1-2 rs - os livros de reis
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Antigo Testamento II Histricos e Poticos 111
OS LIVROS DE 1-2 REIS
POSIO NO CNON
O livro dos Reis claramente a continuao do livro de Samuel pelo que o hebraico e
todas as verses, so unnimes em o colocar a seguir a este. Com efeito, se o livro dos Reis
representa um desenvolvimento gradual do livro anterior (ver O Autor) at possvel que 1
e 2Rs formassem, originalmente, a concluso do livro de Samuel. Em hebraico o livro um
nico (embora as Bblias hebraicas sigam a tradio crist) e a diviso em 1 e 2Rs, verifica-
se a partir da Septuaginta.
TTULO E DATA
O ttulo de Reis uma traduo literal do hebraico (melm, reis) que tambm se encontra na Vulgata. Sobre o nome do livro na Septuaginta, consulte-se a introduo a
Samuel. O Terminus a quo para a data dado por 2Rs 25.27, isto , 560 a.C.; o fato de se
no mencionar a tomada de Babilnia em 538 a.C. nem tampouco a permisso de regresso
concedida por Ciro aos exilados no ano seguinte, indica, de maneira quase certa o Terminus
ad quem. Mas enquanto for impossvel atribuir ao livro um determinado autor, fatores
vrios, nomeadamente muito do seu contedo, levam-nos a situar uma grande parte do livro
numa data consideravelmente anterior.
Os dois livros de Reis compreendem, na verdade, uma nica obra literria, que a
tradio judia preservou como uma unidade chamada melm reis. Essa obra foi dividida em duas partes pelos tradutores da Septuaginta, uma tradio continuada pela
Vulgata e outras tradues. Uma edio judaica de 1448 foi a primeira Bblia hebraica a
apresentar a diviso de Reis.
As antigas verses relacionavam Samuel e Reis, por meio do ttulo, em uma tentativa
de refletir o tema bsico comum, a histria da monarquia em Israel. A Septuaginta chama-os
de Primeiro a Quarto dos Reinos, enquanto a Vulgata usa a palavra Reis e mantm a diviso
em quatro partes.
A presente diviso de Reis bastante arbitrria, pois divide ao meio o reinado de
Acazias, o ministrio de Elias e o perodo de aliana entre os reinos de Jud e Israel.
O AUTOR
Certa, tradio judaica no muito recuada, atribui o livro de Reis a Jeremias
(Josephus, em termos muito mais gerais, atribui os livros histricos aos profetas); contudo,
ainda que possivelmente associado sua parte final e reviso, no natural que Jeremias
seja o seu nico autor.
O livro dos Reis baseia-se, em parte, segundo o seu prprio testemunho, em certas
autoridades escritas: "o livro dos sucessos de Salomo" (1Rs 11.41), "o livro das crnicas
dos reis de Israel" (1Rs 14.19, etc.), "o livro das crnicas dos reis de Jud" (1Rs 14.29, etc.);
com efeito, muitas das suas passagens caracterizam-se por uma feio nitidamente
descritiva. Mas o livro de Crnicas, utiliza um bom nmero de fontes profticas; ver 2Cr
9.29; 2Cr 12.15; 2Cr 13.22; 2Cr 26.22; 2Cr 33.19. Embora se no mencionem em Reis,
todas elas seriam, sem dvida, conhecidas dos autores deste livro.
Se considerarmos que o livro dos Reis aparece no cnon hebraico como fazendo
parte dos profetas mais antigos, a explicao mais simples, parece-nos ser a seguinte: os
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registros seriam guardados por muitos dos profetas e na ocasio adequada teriam sido
associados a excertos dos registros reais.
O reinado de Ezequias, poca, de resto, caracterizada por grande atividade literria
(Pv 25.1), surge-nos como o momento mais apropriado; que s ento seria possvel que
fugitivos de Samaria levassem consigo os registros reais. No existem provas que
justifiquem a atribuio da obra a Isaas, ainda que se no possa excluir tal possibilidade. A
obra ter sido atualizada e revista no tempo de Josias, trabalho que poder ter sido feito por
Jeremias. Finalmente, teria voltado a ser atualizada e ligeiramente revista por um
desconhecido durante o exlio babilnico. Certas particularidades da Septuaginta sugerem
fortemente uma reviso no tempo de Josias-hiptese acima aventada.
