a leitura de imagens na sala de aula: resumo · a leitura de imagens na sala de aula: ... a imagem...
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¹Pós graduação em Didática do Ensino Superior/PUC e graduado em Licenciatura plena em desenho/EMBAP e bacharelado em Artes Cênicas pela FAP. Professor de arte na rede Estadual de
Ensino desde 1990.
²Doutora em Educação pela UNICAMP, Diretora de Extensão da UTFPR e professora do
Departamento Acadêmico de Desenho Industrial da UTFPR .
A LEITURA DE IMAGENS NA SALA DE AULA: Passos para a leitura de imagens
na pintura realista de Edward Hopper
Autor: Adriano Carvalhaes¹
Orientador: Laíze Márcia Porto Alegre²
RESUMO O presente artigo refere-se aos resultados obtidos na implementação do Projeto no Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE da Secretaria de Estado da Educação do Paraná - SEED turma
2010-2011. O trabalho foi constituído por uma pesquisa bibliográfica a fim de aprofundar o conceito
“leitura de Imagens”, tendo como referencial imagético a pintura realista de Hopper. Por meio da
pesquisa qualitativa, de natureza interpretativa, desenvolveu-se a metodologia apresentada neste
estudo que parte da relação do professor com a imagem, suas escolhas e seu olhar pessoal sobre a
obra criando assim um espaço para que o aluno também possa ampliar a sua relação com a imagem.
Palavras chaves: Leitura de imagens. Metodologia de leitura de imagens. Pintura realista.
ABSTRACT
This article refers to the results obtained in implementation of the present research project in the
Educational Development Program-PDE of the Education Department of Paraná-SEED classroom in
2010-2011. The project consists of a theoretical research to deepen the concept of "reading images",
using the imagery of Hopper´s realistic painting as a referencial. Applying qualitative research, with an
interpretative approach, the methodology presented in this study was developed from takes of the
teacher's relationship with the image, his choices and his personal view of the piece as a starting
point, thus creating a space to enable the students to broaden their relationship with the image.
Keywords: Reading images. Reading images methodology. Realistic painting.
INTRODUÇÃO
Este artigo foi desenvolvido a partir da experiência do projeto de intervenção
realizado com os professores de arte no Colégio Estadual Alfredo Chaves-Ensino
fundamental e médio em 2011, durante o período de agosto a dezembro, sendo um
dos requisitos do Programa de desenvolvimento Educacional - PDE da Secretaria de
Estado da Educação do Paraná - SEED/PR. O presente trabalho apresenta
aspectos relevantes sobre a leitura de imagens e a metodologia usada com os
professores para familiarizá-los com o tema.
Antes de se trabalhar a leitura de imagens na sala de aula primeiramente se
faz necessário refletir sobre qual é a nossa relação com a imagem. O universo
imagético que nos é oferecido vem totalmente sem filtro, nos enredando, nos
seduzindo e contraditoriamente nos afastando pois como a oferta é em excesso isso
acaba gerando uma exaustão ao olhar.
A imagem ocupa um espaço considerável no cotidiano do homem contemporâneo. Livros, revistas, outdoors, internet, cinema, vídeo, tevê [...] produzem imagens incessantemente, quase sempre à exaustão diante de olhares de passagem. Todos são meios ao alcance da maioria da população brasileira e tão presentes quanto enraizados nos gestos mínimos do dia-a-dia. Faz-se necessária uma tomada de consciência dessa presença maciça [...], pois pressionados pela grande quantidade de informação, estabelecemos com as imagens relações visuais pouco significativas [..] Espectadores passivos consumindo toda e qualquer produção imagética,sem tempo para deter sobre ela um olhar mais reflexivo.( BUORO, 2003, p.34)
Somos bombardeados o tempo todo por um excesso de imagens em nosso
cotidiano, porém somos passivos diante da mesma, não temos tempo para absorver
a imagem, precisamos desacelerar em um mundo onde tudo é imediatista, a
imagem requer tempo.
