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Inquisio portuguesa na
frica
Denunciaes do
Reino do Congo
e
Angola no sculo XVII.
Tahinan da Cruz Santos
1
Resumo: O Tribunal da Santa Inquisio portugus foi criado com o
objetivo de vigiar, investigar e punir crimes considerados herticos,
dentro da rea de influncia territoriais de Portugal, dentre os quais
incluam-se os Reinos do Congo e Angola. Diante disso, estudar os
autos de Denunciaes do reino do Congo e Angola mostra-se muito
importante. Entre os anos de 1620-32, foi arrolada uma srie de
denncias contra quase cem pessoas. Estas foram acusadas de
judasmo, feitiaria, simonia e at mesmo calnia e injria contra o
Santo Oficio. Este processo, composto por 214 pginas
microfilmadas, encontra-se aos cuidados do Arquivo Nacional da
Torre do Tombo. Trata-se de uma fonte riqussima, por mostrar os
tentculos da Inquisio, assim como as crenas e o cotidiano
religioso das populaes europias e africanas nos Reinos do Congo
e Angola.
Palavra chave: Inquisio portuguesa; Congo e Angola; Sculo
XVII.
1
Graduanda do curso de Licenciatura em Histria, 8
o
semestre. Universidade do
Estado da Bahia. Campus XIII - Itaberaba. Este art igo parte de um projeto maior,
intitulado A Inquisio portuguesa no serto da Bahia, sculo XVIII coordenado
pela professora Dr.
a
Vaniclia Silva Santos. A escrita desse artigo somente foi
possvel aps a transcrio do processo de Denunciaes do reino do Congo e
Angola . Isso com a ajud a de um curso bsico de paleog rafia, que tamb m parte
integrante do projeto maior. A transcrio do processo no foi totalmente
concluda, o que me possibil i tou apenas uma anlise parcial de tal documento.
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ntroduo
Durante a Idade Mdia, a Igreja detinha o poder poltico e
econmico na Europa. Porm, j haviam movimentos que queriam
ser contrrio a esse hegemonia. De tal forma que a Igreja sentiu a
necessidade de constituir medidas que estancassem essas agitaes.
Foi ento que o papa Gregrio IX 1221-1241), atravs de um a bula,
estabeleceu a criao do Tribunal da Santa Inquisio, que regia a
Europa, principalmente o sul da Frana SOU ZA , GMB 2009: 26).
Diferente da Inquisio Medieval, que tinha um cunho
exclusivamente idealizado e dominado pelo clero, a Inquisio
Moderna teve esse apoio estatal, mostrando a implicao poltica que
esta idealizava. Ento, a Inquisio Moderna pretendia mesmo a
centralizao do poder.
O Tribunal da Santa Inquisio Moderna, portanto, tinha
como objetivo vigiar, investigar e punir cristos, que de algum modo
estivessem indo de encontro aos dogmas da Igreja. Sua jurisdio se
estabeleceu entre todos os domnios da cristandade. Ento, somente
os cristos poderiam estar sob vigilncia e punidos pela Inquisio.
SANTOS, 2008: 208).
Por mais de trs sculos o Tribunal Inquisitorial agiu em
Portugal. Perseguiu principalmente os cristos novos e judeus.
Estudos mostram o interesse econmico do Santo Ofcio. Isso
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justifica a perseguio aos judeus, j que estes possuam grandes
riquezas.
(. . . ) ci tada concesso papal para o estabelecimento da
Inquisio Espanh ola, a alegao foi , sobretudo, o
crescimento de prt icas judaizantes entre os nefi tos.
Estes, quase sempre pertenciam a famlias bastante
ricas e que, a part ir do momento em que fossem
condenados como hereges, certamente seus bens
seriam confiscados em benefcio do Estado e da Igreja
- ao menos teoricamente. Como tem sido enfat izado
por muitos historiadores, os recursos advindos de
confiscos da Inquisio foram a mola propulsora do
Tribunal , eram um incentivo que est imulava ainda
mais a dedicao rel igiosa das autoridades civis e
clericais. (SOUZA, GMB 2009:29)
A Inquisio portuguesa foi estabelecida no ano de 1536,
por ordem de Dom Joo III, rei de Portugal. Em 23 de maio de 1536,
o Papa Paulo III publico u a bula, lida em vora, que estabelece o
Santo Ofcio da Inquisio Portuguesa (SOUZ A, GM B 2009: 36). A
unidade da f era tambm uma das questes buscadas atravs da
instituio inquisitorial, de modo que at ento, este era um domnio
exclusivamente clerical, porm, em 1547, a monarquia portuguesa
obteve o poder para indicar quem faria parte do Tribunal.
