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6º Congresso SOPCOM 3566
A construção da percepção em imagem digital e o desenvolvimento de
novas formas de literacia visual12
Manuel José Damásio
Rui Henriques
Filipe Luz
CICANT, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Resumo
O papel da percepção visual é essencial num contexto onde parte substancial da
informação que é recepcionada pelos sujeitos é transmitida através de uma forma visual
pelos media, sejam eles a televisão, o cinema ou a internet. O processo de percepção
visual deve ser cada vez mais entendido como um processo educativo em torno das
formas como diferentes canais transmitem, e por vezes distorcem, informação visual. O
presente trabalho discute um processo específico de avaliação da percepção enquanto
forma de literacia, por comparação à visualidade como processo holístico de recepção de
informação em formato visual, e estabelece a diferença entre as duas tendo como base a
capacidade subjectiva de distinguir percepções em função do seu nível de manipulação e
consequências cognitivas das mesmas. A hipótese discutida preconiza que a emergência
de novas formas de produção de representações visuais tendo como base tecnologia
digital exige a definição de um novo enquadramento para estas variáveis e,
consequentemente, para a própria literacia do visual.
Introdução – o conceito de literacia visual
Tradicionalmente associado às capacidades de leitura e escrita da palavra textual,
tornou-se comum nos nossos dias a utilização do termo ―literacia‖ para referir
competências genéricas de escrita e leitura associadas às mais variadas formas de
representação (Messaris, 1994).
A separação tradicional entre conhecimento/educação e entretenimento/prazer,
levou a que o valor social do termo literacia fosse directamente associado uma função
educacional – a aquisição de competências de escrita e leitura em ordem à criação de
12
* O presente trabalho foi produzido no âmbito do projecto INFOMEDIA – Information Acquisition in
New Media (PTDC/CCI/74114/2006)
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modelos e metodologias de ensino e aprendizagem que resultassem no desenvolvimento
de indivíduos mais conhecedores e mais competentes (Kress&Van Leuwen, 1996).
O estudo da literacia refere-se normalmente à análise da capacidade de
processamento de informação através da palavra escrita ou lida. No entanto, a
importância que outras formas de representação e expressão simbólica, para além da
palavra escrita, têm vindo a adquirir na nossa sociedade, provocaram o surgimento de
diversos movimentos que defendem uma expansão do conceito de literacia (Bamford,
2004).
Se é mais ou menos inegável que o carácter altamente mutável do sistema de
representações em que nos movimentamos e a que estamos expostos, e a complexidade
do sistema tecnológico de comunicação que lhe está subjacente, exige uma nova visão do
conceito de literacia (Auferheid, 1993), já os contornos de tal definição não são
consensuais e estamos ainda longe de uma definição válida do conceito face às
circunstâncias actuais.
Na base de uma nova visão de literacia, está o alargamento das competências que
lhe são próprias a outras formas de expressão que não apenas a escrita, e de entre estas é
óbvio que a percepção visual ganha uma enorme preponderância em função da sua
primazia no interior do sistema mediático com que diariamente lidamos. De facto, parte
substancial da informação que recepcionamos é-nos veiculada sobre a forma de
informação visual. Este facto em si mesmo não é novidade, na medida em que a
construção de representações visuais tendo como objectivo o estabelecimento de
processos comunicacionais é uma constante desde a origem do homem. O que é de certa
forma novo, é a preponderância que diferentes tipos de imagens, pela sua quantidade e
variedade, têm vindo a adquirir para os sujeitos como principal mecanismo de construção
das suas referências às coisas e ao mundo que os rodeia. Estas imagens são
essencialmente imagens mediatizadas que, ao constituírem a principal forma de
informação visual a que estamos expostos, devem também obrigatoriamente ser o
principal objecto de uma literacia do visual.
6º Congresso SOPCOM 3568
Se o processamento de informação através da palavra escrita e oral implica, para
além das competências base de uso restrito dessas formas de expressão, a compreensão
das funções que a escrita e a palavra desempenham aos mais variados níveis sociais,
também no caso da adequação das capacidades de escrita e leitura a outras formas de
expressão, como a visual, o seu uso restrito não pode ser dissociado da compreensão das
funções por elas desempenhadas.
