10 mandamentos no treino de futebol com jovens
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VALTER PINHEIRO*
ARMANDO COSTA**
BRUNO BAPTISTA***
PEDRO SEQUEIRA****
*Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE) / Fundação da Ciência e Tecnologia
**Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE)
*** Metodologia TOCOF
***Diretor da Unidade de Investigação do Instituto Politécnico de Santarém
Resumo
O treino com jovens atletas é um tema que vem sendo discutido na literatura, sem
que, contudo, se consiga chegar a um entendimento claro sobre o mesmo. Assim,
algumas dúvidas permanecem na obscuridade, por falta de respostas concretas, ou,
muitas vezes, pela relutância dos principais atores do cenário desportivo em relação
à mudança, ou seja, à rutura com o passado.
Com o presente artigo procuraremos dar resposta a algumas interrogações,
lançando o debate sobre alguns temas que importam ser discutidos.
Palavras-Chave: Treino com Jovens; Futebol; Pedagogia: Didática.
10 MANDAMENTOS DO TREINO COM JOVENS FUTEBOLISTAS
REDAF-R E V I S T A D E D E S P O R T O E A T I V I D A D E F Í S I C A
Ju lho 2012 Vo lume 5, Número 1
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Abstract
The young athletes training is a topic that has been discussed in the literature,
which, however, was able to reach a clear understanding of the same. Thus, some
doubts remain in obscurity for lack of concrete answers, or often by the reluctance of
the major players in the sports scenario in terms of change, ie, the rupture with the
past. With this article we will try to answer some questions, launching the debate on
some topics that matter to be discussed.
Keywords: Training with Young; Soccer; Pedagogy: Teaching.
Introdução
O treino de Futebol com jovens é um atividade que tem tanto de desafiante como de
interrogante. Muitos são os que se dedicam ao seu estudo, reflexão e treino,
procurando dar resposta às interpelações que a prática coloca.
Contudo, se é verdade que existe um grupo de pessoas empenhado na melhoria
qualitativa deste fenómeno, tornando-o mais científico, também é verdade que
muitos treinadores desenvolvem o seu labor, sem exercer a necessária reflexão
sobre a sua prática.
O treino de futebol com jovens não poderá assumir-se, somente, como uma práxis
esvaziada de conteúdo, fruto de uma repetição daquilo que era realizado no
passado. O treino de futebol reclama dos seus principais agentes uma atitude ativa,
crítica e construtiva, tornando este fenómeno um verdadeiro processo de ensino, ao
qual corresponderá, necessariamente, uma aprendizagem.
Por isso, ao longo deste artigo, serão elencados um conjunto de preocupações, aos
quais ousámos chamar de “mandamentos”. Não temos o arrojo de considerar que
somos os donos da verdade, por isso, estes são os nossos mandamentos e jamais,
OS mandamentos.
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1º Mandamento – “Antes de ser Treinador, ser Educador”
É sabido que à prática desportiva, em geral e ao futebol, em particular, são
associados um conjunto de benefícios resultantes da sua vivenciação. Por isso, existe
a crença de que praticar desporto é um excelente método para a aquisição de
valores morais e éticos, bem como, para o desenvolvimento de todos os
componentes ligados à saúde. Todavia, os estudos científicos são claros ao afirmar
que a prática desportiva, per se, não faz bem nem mal. Deste modo, somente a
qualidade da prática poderá assegurar o desenvolvimento das referidas
competências sociais, ou seja, se a prática for bem orientada pelos adultos
significativos, esta terá certamente uma influência positiva sobre os jovens. Pelo
contrário, uma experiência mal conduzida, terá efeitos nefastos e, neste caso, seria
melhor que os jovens não participassem no desporto.
Concluímos, desta forma, que treinar crianças não se pode reduzir ao simples ensino
das questões de natureza técnica, tática e física. O treinador deverá assumir um
verdadeiro compromisso com a sua praxis, assumindo que a sua conduta se assume
como um exemplo a ser seguido pelos seus atletas. Logo, antes de ser treinador de
futebol é um educador desportivo, independentemente da sua formação académica.
Olvidar esta premissa, é assumir uma prática estéril e inconsequente.
Não é demais referir que a esmagadora maioria das crianças que iniciam o futebol,
jamais logrará ser futebolista profissional. Todavia, todas serão futuros cidadãos. Por
isso, importa refletir sobre os modelos de ensino de futebol que continuam a
vigorar.
Ao treinador deverá ser confiado o ensino dos mais nobres valores, nomeadamente,
o esforço, o empenho, a dedicação, a resiliência, a abnegação, o respeito pelo outro
e por si mesmo.