Anteriormente, na Inquisio Medieval, somente o papa poderia
fazer essa indicao. Dessa maneira, houve a centralizao do poder
monrquico, assim como ocorreu na Espanha (SOUZA, GMB 2009:
36).
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Os Tribunais portugueses eram divididos em quatro, para
m aior abrang ncia da sua diligncia. O ma is imp ortante, de Lisboa,
no qual o Brasil e todos os domnios portugueses, at o cabo da Boa
Esperana estavam inclusos. O segundo, o Tribunal de vora.
Terceiro, o de Coimbra. Quarto era o Tribunal de Goa. Este foi
criado em 1560 e abrangia o territrio que ia desde o Cabo da Boa
Esperana, a sia e a Costa Oriental da frica. Existiram tambm
outros tribunais, porm logo foram abolidos pela precariedade da
administrao e abuso de poder SOU ZA , GM B 2009: 38). Ento, o
Congo e a Angola faziam parte do primeiro Tribunal, o de Lisboa,
conjuntam ente com o B rasil.
Os portugueses no ongo
Em 1575, chega em Angola muitos europeus, com o intuito
de adm inistrar aquelas terras, acom panha dos principalm ente de
cristos novos, antigos judeus. A vila de So Paulo de Luanda fora
fundada por Paulo Dias de Novais, quando ele chegou Angola.
Dessa forma, entende-se como se deu a cristianizao dessa colnia
portuguesa:
Para o padre Gouveia e seus colegas da Companhia de
Jesus, s se conseguiria evangelizar os africanos, caso
eles fossem antes subjugados mil i tarmente. No se
tratava mais de fundar fei torias nem de repetir a
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pol t ica da al iana, catequese e cooperao
desenvolvida no Congo, mas de ocupar o reino do
ngol para depois, de uma posio de fora,
convert-lo .(SILVA , 2002: 408)
No entanto, a evangelizao no se deu dessa forma, muito
meno s a colonizao portuguesa: Fora dos estabelecimentos
portugueses e situados pela hostilidade ambuda, a catequese no dera
frutos; as convenes eram de convenincia e podiam durar pouco.
(SILVA, 2002: 412) Os reis angolas perceberam que os portugueses
que ali atracaram, chegaram para ficar, devido s construes de
igrejas e fortificaes. Houveram confrontos entre os angolas e os
portugueses, visto que estava em xeque uma boa parte do comrcio
na costa. (SILVA, 2002)
Em 1568, morreu Dom lvaro I - rei do Congo, e o seu
filho logo o sucedeu no seu reinado. Dom lvaro II apoiou-se em seu
exrcito e tentou liberta-se do controle portugus e constituir uma
Igreja Catlica do Congo parte do bispado de So Tom. Em 1596,
o papa Clemente VII, separou os dois bispados, porm, o novo
bispado ficou margem, tendo os mesmos problemas, pois quem o
assumiu foi um portugus, e no um sacerdote local, como desejava
Dom lvaro II. Isso mostra as tentativas portuguesas de implantar
uma f catlica mais condizente com a realidade do Congo, dando
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maiores possibilidades de uma cristianizao da populao local
SILVA, 2002: 432).
Jos da Silva Horta, faz uma discusso acerca do Inqurito
realizado em 1596-98 no Congo Angola. Para o autor, o ouvidor do
Santo Ofcio em Angola tinha poderes para punir crimes de heresia.