De acordo com Buoro (2003, p.34) desenvolvemos um “olhar de passagem”.
Um olhar transitório. Um olhar que olha sem a consciência de ver e que responde
bem aos objetivos de uma linguagem publicitária mais não ao ensino da arte que
visa um maior aprofundamento do olhar.
Precisamos estar inteiros diante do mundo, olhar aberto, atentos.
Caminhamos para uma transitoriedade, tudo é de passagem, criar vínculos exige
tempo, exige conhecimento. Um olhar sensível requer paciência e construção de um
repertório de imagens significativas que vão ser agentes potencializadores da
imaginação capacitando o sujeito (professor e aluno) a criar, compreender,
ressignificar.
Para se trabalhar a leitura de imagens na sala de aula se faz necessário
refletir sobre quais ferramentas estão acessíveis dentro da escola que venham
facilitar o acesso a imagem e a qual imagem pretendemos trabalhar: as imagens na
pintura, na fotografia, na publicidade,no cinema, cada qual com suas características
próprias enquanto linguagens,porém todas pertencentes ao universo das imagens
Breves Concepções sobre imagens
A partir das fotos trazidas pelos professores e sendo estas imagens
projetadas em um tela com o uso do data show, começamos o percurso de
desvendamento de camadas de relação com a mesma aprofundando o seguinte
questionamento: Qual a nossa relação com a imagem?
[..] Imagens que criamos e imagens que emolduramos;imagens que compomos fisicamente, à mão, e imagens que se formam espontanenamente na imaginação; imagens de rostos, árvores, prédios, nuvens, paisagens, instrumentos, água, fogo, e imagens daquelas imagens-pintadas, esculpidas, fotografadas, impressas filmadas.[..] Somos essencialmente criaturas de imagens, de figuras. Mas qualquer imagem pode ser lida?Ou pelo menos, podemos criar uma leitura para qualquer imagem?[..] Imagens capturadas pela visão e realçadas ou moderadas pelos outros sentidos, imagens cujo significado ou suposição de significado varia constantemente, configurando uma linguagem feita de imagens traduzidas em palavras e de palavras traduzidas em imagens.[...] As imagens que formam nosso mundo são símbolos,mensagens e alegorias.Ou talvez sejam apenas presenças vazias que completamos com nosso desejo, experiência, questionamentos e remorsos. (MANGUEL, 2009, p.p 20,21)
Qual a nossa relação com a imagem, deixamos de ser meros observadores, ou seja,
alguém que está fora e que observa mas alguém que também interage, compara, e
amplia o olhar.
De acordo com Starobinski [..] a maior cegueira dos nossos dias [...] é aquela que aceita permanecer naquilo que é oferecido a primeira vista, que considera a visão primeira e imediata como verdade, o olhar unidimensional[...] Precisamos, pois de um novo aprendizado do olhar; temos de aprender a ver de novo [...] a visão constitui o laço vivo entre nós e o mundo, entre nós e os outros, e, por isso o olhar tem capacidade de pôr em questão toda realidade. A visão se faz em nós por tudo aquilo que está fora de nós.[...] O olhar é menos a faculdade de recolher imagens e mas a faculdade de estabelecer relações. (NOVAES, 2005, p.p 160,161)
Um pouco mais sobre imagens
De acordo com Wolff (2005, p.21) uma imagem representa, no sentido bem
simples de que ela torna presente qualquer coisa ausente.Portanto podemos
considerar a imagem como o representante, o substituto de qualquer coisa que ela
não é e que não está presente. A imagem pode mostrar, não pode dizê-lo. Toda
imagem diz uma única palavra: “VEJAM”
Imagem e Linguagem
A imagem torna presente aquilo que não esta presente de duas maneiras
possíveis:
1º Por meio da imaginação (poder interno)
2º Faculdade humana de fazer e compreender imagens (poder externo)
Homens e mulheres tem esse poder de tornar presente as coisas ausentes pela:
Imaginação, linguagem ou pela criação de imagens.