OBJETIVO
Como se disse j, o livro dos Reis, no cnon hebraico, um livro proftico; existem,
alm disso, razes para crer que os seus autores foram profetas. Deus no falava apenas por
intermdio dos seus servos profetas mas tambm atravs da histria; ora, parte da tarefa
proftica consistia, precisamente, em interpretar as lies dadas pela histria. Eis a razo por
que certos reis cujo reinado foi de grande importncia para os seus contemporneos, como
Onri (1Rs 16.23-28), Azarias ou Uzias (2Rs 15.1-7), Jerobo II (2Rs 14.23-29), se passam
praticamente em claro. As lies a aprender so de carter espiritual e no poltico. esta a
razo por que se descrevem extensivamente os dois perodos de crise - o reino de Acabe ao
Norte e o de Ezequias ao Sul. No nos deve pois surpreender que os arquelogos, em
obedincia a conceitos diferentes, apresentem freqentemente os reis e, as suas aes a uma
luz um tanto diferente. Mas as suas descobertas, se bem que muitas vezes confirmando a
exatido do livro dos Reis, no aprofundam a nossa compreenso espiritual do perodo.
CONTEXTO HISTRICO
Reis cobre um perodo de 410 anos, da morte de Davi (971 a.C.) restaurao de
Joaquim (561 a.C.). Nesse perodo, o foco de poder no Oriente Mdio se deslocou vrias
vezes. No incio do livro, Israel era esse foco, que finalmente passou Assria e, finalmente,
Babilnia. Ocasionalmente, o Egito e a Sria (rm) tornavam-se focos temporrios de ateno internacional devido a seu freqente relacionamento com Israel (cuja histria era
sempre a lente pela qual os acontecimentos no Oriente Mdio eram observados e
analisados).
FORMA LITERRIA E MENSAGEM DE REIS
Reis no possui a complexa estrutura literria de Samuel. Seu plano mais simples e
consiste basicamente em estabelecer contrastes e comparaes ao que o autor/editor
percebia como os padres mximos de fidelidade e infidelidade a Yahweh e Sua aliana,
Davi e Jeroboo.
Isso no significa que no haja arte ou teologia na maneira em que as narrativas e
avaliaes foram ordenadas no livro. Reis possui um propsito didtico, que cumpre sem
recorrer s distores ou exageros tpicos das crnicas reais de outras naes do antigo
Oriente Mdio, (John Walton, Ancient Israelite Literature in Its Cultural Context, p. 117)
pois os reis de Israel e Jud so retratados como indivduos sujeitos a fracassos morais,
polticos e militares.
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O propsito mais amplo do livro era oferecer s geraes exlica e ps-exlica uma
explicao coerente para o fato do povo escolhido por Yahweh ter-se reduzido a um
punhado de escravos na Babilnia, bem como uma esperana diante de tal fracasso. Para
atingir esse propsito, o autor/editor d ateno mais detalhada a certos eventos e
personagens, particularmente queles que demonstram mais claramente que o fracasso
temporal da monarquia teocrtica no se deveu a alguma falta de poder ou falha de carter
de Yahweh, mas pela falta de conformidade do povo aliana assumida no Sinai e renovada
nas campinas de Moabe.
Um dos fatores que demonstram essa proposta a proporo. Levando-se em conta
que o livro cobre um perodo de 410 anos em 47 captulos, vemos que a descrio dos 40
anos do reinado de Salomo cobre onze captulos, dos quais nada menos que quatro so
dedicados construo e dedicao do templo. Praticamente, trs captulos so dedicados
ascenso e ao reinado de Jeroboo, que durou 22 anos. Os ministrios de Elias e Eliseu, que
juntos duraram cerca de 40 anos, merecem nada menos que 19 captulos, em que muitas
vezes a narrativa extremamente detalhada. Em contraste, Onri, que fundou a terceira
dinastia de Israel e edificou Samaria, e que foi to importante aos olhos de seus
contemporneos, a ponto de Israel ser freqentemente mencionada em inscries do OMA
como a casa de Onri, merece apenas um pargrafo.