É esta característica central do termo ―literacia‖, a referência a capacidades
específicas de utilização de uma língua escrita, que permite distinguir ―literacia‖ de
―alfabetização‖. ―Alfabetização‖ corresponde a um estado, normalmente associado à
formação escolar, de iniciação na utilização da língua, enquanto ―literacia‖ refere ―um
processo permanente e contínuo de evolução‖ (Potter, 1998).
O termo ―literacia visual‖ assenta no princípio de que as imagens podem ser lidas
e que um sentido que resulte dessa leitura pode ser comunicado. É precisamente este
princípio de que o sentido construído pode ser comunicado e distribuído, que está na base
de perspectivas mais amplas que enquadram a literacia visual como um constituinte das
práticas sociais do sujeito (Messaris, 1994).
A autoria do termo ―literacia visual‖ é atribuída a John Debes, que em 1969
definiu como literacia visual ―um grupo de competências que um sujeito pode
desenvolver e que pode integrar outras experiências sensoriais‖ (Avgerinou, & Ericson,
1997). A evolução constante das tecnologias de produção e representação de imagens e o
papel progressivamente mais importante que as mesmas desempenham na modelação da
relação entre os sujeitos e o mundo, levou a que o conceito de literacia visual fosse
expandido de forma a enquadrar, não apenas as competências interpretativas, mas
também as competências relativas à produção de imagens.
A expansão do termo implicou um aumento do leque de saberes que contribuem
para o enquadramento disciplinar da literacia visual, mas também resultou na inexistência
de uma teoria unificada que permita compreender o mesmo. Qualquer que seja a origem
disciplinar ou o campo de trabalho em causa, a generalidade dos autores parece concordar
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com o princípio de que a literacia visual é hoje uma componente educativa central, que
deve ser reforçada nos diversos níveis de ensino (Kellner, 2003).
O individuo visualmente literato é aquele que é capaz de descodificar e interpretar
uma composição visual, mas também aquele que é capaz de codificar e compor imagens
passíveis de possuírem um sentido comummente entendido.
Embora alguns autores entendam a literacia visual como um estado (Messaris,
1994) que facilita aos sujeitos a compreensão das representações visuais à sua volta, a
acelerada evolução de mecanismos de reprodução da imagem a partir da modernidade,
mas mais essencialmente a emergência da imagem digital nos nossos dias, torna inegável
a relevância de processos que facilitem a aquisição pelo sujeito de competências de
selecção, interpretação, codificação/descodificação e produção de imagens.
A proliferação de imagens na nossa cultura implica que a literacia visual seja
entendida, quer na sua forma mais básica de descodificação de simbologias visuais, quer
na sua forma mais avançada de construção de representações de sentido complexo, como
um processo central de aquisição de informação, construção de conhecimento e obtenção
de resultados educativos pelos sujeitos.
A necessidade de uma literacia visual resulta em primeiro lugar do facto de que os
símbolos e modos de representação utilizados na comunicação visual não possuem um
vocabulário fixo. Para além da extensão inimaginável de símbolos e formas que teriam de
constar de tal eventual vocabulário, coloca-se o problema muito mais premente de que a
interpretação e construção de sentidos em comunicação visual varia consoante o contexto
de produção e recepção das imagens.
A literacia visual constitui-se assim como um conjunto de competências que
envolve a compreensão das convenções, intenções subjectivas e conjunto de referências
ao real, incluídas na produção ou recepção de uma imagem. Tal processo de construção
de sentido, resulta numa sintáctica e semântica que implica que a literacia visual seja
entendida como uma prática social que não se limita ao texto da imagem, mas antes
enquadra esta no seu contexto social e cultural (Turner, 2006).
6º Congresso SOPCOM 3570
Aprender com as imagens: o que vemos e o que não vemos
A emergência ao longo das últimas décadas de formas variadas de produção,
consumo e transformação de imagens de base digital que progressivamente se tornaram a
forma dominante de informação visual presente em todos os media, obriga-nos a
enquadrar o processo linear de uma literacia da percepção no campo mais vasto de uma
visualidade que se refere a todos os processos de recepção, produção e distribuição de
informação visual (Natharius, 2004). Existe assim uma relação directa entre construção
de sentidos, informação visual e literacia dos media, que se manifesta nomeadamente na
forma como as impressões visuais se vão constituindo como elementos aglutinadores da
nossa atenção e experiência subjectiva mediatizada através de media diversos.
