1 morfologia bacteriana
Post on 08-Dec-2014
175 Views
Preview:
TRANSCRIPT
1 MORFOLOGIA BACTERIANA
As células bacterianas são caracterizadas morfologicamente pelo seu tamanho, forma e
arranjo.
1.1. Tamanho
- variam de 0,3 por 0,8 micrometros até 10 por 25 micrometros.
- as espécies de maior interesse médico medem entre 0,5 a 1,0 micrometros por 2 a 5 micrometros.
1.2. Forma e arranjo
1.2.1. Formas de cocos (esféricas): grupo mais homogêneo em relação a tamanho sendo células
menores. Os cocos tomam denominações diferentes de acordo com o seu arranjo:
- Diplococos: cocos agrupados aos pares.
Ex: Neisseria meningitides (meningococo).
- Tétrades: agrupamentos de quatro cocos.
- Sarcina: agrupamentos de oito cocos em forma cúbica.
Ex: espécie Sarcina.
- Estreptococos: cocos agrupados em cadeias.
Ex: Streptococcus salivarius, Streptococcus pneumoniae (pneumococo).
Streptococcus mutans.
- Estafilococos: cocos em grupos irregulares, lembrando cachos de uva.
Ex: Staphylococcus aureus.
- Micrococos: cocos que se separam completamente após a divisão celular.
1.2.2. Forma de bastonete: são células cilíndricas, em forma de bastonetes que apresentam grande
variação na forma e tamanho entre gêneros e espécies. Dentro da mesma espécie os bastonetes são
relativamente constantes sob condições normais de crescimento, podendo variar em tamanho e
espessura (longos e delgados pequenos e grossos, extremidade reta, convexa ou arredondada).
Quanto ao arranjo podem variar em :
- Diplobacilo: bastonetes agrupados aos pares.
- Estreptobacilos: bastonetes agrupados em cadeias.
- Paliçada: bastonetes alinhados lado a lado como palitos de fósforo.
Ex: bacilo da difteria.
- Tricomas: similares a cadeias de bastonetes, mas com uma área de contato
muito maior entre as células adjacentes
Ex: espécies Beggiatoa e Saprospira
1.2.3. Formas helicoidais ou espiraladas: constituem o terceiro grupo morfológico sendo
caracterizada por células de forma espiral que se dividem em:
- Espirilos: possuem corpo rígido e se movem às custas de flagelos externos,
dando uma ou mais voltas espirais em torno do próprio eixo.
Ex: Aquaspirillium
- Espiroquetas: São flexíveis e locomovem-se provavelmente às custas de
contrações do citoplasma, podendo dar várias voltas completas em torno do
próprio eixo.
Ex: Treponema pallidum, Treponema denticola.
Além desses três tipos morfológicos, existem algumas formas de transição. Quando os bacilos
são muito curtos, podem se assemelhar aos cocos, sendo então chamados de cocobacilos (Ex:
Brucella melitensis). Quando as formas espiraladas são muito curtas, assumindo a forma de vírgula,
eles são chamados de vibrião (Ex: V. cholerae).
2 CITOLOGIA BACTERIANA
O tamanho, a forma e o arranjo das bactérias constituem sua morfologia grosseira, sua
aparência externa; a observação interna das estruturas celulares dá-nos uma ideia de como a bactéria
funciona no ambiente.
2.1. Flagelos
Flagelos são organelas especiais de locomoção, constituídas por uma estrutura protéica
denominada flagelina, formando longos filamentos delgados e ondulados de 3-12 micrometros que
partem do corpo da bactéria e se estendem externamente à parede celular. Um flagelo tem três
partes: o corpo basal (estrutura composta por vários anéis que ancora o flagelo à membrana
citoplasmática), uma estrutura curta em forma de gancho e um longo filamento helicoidal.
O flagelo propulsiona a bactéria através do líquido podendo chegar a 100 micrometros por
segundo (o equivalente a 3000 vezes o seu comprimento por minuto). O método exato do
movimento é desconhecido (contração das cadeias protéicas - movimento ondulatório; movimento
rotatório a partir da extremidade fixa – gancho) e aparentemente a energia vem da degradação de
ligações energéticas de fosfato. Em geral a motilidade ocorre ao acaso embora as vezes esteja
relacionado com quimiotaxia.
As bactérias recebem denominações especiais de acordo com a distribuição dos flagelos:
atríquias (sem flagelo); monotríquias (um flagelo em uma das extremidades); anfitríquias (um
flagelo em cada extremidade); lofotríquias (tufo de flagelos em uma ou ambas as extremidades); e
peritríquias (cercadas de flagelos).
2.2. Fímbrias
As fímbrias ou "Pili" são organelas filamentosas mais curtas e delicadas que os flagelos,
constituídas por uma proteína chamada pilina e presentes em muitas bactérias (especialmente Gram
negativas). Elas originam-se de corpúsculos basais na membrana citoplasmática e sua função parece
estar relacionada com a troca de material genético durante a conjugação bacteriana (fímbria sexual),
e também com a aderência às superfícies mucosas. As fímbrias podem ser removidas sem
comprometimento da viabilidade celular e regeneram rapidamente.
2.3. Cápsula
Muitas bactérias apresentam externamente à parede celular, uma camada viscosa denominada
cápsula que constitui uma forma de proteção da bactéria contra as condições externas desfavoráveis.
Tal formação pode ser evidenciada com a ajuda de métodos especiais de coloração (nanquim).
Geralmente as cápsulas são de natureza polissacarídea (homopolissacarídeas, composta por um
único tipo de açúcar ou heteropolissacarídeas, composta por diferentes açúcares), embora também
possam ser constituídas por polipeptídeos. A cápsula está relacionada com a virulência da bactéria
pois confere resistência à fagocitose, de modo que, em uma mesma espécie, as amostras capsuladas
são mais virulentas que as não capsuladas.
Nas bactérias desprovidas de cápsula ocorre a formação de um envoltório viscoso delgado
chamado de camada limosa (slime layer) ou por um material limoso mal delimitado (loose slime).
2.4. Parede celular
A parede celular bacteriana é uma estrutura rígida que recobre a membrana citoplasmática e
confere forma às bactérias. Ela é constituída por ácido diaminopimérico (DPA), ácido murâmico e
ácido teicóico além de aminoácidos, carboidratos e lipídeos. Todos esses compostos estão reunidos
para formar substâncias poliméricas complexas que por sua vez estruturam a parede celular.
Uma macromolécula complexa denominada peptideoglicana (também chamada de
mucopeptídeo ou mureína) forma a estrutura rígida da parede. Além disso, a parede celular protege
a célula, mantém a pressão osmótica intrabacteriana, impedindo o rompimento da célula devido à
entrada de água, e funciona como suporte de antígenos somáticos bacterianos.
A divisão das bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, de acordo com sua resposta à
coloração de Gram é decorrente das diferenças na composição e estrutura da parede celular.
- Gram Positivas: possuem uma quantidade maior de peptideoglicano em sua parede celular, o que
torna a parede dessas bactérias mais espessa e rígida do que a das bactérias Gram negativas.
Composta de proteídas, lipídeos, peptideoglicano e ácidos teicóicos (cadeias de polifosfato com
resíduos de ribitol e glicerol), essas bactérias são sensíveis à lisozima e sua parede constitui o local
de ação de alguns antibióticos além de apresentar elementos básicos para identificação sorológica.
- Gram Negativas: a parede celular dessas bactérias é menos espessa e elas são mais complexas do
que as Gram positivas por apresentarem uma membrana externa cobrindo a fina camada de
peptídeoglicano. A membrana externa é o que distingue as bactérias Gram negativas, servindo
como uma barreira seletiva para a entrada e saída de algumas substâncias da célula e podendo ainda
causar efeitos tóxicos sérios em animais infectados. A estrutura da membrana externa é composta
por fosfolipídios, lipoproteínas e lipopolissacarídeos (LPSs). Os lipopolissacarídeos estão
localizados exclusivamente na camada externa da membrana, enquanto que os fosfolipídeos estão
presentes quase completamente na camada interna. Os LPSs são compostos por três segmentos
ligados covalentemente: (1) lipídeo A, firmemente embebido na membrana; (2) cerne do
polisssacarídeo, localizado na superfície da membrana; e (3) antígenos O, que são polissacarídeos
que se estendem como pêlos a partir da superfície da membrana em direção ao meio circundante. A
porção lipídica do LPS é também conhecida como endotoxina e pode atuar como um veneno,
causando febre, diarréia, destruição das células vermelhas do sangue e um choque potencialmente
fatal.
2.5. Membrana Citoplasmática
A membrana citoplasmática tem espessura de aproximadamente 10 nm e separa a parede
celular do citoplasma. É constituída principalmente de lipídeos, proteínas, desempenhando
importante papel na permeabilidade seletiva da célula (funciona como uma barreira osmótica). Ela
difere da membrana citoplasmática das células eucarióticas por:
- não apresentar esteróides em sua composição;
- ser sede de numerosas enzimas do metabolismo respiratório (mesmas funções das cristas
mitocondriais);
- controlar a divisão bacteriana através dos mesossomos.
2.6. Mesossomos
Os mesossomos são invaginações da membrana citoplasmática que podem ser simples
dobras ou estruturas tubulares ou vesiculares. Eles podem colocar-se próximos à membrana
citoplasmática ou afundar-se no citoplasma. Os mesossomos profundos e centrais parecem estar
ligados ao material nuclear da célula estando envolvidos na replicação de DNA e na divisão celular.
Os mesossomos periféricos penetram muito pouco no citoplasma, não são restritos à
localização central da bactéria e não estão associados com o material nuclear. Parecem estar
envolvidos na secreção de certas enzimas a partir da célula, tais como as penicilinases que destroem
a penicilina. Alguns autores associam ainda aos mesossomos o valor funcional das mitocôndrias,
atribuindo à eles papel na respiração bacteriana.
2.7. Estruturas Celulares Internas
2.7.1. Área Citoplasmática:
- Citoplasma: em qualquer célula, o citoplasma tem em torno de 80% de água, ácido nucléicos,
proteínas, carboidratos, lipídeos, íons inorgânicos, compostos de baixo peso molecular e partículas
com várias funções. Esse fluido denso é o sítio de muitas reações químicas.
- Ribossomos: estão presentes em grande número nas células bacterianas conferindo ao citoplasma
aparência granular quando observado ao microscópio eletrônico. O conjunto de diversos
ribossomos, que durante a síntese protéica está ligado a uma molécula de RNAm recebe o nome de
polissomo.
- Grânulos de reserva: embora as células procarioticas não apresentem vacúolos, podem acumular
substâncias sob a forma de grânulos de reserva, constituídos de polímeros insolúveis. São comuns
polímeros de glicose, fosfato inorgânico e lipídeos.
2.7.2. Área nuclear:
- Nucleóide: as bactérias apresentam um cromossomo circular constituído por uma única molécula
de DNA não delimitado por membrana nuclear. O cromossomo bacteriano contém todas as
informações necessárias à sobrevivência da célula e é capaz de auto-duplicação.
- Plasmídeo: algumas bactérias possuem moléculas menores de DNA, também circulares, cujos
genes não codificam características essenciais, porém muitas vezes conferem vantagens seletivas à
bactéria que as possue. Essas moléculas chamadas plasmídeos são capazes de auto-duplicação
independente da replicação do cromossomo, e podem existir em número variável no citoplasma
bacteriano.
2.8. Esporos
Os esporos que se formam dentro da célula, chamados endosporos, são exclusivos das
bactérias (principalmente as pertencentes ao gênero bacillus e clostridium). Eles possuem parede
celular espessa, são altamente refrateis (brilham muito com a luz do microscópio) e altamente
resistentes a agentes físicos (dessecação e aquecimento) e químicos (antisépticos) adversos devido a
sua parede ou capa impermeável composta de ácido dipicolínico.
Os esporos surgem quando a célula bacteriana não se encontra em um meio ideal para o seu
desenvolvimento. A bactéria produtora pode crescer e multiplicar-se por muitas gerações como
células vegetativas. Em alguma etapa do desenvolvimento, em ambiente com exaustão de fontes de
carbono e nitrogênio ou completa falta de nutrição, ocorre no interior do citoplasma vegetativo a
síntese do esporo (sua formação leva por volta de 6 horas). Ela é iniciada pela condensação de uma
nucleoproteína no citoplasma que migra para a extremidade da célula enquanto estae o citoplasma
são envolvidos por uma membrana dupla derivada da membrana citoplasmática. O tegumento é
formado na membrana dupla e o citoplasma sofre condensação para completar a formação do cerne.