Outro fator literrio que orienta o leitor a essa dupla percepo de fracasso e
esperana em relao ao tema fundamental que a monarquia teocrtica, o uso de um
recurso chamado inclusio, que consiste em utilizar o mesmo tema como uma espcie de
parnteses para indicar que o todo est tratando do mesmo assunto ou deve ser olhado da
mesma perspectiva teolgica. Este parece ser o alvo da incluso da luta fratricida no incio
do livro (que mostra que a diviso interna e a intriga palaciana no puderam anular a aliana
davdica) e da incluso da reabilitao de Joaquim como eplogo do livro (que mostra que
nem mesmo destruio e exlio puderam extinguir a esperana de que a linhagem davdica
viesse a produzir o Filho de Davi, cujo trono seria eterno).
Dois discursos contidos no livro focalizam o tema da observncia aliana e das
conseqncias de sua desobedincia. O primeiro, que focaliza o templo como meio de
expresso da lealdade mtua exigida pelo pacto deuteronmico, est contido na bno e
orao de Salomo (1 Rs 8.12-61). Esse discurso era importante, porque a inaugurao do
Templo marcou, de maneira efetiva aos olhos do povo, a total integrao da vida de Israel
como monarquia teocrtica. O segundo discurso vem do prprio autor/editor (2 Rs 17.7-23),
ao explicar a causa do cativeiro das dez tribos do Norte, creditado falta de lealdade pactual
(17.15). Prolepticamente, o autor/editor avana at o cativeiro babilnico ao comentar sobre
Jud e seu exlio (17.19,20). De outro lado, a orao do rei na dedicao do templo,
fundamentada em Deuteronmio 4 e 28, j acenava, sim, com a possibilidade do cativeiro,
mas tambm com a restaurao, que o autor/editor deixa em germe na reabilitao de
Joaquim (25.27-30).
O livro de Reis tambm se vale de quiasma como tcnica literria para enfatizar sua
mensagem e chamar a ateno do leitor para incidentes cruciais na demonstrao do
fracasso pactual de Israel.
Um aspecto literrio curioso em Reis o uso de polmica para buscar a vindicao
do yahwismo contra a religio estatal de Acabe e Jezabel, o baalismo. Primeiro Reis 17 e 18
refletem um cuidado do autor/editor em demonstrar que Yahweh jogou no campo do adversrio e venceu o conflito dos deuses (um estudo magistral da polmica anticananita em
Reis The Stories of Elijah and Elisha, de Leah Bronner. Veja ainda George Saint-Laurent,
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Light from Ras-Shamra on Elijahs Ordeal upon Mount Carmel, em Scripture in Context, editado por Carl D. Evans, pp. 123-139).
luz dessas observaes, a seguinte mensagem proposta para o livro de Reis (1 e
2):
A infidelidade nacional para com as alianas deuteronmica e davdica trouxe o juzo
deliberado de Yahweh sobre a monarquia teocrtica depois de vrias demonstraes de Sua
pacincia e misericrdia em virtude das promessas davdicas que aguardavam um
cumprimento final.
A TEOLOGIA DE REIS (A PESSOA E O CARTER DE DEUS)
Yahweh apresentado no livro de Reis primariamente como o Deus das alianas. Ele
o mesmo Deus que Se revelou a Israel no Sinai (cf. 1 Rs 19), e que agora Se mostra fiel
nas demonstraes de misericrdia e na execuo da justia de acordo com as promessas da
aliana.
Yahweh santo
Este atributo visto mais freqentemente no julgamento contra os que violam os
preceitos da aliana mosaica do que em declaraes formais encontradas no texto. Reis , ao
lado de Juzes, o exemplo principal da justia de Yahweh, isto , de Sua santidade em ao.
Assim, o juzo contra Salomo vem porque a santidade e a singularidade de Yahweh so
ofendidas por sua tolerncia com a idolatria e posterior adeso a ela (1 Rs 11). De igual
modo, Jeroboo perde a bno de Yahweh e traz maldio sobre sua dinastia em razo de
suas perverses idlatras, que se tornaram o padro pelo qual Israel media o mal (a
promessa feita a Jeroboo marcadamente distinta daquela que feita a Davi. Seu carter era
eminentemente condicional (1 Rs 11:38), em contraste com a aliana de doao real feita a
Davi (2 Sm 7:8-16, especialmente os versculos 15 e 16).).