Imagem e Palavra
O poder representativo da imagem é ANALÓGICO. Por exemplo, na figura (1)
da violeta, se a dividirmos em partes como na figura (2), continuaram referindo-se as
partes da violeta ou partes do que aquela imagem representa.
Figura 1: Violeta Figura 2: Violeta Fonte: Adriano Carvalhaes, 2010 Fonte: Adriano Carvalhaes, 2010
O poder representativo da palavra é GLOBAL. Por exemplo, as partes da
palavra vi-o-le-ta não revelam as partes de uma violeta. A palavra não representa
nada por si mesma. Ela representa fora de si mesma por convenção e por
diferença em relação a outras palavras do léxico. Assim podemos entender que a
IMAGEM é um vínculo unívoco e direto do representante ao representado da
imagem da violeta à violeta. E a PALAVRA é arbitrária, remete apenas por meio de
um sistema (a língua) que supõe um vocabulário e uma sintaxe.
Potência da imagem
Segundo Wolff citado em Novaes (2005, p.25) comparar respectivos méritos
da linguagem e os da imagens, ou opor as civilizações, as religiões, as épocas do
livro e as da imagem geram um tipo de juízo de valor desnecessário, pois ambas
imagem e linguagem preenchem espaços vazios que cada uma possa vir a ter, mas
a questão é o que explica os poderes de captação que a imagem tem sobre o
homem, não são suas próprias virtudes,mas ao contrário seus defeitos.
A Pergunta seguinte: o que faz a própria potência da imagem em relação á
linguagem? É esclarecida por Wolff (205, pp25, 26) dizendo que a imagem tem na
verdade quatro defeitos, a imagem jamais pode dizer: O conceito, a negação,
passado, futuro e são precisamente essas quatro impotências que fazem toda
potência da imagem.
Por exemplo: a imagem ignora o conceito ela é irracional. Podemos
representar um animal, mas não sua animalidade (conceito); um ser vivo, mas, não
sua vivência, não podemos representar a generosidade, o tempo, a história, a
linguagem, enquanto tais podemos tentar ilustrar por imagens exemplos de um ato
generoso ou do passar do tempo,que talvez venham sugerir a idéia de generosidade
ou de tempo, a quem os vir.
De acordo com Wolff (2005) A imagem não pode explicar nada ao contrário,
deve ser explicada por outra coisa que não imagens, portanto pelo discurso.“A
imagem MOSTRA, mas ela conhece apenas uma maneira de faze-lo: pela
afirmação, ela ignora a negação”. Toda imagem diz uma única palavra VEJAM ou AÍ
ESTÁ.
Tudo que está na imagem está apresentado, ignorando a negação é o que é,
não permite o debate, a dialética. Em contrapartida se ela não pode dizer nada, a
falta, o defeito, o ninguém, o “não”, ela diz melhor que a linguagem, o “é”.
A imagem conhece só um tipo de declaração, a afirmação, só conhece um
modo gramatical, o indicativo, ignorando nuances do subjuntivo ou do condicional. É
ponto, é tudo, jamais um “se”, nem um “Talvez”. Só conhece o presente ignora o
pretérito e o futuro.
A leitura de imagens e a tecnologia
Ao trabalharmos a leitura de imagens em sala de aula, não podemos deixar
de refletir sobre arte e tecnologia e quais ferramentas estão acessíveis dentro da
escola.
Na visão de Diana Domingues (1997, p.17) hoje tudo passa pelas tecnologias:
a religião, a indústria, a ciência, a educação, entre outros campos da atividade
humana. Assim, “a arte não está mais a serviço de camadas dominantes, nem fica
legitimada somente por uma elite social ou econômica, não está limitada a
hierarquias.”[...]