A literacia visual está centrada em quatro aspectos (Messaris, 1994): a)
compreensão; b) cognição; c) manipulação; d) estética. Estes quatro aspectos não são
exclusivos da literacia visual e podem ser discutidos por referência a quase todas as
formas de informação mediatizada.
a) Refere-se ao facto de a literacia visual ser um pré-requisito para a
compreensão de qualquer medium de base visual;
b) Refere-se ao facto de a literacia visual promover a avaliação das
consequências cognitivas que a recepção ou produção de informação visual possa
ter para o sujeito;
c) Refere-se ao facto de a literacia visual implicar a aquisição de
competências relativas à capacidade de identificar traços de manipulação visual e;
d) Refere-se ao facto de a literacia visual incluir a apreciação estética
de informação visual.
Um aspecto essencial do conceito de literacia visual é a sua assumpção de que são
as nossas experiências do mundo real e dos seus objectos que utilizamos como referencial
para a avaliação e construção de sentido a partir das imagens mediatizadas.
A nossa hipótese de trabalho parte do pressuposto que de entre estas imagens
mediatizadas devemos isolar um tipo particular de imagens, as imagens animadas, que
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resultam da aquisição do movimento por sistemas de captura digital de movimento
(MOCAP), como um tipo particular de fontes de informação.
As imagens MOCAP (motion capture) são imagens digitalmente produzidas a
partir da aquisição do movimento de objectos ou sujeitos via um sistema de câmaras
baseadas em infra-vermelhos ou através da detecção do movimento em imagem vídeo.
Este tipo de imagens digitais permite criar uma representação realista que aproxima a
animação da forma de representação cinematográfica. As imagens MOCAP representam
um novo paradigma no campo da imagem digital, nomeadamente no que se refere ao seu
processo de produção e transformação (Manovich, 2006).
O realismo gráfico obtido por via das imagens MOCAP está, tal como no caso de
técnicas de animação anteriores, centrado na replicação das formas do mundo real para o
espaço digital. Os sistemas de MOCAP permitem criar imagens tridimensionais que têm
como base a replicação exacta do referente real criando assim um modo transparente que
torna difícil ao sujeito a identificação exacta da natureza da imagem – corresponde a um
referente real ou não? Tal acontece porque o aspecto real é verosímil (Lamarre, 2006).
Os movimentos capturados por MOCAP, as simulações gravíticas, as expressões
animadas e a representação foto-real, são de tal modo equivalentes à nossa experiência
do mundo real, que se torna imperceptível a distinção entre objectos reais e objectos
artificiais.
É precisamente este aspecto das imagens MOCAP que torna relevante o
contributo das mesmas para a discussão do conceito de literacia visual. Ao permitirem tal
fusão entre representações com referentes reais e representações totalmente artificiais, as
imagens MOCAP obrigam-nos a reformular o conceito de literacia visual no sentido de
este incluir como elemento obrigatório na avaliação de informação visual elementos de
percepção que não sejam da ordem do visual. A nossa hipótese preconiza que tal
elemento é o movimento.
A hipótese central do nosso trabalho tem então a seguinte redacção:
a.1) As imagens MOCAP constituem um tipo distinto de formas de
informação visual que possibilitam a expansão do conceito de literacia visual por
forma a que este inclua como elemento constituinte o movimento como factor
central de distinção pelo sujeito entre representações reais e artificias;
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a.2) De a.1 resulta que o estágio cognitivo, e não o estágio de percepção,
deve ser entendido como o mais relevante para a avaliação da literacia visual e
que a mesma se deve centrar nos elementos não visuais que possibilitam a
compreensão de uma imagem como informação visual em vez de se centrarem na
associação entre representação e referente.
A leitura de uma imagem implica processos cognitivos complexos de codificação,
descodificação e compreensão, usualmente agrupados em três estágios: sensorial
(aquisição do estímulo exterior); percepção (captura do estímulo pelo órgão sensorial e
selecção do mesmo tendo como base a comparação com estímulos anteriores existentes
na memória) e cognição (actividade mental subjectiva inerente a todo o processo). A
literacia visual deve lidar essencialmente com o último processo, ou seja, não com a
leitura das imagens, mas sim com a sua compreensão.