Talvez o exemplo mais dramtico do zelo de Yahweh por Sua santidade o do
homem de Deus que foi morto por um leo por no obedecer estritamente ordem que
havia recebido (1 Rs 13.11-33). O exemplo mais conhecido, claro, a confrontao entre
Elias e os profetas de Baal (18.16-40), em que a santidade e a singularidade de Yahweh
foram magnificamente vindicadas.
Yahweh gracioso
Ele demonstra Seu amor leal a Seus servos (1 Rs 8.22), derrama copiosamente
riqueza e sabedoria (3.12-14), restringe o julgamento vista do arrependimento do mais vil
pecador (21.28,29), cura estrangeiros e revela-lhes Seu carter (2 Rs 5.1-19a), como
tambm no abre mo de Seus propsitos graciosos mesmo quando Seu profeta sugere que
um Israel crivado de pecados chegou ao fim da picada pactual (1 Rs 19.9-18). As profundezas da graa de Yahweh encontram-se, todavia, em Sua preservao da
linhagem davdica, mesmo em face da mais grosseira idolatria e infidelidade moral.
Salomo (1 Rs 11.35), Abio (15.4) e at mesmo o piedoso Ezequias (2 Rs 20.12-21)
so exemplos de tal graa preservadora expressa nos termos das promessas incondicionais
das alianas abramica e davdica.
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Yahweh fiel
A fidelidade divina j reconhecida por Salomo como o elemento chave em sua
subida ao trono e na construo do templo (1 Rs 8.20). Falhas humanas subseqentes no
invalidam as promessas de Deus, assim como a presena de nuvens escuras no invalida a
realidade do sol. De fato, como Gerhard von Rad sugeriu, a crtica parcialmente destrutiva dos reis de Jud e Israel teve assim seu aspecto positivo e o deuteronomista
serviu-se dela para preservar de qualquer alterao ou usurpao, o que, em sua opinio, era
o verdadeiro sentido da profecia de Nat (G. von Rad, Teologia do Antigo Testamento,
1:332).
O eplogo sobre a reabilitao de Joaquim uma indicao clara da fidelidade pactual
de Yahweh. Alm disso, o Deus que chama para Si a responsabilidade de cumprir Suas
alianas tambm fiel em preservar um remanescente para o qual tais promessas venham,
por fim, a tornar-se realidade (cf. 1 Rs 19.18). Uma nota de solene advertncia que essa
fidelidade s promessas inclui as promessas de juzo. Mesmo a profunda converso e
devoo de um Josias incapaz de deter a mar da ira pactual de Yahweh contra o entulho
idlatra e imoral acumulado por um Manasss (2 Rs 23.26), cuja influncia acompanhou
Jud at o dia nove de abril de 586 a.C., quando Nabucodonozor destruiu Jerusalm (este
elemento corporativo que no se manifestou nos Juzes e esteve to presente em Samuel e
Reis fonte de inquietao para von Rad, Teologia 2:333. A diferena entre os perodos
est ligada escolha do povo e ao fato de que uma vez assumida a autoridade real, a
misteriosa identidade corporativa entrava em ao. Alm disso, Israel de fato assumira o
estilo de vida cananeu e trouxera, com isso, sobre si a ira santa do Deus que pronunciara um
(erem, edito de aniquilamento) contra Cana).
A ADMINISTRAO DOS PROPSITOS DE DEUS
O decreto da permisso do mal
No livro de Reis o mal aparece na luta espiritual pelo corao dos reis, primariamente
os da linhagem de Davi, que so confrontados com a escolha de seguir os passos de seu
ilustre antepassado ou os caminhos tortuosos da idolatria, quer em sua verso conforme
Jeroboo, quer na verso baalstica. Outras foras do mal so a guerra entre os reinos
(Norte-Sul) e, no plano poltico da teocracia, a subservincia a potncias estrangeiras com
vistas segurana e sobrevivncia da nao, muitas vezes s custas dos tesouros sagrados
de Israel. Tal prtica foi condenada veementemente pelos profetas como adultrio pactual.
A ao divina em julgar o mal
Essa atividade assumiu formas diversas em Reis. O mal em Israel e Jud foi muitas
vezes purgado por meio de invaso e opresso estrangeira (Yahweh usou egpcios, srios,
moabitas, filisteus, assrios e babilnios para isso). No plano interno, o juzo foi mediado
por profetas (Elias e Eliseu) e reis (Je, que desmantelou o aparato estatal baalista montado
por Acabe e Jezabel [2 Rs 9 e 10] e Jeos, que puniu o idlatra e arrogante Amazias; cf. 2 Cr
25.14).