Deste modo, não é lícito ao treinador afirmar que a educação é da responsabilidade
dos pais e da escola, na medida em que educar é um processo levado a cabo por
todos e a todo o momento.
O treinador, pelo cargo e posição que ocupa, é um verdadeiro “fazedor de cidadão”,
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2º Mandamento – “Antes de gostar de ganhar, gostar de jogar futebol”
A questão da vitória desportiva no futebol com jovens nunca foi consensual. Para os
mais puritanos, a busca pela vitória conduz as crianças por caminhos desviantes,
levando-os muitas vezes a adotarem comportamentos anti desportivos. Por isso, a
vitória deverá ser vista como algo pernicioso. Para os mais competitivos, a vitória é o
resultado que somente interessa. Nada existe para além da vitória e perder é sinal de
fracasso.
Neste âmbito, posicionamo-nos numa zona equidistante face a estas duas realidades
diametralmente opostas.
Na verdade, a vitória jamais poderá ser entendida como um convite a prevaricação. É
desleal e até mesmo pouco racional ensinar as crianças a não procurarem a vitória.
As crianças deverão ser educadas a granjearem a superação, a buscarem a
transcendência. Numa sociedade altamente competitiva, como a atual, é certamente
um erro não educar para a vitória.
Todavia, esta não poderá ser o centro nevrálgico quando se treina crianças. Por isso,
devemos estimular os atletas a procurarem a superação, desejando vencer, devendo,
todavia, explicar que a prática do futebol pressupõe a existência de três resultados
possíveis. Por isso, a principal função do treinador é desafiar as potencialidades das
crianças, encorajando-as a querem ser cada vez melhores. Contudo, alertando para
a necessidade de ser um vencedor humilde e um perdedor tranquilo.
Assim, somos liminarmente contra a frase cliché “Ganhar ou perder é desporto”.
Acreditamos que esta frase deverá ser substituída por “ No desporto eu quero
sempre ganhar, mas sei que posso perder.”
3ºMandamento- “Antes de ensinar jogadas, ensinar a essência do jogo”
Em primeiro lugar, importa salientar o que para nós significa o termo “jogadas”. Em
nosso entender, não são mais do que circulações estereotipadas, repetidas vezes
sem conta, em contexto de treino, com o objetivo de vê-las reproduzidas na
competição. Normalmente, estas jogadas são fruto de uma arquitetura mental do
treinador que procura tornar os seus atletas verdadeiros robots programados.
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Quando ensinamos jogadas, aniquilamos o potencial decisional das crianças, na
medida em que criamos cenários que queremos ver reproduzidos, esquecendo-nos
que a competição está sujeita à imprevisibilidade, ao casuístico. Assim, não poderão
os treinadores procurar “robotizar” os seus atletas, mas antes muni-los de
ferramentas que lhes permitam em cada situação do jogo, decidir da melhor forma.
No entanto, um olhar mais atento sobre os escalões de formação de futebol, revela
que para muitos treinadores, o futebol se assume como um verdadeiro jogo de
computador, onde a missão do treinador é teleguiar os seus atletas. Muitos
treinadores ocupam todo o tempo de jogo a dar indicações claras e precisas a cada
atleta do que deve fazer, como fazer e onde fazer. Claro está, que não defendemos
que o ensino do futebol seja anarquizado e o papel do treinador é de suma
importância na correção. Contudo, ensinar futebol, implica apontar caminhos,
oferecer diferentes soluções e depois, permitir que em contexto competitivo seja o
atleta a escolher, em cada momento, qual o melhor desfecho para os problemas que
lhe surjam.
Concluindo, cabe ao treinador a árdua tarefa de promover nos seus atletas a tomada
de decisão, de modo autónomo, singular, procurando dar sempre a melhor resposta
às contingências do contexto.
4º Mandamento – “Antes do jogo formal, o jogo reduzido”
Ensinar o jogo de futebol às crianças não passa por colocá-las na hercúlea tarefa de
confrontarem-se num 11*11. Assim, como ninguém aprende a ler através das obras
de Fernando Pessoa, mas antes em livros apropriados para esse fim, também não se
aprende a jogar futebol através da sua forma mais complexa (11*11).