A passagem de uma informação visual a um produto cognitivo implica no seu
estágio final uma tomada de decisão subjectiva através da qual, e tendo como base os
traços de relação entre uma imagem e outra forma de representação armazenada na
memória do sujeito, este activa a informação visual percepcionada como equivalente a
determinado tipo de representação (Treisman, 1988). As imagens MOCAP confundem
este processo ao promoverem a produção de representações que estão em parte ligadas a
um referente real por via do movimento, mas por outro lado não estão, na medida em que
a sua representação visual é totalmente artificial e pode não corresponder a nenhum
referente real (ex. criaturas fantásticas que se movimentam exactamente como um
humano).
A emergência de tipos de tipos de informação visual que possuem uma aderência
a um referente real mas que aparentam poder manipulá-lo, coloca em causa as
propriedades de b) cognição e c) manipulação incluídas na definição do conceito de
literacia visual.
Foi com o objectivo de comprovar a nossa hipótese inicial relativa à relevância da
avaliação do movimento com propriedade essencial à avaliação subjectiva da informação
visual, bem como proceder à validação da relevância de b) e c) neste contexto, que foi
conduzido um estudo exploratório inicial de discussão da nossa hipótese de trabalho.
6º Congresso SOPCOM 3573
Um estudo exploratório: da imagem artificial à percepção do real
Procurou-se com este estudo saber:
1) Se existem diferenças entre géneros para cada variável definida em função do
valor nuclear movimento (movimento humano, movimento real,
aceleração/desaceleração, massa e peso, acção da gravidade, aceleração do movimento,
estabilização do movimento, ângulo do movimento, fluidez do movimento);
2) Se existem diferenças entre grupos em análise (1- alunos cinema, 2- alunos
psicologia, 3- alunos animação, 4- alunos de desporto) para cada variável;
3) Se existem diferenças entre blocos de narrativas (bloco1 e bloco2) para cada
variável.
Metodologia
Design
Este é um estudo experimental e exploratório. No intuito de analisar as reacções
dos participantes às sequências elaboradas em Mocap (Motion Capture) e em animação,
foi elaborado um estudo piloto para testar o questionário desenvolvido pela equipa e que
visa a análise do movimento das diversas narrativas.
Participantes
Participaram na investigação 78 alunos voluntários alunos Portugueses do ensino
superior, 43 homens e 35 mulheres, com média de idades = 25,0 anos (intervalo etário:
17-44 anos). O seu recrutamento foi selectivo através de convite indiferenciado via web.
Os participantes encontravam-se divididos em quatro grupos: Alunos do Curso de
Cinema (n=14), alunos do Curso de Psicologia (n=36), alunos do Curso de Animação
(n=14) e alunos do Curso de Desporto (n=14). (tabela 1) (o nome curso = área de
formação).
6º Congresso SOPCOM 3574
Material
Uma sala de aula foi equipada com 16 pc‘s contendo cada um questionário
individual (QAMH) que foi preenchido passo a passo pelos participantes a pedido do
investigador. No centro da sala foi instalado um projector de vídeo que procedeu à
projecção das sequências contra uma parede branca.
O questionário QAMH - Questionário para Análise do Movimento Humano (Rui
Henriques, 2008) encontra-se dividido em duas partes. Uma primeira (perguntas 1-3) que
inclui os dados pessoais e uma segunda (perguntas 4-12) que questiona a forma como
cada uma das sequências é percepcionada pelo sujeito e adquirida cognitivamente quando
comparada com formas de representação em memória. O principal objectivo do
questionário é validar a hipótese de que são mais os elementos não visuais –
nomeadamente o movimento – que são utilizados pelo sujeito para associar uma imagem
a um referente e activar a mesma cognitivamente, que os elementos visuais. Cada
pergunta encontra-se dividida em dois blocos (conjunto de quatro pequenas narrativas
sequenciadas de cerca de cinco segundos cada), correspondendo ao bloco 1 a sequência
feita em Mocap e bloco 2 a sequência produzida sem recurso a Mocap – Animação
tradicional. No total foram utilizadas oito sequências diferentes, distribuídas em dois
blocos, e que incluíam movimentos básicos como correr, levantar, saltar, etc.
Cada um dos blocos foi projectado e imediatamente respondido pelos sujeitos.