O espectador diante da imagem estabelece um novo tipo de relação, não está
mais diante de uma “janela”, onde existem bordas de uma moldura, com ponto de
vista fixo. (DOMINGUES,1997,p.23)
O observador ou leitor não é mais alguém que está fora e que observa uma
obra aberta para interpretações, ele também pode interagir. De acordo com Olivier
“E a mente humana, uma vez que teve suas dimensões ampliadas, não volta mais
ao seu tamanho original”. (OLIVIER citado em DOMINGUES, 1997, p.15 )
Como caracteriza Sardelich (2006) na vida contemporânea, quase tudo do
pouco que sabemos sobre conhecimento produzido nos chega via Tecnologias da
informação e comunicação (TICs) - que por sua vez, constroem imagens do mundo.
A internet enquanto ferramenta permite que não sejamos nômades em nossas
próprias casas, capturamos imagens, muitas vezes sem modelo, sem fundo, cópias
de cópias, no cruzamento de inúmeras significações.
E enquanto ferramenta a internet é um meio de vital importância possibilitando uma reformulação das relações entre alunos e professores e de rever a relação da escola com o meio social, ao diversificar os espaços de construção do conhecimento, ao revolucionar processos e metodologias de aprendizagem, permitindo à escola a um novo diálogo com os indivíduos e com o mundo. O trabalho com a internet constitui um meio de relevantes possibilidades pedagógicas, já que não se limita ao que constitui estritamente uma disciplina, permitindo a inter e até mesmo a pluridisciplinariedade, possibilitando uma educação global e no caso da leitura de imagens sendo uma ferramenta mais democrática de acesso e de coleta de imagens para serem trabalhadas em aula. (MERCADO, 2006, p.1)
A tecnologia aplicada à educação traz novos horizontes e desdobramentos do
aprendizado em sala de aula onde os trabalhos podem ser compartilhados por
outros alunos e divulgados instantaneamente em rede, sendo meios auxiliares de se
complementar o aprendizado.
Entendo como uma nova tecnologia usada na escola, a TV pendrive como
uma ferramenta que possibilita aos professores de arte também repensar sua
prática. Segundo Castro(2009,p.2) “A recente inserção da TV pendrive em sala de
aula nas escolas públicas do Paraná enriquece o processo ensino-aprendizagem”.
A tv pendrive utilizada de forma inteligente e criativa em sala de aula,
permitirá inúmeras possibilidades para a leitura de imagens sejam elas de que
natureza forem.Esta ferramenta que permitirá ao professor de artes trabalhar com
uma possibilidade maior de imagens por meio do pendrive .
Mas para que as potencialidades de ferramentas como a internet e a TV
pendrive tenham uma prática efetiva, o professor precisa ampliar seu olhar e ter
claro qual sua relação com a imagem e qual metodologia se faz necessária para
conteúdos específicos ou determinadas faixas etárias.
Além disso, as tecnologias aplicadas à educação enquanto meios de ensino
podem melhorar todo o processo pedagógico, requerendo que todos os envolvidos
na educação, revisem sua forma de entender “como se ensina e como aprendem
crianças e jovens de hoje’’. (Sancho, 2006, p.16).
Com as TICS, criam-se novos espaços de relação com a imagem, fazendo
com que o professor também se abra para novas propostas de abordagens
metodológicas.
O uso adequado da TV pendrive no ensino da arte e outras disciplinas, abre
novos espaços, fazendo com que o professor também se abra para uma nova
proposta de abordagem metodológica.
A inserção da TV pendrive como recurso para a prática de aula de artes
permite ao professor novas estratégias. Antes do pendrive e da internet, o professor
que trabalhava com a leitura de imagens, fazia uso de fotocópias coloridas das
reproduções de grandes obras da pintura o que gerava uma sensação de
frustração,pois não possibilitava apresentar aos alunos o máximo possível de
imagens.
A aula no sentido imagético é limitada e a metodologia ficava calcada na idéia
do pacote fechado, restringindo-se a biografia do artista, a uma ou outra imagem,
sua técnica e a produção dos alunos.