Tomando como exemplo um livro: é mais moroso ler uma obra de 400 páginas do
que uma obra de 100, pois o número de páginas é menor. No Futebol, se partirmos
do princípio que cada atleta em campo é uma página, facilmente compreendemos
que quanto mais jogadores houver em campo, mais tempo levarão os atletas a fazer
a leitura do jogo. É importante que percebamos que por cada atleta que se adicione
ao jogo, acrescentam-se mais um conjunto de variáveis. Por isso, o ensino do jogo
de futebol, deverá operacionalizar-se através de formas jogadas reduzidas. Estas,
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não são uma forma inferior de ensinar o jogo, mas antes um utensílio pedagógico de
inegável qualidade. Antes de aprender a confrontar-se contra 4 adversários, a
criança necessita de aprender a defrontar-se contra 1. Posteriormente, necessita de
saber cooperar com um companheiro para a obtenção do objetivo do jogo. Esta é a
lógica progressiva do ensino do jogo de futebol, relevando a sua característica de
jogo de cooperação – oposição.
Além disso, as crianças que começam a experimentar o futebol, são normalmente
limitadas do ponto de vista motor, necessitando de frequente contacto com o móbil
do jogo. Os jogos reduzidos, promovem uma maior proximidade entre a criança e a
bola, permitindo-lhe vivenciar mais situações de condução de bola, passe, drible,
desarme, entre outros. Não nos podemos esquecer que a grande motivação das
crianças é a possibilidade de conduzir a bola.
Por isso, acreditamos que a melhor forma de ensinar o jogo de futebol é através de
formas simplificadas que permitam à criança a apropriação da essência do jogar.
5º Mandamento –“ Em vez de criticar, corrigir e elogiar mais”
Vivemos numa sociedade onde o termo “criticar” assume uma conotação negativa.
Fazer crítica, é normalmente sinónimo de depreciar, ridicularizar, desmerecer
alguém. Contudo, a crítica assume uma vertente pedagógica, quando bem
conduzida. É sabido que ninguém nasce ensinado e que durante um processo de
aprendizagem devemos saber conviver com o erro. Ao treinador cabe a tarefa de ser
paciente perante o erro e de intervir no sentido de eliminá-lo.
Assim, importa atentar em que tipos de intervenções deverá o treinador centrar-se
de modo a propiciar as melhores informações aos seus atletas.
Em primeiro lugar, dizer ao atleta que fez determinado gesto técnico mal, é assumir
a premissa de que esse mesmo atleta não tem capacidade discriminativa para
perceber que errou. Ou seja, o atleta tem normalmente consciência de quando
executa mal um passe, um remate, um desarme. Mais do que enfatizar o que foi mal
executado, importa salientar o que deve ser feito para se melhorar. Por isso, as
célebres frases “ João, estás a rematar mal”, deverão ser substituídas por “João,
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afasta o pé de apoio da bola para rematares melhor”. Em vez de empolar o erro, o
treinador deverá escalpelizá-lo com o seu atleta com o objetivo de corrigi-lo.
Outras das questões muitas vezes esquecidas pelos treinadores aquando do
processo de comunicação com os seus atletas são os elogios, encorajamentos e
incentivos. A literatura é unânime em reconhecer que todo o ser humano aprende
melhor quando o seu comportamento é reforçado positivamente, mesmo que esse
comportamento ainda não esteja completamente de acordo com o desejado. Muitos
treinadores dão relevo apenas ao produto final, olvidando-se do processo. Se uma
criança remata sempre mal e posteriormente passa a rematar um pouco melhor, essa
evolução não poderá passar despercebida aos olhos do treinador. Apesar de ainda se
encontrar longe daquilo que é desejável, na verdade a criança já deu mais um passo
rumo ao comportamento pretendido.
A este respeito importa referir que os estudos realizados no âmbito da psicologia
denotam que uma das principais causas de abandono desportivo por parte das
crianças, se deve a ausência de estímulos positivos. Por isso, não deve o treinador
perder a oportunidade de elogiar um bom comportamento da criança. Elogios e
encorajamentos geram um clima motivacional positivo, propício a aprendizagens.
Além disso, promove uma relação de maior confiança entre treinador –atleta.
6ºMandamento – “Antes de mecanizar, desenvolver a criatividade”
Se analisarmos com algum detalhe as últimas épocas do futebol português,
compreendemos que muitos dos jogos acabam com empates a zero. Este resultado
deverá provocar em nós uma reflexão interior, procurando resposta para o mesmo.
Em nosso entender, a organização defensiva é um momento do jogo ao qual os
treinadores dão cada vez mais relevância, na busca de somar os necessários pontos
à obtenção dos objetivos. A política do “resultadismo” impera sobre a demanda do
espetáculo desportivo. Contudo, não nos parece que o problema resida somente na
grande qualidade com que se organiza o processo defensivo. Na verdade,
acreditamos que perante modelos de jogo altamente defensivos, somente uma
processo ofensivo de inegável qualidade poderá sortir efeito. Todavia, um processo
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ofensivo de qualidade reclama a existência de atletas criativos, “ sui generis”,
capazes de fazerem a diferença. Importa deste modo atentar no termo “criatividade”.
