a pérola negra
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CompetiçãoMelhor estória criativa para adaptação ao cinema ou ao teatro
A Pérola Negra
Autores:
Carina Raquel Silva PereiraMariça da Silva
Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco
MADEIRA FILM FESTIVAL - www.madeirafilmfestival.com
Acordei com raios de sol a bater-me no rosto e o som das ondas a bater nas rochas, senti
alguém a se remexer ao meu lado e lentamente abri os olhos e lá estava o Drew, sorri ao
me lembrar da noite anterior. As memórias de ontem anterior passavam-me pela cabeça,
a maneira com que ele me olhava nos olhos e me beijava, as brincadeiras que fizemos
na água, a noite fantástica que tivemos na praia. Desviei a atenção de Drew para o sol já
estava alto devia ser por volta do meio-dia pensei, voltei a olhá-lo e ele já estava
acordado e encarando-me.
- À quanto tempo estas acordado? - Perguntei-lhe sorrindo
- À algum, estava a observar-te. - respondeu retribuindo-me o sorriso
- Já estamos aqui à algum tempo, acho que devia-mos voltar para casa. - disse
- Sim também acho.
Caminhávamos calmamente até casa, até que chegamos á porta onde se encontrava um
papel pregado á porta. Devia ter previsto pensei.
- Não acredito, sabia que iria chegar mas tão cedo? Não temos nenhum plano. - Disse-
me O Drew
- Já sabíamos que iria chegar, temos que arranjar um plano rápido - Falei um pouco
rápida e desesperadamente olhei para o papel na minha frente, uma ordem de despejo.
Eu e o Drew tínhamos problemas financeiros, tínhamos umas rendas atrasadas e o
senhorio já nos tinha avisado que não poderíamos continuar aqui por muito tempo.
- Podemos sempre considerar aquilo que já discutimos várias vezes
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- Não, não, não e não. Já discutimos e não eu não quero. - Falei, já ficando farta desta
conversa.
- Mas querida, nós estamos sem dinheiro e está é a nossa única saída, eu tenho que ir.
- E passar meses sem te ver? Passar meses sem saber se estas bem ? Aquilo é perigoso
e tu sabes.
- Querida, estou a fazer isto por nós. E sim eu vou, nós precisamos disto, são só quatro
meses.
- Muita coisa pode acontecer em quatro meses Drew.
- Não me vai acontecer nada, nem é assim tão perigoso.
- Oh, passar quatro meses em alto mar a pescar não é perigoso? Imagina se há alguma
tempestade ou se encontram um daqueles piratas enquanto estão lá, e se ficas ferido?
- Amor por favor, eu vou.
Assenti, já a chorar não querendo que ele fosse, mas nós não tínhamos outras
alternativas ou era isso ou ir viver debaixo da ponte, eram só quatro meses nada de mal
irá acontecer, espero eu. Tentei pensar em qualquer outra alternativa, não queria que ele
fosse, não o queria perder.
- Vou telefonar ao Raul para perguntar quando é que é para partir.
Voltei a assentir já com as lágrimas a caírem-me pela face. Drew beijou-me a testa e
deslocou-se para um dos lados do alpendre. Observei-o atentamente como todas as
vezes em que nós deitamos na cama, a saborear o silêncio da noite ou o som das nossas
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respirações. Observei-o porque queria guardar a imagem dele na minha memória para
sempre. Desviei o olhar para a porta tentando esquecer a dor que sentia no coração,
abaixei-me esticando a mão para o tapete, que situava-se em frente a porta e continha
escrito "bem-vindo" nele. Drew oferecera-mo de presente logo que decidimos mudar-
nos para aqui. Retirei a chave que estava debaixo do mesmo e abri a porta entrando pela
mesma. Lar doce lar, pensei e quando dei por já chorava novamente porque sabia que
aquele já não iria ser o meu doce lar. Já não seria lá onde eu e o Drew criaríamos os
nossos filhos como sempre sonhamos e falamos. Limpei as lágrimas e forcei-me para
parar de chorar. Dirigi-me para a despensa a procura de caixas para guardar as nossas
coisas, não podíamos ficar ali. Provavelmente iria para a casa da minha mãe. Fui para a
sala novamente e comecei a guardar os livros que estavam em cima da mesa dentro de
umas das caixas. Quando já todos os livros e revistas estavam guardados, peguei na
moldura que continha a foto que eu e o Drew tira-mos no nosso primeiro encontro.
Lembrei-me de como tínhamos ido ao parque de diversões e como andamos na roda
gigante, lembrei-me de como ele segurou a minha mão durante o tempo todo porque eu
tinha medo de andar nela ou de como ele sussurrou no meu ouvido inúmeras vezes que
estava tudo bem e que era seguro e quando dei por mim já tinha um sorriso estampado
na cara. De repente 4 meses não soavam tão mal, ainda teríamos algum tempo para nós
antes de ele partir, talvez dias. E sempre poderíamos falar pelo telefone. Não era assim
tão perigoso, ele só iria trabalhar na pesca. Fui distraída dos meus pensamentos pelo
som de passos, coloquei a foto dentro da caixa e virei-me olhando para Drew que estava
do outro lado da sala a olhar-me, sorri-lhe.
Drew esticou o braço na minha direção e caminhei ate ele o abraçando, o mesmo
retribui-o.
- Parto amanha á noite- murmurou tão baixo que se não estivesse tão perto dele não
tinha conseguido ouvir.
