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IFRS 9 - Instrumentos Financeiros: abordagem e impactos previsíveis do novo modelo de mensuração e registo de perdas de crédito
Eduardo Sá e Silva Doutorado em Ciências Empresariais, Docente ISCAP, Membro – CEOS – ISCAP IPP
Carlos Mota Doutorado em Gestão, Docente ISCAP, Membro – CEOS – ISCAP IPP
Adalmiro Pereira Doutorado em Gestão, Docente ISCAP, Membro – CEOS – ISCAP IPP
Área Temática: A - Normalização Contabilística e Relato Financeiro
2
Resumo
Esta comunicação aborda o trabalho do IASB sobre o desenvolvimento de um método de
perda esperada para medir a imparidade dos instrumentos financeiros decorrente de
perdas de crédito e vertido na IFRS 9. Descreve as caraterísticas dessa nova abordagem
desenvolvida e estabelecida em substituição do modelo atual que tem por critério o registo
de provisões para crédito a partir da identificação de eventos de perda, ou seja, com base
em perdas incorridas. O pacote de melhorias introduzidas pela IFRS 9 inclui um modelo
lógico para o reconhecimento e mensuração e a inclusão do conceito de imparidade
prospetiva, ou seja, perda esperada. São discutidos e resumidos os principais argumentos
implícitos na proposta.
A capacidade de avaliar os prováveis impactos da implementação da IFRS 9 nos bancos
portugueses é limitada até certo ponto pelo facto de se tratar de uma abordagem nova. No
entanto, há uma série de observações que podem ser feitas e que podem fornecer pelo
menos algumas indicações sobre a potencial de magnitude desse impacto.
A IFRS 9 deve ser aplicada para períodos anuais que se iniciem após 1 de janeiro de 2018.
Palavras-chave: IFRS 9; IAS 39; Instrumentos Financeiros; Perdas de Crédito; Custo
Amortizado.
3
Introdução
Na sequência da crise financeira internacional, o International Accounting Standards
Board (Conselho) publicou a IFRS 9 Instrumentos financeiros, em julho de 2014. A crise
chamou a atenção para problemas percebidos nos padrões contabilísticos que
contribuíram para a perda de confiança no sistema bancário sendo que uma das principais
fraquezas evidenciadas foi a demora no reconhecimento de imparidades decorrente de
perdas de crédito. Assim, o IASB preocupou-se em definir uma abordagem que facilitasse
o reconhecimento mais rápido de perdas por empréstimos.
Refira-se que o IASB já tinha publicado, em 2009 e 2010, novas exigências de
reconhecimento e mensuração e um novo modelo de contabilidade de cobertura (hedging),
em 2013. A publicação de julho de 2014 representa a versão final da IFRS9, e dá por
terminado o projeto do IASB para substituir a IAS 39 instrumentos financeiros:
reconhecimento e mensuração.
As diferentes versões da IFRS 9
A IFRS9 foi finalizada por etapas. Deste modo diversas versões da norma foram emitidas
desde 2009. No entanto, as empresas que adotaram uma versão anterior poderão continuar
a aplicá-la até à data da vigência obrigatória de IFRS9, no dia 1 de janeiro de 2018.
O IASB produziu desta forma um conjunto de propostas cujo objetivo é fazer refletir o
conteúdo económico dos empréstimos e perdas de crédito através de uma abordagem que
não requer o reconhecimento imediato de todas as perdas esperadas, mas propõe o seu
reconhecimento ao longo do tempo.
Versões da IFRS9:
Versão Resumo
IFRS9 (2009) Inclui requisitos sobre a classificação e mensuração de ativos
financeiros
IFRS9 (2010) Incorpora a IFRS9 (2009) e adiciona os requisitos para a
classificação e mensuração de passivos financeiros
IFRS9 (2013) Incorpora a IFRS9 (2010), com as alterações nos requisitos de
transição e adiciona orientações sobre a contabilidade de cobertura
IFRS9 (2014)
Incorpora a IFRS9 (2013), com as alterações nos requisitos para a
classificação mensuração de ativos financeiros, adicionando os
requisitos do novo modelo de perda de crédito esperadas para a
redução do valor recuperável
4
A razão da complexidade da contabilização dos instrumentos financeiros
A contabilização de instrumentos financeiros1 levanta um grande conjunto de problemas
práticos. A primeira questão prende-se com as diferentes utilizações que podem ser dadas
aos instrumentos financeiros. As regras contabilísticas devem, portanto, conciliar
atividades nas quais se detêm instrumentos financeiros com o objetivo de receber os
fluxos de caixa relativos aos mesmos e as atividades nas quais se detêm instrumentos
financeiros com o objetivo de beneficiarem das variações de justo valor por causa desta
dualidade, um sistema único para contabilizar instrumentos financeiros ficará sempre
inadequado para um dos tipos de entidades que os detenham, consoante o objetivo da
detenção.
Para responder a esta matéria, o modelo de contabilização normalmente aplicado aos
instrumentos financeiros é misto, permitindo a coexistência de instrumentos financeiros
ao justo valor com outros baseados no custo histórico.
Este modelo misto é a base de grande parte da complexidade da contabilização dos
instrumentos financeiros, uma vez que mantém a contabilização ao justo valor em
simultâneo com a contabilização ao custo histórico. As normas têm que definir cada um
dos sistemas, bem como a sua aplicação, o que aumenta a sua extensão.
Além disso, e este é um aspeto crítico, as normas têm que definir claramente quando se
deve aplicar um sistema ou outro e as regras para passar de um para outro.