Os esporos têm pouca atividade metabólica, podendo permanecer latente por longos períodos,
representando uma forma de sobrevivência e não de reprodução.
3 FISIOLOGIA BACTERIANA
O crescimento e divisão celulares necessitam de um ambiente propício com todos os
constituintes químicos e físicos necessários para o seu metabolismo. Essas necessidades específicas
são dependentes de informações genéticas para cada espécie bacteriana. Algumas espécies com
vasta flexibilidade nutricional são capazes de sintetizar muitos de seus metabólitos a partir de
precursores simples, enquanto, outras espécies são mais exigentes e necessitam de nutrientes
complexos para o seu crescimento e reprodução.
3.1. Nutrição
A análise das estruturas bacterianas revela que sua arquitetura é formada por diferentes
macromoléculas, em particular, proteínas e ácidos nucléicos. Os precursores das macromoléculas
podem ser retirados do meio ambiente ou ser sintetizado pelas bactérias a partir de compostos mais
simples. A alternativa escolhida vai depender da disponibilidade do composto no meio e da
capacidade de síntese do microrganismo. As substâncias ou elementos retirados do ambiente e
usados para construir novos componentes celulares ou para obter energia são chamados nutrientes.
Os nutrientes podem ser divididos em duas classes: macronutrientes e micronutrientes. Ambos os
tipos são imprescindíveis, mas os primeiros são requeridos em grandes quantidades por serem os
principais constituintes dos compostos orgânicos celulares e / ou serem utilizados como
combustível.
3.2. Macronutrientes
Carbono: Está presente na maioria das substâncias que compõem as células. As bactérias podem
utilizar o carbono inorgânico existente no ambiente, na forma decarbonatos ou de CO2 como única
fonte de carbono. São nestes casos chamadas de autotróficas.Os microrganismos que
obrigatoriamente requerem uma fonte orgânica de carbono são denominados heterotróficos e as
principais fontes, são os carboidratos.
Oxigênio: É requerido na forma molecular como aceptor final na cadeia de transporte de elétrons
aeróbia. Também é elemento importante em várias moléculas orgânicas e inorgânicas.
Hidrogênio: Como componente muito freqüente da matéria orgânica e inorgânica, também
constitui um elemento comum de todo material celular.
Nitrogênio: É componente de proteínas e ácidos nucléicos, além de vitaminas e outros compostos
celulares. Está disponível na natureza sob a forma de gás (N2) ou na forma combinada. Sua
utilização como N2 é restrita a um grupo de bactérias cujo principal habitat é o solo. Na forma
combinada, o nitrogênio é encontrado como matéria inorgânica (NH3 , NO3-,etc.) ou matéria
orgânica: aminoácidos, purinas e pirimidinas.
Enxofre: Faz parte de aminoácidos (cisteína e metionina), de vitaminas e de várias proteínas
importantes em reações de óxido-redução. Da mesma forma que o nitrogênio, o enxofre pode ser
encontrado no ambiente nas formas elementar, oxidada e reduzida; estas duas últimas aparecem
como compostos orgânicos e inorgânicos. Todas as alternativas citadas podem ser utilizadas pelas
bactérias, porém são os sulfatos (SO4-2) inorgânicos ou os aminoácidos as formas preferencialmente
assimiladas. Na forma oxidada, também pode ser aceptor final de elétrons das cadeias de transporte
de elétrons anaeróbias.
Fósforo: É encontrado na célula na forma combinada a moléculas importantes como os
nucleotídeos (ATP, CTP, GTP, UTP, TTP) e como fosfato inorgânico; nesta última forma é
incorporado através de poucas reações metabólicas, embora uma delas seja de fundamental
importância: a síntese de ATP a partir de ADP e fosfato. As substâncias fosforiladas podem estar
envolvidas com o armazenamento de energia ( como o ATP) ou atuar como reguladoras de
processos metabólicos: muitas enzimas tornam-se ativas ao serem fosforiladas.
3.3. Micronutrientes
Os elementos ferro, magnésio, manganês, cálcio, zinco, potássio, sódio, cobre, cloro,
cobalto, molibdênio, selênio e outros são encontrados sempre na forma inorgânica, fazendo parte de
minerais. São necessários ao desenvolvimento microbiano, mas em quantidades variáveis,
dependendo do elemento e do microrganismo considerados. Os micronutrientes podem atuar de
diferentes maneiras, tendo como funções principais:
- componentes de proteínas, como o ferro que participa da composição de várias proteínas
enzimáticas ou não, de citocromos, etc.
- cofatores de enzimas, como o magnésio, potássio, molibdênio, etc.
- Componentes de estruturas, como o cálcio, presente em um dos envoltórios dos esporos;
- Osmorreguladores.
3.4 Condições de cultivo
Para se cultivar microrganismos deve-se obedecer a requisitos básicos obrigatórios, quais
sejam incubá-los em meios de cultura adequados e incubá-los em condições ambientais igualmente
adequadas. Um inóculo é uma amostra de material contendo geralmente uma pequena quantidade
de microrganismos; obedecidas as condições citadas, os microrganismos contidos no inóculo
multiplicam-se, aumentando em número e massa e, com isto, atingindo o objetivo desejado.
3.4.1. Meios de Cultura
Meio de cultura é uma mistura de nutrientes necessários ao crescimento microbiano.
Basicamente deve conter a fonte de energia e de todos os elementos imprescindíveis à vida das
células. A formulação de um meio de cultura deve levar em conta o tipo nutritivo no qual o
microrganismo pertence, considerando-se a fonte de energia (luz ou substância química), o
substrato doador de elétrons (orgânico ou inorgânico) e a fonte de carbono (orgânica ou inorgânica).
Estabelecidas as condições gerais, o meio de cultura deve ainda atender as necessidades específicas
do grupo, da família, do gênero ou da espécie que se deseja cultivar. Assim, é imprescindível
acrescentar ao meio vitaminas, cofatores, aminoácidos, etc., quando estes compostos não são
sintetizados pelos microrganismos que se deseja cultivar.
3.4.2. Fatores de crescimento
Entre as bactérias heterotróficas há uma imensa variedade de exigências nutritivas. Algumas
são capazes de crescer em meio muito simples, constituído de uma solução de glicose, sal de
amônio e alguns sais minerais. A partir desses compostos, sintetizam todos os componentes do
protoplasma: proteínas, polissacarídeos, ácidos nucléicos, coenzimas, etc. Outras, todavia, são
incapazes de sintetizar determinados compostos orgânicos essenciais para o seu metabolismo. Para
que estes microrganismos possam crescer, tais compostos devem ser obtidos do meio natural ou
artificial em que vivem. Essas substâncias são denominadas fatores de crescimento. Muitos desses
fatores são componentes de coenzimas, que, para o homem, são vitaminas. Na realidade, certas
vitaminas, como o ácido fólico, foram descobertas por serem necessárias ao crescimento de
determinadas bactérias. As composições dos meios de cultura, portanto, podem ser muito variadas.
Um meio pode ter uma composição simples, contendo um único carboidrato como fonte de
energia e carbono e alguns sais minerais; em outro extremo estão os meios requeridos por
microrganismos mais exigentes, apresentando composição complexa, contendo várias fontes de
carbono e energia, vitaminas e aminoácidos, podendo ainda ser acrescidos de sangue ou soro de
animais. Além da composição qualitativa, o meio de cultura deve obedecer aos limites de
quantidade de cada componente suportáveis pelos microrganismos. Muitas vezes o meio de cultura
deve conter substâncias para neutralizar a ação de produtos tóxicos lançados pelos próprios
microrganismos, que sofrem os efeitos de seu acúmulo.
Um exemplo rotineiro é adição de tampões para impedir a queda de pH provocada pelos
ácidos orgânicos produzidos por fermentação bacteriana.Os meios podem ser líquidos, quando são
uma solução aquosa de nutrientes, ou sólidos, quando a solução aquosa é gelificada por um
polissacarídeo extraído de algas, o ágar. O meio sólido é obrigatoriamente usado quando se
pretende separar células. Cada célula individualizada ou agrupamento isolado dá origem, por
multiplicação, a um aglomerado que constitui uma colônia. Colônias de diferentes espécies
geralmente apresentam características morfológicas diferentes. Os meios de cultura podem ser
seletivos, quando contêm uma substância que inibe o crescimento de um determinado grupo de
microrganismos, mas permite o desenvolvimento de outros.
3.5 Influências de fatores ambientais
A tomada de nutriente e posterior metabolismo são influenciados por fatores físicos e
químicos do meio ambiente. Os principais fatores são: temperatura, pH, presença de oxigênio,
pressão osmótica e luz.
3.5.1 Temperatura
Cada tipo de bactéria apresenta uma temperatura ótima de crescimento, em torno desta
temperatura observa-se um intervalo dentro do qual o desenvolvimento também ocorre, sem, no
entanto, atingir o seu máximo. Ultrapassado o limite superior, rapidamente ocorre desnaturação do
material celular e, conseqüentemente, a morte da célula. As temperaturas inferiores à ótima levam a
uma desaceleração das reações metabólicas, com diminuição da velocidade de multiplicação
celular, que em caso extremo, fica impedida.
As variações quanto ao requerimento térmico permite classificar as bactérias segundo a
temperatura ótima para o seu crescimento, em:
- psicrófilas: entre 12 e 17º C
- mesófilas: entre 28 e 37ºC
- termófilas: 57 e 87ºC
Embora grupos excêntricos, que necessitam de altas temperaturas para o seu crescimento, a maioria
concentra-se no grupo de mesófilas, principalmente as de interesse médico, veterinário e
agronômico.
3.5.2 pH
Os valores de pH em torno da neutralidade são os mais adequados para absorção de
alimentos para a grande maioria das bactérias. Existem, no entanto, grupos adaptados a viver em
ambientes ácidos e alcalinos.
3.5.3. Oxigênio
O oxigênio pode ser indispensável, letal ou inócuo para as bactérias, o que permite
classificá-las em:
- Aeróbias estritas: exigem a presença de oxigênio, como as do gênero Acinetobacter.
- Microaerófilas: necessitam de baixos teores de oxigênio, como o Campylobacter jejuni.
-Facultativas: apresentam mecanismos que as capacitam a utilizar o oxigênio quando disponível,
mas desenvolver-se também em sua ausência. Escherichia coli e várias bactérias entéricas tem esta
característica.
- Anaeróbias estritas: não toleram o oxigênio. Ex.: Clostridium tetani, bactéria produtora de
potente toxina que só se desenvolve em tecidosnecrosados carentes de oxigênio.
3.6. Exoenzimas
A seletividade da membrana citoplasmática impede que macromoléculas como proteínas,
amido, celulose e lipídeos sejam transportados para o interior da célula. Para essas moléculas serem
utilizadas pelos microrganismos, é necessário compostos menores, aos quais as membranas são
permeáveis. A quebra das moléculas é promovida por enzimas hidrolíticas, denominadas
exoenzimas por atuarem fora da membrana citoplasmática. As exoenzimas apresentam
especificidade pelo substrato, atuando sobre proteínas ou amidos, ou determinados lipídeos, e
constituem um fator de virulência, uma vez que podem hidrolisar componentes estruturais de
tecidos, conferindo ao microrganismo capacidade invasora e de permanência em outros organismos
vivos. Além de estarem associadas à nutrição dos microrganismos, as exoenzimas podem contribuir
para a sua sobrevivência, uma vez que catalisam a hidrólise de substâncias que lhes são tóxicas ou
mesmo letais.
3.7. Reprodução Bacteriana
- Crescimento: Aumento do protoplasma celular pela síntese de ácidos nucléicos, proteínas,
polissacarídeos e lipídeos; e, absorção de água e eletrólitos. Termina na divisão celular.
- Multiplicação: Resposta necessária à pressão de crescimento.
Modo de reprodução
- Cissiparidade: Formação de um septo equatorial na região do mesossomo e divisão da célula-
mãe, em duas células filhas. “Cocos” em qualquer direção, “bacilos e espirilos”, no sentido
transversal.
3.8 Curva de crescimento bacteriano
Embora as bactérias desenvolvam-se bem em meios de cultura sólidos, os estudos de
crescimento são feitos essencialmente em meios líquidos e as considerações que seguem são válidas
para essas condições. Quando uma determinada bactéria é semeada num meio líquido de
composição apropriada e incubada em temperatura adequada, o seu crescimento segue uma curva
definida e característica.