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A promessa de libertar do mal
essa promessa que garante a subsistncia de Jud na poca do cisma de Jeroboo (1
Rs 11.12,13), no tempo da apostasia de Abias (15.4,5), no tempo da trama diablica de
Atalia para eliminar a linhagem de Davi (2 Rs 11.1), e no quase aniquilamento de Jud
durante a invaso de Senaqueribe (19.24; 20.6).
O decreto de abenoar os eleitos
Essa linha de ao divina est presa aliana davdica, que, no livro, mais notvel
pelo fracasso de seus representantes; isso mantm acesa na mente do leitor a questo de
quando viria o Filho de Davi, to esperado. O propsito divino de restabelecer Seu governo
por intermdio de um rei davdico exigia o surgimento de algum maior do que Davi.
Mesmo seus descendentes mais piedosos, Ezequias e Josias, fracassaram na tarefa de vencer
o mal (cf. Gn 4.7). A linhagem davdica preservada no cativeiro, e os leitores chegam ao
fim do relato insatisfeitos com o resultado, mas esperanosos quanto ao futuro, aguardando
a apario do Filho de Davi e do pleno cumprimento da aliana.
TEMAS TEOLGICOS EM REIS
CULTO E PROFECIA COMO INSTRUMENTOS DA TEOCRACIA
O culto
Uma grande parte da teologia do Antigo Testamento gira em torno do culto mosaico
e do lugar onde este era realizado. A prpria nao s ganhou tal status quando o
tabernculo foi inaugurado e a presena de Yahweh tornou-se visvel ao povo. Com a
entrada em Cana, tornou-se necessrio definir claramente o que era um culto aceitvel,
principalmente pelas semelhanas conceituais e verbais entre o yahwismo e as religies dos
cananeus.
Uma aparente tenso, que existiu desde o comeo da habitao em Cana, foi a
centralizao do culto exigida em Deuteronmio 12, 14 e 16 e a existncia dos famosos
(bmt, altos), em que todo Israel, dos camponeses aos monarcas, adorou. A ala liberal da erudio fez dessa aparente tenso uma tenso real e a base de sua datao recente para
Deuteronmio e outras partes do AT. Talvez seja mais apropriado aceitar a idia proposta
por M. H. Segal de que Deuteronmio no insistia em um lugar nico, mas em que o lugar
fosse divinamente aprovado (i.e., no fosse um local de culto sincrtico) (M. H. Segal, The Book of Deuteronomy, Jewish Quarterly Review 48 (1957-8):315-51). Isso explicaria a nota crtica em relao a alguns reis: Os altos, porm, no foram tirados (1 Rs 15.14; 22.44).).
Quando o templo foi construdo, Israel partiu de uma premissa bsica, a de que o
templo no poderia conter ou limitar Yahweh, que era universal e onipresente (cf. 1 Rs
8.27). O templo era o local de Sua manifestao em glria, beleza, santidade e justia, onde
o desfavorecido e explorado podia buscar ajuda (8.21). A universalidade de Yahweh era
vista no fato de o estrangeiro poder orar a Ele, caso tivesse se identificado com Seu povo
(8.41-43), e no fato de que a orao de Israel no Exlio seria ouvida se dirigida ao templo
(8.46-51). Certamente essa passagem a base da ao de Daniel quando confrontado com o
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edito de Dario (Dn 6) e com o fato dos 70 anos de cativeiro preditos por Jeremias estarem se
cumprindo (Dn 9). Essa prtica permanece na mentalidade islmica.
Infelizmente, com o passar dos sculos, a confiana foi desviada Daquele que
habitava no templo para o Templo em si, o mesmo erro que Israel praticou em relao arca
(1 Sm 4). Jeremias foi o profeta que mais veementemente atacou tal hierolatria (cf. Jr 7).
A profecia
O movimento proftico teve em Samuel seu fundador oficial. A escola de profetas,
ainda incipiente e carismtica em 1 Samuel 10, aparece mais organizada e teolgica nas
narrativas de Elias e Eliseu.