Isto porque a justia eclesistica e a justia civil interferiam nos
julgamentos inquisitoriais, at mesmo sem a conivncia do Santo
Ofcio. HO RTA , 1988: 400)
o visi tador da Baa, Heitor Furtado de Mendona, por
deciso do Conselho Geral , no efetuou a deslocao,
inicialmente prevista ao Bispado de S. Tom, sob cuja
alada estava o reino de Ango la . . .) e o envio de outro
visi tador sairia muito dispndio s. . . .) a soluo
inst i tucional para o caso teve de passar pela nomeao
de um rel igioso que residisse no prprio reino de
Ango la . HO RTA , 1988: 388)
Dessa forma, o escolhido teria poderes para recolher as
denncias, efetuar as prises e enviar os acusados Inquisio de
Lisboa. Essa certa independncia era de suma importncia para as
colnias portuguesas, visto que dessa forma, poderiam supervisionar
e controlar melhor a populao crist nesses territrios. SOU ZA ,
GMB 2009: 32)
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Denunciaes do Reino do Congo ngola
O documento classificado como processo, Denunciaes do
Reino do Congo e Angola foi registrado entre os anos de 1620 a
1632 e encontra-se sob tutela do Instituto Arquivos Nacionais da
Torre do Tombo, em Lisboa, Portugal. Trata-se de denncias que
foram reunidas pelos padres. E por tratar-se apenas de denncias e
no de um inqurito, este processo no contm o que os inquritos
normais tinham: admoestao, sumrio de culpas
principalmente as
sentenas. Este processo estava sob responsabilidade inicial do Padre
Jernimo Vogado, comissrio do Santo Ofcio, Manoel da Silva,
fam iliar; e M anoel Bernardes , secretrio do Santo Ofcio LANTT,
DRCA, m. 9, doe 8)
2
.
Estruturalmente, o Santo Ofcio funcionava da seguinte
maneira, onde havia Tribunais fsicos: Inquisidores; deputados;
promotores; notrios; procuradores; solicitadores; qualificadores;
meirinhos; alcaide dos crceres; porteiro da mesa do despacho;
dispenseiro e guardas necessrios. Onde no havia a presena fsica
de um Tribunal, poderia funcionar dessa forma: padre; proco;
familiar, que eram em sua maioria leigos e sua funo era de manter
os comissrios informados sobre os acontecimentos que seriam da
2
Ins t i tuto Arquivo Naciona l da Torre do Tom bo IAN TT).
Denunciaes do Reino
do Congo e Angola
DR CA ). Ao longo do art igo, usarei apena s a abrevia o
IANTT para re fe renc ia r o Ins t i tuto Arquivo Naciona l da Torre do Tombo e DRCA
para Denunciaes do Reino do Congo e Angola .
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responsabilidade do Santo Ofcio averiguar; e comissrio: era o cargo
mais alto, dentro dessa hierarquia e tinha a responsabilidade de
receber e encaminhar as denncias para o Santo Ofcio sendo,
portanto, pessoas eclesisticas. SOU ZA , GM B 2009: 51)
Para podermos compreender os meandros dos inquritos,
torna-se imprescindvel descrever as aes que o Tribunal da Santa
Inquisio julgava como crime:
Os crimes da alada da Inquisio Portuguesa estavam
divididos em duas categorias. De um lado, os crimes
contra a f - judasm o, maom etismo, protestantismo,
molinismo, desmo, l ibert inismo, cr t icas aos dogmas,
etc. -, considerados de maior gravidade pela Igreja e
que resultavam em punies mais rigorosas para os
rus. De outro lado, os crimes contra a moral e os
costumes - bigam ia, sodomia, fei tiaria, solici tao -
que em alguns casos se confundiam com os primeiros,
contudo geralmente percebidos como de menor
gravidade e consequentemente, passveis de penas
men os severas. SOU ZA , 2009 : 37)
Desse modo, poderemos analisar com maior propriedade as
denncias e inquiries feitas pelo Santo Ofcio, como tambm os
seus julgamentos e penas. No entanto, essa anlise no objetivo
neste trabalho. Nosso maior escopo, est em compreender as
questes ligadas ao cotidiano e a religiosidade dos habitantes do
Congo e Angola do sculo XVII.
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Composto por 214 flios, sendo 65 flios em branco, as
Denunciaes do Reino do Congo e Angola rene acusaes de
vrios crimes: desde aqueles cometidos contra a f, at os crimes
contra a moral e os costumes. Trata-se de denncias que foram
reunidas pelos padres do Santo Ofcio, no qual aparecem relatos
contra
fric nos
como tamb m denunciantes negros. IANT T DRC A,
m. 9, doe 8 : 144) Divergindo destas informaes, est o trabalho de
Jos Augusto da Silva Horta, com
A Inquisio em Angola e Congo:
O Inqurito de 1596-98 e o papel med iador da s justias locais.
Tendo um total de 96 denunciados, o Inqurito no faz meno a
denunciantes ou denunciados nativos do Congo e Angola. HO RTA ,
1988: 387)
Examinando um primeiro exemplo das Denunciaes do
Reino do Congo e Angola temos o caso de Manoel Cardoso, cristo
novo, de mais ou menos 23 anos de idade. Foi denunciado por
Miguel, cristo velho, mais ou menos 54 anos de idade. Miguel
acusou-o de ter dito que a casa do Santo Ofcio era casa do inferno e
que estes s sabiam tomar as fazendas alheias IAN TT DR CA , m.