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Não respondi, tinha medo que se tenta-se falar, não seria forte o suficiente para aguentar
as lagrimas. Por isso abracei-o simplesmente e assim ficamos
- Acabas-te de arrumar tudo ? - Perguntou-me Drew
-Sim, já pode-mos levar tudo para a casa da minha mãe. – Disse, enquanto levava as
caixas para dentro do camião que estava na entrada da nossa, não tão nossa casa. Sentia-
me perdida, não sabia o que iria fazer enquanto Drew estava fora, talvez tentasse
arranjar emprego ou fizesse voluntariado para limpar as praias, sempre adorei o mar,
desde pequena que costumava passar horas a fio a olhar para o mar e a pensar na
imensidão que era, do quanto azul era, mas passados uns anos o mar deixou de ser assim
tão azul, tinha mais um tom castanho e estava sempre cheio de latas, garrafas e outras
coisas que as pessoas deixavam na praia e que eram arrastadas para o mesmo, sempre
que podia fazia voluntariado e limpava a praia.
Tinha acabado de por a última caixa, quando Drew me chamou.
- Marie, vamos já esta na hora de partirmos.
-Ok.- Foi a única coisa que disse, não queria ir embora, mas teria que ser. Entrei no
carro e fiquei a olhar a casa antes de partirmos. Enquanto olhava pela mesma as
lembranças passaram por mim e prometi a mim mesma que um dia iria volta. Drew
ligou o carro e pusemo-nos a caminho. Fiquei a olhar pela janela o caminho quase todo,
nem eu nem Drew dissemos nada.
- Desculpa. - Sussurrou o Drew
- Desculpa porque? – Perguntei, franzindo as sobrancelhas.
- Por não te dar a vida que mereces, por termos que ir embora do nosso lar, por te fazer
chorar, por não conseguir sequer manter um emprego que possa dar conforto á minha
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mulher, por não estarmos a tentar ter o filho que sempre quisemos porque não termos
condições, sinto que falhei enquanto marido. – Disse, fiquei surpreendida, não pensava
nenhuma daquelas coisas sobre ele, sempre o achei um ótimo marido e sempre me deu
tudo o que podia, nunca pedi que ele fosse perfeito.
- O que é que estas para ai a falar? Sempre me dês-te tudo aquilo que preciso, sempre
me dês-te amor, lembras-te o que me disseste naquele dia em que quase me afoguei no
mar? Disseste-me que sempre tentarias ser o melhor marido possível, e adivinha? Tu és
o melhor marido possível, eu amo-te e és tudo aquilo que eu preciso.
Drew não disse nada, apenas assentiu derrotado. Já estávamos a chegar á casa da minha
mãe, Drew partiria amanha, a tristeza invadiu-me só tiramos amanha e provavelmente
estaríamos demasiados ocupados a fazer as malas, não queria que ele fosse, mas era a
única solução que tínhamos e teríamos de aproveita-la, não que me importasse de viver
debaixo da ponte ou na praia desde que fosse com ele, arranjaria trabalho também,
queria ajudar, ser útil.
Chegamos á casa da minha mãe e lá estava ela na porta á nossa espera. Ela sempre nos
ajudou em tudo o que pode e como mãe solteira criou-me como melhor e estou-lhe
agradecida por isso. O meu pai morreu quando tinha doze na Marina, lembro-me
perfeitamente, a minha mãe ficou devastada e por mais que eu insiste-se ela nunca se
voltou a casar ou nem mesmo a namorar, sempre que insisto ela diz que o meu pai foi o
único homem da vida dela e continuara a ser.
-Querida!- Gritou a minha mãe
-Olá mãe. – Cumprimentei-a com um abraço.
-Como estas querida? Quero que saibas que estou a adorar a ideia de te ter aqui durante
algum tempo enquanto tu e o Drew não resolvem os vossos problemas financeiros. –
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Disse sorrindo, não estava tão feliz como ela e queria desabafar mas ela estava tão
entusiasmada que não quis estragar a sua felicidade.
-Também está a adorar a ideia mãe, já não estamos juntas á bastante tempo.
- Sim é verdade. Drew larga as caixas e anda aqui cumprimentar-me e beber um café,
vocês devem estar cansados.
Drew assim o fez, acaba-mos por ficar imenso tempo na conversa e decidi-mos deixar
as caixas para amanha. Após jantar-mos eu e Drew dirigimo-nos para o andar de cima,
iríamos ficar em quartos separados porque a minha mãe não gostava que dormíssemos
no mesmo enquanto estávamos na casa dela. Paramos a frente da porta do meu quarto.
- Então até amanha – disse dando um beijo no Drew que o mesmo retribui-o.
- Até amanha, dorme bem. – Sorri e entrei no quarto. Tomei banho e vesti o meu pijama
jogando-me na cama, e adormeci rapidamente. Mas foi acordada porque senti a cama a
se remexer. Olhei para o relógio que tinha na mesa-de-cabeceira e o mesmo indicava
2:50h.
Virei-me dando de caras com Drew a dormir calmamente ao meu lado. Toquei-lhe na
face delicadamente para que o mesmo não acordasse, mas tentativa falhada. O mesmo
abriu os olhos sonolentos.
- Que fazes aqui? – Perguntei.
- Já não estou habituado a dormir sozinho e vou passar 4 meses fora acho que a tua mãe
não se vai importar se dormir aqui hoje – respondeu.
Sorri-lhe.
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- Sim também acho que ela não se vai importar.
Acabei por adormecer nos seus braços.
Acordei com o despertador a tocar, remexi-me na cama a procura de Drew mas não o
encontrei. O pânico atingiu-me, a partir de hoje seria sempre assim, sem ele ao meu
lado. Seria hoje que ele iria partir. Forcei-me a levantar da cama e dirigi-me para o
andar de baixo para o pequeno-almoço e encontrei o Drew e a minha mãe na mesa a
conversar.
- Bom dia! - Disse e cumprimentei ambos.
- Bom dia! - Responderam.