Os profetas aparentemente desfrutavam uma condio implicitamente aceita pela
nao, que os colocava acima dos reis. Isso pode ser creditado ao fato de que Moiss era
visto como o profeta por excelncia e que servira de intermedirio entre Yahweh e Israel. A
etimologia da palavra hebraica (n) incerta, mas certo que em Reis, os profetas ungem e repreendem reis, do conselho baseado em revelao divina e acompanham os exrcitos
guerra (Odede e Eliseu so dois exemplos) como porta-vozes de Deus.
Elias e Eliseu so dois casos peculiares no movimento proftico em Reis, pois
cumprem uma funo scio-poltico-religiosa singular, a de ministrar a graa pactual de
Yahweh na resistncia ao baalismo e no desmantelamento do aparato religioso criado para
sustentar essa falsa religio.
Enquanto o ministrio de Elias foi primariamente de julgamento, o de Eliseu foi de
misericrdia, o que fornece um paralelo marcante aos ministrios de Joo Batista e de Jesus.
ESBOO
I. OS LTIMOS DIAS DE DAVI E A ASCENSO DE SALOMO (1 Rs 1.12.46) A. A velhice de Davi (1.1-4)
B. Adonias reclama o trono (1.5-10)
C. Contra-ao de Nat e Bate-Seba (1.11-27)
D. Davi confirma Salomo como seu sucessor (1.28-40)
E. A insurreio de Adonias fracassa (1.41-53)
F. A instruo de Davi a Salomo (2.1-9)
i. Andar nos caminhos do SENHOR (2.1-4)
ii. Retribuio a Joabe (2.5-6)
iii. Bondade para com Barzilai (2.7)
iv. Retribuio a Simei (2.8-9)
G. Davi sucedido por Salomo (2.10-12)
H. Salomo executa as retribuies (2.13-46)
i. Adonias (2.13-25)
ii. Abiatar, o sacerdote (2.26-27)
iii. Joabe (2.28-35)
iv. Simei (2.36-46)
II. O REINADO DE SALOMO (1 Rs 3.111.43) A. A sabedoria de Salomo (3.14.34)
i. Sabedoria herdada e demonstrada (3.1-28)
a. Um prefcio do reinado (3.1-3)
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b. O dom da sabedoria (3.4-15)
c. Um exemplo da sabedoria dada por Deus a Salomo (3.16-28)
ii. A sabedoria de Salomo na administrao (4.1-34)
a. Os altos oficiais de Salomo (4.1-6)
b. Os distritos administrativos de Salomo (4.7-19)
c. Provises para a corte (4.20-28)
d. A sabedoria de Salomo (4.29-34; heb., 5.9-14)
B. As construes de Salomo (5.19,9) i. A organizao dos materiais e da mo-de-obra (5.1-18; heb. 5.15-32)
a. A aliana com Hiro, rei de Tiro (5.1-12)
b. Uma nota adicional sobre o uso da mo-de-obra de Israel (5.13-18)
ii. A construo do templo (6.1-38)
a. A data da fundao (6.1)
b. A estrutura (6.2-10)
c. Um lembrete da promessa de Deus (6.1-13)
d. O trabalho em madeira do interior (6.14-18)
e. O santurio interior (6.19-28)
f. A ornamentao e as portas (6.29-38)
iii. A construo de seu palcio (7.1-12)
iv. A moblia do templo (7.13-51)
a. Hiro de Tiro (7.13-14)
b. As colunas de bronze de Jaquim e Boaz (7.15-22)
c. O mar de fundio (7.23-26) d. Os utenslios (7.27-39)
e. Resumo dos trabalhos em bronze (7.40-47)
f. Lista de peas de ouro (7.48-51)
v. A dedicao do templo (8.19,9) a. A entrada da arca (8.1-13)
b. A declarao de Salomo (8.14-21)
c. A orao de dedicao de Salomo (8.22-61)
d. A festa de Salomo (8.62-66)
e. O SENHOR aparece mais uma vez a Salomo (9.1-9)
C. Outros feitos de Salomo (9.1011.43) i. Um resumo (9.10-28)
a. Novo acordo com Hiro (9.10-14)
b. O uso de trabalho forado (9.15-23)
c. Mais construes (9.24)
d. Adorao e sacrifcio no templo (9.25)