A acrescer a esta problemática ainda existe uma outra questão, a contabilização ao justo
valor introduz complexidade, quando esse valor não consegue ser obtido diretamente do
mercado. As regras contabilísticas atuais indicam três níveis de avaliação do justo valor.
O primeiro nível é utilizado nos instrumentos cuja cotação pode ser obtida diretamente
do mercado. O segundo nível emprega-se para instrumentos financeiros que podem ser
avaliados através de modelos que apenas recorrem a variáveis observáveis no mercado.
O terceiro nível é exigido para os instrumentos mais complexos, que para serem avaliados
tem que se recorrer a modelos que não utilizam apenas variáveis observáveis no mercado.
Por essa razão, compete às normas contabilísticas definir o âmbito de aplicação,
consoante os objetivos que se pretendem.
Reconhecimento e desreconhecimento
A IFRS9 mantém os requisitos da IAS39 para o reconhecimento2 e desreconhecimento
de instrumentos, com pequenas alterações, ou seja:
1 Por instrumento financeiro entende-se um qualquer contrato que dá origem tanto a um ativo financeiro
numa entidade como a um passivo financeiro ou a um instrumento de capital próprio numa outra entidade. 2 O reconhecimento é um conjunto de critérios que determinam se esses instrumentos financeiros devem
ser evidenciados nas demonstrações financeiras (reconhecimento ou mensuração inicial) Por seu lado a
mensuração diz respeito ao conjunto de critérios para valorizar esses instrumentos financeiros após terem
sido reconhecidos nas demonstrações financeiras (mensuração subsequente).
5
Reconhecimento:
“Uma entidade deve reconhecer um ativo financeiro ou um passivo financeiro na sua
demonstração da posição financeira quando, e apenas quando, a entidade se tornar uma
parte nas disposições contratuais do instrumento. Quando uma entidade reconhece
inicialmente um ativo financeiro, deve classificá-lo em conformidade com os parágrafos
4.1.1 a 4.1.5 e mensurá-lo em conformidade com os parágrafos 5.1.1 a 5.1.3. Quando uma
entidade reconhece inicialmente um passivo financeiro, deve classificá-lo em
conformidade com os parágrafos 4.2.1 e 4.2.2 e mensurá-lo em conformidade com o
parágrafo 5.1.1.”
Desreconhecimento:
“Uma entidade deve desreconhecer um ativo financeiro quando, e apenas quando: a) Os
direitos contratuais aos fluxos de caixa resultantes do ativo financeiro expiram; ou b)
Transfere o ativo financeiro tal como definido nos parágrafos 3.2.4 e 3.2.5 e a
transferência satisfaz as condições para o desreconhecimento de acordo com o parágrafo
3.2.6.”
Classificação dos ativos e dos passivos financeiros no âmbito da IFRS9
De acordo com o parágrafo 5.2.1 da IFRS9, após o reconhecimento inicial, uma entidade
deve mensurar um ativo financeiro de acordo com:
a) Custo amortizado (CA);
b) Justo valor através de outro rendimento integral3 (JVRI); ou
c) Justo valor através dos resultados (JVR).
Realce-se que os investimentos detidos até à maturidade, empréstimos concedidos e
contas a receber e ativos disponíveis para venda que constavam da IAS39 foram retirados.
Assim e de acordo com parágrafo 4.1.1
“ A menos que se aplique o parágrafo 4.1.5, uma entidade deve classificar os ativos
financeiros como subsequentemente mensurados pelo custo amortizado, pelo justo valor
através de outro rendimento integral ou pelo justo valor através dos resultados com base,
simultaneamente:
a) No modelo de negócio da entidade para gerir os ativos financeiros, e
b) Nas características contratuais em termos de fluxos de caixa do ativo financeiro.”
3 O resultado integral pode ser definido como “a variação ocorrida no capital próprio (ativos líquidos) de
uma entidade, durante um período, resultante de transações e outros acontecimentos ou circunstâncias não
relacionadas com as contribuições dos proprietários ou as distribuições aos proprietários” (FASB, 1985,
SFAC N.º 6, §70). O resultado integral é composto pelo resultado líquido mais outro rendimento integral
(ganhos e perdas reconhecidas no capital próprio).
6
Parágrafo 4.1.5
“Uma entidade pode, no reconhecimento inicial, contabilizar irrevogavelmente um ativo
financeiro como mensurado pelo justo valor através dos resultados se tal eliminar ou
reduzir significativamente uma incoerência na mensuração ou no reconhecimento (por
vezes denominada «divergência contabilística») que de outra forma resultaria da
mensuração de ativos ou passivos ou do reconhecimento de ganhos e perdas sobre os
mesmos em diferentes bases.”
Assim, tem-se que um ativo financeiro é classificado ao custo amortizado (CA) caso seja
mantido num modelo de negócio nas seguintes condições:
a) O ativo financeiro é detido no âmbito de um modelo de negócio cujo objetivo consiste
em deter ativos financeiros a fim de recolher fluxos de caixa contratuais e
b) Os termos contratuais do ativo financeiro dão origem, em datas definidas, a fluxos de
caixa que são apenas reembolsos de capital e pagamentos de juros sobre o capital em
dívida.
Um ativo é classificado como justo valor através de outro rendimento integral (JVRI) se
forem satisfeitas as seguintes condições:
a) O ativo financeiro é detido no âmbito de um modelo de negócio cujo objetivo seja
alcançado através da recolha de fluxos de caixa contratuais e da venda de ativos
financeiros e
b) Os termos contratuais do ativo financeiro dão origem, em datas definidas, a fluxos de
caixa que são apenas reembolsos de capital e pagamentos de juros sobre o capital em
dívida
Todos os outros ativos são classificados ao justo valor através dos resultados (JVR).