Fase lag (A): esta fase de crescimento ocorre quando as células são transferidas de um meio para
outro ou de um ambiente para outro. Esta é a fase de ajuste e representa o período necessário para
adaptação das células ao novo ambiente. As células nesta fase aumentam no volume total em quase
duas ou quatro vezes, mas não se dividem. Tais células estão sintetizando DNA, novas proteínas e
enzimas, que são um pré-requisito para divisão.
Fase exponencial ou log (B): nesta fase, as células estão se dividindo a uma taxa geométrica
constante até atingir um máximo de crescimento. Os componentes celulares como RNA, proteínas,
peso seco e polímeros da parede celular estão também aumentando a uma taxa constante. Como as
células na fase exponencial estão se dividindo a uma taxa máxima, elas são muito menores em
diâmetro que as células na fase Lag. A fase de crescimento exponencial normalmente chega ao final
devido à depleção de nutrientes essenciais, diminuição de oxigênio em cultura aeróbia ou acúmulo
de produtos tóxicos.
Fase estacionária (C): durante esta fase, há rápido decréscimo na taxa de divisão celular.
Eventualmente, o número total de células em divisão será igual ao número de células mortas,
resultando na verdadeira população celular estacionária. A energia necessária para manter as células
na fase estacionária é denominada energia de manutenção e é obtida a partir da degradação de
produtos de armazenamento celular, ou seja, glicogênio, amido e lipídeos.
Fase de morte ou declínio (D): quando as condições se tornam fortemente impróprias para o
crescimento, as células se reproduzem mais lentamente e as células mortas aumentam em números
elevados. Nesta fase o meio se encontra deficiente em nutrientes e rico em toxinas produzidas pelos
próprios microrganismos.
3.9 Metabolismo bacteriano
Uma vez garantidos pelo ambiente os nutrientes e as condições adequadas para assimilá-
los, as bactérias vão absorvê-los e transformá-los para que cumpram suas funções básicas, quais
sejam, o suprimento de energia e de matéria prima. Como matéria-prima, os nutrientes vão ser
transformados em estruturas celulares ou em moléculas acessórias à sua síntese e funcionamento.
3.9.1. Obtenção de energia
As substâncias com alto valor energético são sempre aquelas com elevado grau de
redução, e grande parte das bactérias (exceção às fotossintetizantes) vai obter toda energia de que
necessita por oxidação desses substratos. As substâncias preferencialmente oxidadas por
microrganismos são os açúcares, seguidos de proteínas, peptídios e, mais raramente, as gorduras. As
bactérias utilizam energia para o transporte de nutrientes, o movimento dos flagelos, mas, sobretudo
para as biossínteses. WIELAND (1912), reconheceu que a maioria das reações biológicas ocorre na
ausência de oxigênio, por desidrogenação. Em biologia, pode-se dizer que a perda de um elétron
equivale a perda de um hidrogênio. Pode-se, então, definir oxidação como o ganho de um
hidrogênio e redução como a perda de um hidrogênio.
3.9.2 Fermentação
Metabolismo no qual os compostos orgânicos servem como doadores e receptores de
elétrons (hidrogênio). A fermentação conduz, geralmente, à cisão parcial de moléculas de glicose
(glicólise).
– Conceito antigo (clássico): decomposição microbiana de carboidratos na ausência de oxigênio.
Dentre os vários tipos de fermentação, pode-se citar:
– Fermentação homolática: produção de ácido lático como produto final.
– Fermentação alcoólica: produção de álcool como produto final.
– Fermentação mista: produção de álcool, ácido e gás.
– Fermentação butileno-glicólica: produção do butileno glicol (não ácido) como produto final.
3.9.3 Putrefação
Decomposição de compostos nitrogenados (proteínas), utilizando-se de substância orgânica
como aceptor-doador de elétrons. É um tipo de fermentação que produz produtos finais de odor
desagradável: indol, escatol, ácido sulfídrico.
3.9.4. Respiração
Decomposição microbiana de substratos cujo receptor de hidrogênio é o oxigênio.
Na respiração ocorrem as seguintes etapas:
a) Ciclo de Krebs;
b) Cadeia transportadora de elétrons;
c) Fosforilação oxidativa.
3.9.5. Respiração anaeróbica
Quando o oxigênio é substituído por outro receptor inorgânico de elétrons.
4 ESTERILIZAÇÃO E DESINFECÇÃO
4.1 Esterilização
A esterilização de meios, soluções e material de vidro ou metal que se utiliza é muito
importante na microbiologia. Uma das formas de esterilização obtém-se através do uso da
Autoclave, para grandes quantidades de meios, ou de uma panela de pressão, para pequenas
quantidades de meios. Um produto é microbiologicamente estéril quando não contem nenhuma
forma de microrganismo vivo. A assepsia é extremamente importante na microbiologia. Entende-se
por assepsia todas as condições, gestos e atitudes tendentes a manterem o estado de ausência de
microrganismos contaminantes no meio em que atua.
Alguns instrumentos de dissecção como tesouras, pinças podem ser esterilizadas
mergulhando em 70% de álcool (70 ml de etanol absoluto e 30 ml de água destilada).
O material contaminado, por exemplo, as alças que tocaram em cultura de bactérias, devem
ser descontaminados através da chama de um bico de Bunsen, aparelho igualmente necessário num
laboratório de microbiologia. As bocas de tubos contendo cultura de bactérias, as bocas de frascos
de vidro contendo os meios de cultura, devem sempre que destampados ser chamuscados à chama
do Bunsen. Meios contaminados com as culturas de bactérias devem ser descontaminados por
autoclavagem, e em seguida despejados em sacos plásticos fortes. Placas de Petri de plástico com
culturas, bem como outro material de plástico utilizado, devem ser colocados em sacos de plástico e
enviados para incineração. O material de vidro contaminado por sua vez após autoclavagem deve
ser lavado com lexivia e detergente, passado por água destilada e seco na estufa de secagem. As
pipetas de vidro utilizadas no laboratório deverão ser imersas numa proveta de plástico grande
contendo lexivia ou outro liquido desinfectante, e posteriormente lavadas e autoclavadas. As
bancadas devem ser esterilizadas passando um líquido desinfectante, e idealmente o laboratório
deve ser isolado, ou então o trabalho deverá ser realizado dentro de uma câmara de fluxo laminar.
4.1.1 Radiação
4.1.1.1 Radiação Ionizante
A radiação ionizante é um método de esterilização que utiliza a baixa temperatura, portanto
que pode ser utilizado em materiais termossensíveis. Certos átomos possuem a propriedade de
emitirem ondas ou partículas de acordo com a instabilidade de seus núcleos, esta propriedade é
chamada de radioatividade. Alguns elementos, como o Rádio e o Urânio, são naturalmente
radioativos pois possuem seus núcleos instáveis, outros são produzidos artificialmente, como o
Cobalto 60 e Césio 137. A radiação ionizante é assim quando possui a capacidade de alterar a carga
elétrica do material irradiado por deslocamento de elétrons. Para fins de esterilização industrial as
fontes de raios beta e gama são as utilizadas.
4.1.1.1.1 Radiação Beta
Este tipo de radiação é conseguido através da desintegração natural de elementos como o
Iodo 131 ou Cobalto 60, ou ainda artificialmente por meio de máquinas aceleradoras de elétrons
(eléctron beam). O eléctron beam é utilizado para a esterilização de materiais plásticos de baixa
espessura.
4.1.1.1.2 Radiação Gama
É produzida pela desintegração de certos elementos radioativos, o mais utilizado é o Cobalto
60. Os raios gama possuem grande penetração nos materiais.
4.1.1.2 Utilização
Este tipo de esterilização é utilizada, especialmente, em artigos descartáveis produzidos em
larga escala (fios de sutura, luvas e outros).
4.1.1.3 Mecanismos de ação
A ação antimicrobiana da radiação ionizante se dá através de alteração da composição
molecular das células, modificando seu DNA. As células sofrem perda ou adição de cargas
elétricas.
Existem fatores ambientais, físicos e alguns compostos que influenciam na resposta celular à
radiação aumentando ou diminuindo sua sensibilidade a esta. Há também microrganismos que são
mais resistentes à radiação, como os esporos bacterianos; as leveduras e fungos têm resistência
considerada média e os gram negativos têm baixa resistência à radiação.
4.1.2 Vantagens
-Possui alto poder de penetração.
-Atravessa embalagens de papelão, papel ou plástico.
-O material que se esteriliza não sofre danos físicos ou outros que podem ocorrer nos demais
processos.
4.1.3 Desvantagens
-Custo elevado.
-Necessidade de pessoal especializado.
-Necessidade de controle médico constante para o pessoal que trabalha.
-Conhecimentos escassos sobre o assunto nesta área - esterilização.
4.1.4 Proteção
A exposição à radiação ocupacional tem seus limites estabelecidos pela Comissão Nacional
de Energia Nuclear - CNEN - e as normas técnicas para seu uso são regulamentadas pelo Estado de
São Paulo.
O uso de dosímetros (de uso pessoal) é necessário para que se avalie a exposição do
indivíduo à radiação. Estes dosímetros registram a radiação acumulada. Além da utilização de
dosímetros, testes laboratoriais e avaliações clínicas devem ser realizados periodicamente para se
detectar alguma complicação ou alteração clínica.
4.1.1.2 Radiação não ionizante
As radiações não ionizantes, a luz ultravioleta, são aquelas menos energéticas. A luz
ultravioleta compreende a porção do espectro que vai de 150 a 3900 A, porém o comprimento de
onda que possui maior atividade bactericida está ao redor de 2650 A.
A luz solar tem poder microbicida em algumas condições, pois a energia radiante da luz do
sol é composta basicamente de luz ultravioleta e na superfície terrestre o comprimento de onda
desta varia de 2870 a 3900 A, as de comprimento mais baixo são filtradas pela camada de ozônio,
pelas nuvens e pela fumaça.
4.1.1.2.1 Mecanismo de ação
A radiação não ionizante é absorvida por várias partes celulares, mais o maior dano ocorre
nos ácidos nucléicos, que sofrem alteração de suas pirimidas. Formam-se dímeros de pirimida e se
estes permanecem (não ocorre reativação), a réplica do DNA pode ser inibida ou podem ocorrer
mutações.
4.1.1.2.2 Mecanismo de reativação
4.1.1.2.2.1 Foto reativação
Após uma exposição à radiação não ionizante, uma suspensão bacteriana terá ainda uma
pequena parte de células viáveis, ou seja, capazes de formar colônias. Se a suspensão bacteriana
após ser exposta à luz ultravioleta, ser então exposta à luz visível, a parte de células que restam
ainda viáveis será maior. Este fenômeno ocorre devido a uma enzima fotodependente, que realiza a
clivagem dos dímeros de timina do DNA, recuperando sua estrutura normal; então células que
foram aparentemente lesadas sofrem uma reativação à luz visível, esta reativação porém nunca
atinge 100% das células (APECIH, 1998).
4.1.1.2.2.2 Reativação no escuro
Alguns microrganismos podem ainda realizar um processo de reparação da estrutura do
DNA, através de um mecanismo que requer uma sequência de reações enzimáticas. Uma enzima
endonuclease dímero-específica e uma exonuclease dímero-específica extraem o dímero de
pirimidas formado. A parte retirada é restaurada por outras enzimas, a DNA-polimerase que
sintetiza o segmento faltante, e a DNA-ligase que restabelece o posicionamento do segmento.
4.1.1.2.3 Aplicações
A radiação ultravioleta não pode ser utilizada como processo de esterilização. Fatores
como matéria orgânica, comprimento de onda, tipo de material, tipo de microrganismo e
intensidade da radiação interferem na sua ação germicida. Além disso, a radiação não ionizante
não tem poder de penetração, age apenas sobre a superfície onde os raios incidem e não
atravessam tecidos, líquidos, vidros, nem matéria orgânica. Alguns autores relatam ainda que o
vírus HIV tem alta resistência à luz ultravioleta. A aplicação da luz ultravioleta em hospitais se
restringe à destruição de microrganismos do ar ou inativação destes em superfície.
4.2 Calor
4.2.1 Calor úmido
Atua desnaturando e coagulando as proteínas das células microbianas, a água vai influenciar
a destruição das membranas e enzimas, pois pode induzir a destruição das ligações de hidrogênio, o
que vai tornar estes processos mais eficazes e diminuir o tempo de exposição.
