aÇÃo civil pÚblica com pedido de tutela antecipada · a lei orgânica nacional do ministério...
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA ___ª VARA DA
FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA/GO
“A multidão é um monstro sem cabeça”. Charles Chaplin
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, presentado pelos
Promotores de Justiça signatários, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, forte no art.
129, III, da Constituição Federal, art. 5º, I, da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, art. 40 da Lei nº
10.671 de 15 de maio de 2003 (Estatuto do Torcedor), art. 25, IV, alínea “a”, da Lei nº 8.625, de 12
de fevereiro de 1993 e art. 46, VI, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual nº 25, de 06 de julho
de 1998, vêm ajuizar
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
com pedido de tutela antecipada
em desfavor de
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL, pessoa jurídica de direito
privado, CNPJ nº 33.655.721/0001-99, com sede na Avenida Luiz Carlos
Prestes, 130, Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro/RJ, CEP 22775-055,
representada por seu Presidente MARCO POLO DEL NERO;
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Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. A 06, Lts. 15/24, Jardim Goiás Goiânia - Goiás - CEP: 74.805-100 Fone: (0xx62) 3243-8125
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FEDERAÇÃO GOIANA DE FUTEBOL, pessoa jurídica de direito privado,
CNPJ nº 01.606.110/0001-64, com sede no Estádio Serra Dourada, Ala
Sul, Av. Fued José Sebba, nº 1.170, Jardim Goiás, em Goiânia/GO, CEP
74805-100, representada por seu Presidente ANDRE LUIZ PITTA PIRES;
GOIAS ESPORTE CLUBE, pessoa jurídica de direito privado, CNPJ nº
01.665.256/0001-80, com sede na Av. Edmundo Pinheiro de Abreu, nº 721,
Setor Bela Vista, em Goiânia - GO, CEP: 74823-030, representado por seu
Presidente Executivo SERGIO GABRIEL RASSI;
VILA NOVA FUTEBOL CLUBE, pessoa jurídica de direito privado, CNPJ nº
01.669.316/0001-33, com sede na Rua 256, nº 354, em Goiânia/GO, CEP
74610-200, representado por seu Presidente Executivo ECIVAL MARTINS;
AGÊNCIA GOIANA DE TRANSPORTES E OBRAS (AGETOP) entidade
autárquica estadual e pessoa jurídica de direito público interno, CNPJ nº
03.520.933/0001-06, representada pelo seu Presidente JAYME EDUARDO
RINCÓN, com endereço profissional na Av. Governador José Ludovico de
Almeida nº 20 (BR - 153, km 3,5), Conjunto Caiçara, em Goiânia/GO, CEP:
74.775-013;
pelos motivos de fato e de direito a seguir articulados.
I – DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa do Ministério Público para promover a defesa dos direitos difusos e
coletivos, por meio da Ação Civil Pública, advém tanto da Constituição Federal quanto da
legislação infraconstitucional.
A Constituição Federal de 1988 prevê as funções institucionais do Ministério Público nas
disposições dos artigos 127, caput e 129, inciso III.
Sustenta-se ainda a alegada legitimidade nos artigos 1º, inciso II, 5º, inciso I, ambos da Lei
nº 7.347/85, que regulamenta as hipóteses de ajuizamento de Ações Civis Públicas por danos
causados ao consumidor.
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A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público – Lei 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 –
estabelece, por fim:
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na LeiOrgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:
[...]
IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:
[...]
a) para a proteção ou reparação dos danos causados ao meio ambiente, aoconsumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico epaisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuaisindisponíveis e homogêneos.
No mesmo sentido o entendimento do Colendo Superior Tribunal de Justiça: “O Ministério
Público tem legitimidade para a defesa de direitos individuais homogêneos, desde que a dimensão
dos interesses defendidos seja socialmente relevante” (AGRESP 201301705209, MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, STJ - TERCEIRA TURMA, DJE DATA:01/06/2015).
Os atos normativos ora mencionados, portanto - sobremaneira a Constituição Federal -,
evidenciam a atribuição do Ministério Público para o exercício da Ação Civil Pública e assentam a
adequação dessa via para a defesa de direito transindividual a ser resguardado.
II – DA LEGITIMIDADE PASSIVA
2.1 - DA LEGITIMIDADE PASSIVA DAS ENTIDADES ORGANIZADORAS DE COMPETIÇÃO –
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF) E FEDERAÇÃO GOIANA DE FUTEBOL
(FGF)
Preleciona o Estatuto do Torcedor em seu artigo 1o-A que “a prevenção da violência nos
esportes é de responsabilidade do poder público, das confederações, federações, ligas, clubes,
associações ou entidades esportivas, entidades recreativas e associações de torcedores, inclusive
de seus respectivos dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem,
organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos”.
Do mesmo modo, prevê o Estatuto suso que:
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Art. 19. As entidades responsáveis pela organização da competição, bemcomo seus dirigentes respondem solidariamente com as entidades de que trata oart. 15 e seus dirigentes, independentemente da existência de culpa, pelosprejuízos causados a torcedor que decorram de falhas de segurança nos estádiosou da inobservância do disposto neste capítulo.
Logo, na qualidade de organizadoras das competições nacionais e regionais realizadas no
Estádio Serra Dourada, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação Goiana de
Futebol (FGF) são as responsáveis diretas pela garantia de segurança dos torcedores nos
eventos esportivos, motivo pelo qual integram o polo passivo da presente ação.
2.2 – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DOS CLUBES – VILA NOVA FUTEBOL CLUBE E GOIÁS
ESPORTE CLUBE
Uma vez que detém o controle das instalações, o clube mandante deve atuar de modo a
prevenir atos ilícitos que porventura possam ser praticados por seus torcedores, ciente ainda do
risco inerente à atividade que exerce.
Estabelece o Estatuto do Torcedor:
Art. 14. (…) a responsabilidade pela segurança do torcedor em eventoesportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo ede seus dirigentes, que deverão:
I – solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicos desegurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dostorcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventosesportivos
II - informar imediatamente após a decisão acerca da realização da partida, dentreoutros, aos órgãos públicos de segurança, transporte e higiene, os dadosnecessários à segurança da partida (…).
Também insta salientar, como consagrado no artigo 19 do Estatuto do Torcedor, que o
mandante do jogo e as entidades responsáveis pela organização da competição respondem
solidariamente, independente da existência de culpa, pelos prejuízos causados a torcedor que
decorram de falhas de segurança.