Toma-mos o pequeno-almoço e á tarde arruma-mos as caixas, quando me apercebi já
era hora de me despedir do Drew. Sentei-me numa das cadeiras brancas que tinha no
alpendre e ele sentou-se na que tinha ao meu lado.
- O Raul vai vir buscar-me dentro de minutos.. - Drew disse.
- Eu sei - respondi. Encostei a minha cabeça no seu ombro e tentei evitar que as
lágrimas caíssem, Drew pôs o seu braço a volta do meu ombro e beijou-me a cabeça.
- Eu prometo que quando voltar não vou embora nunca mais. -murmurou
Tirei a minha cabeça do seu ombro e olhei-o nos olhos.
- Amo-te - disse
- Também eu , Marie.. - abraçou-me - muito.
E quando dei por mim as lágrimas que tanto evitava que caíssem, já escorregavam
pela minha face. Fica-mos assim abraçado um ao outro simplesmente a aproveitar a
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companhia um do outro até que o Raul chegou para o levar. Demos outro beijo
apaixonado e disse-mos mais um amo-te até que ele entrou no carro e partiu levando
com ele o meu coração. Chorei desesperadamente naquela noite, chorei porque a cama
era mais fria sem ele, chorei porque quando acordei não o tinha lá, chorei porque não
suportava aquela dor e a única forma de ela sair era com as lágrimas.
1 mês depois
1 mês havia-se passado desde que Drew partira, consegui arranjar trabalho numa
escola primária, sempre gostei de crianças e de cuidar delas e tenho que admitir que o
ordenado não era nada mau por isso gostava e também porque me distraia e assim não
pensava tanto em Drew.
Ele sempre mandava cartas quando estava em terra e eu também lhe mandava, quando
sentia a sua falta relia-as e chorava um pouco, talvez estivesse a ser um pouco dramática
mas não me podiam julgar ninguém sabia o que estava a sentir, as vezes quando saia de
casa para ir á mercenária as pessoas comentavam sobre as minhas olheiras e sobre a
razão de estar assim, os típicos mexericos numa pequena cidade da Geórgia, nem
chegava a ligar, a mim não me importava o que aquelas pessoas pensavam.
Quando cheguei a casa, fui direita ao correio, talvez tivesse alguma carta de Drew,
fiquei um pouco desapontada quando não encontrei nenhuma, talvez a minha mãe a
tivesse tirado.
- MÃE! -Gritei enquanto entrava em casa.
- Sim querida?
- Tiras-te alguma carta do Drew do correio?
- Não filha, desculpa não chegou nada.
- Oh, não faz mal, talvez ele não tenha tempo para me escrever. - Disse um pouco triste
- Sabes como é filha , vida de pescador. - Disse a minha mãe um tanto divertida.
- É…
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Passaram dois dias e finalmente recebi uma carta de Drew, finalmente pensei,
culpava-me um pouco porque estava sempre a pensar como iria ser se algo corresse mal.
Abria rapidamente e comecei a lê-la.
" Olá querida, desculpa não te ter escrito mais cedo, mas estamos cheios de trabalho,
estou um bocado farto desde cheiro a peixe e de comer quase sempre a mesma comida
todos os dias, só comemos algo diferente quando estamos em terra e as vezes nem
temos chance de sair do porto. Compro sempre algumas lembranças nos lugares em
que paro, espero dar-tas brevemente, temos atravessado algumas tempestades e
infelizmente quando pescamos encontramos nas redes mais lixo do que peixe. Sinto
muito a tua falta, sinto falta do teu corpo junto do meu, todos os dias eu vejo-te nas
estrelas e sempre que olho o mar lembro-me de nos e o quanto somos felizes
observando-o. Estou cheio de saudades de ti e da tua presença na minha cama, amo-te
imenso minha Marie.
Drew x "
Estava á janela, bebendo o meu chá Twinings Earl Grey Tea, lembrei-me de que
aquele era o chá preferido de Drew, ele não gostava muito de café e apaixonou-se por
este chá quando fomos a Londres. Memórias de quando fomos a Londres vieram-me á
cabeça.
" - Drew para! - Tentei parecer brava mas não consegui segurar o riso e comecei a rir-
me tal como ele.
- Parar com o que? - Perguntou fazendo-se de desentendido.
- De me olhar. - Respondi
- Não, tu és linda, porque não te posso olhar tu és minha lembras-te?
- Sim, mas sinto vergonha.
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Ele não respondeu nada, apenas ficou abraçado a mim apreciar a vista que estávamos
a ter, Londres, Big Ben, Tower Bridge. "
Gostava de ter aproveitado mais aqueles momentos com ele. Agora só queria estar com
ele e olhá-lo e poder tê-lo junto a mim tal como na nossa viagem a Londres.
2 Meses depois
Já havia passado algum tempo desde que receberá ou ouvirá qualquer coisa de Drew,
estava a ficar seriamente preocupada, a minha mãe sempre dizia que estava tudo bem e
que ele não deveria ter tempo para me escrever, mas algo dentro de mim dizia que
alguma coisa não estava bem. Minha mãe dizia para ser forte e aguentar a dor, mas
dentro das quatro paredes ninguém sabia o que fazia, por isso chorava de uma tamanha
intensidade que não sabia que era possível, talvez estivesse a exagerar e ele só não tinha
tempo para me escrever mas algo dizia-me que não. Talvez se tenham perdido. Oh não,
livrei-me logo desses pensamentos. Pensei se deveria voltar a perguntar a minha mãe se
me deveria preocupar, mas já sabia qual seria a sua resposta porque a sua opinião nunca
mudava, talvez estivesse em negação mas a positiva seria sempre eu.
Estava a entrar na cozinha para comer qualquer coisa quando ouvi algo que me
chamou a atenção.