No reconhecimento inicial de um investimento num instrumento de capital que não seja
mantido para negociação, uma entidade pode escolher registar alterações subsequentes
no justo valor ou nos outros rendimentos integrais.
A IFRS9 mantém os requisitos das IAS39 para a classificação dos passivos financeiros,
ou seja, passivos financeiros ao custo amortizado e passivos financeiros ao justo valor
através dos resultados. Deste modo, o critério para determinar como um ativo financeiro
pode ser classificado baseia-se em:
1) O modelo de negócio para gerir o ativo financeiro;
2) As caraterísticas dos fluxos de caixa contratuais do ativo financeiro
7
A questão do modelo de negócio e as reclassificações
De acordo com o parágrafo 4.1.4., ”Um ativo financeiro deve ser mensurado pelo justo
valor através dos resultados, exceto se for mensurado pelo custo amortizado ou pelo justo
valor através de outro rendimento integral. No entanto, uma entidade pode optar
irrevogavelmente, no reconhecimento inicial de determinados investimentos em
instrumentos de capital próprio que, de outra forma, seriam mensurados pelo justo valor
através dos resultados, por apresentar as alterações subsequentes no justo valor através de
outro rendimento integral”. Deste modo, tem primazia a mensuração pelo custo
amortizado, relativamente à mensuração pelo justo valor.
A expressão “modelo de negócio” refere-se ao modo pela qual uma entidade administra
o seu ativo financeiro para gerar fluxos de caixa.
De acordo com parágrafo 4.4.1. “Quando, e apenas quando, uma entidade alterar o seu
modelo de negócio de gestão de ativos financeiros, deve reclassificar todos os ativos
financeiros”. Assim, a reclassificação dos ativos financeiros é exigida caso o modelo de
negócio mude após o reconhecimento inicial, e caso a mudança seja significativa para as
operações da entidade. Espera-se que tais mudanças não sejam muito frequentes.
Relativamente aos passivos financeiros e de acordo o parágrafo 4.4.2 “uma entidade não
deve reclassificar nenhum passivo financeiro”.
8
Mensuração no reconhecimento
Em termos gerais, a IFRS9 mantém os requisitos da IAS39 relativos à mensuração no
reconhecimento inicial, ou seja, de acordo com o parágrafo 3.1.1., ”uma entidade deve
reconhecer um ativo financeiro ou um passivo financeiro na sua demonstração da posição
financeira quando, e apenas quando, a entidade se tornar uma parte nas disposições
contratuais do instrumento”.
Relativamente à mensuração subsequente dos ativos financeiros, há que atender ao
seguinte:
Ativos mensurados ao custo amortizado (CA) e de acordo com o parágrafo
5.4.1.,”o rédito de juros é calculado usando o método do juro efetivo e deve ser
calculado aplicando a taxa de juro efetiva à quantia escriturada bruta de um ativo
financeiro, exceto no que diz respeito a:
o a) Ativos financeiros comprados ou criados em imparidade de crédito. A
esses ativos financeiros, a entidade deve aplicar a taxa de juro efetiva
ajustada pelo crédito ao custo amortizado do ativo financeiro que resulta
do reconhecimento inicial.
o b) Ativos financeiros que não são ativos financeiros comprados ou criados
em imparidade de crédito mas que se tornaram posteriormente ativos
financeiros em imparidade de crédito. A esses ativos financeiros, a
entidade deve aplicar a taxa de juro efetiva ao custo amortizado do ativo
financeiro em períodos de relato subsequentes”.
Assim, para os ativos mensurados ao custo amortizado, a receita de juros, as perdas de
crédito esperadas e os ganhos ou perdas cambiais são reconhecidas no resultado. No
momento do desreconhecimento, qualquer ganho ou perda é reconhecido no resultado.
Ativos mensurados ao justo valor através dos outros rendimentos integrais (JVRI),
as receitas de juros, as perdas de crédito esperadas e os ganhos ou perdas cambiais
são reconhecidas no resultado. Outros ganhos e perdas da mensuração ao justo
valor são reconhecidos nos outros rendimentos integrais (capital próprio),
conforme dispõe o parágrafo 5.7.10.”Um ganho ou perda resultante de um ativo
financeiro mensurado pelo justo valor através de outro rendimento integral deve
ser reconhecido em outro rendimento integral, exceto no caso de ganhos ou perdas
por imparidade e de ganhos e perdas cambiais até que o ativo financeiro seja
desreconhecido ou reclassificado”. No momento do desreconhecimento, os
ganhos e as perdas acumuladas, anteriormente reconhecidas nos outros
rendimentos integrais são transferidas dos outros rendimentos integrais (capital
próprio) para resultados;
No que toca aos ativos ao justo valor através dos resultados (JVR), regra geral
(existem algumas exceção) todos os ganhos e perdas são reconhecidos no
resultado, conforme estipula o parágrafo e de acordo com o parágrafo 5.7.1.”Um
ganho ou perda relativo a um ativo financeiro ou passivo financeiro que é
mensurado pelo justo valor deve ser reconhecido nos resultados”
9
Esquema decisório:
Adaptado da brochura “IFRS9: Instrumentos Financeiros”, KPMG, 2016, Brasil.
No que toca à mensuração subsequente dos passivos financeiros, a IFRS9 mantém os
requisitos existentes na IAS39, ou seja, de acordo com o parágrafo 4.2.1, “Uma entidade
deve classificar todos os passivos financeiros como subsequentemente mensurados pelo
custo amortizado, com exceção de passivos financeiros pelo justo valor através dos
resultados. Esses passivos, incluindo os derivados que sejam passivos, devem ser
subsequentemente mensurados pelo justo valor”.
