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3º Seminário de Relações Internacionais Graduação e Pós-Graduação
Data: 29 e 30 de setembro de 2016.
Local: Florianópolis (campus da Universidade Federal de Santa Catarina), nos Data e Local
do Evento
Área temática: Economia Política Internacional
A “NOVA NORMALIDADE” DO DESENVOLVIMENTO DA CHINA: O INVESTIMENTO
ESTRATÉGICO EM ENERGIAS RENOVÁVEIS
Walter Barbieri Junior
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
Resumo
Nos últimos anos, a China estabeleceu um novo programa de desenvolvimento que
está atrelado a preocupações ambientais. Considerada por décadas como a “fábrica do
mundo”, os desequilíbrios de sustentabilidade provocado pelo processo de industrialização
exercem pressão sobre o Estado chinês da necessidade de políticas ambientais no país.
Além de problemas estruturais como o aumento constante do custo da mão de obra e o
endividamento crescente do Estado, decorrente do excesso de investimento em
infraestrutura principalmente após a crise de 2008.
O característico pragmatismo da burocracia estatal na condução do desenvolvimento
conduziu a um planejamento de transformação do modelo discutido no 18.º Comitê Central
do Partido Comunista em 2013.
O desenvolvimento econômico elaborado pelo Estado chinês é conhecido por “nova
normalidade” na qual há uma altera no foco do país, a prioridade da China é a qualidade do
crescimento em substituição ao antigo desenvolvimento que era baseada na velocidade.
Esse processo se constitui na expressão utilizada no novo contexto, “As Quatro Novas
Modernizações”, que baseia-se no desenvolvimento industrial harmonioso, na aplicação da
Tecnologia da Informação, na urbanização e na modernização da agricultura. Nesse sentido
coerente com as diretrizes, a China tende a transformar-se em um dos principais polos de
criação de produtos com alto valor agregado, como também um importante centro de
serviço e de consumo mundial.
2
Ao longo do processo de desenvolvimento, a matriz energética chinesa foi baseada
na combustão de carvão. A intensa utilização da energia fóssil provocou uma série de
problemas ambientais que levou o Estado chinês, em reestruturação do caminho da
modernização chinesa.
O movimento chinês é atravessado pela expansão de crescentes investimentos nas
fontes de energia solar, eólica e hidrelétrica pelo Estado chinês. A estratégia objetiva
desenvolver alternativas de sustentabilidade ambiental, ao mesmo tempo, diminui a
exposição do país a característica volatilidade no valor do mercado de hidrocarboneto.
Dessa forma o artigo se propõe a analisar a política de desenvolvimento do Estado
chinês, principalmente na área de investimento estratégico em energia renovável, no
contexto da “nova normalidade“ do desenvolvimento chinês.
Palavras-chave: China, Desenvolvimento, Energia Renovável
Introdução
O processo de desenvolvimento econômico na China provocou desequilíbrios
ambientais, dado que a utilização da matriz energética com base no carvão para suprir a
demanda industrial e atrair empresas para o seu território gerou problemas que desafiam a
modernização efetiva do país.
A China com uma população aproximadamente de 1,3 bilhão, segunda maior
economia internacional, considerada a “fabrica do mundo” produziu graves complicações
referentes à sustentabilidade ambiental. Nos últimos anos, a China representa o principal
País na construção de programas ambientais que são implementados como uma política
estratégica de Estado. Além de enfrentar o problema da degradação ambiental, a expansão
do investimento no campo da sustentabilidade ambiental tem produzido importantes
avanços tecnológicos industriais.
O investimento em energia renovável representa uma das principais estratégias dos
Estados nacionais na questão geopolítica no século XXI dentre os motivadores estão a
preocupação em independência energética, a segurança energética e o ar limpo, razões
estas que impactam o desenvolvimento econômico e a capacidade de poder no sistema
interestatal internacional.