" Notícia de ultima hora ondas atingem um nível elevado, tempestades estão-se a dirigir
para o norte e estão a haver vários tornados no mar, aconselhamos a não ficarem perto
das zonas costeiras. Fontes confirmam que foram vistas várias pessoas fora dos seus
barcos a boiar no mar, equipas e salvamento já foram informadas e já se estão a
começar os resgates. "
Senti como se o meu coração fosse sair pela boca , o pânico atingiu-me e comecei a
ter um ataque de ansiedade , não conseguia respirar direito e logo senti as mãos da
minha mãe na minha cara a tentar acalmar-me e ela perguntava repetidamente " o que é
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que aconteceu querida? " " Estas bem? “ " Diz-me alguma coisa " eu tentava falar mas
nada saia, voltei a vê-la mais uma vez e depois tudo ficou preto.
Pi pi pi pi pi pi
Acordei com um som irritante e logo identifiquei-o como sendo o típico som das
máquinas de hospital, senti uma pontada na cabeça e gemi baixinho. Logo me lembrei
da razão de estar ali. Drew. Comecei a ouvir um barulho alarmante vindo da máquina
que mostrava os meus batimentos cardíacos e logo vários médicos entraram dentro da
sala parecendo desesperados, vi na mão de um uma seringa e comecei a soar frio e o
meu ritmo cardíaco acalmou, não queria aquilo espetado no meu braço ou em qualquer
outra parte do meu corpo tinha medo de agulhas não as queria nem perto mas no entanto
tinha uma espetada no meu braço, irônico,
-Sra. Silva já está mais calma?
- Posso sair daqui? Eu tenho que sair daqui - Disse desesperadamente, ignorando
completamente a sua pergunta.
- Não, ainda não terá que fazer mais alguns exames e ficar em observação.
- Drew.
- Desculpe? - Perguntou visivelmente confuso
- O Drew.
- Desculpe, não sei quem é, quer que chame a sua mãe?
- Sim por favor
Tentei-me sentar mas logo descartei essa opção estava muito fraca e estava a tomar
soro. Fechei os olhos visivelmente frustrada, precisava de respostas, fui tirada dos meus
pensamentos frustrados pela porta que se estava a abrir. Quando a porta foi aberta
revelou a minha mãe, com olheiras e um ar cansado e logo notei o seu nariz e olhos
vermelhos ela esteve a chorar.
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- Mãe! - Chamei-a, ela estava com a cabeça baixa mas logo tratou de a levantar.
- Mãe! Mãe que se passa? - Não estava a perceber o porque do estado dela.
- Perdoa-me por ser eu a te dar a notícia querida.
- Mãe, diz-me o que se passa.
- O Drew.- Quando a ouvi a prenunciar aquele nome senti uma pontada no coração
- Que têm mãe? - Tentei não mostrar a minha fraqueza através da voz
- O Drew morreu.
Aquelas três frases fizeram o meu mundo cair, o meu coração se partir, aquelas três
palavras eram as que eu mais receava desde que ele partiu. O Drew morreu.
Obriguei as enfermeiras a fechar as cortinas do meu quarto que era virado para o mar,
eu não queria ver o mar, eu não queria ver nada relacionado com ele porque eu estava
chateada com ele, ele prometeu-me que voltaria, ele disse que iria ficar bem e ele não
voltou, ele não está bem porque ele está morto, morto, morto.
Eu chorava e chorava e chorava era tudo o que eu fazia desde que descobri que ele
estava morto, não conseguia aguentar aquela dor no meu peito, aquela dor que esvaziou
o meu coração. O médico informou-me que estava com depressão, agora passava a vida
a tomar comprimidos. Já não saia de casa á algum tempo, estava bastante pálida e não
comia direito mas a minha mãe sempre me tentava alimentar, umas tentativas muito
falhadas. Deixei de trabalhar, normalmente só saio de casa para ir ao correio ou algo
assim. Não queria confrontar o mundo lá fora, não queria receber os olhares de pena,
não queria ter de responderes as perguntas que as pessoas iriam fazer ou ouvir os seus
"lamentamos muito”. Porque na verdade o meu mundo já não tinha cor, porque nem
mesmo eu saberia as respostas para aquelas perguntas e eu mesmo lamentava a minha
perda e faria de tudo para o ter de volta.
Relia as cartas que ele me enviará vezes e vezes sem conta, via as nossas fotos todos os
dias e queria voltar atrás no tempo para prestar mais atenção aos detalhes para que as
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nossas memórias durassem mais. Mas não podia e isso matava-me um pouco todos os
dias.
Neste momento estava no meu quarto, com as cortinas fechadas a olhar pela parede
enquanto as memórias repassavam. E como todas as outras vezes em que as memórias
passavam na cabeça as lágrimas escorregava-me pela face e todo o que eu queria era
desaparecer.
Ouvi alguém a bater na porta e desviei o meu olhar da parede para a porta encontrando a
minha mãe a espreitar pela mesma.
- Querida não queres comer? - Perguntou.
- Não
- Já não comes á muito tempo, devias alimentar-te melhor. De certeza que não queres?
- Sim.
- Estas bem?
- Não.
- Devias abrir as cortinas está muito escuro aqui, queres que abra?
- Não.
Voltei a desviar o olhar dela para a parede e esperei que a mesma saísse, queria ficar
sozinha. Mas não foi isso que aconteceu, ouvi o trinco da porta e senti alguém a sentar-
se ao meu lado e pelo perfume pode perceber que era a minha mãe.
- Oh querida, anda cá. - Falou enquanto abria os seus braços para mim.
- Vai ficar tudo bem. - Disse-me quis revirar os olhos mas conti-me.