Quando surgiu o pendrive, esta realidade mudou. Por meio da internet, a
coleta de imagens ficou muito mais acessível e fácil, e a possibilidade de se salvar
as imagens facilitou a ampliação de opções.
A aula com estas tecnologias deixou o universo do aluno muito mais
enriquecido de imagens, ampliando a presença da arte na sua vida, tornando
acessível para o mesmo a obra não só de um artista como Leonardo da Vinci ou
Tarsila do Amaral e até artistas que estejam surgindo hoje nas mídias existentes.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
A pesquisa realizada foi qualitativa de natureza interpretativa, os dados foram
coletados por meio de entrevista semi-estruturada, por meio de um protocolo, que
possibilitou discussão de temas e esclarecimentos por parte dos entrevistados.
O projeto Leitura de imagens na sala de aula foi aplicado inicialmente aos
professores de artes do colégio Alfredo Chaves, partindo do seguinte
questionamento: “ Qual a nossa relação com a imagem”, esta frase foi a geradora
para a escolha de uma metodologia que mais se adequasse ao projeto de
intervenção na escola.
O objetivo deste projeto foi familiarizar o professor com o tema e a escolha do
objeto de estudo neste caso foi a pintura realista de Edward Hopper, porém poderia
ter sido qualquer outra linguagem: fotografia, publicidade, cinema, etc.
Abrir o leque de possibilidades quanto as linguagens se fez necessário pois a
leitura de imagens por se tratar de um universo tão amplo de discussão não poderia
ficar restrita ao olhar da semiótica plástica na pintura de Hopper e embora ela
esteja presente o foco priorizado na oficina com os professores foi trabalhar a partir
da fotografia e pintura as percepções e sensações que as imagens nos despertam.
A estratégia de ação para a implementação do Projeto de intervenção na
escola, inicialmente, foi instigar o interesse dos professores de artes sobre o tema
em questão: Leitura de imagens na sala de aula. Para isso foi proposto aos mesmos
oito encontros no período de agosto a dezembro do ano de 2011.
Nestes oito encontros realizados, tivemos a possibilidade de pensar um pouco
mais sobre qual a nossa relação com a imagem ampliando nosso olhar a partir de
alguns percursos pré-estabelecidos: Prática (fotografia), concepções teóricas sobre
o tema, semiótica, imagem como signo na pintura Realista de (Hopper), dificuldades
em trabalhar a imagem em sala de aula e possíveis metodologias.
Metodologia usada nas oficinas
A metodologia usada para estes encontros intitulou-se: “Metodologia do
percurso afetivo”, sendo proposto aos professores que para o primeiro encontro
trouxessem uma fotografia tirada por eles mesmos.
1ª Ação - Fotografias trazidas pelos professores
Partindo de suas imagens e das relações afetivas que os mesmos
projetavam nas imagens começamos estabelecer o percurso de integrar a produção
imagética do professor (fotografias) ao aprofundamento do tema gerador da oficina:
Qual a nossa relação com a imagem.
2ª Ação - Concepções teóricas sobre a imagem
Ao termos um pouco mais claro quais as relações que estabelecemos com as
imagens, vamos introduzindo algumas concepções teóricas sobre a imagem já
mencionadas neste artigo.
3ª Ação - Um pouco sobre semiótica
Nesta etapa da oficina, além das imagens produzidas pelos professores,
começamos a observar as pinturas de Edward Hopper e analisa-las por meio da
Semiótica de Peirce.
De acordo com Santaella (1990, p.7), o nome semiótica vem da raiz grega
semeion, que quer dizer signo. Semiótica é a ciência dos signos. A semiótica tem
como objeto de investigação todas as linguagens possíveis e o exame dos modos
de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção e significação de sentido.
Segundo Santaella (1990, p.32), não há nada para nós, mais aberto à
observação do que os fenômenos. Entendo-se por fenômeno qualquer coisa que
esteja de algum modo e em qualquer sentido presente à mente, isto é, qualquer
coisa que apareça, seja ela externa.