Assim, aos clubes também cabe zelar pela manutenção das condições de segurança do
jogo antes, durante e após o evento.
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Nesta senda, veja-se julgado do Superior Tribunal de Justiça externando entendimento
acerca da responsabilidade em caso de violação da segurança do torcedor em estádio de futebol:
EMEN: RECURSOS ESPECIAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. QUEDA DETORCEDOR DE RAMPA DE ACESSO A ESTÁDIO DE FUTEBOL. DANOSFÍSICOS E MORAIS. SEGURANÇA LEGITIMAMENTE ESPERADA.RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE A FEDERAÇÃO E O CLUBEDETENTOR DO MANDO DE JOGO PELOS DANOS SOFRIDOS PELOTORCEDOR. 1. O serviço é defeituoso quando não apresenta a segurançalegitimamente esperada pelo consumidor (art. 14, § 1.º, do CDC). 2. Concorre parao evento danoso (queda do torcedor de rampa de acesso ao estádio devido aaglomeração de torcedores) a entidade que disponibiliza quantia de ingressossuperior ao espaço reservado à torcida rival. 3. Reconhecida a concorrência deresponsabilidade dos réus para a implementação do evento danoso. 4.Inaplicabilidade da excludente do fato exclusivo de terceiro, prevista no inciso II doparágrafo 3.º do artigo 14 do CDC, pois, para sua configuração, seria necessária aexclusividade de outras causas não reconhecida na origem. Súmula 07/STJ. 5.Responsabilidade objetiva e solidaria, nos termos do art. 14 do CDC, dasentidades organizadoras com os clubes e seus dirigentes pelos danoscausados a torcedor que decorram de falhas de segurança nos estádios,mesmo antes da entrada em vigor do Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/2003). 6.RECURSOS ESPECIAIS DESPROVIDOS. ..EMEN:(RESP 201303686486, PAULO DE TARSO SANSEVERINO, STJ - TERCEIRATURMA, DJE DATA:16/03/2015) (Grifou-se)
Destarte, justifica-se a inclusão dos clubes de futebol profissional como legitimados
passivos na presente demanda, solidariamente às entidades dirigentes.
2.3 – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA AGÊNCIA GOIANA DE TRANSPORTES E OBRAS
(AGETOP)
À Agência Goiana de Transportes e Obras – AGETOP, criada pela Lei nº 13.550, de 11 de
Novembro de 1999, entidade autárquica estadual dotada de personalidade jurídica de direito
público interno, com autonomia administrativa, financeira e patrimonial, compete, conforme art. 2º,
inciso V, alínea d.2 de seu regulamento, aprovado pelo Decreto nº 8.483, de 20 de Novembro de
2015:
Art. 2o (…):
V – administrar vias públicas sob sua jurisdição ou responsabilidade, inclusivequanto a permissão ou concessão de uso das faixas de domínio e sítiosaeroportuários, cobrança de pedágio e outras taxas de utilização e contribuições
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de melhorias a elas referentes e, em especial, no que concerne às vias públicassob sua administração:
d) recuperação, preservação e expansão da infraestrutura de esporte, lazer eturismo do Estado e administração:
d.2. do Estádio Serra Dourada (…). (Grifou-se)
Dessa forma, tendo em vista que a presente demanda tem como pedido a realização de
melhorias no Estádio Serra Dourada, a AGETOP é também parte legítima no polo passivo.
III – CONSIDERAÇÕES SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO EM MULTIDÃO
O comportamento humano em multidões é objeto de estudo desde a insurreição popular
de 18 de Março de 1871, que deu origem à Comuna de Paris.
A partir de então começaram a surgir teorias e linhas de pensamento a respeito da
denominada “Psicologia Coletiva”.
De acordo com Barbosa (2014)1, o primeiro a escrever sobre o tema foi Gustave Le Bon,
na obra “A Psicologia das Multidões”, introduzindo o seguinte raciocínio:
Sejam quais forem os indivíduos que a compõem, com modos de vidasemelhantes ou não, suas ocupações, caráter ou inteligência, o fato de terem sidotransformados em uma multidão os coloca em posse de uma espécie de mentecoletiva que os faz sentir, pensar e agir de uma maneira bem diferentedaquela que cada indivíduo sentiria, pensaria ou agiria caso estivesse emestado isolado” (LeBon apud Barbosa, 2014).
Floyd Henry Allport traz à baila a Teoria da Predisposição, segundo a qual os indivíduos
nas multidões se comportariam da mesma maneira que quando estivessem sós, porém de forma
intensificada (BARBOSA, 2014).
Ralph H. Turner e Lewis M. Killian questionam a Teoria da Predisposição e apresentam a
Teoria da Norma Emergente, em que o comportamento coletivo ocorreria sob o comando de
normas emergentes. Rumores e movimentos entre multidões promoveriam o surgimento de novas
normas (BARBOSA, 2014). Vide o exemplo de uma pessoa que, no estádio de futebol, se levanta
1 BARBOSA, Paulo Dalle V. O comportamento Humano nas multidões e seus reflexos na gestão de Segurança e Operações do sistema Metroferroviário, 2014.
Disponível em http://www.aeamesp.org.br/biblioteca/stm/20smtf1410Tt16rl.pdf
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e começa a olhar para um determinado local (norma sendo emanada através do comportamento).
Logo em seguida outras pessoas começam a olhar para o mesmo ponto e, pouco depois,
centenas de pessoas convergem atenção e procuram algo naquele local.
A Teoria da Identidade Social surge, em seguida, com a necessidade de explicar como o
meio social interage com o indivíduo (BARBOSA, 2014). Exemplificativamente, imagine uma
disputa entre equipes ou grupos rivais dentro do bairro; essas equipes ou grupos (que eram rivais)
se unem quando a disputa é entre bairros; todos os membros da cidade (que eram rivais quando a
disputa era entre bairros) se reúnem quando a disputa é entre cidades, e assim sucessivamente.
Obtempere-se que, em relação ao tema em análise, torcedores do mesmo clube possuem uma
mesma identidade social.
A Teoria da Auto Categorização enuncia que o indivíduo, ao ingressar em determinado
grupo social, passa por um processo de despersonalização e passa a incorporar as normas e
tendências de comportamento do grupo (BARBOSA, 2014).
O “ efeito rodoviária ”, trazido pelos professores José Osmir Fiorelli e Rosana Cathya
Ragazzoni Mangini, no livro Psicologia Jurídica2, identifica aquele ambiente, sempre cheio de
pessoas, em um movimento vaivém, com uma grande população circulante.
