preservação do meio am-biente. Ainda há a questão dos investimentos em comunicações modernas e fibras óticas, que talvez sejam mais importantes que fazer rodovias. O últi-mo trinômio é a educação, que consiste em qualifi-car a mão de obra para as que as oportunidades de cada região sejam plenamente aproveitadas.

Amcham: Como viabilizar uma política nacional de desenvolvimento regional?Fernando Rezende: Temos alguns instrumentos. Além do investimento público, o incentivo fiscal é uma ferramenta pertinente, e nesse caso é necessá-rio discutir como substituir os incentivos estaduais pelos federais. A política [de desenvolvimento] re-gional do passado foi feita em cima de incentivos federais, do Imposto de Renda que levava as indús-trias para o Norte e Nordeste, assim como o IPI (Im-posto sobre Produtos Industrializados). Precisamos saber como recuperar essa estratégia.

Amcham: O secretário da Fazenda de São Pau-lo chegou a mencionar a palavra secessão, caso a falta de consenso se agravar. O senhor vê ânimos acirrados na questão da padronização do ICMS?Fernando Rezende: Não acredito nem em secessão política ou movimento separatista. Mas estamos criando, sim, uma nação economicamente fragmen-tada. Veja que as relações econômicas entre o Sul-Su-deste e o Norte-Nordeste se enfraqueceram muito ao longo dos últimos anos. Boa parte das indústrias que foram para o Norte-Nordeste ou Centro Oeste,

por exemplo, trazem insumos de outras partes do mundo que geram produtos fabricados internamen-te. E que trazem dois problemas. O primeiro é que se enfraquece a coesão federativa, dado os interes-ses econômicos divergentes. Em segundo, ocorre a redução do valor agregado interno. Boa parte das indústrias que se instalam em função dos benefícios fiscais traz um kit pronto e apenas montam o produ-to aqui, com agregação interna menor de produtos. Não vamos enfrentar secessão, e sim entrar em um processo de debilitação progressiva da indústria na-cional e perda da capacidade de acompanhar o rit-mo de desenvolvimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e outros países a que estamos associados.

Amcham: Que pontos positivos e negativos o se-nhor vê neste projeto de ICMS (PRS 1/2013) que está em tramitação no Senado?Fernando Rezende: Ele só contribui para acirrar os conflitos da federação. Se for aprovado do jeito que está, poderemos ter eventualmente uma situa-ção onde serão instaladas zonas de livre comércio em outras partes do Brasil. Será uma forma a que os Estados recorrerão para compensar o diferencial de incentivos dados à Amazônia, o que pode agravar o caos federativo.

Amcham: E como o sr. vê o envolvimento do go-verno federal em conciliar todos os interesses?Fernando Rezende: É uma posição titubeante. O go-verno federal tem certa dificuldade em se envolver de forma mais atuante no processo, até porque tem uma situação fiscal que não é tranqüila. Há receio de que a demanda por compensações financeiras seja grande demais. A União reconhece a necessidade de mudar, mas hesita em assumir a liderança do debate talvez por receio de sair chamuscado politicamente e ter que pagar uma conta maior do que a conjuntu-ra econômica permite.

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Amcham: Para encerrar, como o senhor acha que o setor privado deve se posicionar diante da pers-pectiva de um novo cenário fiscal?Fernando Rezende: O setor precisa se unir em de-fesa de um regime tributário que atenda as exigên-cias da competitividade do País e dos diferentes segmentos. Cada empresa e segmento acomodou suas estruturas de produção em função das regras

vigentes, de modo que as mudanças vão afetá-las de forma diferente. Por isso é muito difícil encon-trar uma posição uniforme do setor privado em matéria de mudanças tributárias. Isso também di-ficulta a própria atuação do governo federal. Além disso, não há uma pressão da sociedade que aponte uma só direção. Criar uma proposta convergente para todos é o nosso grande desafio.

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icms diferenciado incentiva investimentos em reGiões

Pobres, de acordo com secretÁrio de Pe

As desigualdades de renda ainda são um fenômeno comum no Brasil e os incentivos fiscais continuam sendo um instrumento importante de fomento à ati-vidade econômica. Essa é a razão pela qual se justi-fica a existência de alíquotas diferenciadas de ICMS.

“A questão da desigualdade regional é que ainda pesa sobre as decisões dos estados. Há lugares muito pobres que ainda precisam de incentivos para se de-senvolver”, afirma o secretário da Fazenda do Estado de Pernambuco, Paulo Câmara.