9, doe 8 : 114). Este relato nos pode esclarecer com o a pop ula o
via os confiscos realizados pelo Santo Ofcio, resultado da punio
pelos crimes cometidos. Fernandes Barbosa, que tambm foi
denunciado para o Santo Ofcio por proferir palavras injuriosas
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contra os inquisidores, difamando-os IANT T DR CA , m. 9, doe 8 :
90).
relevante tambm perceber a rivalidade existente entre
cristos novos e cristos velhos. Horta, em sua anlise, disserta que,
boa parte dos denunciados constitui-se de cristos novos. Em
contrapartida, bem significativo o nmero de cristos velhos
denunciantes HO RTA , 1988: 392). Nas
Denunciaes do Reino do
Congo e Angola
podemos perceber isso claramente. Boa parte das
denncias feita por cristos velhos. feita uma investigao pelos
padres da inquisio, para saber a origem dos denunciantes atravs
de um formulrio de perguntas. Como tambm procura-se saber se
so cristos novos ou velhos, os denunciados.
No desenrolar das
Denunciaes do Reino do Congo e
Angola
encontra-se uma passagem, no qual o padre Luis Peres da
Veiga mandado pelo Inquisidor Geral em setembro de 1626, para
visitar o reino de Angola. O objetivo dessa visitao era relembrar
aos padres como deveriam proceder com as denncias. Foram
registradas as perguntas que deveriam ser feitas aos denunciantes,
como tambm fora colocado a brevidade que os casos deveriam ser
enviado s para o Inquisidor Geral IAN TT DR CA , m . 9, doe 8: 196).
Ento, existia um procedimento padro para guiar as prticas
inquisitoriais.
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N as
enunciaes
h um caso de crime contra a mo ral e os
cos tumes
3
. Foi o caso de um homem chamado Domingos Ambundo
M aia IANT T DR CA , m. 9, doe 8 : 132), que foi denunciado por
Dom Paulo Afonso, trinta anos mais ou menos, casado, morador da
cidade do Congo. O caso se deu em maio de 1628 e o denunciante
revelou detalhes do rito que assistiu, alm de confessar que foi
curado durante este rito. Ele diz que Domingos estava cozendo uma
panela de ervas e colocou dentro dela, a figura de um hom em feita de
pau. Isso aconteceu em meio a uma reunio, na qual estavam
presentes muitas pessoas, inclusive escravos
mulheres.
Esta denncia, que foi feita ao dia 08 de maio de 1628,
revela as relaes existentes entre escravos, mulheres e talvez
homens brancos. Podemos afirmar isso, porque possivelmente o
denunciante Dom Paulo Afonso, seria um homem branco, e tinha
conhecimento do que acontecia nessas reunies geridas pelo tal
Domingos. Porm, o prprio Dom Paulo Afonso tratou de esclarecer
sobre as suas crenas, corroborando que nem ele, nem os demais
presentes teriam adorado a figura de homem feita de pau:
. . . ) E que no sabe, se o di to Domingos t inha aquela
figura por Deus. Porm que ele di to dom Paulo sabia
mu ito bem que aqu ilo era tudo . . .) , e que a figura no
3
Considerado pe lo regime do Santo Ofic io, como de men or gravidade , cujas penas
eram mais b randas .
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era Deus, nem t inha muito de (. . . ) de sade. E que nem
o di to Domingos , nem e le Paulo nem out ro a lgum
pessoas das que al i se acharam, adoraram a di ta
f i gura
4
. ( IAN TT D RC A, m . 9 , doe 8 : 132)
Neste processo, existe tambm uma denncia relativa a uma
bolsa de mandinga.
5
Esta referia-se a Nicolau Miguel, denunciado
por crime de feitiaria (IANTT DRCA, m. 9, doe 8 : 18). O
denunciado tinha em sua posse, uma bolsa, na qual continha uma
partcula e outras relquias, que segundo denunciante - Manuel
Correa, natural da cidade do Porto, casado, com mais ou menos 35
anos de idade - a dita bolsa protegeria o denunciado caso ele
brigasse e se ferisse, pois este no havia de morrer, at se
confes sar. (IANT T DR CA , m. 9, doe 8 : 19) Este episdio se
passou no navio Nossa Senhora da Conceio em setembro de 1627.