10
Custo amortizado
O custo amortizado de um ativo ou passivo financeiro é calculado da mesma maneira,
como na IAS39. Assim, no apêndice A da IFRS9 consta a seguinte definição:
“Custo amortizado de um ativo financeiro ou de um passivo financeiro é a quantia pela
qual o ativo financeiro ou o passivo financeiro é mensurado no reconhecimento inicial
deduzida dos reembolsos de capital, acrescida ou deduzida da amortização acumulada
usando o método do juro efetivo de qualquer diferença entre essa quantia inicial e a
quantia à data do vencimento, e, para os ativos financeiros, ajustada por eventuais
provisões para perdas”
Há que notar que o custo amortizado agora é o valor líquido considerando a provisão por
perda por redução no valor recuperável (impairment). Deste modo, surge um novo
conceito que é a quantia escriturada bruta de um ativo financeiro que é o custo amortizado
de um ativo financeiro, antes do ajustamento que tenha em conta qualquer provisão para
perdas. Realce-se que o custo amortizado de um passivo não tem qualquer ajuste de
provisão para perdas.
A receita do juro é normalmente calculada pela aplicação da taxa de juro efetiva sobre a
quantia bruta escriturada. No entanto, quando um ativo tem a expetativa de perda no
reconhecimento inicial, os juros são calculados através da taxa de juro efetiva sobre o
custo amortizado. Para os passivos, os juros são calculados tendo em consideração o custo
amortizado.
Conforme refere o Apêndice A da IFRS9, a taxa de juro efetiva é “a taxa que desconta
exatamente os pagamentos ou recebimentos de caixa futuros estimados ao longo da
duração esperada do ativo financeiro ou do passivo financeiro à quantia escriturada bruta
de um ativo financeiro ou ao custo amortizado de um passivo financeiro. Ao calcular a
taxa de juro efetiva, uma entidade deve estimar os fluxos de caixa esperados considerando
todos os termos contratuais do instrumento financeiro (por exemplo, pré-pagamento,
extensão, opções call e semelhantes), mas não deve considerar as perdas de crédito
esperadas. O cálculo inclui todas as comissões e pontos pagos ou recebidos entre as partes
do contrato que são parte integrante da taxa de juro efetiva, os custos de transação, e todos
os outros prémios ou descontos. Existe um pressuposto de que os fluxos de caixa e a
duração esperada de um grupo de instrumentos financeiros semelhantes possam ser
estimados fiavelmente. Contudo, nos raros casos em que não seja possível estimar
fiavelmente os fluxos de caixa ou a duração esperada de um instrumento financeiro (ou
grupo de instrumentos financeiros), a entidade deve usar os fluxos de caixa contratuais
durante todo o prazo contratual do instrumento financeiro (ou grupo de instrumentos
financeiros) ”.
11
No reconhecimento inicial, o valor escriturado bruto de um ativo ou o custo amortizado
de um passivo financeiro, é normalmente igual ao justo valor do instrumento, ajustado
para refletir os custos de transação4.
Em síntese, a estimativa dos fluxos de caixa esperados considera todas as condições
contratuais, mas não as perdas esperadas (ou seja, os fluxos de caixa contratuais não são
reduzidos pelas perdas esperadas).
Para os instrumentos financeiros a taxas de juro flutuantes (variáveis), há que atender ao
que o parágrafo B5.4.5 dispõe que, em princípio, o cálculo da taxa de juro efetiva deve
refletir as alterações das taxas. No entanto, parece-nos que existe alguma margem de
manobra para não alterar as taxas de juro efetivas, desde que o impacto seja significativo.
Redução no valor recuperável
A IFRS9 substitui o modelo de perdas incorrida da IAS39 por um modelo de perdas
esperadas. O novo modelo aplica-se aos ativos financeiros não mensurados ao justo valor
através de resultados (JVR). De acordo com o parágrafo 5.5.1.”uma entidade deve
reconhecer uma provisão para perdas de crédito previstas relativamente a um ativo
financeiro que é mensurado em conformidade com os parágrafos 4.1.2 (conceito de custo
amortizado) ou 4.1.2 A (conceito de justo valor), uma conta a receber de locação, um
ativo resultante de um contrato ou um compromisso de concessão de empréstimo e um
contrato de garantia financeira a que se aplicam os requisitos em matéria de imparidade”.
A tabela seguinte elucida que instrumentos se encontram no âmbito ou fora da IFRS9
para efeitos de perdas esperadas:
4 Os custos de transação são custos incrementais que sejam diretamente atribuíveis à aquisição, missão ou
alienação de um ativo financeiro ou de um passivo financeiro. Um custo incremental é um custo que não
teria incorrido se a entidade não tivesse adquirido, emitido ou alienado o instrumento financeiro.
No âmbito da IFRS9 Fora do âmbito da IFRS9
Ativos financeiros que são
instrumentos de dívida
mensurados ao custo amortizado
(CA) ou ao justo valor através de
outros rendimentos integrais
(JVRI);
Compromissos de empréstimos
emitidos que não sejam
mensurados ao justo valor;
Contratos de garantia financeira
que não sejam mensurados ao
justo valor;
Contas a receber de uma locação;
Contratos no âmbito da IFRS15,
ou seja, contratos com clientes que
indiquem de forma explícita os
bens ou serviços que uma entidade
promete transferir para um cliente
Investimentos em instrumentos de
capital;
Compromissos de empréstimos
emitidos que sejam mensurados ao
justo valor;
Outros instrumentos financeiros
que sejam mensurados ao justo
valor
.