3
1- A degradação ambiental da China: o esgotamento do modelo “fábrica do
mundo”
Nas últimas décadas, a China foi considerada a “fábrica do mundo”, o país asiático
tornou-se a principal base produtiva das empresas transnacionais do capitalismo
contemporâneo, o que representou uma profunda alteração na divisão internacional do
trabalho. O processo de inserção da China foi iniciado com as reformas de mercado em
meados de 1978 que foram dirigidas pela burocracia do Partido Comunista Chinês (PCC)
então liderado por Deng Xiaoping1· através do “Programa das Quatro Modernizações”2.
Neste período, o PIB (Produto Interno Bruto) chinês cresceu a uma taxa média de 9,5% ao
ano, três vezes a média dos Estados Unidos”3. A transformação estrutural permitiu a China
transitar no sistema interestatal de um país semiperiférico para o status de potência global. 4
Após a crise internacional de 2008, o desenvolvimento chinês passou a apresentar
problemas estruturais que foram provocados principalmente pelo excessivo investimento do
Estado no setor imobiliário, o objetivo dos dirigentes chineses era manter os altos índices de
crescimento como uma alternativa a contração da demanda global. A consequência do
programa foi o aumento da dívida pública.5
O total da dívida acumulada da China, que inclui governo central, os operadores
residentes na China, incluindo as famílias, empresas e do Estado está próxima de 210% do
PIB. No entanto, se limitarmos a dívida pública, o índice fica abaixo de 45% do PIB, o que
coloca em relativa tranquilidade quanto a ameaça de crise da dívida quando comparamos o
índice dívida/PIB de países como Japão 245%, Grécia 174%, Itália 136%, e os Estados
Unidos, 105%. Além disso, somente 10% da dívida chinesa é controlado pelo capital
estrangeiro, valor muito menor do que a quantidade de reservas cambiais do Estado
chinês.6
O esgotamento do modelo “fábrica do mundo” não se limita aos fatores econômicos,
ao longo do desenvolvimento chinês, o padrão industrial exportador gerou desequilíbrios de
sustentabilidade o que impôs a China a necessidade de políticas ambientais. A matriz
1 Deng Xiaoping foi o secretário-geral do Partido Comunista Chinês entre 1978 e 1992. É considerado um dos principais líderes da Revolução Socialista de 1949. 2 O Programa das Quatro Modernizações representou uma politica de metas públicas de fomento de setores estratégicas: indústria, agricultura, a área de ciência e tecnologia e as Forças Armadas. 3 LYRIO, Mauricio Carvalho. A ascensão da China como potência: fundamentos políticos internos. Brasília: FUNAG, 2010. Disponível em: <http://funag.gov.br/loja/download/902Ascensao_da_China_como_Potencia_A.pdf>. Acesso em: 01 de outubro de 2015. 4 BARBIERI JUNIOR, Walter. China: o papel do Estado no desenvolvimento econômico e inserção no capitalismo internacional. Saarbrucken; Omnis Scriptum GmbH & Co. KG, Ed. Novas Edições Acadêmicas, 2015 5 BARBIERI JUNIOR, Walter . O atual revisionismo do modelo de desenvolvimento chinês. In: 5 Congreso Uruguayo de Ciencia Politica, Montevideo, 2014. 6 AMIGHINI, Alessia Xi’s Policy Gambles: The Bumpy Road Ahead, ISPI Report , Axel Berkofsky (Eds.), 2015.
4
energética chinesa é baseada na combustão de carvão mineral em termelétricas, fonte
responsável por grandes emissões de gases prejudiciais para o meio ambiente, como o gás
carbônico (CO2), grande parte das usinas não possui quaisquer sistemas elétricos de filtros.