“E é preciso ao menos assegurar a manutenção de algum diferencial de ICMS, que é usado como me-canismo de atração de investimentos”, comenta o secretário.

O Nordeste tem apresentado forte crescimento eco-nômico nos últimos anos, mas os indicadores so-ciais da região ainda estão abaixo da média nacional. Para Câmara, a diferenciação de alíquotas “existe para possibilitar incentivos às indústrias que quise-rem se instalar em estados mais pobres”.

Veja a entrevista de Câmara ao site da Amcham:

Amcham: Diante do que foi discutido no seminá-rio, há caminho para o consenso entre os Estados a respeito da PRS 1/2013 – proposta de ICMS em

discussão no Senado?Paulo Câmara: Tivemos um bom debate, e acredi-to que chegamos ao amadurecimento da discussão sobre a questão federativa. Agora é preciso que os Estados definam seus votos no Congresso, pois a questão do ICMS está bem encaminhada. Existem alguns questionamentos por parte de alguns esta-dos, como a definição da alíquota da Zona Franca de Manaus (em 12%, o que São Paulo é contra), a convalidação de benefícios, o indexador da dívida e o FPE (Fundo de Participação dos Estados). Fal-ta o entendimento político para aprovação, pois o técnico já foi alcançado. Esperamos ter, a partir de 2014, regras mais claras que dêem mais segurança aos investidores, contribuintes e governo.

Amcham: O que falta para um consenso?Paulo Câmara: As discussões estão avançadas. Pra-ticamente, falta fechar a necessidade de manter as-simetria de alíquotas de 4% para bens industrializa-dos, em um primeiro momento. Isso avançou muito, e cremos que é possível de se fazer em um universo de dez anos (2023). A questão da desigualdade re-gional é que ainda pesa sobre as decisões dos esta-dos. Há lugares muito pobres que ainda precisam de incentivos para se desenvolver. O governo federal ainda não tem isso muito bem desenhado, está mui-to na teoria. E é preciso ao menos assegurar a manu-tenção de algum diferencial de ICMS, que é usado

Paulo Câmara, secretário da Fazenda do Estado de Pernambuco

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ExpedienteEditor: Ricardo Lessa (MTB 17216) Reportagem: André Inohara, Dirceu Pinto, Gustavo Narlir e Simei MoraesCrédito das fotos: Mário MirandaDiagramação: Fabiana Senatore

como mecanismo de atração de investimentos. Essa é nossa preocupação no momento, mas temos cons-ciência de que será preciso voltar ao tema no futuro e discutir uma alíquota de destino puro. Ou seja, pa-gar ICMS no Estado que receber a mercadoria.

Amcham: Que prazo pode ser considerado ideal para a unificação do ICMS?Paulo Câmara: A região Nordeste defende a pa-dronização de 7% (Norte, Nordeste, Centro Oeste e mais Espírito Santo) e 4% (Sul e Sudeste, exceto o Espírito Santo) em um prazo de dez anos apenas para produtos industriais. Nos setores de comércio e serviços, uma alíquota que chegue a 4% em 12 anos (2025) é bem razoável, e já concordamos. E partir disso, avaliar a aplicação das medidas em uns cinco anos, para reavaliar a unificação ou não.

Amcham: O secretário da Fazenda de São Paulo, Andrea Calabi, é contra a criação de três alíquotas diferentes (4%, 7% e 12%). Como isso repercute no andamento do projeto de reforma do ICMS?Paulo Câmara: O estado de São Paulo já entendeu

a necessidade de ceder um pouco e chegar à di-ferenciação de alíquota para os bens industriais, com o prazo de dez anos sendo assimilável. O que vejo como uma preocupação maior de São Paulo é a questão da Zona Franca de Manaus. As preo-cupações têm cabimento e precisam ser refletidas pelos envolvidos, para chegar a um meio termo. O melhor é fazer um bom acordo, com cessão de ambos os lados, do que manter um status quo que está trazendo falta de governança e segurança ju-rídica a todos.

Amcham: Em sua opinião, o fato de existir três alíquotas não neutraliza a proposta de reforma?Paulo Câmara: A diferenciação de alíquotas existe para possibilitar incentivos às indústrias que quise-rem se instalar em estados mais pobres, e sempre dentro das regras definidas. Estamos falando de be-nefícios que são discutidos, e não dados aleatoria-mente. Temos todo o interesse de definir regras cla-ras e trazer segurança jurídica ao setor privado, para criar possibilidades reais de geração de empregos e também crescimento da renda nos estados.

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