- Eu duvido - Já conseguia sentir as lágrimas a escorrer pela cara.
- Querida eu sei que dói mas com o tempo irá melhorar, eu prometo, o Drew está a olhar
por ti. - E como todas as outras vezes em que falavam dele eu chorei e como em criança
eu aninhei-me nos braços da minha mãe e chorei como um bebé.
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Já estávamos assim á algum tempo quando finalmente decidi falar.
- Sabe o que custa mais?
- O que? - Ela perguntou enquanto me dava carinho nas costas.
- São poucas as coisas que tenho como recordaçãoo dele.
- Querida eu ia contar-te isto á hora de jantar mas como agora já nem desces para jantar
digo-te agora.
Simplesmente assisti, sentia que as forças para falar tinham ido embora juntamente com
as lágrimas.
- Eu tenho algum dinheiro guardado, e estive a pensar numa boa de o usar. Vou dar-to e
gostava que voltasses para a tua casa e a do Drew assim poderias reviver todas as
memórias todos os dias e essa seria a melhor recordação que terias.
- Mãe, eu não posso aceitar.
- Porque não? - Perguntou.
- Ele é teu, guardaste-o por muito tempo e não quero que o gastes comigo.
- A mim não me interessa o que dizes eu vou-te dar, tu vais ficar com ele e vais voltar
para o teu lar.
- Obrigada mãe. - Disse enquanto a abraçava
- Só te quero feliz. - Disse enquanto fazia festinhas no meu cabelo
- Nem respondi , pois cai num sono profundo, num sono em que eu sonhava com
Drew.
2 Anos depois
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Já se passaram 2 anos desde que Drew morreu, após a oferta da minha mãe voltei para a
nossa antiga casa, não fazia quase nada apenas dormia e revivia memórias na minha
cabeça. Após alguns meses consegui olhar o mar sem o odiar, ele não tinha culpa,
lembro-me de uma carta em que o Drew comentava o quão sujo o mar estava e que
pescavam mais lixo que peixe, a culpa é da humanidade que não sabe tratar de nada.
Vivi algum tempo naquela casa até me acostumar com a ausência do Drew, não vivi lá
por muito tempo pois decidi que era melhor seguir em frente, então eu decidi sair de
Geórgia e viajar para uma linda ilha que descobri na internet a Ilha da Madeira. É
bastante pequena mas é linda, maior parte da ilha são árvores e é rodeada pelo imenso
oceano que eu tanto amara, também arranjei emprego como bióloga marinha pois
sempre me fascinei por tudo o que era relacionado com o mar, ganhava bem e conseguia
ter uma boa estabilidade vivia sozinha mas sempre sentia que Drew estava comigo, ele
de certeza que iria amar esta ilha, ele adora surfar e está ilha é ótima para isso.
Hoje decidi vir á praia, já não vinha cá á algum tempo e queria surfar, sempre o fiz
desde criança mas deixei de o fazer após a morte de Drew, talvez porque tivesse medo
ou simplesmente porque que fazia lembrar dele. Trouxe a prancha que o Drew me
ofereceu quando casamos, eu simplesmente a adorava, era roxa com detalhes pretos e
tinha o meu nome em branco, claro que tinha mais que uma mas sempre preferia usar
aquela.
Quando sai da água algumas horas depois senti-me bem relaxada aquela era sem dúvida
das minhas atividades favoritas e sempre me acalmava, estava tão perdida que nem
notei que fui contra alguém.
- Oh, meu deus desculpa. - Disse no meu melhor português, tinha sido um pouco difícil
aprende-lo á primeira mas sempre cheguei lá.
- Não faz mal eu é que peço desculpa. - Disse-me um rapaz com uns belos olhos
castanhos que mais se confundiam como mel.
- Não faz mal, sou a Marie e tu?
- Jason, prazer.
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- Humm, então desculpa ta e eu han, bem vou andando. - Disse, tinha quase a certeza
que estava vermelha como um tomate.
- Não faz mal, posso pagar o café para compensar?
- Claro. - Sorri, Jason era muito atencioso até se ofereceu para levar a minha prancha.
Quando cheguei a casa só queria tomar banho e me jogar na cama, admito que tive uma
boa tarde com o Jason, ele contou-me que era dos Estados Unidos tal como eu é que
veio para cá porque a mulher tinha arranjado um trabalho muito bom aqui e que
decidiram vir pois ele adorava as praias e o mar de cá, ele também quis saber um pouco
sobre a minha vida, contei-lhe sobre Drew e o porque de vir para cá, também lhe disse
que estava a seguir em frente e ele muito descarado perguntou se tinha tido algum tipo
de relacionamento e eu obviamente disse que não então ele ofereceu-se para me
apresentar um amigo dele, senti-me um pouco mal por achar que podia estaria trair o
Drew de qualquer maneira mas eu tinha que seguir em frente por isso aceitei, que mal
poderia fazer? Nenhum, eu acho. Fui tirada dos meus pensamentos enquanto o meu
telemóvel tocava.
- Jason? - Disse
- Olá gatinha, então olha aí, eu falei com o meu amigo e ele também aceitou sair
contigo. Ele chama-se Justin e é um rapaz super fixe, não tens que te preocupar porque
ele também fala inglês e gosta imenso de surfar.
- Justin? Hum, ok então, para quando está marcado?
- Hoje à noite no Ritz as 19:00 h? Que tal para ti?
- Por mim está tudo bem.
- Não te preocupes que eu também vou la estar com a minha mulher é também uma
oportunidade de a conheceres.
- Está bem, então vejo-te lá as 19:00, beijo.
- Beijo.