Por exemplo, uma batida na porta, um raio de luz, um cheiro de jasmim, seja
ela interna ou visceral (uma dor no estômago, uma lembrança ou reminiscência,
uma expectativa ou desejo), que pertença a um sonho, ou uma idéia geral e abstrata
da ciência, a fenomenologia sendo “a descrição e análise das experiências que
estão em aberto para todo homem, cada dia e hora, em cada canto e esquina do
nosso cotidiano”.
A imagem neste caso comporta-se como um signo, como representante do
objeto, seja na mente do indivíduo ou nas imagens, o faz por semelhanças ou por
convenção, por um lado enfatiza os aspectos qualitativos do objeto, e por outro um
representante reconhecido culturalmente pelos indivíduos envolvidos.
No Brasil, os estudos semióticos tiveram início em 1972,quando as obras de
Charles Sanders Peirce (1839-1914), físico, matemático e filósofo norte-americano
criador da lógica da linguagem, denominada por ele semiótica, passaram a ser
reconhecidas pelo publico.
A semiótica de Peirce (1867) é triádica, todas as coisas que se apresentam
ao ser humano podem ser caracterizadas em três categorias, estabelecidas por ele
como sendo os três modos de os fenômenos se apresentarem a consciência.
Significante
visual(representamen)
Objeto de referência ausente Significado(interpretante)
Ou idéia do objeto
Imagem= desenho,fotografia,
pintura
Apresentação física do signo
Primeiridade
Imagem= imagem original do
que foi feita uma cópia
O signo faz referência ao
significante
secundidade
Imagem mental = idéia ou
imaginação
Conceito
terceiridade
Quadro - Modelo triádico de signo de Peirce.
Fonte: http://pt.scribd.com/doc/88742442/signos-plasticos
4ª Ação - Resultados
Para o desenvolvimento da pesquisa e oficina realizada com os professores
houve a necessidade de coletar os dados por meio de entrevista semi-estruturada,
que possibilitou discussão do tema e esclarecimentos por parte dos entrevistados.
Partindo das entrevistas, observação e oficina realizada com os professores
da área de artes da rede estadual de ensino e da minha própria prática em sala de
aula no ensino fundamental, foi percebido que os professores de artes quando
trabalham com a leitura de imagens em sala de aula priorizam a pintura. Conforme
indica resposta do entrevistado (1), que leciona há 6 anos e que trabalha com os
ensino fundamental e médio em relação a primeira pergunta da entrevista, trabalha
ou trabalhou em algum momento em sua prática em sala de aula a leitura de
imagens, comentou-se:
Sim, várias vezes. Primeiro abordo questões referentes ao contexto da obra, após desenvolvo questões biográficas do artista, depois desenvolvo elementos formais de cor, forma, dimensões, linhas, traços, e por último pergunto aos alunos o que eles observam. Ou inicio a abordagem partindo dos elementos formais, perguntando aos alunos o que eles observam na
imagem. (Entrevistado 1)
Priorizar a pintura em artes parece ser o mais natural, acabamos deixando de
lado outras possibilidades de linguagens como: fotografia, publicidade, cinema
(independente de ser imagem em movimento) e nos voltamos para uma metodologia
centrada na transmissão de informações, história da arte, biografias dos artistas,
técnicas usadas e tudo isso entregue ao aluno segundo Buoro como um pacote
fechado, ou seja, algo pronto.