Na conceção de alguns autores a criatividade representa a emergência de algo único
e original. O recurso a um autor mais antigo não foi falta de zelo, mas antes
propositado. É que desde sempre que o ato criativo foi assumido como algo ímpar,
excecional, exclusivo de determinados atletas. Ser criativo significa ver além dos
demais, encontrar caminhos, onde outros veem becos, ver soluções onde outros
veem problemas. Ser criativo, é ser-se especial, é ser ousado, é ser-se audaz ao
ponto de encontrar soluções imprevistas e impensadas.
Contudo, a originalidade também se desenvolve, através do processo de treino. Mas
para ser desenvolvida reclama do treinador uma postura de tolerância. É que o
processo criativo anda de mãos dadas com o erro. Torna-se difícil desenvolver-se a
criatividade, se do exterior não existir paciência para com os erros.
Por isso, cabe aos treinadores reconhecerem o papel de destaque que assumem os
atletas criativos, na medida em que estes poderão ser os futuros atletas de eleição.
Não nos podemos esquecer que os atletas criativos, são os mais arrojados, os
audazes, procurando a todo o momento a transcendência.
7ºMandamento – “Acima de tudo a SAÚDE”
Quando treinamos jovens atletas praticantes de futebol, fazemo-lo, muitas vezes,
centrados no seu desenvolvimento técnico e tático, esquecendo que o treino com
jovens deverá promover hábitos e estilo de vida saudável. Ser treinador de jovens é
procurar intervir positivamente na saúde daqueles que são objeto do nosso labor.
Importa lembrar que a saúde, de acordo com a organização mundial da saúde, não é
apenas a ausência de enfermidade, mas um completo bem-estar físico, social e
mental.
No que concerne a dimensão física, verificamos que muitas vezes o processo de
treino conduz ao aparecimento de lesões, ou por deficiente preparação dos atletas,
ou por repetição excessiva de determinado gesto técnico. Alguns treinadores,
buscando sucesso imediato, promovem uma intensidade desproporcionada às
características morfo- funcionais das crianças. Por isso, o princípio da
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multilateralidade deverá ser a pedra angular no planeamento do treino de futebol
com jovens, estabelecendo uma relação estreita com o princípio da especificidade.
Em relação à dimensão mental, verificamos que em diversas situações a prática
desportiva é a responsável por diversos problemas de natureza psíquica. Crianças
que sofrem de depressões, ansiedade, medo de errar, passaram muitas vezes por
processos de treino onde a exigência estava muito acima das suas potencialidades.
O treino, como já se disse anteriormente, deverá promover a superação, a
transcendência, todavia, respeitando o princípio da individualidade, ou seja,
reconhecendo que cada criança é um ser único, singular e irreproduzível e que por
isso reclama do treinador diferentes abordagens. Não pode o treinador ensinar para
TODOS como se fossem UM.
No que diz respeito à dimensão social, devemos reconhecer que muitas crianças
procuram a prática do futebol pela necessidade de pertença a um grupo, pelo desejo
de afirmação perante os seus pares, pela demanda de rivalizar com o outro.
Todavia, este processo deverá ser orientado pelo treinador que não deverá permitir
que em situação alguma, uma criança possa ser alvo de troça ou chacota por parte
dos seus colegas. O treinador deverá assegurar-se que todos os elementos fazem
parte do grupo e que nenhum se situa no seu exterior.
Acreditamos que, se o treino produzir alterações positivas na saúde das crianças,
então, todo o processo estará impregnado de sucesso.
8º Mandamento – “Em vez de excluir, Incluir”
O desporto com jovens é eminentemente inclusivo e o futebol não deverá ser
exceção. Significa que todas as crianças devem ter o direito de jogar futebol, desde
que enquadradas em contextos que correspondam às suas potencialidades. Ou seja,
não defendemos que todas as crianças tenham o direito de jogar futebol nos clubes
de maior nomeada quando as suas potencialidades não o permitem. Apesar disso,
não lhes deverá ser negado o acesso de praticarem futebol noutros contextos mais
condizentes com as suas qualidades.