Fui logo escolher algo para usar não queria ir parecendo uma mendiga e queria passar
boa impressão ao Justin, não sei bem mas tive um feeling de que algo aconteceria se era
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algum bom ou mau eu não sabia. Logo me arranjei e já eram 18:30, olhei-me ao espelho
e logo assenti, estava bonita, esperava que os outros pensassem o mesmo. Estava a sair
mas antes peguei na moldura que continha uma foto minha com Drew estávamos na
praia abraçados e a rir, senti uma lágrima a escorrer-me pela cara e logo a minha alegria
de ir a esse tal " encontro " evaporou-se, mas já tinha combinado e certamente não iria
cancelar.
- Desculpa Drew, eu amo-te. - Sussurrei e logo depois beijei a fotografia.
Já estava na porta do Ritz que era á beira-mar e logo vi Jason e uma mulher de mãos
dadas, certamente deveria ser a sua mulher Jennifer, ela era linda e usava um longo e
bonito vestido branco com umas sandálias vermelho sangue, já Jason usava um terno
preto e uma gravata vermelha sangue está muito bonito e fancy.
- Marie, deixa-me dizer-te que estás encantadora. - Disse enquanto me beijava na
bochecha.
- Obrigada Jason, também não estás mal. Tu deves ser a encantadora Jennifer de quem o
Jason me falou muito certo?
- Sim e Marie, deixa-me dizer que estas deslumbrante, espero que ele tenha falado bem.
- Disse enquanto se ria
- Sabes que só digo bem de ti amor. - Disse Jason enquanto a abraçava
- Oh, pois claro, senão dormias no sofá. - Disse Jennifer enquanto tentava prender o riso
- Bem vamos? O Justin disse que chegaria um pouco mais tarde por causa da empresa
ok?
- Oh, sim, não há problema. - Disse enquanto entravamos.
Já estávamos á algum tempo na mesa á espera que Justin chegasse, não pedimos nada
além de bebidas porque queríamos que ele também estivesse presente para escolher.
- Ali vem ele Marie. - Disse Jason enquanto olhava para a minha trás, não me quis virar,
queria esperar que ele cá chegasse.
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- Desculpem se os fiz esperar. - Disse uma voz que me deixou estática, nem me
conseguia mexer, apenas olhei para cima e vi.
- Drew? - Disse quase num sussurro mas sem deixar demonstrar o meu desespero
- Drew? Hum? Sou o Justin, prazer. Deve ser a Marie estou certo?
De repente tudo a minha volta parou, e lá estava ele o meu Drew, lindo como sempre é a
me perguntar se eu era a Marie, que história é essa de perguntar se sou a Marie, será que
está a fingir que não me conhece? Logo senti lágrimas nós olhos e lá estava eu a chorar
e a dizer Drew, Drew, Drew. Talvez eu estivesse a ter visões, não sabia que a minha
cabeça ainda estava assim tão mal, mas era ele, eu tinha quase a certeza que era ele.
- Marie, ele não é o Drew, ele é o Justin, tu estás bem? - Disse o Jason enquanto se
agachava ao meu lado e me fazia carinho nas costas
- É ele sim, é ele, eu sei que é.
- Mas que raio Jason? Chamaste-me para sair com uma doida? - Perguntou Justin ou
Drew eu não sei, levemente irritado
- Justin! - Repreendeu Jason enquanto me dava um copo de água. Todos ficaram em
silêncio e eu olhei para Justin.
- Tu és ele, tu és o Drew, não te lembras de mim?
- Marie, desculpa-me, mas não sei de que estás a falar, não sou o Drew, sou o Justin,
trabalho cá na numa das maiores empresas da Madeira, nunca sai de cá.
- Mas, mas tu és igualzinho a ele.
- A quem? Ao Drew? Não, não sou. Devem ser coisas da tua cabeça Marie.
- Não, não - Disse enquanto saia pela porta fora, precisava de sair estava totalmente
confusa, não sabia o que pensar, era ele, Drew, na minha frente depois de tantos anos,
mas como? Ele morreu no mar não morreu? Sai de lá o mais rápido possível, fui ter ao
meu lugar favorito desde sempre, a praia.
Estive a observar o mar durante horas, até que senti alguém á minha trás.
- É um ótimo lugar para pensar não é? - Disse, e quando virei a cara dei-me de caras
com o Justin.
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- Sim. - Disse enquanto limpava as lágrimas
- Achas mesmo que sou ele? Achas que eu tenho hipóteses de ser ele? Começo a achar
que sim, choras sempre que me vês.
- Tu és ele. - Disse com a maior certeza que tinha
- Mostra-me.
- Mostro-te o que?
- Mostra-me que sou ele, tens alguma fotografia, alguma coisa? Que aconteceu com ele?
- Não tenho nenhuma aqui, ele morreu, ou pelo menos eu achava que sim, foi o mar que
o matou, ele teve que ir para um trabalho de pesca e deu-se uma enorme tempestade no
mar e foi quando me disseram que ele estava morto, há dois anos.
- Engraçado que também tive um acidente á dois anos, um acidente em que perdi a
memória, mas desde aí eu sempre tive meu pai e minha mãe aqui, eles nunca me
contaram nada, disseram-me que morávamos aqui desde sempre, a minha vida foi uma
mentira? Eu quero saber se sou ele e o porque de o amares tanto.
- Vem ter a minha casa amanhã, dou-te todas as provas que quiseres. - Disse enquanto
lhe dava um papel com a minha morada.
- Vejo-te amanhã então.
- Deixas só eu fazer uma coisa? - Perguntei meia receosa.
- Sim. - Disse, e eu então beijei-o, sentia-me um pouco estúpida e pensava que ele iria
recusar mas ele continuou e ainda aprofundou o beijo, entretanto paramos porque senão
morreríamos sem ar
- Hum, desculpa - Disse meia envergonhada.
