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04/05/2015 A palma quebra tradições camponesas na Amazônia brasileira | Amazônia
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A palma quebra tradições camponesas na Amazôniabrasileira26 de novembro de 2013 Filled under Destaques, Newsletter, Notícias 2 Comentários
Antônio de Oliveira na área de secagem de sua propriedade de urucum, um de seus cultivos tradicionais queagora convivem com a palma. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS
Milhares de famílias camponesas do Pará, no nordeste da Amazônia, apostam na palma africana e se associamcom empresas do setor de biocombustíveis. “Um bicho raro”, com desafios econômicos e culturais. A propriedadede Antônio de Oliveira tem cheiro de uma mistura de laranjas, pimenta negra e urucum (Bixa orellana), umcolorante natural do trópico americano, que tinge de vermelho toda a pequena fazenda.
“Não sabia nada sobre palma… É muito diferente trabalhar com isso, é um bicho raro e complicado”, comentouOliveira, associado à empresa Biopalma há três anos para plantar a palma Ealeis guineensis, no Brasil chamadade dendezeiro. A Biopalma pertence ao grupo de mineração Vale e tem 60 mil hectares próprios de dendê, umaespécie alheia ao bioma amazônico. Mediante seu Programa de Agricultura Familiar também se associa apequenos produtores para comprar sua produção.
A empresa utilizará o óleo de palma como matériaprima de biodiesel para mover os veículos e as máquinas desua atividade mineradora. “Não estava preparado para o dendê. Não gosto de ficar contando quantas plantastenho ou fazer um quadrado para semeálas. Fiz aqui e ali”, disse à IPS o camponês de 65 anos, que antessobrevivia vendendo pimenta, laranja e urucum. Ele começou a trabalhar aos dez anos, “de sol a sol” comodiarista, e sua falta de estudo o persegue.
“Quando escrevo alguma coisa, minha mulher diz que faltam muitas letras”, contou Oliveira, entre sorrisos.Fazer contas aprendeu por necessidade, como, por exemplo, a de calcular o rendimento que terá o dendezeiro,cujas plantas demoram cinco anos para produzir plenamente. Atualmente, colhe cerca de oito toneladas porquinzena e ganha em torno de US$ 120 por tonelada. Isso dá apenas para “cobrir gastos”, porque precisa pagarquatro ajudantes.
Contudo, diferente da pimenta que dá uma colheita ao ano, o dendezeiro produz uma a cada 15 dias. Por issoespera poder comprar logo uma caminhonete “de luxo” para transportar seus produtos e levar a família parapassear. “Meu sonho é conhecer o Rio Grande do Sul. Mas no calor, com frio não vou”, brincou Oliveira, homemacostumado ao clima quente amazônico.
“Os agricultores associados têm problemas com a gestão de seus empreendimentos. Oliveira já trabalha comvários produtos e na prática é um pequeno empresário. Precisa saber quanto entra e sai, quanto gasta em cadacultivo”, explicou à IPS o técnico da Biopalma, Charles Vilarino. A empresa é sócia de 350 famílias e, até 2015,pretende incorporar mais 1.650, que no total vão explorar 20 mil hectares.
Os agricultores recebem créditos do governo federal para entrar no programa e, em troca de dedicar um máximode dez hectares à palmeira, têm assistência técnica e garantia de compra de seu produto por 30 anos. Porém, asdificuldades são grandes. No norte do Pará muitos produtores carecem de transporte e não se acostumam acriar cooperativas para resolver coletivamente seus problemas. “Me disseram que logo teremos que levar o frutoda palmeira até a empresa (no município de Moju) e não tenho caminhão. Como farei?”, se preocupa Oliveira.
A Biopalma serve de intermediária para que instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e PequenasEmpresas (Sebrae) deem cursos de gestão e cooperativismo para os agricultores. “Não podemos obrigálos a seorganizarem em cooperativas. Isso deve surgir de nossos sócios. Trouxemos o Sebrae porque eles seinteressaram”, explicou à IPS o analista de comunicação e projetos sociais da empresa, Sauer Teles.