Um dos grandes problemas que se assiste no futebol jovem em Portugal é o tempo
de jogo concedido a cada criança. Muitos treinadores, com a inquietação de obterem
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sucesso rápido, dão oportunidade de jogar, apenas aos mais aptos que ao jogarem
mais vezes, aumentarão o fosso para os demais. Há realidades em Portugal em que
algumas crianças passam todo o jogo na condição de suplentes sem que lhes seja
dada a possibilidade de participarem. Em nosso entender, trata-se de uma crueldade
atroz e intolerável que deverá ser repudiada. Todas as crianças deverão ter o direito
a participar na competição, jogando tempos diferentes, em função das suas
potencialidades. Todavia, a nenhuma deve ser vedado a participação, por ínfima que
seja, no contexto competitivo. É factual que só se aprende algo, fazendo. Logo, só se
aprende a jogar futebol, jogando.
9º Mandamento – “Os pais também jogam”
É verdade que em diversas situações, os pais dos atletas revelam comportamentos
perturbadores do desenvolvimento desportivo dos seus filhos. Alguns pais que
desejavam ter sido futebolistas de alta competição, mas que viram esse sonho
gorado, procuram realizar esse intuito nas vidas dos seus educandos. No fundo,
entendem a vida dos mesmos, como uma continuação da sua. Esta conduta é
deveras nefasta para as crianças que se sentem pressionadas no seu desempenho.
Contudo, os nossos atletas têm pais e naturalmente, devemos aprender a cooperar
com os mesmos para um único objetivo – o sucesso dos atletas.
Por isso, cabe ao treinador procurar encontrar elos de ligação com os pais,
suscitando nestes a necessidade de empreender uma postura positiva face à prática
desportiva dos seus filhos.
Uma das estratégias que poderá contribuir para uma maior aproximação entre
treinadores e pais é a realização de uma reunião de início de época. Nestas, os
treinadores deverão definir os objetivos do seu labor, bem como, aquilo que
esperam que os pais venham a desenvolver. Os pais deverão ser informados das
condutas e procedimentos que no entender do treinador, poderão contribuir para o
sucesso dos seus filhos.
O treinador deve, ainda, ser consistente na comunicação com os pais, ou seja,
deverá existir coerência no seu discurso. Nada pior do que prometer aquilo que não
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poderá cumprir. Nessa medida, o treinador deverá transmitir aos pais, aquilo que
para ele é expectável em relação ao desenvolvimento das crianças.
Depois, também é muito importante garantir independência relativamente a todos os
pais. Por diversas ocasiões, os treinadores estabelecem com determinados pais,
laços de proximidade que poderão ser “lidos” pelos restantes, como uma forma de
favorecimento a determinadas crianças. Desta modo, o treinador deve procurar
estabelecer uma relação equidistante com todos.
10º Mandamento: “O Treinador: Um Teórico – Prático”
A discussão entre a validade da teoria e da prática já vem de longe, assumindo-se
muitas vezes como uma questão quase dogmática. Desta forma, os treinadores que
tiveram experiência prática enquanto atletas reclamam para si o conhecimento
próprio de quem conheceu as adversidades do campo. Os treinadores de formação
académica avogam que o estudo científico do futebol que realizaram na Universidade
lhes confere um olhar mais profundo do fenómeno do treino. Acreditamos que
ambas as posições se encontram demasiado extremadas, porque a prática revela-
nos que as duas tipologias de treinadores referenciados anteriormente apresentam
resultados de qualidade. Assim, nem só a prática enquanto ex- atleta confere a um
treinador todos os conhecimentos necessários para treinar uma equipa, pois uma
realidade é a do jogador, outra distinta é a de liderar um grupo. Mas, o estudo
científico do futebol, per se, não serve para nada se não for justificada com uma
prática profícua. É por isso célebres algumas frases dos ditos “práticos” e “teóricos”,
como “Quem sabe faz, quem não sabe ensina” ou “Não há nada mais prático do que
uma boa teoria”. No entanto assumimos com maior clareza a frase de Paulo coelho
que afirma que “a teoria é como uma espada que quando não é utilizada apodrece.
É por isso que vamos ao encontro de Pinheiro (2011) quando afirma que não basta
ter-se sido um excelente jogador de futebol, nem ter sido um brilhante aluno de
faculdade para se ser um bom treinador. No fundo o treinador deverá ser um
“teórico-prático” procuram obter uma prática de elevada qualidade, consubstanciada
teoria viva e passível de aplicar.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Pinheiro, V. (2011). Os 10 mandamentos (+1) no treino de futebol com jovens.
Colóquio de futebol jovem organizado pelo Grupo Desportivo Águias de Camarate.
Sacavém.
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