- Não tem problema, vejo-te amanhã.
Justin PDV (ponto de vista)
Estava tão confuso, sinceramente não sabia o que pensar, tinha uma mulher que não vou
mentir é tão linda e diz-me amar, que eu sou o marido dela, o Drew, mas eu não sabia,
eu não me lembrava dela, eu queria provas de que eu era ele, de que eu sempre tive uma
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vida, uma verdadeira vida além desta. Nunca pensei que era isto que me esperava
quando aceitei jantar com a Marie. E o beijo, oh o beijo, foi o melhor beijo que eu já
dei, e os lábios dela tão volumosos e tão beijáveis, eu não sabia o que se estava a passar
comigo estava a pensar numa mulher que conheci há poucas horas mas senti-me tão
confortável perto dela que parecia que já nos conhecíamos á anos, e talvez seja essa a
verdade, talvez eu seja o Drew dela. Amanhã iria a sua casa, senti um desejo
incontornável de ser o Drew, ter a sorte de ter alguém tão apaixonada por mim como
Marie, era um sonho. Decidi deitar-me, já estava um pouco tarde e queria ir a casa de
Marie amanhã.
Marie PDV (ponto de vista)
Eu iria prova-lo de que ele era o meu Drew, tinha fotografias, eu sei tudo sobre ele, tem
que ser ele, e se não for é alguém muito parecido, mas eu sinto, eu sinto que é ele o meu
Drew. Estava á espera de Justin ou de Drew, é um pouco irritante não sei qual deles
usar, Justin disse que passaria por cá e eu vou mostrar-lhe que ele é o meu Drew.
Riiing
Fui logo abrir a porta porque tinha a certeza que era Justin, nunca ninguém me visitava.
- Olá Justin, podes entrar.
- Obrigada. - Disse dando o típico e lindo sorriso que só ele conseguia ter
- Senta-te, queres alguma coisa para beber?
- Hum, não obrigada.
Passamos a tarde inteira a rever fotografias, cartas e tudo o que tinha haver connosco,
Justin não conseguia acreditar quando o vira nas fotografias, ele estava um pouco mais
novo, mas mesmo assim voasse perfeitamente que era ele.
- Podes tirar as calças? - Disse sem qualquer tipo de vergonha
- Hum? Desculpa?
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- Oh desculpa , é que tenho algo que tens na perna que pode mostrar que és mesmo ele ,
eu viro-me não te preocupes. - Disse enquanto me virava e tapava os olhos
- Não é preciso, não é nada que já não tenhas visto. - Disse enquanto ria
- Cala-te. Estás a ver a cicatriz que tens no teu joelho?
- Sim.
- Fizeste-a num dos campeonatos em que participas-te, um dos concorrentes tinha caído
e ajudaste-o então quando o ias ajudar bates-te com a perna num coral e ficas-te com
isso.
- Oh, a sério? Nunca soube o que era.
- Agora já sabes. - Disse, mas ele não disse mais nada, continuamos num silêncio um
tanto que reconfortante, era muita coisa para assimilar por isso não o culpava.
- Marie, eu sou o teu Drew e eu sinto-o, eu posso não me lembrar mas eu sei que sou, eu
quero fazer isto resultar.
- Tu queres? - Perguntei, muito surpreendida
- Sim , muito então , tu queres ficar comigo ?
- Sim, sim, eu quero.
Ele não disse nada e apenas me beijou, um beijo lento, com sentimento, com amor e eu
senti-me bem, eu senti-me muito bem, tinha falta dos lábios dele.
- Charlie - Disse
- Charlie? Drew?
- Marie, Geórgia. - Continuava a dizer e eu não estava a perceber, será que ele se estará
a lembrar?
- Drew, tu lembras-te?
- Eu lembro, Marie, eu lembro-me. - Disse enquanto sorria
- Mas lembras-te de tudo ou só de algumas coisas?
- Não me lembro de tudo mas eu lembro-me de ti, da tua mãe, do barco a pérola negra
da Charlie.
- Oh meu deus! Isso é fantástico amor.
- Oh Marie, eu amo-te.
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- Drew! Eu também te amo. Nunca vou entender o porque de chamares Charlie á tua
prancha. - Disse enquanto o abraçava de lado
- Ser normal nunca foi o meu forte.
- Eu sei.
Desde que Drew se começou a lembrar das coisas a nossa relação progrediu imenso, ele
dizia que sempre que ia a mãe tinha flashbacks e que se lembrava, então nós íamos
quase todos os dias á praia e fazíamos surf tal como nos velhos tempos. Ouvimos dizer
que haveria um campeonato de surf na Indonésia e Drew quis entrar, ele só teve que
passar as primeiras etapas e para passar ao campeonato, Drew era muito bom e eu não
dizia isto só porque ele era meu marido, ele tinha um dom incrível para os desportos
aquáticos mas especialmente o surf. Senti-me orgulhosa dele e também era o primeiro
campeonato dele desde á muito tempo, não poderia la estar durante todo o campeonato
mas iria nas semifinais, tinha a certeza que Drew chegaria lá.
1 semana depois
Hoje partirei para a Indonésia, Drew já lá esta há alguns dias só estou a ir agora por
causa do meu trabalho, teria adorado estar com ele antes do campeonato para lhe desejar
sorte, mas sorte não é algo que ele precise.
Após umas longas horas de avião, finalmente tinha chegado á Indonésia, Drew não me
poderia vir buscar pois o campeonato já estava a decorrer e já estava quase na hora da
sua prova, mal posso esperar para o ver no pódio em primeiro lugar, era também o
primeiro campeonato de Drew fora dos Estados Unidos, ele nunca tinha concorrido em
nada tão grande, os melhores do mundo competiam naquele campeonato e Drew não era
profissional, sabia que ele não fazia aquilo para ganha mas sim para se divertir.