Segundo Fiorelli e Mangini,
(…) a rodoviária tradicional traz em seu âmago a expectativa do transitório, oanonimato confortável da multidão que se desloca, a perspectiva de “não serflagrado em pecado”. Esse desenho físico, econômico e social abre espaço parainúmeros comportamentos inadequados. Essa invisibilidade ratifica a banalidadedo crime e consolida a percepção de impunidade. Um aval indireto para pequenosdelitos.3
Observa-se que o “efeito rodoviária” persiste modernizado com novos nomes e
tecnologias, podendo ser perfeitamente aplicado aos estabelecimentos denominados estádios de
futebol, uma geografia perversa que propicia o condicionamento humano para a prática de crimes.
Ademais, além do fator geográfico, percebe-se um ideário coletivo de que “no estádio de
futebol tudo é permitido”; é terra sem lei, onde se pode cometer crimes contra a honra do
árbitro da partida, dos atletas do time rival, da torcida rival e do técnico do próprio time de coração
(ex: quando este promove uma substituição que desagrada a torcida).
2 FIORELLI, José Osmir e MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni Mangini. Psicologia Jurídica, 3ª Ed., Editora Atlas:São Paulo/SP.
3 Idem, página 232.
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Pondere-se que não é causa excludente da antijuridicidade ou da culpabilidade o fato
de as injúrias, calúnias, difamações, ameças e lesões corporais terem sido praticadas em um
estádio de futebol.
Sigmund Freud, discutindo o trabalho de Le Bon, esclarece:
Um grupo é impulsivo, mutável e irritável. É levado quase que exclusivamente porseu inconsciente. Os impulsos a que um grupo obedece podem, de acordo com ascircunstâncias, ser generosos ou cruéis, heróicos ou covardes, mas são sempretão imperiosos, que nenhum interesse pessoal, nem mesmo o daautopreservação, pode fazer-se sentir.4
O grupo, a multidão, vai diretamente a extremos: “se uma suspeita é expressa, ela
instantaneamente se modifica em uma certeza incontrovertível; um traço de antipatia se
transforma em ódio furioso”.5
Há que se levar em consideração que “quando indivíduos se reúnem em grupo, todas as
suas inibições individuais caem e todos os instintos cruéis, brutais e destrutivos, que nele jaziam
adormecidos, como relíquias de uma época primitiva, são despertados para encontrar gratificação
livre”.6
Percebe-se, ainda, que a maneira pela qual indivíduos são arrastados por um impulso
comum é explicada por McDougall através do que chama de “princípio da indução direta da
emoção por via da reação simpática primitiva”, ou seja, através do contágio emocional com que já
estamos familiarizados (BARBOSA, 2014).
O fato é que a percepção dos sinais de um estado emocional é automaticamente talhada
para despertar a mesma emoção na pessoa que os percebe. Quanto maior for o número de
pessoas em que a mesma emoção possa ser simultaneamente observada, mais intensamente
cresce essa “compulsão automática”7, em um processo de retroalimentação com consequências
sempre desastrosas e irracionais.
Nos estádios de futebol não poderia ser diferente. Basta uma fagulha para que a reação
em cadeia se inicie. O contágio emocional narrado por Freud apresenta ainda, nesse contexto, um
poderoso requisito não imaginado pelo criador da psicanálise, qual seja, a paixão do torcedor pelo
4 FREUD, Sigmund. Além do Princípio de Prazer, Psicologia de Grupo e outros trabalhos. Edição Standard Brasileiradas Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Volume XVIII. Editora Imago. Rio de Janeiro. 2066. página87.
5 Idem nota 3. Página 88.6 Idem nota 3. Página 88.7 Idem nota 3. Página 95.
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seu clube do coração.
É sob essa ótica que devem ser analisados os fatos que envolvem a presente demanda.
IV – BREVE RESUMO DOS FATOS
Inicialmente, em 19.06.2017, o Grupo de Atuação Especial em Grandes Eventos do
Futebol (GFUT), no âmbito do Ministério Público do Estado de Goiás, foi oficiado pela Associação
Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil (ANATORG), solicitando a realização de um plano de
segurança das torcidas organizadas para o jogo Goiás x Vila Nova em 24.06.2017, uma vez que,
em razão da preparação para o evento Villa Mix, a Ala Norte do estacionamento estaria fechada e
torcedores de ambos os clubes partilhariam a Ala Sul, com capacidade reduzida para atender à
demanda e sem separação alguma.
Diante de tal contexto, conforme informado pela ANATORG, o próprio Batalhão da Polícia
Militar de Eventos (BPMEve) estaria em estado de alerta sobre o jogo.
Ato contínuo, representantes de diversas torcidas organizadas enviaram ao GFUT em
21.06.2017, por mensagens eletrônicas, manifestações de preocupação com as condições de
segurança e pedidos de intervenção do Ministério Público no sentido de não permitir a
realização da partida no local e nas condições supramencionadas.
Por tal motivo, instaurou-se o procedimento administrativo nº 201700260730, para
acompanhar o respeito às disposições da Lei nº 10.671/03, no que tange à segurança no local de
realização da partida Goiás x Vila Nova, a realizar-se dia 24.06.2017 às 16:30 horas, no Estádio
Serra Dourada, pelo Campeonato Brasileiro da série B.
O GFUT expediu, então, ao Batalhão de Polícia Militar de Eventos (BPMEve), o Ofício nº
58/17 – GFUT, solicitando relato pormenorizado das condições de segurança.
O Ofício nº 373/17 – BPMEve, entretanto, informou que toda a estrutura do evento seria
isolada e todo o material inutilizado seria recolhido, assegurando que as condições de segurança
estariam plenamente mantidas e o Batalhão se encarregaria, inclusive, de proceder à escolta das
torcidas organizadas antes e após a partida (fls. 17/18).
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Ocorre que, mesmo com as informações trazidas pelo BPMEve, tendo em vista o acervo
fotográfico carreado aos autos, os membros do GFUT, cientes do clima de insatisfação das
torcidas, ocasionado pelas dificuldades causadas aos torcedores em razão da
megaestrutura montada no estacionamento da Ala Norte, entenderam haver sérios riscos à
segurança dos presentes.