O carvão representa proximamente 66% da geração da matriz energética da China.7
2- A “nova normalidade” do desenvolvimento chinês: reestruturação energética
“No desenvolvimento de uma civilização ecológica é necessário pôr em
prática o espírito do 18º Congresso Nacional do Partido...é preciso formar
a consciência ecológica, aperfeiçoar o sistema ecológico, manter a
segurança ecológica e otimizar o meio ambiente, formando nossos
espaços geográficos, nossa estrutura industrial, nosso modelo de
produção e nossa maneira de viver com base na economia de recursos e
na proteção ambiental”
(Presidente Xi Jinping na 6º sessão de estudo coletivo do Birô Político
do 18º Comitê Central do Partido Comunista Chinês8)
Em 2013 a China realizou o 18.º Comitê Central do Partido Comunista com vistas
para reformular o modelo de desenvolvimento na direção de maior valor agregado e
sustentabilidade ambiental. O desenvolvimento industrial produziu desequilíbrios ambientais
na China, porem nos últimos anos, o país representa o principal investidor na área da
economia sustentável. O cenário de desequilíbrio ambiental exerce forte pressão sobre o
Estado chinês da necessidade de implementação de políticas ambientais. No Comitê foi
anunciado o replanejamento do Estado chinês que se constitui na expressão “As Quatro
Novas Modernizações”9, que baseia-se estrategicamente no desenvolvimento industrial
harmonioso, na aplicação da Tecnologia da Informação, na urbanização e na modernização
da agricultura.
Nesse sentido, a China converge para se transformar em um dos principais pólos de
criação de produtos com alto valor agregado, e tornar-se um importante centro de serviço e
de consumo mundial. A reformulação do desenvolvimento da China reflete a concepção da
sociedade chinesa no século XXI. O processo de industrialização e urbanização elevaram a
renda do povo chinês, que está cada vez mais aparece interessado em qualidade de vida.
7 CAMPBELL Richard J.. China and the United States—A Comparison of Green Energy Programs and Policies. Congressional Research Service, 2014 8 XI Jinping. Inaugurar uma nova era de ecocivilização socialista. In: A Governança da China. Editora de Linguas Estrangeiras. Beijing, China, 2014. 9 DEVELOPMENT RESEARCH CENTER OF THE STATE COUNCIL –RPC. Chinas’s New Development.
Beijing: China Intercontinental Press, 2013. p. 149
5
Questões como a saúde e um meio ambiente saudável para a prática do lazer estão cada
vez mais cobiçadas pela sociedade.10
No contexto da chamada “nova normalidade”, a China busca um desenvolvimento
mais equilibrado, que diferente da expansão de dois dígitos no PIB de décadas recentes, os
dirigentes chineses planejam um crescimento econômico anual de aproximadamente, porem
deve ser salientado que essa taxa de crescimento menor garante a condição de amplo
trabalho por meio da criação de 10 milhões de empregos por ano, número considerado
suficiente pelas autoridades públicas para manter a taxa de desemprego urbano menor que
4,5%.11
O foco das reformas estratégicas na questão ambiental do Estado chinês é baseado
no incentivo a inovação, por meio do combate ao excesso de capacidade nas indústrias
pesadas de poluentes, ao mesmo tempo programas de incentivo a fábricas que agregam
maior tecnologia na cadeia de valor global. Neste momento de transição, deve ser
ressaltado que a própria preocupação com o desenvolvimento verde contribuiu para a
desaceleração da economia com o fechamento de indústrias sujas. A reforma econômica no
contexto da “nova normalidade” permitirá uma maior atuação do mercado, o que não
significa um afastamento da direção do Estado na condução do processo de
desenvolvimento.12
Segundo Stiglitz13, a transição do modelo de desenvolvimento chinês de uma
economia baseada de exportação para o mercado interno, fortalecimento do setor de
serviços e maior participação de forças de mercado representa um importante desafio para
a manutenção da estabilidade econômica da China. O quadro de degradação ambiental
implica a necessidade de criação de cidades habitáveis, investimentos em saúde pública,
educação, infraestrutura e tecnologia.