4.2.1.1 Autoclave
Autoclavagem é a exposição do material a vapor de água sob pressão, a 121 °C durante
15min. É o processo mais usado e os materiais devem ser embalados de forma a permitirem o
contato total do material com o vapor de água. Deve ser realizado no vácuo para permitir que a
temperatura não seja inferior à desejada, permitir a penetração do vapor nos poros dos corpos
porosos e impedir a formação de uma camada inferior mais fria. Podem ser usadas autoclaves de
parede simples (que são mais rudimentares) ou de parede dupla, que permitem melhor extração do
ar e melhor secagem. É muito usado para o vidro seco e materiais que não oxidem com água (os
materiais termolábeis não podem ser esterilizados por esta técnica). É utilizada ainda para esterilizar
tecidos. A sua eficácia é validada por dois métodos. Indicadores químicos: mudam de cor consoante
a temperatura (ex. tubos de Brown a fita adesiva Bowie-Dick). Indicadores biológicos: tubo com
suspensão de esporos de bactérias muito resistente (Bacillus stearothermophylus) que morrem
quando expostos por 12 minutos ou mais a uma temperatura de 121 °C. Após um repouso de 14h,
faz-se uma sementeira dos esporos, que deve dar negativa.
-Vantagens: fácil uso, custo acessível para grandes hospitais.
-Desvantagens: Não serve para esterilizar pós e líquidos.
4.2.2 Calor seco
A esterilização através do calor seco pode ser alcançada pelos seguintes métodos:
Flambagem: aquece-se o material, principalmente fios de platina e pinças, na chama do bico de
gás, aquecendo-os até ao rubro. Este método elimina apenas as formas vegetativas dos
microrganismos, não sendo portanto considerado um método de esterilização.
Incineração: é um método destrutivo para os materiais, é eficiente na destruição de matéria
orgânica e lixo hospitalar.
Raios infravermelhos: utiliza-se de lâmpadas que emitem radiação infravermelha, essa radiação
aquece a superfície exposta a uma temperatura de cerca de 180O C.
Estufa de ar quente: constitui-se no uso de estufas elétricas. É o método mais utilizado dentre os
de esterilização por calor seco.
O uso do calor seco, por não ser penetrante como o calor úmido, requer o uso de
temperaturas muito elevadas e tempo de exposição muito prolongado, por isso este método de
esterilização só deve ser utilizado quando o contato com vapor é inadequado. Cabe observar
também que o uso de temperaturas muito elevadas pode interferir na estabilidade de alguns
materiais, como por exemplo, o aço quando submetido a temperaturas muito elevadas perde a
têmpera; para outros materiais como borracha e tecidos além da temperatura empregada ser
altamente destrutiva, o poder de penetração do calor seco é baixo, sendo assim a esterilização por
este método inadequada.
Os materiais indicados para serem esterilizados por este método são instrumentos de ponta
ou de corte, que podem ser oxidados pelo vapor, vidrarias, óleos e pomadas.
4.2.2.1 Equipamentos
Como o processo de esterilização em estufas de ar quente é o método mais utilizado dentre
os de esterilização por calor seco, iremos descrever o equipamento utilizado neste método, que é a
estufa ou forno de Pasteur. Estes são equipados com um termômetro que mostra temperatura do
interior da câmara; um termostato, onde se programa a temperatura desejada; uma lâmpada que
mostra a situação de aquecimento ou a estabilização da temperatura interna da câmara; algumas
com um ventilador para promover a circulação do ar, garantindo um aquecimento rápido e uniforme
na câmara (estufas de convecção mecânica). Não há um controlador de tempo, este controle é feito
pelo operador do aparelho.
As estufas podem ser divididas em dois tipos: as de convecção por gravidade e a
de convecção mecânica.
As estufas de convecção por gravidade possuem uma resistência elétrica na parte inferior da
câmara e um orifício na parte superior onde ocorre a drenagem do ar frio que é empurrado pelo ar
quente à medida que o ar esquenta dentro da câmara. Neste processo qualquer obstáculo que esteja
no caminho dificulta a circulação do ar, interferindo na uniformidade da temperatura na câmara.
As estufas de convecção mecânica possuem um dispositivo que produz movimento do ar
quente, favorecendo a circulação do ar uniformemente e limitando a variação da temperatura nos
vários pontos da câmara em 1o C. Este tipo de estufa reduz o tempo necessário para que se atinja a
temperatura ideal para a esterilização.
4.2.2.2 Mecanismo de ação
Este processo causa a destruição dos microrganismos fundamentalmente por um processo de
oxidação, ocorrendo uma desidratação progressiva do núcleo das células.
4.2.2.3 Tempo de esterilização
Temperatura (o C) Tempo de Exposição *
180 30 minutos
170 1 hora
160 2 horas
150 2 horas e 30 minutos
140 3 horas
121 6 horas
*Sem inclusão do tempo de aquecimento
Alguns autores afirmam que materiais contaminados pelo vírus da hepatite, devem ser
submetidos à temperatura de 170O C por 2 horas. Tempo de exposição ao calor seco relacionado a
alguns tipos de artigos:
4.2.2.4 Cuidados para a eficiência do processo
- Higienizar convenientemente os artigos a serem esterilizados;
- aquecer previamente a estufa;
- utilizar embalagens adequadas;
- não colocar na estufa artigos muito pesados e volumes muito grandes para não interferir na
circulação do ar, as caixas não devem conter mais de 50 peças;
- evitar sobrepor artigos;
- marcar o início do tempo de exposição quando o termômetro marcar a temperatura escolhida;
- evitar que o termômetro toque em algum dos artigos dentro da câmara;
- não abrir a estufa durante a esterilização.
4.2.2.5 Falhas no processo
Para se evitar falhas no processo deve-se observar os cuidados citados acima além de
cuidados como:
- ao distribuir os artigos no interior da câmara, não deixar que toquem as paredes do interior do
equipamento, deixar também um espaço entre os materiais, para favorecer a circulação do ar;
- o invólucro deve ser adequado para este tipo de esterilização e para o material a ser esterilizado.
As embalagens mais utilizadas são as caixas metálicas, papel alumínio e frascos de vidro refratário;
- os artigos a serem esterilizados devem possuir boa condutividade térmica. Como já foi
mencionados, materiais não termorresistentes não devem ser esterilizados por este método, como os
tecidos, borrachas e papéis;
- o equipamento deve ser calibrado e validado. O fabricante precisa informar qual o ponto mais frio
da câmara. A esterilização é eficiente quando neste ponto a temperatura é atingida, é necessário,
portanto que os testes com os indicadores biológicos sejam realizados neste local.
4.2.2.6 Testes
É fundamental a realização de testes biológicos para controle e comprovação da
esterilização.
4.2.3 Pasteurização
Pasteurização é o processo usado em alimentos para destruir microrganismos patogênicos ali
existentes. Foi criado em 1864, levando o nome do químico francês que o criou: Louis Pasteur.
A pasteurização reside basicamente no fato de se aquecer o alimento a determinada
temperatura, e por determinado tempo, de forma a eliminar os microrganismos presentes no
alimento. Posteriormente estes produtos são selados hermeticamente por questões de segurança,
evitando assim uma nova contaminação. O avanço científico de Pasteur melhorou a qualidade de
vida dos humanos permitindo que produtos como o leite pudessem ser transportados sem
sofrerem decomposição.
4.2.3.1 Tipos
Existem três tipos de pasteurização:
-Pasteurização lenta, em que se aplicam temperaturas mais baixas durante maior tempo. A
temperatura utilizada é da ordem de 65°C durante trinta minutos ou mais.
-Pasteurização rápida, quando se aplicam temperaturas mais altas, da ordem dos 75˚C, durante
alguns segundos. Este tipo de pasteurização é, por vezes, denominado HTST (High Temperature
and Short Time), sigla em língua inglesa para "alta temperatura e curto tempo".
-Pasteurização muito rápida, quando a temperatura vai de 130˚C a 150˚C, durante três a cinco
segundos. Também conhecido como UHT (Ultra High Temperature) ou "temperatura ultra-
elevada".
4.3 Filtração
A filtração envolve a remoção de células de microrganismos de soluções líquidas ou de
gases através do atravessamento de membranas filtrantes. Estas podem ser de vários materiais
(mais vulgarmente, acetato de celulose ou de policarbonato) e têm diâmetros de poro muito
pequenos (usualmente 0,2 μm) onde as células microbianas ficam retidas.
Esta técnica é muito utilizada em laboratórios de Microbiologia para esterilizar meios de cultura
com componentes que possam sofrer alteração por acção do calor (p.ex. vitaminas, antibióticos,
açúcares, aminoácidos) e na indústria farmacêutica para esterilização de soluções de vitaminas, de
agentes quimioterapêuticos, soro etc.. Contudo, a maior parte dos vírus são suficientemente
pequeno para atravessarem os poros destas membranas filtrantes, pelo que esta técnica não assegura
a esterilidade total das soluções ou gases filtrados.
Para além de ser utilizada para esterilizar soluções, a filtração através de membranas
filtrantes pode também ser utilizada para concentrar células microbianas a partir de volumes
grandes de amostras líquidas, como acontece na análise bacteriológica de águas.
O ar que circula em câmaras de fluxo laminar de segurança biológica(Fotografia abaixo)
ou em “salas limpas” é frequentemente sujeito a filtração através de filtros de elevada eficiência
(High Efficiency Particle Air – HEPA- Filter) que permitem a retenção de pelo menos 99,999% das
células e esporos microbianos ou outras partículas presentes no ar.
4.2 Desinfecção
A assepsia é o conjunto de medidas que permitem manter um ser vivo ou um meio inerte
isento de bactérias. A anti-sepsia refere-se à desinfecção de tecidos vivos com anti-sépticos.
4.2.1 Desinfecção da pele e das mucosas (antissépticos)
A sua concentração não pode ser tóxica para as células. São exemplos o álcool
etílico (70º), peróxido de hidrogênio (10 volumes), eosina (para Gram-positivos), permanganato de
potássio, hipoclorito de sódio (0,48%) e iodopovidona (derivado do iodo, altamente eficaz, excepto
no caso da hepatite B).
4.2.2 Desinfetantes de instrumentos
Como por exemplo, os aldeídos, usados em estetoscópios e termômetros, o hipoclorito de
sódio, usado só em material não oxidável, como as pinças e tesouras, ou o óxido de etileno, que em
mistura com o CO² é usado em câmaras, esterilizando tudo o que seja sensível à temperatura (batas,
toucas, material descartável, etc.).
4.2.3 Natureza Química
Os anti-sépticos e desinfectantes podem também ser agrupados de acordo com a sua
natureza química:
1. Fenol e compostos fenólicos: (ex. hexaclorofeno)
Eficaz contra Gram-positivos;
Pouco activo contra Gram-negativos;
Ineficaz na presença de sangue.
2. Halógenos:
Derivados do cloro (hipoclorito de sódio) – actuam inibindo a actividade das proteínas
celulares e a síntese de DNA;
Derivados do Iodo (iodopovidona, iodofor) – interagem com enzimas e proteínas
inibindo-as por reacção de oxidação de grupos –SH e por ligação do iodo ao grupo –NH
dos aminoácidos.
3. Sais metálicos:
Compostos mercuriais (mertiolato): combinam-se com-SH de enzimas e inibem a sua
atividade;
Sais de prata (nitrato de prata);
Compostos de zinco (matam fungos);
Compostos de cobre (matam algas).
4. Oxidantes (peróxido de hidrogênio, permanganato de potássio):
Oxidam lipídios de membrana e DNA.
5. Alcoóis (etanol):
Coagulam proteínas e lipídios de membrana.
6. Compostos de amônia quaternária (Cetrimina a 1%, Benzalcónio)
Inativados pela presença de material orgânico.
7. Clorexidina:
Promove a desorganização estrutural e funcional da membrana citoplasmática.
8. Óxido de etileno:
Agente alquilante que inativa enzimas e proteínas;
Usado em mistura não explosiva com CO2 ou com hidrocarbonetos halogenados.
9. Aldeídos (formaldeído (muito tóxico) e glutaraldeído):
Inativação de proteínas e ácidos nucléicos.
10.Beta-propriolactona:
Possui características cancerígenas, mas os seus vapores são usados na esterilização.
5 MICOLOGIA GERAL
Durante muito tempo, os fungos foram considerados como vegetais e, somente a partir de
1969, passaram a ser classificados em um reino à parte denominados Fungi.