A referida estrutura montada para o evento Villa Mix causava bloqueio do fluxo de
torcedores, prejudicava o estacionamento e continha objetos perigosos, tais como barras de ferro,
de fácil disposição e à vista. Inúmeros fatores recomendavam, portanto, a torcida única, a
mudança do local ou o adiamento da partida (dados objetivos contrários à realização da
partida).
Além dos elencados riscos objetivos, inaugurou-se um clima de descontentamento e
insatisfação das torcidas com as autoridades responsáveis pela segurança e organização da
partida (dados subjetivos contrários à realização da partida).
Destarte, tendo em vista o altíssimo grau de risco (dados objetivos e subjetivos), o
Ministério Público expediu a Recomendação nº 002/2017, recomendando à Confederação
Brasileira de Futebol (CBF) – entidade organizadora da competição – e ao Goiás Esporte Clube –
detentor do mando de jogo – a realização da partida com torcida única ou a alteração do local do
jogo (fls. 21/23).
Ainda, oficiou ao Major Gilvan Pereira Falcão, Comandante do BPMEve, comunicando que
eventuais confrontos de torcidas, tumultos ou situações de pânico que resultassem em morte,
lesões ou outros danos seriam de sua responsabilidade pessoal, na forma omissiva, pois
signatário do Ofício nº 373/2017 – BPMEve atestando a segurança do local do evento (fls. 29/30).
Em resposta à Recomendação expedida, a CBF informou:
(…) é imperioso destacar que esta Entidade tem profundo apreço e simpatia poresse D. Ministério Público e sempre acata suas recomendações.
Entretanto, nesse caso específico, ainda que nosso desejo fosse no sentido deatender o seu aconselhamento, estamos impossibilitados de fazê-lo, pelosseguintes motivos:
a) tal atendimento acarretaria descumprimento de normas do Estatuto de Defesado Torcedor (Lei nº 10.671/03), que prevê: (i) ser dever da entidade responsávelpela competição confirmar, com até 48 (quarenta e oito) horas de antecedência, ohorário e local de realização das partidas (art. 16, I) e, ainda, (ii) ser direito dotorcedor que os ingressos para as partidas sejam colocados à venda até 72(setenta e duas) horas antes de seu início (art. 20) e,
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b) a venda dos ingressos para a mencionada partida já se iniciou, comcomercialização para os torcedores de ambas equipes, de vultosa quantidade deingressos.
(…)
Por esses relevantes motivos, a CBF, muito a contragosto, se vê forçada amanter a realização do jogo de acordo com sua programação datada de04.04.17 (fls. 34/35).
Pois bem. O infortúnio temido se concretizou, e o Ministério Público recebeu a notitia
criminis constante em mídia digital (fl. 62), a qual retrata imagens das câmeras de segurança, bem
como registros amadores, do momento da suposta prática do crime de tentativa de homicídio,
praticado contra torcedor do Goiás Esporte Clube agredido com chutes e pontapés na cabeça,
fato ocorrido no Estádio Serra Dourada, nesta Capital, no dia 24.06.2017 (sábado), logo após o
encerramento da partida Goiás x Vila Nova, pelo Campeonato Brasileiro da série B.8
Diante do fatídico evento, o Ministério Público requisitou ao 8º Distrito Policial, por meio do
Ofício nº 62/2017 – GFUT (fls. 60/61), a instauração de inquérito policial para a devida apuração
dos crimes ocorridos durante o enfrentamento entre torcedores, a fim de colher elementos neces-
sários para o oferecimento de denúncia em face dos autores de eventuais infrações penais.
Ainda, o parquet remeteu ao Procurador-Geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva
do Futebol cópia integral dos autos do procedimento administrativo, bem como mídias digitais re-
tratando o episódio de violência ocorrido, e solicitou a aplicação de punição exemplar aos clu-
bes envolvidos, a fim de promover a defesa da ordem jurídica, o combate à violência nos está-
dios e a prevenção de condutas capazes de colocar em risco os direitos do cidadão reconhecidos
pelo Estatuto do Torcedor.
Deve ser ressaltado ainda que no bojo do processo nº 074/2017 instaurado perante a 2ª
Comissão Disciplinar no Superior Tribunal de Justiça Desportiva o presidente do STJD, Ronaldo
Botelho Piacente, em 28.06.2017, em decisão liminar, interditou o Estádio Serra Dourada, palco
de briga e confusão generalizada ocorrida na partida entre Goiás e Vila Nova (fls. 17-v e 18 do
apenso).
Posteriormente, sobreveio decisão definitiva constatando a reincidência de ambas as en-
tidades esportivas (fl. 79-v do apenso) e condenando o Goiás Esporte Clube à perda de 05 (cin-
8 Além do tumulto ocorrido no interior do estádio, comprovado pelos vídeos que seguem anexos (fl. 62), houve, ainda,o homicídio praticado em face de Davi Icário da Silva, conforme fls. 105/106, que, trajando camiseta do Goiás EsporteClube, foi atingido numa motocicleta por disparo efetuado a partir de um veículo automotor, na Avenida Tóquio –Residencial Goiânia Viva - enquanto seguia para o estádio Serra Dourada.
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co) mandos de campo, com portões fechados, e multa de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais); e o
Vila Nova Futebol Clube à perda de 04 (quatro) mandos de campo, com portões fechados, e multa
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), ambos por infração ao artigo 213, inciso I, do Código Brasileiro
de Justiça Desportiva, conforme (fls. 76-v/79-v do apenso).
Assevere-se a rivalidade histórica entre as equipes, que soma inúmeros episódios
de confronto ao longo dos anos.
Constam, por fim, notícias divulgadas em jornais locais (fls. 99/104), bem como no site da
ESPN, denunciando a visível falta de conservação do estádio Serra Dourada:
A falta de conservação é visível. Arquibancadas encardidas, banheiros fétidos,com latrinas entupidas a cada jogo, falta de bebedouros para o público, lixo espa-lhado para todos os cantos, bares sujos cobrando valores exorbitantes, grades en-costadas e sem a devida proteção, que podem servir como armamento em brigasde torcidas, além de sinalização precária (fl. 99).
Restam, portanto, evidenciados o episódio de violência, o histórico de confrontos, a
reincidência e as péssimas condições de conservação e segurança do Estádio Serra Dourada.