A pressão internacional sobre a China em relação a questão ambiental tende a
crescer nos próximos anos, estima-se que, até 2020, a China será responsável por 32% das
emissões globais de dióxido de carbono (CO2), o que corresponde a uma produção 70%
maior do que nos EUA, segundo ranking de poluição mundial. No período de 2010 a 2030
há uma previsão de expansão de emissões de 250% enquanto o resto do consumo do
mundo permanecerá relativamente estabilizado.14
10 SHUO, Li. The End of China’s Coal Boom. Greenpeace 2014 p. 12 11 AMIGHINI, Alessia Xi’s Policy Gambles: The Bumpy Road Ahead, ISPI Report , Axel Berkofsky (Eds.), 2015. 12 Idem. 13 STIGLITZ, Joseph E.. China’s Bumpy New Normal. Project Syndicate, 2016. https://www8.gsb.columbia.edu/faculty/jstiglitz/sites/jstiglitz/files/China%E2%80%99s%20Bumpy%20New%20Normal%20by%20Joseph%20E.pdf acesso em 4 de maio de 2016. 14 THE CLIMATE GROUP. China’s Fast Track to a Renewable Future. 2015. Acesso em 06 de junho de 2016. https://www.theclimategroup.org/sites/default/files/archive/files/RE100-China-analysis.pdf
6
Em 2016 a China e os Estados Unidos ratificaram o acordo estabelecido na Cúpula de
Clima de Paris (COP 21)15, os dois países são responsáveis por mais de 40% das emissões
globais. O compromisso chinês estabelece que o país atingirá o ápice das emissões de
carbono em 2030, a partir deste ponto iniciará a redução de sua emissões. Neste período, a
China possui uma condição contraditória, porque será responsável pelo aumento das
emissões de carbono, ao mesmo tempo estará realizando o maior investimento em energia
limpa do que qualquer outro Estado nacional.
Importante destacar que o processo de reestruturação do modelo de desenvolvimento
chinês na “nova normalidade” associado a preocupação politica na área ambiental, não
alterou a atratividade produtiva chinesa para as grandes empresas transnacionais. Segundo
o Relatório dos Investimentos Mundiais de 2015, publicado pela UNCTAD, a China é o
principal receptor de fluxos de Investimento Direto Estrangeiro, o segundo lugar aparece os
Estados Unidos. Do mesmo modo, o país asiático também lidera a lista das economias mais
atrativas para as empresas em 2015-201716.
A pressão internacional sobre a China, e a crescente preocupação doméstica17
referente questão ambiental e a segurança energética são fatores que impulsionam o
Estado a investir no desenvolvimento de energias renováveis,18 assim, com o objetivo de
transformar a sua estrutura energética, como uma parte importante da sua estratégia
energética nacional.19
3- O Estratégico Investimento Chinês em Energias Renováveis
A questão ambiental alcança uma importância progressiva na agenda global. O movimento
de investimento em energia renovável é progressivo. Em 2015, o investimento realizado no
setor alcançou o investimento de US$ 286 bilhões, o que representa um volume seis vezes
maior do que foi atingido em 2004, ale disso, pela primeira vez, mais de 50% da capacidade
de geração de energia adicionado é originado de fontes renováveis. 20
15 Realizado em dezembro de 2015, a Cúpula de Clima de Paris representa o primeiro acordo de extensão global para frear as emissões de gases do efeito estufa e para lidar com os impactos da mudança climática 16SANTANDER: Trade Portal. China: Fluxo de IDE. Disponível em: <https://pt.santandertrade.com/internacionalize-se/china/fluxos-de-ied-2>. Acesso em 09 de maio de 2016. 17 Desde 2005, o Estado chinês demostrou preocupação quanto a questão energias renováveis, neste ano foi implementada a uma Lei que tinha como objetivo incentivar o desenvolvimento de fontes de energia limpas, como também a criação de um fundo para fomentar a investigação de energias renováveis e a criação de projetos pilotos baseado no desenvolvimento de energias limpas em áreas rurais. STERNFELD, Eva; WALDERSEE, Christoph Graf Von. A situação do meio ambiente na China. Internationale Politik – China, China, China, DGAP, n. 12, 2005 18 SHUO, Li. The End of China’s Coal Boom. Greenpeace 2014 19 WORLD BANK; DEVELOPMENT RESEARCH CENTER OF THE STATE COUNCIL – RPC. China 2030:
Building a Modern, Harmonious, and Creative Society. Washington DC: The World Bank, 2013., 29 20 FRANKFURT SCHOOL-UNEP Centre. Global Trends in Renewable Energy Investment. Frankfurt School of Finance &
Management gGmbH, 2016. http://fs-unep-
7
O Estado chinês planeja construir um modelo baseado no desenvolvimento sustentável21, na
qual a transformação da matriz energética em renovável representa um dos principais
pilares. O desenvolvimento econômico chinês das últimas décadas provocou intenso
processo de urbanização, crescimento da renda e foi capaz de retirar da pobreza milhões de
chineses22, porem gerou desequilíbrios ambientais na qual o os dirigentes do PCC expõe a
necessidade o processo de conscientização a respeito do tema no contexto da “nova
normalidade” chinesa:
“O governo e o povo chinês chegaram em um consenso...alguns projetos
não são economicamente viáveis. Percebemos que o que demos a
população chinesa foi poluição. Empregos foram criados, mas a poluição
esta conosco. Então precisamos mudar isso. É nosso desejo diminuir o
ritmo de crescimento. Em torno de 6,9% até 2020”
(Fórum Econômico Mundial em Davos. O Futuro dos Brics, Liu
Mingkang, Instituto Global Fung, jan.2014)23
A China pratica um conjunto de programas que promovem pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias de energias renováveis que estão inseridas em uma grande
política estratégica do Ministério da Ciência e Tecnologia. Desde o 12º Plano Quinquenal
(2011-2015), o Estado chinês expõe sua preocupação com a eficiência energética e
energias renováveis que incluem metas de investimento específicas por meio de
mecanismos tributários e contratos preferenciais em biotecnologia, novas forma de energia,
fabricação de equipamentos high-tech e conservação de energia. São áreas industriais que
compõe a "espinha dorsal“ da economia da China que se projetam para competir nos
mercados internacionais.24
centre.org/sites/default/files/publications/globaltrendsinrenewableenergyinvestment2016lowres_0.pdf. acesso em 10 de Agosto de 2016 21 O conceito de sustentável relaciona-se a um conjunto de fatores que implica em uma convergência
entre o desenvolvimento econômico, a equidade social e a proteção ambiental. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o desenvolvimento sustentável é caracterizado como uma espécie de desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazerem as suas próprias necessidades. UNITED
NATIONS. Sustainable development: from Brundtland to Rio 2012, New York.. 2010. Disponível em: <
http://www.un.org/wcm/webdav/site/climatechange/shared/gsp/docs/GSP1-
6_Background%20on%20Sustainable%20Devt.pdf. Acesso em 05 de maio de 2016. 22 BARBIERI JUNIOR, Walter. China: o papel do Estado no desenvolvimento econômico e inserção no
capitalismo internacional. Saarbrucken; Omnis Scriptum GmbH & Co. KG, Ed. Novas Edições Acadêmicas,
2015 23 FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL. Davos 2014. Brics, 2014. http://www.weforum.org/ 24 CAMPBELL Richard J.. China and the United States—A Comparison of Green Energy Programs and Policies. Congressional Research Service, 2014
8
O Estado chinês possui um grande controle sobre o setor de energia, e que não se
limita a questão da regulação, tanto na geração como na distribuição as empresas são
estatais. Há cinco corporações de geração na China: Huaneng, Guodian, Datang, Huadian,
Zhongdiantou. Enquanto que no ramo de transmissão é monopolizado por duas empresas: a
Southern Power Grid Company e a State Grade Corporation of China, que são responsáveis