Os fungos apresentam um conjunto de características que permitem sua diferenciação das
plantas: não sintetizam clorofila nem qualquer pigmento fotossintético; não tem celulose na parede
celular, exceto alguns fungos aquáticos, e não armazenam amido como substância de reserva. A
presença de substâncias quitinosas na parece da maior parte das espécies fúngicas e a capacidade de
armazenar glicogênio os assemelham as células animais.
Os fungos são ubíquos, encontrando-se em vegetais, na água, em animais, em detritos e em
abundância no solo, participando ativamente dos ciclos dos elementos da natureza.
A dispersão dos fungos na natureza é feita por várias vias: animais, homem, insetos, água e,
principalmente, pelo ar atmosférico, através dos ventos.
Os fungos são seres vivos eucarióticos com um só núcleo, como as leveduras, ou
multinucleados, como os fungos filamentosos ou bolores e os cogumelos (fungos macroscópicos).
6 MICOSES SUPERFICIAIS
São afecções produzidas por fungos, limitadas às camadas superficiais queratinizadas ou
semiqueratinizadas da pele, aos pêlos e unhas, sem lesar o tecido subcutâneo, ossos, articulações e
órgãos internos.
Alguns fatores predisponentes que devem ser pesquisados são: endógenos (diabetes, SIDA-
imunodeprimido, doenças sistêmicas) e exógenos (umidade, má higiene, distrofias).
6.1 Classificação
Podemos classificar as micoses superficiais em dermatofitoses e ceratofitoses.
As dermatofitoses são causadas por fungos denominados dermatófitos, que utilizam a
queratina como fonte de sobrevivência. As lesões decorrem da ação do próprio fungo ou de reações
de sensibilidade ao agente ou a seus produtos (mícides ou dermatofitides). Estão incluídos os
fungos dos gêneros Microsporum, Trychophyton e Epidermophyton. Podem ser antropofílicos,
zoofílicos ou geofílicos. Entram no grupo das dermatofitoses:
Tinha do couro cabeludo (Tinea capitis)
Tinha dos pés (Tinea pedis)
Tinha das mãos (Tinea manun)
Tinha inguinal (Tinea cruris)
Tinha da barba (Tinea barbae)
Tinha do corpo (Tines corporis)
Tinha das unhas (Tinea unguium)
As ceratofitoses ou micoses saprofitárias são causadas por fungos sem atividade
queratolítica, que vivem sobre a pele ou ao redor dos pêlos e utilizam restos epiteliais ou produtos
de exceção. Não determinam reações de hipersensibilidade. Neste grupo estão:
Pitiríase Versicolor
Candidíase
Tinha negra
Piedras
6.1.1 Pitiríase Versicolor (Micose de Praia ou Pano Branco)
O agente etiológico é a Malassezia furfur. Tem distribuição universal, atinge todas as raças,
sem predileção por sexo, com freqüência maior na idade adulta (raro em crianças e idosos). É mais
prevalente nos climas quentes e úmidos. O agente etiológico é um saprófita encontrado com elevada
freqüência no couro cabeludo e pele, sem manifestações clínicas (oportunista). O fungo forma uma
barreira contra a ação do sol, diminuindo a produção de melanina.
A clínica apresentada corresponde a máculas descamativas de cor variável, múltiplas,
coalescentes, às vezes com nítido padrão folicular, atingindo pescoço, tórax e raízes de membros
superiores, podendo ocorrer na face, abdome, nádegas e membros inferiores. O fator predisponente
ao desenvolvimento dessa doença é a sudorese (calor). Não há prurido, sendo geralmente
assintomáticas. Os sinais dermatológicos que podem ser pesquisados são o sinal da unha
(descamação) e o sinal de Zileri (estiramento da pele causa descamação furfurácea).
O diagnóstico é puramente clínico (presença de lesões esbranquiçadas e descamativas).
Como métodos diagnósticos complementares, existem à nossa disposição o exame
micológico direto (observação de grupamentos de esporos entrelaçados por pequenos micélios
septados), a Luz de Wood (lesões aparecem cor amarelo-ouro) e a cultura.
O tratamento é tópico com sulfeto de selênio a 5%, derivados imidazólicos ou hipossulfito
de sódio por 10 a 20 dias. Pode-se utilizar o tratamento sistêmico em casos de recidivas freqüentes,
com cetoconazol 200mg/dia 10 a 15 dias ou itraconazol 100mg 2x/dia por 5 dias..
6.1.2 Tinha de Couro Cabeludo
É mais freqüente em crianças. O contágio é feito através de doentes, animais doentes ou
portadores (cães e gatos), terra. Existem 2 tipos, a saber:
A. Tinha tonsurantes : Possui uma evolução crônica, com placas de tonsura,
descamação, únicas ou múltiplas (semelhante a um alopecia). A evolução aguda
apresenta-se como placa única, elevada, dolorosa e purulenta. Os agentes causadores
são o Trychophyton tonsurans, o T. mentagrophytes e o Microsporum canis.
Dx: clínico, micológico direto e cultura, coletar fios para avaliar áreas de tonsura
B. Tinha favosa : A evolução é crônica, havendo microendemias rurais. O agente
responsável é o Trychophyton schöenleini. Ataca os folículos pilosos, pode haver
alopecia cicatricial. O diagnóstico é clínico, podendo realizar o micológico direto
(coletar fios com pinça).
6.1.3 Tinha de barba
Tipo inflamatório, herpes circinado e sicosiforme. O diagnóstico é feito pela clínica,
micológico direto e cultura.
6.1.4 Tinha de Corpo
Os agentes causadores incluem Trychophyton rubrum, T. mentagrophytes e Microsporum
canis. Pode aparecer em forma de vesículas, em placas ou em forma de anel (anular). Diagnóstico
pela clínica, por micológico direto e por cultura.
6.1.5 Tinha dos pés e das mãos
Nas mãos é uma entidade rara. Deve-se diferenciar de dermatite de contato, psoríase.
Nos pés corresponde ao popular "pé de atleta". O diagnóstico diferencial deve ser feito com
calos interdigitais, infecções bacterianas, verrugas virais. Pode se apresentar em diversas formas:
intertriginosa (comum a participação da Candida albicans), vésico-bolhosa e escamosa (comum a
participação das onicomicoses). Podem ocorrer fissuras. O diagnóstico é feito pela clínica,
micológico direto e cultura. Os agentes mais comuns são Trychophyton rubrum, Epidermophyton
flocosum.
6.1.6 Tinha inguinal
É mais comum em homens. Geralmente é bilateral, podendo estender-se para períneo,
glúteos e abdome. São placas eritematoescamosas, com bordos nítidos, crescimento centrífugo, às
vezes com pequenas vesículas. As lesões antigas tornam-se escuras devido à liquenificação
decorrente do prurido. O diagnóstico é clínico, com micológico direto e com cultura. O diferencial
deve ser feito com dermatite seborréica, dermatite de contato, eritrasma, psoríase. Os agentes
etiológicos são T. rubrum, Epidermophyton flocosum
6.1.7 Tinha das unhas - onicomicoses
Ocorre o acometimento da lâmina ungueal e/ou dobras ungueais. A lâmina ungueal é
atacada por dermatófitos e, eventualmente por uma levedura a Candida albicans. A onicomicose
dermatofítica começa pela borda livre da unha, tornando a unha opaca, com depósito de detritos
córneos subungueais.
O diagnóstico é feito por micológico direto e cultura (coletar material da junção da unha boa
com a unha comprometida).
Os agentes mais comuns são Trychophyton e Epidermophyton
O diagnóstico diferencial deve ser feito com psoríase, distrofias ungueais, tumores
subungueais, traumas. O tratamento é com antifúngicos via oral por no mínimo 4 meses.
6.1.8 Tinha Negra
É rara; surgem como manchas pretas ou escuras nas palmas e plantas dos pés, mãos ou
bordas dos dedos. O diferencial com melanoma deve ser pensado. O diagnóstico é feito pela clínica,
micológico direto e cultura. O agente causador é o Cladosporium werneckii.
6.1.9 Candidíase
O agente etiológico é a Candida albicans. O diagnóstico é clínico, com micológico direto e
com cultura. Deve-se tomar cuidado, uma vez que é saprófita e pode estar como coadjuvante em
outras dermatopatias.
Ocorre em crianças e adultos, é cosmopolita, saprófita de pele e mucosas. Passa a ter ação
patogênica devido a fatores predisponentes (prematuridade, gravidez, uso de antibióticos,
corticoterapia, imunodepressão, diabetes).
O quadro clínico depende da localização. A candidíase intertriginosa atinge dobras naturais,
causando fissuras, com lesões eritematoescamosas até mesmo pústulas. A paroníquia corresponde a
uma inflamação da borda proximal. Outras formas são a estomatite cremosa (sapinho), a balanite e
a candidose disseminada.
O tratamento é feito pela correção dos fatores predisponentes, antifúngicos tópicos
(Nistatina) e sistêmicos (Cetoconazol, Itraconazol).
6.2 Tratamento
O tratamento das tinhas é feito com antifúngicos sistêmicos ou tópicos, durante 30 dias de
duração, passando 2x/dia.
O tratamento das Onicomicoses deve ser sistêmico. Os medicamentos mais usados são a
griseofulvina (fungistático), cetoconazol (interações medicamentosas, hepatite fulminante, interfere
no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal), itraconazol, fluconazol e terbinafina.
7 MICOSES CUTÂNEAS
As dermatomicoses possuem ocorrência universal, constituindo as micoses mais comuns em
nosso meio. Trata-se de infecções cutâneas capazes de acometer animais e o homem, podendo se
manifestar de forma clinicamente variável.
De modo geral, as micoses superficiais podem ser divididas em três categorias:
1. Infecções superficiais: há colonização de camadas acelulares da pele e seus anexos. Chamam
a atenção pelo efeito cosmético provocado no paciente. Nesse grupo deve-se ressaltar a
pitiríase versicolor, causada pelo fungoMalassezia sp. (geralmente Malassezia furfur); a qual
se apresenta como máculas finamente descamativas e geralmente assintomáticas, cuja
coloração varia do marfim ao castanho-escuro.As escamas são denominadas furfuráceas
devido ao fato de geralmente possuírem aspecto farináceo e predominam na parte superior do
tórax, face e antebraços, apesar de ser possível o acometimento de outras regiões do corpo.
Em peles pigmentadas as áreas lesionadas podem se tornar acrômicas devido à diminuição do
pigmento melânico da epiderme.
2. Infecções oportunistas: trata-se de infecções cutâneas produzidas por fungos que
ocasionalmente são implantados na pele do hospedeiro por um traumatismo. Como exemplo
desses agentes podem ser citados os seguintes
gêneros: Aspergillus, Penicillium, Alternaria, Scopulariopsis, etc.
3. Infecções dermatofíticas: os agentes etiológicos atacam com predileção a queratina da pele,
pêlos e unhas, onde o fungo utiliza a queratina como fonte de carbono, sendo a infecção
geralmente restrita às camadas não vivas da superfície corpórea. Ressalta-se, entretanto, que
em situações específicas, tais como em indivíduos imunodeprimidos, podem acometer tecidos
subcutâneos. A maioria destas infecções é causada por um grupo homogêneo de fungos
queratinofílicos chamados dermatófitos. Com relação à nomenclatura das infecções
dermatofíticas, segue-se a regra: Tinea + local afetado (em latim).O mecanismo de infecção
depende da estrutura acometida. Em linhas gerais, a infecção se dá da seguinte forma:
o Na pele: os filamentos micelianos crescem excentricamente na camada córnea e se
ramificam. Após aproximadamente sete dias há uma reação cutânea e formação de vesículas
ao redor da lesão.
o No pêlo: O parasitismo piloso pode ser classificado em duas categorias: Ectotrix, na qual o
fungo não consegue penetrar o interior do pêlo, permanecendo circunscrito à bainha
externa; e Endotrix, na qual o fungo destrói a bainha externa do pêlo, alojando-se e
proliferando no interior dos mesmos. Os cabelos parasitados perdem a pigmentação e se
tornam frágeis, o que resulta em aparecimento de uma zona de tonsura (tinhas tonsurantes).
o Na unha: as infecções se iniciam na margem lateral ou distal da placa ungueal e resultam
em inflamação paroniquial. Isso faz com que a unha se torne frágil e espessada, com
acúmulo de fragmentos queratinizados subungueais.
Ainda com relação aos fungos dermatófitos, os mesmos podem ser classificados de acordo com os
locais onde são encontrados:
Dermatófitos geofílicos: encontrados no solo, sendo a transmissão via solo - ser
humano. Ex: Microsporum gypseum.