V – DAS MEDIDAS PREVENTIVAS TOMADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO EM SEDE
ADMINISTRATIVA – MINISTÉRIO PÚBLICO RESOLUTIVO
O Ministério Público Resolutivo nada mais é que aquele que busca, de forma prioritária,
a solução dos conflitos sociais no âmbito da própria instituição e em parceria com a sociedade,
sem a necessidade de recorrer ao Poder Judiciário, já tão assoberbado. Ou seja, seria o MP que
procura a resolução de problemas de forma extrajudicial, superando-se o perfil unicamente
repressivo e demandista de outrora.
Sem dúvida,
(…) a construção de um Ministério Público resolutivo passa pela necessidadede consolidar seu papel de agente transformador da realidade social, por meio daaproximação com a sociedade e de uma atuação preventiva, prestigiando asua condição de protagonista das políticas públicas “de primeira grandeza”9.(Grifou-se)
9 “O Ministério Público Resolutivo”, de autoria de Alice de Almeida Freire Barcelos, promotora de justiça e coordenadorado Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público de Goiás. Publicado no Jornal O Popular em 9 de abril de2009. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/7/docs/mp_resolutivo_-_2a_versao.pdf
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Nesse diapasão, a Constituição Federal, no art. 217 determina o “dever do Estado em
fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um.”
Ademais, considerando o disposto no art. 1º–A do Estatuto do Torcedor, segundo o qual
“é responsabilidade do poder público prevenir a violência nos esportes” e, ainda,
considerando que o Ato PGJ nº 22, de 25 de junho de 2015, que instituiu no âmbito do Ministério
Público do Estado de Goiás o Grupo de Atuação Especial em Grandes Eventos do Futebol –
GFUT estabeleceu em seu artigo 2º que o órgão terá atribuição para atuar na comarca de
Goiânia, com o objetivo de “prevenir, identificar e reprimir crimes, atos infracionais e atos
lesivos aos serviços públicos, ao consumidor e aos direitos da criança e do adolescente
quando relacionados com a prática de futebol profissional”, adotaram-se, diante do aduzido
contexto, algumas medidas em sede administrativa, que seguem nos tópicos infra.
Trata-se de atuação ministerial propositiva, fomentadora de iniciativas que garantam –
efetivamente – o bem-estar do torcedor e o incentivo às manifestações desportivas de criação
nacional, conforme artigo 217, IV da Constituição Federal.
5.1 - DAS REUNIÕES SOBRE A VIABILIDADE DE APRIMORAMENTO DO SISTEMA DE
CÂMERAS DE SEGURANÇA NO ESTÁDIO SERRA DOURADA
Ressalte-se que, antes mesmo do episódio ocorrido em 24.06.2017, no dia 09.06.2017
os promotores de justiça membros do GFUT reuniram-se com membros de empresa de
tecnologia com o fito de conhecer as novas tecnologias de cadastro biométrico e
reconhecimento facial para, em seguida, averiguar a possibilidade de implementação pela
AGETOP e a administração do estádio Serra Dourada (vide ata de reunião de fls. 138/142).
Ainda sobre a questão das câmeras de segurança, outra reunião foi designada para o dia
30.06.2017, ocasião em que foi convidada (vide convite de fl. 132) a requerida AGETOP,
administradora do Estádio Serra Dourada. Porém, a autarquia, demonstrando desinteresse e
descomprometimento com a necessidade de implementação de medidas de prevenção, proteção
e segurança aos torcedores, não compareceu.
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Esse ponto demonstra a boa-fé objetiva do Ministério Público, bem como a negligência
estatal, no que concerne à defesa do torcedor.
5.2 - DAS OPERAÇÕES CONJUNTAS REALIZADAS NO INTERIOR DO ESTÁDIO SERRA
DOURADA
Do mesmo modo, o GFUT tem atuado, junto à rede de proteção ao torcedor, de forma a
acompanhar e assegurar a continuidade das fiscalizações conjuntas realizadas por força do
Convênio nº 001/2016 (fls. 154/166), celebrado entre o Ministério Público, a Secretaria Municipal
de Saúde de Goiânia (SMS) por meio da Vigilância Sanitária, a Secretaria Municipal de
Planejamento Urbano e Habitação (SEPLANH) por meio da Superintendência da Ordem Pública
(SOP), a Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Estado de
Goiás(SSP) e a Superintendência de Proteção aos Direitos do Consumidor (PROCON/GO).
Ocorreram – até junho de 2017 – 3 (três) fiscalizações nos estádios de futebol
profissional na cidade de Goiânia, observando a comercialização de produtos impróprios para o
consumo, o cumprimento das legislações sanitária e relativa à acessibilidade, proteção contra
publicidade enganosa e abusiva, dentre outros direitos consumeristas.
Esse ponto demonstra, mais uma vez, o empenho do Ministério Público na defesa dos
direitos do torcedor.
5.3 - DO TRABALHO PREVENTIVO EXECUTADO EM RELAÇÃO ÀS TORCIDAS AMIGAS
Noutro giro, foi noticiado episódio de agressão ocorrido durante a partida Goiás x
Figueirense realizada em 13.05.2017 – no Estádio Serra Dourada – contra torcedor esmeraldino,
por torcedor do Vila Nova infiltrado na torcida amiga do Figueirense. O GFUT, atuando de forma
preventiva, protetiva e precavida, também instaurou procedimento administrativo nº
201700209262 e realizou reuniões com o escopo de compreender e acompanhar a finalidade, a
existência, as atividades e os eventuais riscos das torcidas denominadas “amigas” nas partidas
realizadas no Estado de Goiás.
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Insta consignar que, após reunião em 23.06.2017 com representantes das torcidas
Esquadrão Vilanovense e Força Jovem, foi realizada nova reunião em 30.06.2017 (vide ata de fls.
168/173). Posteriormente, reuniu-se com o Major Gilvan Pereira Falcão, bem como com o Tenente
Ricardo Junqueira Dourado, do Batalhão de Polícia Militar de Eventos (BPMEve), para conhecer a
opinião técnica da Polícia Militar, ocasião em que foi determinada a elaboração de um ato
normativo, no âmbito no do Batalhão de Eventos, dispondo sobre as diretrizes da fiscalização do
instituto da “torcida amiga” (vide ata de fls.174/176).
A iniciativa também demonstra uma atuação preventiva e resolutiva por parte do
Ministério Público.
VI – DO DIREITO
6.1 - DA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO NO ÂMBITO DO
ESTATUTO DO TORCEDOR
6.1.1. DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
Conforme previsto no Estatuto de Defesa do Torcedor, “a defesa dos interesses e direitos
dos torcedores em juízo observará, no que couber, a mesma disciplina da defesa dos
consumidores em juízo de que trata o Título III da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990” (Art.