respectivamente pela transmissão e distribuição da energia no sul e norte do país.25
A China desenvolve um plano ambicioso para a expansão de energia limpa. Em 2014
a matriz energética chinesa para fontes renováveis representava 11,4% de sua energia de
renováveis, o alvo para 2020 é alcançar 15%.26
Em 2014 no campo de energia renovável, a China realizou um investimento de US$
89,5 bilhões, o que representou 73% maior que o aporte norte-americano.27 No ano
seguinte, o valor investido pelos chineses foi US$ 103 bilhões, o que representa 36% do
total mundial, enquanto os EUA realizaram um investimento menor que 50%
comparativamente a China. 28
Os principais setores de energia limpa promovidos pelo Estado chinês são o
hidráulico, eólico e solar. O país asiático é o maior produtor de energia hidrelétrica global,
com mais de 229 GW29 de capacidade instalado, estima-se que seja tecnicamente viável a
geração de hidrelétricas em 542 GW, no entanto o Estado está estabelecendo restrições
legais devido ao impacto ambiental, como a proibição de constituição de novas usinas
hidroelétrica de médio e grande escala. Os novos projetos seguem a construção de
barragens nos rios Huanghe, Jinshangjiang,Yalongjhiang, Daduhe, Nujiang e Lancangjiano,
assim para o ano de 2020, o país asiático planeja alcançar a capacidade de 380 GW.30
Entretanto no campo da energia renovável, os principais setores estratégicos da
China são o eólico e solar. A expectativa para estes setores é decuplicar até 2020, enquanto
que neste mesmo período, a projeção de capacidade de geração hidráulica é “apenas”
duplicar.
Em termos de capacidade de geração de energia, no ano de 2014, o eólico tinha a
capacidade de 19,81 gigawatts (GW) e as instalações solares, com 10,60 GW. A previsão
25 THE CLIMATE GROUP. China’s Fast Track to a Renewable Future. 2015. Acesso em 06 de junho de 2016. https://www.theclimategroup.org/sites/default/files/archive/files/RE100-China-analysis.pdf 26 Idem. 27 Idem. 28 Segundo relatório anual sobre as tendências globais em energia renovável, o total do investimento em 2015
atingiu o valor de US$ 286 bilhões, o investimento chinês ultrapassou US$ 100 bilhões, o norte-americano foi de
US$ 44.1 bilhões, seguido do Reino Unido com US$ 22.2 bilhões e Japão com US$ 36.2 bilhões. (http://fs-unep-
centre.org/sites/default/files/publications/globaltrendsinrenewableenergyinvestment2016lowres_0.pdf)
29 0.000001 gigawatt = 1 kilowatt 30 CAMPBELL Richard J.. China and the United States—A Comparison of Green Energy Programs and Policies. Congressional Research Service, 2014
9
de expansão do Estado chinês para 2020, no setor eólico e solar é respectivamente 200 GW
e 100 GW.31
A figura 0132 apresenta a capacidade de geração de energia eólica distribuída nas
províncias da China.
A capacidade de geração de energia solar distribuída nas províncias da China é
apresentada na figura 0233
31 THE CLIMATE GROUP. China’s Fast Track to a Renewable Future. 2015. https://www.theclimategroup.org/sites/default/files/archive/files/RE100-China-analysis.pdf. Acesso em 25 de julho de 2016 32 Idem. 33 THE CLIMATE GROUP. China’s Fast Track to a Renewable Future. 2015. https://www.theclimategroup.org/sites/default/files/archive/files/RE100-China-analysis.pdf. Acesso em 25 de julho de 2016
Fig.01 Energia Eólica por Província
2014 Maior que 10 GW 7.5-10 GW 5-7.5 GW 2.5-5 GW Menor que 2.5 GW
Fig.02 Energia Solar por Província
10
Conforme demostrado nas figuras 01 e 0234 a capacidade de geração de energia
respectivamente eólica e solar da China aparece principalmente nas províncias do norte do
País. Esse quadro ocorre devido as melhores condições naturais para a geração
energéticas nestas províncias, porem não possui um grande desenvolvimento econômico
comparativamente as províncias costeiras.