Dermatófitos zoofílicos: parasitam animais, sendo a transmissão via animais - ser
humano. Ex: Microsporum canis,Trichophyton mentagrophytes.
Dermatófitos antropofílicos: encontrados exclusivamente no ser humano, sendo a transmissão,
portanto, inter-humana. Ex: Epidermophyton floccosum, Trichophyton rubrum, Trichophyton
violaceum, Trichophyton schoenleinii
A identificação das espécies é geralmente feita através das estruturas de reprodução, que na
maioria das vezes é característica para cada espécie, no entanto, a localização da dermatofitose pode
ajudar na identificação preliminar do fungo, o que podemos perceber pelo quadro a seguir:
AGENTE PELE UNHAS PÊLO INVASÃO
ECTOTRIX
PÊLO INVASÃO
ENDOTRIX
Microsporum + +(raro) + -
Epidermophyton + - - -
Trichophyton
mentagrophytes
+ + + -
Trichophyton rubrum + + + (raro) -
Trichophyton
verrucosum
+ + + -
Trichophyton tonsurans + + - +
Trichophyton
shoenleinii
+ + - +
Trichophyton violaceum + + - +
Microsporum canis
O crescimento é rápido, em 3-5 dias. Inicialmente, as colônias são brancas e lustrosas,
desenvolvendo mais tarde um pigmento amarelo-limão na membrana periférica da colônia. O
reverso da colônia torna-se amarelo acastanhado a medida que ela amadurece. Microscopicamente,
podem ser observados macronídios e micronídios com predominância dos primeiros. Nas infecções
dos fios de cabelo, grumos em mosaico dos micronídios se desenvolvem na face externa do pêlo. O
fungo causa dermatofitose do corpo e do couro cabeludo, sendo geralmente adquirido de cães ou
gatos e mais comumente encontrado em crianças.
Microsporum gypseum
O crescimento é rápido, em 3-5 dias. As colônias são achatadas, inicialmente brancas, mas
assumem coloração castanho-clara a vermelho-acastanhada quando crescem. A superfície torna-se
açucarada ou granular a medida que são produzidos conídios. O fungo é contraído por contato com
solo contaminado e causa dermatofitose inflamatória do corpo ou do couro cabeludo.
Epidermophyton floccosum
As colônias crescem rapidamente, em 3-5 dias; inicialmente apresentam coloração cinza-
esbranquiçada e desenvolvem um pigmento cáqui-esverdeado característico quando maduros. Fitas
amarelo-esbranquiçadas podem ser observadas irradiando do centro da colônia para a periferia. A
superfície torna-se granular com amadurecimento adicional à medida que os conídios são
produzidos. Microconídios nunca são produzidos, portanto se estes forem observados, a hipótese de
se tratar de amostra de E.floccosum pode ser descartada. Causa dermatofitose epidêmica (pé de
atleta) e dematofitose inguinal.
Trichophyton rubrum
O crescimento em ágar Sabouraud-dextrose é relativamente lento, exigindo 4-7 dias até a
maturidade. Inicialmente a superfície da colônia é branca, e a consistência pode ser algodonosa,
aveludada ou granular, dependendo da cepa, do meio de cultura que estáwww.yahh sendo utilizado
e da magnitude da esporulação. Como o nome da espécie indica, a principal observação é a
produção de um pigmento hidrossolúvel de coloração vinho no reverso da colônia que se difunde no
ágar. A produção do pigmento é mais intensa com colônias que crescem em ágar de milho ou de
dextrose e batata do que em ágar Sabouraud-dextrose. Miicroscopicamente, os micronidios tendem
a apresentar formato de lágrima e estão, em geral, distribuídos nos lados dos filamentos das hifas,
produzindo um aspecto de “pássaros na cerca”. Causa dermatofitose do corpo, dos pés, da virilha e
das unhas. Tal fungo pode causar nódulos ou abscessos subcutâneos em pacientes
imunodeprimidos.
Trichophyton mentagrophytes
O crescimento é rápido, 3-5 dias. Pode-se observar dois tipos de colônias: algodonosa ou
granular . As algodonosas são inicialmente brancas, e quando amadurecem possuem coloração
creme-acastanhada. Com freqüência observa-se o desenvolvimento de um umbigo elevado central
formado por hifas estéreis semelhantes a uma teia de aranha. Já as variantes granulares produzem
colônias achatadas e disseminadas com superfície granular fina a grosseira; inicialmente, as
colônias apresentam coloração branca a amarelo-forte, se tornando, gradualmente, acastanhadas e
marrons. Pigmentos avermelhados podem ser observados, mas nunca são tão intensos quanto o que
ocorre T.rubrum. Causa dermatofitose inflamatória nos pés, no corpo, nas unhas, na barba e no
couro cabeludo. É causa comum de pé de atleta.
Trichophyton tonsurans
O crescimento é lento, exigindo de 7-10 dias para a maturidade. As colônias apresentam
superfície amarelo-clara granular característica, com o desenvolvimento de profundas rugas radiais
no amadurecimento. Macronídios nunca são observados nos isolados laboratoriais e os
microconídios assumem formato de baqueta ou balão. Causa tinha do couro cabeludo, tinha capilar
com pontos pretos e às vezes dermatofitose do corpo, dos pés e das unhas.
Trichophyton verrucosum
O crescimento é lento, exigindo 7-14 dias para a maturidade. As colônias são pequenas,
circulares, e planas; inicialmente glabras ou posteriormente felpudas, de coloração branca a
amarelada. Microscopicamente, hifas semelhantes a chifres podem ser observadas. Macronídios são
raros, com configuração em raquete, em “vagem” ou em “rabo de gato”. Os micronídios, quando
presentes, são pequenos, piriformes, e transportados diretamente ao longo das laterais das hifas.
Causa dermatofitose do couro cabeludo, da barba ou do corpo, geralmente adquirida por contato
com o gado infectado.
Trichophyton shoenleinii
Causa dermatofitose do couro cabeludo (tinha favosa) com alopecia definitiva. Também é
responsável por causar raramente dermatofitose do corpo ou das unhas. No Brasil, os dermatófitos
mais freqüentes são T. rubrum e M. canis.
8 MICOSES SUBCUTÂNEAS
As micoses subcutâneas constituem um grupo de infecções caracterizadas pelo
desenvolvimento de uma lesão no sítio de inoculação, com implantação do agente no local de
traumatismo e subseqüente acometimento dos tecidos subcutâneos.
Dentre as micoses subcutâneas que mais frequentemente acometem o homem estão a
cromoblastomicose e a esporotricose. A cromoblastomicose envolve mais
frequentemente Fonsecaea pedrosoi, mas que pode ser causada por outros agentes,
como Phialophora verrucosa, Fonsecaea compacta, Cladosporium carrioni, Rhinocladiella
aquaspers. Já a esporotricose é provocada por um único agente, o Sporothrix schenckii.
Cromoblastomicose
Distribui-se mundialmente, porém é mais prevalente em regiões tropicais. Os fungos vivem
em matéria orgânica, vegetais em decomposição ou solo e a transmissão ocorre pela penetração de
espinhos ou farpas de madeira. O Brasil detém cerca de um terço do total de casos, sendo que sua
maioria ocorre em indivíduos do sexo masculino.A doença possui manifestações clínicas variadas,
sendo elas:
Forma nodular: ocorrem na fase inicial da doença, podendo permanecer estacionária.
Forma verrucosa: caracterizada por espessamento e endurecimento da derme e epiderme
decorrente de hiperceratose e hiperacantose. É a forma mais freqüente da doença.
Forma ulcero-vegetante: lesões de crescimento exuberante, gomosas, crostosas, exsudativas e
que muitas vezes confluem entre si.
O tratamento é difícil. A remoção cirúrgica de pequenas lesões é eficiente, mas precisa ser
realizada cautelosamente e com margens amplas para prevenir a disseminação. Estágios mais
avançados da doença são tratados com itraconazol e terbinafina.
Esporotricose
Doença granulomatosa crônica subcutânea endêmica no Brasil que possui distribuição
universal, acometendo principalmente indivíduos que exercem determinadas profissões como
jardineiros, agricultores, veterinários, carpinteiros, mineiros, etc. Há relatos da doença no homem e
nos animais. O S.schenckii vive como saprófita em detritos orgânicos, solo ou água contaminada,
vegetal, pêlos e boca de animais (gatos, ratos, cachorros, coelhos, eqüinos, etc.). O fungo penetra
geralmente por meio de traumas, embora também possa ser inalado ou ingerido; segue-se, então,
um período de incubação variável (três dias a seis meses). A micose acomete principalmente os
membros superiores, face e membros inferiores e as principais formas clínicas são:
Forma cutânea fixa ou localizada: lesão solitária restrita ao local de inoculação.
Forma linfocutânea: a lesão inicia-se como uma pequena úlcera, pápula ou nódulo subcutâneo,
indolor. As lesões se estendem através dos vasos linfáticos, produzindo um cordão de nódulos
subcutâneos firmes e assintomáticos. É a forma mais freqüente em nosso meio.
Forma cutânea disseminada: resultam de disseminação hematogênica ou inoculação. As lesões
manifestam-se através de lesões gomosas, úlcero-vegetantes e verrucosas, pápulas ou nódulos
subcutâneos. Ocorre comprometimento do estado geral do indivíduo, sendo rara em pacientes
imunocompetentes.
Esporotricose sistêmica: também resulta da disseminação hematogênica e é rara em
imunocompetentes. Os órgãos mais afetados são os olhos, nariz, faringe, pulmões e ossos.
O tratamento é realizado com itraconazol oral, sendo considerado a droga de escolha.
9 MICOSES PROFUNDAS
As micoses profundas, que invadem a derme e/ou a hipoderme, e, por vezes até órgãos
internos, são revistas neste artigo. Estas afecções, além de outras características, mostram, na
histopatologia, um processo inflamatório granulomatoso e, no sangue, presença de anticorpos.
Discute-se aqui em especial algumas micoses profundas observadas no Brasil, entre elas a
paracoccidioidomicose, esporotricose, cromomicose, micose de Jorge Lobo, micetoma,
criptococose e histoplasmose.
As micoses são doenças causadas por fungos e podem ser superficiais e profundas. As
superficiais acometem a epiderme e seus anexos, afetando, às vezes, a derme e, mais raramente,
outros órgãos internos. Caracterizam-se por não apresentar anticorpos séricos, provocar inflamação
local banal e, com freqüência, ser transmitidas por contato direto.
Já as micoses profundas, ao contrário das superficiais, invadem preferencialmente a derme
e/ou a hipoderme, e, também com certa freqüência, os órgãos internos. Não se conhece a
transmissão homem a homem, e, na histopatologia, caracterizam-se por um processo inflamatório
granulomatoso, e, no sangue, pela presença de anticorpos. Nesse grupo, entre as mais observadas no
Brasil, estão a paracoccidioidomicose, esporotricose, cromomicose, micose de Jorge Lobo,
micetomas, criptococose e histoplasmose. Fazem parte ainda desse grupo a rinosporidiose, rara no
Nordeste; a coccidioidomicose; a blastomicose norte-americana, não observada no Brasil; e as
zigomicoses, que se dividem em entomoftoromicose e mucormicose, doença em geral de
imunossuprimidos.
A paracoccidioidomicose, blastomicose sul-americana ou micose de Lutz, nome do médico
brasileiro que a descreveu, bem como o seu agente etiológico, em 1908, é micose crônica ou
subaguda, cuja causa é o Paracoccidioides brasiliensis, que acomete tanto o tegumento quanto
vísceras. É endemia da zona rural que afeta, predominantemente, homens lavradores adultos.
Ocorre em toda a América do Sul e Central, à exceção do Chile, onde até hoje nenhum caso foi
descrito.
O fungo agente dessa doença é saprófita na natureza, e sua penetração se dá principalmente
por via pulmonar ou digestiva, sendo raro observar-se pele ou mucosa retal como porta de entrada.
A invasão é ganglionar, e a disseminação, hematogênica.
Conforme o estado imunológico do paciente, podem ocorrer infecção sem doença, doença
localizada ou a doença generalizada, que é mais comum. Os pacientes com a forma generalizada
apresentam imunidade celular deprimida, aferida pela negatividade aos testes intradérmicos à
paracoccidioidina e a outros antígenos inespecíficos.
A paracoccidioidomicose pode assumir várias formas clínicas, conforme o órgão afetado.