40, EDT).
Ainda, “para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor, nos termos da lei nº 8.078
de 11 de setembro de 1990, a entidade responsável pela organização da competição, bem como a
entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo” (Art. 3 º da Lei nº 10.671 de 15 de
maio de 2003).
Pois bem. Vivemos hodiernamente numa sociedade global de riscos que atingem não só o
meio ambiente mas, do mesmo modo, a produção e distribuição de produtos e serviços no
mercado de consumo. O Princípio da Precaução representa, nesse sentido, uma das possíveis
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formas de evitar a ocorrência desses riscos ou, talvez, de evitar a ocorrência dos danos
decorrentes desses riscos.
Por tal motivo, abalizada doutrina defende sua aplicação também na seara consumerista:
1. Princípio da precaução - Esse princípio encontra-se implícito no Código deDefesa do Consumidor, e tem por objetivo resguardar o consumidor de riscosdesconhecidos relativos a produtos e serviços colocados no mercado deconsumo. Não deve ser confundido com a prevenção, que é forma de resguardode riscos conhecidos. Um bom exemplo da aplicação do princípio da prevençãopode ser notado na regulação do fornecimento de alimentos transgênicos, umavez que a ciência ainda desconhece todos os efeitos dos gêneros alimentíciosgeneticamente modificados sobre a saúde humana.10
O Sistema de Proteção e Defesa do Consumidor consagra o referido princípio como norte
para a contenção dos riscos no mercado de consumo, trazendo regras de informação sobretudo
nos artigos 8°, 9° e 10. A exemplo, leia-se:
O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos àsaúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, arespeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção deoutras medidas cabíveis em cada caso concreto (art. 9º, CDC).
O Princípio da Precaução possui quatro componentes básicos que podem ser assim
resumidos:
(i) a incerteza passa a ser considerada na avaliação de risco;
(ii) o ônus da prova cabe ao proponente da atividade;
(iii) na avaliação de risco, um número razoável de alternativas ao produto, processo ou
serviço devem ser estudadas e comparadas;
(iv) para ser precaucionária, a decisão deve ser democrática, transparente e ter a
participação dos interessados no produto, processo ou serviço.
No contexto específico das partidas de futebol profissional, a importância do princípio suso
está relacionada ao fato de que devem ser tomadas todas as medidas para se evitar danos aos
espectadores. Portanto, na hipótese de verificação de elementos objetivos e subjetivos que
coloquem em risco a segurança dos torcedores, mister agir com precaução.
10 GUGLINSKI, Vitor Vilela. Princípios norteadores do direito do consumidor. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12232
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Isso porque, ocorrendo qualquer dano ao torcedor, provavelmente será de difícil ou mesmo
impossível reparação.
6.1.2. DO PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
Dentre os direitos básicos do consumidor consagrados no artigo 6º do Código de proteção
e defesa do consumidor, estão:
(...)
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção oureparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados.
Conforme destacado por Felipe P. Braga Netto, em sua doutrina, fundamental é a menção,
nos incisos destacados, à prevenção, “sublinhando a importância, cada dia mais viva, de
privilegiar a prevenção dos danos, e não, como tradicionalmente se fez, centrar foco
exclusivamente na reparação do dano”11.
Isso implica dizer que existe uma tendência à tutela preventiva, e não à tutela repressiva
clássica.
No mesmo sentido é a determinação expressa no art. 1º-A. do Estatuto de Defesa do
Torcedor:
Art. 1o-A. A prevenção da violência nos esportes é de responsabilidade do poderpúblico, das confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidadesesportivas, entidades recreativas e associações de torcedores, inclusive de seusrespectivos dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem,organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos.
Ao estabelecer regras sobre a segurança do torcedor partícipe do evento esportivo, o
Estatuto consagra, mais uma vez, o princípio da prevenção:
Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor no recintoesportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei:
11 NETTO, Felipe Peixoto Braga. Manual de Direito do Consumidor à luz da jurisprudência do STJ. Salvador:Juspodivm, 2013, p. 63.
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III - consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança.
Também o Código Brasileiro de Justiça Desportiva prevê punição aos clubes por
desordens em sua praça de desportos, em seu artigo 213:
Art. 213. Deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir:
I – desordens em sua praça de desporto;
II – invasão do campo ou local da disputa do evento desportivo;
III – lançamento de objetos no campo ou local da disputa do eventodesportivo.
PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).
Conclui-se, diante de expressiva remissão legislativa ao princípio da prevenção, que tal
princípio é pedra angular do microssistema de defesa do torcedor.
Diante do exposto, infere-se, portanto, que o torcedor tem o direito de ser protegido,
prevenindo-se eventuais danos e precavendo-se de riscos.
6.2 – DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO E DEFESA NO ÂMBITO DO ESTATUTO
DO TORCEDOR
A Carta Magna brasileira preleciona em seu artigo 5º, inciso XXXII, que “o estado
promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. Também no artigo 170, inciso V:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e nalivre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme osditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
V - a defesa do consumidor.
Obtempere-se, ainda, que a Constituição da República de 1988 também previu o desporto
como um dos institutos de grande importância para a ordem social, razão pela qual sua
implementação deve ocorrer com seriedade, competência e zelo, para que todos os envolvidos na
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atividade sejam beneficiados, sem perder de vista a proteção ao torcedor/consumidor. Nesse
sentido:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislarconcorrentemente sobre:
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico(…).
Art. 30. Compete aos Municípios:
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada alegislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais eacesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e adifusão das manifestações culturais.
3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual,visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações dopoder público que conduzem à:
I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados:
V - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.
Veja-se como o Código de Defesa e Proteção do Consumidor (Lei nº 8.078/1990) também
tutela – reiteradamente – ambos os princípios, já taxados em seu próprio nome:
Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa doconsumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, incisoXXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas DisposiçõesTransitórias.
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo oatendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria dasua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações deconsumo atendidos os seguintes princípios:
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo ecompatibilização da proteção do consumidor com a necessidade dedesenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípiosnos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), semprecom base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
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Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados porpráticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ounocivos (…).
(…)
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodoscomerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulasabusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônusda prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil aalegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias deexperiências.
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuaisrelativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor.
Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas,conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das denatureza civil, penal e das definidas em normas específicas (…).
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimaspoderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este códigosão admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar suaadequada e efetiva tutela.