Esse cenário aponta para a necessidade estratégica do Estado chinês desenvolver
linhas de transmissão de energia para maior distância territorial, porque grande parte da
produção chinesa se realiza no sudeste do país, principalmente as província de Guangdong
e Fujian, sudeste chinês, porta da Nova Rota Marítima da Seda35. Como alternativa para
impulsionar o setor de infraestrutura de distribuição, em 2015, o Estado chinês apresentou
um plano de reforma de energia que descreve diretrizes políticas no sentido de incentivar
mecanismos de concorrência no setor de distribuição, inclusive com a permissão da
participação de empresas privadas e estrangeiras.36
34 THE CLIMATE GROUP. China’s Fast Track to a Renewable Future. 2015. https://www.theclimategroup.org/sites/default/files/archive/files/RE100-China-analysis.pdf. Acesso em 25 de julho de 2016 35 Cinturão econômico estratégico chinês que pretende interligar regiões asiáticas, africanas e europeias. O nome é uma alusão a antiga Rota da Seda formada por caravanas de comerciantes que cruzavam mercadorias entre a China e a Europa. Representa um ambicioso plano estratégico geopolítico do Estado para consolidação da China como potência global no século XXI. 36 THE CLIMATE GROUP. China’s Fast Track to a Renewable Future. 2015. https://www.theclimategroup.org/sites/default/files/archive/files/RE100-China-analysis.pdf. Acesso em 25 de julho de 2016
Maior que 4 GW ~3 GW ~2 GW ~1 GW Menor que 1 GW
11
O planejamento estratégico energético do Estado chinês para 2050 estima-se uma
geração de energia total de 15.200 bilhões de kwh37 que inclui 1.038 bilhões de kwh de
energia de carvão (6,6% do total), 466 bilhões de kwh de energia de gás natural, 649 bilhões
kwh da energia nuclear, 2.187 bilhões de kwh de energia hidrelétrica, 5.350 bilhões de kwh
de energia eólica (35% do total), 4.130 bilhões de kwh de energia solar (27% do total) e
1.100 bilhões de kwh de energia de biomassa38. Esses números apontam a grande
transformação energética pela qual a China estrutura o seu desenvolvimento, e devido a
crescente importância do país asiático no sistema internacional, o movimento chinês
produzirá forte impacto na geopolítica energética mundial.
No campo da energia solar, calcula-se que a China apresenta 2.200 horas de sol por
ano em um território cujo dois terços são apropriados para a geração de energia proveniente
desta fonte,39 assim, a energia solar40 representa a fonte mais abundante na China,
principalmente na região oeste do país.41 Segundo Esposito e Fuchs42, a China possui um
conhecimento completo de fabricação das cadeias tecnológicas de energia solar43, desde o
silício purificado até a fabricação de células e painéis fotovoltaicos.44
Há uma corrida tecnológica em curso no setor produtivo mundial da energia solar, a
ascensão chinesa é vertiginosa, assim no campo estratégico, a China possui alta
capacidade de ampliar suas políticas de parceria com países principalmente do Hemisfério
Sul, devido a alta incidência de raios solares na maior parte desses países, além das
carências estruturais econômicas deste grupo em realizar grandes investimentos na área
de infraestrutura. O grande potencial de internacionalização da indústria solar da China
aumentaria a participação tecnológica do país asiático numa das áreas mais cobiçadas no
âmbito da cadeia global de valor do século XXI.