12
Uma das críticas que se fazia à IAS39 era a complexidade nos modelos para a
determinação do valor recuperável. Efetivamente a IAS39 detém os seguintes modelos:
Ativos ao custo amortizado;
Ativos disponíveis para venda – instrumentos de dívida;
Ativos disponíveis para venda – instrumentos de capital.
Realce-se que de acordo com a IAS39, a redução no valor recuperável de instrumentos
de dívida é baseada na diferença entre o custo de aquisição e o justo valor atual5. Este
modelo foi criticado pelo fato de adiar o reconhecimento de perdas, pela complexidade
de ter múltiplas abordagens de redução no valor recuperável e por ser difícil de entender,
aplicar e interpretar. Com a IFRS9, não será mais necessário esperar que um evento de
perda ocorra. Em geral, todos os ativos financeiros incluirão uma provisão para perdas.
Existe um único conjunto de requisitos para a redução no valor recuperável e é aplicável
a todos os instrumentos que não sejam contabilizados ao justo valor. Além da
simplificação de procedimentos, permite alinhar melhor com a maneira como as
instituições gerem o seu risco de crédito.
Em termos de tempo para o cálculo das perdas esperadas, a IFRS9 considera uma
abordagem dupla:
- Perdas de crédito esperadas para 12 meses, de acordo com o parágrafo 5.5.5.”sob reserva
do disposto nos parágrafos 5.5.13 a 5.5.16, se, à data de relato, o risco de crédito associado
a um instrumento financeiro não tiver aumentado significativamente desde o
reconhecimento inicial, uma entidade deve mensurar a provisão para perdas relativa a
esse instrumento financeiro por uma quantia equivalente às perdas de crédito esperadas
num prazo de 12 meses”. Por outras palavras, a abordagem do IASB para os ativos para
os quais o risco de crédito não aumentou significativamente, considera as perdas de
crédito esperadas de 12 meses;
- Perdas de crédito esperadas para a vida inteira para os ativos cujo risco de crédito
aumentou significativamente desde o reconhecimento inicial
Existem, no entanto, situações que implicam que o prazo seja para toda a vida. De acordo
com o parágrafo 5.5.15.”Não obstante os parágrafos 5.5.3 e 5.5.5, uma entidade deve
mensurar sempre a provisão para perdas numa quantia igual às perdas de crédito
esperadas ao longo da vida útil quanto a:
a) Contas a receber comerciais ou ativos resultantes de contratos que resultam, por sua
vez, de transações que estejam dentro do âmbito da IFRS 15……,
b) As contas a receber de locações resultantes de transações que estejam dentro do âmbito
da IAS 17…….,”
5 De acordo com a IAS39 a imparidade reflete a depreciação (perda permanente) do valor de um ativo
financeiro, e que se verifica quando o valor que se espera obter com a liquidação desse ativo (valor
realizável) se situa abaixo do custo de aquisição do mesmo registado no balanço
13
Apresenta-se de seguida o processo decisório para determinar o espaço temporal da perda
esperada.
A IFRS9 pretende assim dar resposta a um problema crucial que está implícito na IAS39
(perdas incorridas) o que atrasava o reconhecimento das perdas de crédito até que
houvesse evidência do evento. Na IFRS9 o principal objetivo é fornecer aos utilizadores
informação credível sobre perdas, quer passadas quer futuras. A IFRS9 requer que a
entidade tenha de reconhecer perdas esperadas em cada data de reporte, atualizando a
informação. Com a IFRS9, a entidade cria uma margem de segurança que permite em
épocas de crise estar mais protegida contra possíveis eventos de incumprimento.
É evidente que estimar a redução no valor recuperável envolve julgamentos sobre se os
fluxos de caixa serão recebidos conforme acordado e, caso contrário, quanto e quando
serão recuperáveis. Estes julgamentos podem causar volatilidade sobre os cálculos
efetuados, devendo ser suportados em estimativas confiáveis, que reflitam informações
razoáveis e estejam disponíveis a um custo aceitável, quer históricas, quer atuais ou e
previsionais. Na sequência destas preocupações consta do parágrafo B5.5.16 que “A
análise do risco de crédito é uma análise multifatorial e holística; a relevância de um
determinado fator, e o seu peso relativamente a outros fatores, depende do tipo de produto,
das características dos instrumentos financeiros e do mutuário, bem como da região
geográfica. Uma entidade deve considerar informações razoáveis e sustentáveis que
14
estejam disponíveis sem custos ou esforços indevidos e que sejam relevantes para o
instrumento financeiro específico em avaliação. No entanto, alguns fatores ou indicadores
podem não ser identificáveis a nível de cada instrumento financeiro. Nesse caso, os
fatores ou indicadores deverão ser avaliados relativamente a carteiras, grupos de carteiras,
ou partes de uma carteira de instrumentos financeiros que sejam adequadas para
determinar se foi cumprido o requisito do parágrafo 5.5.3 relativo ao reconhecimento das
perdas de crédito esperadas ao longo da duração dos instrumentos”.
O parágrafo 5.5.17. especifica as condições que o modelo deve possuir. “Uma entidade
deve mensurar as perdas de crédito previstas de um instrumento financeiro de forma a
refletir:
a) Uma quantia objetiva e ponderada pelas probabilidades, determinada através da
avaliação de um conjunto de resultados possíveis;
b) O valor temporal do dinheiro; e
c) Informações razoáveis e sustentáveis que estejam disponíveis sem custos ou esforços
indevidos à data de relato sobre eventos passados, condições atuais e previsões de
condições económicas futuras”.