Um informe de junho do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis, da organização jornalística e deinvestigação Repórter Brasil, indaga sobre as incompatibilidades da cultura do dendezeiro na agricultura familiardo Pará. A pesquisa alerta que o programa governamental Eco Dendê, que apoia a dedicação camponesa aocultivo com linhas de crédito, “pode não representar o futuro promissor tão sonhado pelos agricultoresfamiliares”, e suas “promessas de ganhos” podem acabar sendo falsas.
“Muito se prometeu e pouco se discutiu sobre seus impactos no modo de vida tradicional” dessas comunidades,diz o juiz Marcus Barberino, especialista em relações no campo, citado no documento. A Belém Bioenergia, umaempresa de risco compartilhado entre a Petrobras e a portuguesa Galp, também incentiva o dendê parabiodiesel. A companhia tem acordos com 280 famílias e projeta 600 no total.
No caminho para entrevistar um desses agricultores, a IPS encontrou a propriedade de uma família camponesaalheia à nova cultura do dendê. De seus oito integrantes, apenas o bebê de um ano não trabalhava naquelemomento. O pai, Reginaldo Dias, cozinhava a farinha de mandioca em um forno à lenha. Os idosos e as criançasdescascavam a raiz e a esposa a ralava. É uma forma de sobrevivência, mas também um ritual cultural. Oexcedente de farinha para consumo familiar, eles vendem no mercado para comprar “o que falta: açúcar, feijãoe arroz”, contou Dias à IPS.
A poucos quilômetros vive José Ribamar Silva, um dos sócios da Belém Bioenergia. Há um ano e meio, plantoudendê em dez hectares de sua propriedade, e nos 15 restantes continua colhendo abacaxi, urucum, pimenta,mandioca e feijão, junto com cultivos próprios amazônicos. “A agricultura em nossa região é mais de mandioca epimenta. Houve uma época em que a pimenta dava muito lucro, mas agora não, é muito trabalho para pouco
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dinheiro, por isso quando chegou o dendezeiro decidi por ele”, contou Silva à IPS. Ele espera que a palmeira lhepermita “colocar os filhos na escola” e explica que o futuro deles “é o mais importante para mim”.
“Não se chega a um modelo verde sem abordar a questão social”, pontuou João Meireles, diretor do InstitutoPeabiru, que assessora empresas vinculadas com a palmeira em temas socioambientais. Quando as grandescompanhias chegam com suas exigências de regulações ou de legalidade, “pode ocorrer um choque em umaregião com outro contexto social e de propriedade da terra, com questões básicas sem resolver”, explicou à IPS.
No Pará a renda mensal não chega a US$ 50 por pessoa. Apenas 4% dos camponeses têm títulos depropriedade e entre 40% e 50% da população é analfabeta. Além disso, se mantém o hábito de queimar afloresta para semear. Os ritos agrícolas não mudam “da noite para o dia”, apontou Meirelles. A seu ver, odesenvolvimento da palmeira na Amazônia, “baseado em megaempresas com excelência, é de certa foraincompatível com a agricultura tradicional familiar”. Entretanto, essas empresas podem ter “um papel detransformação”, fortalecendo a sociedade das comunidades camponesas do Pará, ressaltou.
Fonte: IPS
Tags: Amazônia, dendê, óleo de palma, palma, Pará, produtores, Vale
2 Responses to A palma quebra tradições camponesas na Amazônia brasileira
Vânia Carvalho 27 de novembro de 2013 às 17:25
sÓ NÃO ENTENDI ESTA ULTIMA FRASE…as empresas podem ter “um papel de transformação”, fortalecendo asociedade das comunidades camponesas do Pará? COMO ASSIM…..o que vemos é só destruição de famílias esonhos….
Responder
Breno Grisi 28 de novembro de 2013 às 20:37
“Quebrar tradições” é apenas um dos perigos do plantio do dendezeiro. Outros, provavelmente mais sérios,são: priorizar produção de combustível para máquinas em solos com potencial de produtividade limitado, riscosdo monocultivo…
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