O que ficou perceptível com as entrevistas é que o professor de artes ao optar
pelo “pacote fechado” o faz dependendo das características das turmas, faixa etária
e o maior ou menor contato que os alunos tem com a arte como indica as respostas
dos entrevistados (2) e (3) a seguinte pergunta da entrevista: Qual a sua opinião
com relação a metodologias centradas na transmissão de informação(pacote
fechado):
Dependendo das características de algumas turmas se faz necessário, pois é um primeiro momento para ir além. Depende muito da maturidade de cada turma, é complicado lidar com algumas dificuldades básicas como a falta de contato destes alunos com arte, muitos nunca foram a uma exposição, cinema e, teatro então a escola acaba sendo o único referencial. Então as vezes o “pacote fechado” vem como uma primeira opção para depois se abrir para outras possibilidades. (Entrevistado 2)
O professor busca novas metodologias, mas acaba desistindo em função da
resistência ao novo, não só dos alunos, mas em muitos casos até mesmo do
docente, então o pacote fechado se faz necessário, conforme indica a resposta do
próximo entrevistado (3):
Geralmente é uma prática usual do professor, pois ao buscar uma metodologia diferente, o profissional acaba se desgastando devido ao esforço e a expectativa criada com a aula, que muitas vezes não é bem aceita pelos alunos. Os alunos não costumam levar as aulas a sério, ou desviam o foco das atividades propostas. Tive experiências desagradáveis no sexto ano ao tentar aplicar métodos diferentes de ensino, nos quais a prioridade era a interação dos alunos. Estes participaram falando todos ao mesmo tempo, desviando totalmente do assunto da aula e gerando tumulto. Assim, infelizmente é mais prático e menos desgastante aplicar métodos didáticos mais tradicionais, que geralmente funcionam bem. Mesmo tendo plena consciência de que seria ótimo aplicar métodos em que a participação dos alunos fosse maior, sou tensionada a usar métodos tradicionais. (Entrevistado 3)
Partindo-se da análise das entrevistas com os professores a metodologia
aplicada para a oficina pode ser direcionada de uma forma mais efetiva e
obedecendo alguns critérios:
1-Estabelecer prioritariamente um percurso, ou seja, a relação do professor
com a imagem enquanto signo e as relações estabelecidas com a imagem.
2-Imagens desvinculadas da pintura, por isso a escolha no primeiro momento
da oficina trabalhar a fotografia e por último a pintura de Edward Hopper.
Outro fator importante que auxiliou na concretização das oficinas com
professores foi a tutoria do Grupo de trabalhos em Rede-GTR, após apresentação
do projeto de intervenção e da unidade didática aos professores, houve trocas de
ideias e experiências, socializadas entre os participantes do grupo e alguns
resultados nortearam o percurso da oficina que foi realizada posteriormente
possiblitando a ampliação do assunto proposto neste artigo.
Considerações sobre a oficina
Os professores de arte se mostraram satisfeitos com o percurso, trazendo a
tona suas dificuldades em trabalhar com a leitura de imagens em sala de aula,
dificuldades geradas na maior parte das vezes como uma não familiaridade com as
possibilidades de conexões que podem ser feitas com outras linguagens além da
pintura, isso fica claro no depoimento dos entrevistados (4 e 5):
A importância de uma metodologia clara para o se trabalhar com imagens em sala é essencial, um ponto de partida e um de chegada, independente de como se trabalha ,metodologias não são fórmulas mágicas.Outra coisa penso que a metodologia proposta na oficina chamada de “percurso afetivo e começando com as fotografias que nós mesmos tiramos , me fez ver que o professor precisa estabelecer uma relação com a imagem, se deixar afetar pela imagem e quando é uma imagem que nós mesmos produzimos que é o caso da foto, fica mais fácil estabelecer possíveis relações que podemos fazer , seja com imagens da publicidade,cinema,etc e vou além até as conexões com outros assuntos, por exemplo,achei muito legal ser deixado a pintura do Hopper por último, pois assim eu consegui ver que é possível um desdobramento maior , mudou meu olhar,me deixou menos ansiosa mais tranquila, confesso.( Entrevistado 4)
O que percebi é que o que foi proposto na oficina foi um estado, o que eu quero dizer é em termos de sensação mesmo, um estado de tranquilidade em relação ao tema: Leitura de imagens, quero dizer conheço a metodologia desenvolvida pelo Ernest Gombrich, que nos diz que ao olhar uma escultura grega, por exemplo, sem conhecer sua mitologia, e a cultura da Época, não podemos saber do que se trata. Foi tão prazerosa a oficina, me deixou mais segura e ao mesmo tempo vejo que não exclui a forma como já trabalho em sala apenas agrega, me fez querer aprofundar mais o assunto imagens e teorias do signo. Claro que não posso deixar de dizer que são realidades diferentes, pois aqui na oficina você trabalha com professores, adultos e nas nossas salas tem muita gente, além do que adolescentes e acabamos priorizando os métodos mais tradicionais, pois os alunos não costumam levar muito a sério, na verdade independente do método, lidar com adolescente não é fácil. A oficina ter sido direcionada para nós professores de arte foi fundamental, pois precisamos nos sentir seguros e a oficina nos dá essa segurança sinalizando um possível trajeto a ser percorrido. (Entrevistado 5 )
Considerações Finais
Diante disso e considerando um desafio tratar deste assunto tão amplo e
fascinante que é a leitura de imagens e, sobretudo na sala de aula, este artigo
apenas reflete uma pequena pincelada deste universo.