O questionário encontra-se dividido em questões referentes ao movimento
humano, movimento real, aceleração/desaceleração, massa e peso, acção da gravidade,
aceleração do movimento, estabilização do movimento, ângulo do movimento, fluidez do
movimento. À excepção da questão nove, todas as questões são dicotómicas.
Procedimento
6º Congresso SOPCOM 3575
Após a explicação da finalidade do estudo, os sujeitos foram informados
oralmente que iriam ver dois blocos com seqências intercalados e após cada um dos
visionamentos ser-lhes-ia pedido que preenchessem a questão respectiva no questionário.
Após a projecção do bloco de imagens eles teriam de responder à pergunta, ao que depois
se passaria para o outro bloco e para a resposta a esse bloco, antes de se passar à pergunta
seguinte e repetir o procedimento.
No final do questionário, foi pedido aos participantes que premissem o botão
―Submeter‖ para que os dados ficassem gravados numa base de dados comum.
Resultados
No sentido de escolher a metodologia mais adequada para análise estatística dos
dados recolhidos – paramétricos ou não-paramétricos – procedeu-se a uma análise da
natureza da distribuição dos dados para cada variável procurando perceber-se assumiam
uma distribuição normal (teste Kolmogorov-Smirnov com correcção de lilliefors).
Verificou-se que nenhuma das nossas variáveis seguia uma distribuição normal
(p<0.05), sendo necessária a escolha de estatística não-paramétrica na análise dos dados
Tabela 1
Descrição da amostra
Homens Mulheres Total
N % N % N %
Participantes 43 55,1 35 44,9 78 100
Alunos do Curso de Cinema 10 23,3 4 11,4 14 17,9
Alunos do Curso de Psicologia 7 16,3 29 82,9 36 46,2
Alunos do Curso de Animação 13 30,2 1 2,9 14 17,9
Alunos do Curso de Desporto 13 30,2 1 2,9 14 17,9
6º Congresso SOPCOM 3576
Tabela 2
Descrição das diferenças entre homens e mulheres para cada uma das questões
Homens Mulheres Total
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%) Sim
(%)
Não
(%)
O movimento da
figura parece-lhe
replicar o movimento
humano
Bloco 1 72,1 27,9 68,6 31,4
70,5
29,5
Bloco 2 0 100 11,4 88,6 5,1 94,9
Real
(%)
Comp
(%)
Real
(%)
Comp
(%)
Real
(%)
Comp
(%)
O movimento da
figura parece-lhe Real
ou parece-lhe
produzido em
computador (artificial)
Bloco 1 55,8 44,2 62,9 37,1 59 41
Bloco 2 2,3 97,7 2,9 97,1 2,6 97,4
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
A aceleração e
desaceleração dos
movimentos
pareceram-lhe reais
Bloco 1 90,7 9,3 85,7 14,3 88,5 11,5
Bloco 2 4,7 95,3 22,9 77,1 12,8 87,2
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
O corpo parece-lhe ter
massa e peso
Bloco 1 93 7 94,3 5,7 93,6 6,4
Bloco 2 37,2 62,8 40 60 38,5 61,5
Real
(%)
Artif.
(%)
Real
(%)
Artif.
(%)
Real
(%)
Artif.
(%)
Tendo em conta a acção
da gravidade sobre a
figura, este movimento
pareceu-lhe
Bloco 1 95,3 4,7 85,7 14,3 91 9
Bloco 2 9,3 90,7 20 80 14,1 85,9
=
(%
)
(%
)
(%
)
=
(%
)
(%
)
(%
)
=
(%
)
(%
)
(%
)
Em relação ao tempo
real, estas figuras Bloco 1
88,
4 2,3 9,3
77,
1 2,9 20
83,
3 2,6
14,
1
6º Congresso SOPCOM 3577
encontram-se Bloco 2
16,
3
74,
4 9,3 20
68,
6
11,
4 17,
9
71,
8
10,
3
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
Parece-lhe real a
estabilização do
movimento após
paragem
Bloco 1 95,3 4,7 80 20
88,5
11,5
Bloco 2 53,5 46,5 51,4 48,6 52,6 47,4
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
O ângulo (direcção) no
qual a figura se move
parece-lhe o mais
correcto
Bloco 1 81,4 18,6 74,3 25,7 78,2 21,8
Bloco 2 44,2 55,8 45,7 54,3 44,9 55,1
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
Sim
(%)
Não
(%)
A figura parece ter
fluidez nos
movimentos
Bloco 1 83,7 16,3 68,6 31,4 76,9 23,1
Bloco 2 53,5 46,5 54,3 45,7 53,8 46,2
Nota: = Nem aceleradas, nem desaceleradas; Aceleradas; Desaceleradas
Tabela 3
Diferenças entre os sexos para as variáveis da percepção de movimento
Sexo Masculino Sexo Feminino
N % N % 2
Movimento Humano parece
realB2 5,1*
Sim 0 0 4 11,4
Não 43 100 31 88,6
Aceleração dos movimentos
parece real B2 5,7*
Sim 2 4,7 8 22,9
Não 41 95,3 27 77,1
Estabilidade do movimento
após paragem parece real B1 4,45*
Sim 41 95,3 28 80,0
Não 2 4,7 7 20,0
*p .05.