e. Comrcio martimo de Salomo (9.26-28)
ii. A visita da rainha de Sab (10.1-13)
iii. A riqueza de Salomo (10.14-29)
iv. O esplendor superado pelo fracasso (11.1-43)
a. As esposas de Salomo (11.1-8)
b. O julgamento divino anunciado (11.9-13)
c. Causas polticas da diviso do reino unido (11.14-40)
d. A frmula de encerramento (11.41-43)
III. A HISTRIA DO REINO DIVIDIDO (1 Rs 12.12 Rs 10.36)
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Antigo Testamento II Histricos e Poticos 119
A. A diviso do reino (12.114.20) i. Roboo (12.1-24)
a. A atitude de Roboo (12.1-5)
b. Conselho certo e conselho errado (12.6-15)
c. Israel se divide (12.16-10)
d. O plano de guerra de Roboo impedido (12.21-24)
ii. Jeroboo (12.2514.20) a. O pecado de Jeroboo (12.25-33)
b. Jeroboo e os profetas (13.114,18) c. A frmula de encerramento do reinado de Jeroboo (14.19-20)
B. A histria de cada reinado (14.2116.20) i. Roboo de Jud (14.21-31)
a. Resumo do reinado (14.21-24)
b. Invaso de Sisaque (14.25-28)
c. A frmula de encerramento do reinado de Roboo (14.29-31)
ii. Abias de Jud (15.1-8)
iii. Asa de Jud (15.9-24)
a. Resumo do reinado (15.9-15)
b. Nova guerra contra Israel (15.16-22)
c. A frmula de encerramento do reinado de Asa (15.23-24)
iv. Nadabe de Israel (15.25-32)
v. Baasa de Israel (15.3316.7) vi. El de Israel (16.8-14)
vii. Zinri de Israel (16.15-20)
C. A casa de Onri (16.2122.40) i. Onri de Israel (16.21-28)
ii. Acabe de Israel (16.29-34)
iii. Elias e os profetas contra Acabe (17.122.40) a. Deus preserva Elias (17.1-16)
b. A ressurreio do filho do viva (17.17-24)
c. Confrontao e justificao (18.1-46)
d. Elias encorajado (19.1-18)
e. O chamado de Eliseu (19.19-21)
f. As guerras de Acabe (20.1-34)
g. Um profeta repreende Acabe (20.35-43)
h. A vinha de Nabote (21.1-29)
i. A batalha final de Acabe contra Ar (22.1-38)
j. Nota de encerramento sobre o reinado de Acabe (22.39-40)
D. Histrias dos reinados posteriores (1 Rs22.412Rs 10.36) i. Josaf de Jud (1Rs 22.41-50)
ii. Acazias de Israel (1Rs 22.512Rs 1.18) a. Resumo do reinado (1Rs 22.51-53)
b. Elias e Acazias (2Rs 1.1-8)
c. Elias e o destino dos capites do exrcito (1.9-17a)
d. A frmula de concluso do reinado de Acazias (1.17b-18)
iii. Elias deixa seu sucessor indicado (2.1-25)
iv. Guerra contra Moabe (3.1-27)
a. Moabe se revolta (3.1-12)
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Antigo Testamento II Histricos e Poticos 120
b. Vitria sobre Moabe e promessa de abundncia de guas (3.13-19)
c. Derrota de Moabe (3.20-27)
v. Relatos sobre Eliseu (4.18.15) a. O azeite da viva (4.1-7)
b. O filho da sunamita (4.8-37)
c. A morte na panela (4.38-41)
d. Alimentando uma multido (4.42-44)
e. Naam curado (5.1-27)
f. O machado que flutuou (6.1-7)
g. Os arameus so ludibriados (6.8-23)
h. O cerco a Samaria (6.247.20) i. A sunamita recebe de volta sua propriedade (8.1-6)
j. Eliseu e Hazael (8.7-15)
vi. Histria dos reinados (8.16-29)
a. Jeoro de Jud (8.16-24)
b. Acazias de Jud (8.25-29)
vii. A revoluo de Je (9.110.36) a. Je ungido rei (9.1-13)
b. A morte dos reis de Israel e Jud (9.14-29)
c. Jezabel morte (9.30-37)
d. O extermnio das famlias reais de Israel e Jud e dos adoradores de
Baal (10.1-36)
IV. A HISTRIA DE JUD E ISRAEL AT A QUEDA DO REINO DO NORTE (2Rs