Quando cheguei ao local estava muita gente e o tempo não estava lá muito bom, estava
frio, muito vento e as nuvens que pareciam bem carregadas de chuva cobriam o céu, sei
que nestes campeonatos eles não se importam com o tempo e que não iriam parar se
houvesse alguma chuva mesmo sendo forte.
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- Olá meu amor. – Disse o Drew enquanto me abraçava por trás e me beijava
- Olá, então estas pronta?
- Estou sempre pronto.
- Eu sei, só que o tempo está um pouco estranho não achas?
- Sim, mas não vou deixar que o tempo me impeça de ganhar este campeonato.
- Sabes que o mais importante não é ganhares mas sim divertires-te
- Eu sei querida, quero deixar-te orgulhosa e se ganhar, bem essa vitória será para ti.
Diiiiing
Ouvimos o som da sirene que indicava que a prova de Drew já iria começar, então tinha
que me despedir dele antes que começasse.
- Eu amo-te ok? Arrasa com eles, diverte-te e por favor tem cuidado.
- Eu vou ter cuidado, vou-me divertir e vou ganhar. Eu amo-te.
- Meu campeão. – Disse enquanto o abraçava forte, não o queria deixar ir por alguma
razão, talvez por ter começado a chover. Olhei para a linha de partida e vi que Drew já
lá estava, analisei bem os concorrentes e eles pareciam bem bons. A campainha havia
soado outra vez e todos os concorrentes se dirigiram para a água e nesse momento uma
chuva torrencial começou a cair, e ninguém conseguia ver nada por causa do nevoeiro,
as ondas começaram a ganhar uma altura que eu nunca imaginaria que poderiam, havia
ondas que deviam chegar aos 40 metros, o meu coração logo gelou ao pensar em Drew.
Do nada a campainha de emergência começava a tocar, não era uma campainha
qualquer, era uma campainha que avisava que se iria dar um tsunami, um tsunami,
fiquei aterrorizada, só conseguia pensar em Drew a esta hora já não estaria vivo, tentei
ir para o mar e procura-lo mas fui impedida pela polícia, diziam que não podia que era
perigoso que tinha que ir para casa ou mais precisamente o hotel.
Quando dei por mim já chorava e chorava , chorava a perda de Drew outra vez, fui
obrigada a ir para o hotel, um policia acompanhou-me , eu só chorava e gritava
desesperadamente por Drew, o policia disse que me daria noticias assim que soubessem
algo sobre Drew e que me chamariam para identificar o corpo o que era o caso mais
provável.
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Fiquei todo este tempo no quarto a chorar, já perderá Drew uma vez, perderá a segunda
e talvez não houvesse uma chance de o perder pela terceira vez.
Riiiiiing
A campainha tocou e abria deparando-me com o polícia que trazia alguma coisa na
mão.
- Desculpe-me, os meus pêsames.
- Não, não pode ser outra vez não. – Disse desesperadamente enquanto chorava, já não
tinha mais forças para continuar de pé então cai no chão onde fiquei a chorar durante
algum tempo.
- Ele ainda estava vivo quando o levamos para o hospital, mal respirava, mas falei-lhe
de si e ele disse-me para lhe dizer que a ama e que pede desculpa. Deu-me também este
colar, acho que deveria ficar com ele. – Disse enquanto estendia o colar para mim
- Obrigada. – Disse e de seguida peguei o colar, era das últimas coisas que tinha dele.
Chorava por Drew, chorava por todas as vidas perdidas naquele maldito tsunami,
chorava porque sempre amará o mar e este me havia tirado o bem mais precioso da
minha vida, o meu Drew.
3 anos depois
Três anos se haviam passado desde que Drew morreu, duas semanas depois descobri
que estava grávida, grávida de Drew, Deus tinha-me tirado um bem precioso mas havia-
me dado um ainda mais precioso. Nove meses depois nasceu uma linda menina de
cabelos loiros e olhos azuis , igualzinha ao pai , podia-se notar que Melanie tinha muitos
dos traços de Drew. Melanie sempre me perguntava sobre o pai e eu simplesmente dizia
que ele estava lá em cima a olhar por nós
, que sempre que ela olhasse para o céu a estrela mais brilhante seria Drew.
Hoje Melanie faz 3 anos, hoje decidi leva-la a um lugar especial, decidi leva-la á campa
de Drew, todos os meses passava lá e ponha um ramo de flores, não umas flores
quaisquer, eram estrelícias, Drew sempre as adorou desde de vivíamos na Madeira,
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também eram as preferidas de Melanie, não tinha como não gostar eram lindas. Melanie
e eu vivemos na Indonésia durante estes três anos, mas hoje é o aniversário de Melanie
e decidi dar-lhe alguns presentes, iríamos voltar a Madeira, o lugar que me apaixonei, o
lugar por onde eu e Drew éramos apaixonados, um dos presentes que tinha para Melanie
era o colar que Drew deixara quando morreu, uma pérola negra que havíamos
encontrado na madeira enquanto fazíamos surf.
- Mamã, de quem é esta campa?
- É do papa amor.
- Mas o papa não esta no céu?
- Sim, mas lembra-te ele estará sempre aqui. – Apontei para o lugar onde seu coração
ficava.
- O papa ama-te muito apesar de não estar cá em corpo.
- Eu também o amo. – Disse a minha pequenina com lágrimas nos olhos
- Oh, não chores, nós hoje vamos viajar.
- Para onde?
- Para a Ilha Da Madeira.
- Aquele lugar bonito das fotografias que tu e o papa têm?
- Sim, aquela ilha bonita que eu e o papa amamos.
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