Para ilustrar fontes potenciais de dados, a IFRS9 apresenta os exemplos seguintes:
Experiência interna de perdas históricas com crédito;
Classificações internas e externas;
Experiência de perda com crédito de outras entidades; e
Relatórios e estatísticas externas.
Contabilidade de cobertura
A cobertura (hedge) tem por finalidade reduzir o risco do investidor num determinado
ativo. De acordo com o parágrafo 6.1.1., “O objetivo da contabilidade de cobertura é
representar, nas demonstrações financeiras, o efeito das atividades de gestão de risco de
uma entidade que utiliza instrumentos financeiros para gerir as exposições decorrentes de
riscos específicos suscetíveis de afetar os resultados (ou o outro rendimento integral, no
caso de investimentos em instrumentos de capital próprio relativamente aos quais a
entidade optou por apresentar as alterações no justo valor em outro rendimento integral
de acordo com o parágrafo 5.7.5). Esta abordagem tem por objetivo refletir o contexto
dos instrumentos de cobertura relativamente aos quais a contabilidade de cobertura é
aplicada a fim de permitir melhor conhecer o seu objeto e efeito”.
De acordo com o parágrafo 6.4.1., “Um relacionamento de cobertura só é elegível para a
contabilidade de cobertura se forem satisfeitos todos os seguintes critérios:
a) O relacionamento de cobertura é constituído apenas por instrumentos de cobertura
elegíveis e itens cobertos elegíveis.
b) No início da relação de cobertura, existe designação e documentação formais
relativamente ao relacionamento de cobertura e ao objetivo e estratégia da gestão de risco
da entidade para efetuar a cobertura. Essa documentação deve incluir a identificação do
15
instrumento de cobertura, o item coberto, a natureza do risco a ser coberto e a forma como
a entidade vai avaliar se o relacionamento de cobertura satisfaz os requisitos de eficácia
da cobertura (incluindo a sua análise das fontes de ineficácia da cobertura e a forma como
determina o rácio de cobertura).
c) O relacionamento de cobertura satisfaz todos os seguintes requisitos de eficácia da
cobertura:
i) Existe uma relação económica entre o item coberto e o instrumento de cobertura
(ver parágrafos B6.4.4 a B6.4.6);
ii) O efeito do risco de crédito não domina as alterações de valor que resultam
dessa relação económica (ver parágrafos B6.4.7 a B6.4.8); e
iii) O rácio de cobertura do relacionamento é o mesmo que resulta da quantidade
do item coberto que uma entidade cobre efetivamente e da quantidade do instrumento que
a entidade utiliza para cobrir essa quantidade do item. Contudo, esta designação não
deve refletir um desequilíbrio entre as ponderações do item coberto e as do instrumento
de cobertura, suscetível de criar uma ineficácia (independentemente de ser ou não
reconhecida) que poderia conduzir a um resultado contabilístico incompatível com o
objetivo da contabilidade de cobertura (ver parágrafos B6.4.9 a B6.4.11) ”
Por seu turno, o parágrafo B5.4.4 define o que se entende por relação económica: “ O
requisito de que exista uma relação económica significa que o instrumento de cobertura
e o item coberto têm valores que, de um modo geral, variam em direções opostas devido
ao mesmo risco, que é o risco coberto. Assim, deve existir uma expectativa de que o valor
do instrumento de cobertura e o valor do item coberto evoluam de forma sistemática em
resposta a movimentos num mesmo subjacente ou em subjacentes que estão
economicamente relacionados, de tal forma que respondam de uma forma semelhante ao
risco que está a ser coberto”.
De acordo com o parágrafo 6.5.2, existem três tipos de relacionamentos de cobertura:
a) Cobertura de justo valor: uma cobertura da exposição às alterações do justo valor de
um ativo ou passivo reconhecido ou de um compromisso firme não reconhecido, ou de
uma componente de qualquer um desses itens, que seja atribuível a um risco específico e
seja suscetível de afetar os resultados. Por exemplo: cobrir obrigações em carteira, pois
existe o risco de preço desse ativo baixar. Regra geral, à cobertura de justo valor estão
ligados a ativos e passivos a taxa fixa e a compromissos firmes ainda não reconhecidos
contabilisticamente
b) Cobertura de fluxos de caixa: uma cobertura da exposição à variabilidade dos fluxos
de caixa que seja atribuível a um risco específico associado à totalidade ou a uma
componente de um ativo ou passivo reconhecido (como por exemplo a totalidade ou
alguns dos futuros pagamentos de juros sobre uma dívida de taxa variável) ou a uma
transação prevista altamente provável, e suscetível de afetar os resultados.
c) Cobertura de um investimento líquido numa unidade operacional estrangeira tal como
definido na IAS 21. Por exemplo, a cobertura cambial numa operação estrangeira.
Relativamente aos procedimentos contabilísticos, indicam-se só os parágrafos essenciais:
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Cobertura de justo valor - parágrafo 6.5.8.:”Enquanto uma cobertura de justo valor
satisfizer os critérios de elegibilidade previstos no parágrafo 6.4.1, o
relacionamento de cobertura deve ser contabilizado como segue: a) O ganho ou
perda resultante do instrumento de cobertura deve ser reconhecido nos resultados
(ou em outro rendimento integral, se o instrumento de cobertura cobrir um
instrumento de capital próprio relativamente ao qual a entidade optou por
apresentar as alterações no justo valor em outro rendimento integral de acordo
com o parágrafo 5.7.5); b) O ganho ou perda de cobertura resultante do item
coberto deve ajustar a quantia escriturada do item coberto (se aplicável) e ser
reconhecido nos resultados. Se o item coberto for um ativo financeiro (ou uma
componente do mesmo) que é mensurado pelo justo valor através de outro
rendimento integral de acordo com o parágrafo 4.1.2A, o ganho ou perda de
cobertura resultante do item coberto deve ser reconhecido nos resultados….”