Paralelamente, o Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003)
já dispõe, em seu artigo 1º: “Este Estatuto estabelece normas de proteção e defesa do
torcedor”. Ainda:
Art. 14. § 1o É dever da entidade de prática desportiva detentora do mando dejogo solucionar imediatamente, sempre que possível, as reclamações dirigidas aoserviço de atendimento referido no inciso III, bem como reportá-las ao Ouvidor daCompetição e, nos casos relacionados à violação de direitos e interesses deconsumidores, aos órgãos de defesa e proteção do consumidor.
Art. 40. A defesa dos interesses e direitos dos torcedores em juízo observará,no que couber, a mesma disciplina da defesa dos consumidores em juízo deque trata o Título III da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990.
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Art. 41. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão adefesa do torcedor, e, com a finalidade de fiscalizar o cumprimento dodisposto nesta Lei, poderão:
I - constituir órgão especializado de defesa do torcedor; ou
II - atribuir a promoção e defesa do torcedor aos órgãos de defesa doconsumidor.
Tais dispositivos fizeram-se necessários principalmente em virtude do fato de que a
categoria dos torcedores, antes da previsão de regras específicas assegurando seus interesses,
convivia com situações atentatórias diversas, engendradas por arbitrariedades cometidas por
muitas entidades organizadoras dos eventos desportivos ou por aquelas que detinham titularidade
do jogo, como destacado por Joseane Suzart Lopes da Silva12.
6.3 - DO DIREITO DO TORCEDOR À SEGURANÇA
A Carta Magna resguarda o direito à segurança no rol de direitos sociais contemplados no
artigo 6º:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, amoradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção àmaternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma destaConstituição.
Sobre a segurança pública, tem-se que:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade detodos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade daspessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
(...)
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveispela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
12 SILVA, Joseane Suzart Lopes da. Estatuto do Torcedor. Coleção leis Especiais para concursos. Coord.: Leonardo deMedeiros Garcia. Vol. 25. Salvador: Juspodivm, 2010, p. 11.
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O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, também contém diversas menções
expressas ao princípio da segurança.
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo oatendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da suaqualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios: (…)
II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade,segurança, durabilidade e desempenho.
V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle dequalidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismosalternativos de solução de conflitos de consumo.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados porpráticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ounocivos.
Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo nãoacarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto osconsiderados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição,obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informaçõesnecessárias e adequadas a seu respeito.
Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ouperigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva eadequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo daadoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ouserviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade oupericulosidade à saúde ou segurança.
§ 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviçosà saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o DistritoFederal e os Municípios deverão informá-los a respeito.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidordele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,entre as quais:
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam (…).
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Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurarinformações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobresuas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazosde validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos queapresentam à saúde e segurança dos consumidores.
Art.36, § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquernatureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveiteda deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valoresambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de formaprejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
Art. 55, § 1° A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios fiscalizarão econtrolarão a produção, industrialização, distribuição, a publicidade de produtos eserviços e o mercado de consumo, no interesse da preservação da vida, da saúde,da segurança, da informação e do bem-estar do consumidor, baixando as normasque se fizerem necessárias.
Art. 58. As penas de apreensão, de inutilização de produtos, de proibição defabricação de produtos, de suspensão do fornecimento de produto ou serviço, decassação do registro do produto e revogação da concessão ou permissão de usoserão aplicadas pela administração, mediante procedimento administrativo,assegurada ampla defesa, quando forem constatados vícios de quantidade ou dequalidade por inadequação ou insegurança do produto ou serviço.
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre anatureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho,durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena - Detenção de trêsmeses a um ano e multa.
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz deinduzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúdeou segurança:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
Por fim, além da prevenção da violência, resguardou-se também de maneira ampla, na Lei
nº 10.671/2003 (Estatuto de Defesa do Torcedor), a segurança do torcedor, como direito do
consumidor: “O torcedor tem direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos
esportivos antes, durante e após a realização das partidas” (Art. 13).
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Ainda, previu o Estatuto:
Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor no recintoesportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei:
III - consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança.
Art. 14. Sem prejuízo do disposto nos arts. 12 a 14 da Lei nº 8.078, de 11 desetembro de 1990, a responsabilidade pela segurança do torcedor em eventoesportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo ede seus dirigentes, que deverão:I – solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicos de
segurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dostorcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventosesportivos;II - informar imediatamente após a decisão acerca da realização da partida,
dentre outros, aos órgãos públicos de segurança, transporte e higiene, osdados necessários à segurança da partida (…).
Art. 17. É direito do torcedor a implementação de planos de ação referentesa segurança, transporte e contingências que possam ocorrer durante a realizaçãode eventos esportivos. § 1o Os planos de ação de que trata o caput serão elaborados pela entidade
responsável pela organização da competição, com a participação das entidadesde prática desportiva que a disputarão e dos órgãos responsáveis pela segurançapública, transporte e demais contingências que possam ocorrer, das localidadesem que se realizarão as partidas da competição.
Art. 19. As entidades responsáveis pela organização da competição, bemcomo seus dirigentes respondem solidariamente com as entidades de quetrata o art. 15 e seus dirigentes, independentemente da existência de culpa,pelos prejuízos causados a torcedor que decorram de falhas de segurançanos estádios ou da inobservância do disposto neste capítulo.
Art. 23. A entidade responsável pela organização da competição apresentará aoMinistério Público dos Estados e do Distrito Federal, previamente à sua realização,os laudos técnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pelavistoria das condições de segurança dos estádios a serem utilizados nacompetição.
§ 1o Os laudos atestarão a real capacidade de público dos estádios, bem comosuas condições de segurança.
Art. 31. A entidade detentora do mando do jogo e seus dirigentes deverãoconvocar os agentes públicos de segurança visando a garantia da integridadefísica do árbitro e de seus auxiliares.
Como se vê, a preocupação do legislador ordinário justificou a extensão da proteção da
segurança do torcedor e da própria sociedade como um todo, pois seria incompatível com a
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própria razão de ser do esporte – qual seja, a promoção da saúde e a celebração da vida – que
para a sua realização fosse necessária a tolerância com a violência e até mesmo a morte.
Além de buscar a proteção da parte mais fraca da relação jurídico-econômica
estabelecida, o Estado visou garantir a segurança do torcedor, inclusive antes da competição, e
assegurar o espírito esportivo e a expressão saudável das paixões que este suscita e que devem
permear a competição.