As lesões mucosas características são ulcerações de fundo granuloso e pontilhado hemorrágico,
chamadas de estomatite moriforme de Aguiar Pupo (Figura 1). Pode ainda manifestar-se por lesões
infiltrativas, vegetantes e/ou ulcerativas e pelo lábio trombiforme. A sialorréia é extremamente
freqüente.
Figura 1: Paracoccidioidomicose: ulceração com pontilhado hemorrágico na gengiva
As manifestações cutâneas, que ocorrem, em geral, por disseminação hematogênica, já que a pele
como porta de entrada é infreqüente, surgem como lesões papulosas, papulotuberosas, vegetantes,
ulcerações, entre outras (Figuras 2, 3). Nas úlceras, nota-se, no fundo, o mesmo pontilhado
hemorrágico que dá o aspecto moriforme encontrado na estomatite de Aguiar Pupo.
Figura 2:
Paracoccidioidomicos
e: vegetações
discretas no nariz
Figura 3:
Paracoccidioidomicos
e: vegetação
exuberante no lábio
inferior
As adenopatias são comuns, podendo ser regionais ou generalizadas, com amolecimento e
fistulização (Figura 4). Lesões, geralmente bilaterais e na metade inferior dos pulmões, ocorrem em
80 a 90% dos casos, caracterizando-se por alterações macro ou micronodulares, infiltrativas ou
cavitárias (Figura 5). É importante investigar a tuberculose concomitante, pois em 12% dos
pacientes essa doença está associada. Outros órgãos, como o trato gastrointestinal, fígado, baço e
supra-renais, podem, eventualmente, ser afetados, em especial nos casos mais graves.
Figura 4:
Paracoccidioidomicos
Figura 5:
Paracoccidioidomicos
e: fistulização no
pescoço e lesões na
face
e: RX de tórax -
lesões infiltrativas
bilaterais
A paracoccidioidomicose é diagnosticada por meio do exame direto do material da lesão ou
do escarro, nos quais podem ser encontradas formas arredondadas, com membrana de duplo
contorno, reproduzindo-se por gemulação única ou múltipla, que dá o aspecto denominado de
criptoesporulação em roda de leme. O fungo pode também ser cultivado em meio de Sabouraud e
ágar-sangue.
Ao exame histopatológico, observa-se granuloma e o fungo pode ser detectado por meio de
métodos de impregnação pela prata (Grocott) ou pelo PAS. Como método auxiliar, pode-se utilizar
a reação intradérmica à paracoccidioidina, que também é positiva na infecção inaparente.
O tratamento dessa moléstia é feito com sulfonamidas, cetoconazol, itraconazol e fluconazol, por
via oral e, em certos casos, anfotericina B de uso endovenoso. O itraconazol parece mais eficaz do
que o fluconazol, pois necessita de menor tempo de administração para a obtenção de remissão
clínica. A reação de precipitina, que avalia a atividade da doença, e a de fixação de complemento,
que depende da quantidade de parasitas, são os melhores métodos de controle da cura.
A esporotricose é micose crônica causada pelo Sporothrix schenckii, que é saprófita,
permanecendo no solo, vegetais e palhas. Sua penetração cutânea ocorre por traumatismo. A
incubação leva de uma a várias semanas, e, da pele, o agente vai para os linfáticos, podendo atingir,
em pacientes imunossuprimidos, mucosas e órgãos internos. Ocasionalmente ocorre cura
espontânea. É doença universal, porém afeta com maior freqüência indivíduos de regiões de clima
tropical e subtropical. Acomete qualquer idade, sexo e raça; tanto em área urbana quanto rural. É
mais comum em jardineiros e empalhadores.
A esporotricose apresenta-se sob quatro diferentes formas clínicas:
1. Cutânea localizada: afeta mais a face, provocando lesão papulosa, papulotuberosa ou verrucosa,
que pode ter ou não ulceração; às vezes há lesões-satélites mínimas e o paciente apresenta boa
resistência.
2. Mucosa localizada: é rara, afetando conjuntiva, aparelho lacrimal, boca e faringe. Evidencia-se
como nódulo, vegetação e/ou ulceração.
3. Cutânea linfática: é a forma mais comum. Ocorre principalmente nos membros superiores e
inferiores. O cancro de inoculação leva à formação de cordão linfangítico ascendente com nódulos
intervalados, que evoluem para gomas (Figura 6). Há, em geral, adenomegalia regional discreta.
Figura 6: Esporotricose: linfangite nodular ascendente
4. Disseminada: sua forma primária ocorre por ingestão ou inalação do agente, enquanto a
secundária depende da resistência do paciente. Pode evoluir com osteolite, periostite, artrite,
meningite, bronquite, nefrite, entre outras. É rara por lesão primária cutânea.
À histopatologia observa-se granuloma com zona externa de plasmócitos, zona intermediária
de células epitelióides e zona interna de polimorfonucleares, além de ser possível evidenciar raros
parasitas em forma de charuto. A cultura em meio de Sabouraud é diagnóstica, havendo
crescimento em poucos dias de colônia inicialmente clara que depois escurece. À microscopia da
cultura são características as hifas septadas com conídias em forma de margarida.
As medicações sistêmicas que se mostram eficazes na esporotricose são solução saturada
iodeto de potássio, itraconazol, fluconazol, anfotericina B e 5-fluorocitosina, sendo as duas
primeiras as drogas de escolha. Vacinação com esporotriquina pode ser tentada em casos
resistentes.
A doença de Jorge Lobo, causada pelo Paracoccidioides loboi, fungo com nomenclatura
ainda em discussão, é uma micose localizada, crônica e polimorfa que surge predominantemente na
Amazônia e nunca fora de região intertropical. A inoculação parece dar-se por meio de
traumatismo. Ocorre em especial no homem lavrador (10 homens : 1 mulher), e sua clínica
manifesta-se por lesões queloidiformes ou, ainda, vegetantes, infiltrativas, ulceradas gomosas, entre
outras. São geralmente assimétricas e circunscritas a uma região. Os locais mais afetados são os
pavilhões auriculares, membros inferiores e superiores. Quando acometidos, os gânglios mostram-
se duros e sem flutuação. Em geral, o paciente mantém bom estado físico.
Para diagnosticar a afecção, procede-se ao exame direto do material da lesão, que revela
parasitas abundantes, bem como a histopatologia, que mostra histiócitos espumosos com riqueza de
parasitas. Esses se evidenciam por serem fungos arredondados, com membrana de duplo contorno e
reprodução por brotamento simples ou múltiplo. O Paracoccidioides loboi não cresce em cultura, e
para seu tratamento podem-se utilizar a exérese cirúrgica, a clofazimina e a 5-fluorocitosina, com
resultados nem sempre eficientes.
A cromomicose, que também é micose crônica, geralmente circunscrita aos membros, é
provocada por vários fungos demácios, entre eles a Fonsecae pedrosoi, o Cladosporium carionii e
Phialophora verrucosa. É doença universal, mais prevalente em zona tropical e subtropical, onde
acomete basicamente homens lavradores. A lesão surge um a dois meses após o traumatismo de
inoculação, iniciando-se por pápula, que depois ulcera e passa a ter aspecto de vegetação (Figura 7).
A propagação é por contigüidade, ficando circunscrita ao membro afetado, porém
incapacitando-o. Para se firmar o diagnóstico, procede-se ao exame direto que mostra as chamadas
células fumagóides, nome dado aos corpúsculos fúngicos acastanhados. Na cultura em Sabouraud,
crescem colônias negras, e, na histopatologia, as células fumagóides nos microabscessos e no
interior das células gigantes são observadas. O tratamento pode ser por eletrocoagulação, exérese
cirúrgica, amputação, anfotericina B, 5-fluorocitosina, calciferol, cetoconazol ou itraconazol.
Figura 7: Cromomicose: placa de aspecto cicatricial e bordas crostosas no braço
Os micetomas são doenças das zonas tropicais e subtropicais que predominam em homem
adulto lavrador. A penetração ocorre por traumatismo com vegetal (exógena) ou a partir de
saprófitas em cavidades naturais (endógena). Os locais preferenciais são membros inferiores,
regiões cervicofacial, abdominal e torácica. Caracterizam-se por assimetria e evolução lenta por
anos. Micetoma é, na realidade, termo genérico que engloba uma síndrome clínica, causada tanto
por certos fungos, quanto por alguns tipos de bactérias, manifestando-se sempre por: a. aumento do
volume da região afetada; b. gomas e fístulas em várias fases evolutivas; e c. saída de material
exsudato necrótico e grãos (Figuras 8, 9).
Figura 8: Micetoma:
aumento do volume
do pé.
Figura 9: Micetoma:
fístulas na planta por
onde são eliminados
os grãos.
Esta síndrome engloba: as actinomicoses, provocadas por bactérias da família
Actinomycetaceae, cujos principais gêneros são Actinomyces, Nocardia, Streptomyces e
Actinomadura; as maduromicoses, causadas por fungos imperfeitos dos gêneros Madurella,
Allescheria, Cephalosporium, entre outros; e os micetomas eubacterianos, também denominados de
botriomicose, esses tendo como agentes etiológicos certas bactérias, como o Staphylococcus aureus,
Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli.
Os grãos, que saem das fístulas, nada mais são do que microcolônias, mostrando-se como
formações arredondadas, de 0,5 a 2mm. Podem, às vezes, de acordo com sua cor, direcionar para
uma ou outra espécie de agente. Os grãos esbranquiçados e/ou branco-amarelados são
característicos de algumas espécies de actinomicetos, como o Actinomyces israelii, Nocardia
brasiliensis e Nocardia asteroides, e de maduromicetos, entre eles a Allescheria boydii, Indiella
brumpti e o Cephalosporium recifei; os amarelo-acastanhados evidenciam o Streptomyces
somaliensis; os brancos, amarelos ou róseos, o Actinomadura madura; os vermelhos, actinomicetos,
como o Actinomadura pelletieri e maduromicetos, como o Rubromadurellas langeroni; e, por
último, os pretos, que também revelam alguns actinomicetos, como o Streptomyces paraguayensis,
e alguns maduromicetos, entre eles a Madurella mycetomi e a Pullularia pullulona. Para o
diagnóstico, realiza-se o exame direto, com evidenciação dos grãos; os de micélio fino não septado
com ramificações laterais são de actinomicose, os de micélio grosso e septado com clamidosporos
caracterizam a maduromicose, e, por último, aqueles com formações cocóides ou bacilares são os
causados por bactérias, indicando botriomicose. A cultura pode ser realizada com identificação do
agente e teste de sensibilidade a antibióticos, e, na histopatologia, observa-se área central de
inflamação rica em polimorfonucleares, os chamados microabscessos, com grãos em seu interior. O
tratamento depende do agente etiológico; usam-se sulfas e/ou sulfonas para Nocardia durante
períodos que variam de meses a anos, penicilina em dose alta para Actinomyces, anfotericina B ou
cetoconazol nas maduromicoses e, quando há invasão óssea, é necessário proceder à cirurgia com
amputação.
A criptococose ou torulose, causada pelo Cryptococcus neoformans, é rara no Brasil e
ocorre principalmente em imunodeprimidos, afetando pele e mucosas em 15% dos pacientes. A
penetração se dá por inalação e, em casos graves, pode atingir o sistema nervoso central, ossos e
vísceras (Figura 10).
Figura 10: Criptococose: lesão hemisférica em paciente com AIDS
O último grupo a ser revisto, entre os mais observados no Brasil, é a histoplasmose,
provocada por dois fungos do gênero Histoplasma. O Histoplasma capsulatum penetra por inalação,
atingindo pulmões, mucosas, em especial, boca, faringe e laringe, pele e articulações (Figura 11). A
infecção inaparente é comum, e os pacientes mostram reação intradérmica positiva à histoplasmina.
O Histoplasma duboisii, que causa a forma africana da doença, afeta predominantemente a
pele e os gânglios. A confirmação diagnóstica é feita pelo exame direto, que mostra formas
gemulantes muito pequenas, pela cultura e pelo exame histopatológico.
Figura 11: Histoplasmose: lesão ulcerada na língua
As micoses cutâneas englobam grande número de doenças que interessam a várias
especialidades médicas; seus quadros clínicos vão desde alterações benignas da pele e das mucosas,
como a pitiríase versicolor e a candidíase oral, até doenças muito graves, que podem levar o
paciente a sérias incapacidades ou mesmo à morte, como algumas micoses profundas. É de
fundamental importância que todos aqueles envolvidos na atividade médica tenham uma noção
desses conceitos e que estejam habilitados a, pelo menos, suspeitar desses diagnósticos, para que
essas afecções possam ser tratar cada vez mais precocemente. Dessa maneira, melhora-se a
qualidade de vida desses pacientes, evitando, assim, incapacidades e morte.