Após o contato de algumas teorias que tratam deste assunto e o
desenvolvimento de um modo de aplicação baseado na semiótica conclui-se
avaliando de forma bastante positiva o aproveitamento e interesse dos professores.
A metodologia aplicada aos professores na oficina tendo como princípio
gerador e motivador a pergunta: “Qual a nossa relação com a imagem”, penso que
estabeleceu um olhar mais atento sobre o tema instigando a reflexão.
A metodologia proposta priorizou acima de tudo familiarizar o professor com o
tema, deixando-o mais seguro, familiarizando-o com o assunto em questão.
As vantagens desta metodologia proposta possibilitou a preparação das aulas
com maior facilidade, dando maior segurança para o professor para discutir e buscar
um aprofundamento maior do assunto leitura de imagens adequando a série e faixa
etária com a qual trabalha.
Um dos objetivos desta metodologia foi instigar e motivar o professor, somos
pensadores e pesquisadores permanentes e para isto precisamos de um olhar mais
aberto, precisamos afetar e nos deixar afetar pelo assunto, somente assim, poderão
fazer os possíveis desdobramentos.
Cabe aos professores de artes buscar e intensificar cada vez mais o seu olhar
e a presença da imagem em suas vidas.
REFERÊNCIAS
BUORO, Anamelia Bueno. Olhos que pintam: A leitura de imagens e o ensino da arte. 2.ed.São Paulo: Educ/Fapesp/Cortez, 2003. CASTRO, Edgar. Tv multimídia como mediação nos processos Ensino Aprendizagem nas aulas de história: Desafios e possibilidades. Artigo. PDE. Curitiba.2009.Disponível em: htpp:WWW.diadiaeducação.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1412.8.pdf>Acesso em: 3 de novembro de 2010. DE PAULA, Daniele Rizental. Leitura na prática pedagógica. Disponível em: WWW.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1577-8 pdf. Acesso em 3 de novembro de 2010. DOMINGUES, Diana. A arte o século XXI: a humanização as tecnologias. SãoPaulo: Fundação Editora da Unesp,1997. MERCADO, Luis Paulo Leopoldo. A internet como ambiente auxiliar do professor
no Processo Ensino Aprendizagem. Disponível em: htpp://WWW.virtualeduca.info/encuentros/Valencia 2002/actas 02/2111.pdf NOVAES, Adauto. Muito Além do espetáculo. São Paulo, 2005. SANCHO,Juana Maria. Tecnologias para transformar a Educação. Porto Alegre: Artmed, 2006. MANGUEL,Alberto. Lendo Imagens.São Paulo: Compainha das letras,2001. SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica.São Paulo: Editora Brasiliense, 1990. SANTAELLA, Lúcia e Winfried Nörth. Imagem,cognição,semiótica,mídia.São Paulo:Iluminuras,2008.
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