11.117.41) A. Atalia assume o poder em Jud (11.1-20)
i. O plano de Atalia (11.1-3)
ii. O plano de Joiada (11.4-8)
iii. A execuo do plano (11.9-12)
iv. A morte de Atalia (11.13-16)
v. A renovao da aliana(11.17-20)
B. Jos de Jud (11.2112.21) i. Resumo do reinado (11.2112.3) ii. A reforma do templo (12.4-16)
iii. Detalhes histricos (12.17-21)
C. Jeoacaz de Israel (13.1-9)
D. Jeos de Israel (13.10-25)
i. Resumo do reinado (13.10-13)
ii. Eventos finais da vida de Eliseu (13.14-21)
iii. Nota sobre as relaes entre Israel e Har (Sria) (13.22-25)
E. Amazias de Jud (14.1-22)
i. Resumo do reinado (14.1-7)
ii. Israel luta contra Jud (14.8-16)
iii. O fim de Amazias (14.17-22)
F. Jeroboo II de Israel (14.23-29)
G. Azarias de Jud (15.1-7)
H. Zacarias de Israel (15.8-12)
I. Salum de Israel (15.13-16)
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Antigo Testamento II Histricos e Poticos 121
J. Menam de Israel (15.17-22)
K. Pecaas de Israel (15.23-26)
L. Peca de Israel (15.27-31)
M. Joto de Jud (15.32-38)
N. Acaz de Jud (16.1-20)
i. Resumo do reinado (16.1-4)
ii. O ataque siro-efraimita (16.5-6)
iii. O apelo Assria (16.7-9)
iv. Acaz realiza inovaes no templo (16.10-18)
v. A frmula de concluso do reinado de Acaz (16.19-20)
O. Osias e a queda de Israel (17.1-41)
i. A ocasio do exlio (17.1-6)
ii. As razes do exlio de Israel (17.7-18)
iii. Pecado e retribuio em Jud (17.19-20)
iv. Outro resumo do pecado de Israel (17.21-23)
v. Samaria recolonizada (17.24-28)
vi. As diferenas prticas religiosas dos colonos (17.29-41)
V. A HISTRIA DE JUD AT A QUEDA DE JERUSALM (2Rs 18.125-30) A. Ezequias de Jud (18.120.21) i. Seus primeiros anos (18.1-12)
ii. Oposio s ameaas de Senaqueribe a Jerusalm (18.1319.37) a. A campanha de Senaqueribe em Jud (8.13-16)
b. Senaqueribe ameaa Jerusalm (18.17-37)
c. A libertao de Jerusalm prevista (19.1-36)
d. A morte de Senaqueribe (19.37)
iii. Outros incidentes do reinado de Ezequias (20.1-21)
a. A doena de Ezequias (20.1-11)
b. Mensageiros de Merodaque-Balad (20.12-19)
c. Frmula de concluso (20.20-21)
B. Histrias de reinados (21.1-26)
i. Manasss de Jud (21.1-18)
a. Resumo do reinado (21.1-9)
b. A palavra de Deus a Manasss (21.10-15)
c. Demais eventos e a frmula de concluso do reinado (21.16-18)
ii. Amom de Jud (21.19-26)
C. O reinado e a reforma de Josias (22.123-30) i. Resumo do reinado (22.1-3b)
ii. Reparos no templo e a descoberta do livro da lei (22.3b-20)
a. Os reparos no templo (22.3b-7)
b. A descoberta do livro da lei (22.8-10)
c. A consulta (22.11-14)
d. A profecia de Hulda (22.15-20)
iii. Josias renova a aliana (23.1-3)
iv. A purificao do culto nacional (23.4-20)
v. A celebrao da Pscoa (23.21-23)
vi. Outras reformas e o adiamento do julgamento (23.24-27)
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Antigo Testamento II Histricos e Poticos 122
vii. A frmula e encerramento (23.28-30)
D. Os ltimos dias de Jud (23.3125.30) i. Jeoacaz de Jud (23.31-35)
ii. Jeoaquim de Jud (23.3624.7) iii. Joaquim de Jud (24.8-17)
iv. Zedequias de Jud (24.18-20)
v. A queda de Jerusalm (24.2025.21) a. A queda da cidade (25.1-7)
b. A destruio do templo (25.22-26)
vi. Gedalias, governador de Jud (25.22-26)
vii. Apndice: A libertao de Joaquim (25.27-30)
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