10 MICOSES OPORTUNISTAS
10.1 Pneumocistose
10.1.1 Caracterização
A Pneumocistose é uma infecção oportunista causada pelo fungo unicelular Pneumocystis
jiroveci (antigo c), é um organismo que provoca infecção quase exclusivamente em pacientes
debilitados e imunodeprimidos, bem como em crianças mal-nutridas. Em doentes com SIDA a
infecção é particularmente agressiva. Causa pneumonia em pessoas imunodeprimidas e crianças
mal-nutridas. Em doentes com SIDA a infecção é particularmente agressiva.
10.1.2 Origem
A infecção é por inalação dos esporos. O tracto respiratório é o principal portal de entrada
para P.jiroveci no homem.
10.1.3 Sintomas clínicos
A doença começa abruptamente com febre, respiração acelerada e tosse discreta sem secreção.
Dispnéia importante de início sub-agudo, perda de peso, sibilos e fadiga.
10.1.4 Diagnóstico
O seu diagnóstico é confirmado quase inteiramente com um exame microscópico de material
clínico, incluindo o fluido de lavagem brônquica dos alvéolos, o escarro induzido e as amostras de
biópsia do pulmão transbrônquica ou aberta. O médico suspeita do diagnóstico pela presença de
febre e tosse seca em pacientes com SIDA. Gasometria arterial (hipoxemia), DHL aumentado
auxiliam no diagnóstico.
10.1.5 Tratamento
O tratamento é realizado com medicamentos específicos que actuam contra o
microorganismo, classicamente o Trimetroprim-Sulfametoxazol (também conhecido como co-
trimoxazol). É comum a co-administração de corticoterapia para evitar a inflamação. As terapias
alternativas com pentamida, trimetoprim-dapsona, atovaquona, clindamicina- primaquina, entre
outras, têm sido aplicadas em pacientes com SIDA. O tratamento tem geralmente a duração de 21
dias.
10.2 Criptococose
10.2.1 Caracterização
A Criptococose é uma zoonose oportunista, causada por uma levedura capsulada, sendo
encontrada em solo, frutos e vegetais em decomposição, apresentado como reservatórios as fezes
das aves, principalmente pombos, e raramente morcegos.
É uma micose causada pelo Cryptococcus neoformans é a mais comum. É uma infecção
fúngica sistémica, predominantemente oportunista, a qual possui tropismo pelo sistema nervoso
central (SNC), respiratório e tegumentar (pele). O comprometimento da resposta imune é o
principal factor predisponente para a ocorrência da doença, sendo os pacientes com doenças
imunodepressoras como a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), neoplasias
linfoproliferativas ou sarcomas, sob tratamentos imunossupressores ou transplantados, são mais
susceptíveis à doença.
Este fungo está presente nas fezes de aves contaminadas. Quando secas, as fezes das aves
transformam-se em pó, que pode ser inalado acidentalmente. A infecção, tanto para o ser humano
quanto para os animais, dá-se pela inalação do agente infeccioso, que, na natureza, existe
principalmente em fezes de pombos. O simples contacto com animais doentes não apresenta riscos,
já que o microrganismo não forma aerossóis nos tecidos infectados.
10.2.2 Etiologia
A principal fonte de infecção da Criptococose é através das fezes de pássaros (pombos) e
morcegos, através da via aerógena (inalação do pó). Os animais susceptíveis ao contágio dessa
doença são os bovinos, caprinos, ovinos, cães, gatos, primatas, ou seja, osanimais
imunossuprimidos são os mais afectados. Os factores que estão associados à criptococose em
animais são: debilidade, desnutrição, uso prolongado de corticóides e certas infecções virais. Ainda
não se conhece casos de transmissão animal-animal, animal-homem ou homem-homem. Quanto
mais excremento ressecado e pulverizado no ambiente, maiores a probabilidade do homem
apresentar a doença. Um forro empoeirado de uma casa frequentado por pombos, é um ambiente
muito insalubre repleto de microrganismos patogénicos inaláveis.
Após sua transmissão o agente penetra no organismo, ocorre um foco no pulmão (infecção
primária do sistema respiratório). Em seguida, por disseminação via hematógena (sanguínea),
ocorrem focos nas meninges e no cérebro. Também podem ocorrem focos na pele, mucosas, ossos e
outros órgãos. A mortalidade em humanos é de 12%.
A patogenia causada por este fungo vai depender de factores divididos em dois grupos: um
que está relacionado com as características do estabelecimento da infecção e capacitação de
sobrevivência no hospedeiro, e o segundo, está relacionado aos factores de virulência, refletindo no
grau de patogenicidade.
10.2.3 Sinais e Sintomas
Por se tratar de uma micose sistémica profunda, seu quadro clínico pode variar conforme o
órgão acometido. Quando o fungo atinge os pulmões, podem ocorrer três evoluções distintas – pode
haver recuperação do organismo sem intervenção medica, - a doença pode ficar localizada nos
pulmões, - ou pode disseminar para os demais órgãos.
Nos homens apresenta febre, dor torácica, pálpebras e abcessos na pele, com posterior
ulceração, dor de cabeça, rigidez na nuca, distúrbios visuais, meningite.
Nas aves não há presença de sintomatologia, não causa doença nesses animais, na maioria
das vezes, devido à alta temperatura corporal das aves, a qual inibe o crescimento da levedura e da
baixa capacidade de invasão sistémica do fungo nessas espécies.
10.2.4 Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico pode ser feito através de vários testes laboratoriais, como cultura de sangue,
de líquido cefalorraquidiano(LCR) ou de outro material clínico, para detectar antígeneos
criptocócitos.
Uma vez diagnosticada, o tratamento é iniciado com anfotericina B mais flucitosina
activamente, durante duas semanas (terapia de indução), seguidas de consolidação durante oito
semanas com fluconazol oral ou itraconazol. Os pacientes com SIDA geralmente exigem terapia de
manutenção por toda a vida, com uma dessas duas drogas. Em pacientes não imunodeprimidos,
tratamento pode ser suspenso após a terapia de consolidação
10.2.5 Controle
Uma das principais estratégias é o controle dos pombos, uma medida de prevenção é
umidificar os locais onde há enormes acúmulos de fezes de pombos, para evitar que o fungo se
disperse por aerossol. Não há necessidade de notificação e de isolamento dos doentes.
10.3 Candidase
10.3.1 Caracterização
Candidase é o nome que se dá a infecção fúngica (micose) causado pelas espécies
deCandida. Já está comprovado que as espécies de Candida constituem o grupo mais importante de
patógenos fúngicos oportunistas. Embora mais de 100 espécies de Candida já tenham sido
descritas, apenas algumas têm sido implicadas em infecções clínicas, como, por
exemplo, C.albicans, C.glabrata eC.tropicalis.
10.3.2 Origem
A espécie mais comum do fungo Candida é a Candida albicans, considerado um membro
normal da flora gastrointestinal e geniturinário dos humanos. A maioria das pessoas são colonizadas
por Candida e nenhum sintoma apresentam. Porém, qualquer desequilíbrio na flora local ou no
estado imunológico do paciente pode levar esse fungo a se proliferar e invadir tecidos, causando
assim a candidíase. Portanto, ter Candida é diferente de ter candidíase, a doença causada pelo
fungo Candida. Até 50% das pessoas saudáveis têm o fungo Candida na cavidade oral.
Candida são colonizadoras conhecidas do homem e de outros animais de sangue quente e, como tal
são encontradas no homem e na natureza em todo o mundo. o principal sítio de colonização é o
trato gastrointestinal, desde a boca até ao reto. Esses organismos também podem ser encontrados
como comensais na vagina e na uretra, na pele e sob as unhas das mãos e dos pés.
10.3.3 Sintomas clínicos
As infecções causadas por Candida spp. variam desde a candidíase superficial mucosa e
cutânea até a disseminação hematogénica muito extensa, envolvendo órgãos-alvo como o fígado,
baço, rins, coração e cérebro. Neste último caso, a mortalidade directamente atribuível ao processo
infeccioso chega a 50%.
10.3.4 Infecções mucosas
As infecções mucosas causadas por Candida spp. (conhecidas como “sapinhos”) podem
limitar-se à orofaringe ou estender-se ao esófago e todo o tracto gastrointestinal. Nas mulheres, a
mucosa vaginal constitui também um sítio comum de infecção. As infecções são observadas
geralmente em pessoas com imunossupressão local ou generalizada ou nos ambientes que
favorecem o crescimento exagerado dos organismos infecciosos.
Candidíase mucosa oral
Essas infecções apresentam-se normalmente com manchas brancas na superfície mucosa.
Outras apresentações incluem o tipo pseudomembranoso, que revela uma superfície que sangra
quando arranhada: o tipo eritematoso, representado por áreas planas, avermelhadas e
ocasionalmente dolorosas; a leucoplasia por Candida, que é o espessamento esbranquiçado e
irremovível do epitélio, causada por Candida spp. e a quelite angular, representada por fissuras
dolorosas nos cantos da boca.
10.3.5 Infecções cutâneas
Candidíase cutânea membrana
dos dedos dos pés
Candida spp. pode provocar infecção cutânea localizada em áreas nas quais a superfície da
pele é ocluída e húmida (ex.: virilhas, axilas, membranas dos dedos dos pés e dobras dos seios).
Essas infecções apresentam-se como um exantema prurítico com lesões vesiculopustulares
eritematosas.
10.3.6 Infecções mucocutâneas
A candidase mucocutânea crônica é um quadro raro marcado por uma deficiência na
capacidade de resposta dos linfócitos T à Candida spp. Nestes casos os pacientes sofrem de lesões
mucocutâneas graves e irreversíveis causadas por Candida que incluem o envolvimento das unhas e
a vaginite. Lesões como estas podem tornar-se significativamente extensas, chegando a uma
aparência granulomatosa desfigurante.
10.3.7 Infecções do trato urinário
O envolvimento do tracto urinário com Candida spp. varia desde a colonização
assintomática da bexiga até abcessos renais secundários à disseminação hematogénica. A
colonização da bexiga por Candida spp. não é essencialmente notada, a menos que um paciente
precise de usar um cateter de longa permanência, tenha diabetes, sofra de obstrução urinária ou
tenha passado por procedimentos urinários anteriores.
10.3.8 Infecções do Sistema Nervoso Central (SNC)
A candidíase no SNC pode ocorrer como resultado da doença hematogénica ou estar
associada a procedimentos neurocirúrgicos e desvios ventriculoperitoneais. Esse processo pode
imitar um quadro de meningite bacteriana, ou então apresentar-se como um curso indolente ou
crônico.
10.3.9 Infecções de envolvimento cardíaco
A maioria dos casos de envolvimento cardíaco com Candida spp. resulta da colonização
hematogénica de uma válvula cardíaca danificada ou protética, do miocárdio ou do espaço
pericárdico. A literatura já informa casos de implantação de válvulas cardíacas contaminadas
com C. parapsilosis. A sua apresentação clínica assemelha-se muito à endocardite bacteriana, com
febre e sopro cardíaco.
10.3.10 Infecções hematogênicas
Os pacientes com candidíase hematogénica demonstram envolvimento frequente dos olhos,
manifestando quadros de coriorrenite e endoftalmite. Por esta razão topos os pacientes em risco de
candidémia deverão passar por exames oftálmicos cuidadosos e frequentes.
10.3.11 Diagnóstico
O diagnóstico de candidase faz-se laboratorialmente através de vários exames
microscópicos, envolve a busca de material clínico apropriado, seguida de exame microscópico
directo e da cultura.
10.3.12 Tratamento
Há várias opções de tratamento para candidase. As infecções mucosas e cutâneas podem ser
tratadas com vários cremes tópicos diferentes, loções, pomadas e supositórios contendo vários
agentes antifúngicos à base de azóis. A terapia sistêmica oral dessas infecções também pode ser
feita com fluconazol ou cm iraconazol.
10.3.13 Prevenção
Como ocorre na maioria das doenças infecciosas, a prevenção é a opção preferida ao
tratamento de uma infecção por Candida instalada. Para isso, é obrigatório: evitar o uso de agentes
antimicrobianos de amplo espectro; cuidados meticulosos com os cateteres e obediência rigorosa às
precauções de controlo de infecções.
top related