Cobertura de fluxos de caixa - 6.5.11.: “Enquanto uma cobertura de fluxo de caixa
satisfizer os critérios de elegibilidade previstos no parágrafo 6.4.1, o
relacionamento de cobertura deve ser contabilizado como segue: a) A componente
separada do capital próprio, associada ao item coberto (reserva de cobertura dos
fluxos de caixa), é ajustada para a mais baixa das seguintes quantias (em valores
absolutos): i) O ganho ou perda acumulado resultante do instrumento de cobertura
desde o início da cobertura; e ii) A alteração acumulada do justo valor (valor atual)
do item coberto (isto é, o valor atual da alteração acumulada dos fluxos de caixa
futuros esperados cobertos) desde o início da cobertura. b) A parte do ganho ou
perda resultante do instrumento de cobertura que se determine constituir uma
cobertura eficaz (isto é, a parte que é compensada pela alteração da reserva de
cobertura dos fluxos de caixa calculada em conformidade com a alínea a)) deve
ser reconhecida em outro rendimento integral. c) Qualquer ganho ou perda
remanescente resultante do instrumento de cobertura (ou qualquer ganho ou perda
necessário para equilibrar a alteração na reserva de cobertura dos fluxos de caixa
calculada em conformidade com a alínea a)) constitui uma ineficácia da cobertura
que deve ser reconhecida nos resultados…. “
Coberturas de um investimento líquido numa unidade operacional estrangeira -
6.5.13:“As coberturas de um investimento líquido numa unidade operacional
estrangeira, incluindo uma cobertura de um item monetário que seja contabilizada
como parte do investimento líquido (ver IAS 21), devem ser contabilizadas de
forma semelhante às coberturas de fluxos de caixa: a) A parte do ganho ou perda
resultante do instrumento de cobertura que se determine constituir uma cobertura
eficaz deve ser reconhecida em outro rendimento integral (ver parágrafo 6.5.11);
e b) A parte ineficaz deve ser reconhecida nos resultados”
Possíveis Impactos da IFRS 9 na contabilização de imparidades
A capacidade de avaliar os prováveis impactos da implementação da IFRS 9 está limitada
pelo facto de a abordagem ser nova e não haver precedentes. No entanto, há uma série de
observações que podem ser feitas e dar alguma indicação da potencial de magnitude desse
impacto.
Desde logo, o modelo de perda esperada do IASB parece tender a aumentar o montante
das perdas reconhecidas nas contas de provisões para perdas. Não alterará, por si só, o
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montante total das perdas reconhecidas na demonstração de resultados ao longo da vida
de um ativo, já que o seu efeito será alterar o momento no qual as perdas são reconhecidas
e não o valor total das perdas reconhecidas ao longo de tempo.
Este facto deriva das instituições terem de reconhecer perdas por imparidade para quase
todos os ativos e, além disso, os cálculos terão de ser realizados em cada ano. A juntar a
isso, poderá assistir-se a uma maior volatilidade no montante das imparidades.
No que diz respeito à IFRS 9, existem algumas evidências sobre as quais basear a
avaliação do efeito provável da sua implementação (Hashim et al., 2016). Segundo o
EFRAG (2015), não obstante as restrições de informação sobre o impacto provável dos
requisitos de imparidades da IFRS 9, é possível referir algumas evidências, baseadas em
inquéritos, de que as imparidades por perdas devem aumentar com a IFRS 9 relativamente
ao modelo atual de perda incorrida. Além disso, um artigo publicado pelo IASB6 fornece
algumas evidências, com base num pequeno exercício de trabalho de campo, que indiciam
o aumento das provisões com a implementação da IFRS 9.
No entanto o documento da equipa do IASB também sugere que as imparidades
decorrentes do reconhecimento de perdas ao longo da vida dos ativos financeiros
poderiam ser materialmente maiores que as decorrentes dos requisitos da IFRS 9, que
apenas reconhecem perdas esperadas de 12 meses em alguns ativos financeiros. Deve-se
notar que o critério de classificação fora da categoria de perda esperada de 12 meses,
segundo a IFRS 9 é um critério relativo e não absoluto na medida em que pressupõe que
o risco de crédito tenha aumentado significativamente desde o reconhecimento inicial.
Qualquer tentativa de quantificar o possível impacto da implementação é sempre
complicada pela probabilidade de que, conforme relatado pelo IASB com base em seu
trabalho de campo antes da publicação da IFRS 9, as perdas de crédito esperadas durante
toda a vida são mais difíceis de calcular para prazos longos de ativos financeiros que estão
totalmente em cumprimento.
Um outro aspeto a observar é o de que os empréstimos bancários são uma percentagem
relativamente elevada face ao ativo total das instituições e ao capital próprio e os créditos
em situação “normal” (performing loans) constituem a esmagadora maioria dos
empréstimos e cerca de várias vezes maiores que o capital próprio. Assim, mesmo uma
pequena diferença na imparidade por perda dos empréstimos pode significar uma
diferença material relevante em relação aos capitais próprios. Além disso, deve notar-se
que a magnitude da diferença decorrente do novo tratamento dos ativos para os quais o
risco de crédito não aumentou significativamente é suscetível de ser maior em períodos
de crescimento económico do que em tempos períodos maus.
Em síntese, acredita-se em geral que as provisões (imparidades) venham a ser mais
elevadas do que com a IAS39.