37 1 kilowatt = 0.000001 gigawatt 38 ENERGY RESEARCH INSTITUTE NATIONAL DEVELOPMENT AND REFORM COMMISSION. China 2050 High Renewable Energy Penetration Scenario and Roadmap Study. 2015. http://www.efchina.org/Attachments/Report/report-20150420/China-2050-High-Renewable-Energy-Penetration-Scenario-and-Roadmap-Study-Executive-Summary.pdf. Acesso em 08.08.2016 39 STERNFELD, Eva; WALDERSEE, Christoph Graf Von. A situação do meio ambiente na China. Internationale Politik – China, China, China, DGAP, n. 12, 2005. 40Em 212 a capacidade de geração de energia solar instalada na China era de 7 milhões de quilowatts, esse dado representa dois terços da geração da energia solar do mundo. REPORTLINKER. China Thermal Power Denitration Industry Report, 2014-20172015. < http://www.prnewswire.com/news-releases/china-thermal-power-denitration-industry-report-2014-2017-300046497.html> 41 WORLD BANK; DEVELOPMENT RESEARCH CENTER OF THE STATE COUNCIL – RPC. China 2030:
Building a Modern, Harmonious, and Creative Society. Washington DC: The World Bank, 2013., p. 16 42 ESPOSITO, Alexandre Siciliano e FUCHS, Paulo Gustavo. Desenvolvimento tecnológico e inserção da energia solar no Brasil. Revista do BNDES 40, dezembro 2013. 43 A cadeia de produção da indústria fotovoltaica começa na extração do quartzo e seu beneficiamento para produção de lingotes de silício. Seguem-se a fabricação das células e painéis fotovoltaicos e a produção dos equipamentos eletromecânicos complementares. Fonte: MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA DO BRASIL. Análise da Inserção da Geração Solar na Matriz Elétrica Brasileira. 2012. 44 A capacitação tecnológica chinesa foi adquirida através de um processo de catching-up tecnológico, a
realização engenharia reversa e da absorção de conhecimento tecnológico importado de empresas da Europa, dos EUA e do Japão. A China aglomera os principais fabricantes de painéis fotovoltaicos. Empresas fabricantes chinesas no setor da energia solar: Yingli Green Energy, Trina Solar, Suntech Power, JA Solar, Jinko Solar e Hareon Solar (fonte: ESPOSITO, Alexandre Siciliano e FUCHS, 2013)
12
O grande aporte de investimento realizado pela burocracia estatal da China no setor
de energia renovável não se limita apenas a uma estratégia de sustentabilidade ambiental,
mas também se associa a capacidade de ascensão da China em posições de relevo na
cadeia global produtiva, e ao mesmo tempo, aumentar o seu poder geopolítico internacional,
na medida que, a expansão dos setores eólico e solar promove maior valor tecnológico a
economia chinesa por meio do desenvolvimento de sua capacidade de fabricação de
turbinas eólicas e painéis solares, assim o setor de energia limpa torna-se um ativo de
exportação coerente com as ambições internacionais estabelecido em 2002, o chamado
Going Global45. Entende-se neste trabalho que a indústria de energia renovável representa
um campo crucial no rumo de projeção geopolítica internacional.
Dessa forma, a China representa hoje o maior investidor do mundo em energias
renováveis. A estratégia do Estado chinês contempla dois objetivos, primeiramente constituir
uma alternativa de fontes renováveis para aliviar o problema da degradação ambiental e,
segundo a modernização tecnológica do setor industrial com maior valor agregado aumenta
a competitividade das empresas chinesas no sistema interestatal. Essa política ambiental
associada a modernização tecnológica está em sintonia com o planejamento do Estado
chinês em tornar-se uma sociedade de alta renda nas próximas décadas.
Bibliografia
AMIGHINI, Alessia Xi’s Policy Gambles: The Bumpy Road Ahead, ISPI Report , Axel
Berkofsky (Eds.), 2015.
BARBIERI JUNIOR, Walter. China: o papel do Estado no desenvolvimento econômico e
inserção no capitalismo internacional. Saarbrucken; Omnis Scriptum GmbH & Co. KG, Ed.
Novas Edições Acadêmicas, 2015
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