6º Congresso SOPCOM 3578
Existem diferenças estatisticamente significativas entre os sexos para a replicação
do movimento humano no Bloco 2 (B2), 2 (1) = 5.1; p = .023 e para questão de se
considerar a aceleração/ desaceleração do corpo verosímil no Bloco 2 (B2), 2 (1) = 5.7;
p = .017.
Foram também encontradas diferenças significativas entre sexos relativamente à
estabilidade do movimento após paragem, no Bloco 1 (B1), 2 (1) = 4.45; p = .035.
Tabela 4
Diferenças entre os dois Blocos para as variáveis da percepção de movimento
Bloco 1 Bloco 2
N % N % 2
Acção da gravidade
sobre a figura 20,8***
Real 71 91,0 11 14,1
Artificial 7 9,0 67 85,9
***p .001;
Comparámos se havia diferenças entre cada um dos blocos para cada uma das
questões e apurámos que os participantes denotaram diferenças estatisticamente
significativas entre o Bloco 1 e 2 na questão da percepção da acção da gravidade sobre a
figura, 2 (1) = 20.8; p = .000
Conclusões
Tendo em vista o carácter experimental deste estudo e a dimensão da amostra não
podemos obviamente considerar que haja resultados significativos da comparação entre
grupos. Da comparação dos grupos não foi possível descriminar nenhum que tivesse
maior acuidade na distinção entre as figuras em Mocap e animação. Tal facto em nada
anula o nosso argumento inicial antes valida a pressuposição de que as imagens MOCAP
anulam completamente qualquer distinção entre referente real e artificial.
6º Congresso SOPCOM 3579
Na análise entre cada uma das sequências (bloco 1 e 2) para cada pergunta, apenas
se extraíram resultados significativos relativamente à acção da gravidade sobre a figura,
onde uma grande maioria dos participantes (91%) considerou o bloco 1 como verosímil,
em oposição ao bloco 2 (14,1%) (Tabela 4). Uma explicação para estes resultados parece
estar assente na construção de ambas as sequências e que neste caso, são bastante
diferenciadas. Aliás, uma das conclusões para uma futura investigação passa pela
construção de sequências paralelas, ou seja as mesmas narrativas em ambos os blocos,
mas com processos de construção diferenciados: Mocap e Animação.
Face aos resultados apresentados podemos confirmar que o movimento se
constitui como factor central de avaliação da informação visual veiculada, logo deve ser
considerado como elemento não visual válido para efeitos de discussão da capacidade
subjectiva de compreensão de uma imagem.
A Literacia visual é um elemento nuclear para a compreensão do papel actual da
relação entre os sujeitos e a informação. O presente artigo teve como principal objectivo
apresentar uma hipótese de trabalho relativa à relevância que os elementos não-visuais
têm no contexto actual de percepção e aquisição de informação visual. A nossa proposta
incidia na relevância do movimento como variável central para a compreensão do papel
que as imagens digitais de um tipo particular – as imagens adquiridas via MOCAP –
podem ter no futuro no desenvolvimento do conceito de literacia visual. Do exposto
resulta que este conceito depende mais de variáveis não visuais do que visuais e que o
mesmo deve ser reformulado por forma a se centrar essencialmente na componente
cognitiva excluindo componentes relativas a manipulação e apreciação estética muito
valorizadas no passado.
Referências
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6º Congresso SOPCOM 3580
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