Conclusão e Desafios da implementação da IFRS9
Na sequência da crise financeira internacional, o IASB propôs-se substituir a abordagem
pelas perdas incorridas para contabilizar prejuízos por uma abordagem das perdas
esperadas que facilite o reconhecimento mais oportuno das perdas associadas aos
6 Staff Paper. Financial Instruments: Impairment. IASB Meeting of 22-26, July 2013.
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empréstimos concedidos pelos bancos. Para tal objetivo, os critérios devem incorporar
um conjunto de informações de crédito mais amplo, de modo a reconhecer as perdas com
empréstimos num estágio anterior e em montante suficiente para fazer face a possíveis
perdas.
Para começar, novos processos serão necessários para alocar os ativos financeiros à
categoria apropriada de mensuração
Conforme já referido, as exigências de imparidade previstas na IFRS9 introduzem um
modelo de perda de crédito esperada, em vez de um modelo de perda incorrida prevista
na IAS39. Deste modo, espera-se que ocorra um impacto significativo sobre as
instituições financeiras. Isto vai exigir uma ligação entre as finanças e a contabilidade,
dado que o cálculo da imparidade afetará a definição do modelo de risco, a metodologia
de provisão (imparidade) e os modelos operacionais.
É difícil prever com precisão a magnitude provável das imparidades associadas aos
requisitos da IFRS 9. Há no entanto razões para acreditar que os montantes de perdas
possam ser materialmente mais elevados do que os dados pelos requisitos da IAS39 para
um dado conjunto de factos.
Deste modo, as entidades terão que elaborar e implementar novos sistemas, bases de
dados e controlos internos. As instituições que pretendam utilizar dados sobre perdas de
crédito esperadas utilizado no cálculo dos requisitos de fundos próprios exigidos pela lei
ou pelo Acordo de Basileia terão que identificar as diferenças entre os dois tipos de
requisitos.
Igualmente em termos de divulgação (IFRS9 em conjugação com a IFRS7), constata-se
a introdução de novos requisitos de divulgação relativos ao risco de crédito e às perdas
de crédito esperadas que exigirão um grande esforço de divulgação. Por outro lado, essa
divulgação deve ser realizada para que os utentes possam localizá-la e entendê-la
facilmente. Para esse efeito, as entidades precisam de considerar:
Informações sobre as práticas de gestão de risco de crédito e como elas se
relacionam ao reconhecimento e mensuração das perdas de crédito esperadas,
incluindo métodos, pressupostos e informações utilizadas para mensurar as perdas
de crédito esperadas;
Informações quantitativas e qualitativas para avaliar os valores de perdas de
crédito esperadas, incluindo as alterações de valor das perdas de crédito esperadas
e os seus motivos;
Informações sobre a exposição ao risco de crédito da entidade, incluindo
concentrações significativas de risco de crédito.
Assim, as entidades deverão analisar o impacto e elaborar um plano para mitigar as
consequências indesejadas. O plano de implementação deve incluir uma abordagem
ampla com os vários parceiros, nomeadamente, acionistas, órgãos reguladores e
financiadores.
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Referências bibliográficas:
Normativos
Regulamento UE 2016/2067
NCRF27
IAS39
Barth, M., Landsman, W., How did financial reporting contribute to the financial crisis?,
European Accounting Review 2015, 19 (3), pp. 399-423.
Bushman, R., Williams, C., Delayed expected loss recognition and the risk profile of
banks, Journal of Accounting Research 2015, 53, pp. 511-553.
EFRAG, Adoption of IFRS 9 Financial Instruments, Brussels, 2015.
http://www.efrag.org/files/IFRS%209%20endorsement/IFRS_9_DEA_-
_May_4_2015_-_final.pdf. Acedido em Junho 2017´
Hashim, N., Li, W., & O’Hanlon, J. (2016). Expected-loss-based accounting for
impairment of financial instruments: The FASB and IASB proposals 2009–
2016. Accounting in Europe, 13(2), 229-267.
Lee, K., Discussion (of Sunder, S. IFRS monopoly: the Pied Piper of financial reporting),
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www.ifrs.org/current-projects/iasb-projects/financial-instruments... Acedido em
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IFRS 9 — Financial Instruments - IAS Plus
www.iasplus.com/en/standards/ifrs/ifrs9 Acedido em Maio 2017
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of IAS 39 'Financial Instruments: Recognition and Measurement'. The Standard
includes ...
IFRS 9 Financial Instruments
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www.ifrs.org/Current-Projects/IASB-Projects/Financial-Instruments... Acedido
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IFRS 9 Financial Instruments | July 2014 At a glance A single and integrated
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Overview of the new requirements
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www.ey.com/.../Applying_IFRS:_Hedge_accounting_under_IFRS_9/$File/...
Acedido em Maio 2017
February 2014 Hedge accounting under IFRS 9 1 Contents 1. Introduction 2 1.2
The main changes in the IFRS 9 hedge accounting requirements 3
IFRS 9: Financial instruments | Accounting standards ...
https://www.icaew.com/.../accounting-standards/ifrs/ifrs-9 Acedido em Maio
2017
Summaries. IFRS 9 Financial Instruments IASB project summary issued in July
2014 giving an overview of the standard and information on additions and changes
to the ...
IFRS 9 Financial instruments: Analysis of impacts
https://www2.deloitte.com/.../articles/ifrs-9-analysis-of-impacts.html Acedido
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The International Accounting Standards Board (IASB) has published the final
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IFRS 9 | IFRSBrasil - IFRSBrasil.com Notícias, matérias ...
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21
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