4
A concordncia gramatical presente na escri ta so originrias do documento
transcrito.
5
A s bolsas de mandinga , e ram amule tos produzido s com e lementos c r i s tos no
qual os negr os resign ificavam os objetos cristos mg icos-rel igioso s, luz de suas
culturas de origem, buscando proteo do mundo sobrenatural nas bolsas de
mandinga , e pr inc ipa lmente solues para os problem as des te mu ndo . Gera lmente
as bolsas de mandinga eram fei tas de pano ou couro e costuradas, contendo dentro
delas, elementos do crist ianismo, exemplo da hst ia consagrada, mais conhecida
nas denncias, como part cula; e elementos que, para os negros, conferiam
proteo, como as oraes escri tas em pedaos de papel , pequenas quantidades de
chumbo, pedra d'ara, cascas de alho, entre outros ingredientes. Para maiores
detalhes, ver: SOUZA, Laura de Mello e .
O diabo e a Terra de Santa Cruz
Feit iaria e rel igiosidade popular no Brasi l colonial . So Paulo, Companhia das
Letras, 2009.
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Nicolau Miguel foi descoberto porque comeou em alto-mar uma
tormenta. Ele deu a dita bolsa ao piloto do navio para que esta fosse
atada a nau para que o mar se acalm asse e o barco n o virasse.
A religiosidade de Nicolau Miguel um ponto a ser
analisado. Ele utilizava o amuleto para que no morresse antes de se
confe ssar. Ento isso um a dem onstrao do sincretismo religioso.
O medo de morrer sem se confessar uma crena crist. Com isso
podem os perceber que Nicolau realmente acreditava nisso tanto que
temia morrer sem a confisso. O uso do amuleto para acalmar o mar
foi provavelmente na crena de que esse tipo de objeto serviria para
enfrentar todos os ma les. A bolsa neste caso serviria para dar maior
fora s crenas crists.
Portanto podem os ver que o uso de bolsas de mand inga era
bastante comum at mesm o entre espaos preferencialmen te
freqentados por brancos. Isso nos permite questionar at que ponto
as pessoas eram coniventes com o uso desses amuletos. Ou seja
mesm o sendo denunciado Nicolau Miguel sabia mais ou menos por
onde camin hava. Prova velm ente ele no era o nico a utilizar esse
tipo de am uleto porm foi ele que caiu nas teias da Inquisio. M as
as crenas de Nicolau Miguel s podero ser analisadas atravs da
denuncia feita por Manuel Correia visto que o denunciado no tinha
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o seu depoimento tomado. Ou seja, a possibilidade existente
trabalhar com os indcios deixados pelos denunciantes.
Dessa maneira, com a anlise preliminar de alguns casos
que constituem as
Denunciaes do Reino do Congo e Angola
podemos refletir acerca de como era o cotidiano de um reino, que
fazia parte de um Tribunal da Santa Inquisio. Perceber as
religiosidades, crenas e costumes de uma populao que estava sob
a jurisdio de uma m etrpole portuguesa, alm de estar sob a alada
de um Tribunal Inquisitorial.
Uma maios anlise poder desvendar questes que mapeiam
as mentalidades da poca, assim como as reflexes que cercam as
aes da Inquisio Portuguesa na
Africa
Entender as inseres e as
permanncias de um Tribunal Inquisitorial, num territrio no qual a
cristianizao e as tradies religiosas se uniam e aculturavam numa
miscigenao prpria e nica. Ademais, questes como estas e ainda
outras podem surgir com novas respostas, com novos olhares sobre o
funcionam ento da Santa Inquisio na
frica
Fonte
IANTT - Instituto Arquivo Nacional da Torre do Tombo .
Cdigo de referncia PT/TT/TSO-IL/040/0009.00008
Ttulo Denunciaes do Reino do Congo
e
Angola
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Datas
c.a,1620/c.a. l632
Nvel de descrio
Documento composto. Dimenso e suporte 107
f., 17 f. em branc o); papel
Histria custodiai
Em 2009, este documento foi numerado
seqencialmente, mantendo a exata ordem encontrada, de modo a
possibilitar o mnimo de controlo fsico.
Localizao fsica
Tribunal do Santo Ofcio, Inquisio de Lisboa,
m. 9, doe. 8
Existncia e localizao de cpias
Cpia microfilmada. Portugal,
Torre do Tombo, mf.7423
URL http://digitarq.dgarq.gov.pt?ID=2318699
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