Nesse contexto, a agremiação esportiva e as entidades organizadoras da competição
devem, por exemplo, organizar a prestação do serviço de comercialização de ingresso de modo a
garantir a segurança do torcedor mesmo antes da partida.
Assim, a segurança do torcedor deve ser protegida de maneira plena, seja física (proteção
da integridade corporal do torcedor, minimizando sua exposição a agressões e violência), psíquica
(proteção da integridade psicológica do torcedor, minimizando sua exposição a estresse,
desconforto e riscos desnecessários) e patrimonial (proteção do direito de propriedade do
torcedor, minimizando sua exposição a furtos e roubos, e evitando a imposição de custos
desnecessários).
Posturas e condutas violentas e hostis, dentro e fora de campo, têm inequívocas
consequências para o tecido social e merecem ser reprimidas e rechaçadas para a garantia da
ordem pública e da paz social.
Desta feita, restando inconteste que todos os fatos narrados nesta exordial evidenciam
comportamentos agressivos, geradores de tumultos e atos violentos e criminosos, é imperativa a
determinação de medidas que garantam segurança aos torcedores, conforme determina o
art. 1º-A do Estatuto.
VII – DOS DANOS MATERIAIS E MORAIS INDIVIDUAIS OCASIONADOS EM 24-06-2017 –
RESPONSABILIDADE DO GOIÁS ESPORTE (CLUBE MANDANTE) E DA CONFEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE FUTEBOL (ENTIDADE ORGANIZADORA)
Conforme já mencionado, além do Estatuto do Torcedor, a relação jurídica entre os clubes
organizadores de eventos esportivos e os frequentadores deve observar o Código de Defesa do
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Consumidor, em razão de aqueles se caracterizarem como fornecedores e estes como
consumidores.
Traz a consagrada doutrina de Carlos Roberto Gonçalves, “Responsabilidade Civil”13 que,
partindo da premissa básica de que o consumidor é a parte vulnerável das relações de consumo,
o Código pretende restabelecer o equilíbrio entre os protagonistas de tais relações. Assim, declara
expressamente o art. 1º que o referido diploma estabelece normas de proteção e defesa do
consumidor, acrescentando serem tais normas de ordem pública e interesse social. De pronto,
percebe-se que:
tratando-se de relações de consumo, as normas de natureza privadaestabelecidas no Código Civil de 1916, onde campeava o princípio da autonomiada vontade, e em leis esparsas, deixaram de ser aplicadas. O Código de Defesado Consumidor retirou da legislação civil (bem como de outras áreas do direito) aregulamentação das atividades humanas relacionadas com o consumo, criandouma série de princípios e regras em que se sobressai não mais a igualdade formaldas partes, mas a vulnerabilidade do consumidor, que deve ser protegido(GONÇALVES, 2012, p. 65).
Assim, no referido sistema codificado, “tanto a responsabilidade pelo fato do produto ou
serviço como a oriunda do vício do produto ou serviço são de natureza objetiva, prescindindo do
elemento culpa a obrigação de indenizar atribuída ao fornecedor” (GONÇALVES, 2012, p. 65).
Veja-se jurisprudência do E. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás a respeito:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PRÁTICA DE ATO ILÍCITO.DANOS MATERIAIS COMPROVADOS. RESPONSABILIDADE CIVILCONFIGURADA. DEVER DE INDENIZAR. ÔNUS DA PROVA. AUSÊNCIA DEFATO IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO DO AUTOR.PROCEDÊNCIA DO PLEITO MANTIDA. 1. Aquele que, por ação ou omissãovoluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, aindaque exclusivamente moral, comete ato ilícito, ficando obrigado a repará-lo. 2. Ofornecedor de serviços responde, independentemente da existência deculpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitosrelativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientesou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Cuida-se de responsabilidadeobjetiva, cabendo ao lesado demonstrar que o prejuízo sofrido se originou dedeterminada conduta, com nexo causal, sem qualquer consideração sobre o doloe/ou culpa. 3. Compete a parte autora demonstrar os fatos constitutivos do seudireito, nos moldes do art. 373, inc. I, do NCPC. Ao réu, por sua vez, cabecomprovar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, apto aexcluir a responsabilidade civil, o que não ocorreu no caso. Impõe-se, assim, aconfirmação da sentença. Apelação cível conhecida e desprovida. Sentençamantida.
13 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 14.ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.
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(TJGO, APELACAO 0416636-03.2014.8.09.0149, Rel. ITAMAR DE LIMA, 3ªCâmara Cível, julgado em 09/08/2017, DJe de 09/08/2017) (Grifou-se)
Nesse sentido, resta claro - no caso em tela - que a conduta omissiva dos réus e os
confrontos ocorridos geraram, além de prejuízos à Polícia Militar do Estado de Goiás, danos aos
consumidores individualmente considerados.
A título de ilustração de alguns dos prejuízos causados, em resposta ao Ofício nº 67/2017
– GFUT, o Batalhão de Polícia Militar de Eventos (BPMEve) já mensurou, no relatório de fls.
145/152, o gasto de R$ 6.348,83 (seis mil trezentos e quarenta e oito reais e oitenta e três
centavos) com materiais – tais como projéteis de borracha e granadas de efeito moral,
lacrimogêneas e indolores de pimenta – utilizados para conter o conflito entre torcedores.
Para que haja condenação em danos morais e materiais individuais, todavia, não é
necessário que o autor da ação civil pública demonstre os danos individualmente sofridos pelos
consumidores.
Em sede de ação civil pública, devem os réus ser condenados ao ressarcimento dos
consumidores, uma vez que o CDC expressamente prevê que, na ação coletiva visando à
responsabilidade civil por danos causados aos consumidores individualmente considerados, “em
caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu
pelos danos causados” (Art. 95, CDC).
A comprovação do prejuízo individual deve ser, por sua vez, realizada em fase de
liquidação de sentença, conforme previsto no artigo 97 do Código de Defesa do Consumidor, pela
vítima e seus sucessores, bem como pelos legitimados expressos no artigo 82.
Exatamente por isso o artigo 103, § 3º, do CDC previu o instituto do transporte in utilibus
secundum eventum litis da coisa julgada coletiva.
Para materialização do princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva,
segundo o qual deve-se evitar novas demandas com a mesma causa de pedir, os réus devem, no
bojo da ação civil pública, ser condenados a indenizar as vítimas pelos danos provocados. O
Código de Defesa do Consumidor exige que o autor da ação civil pública demonstre apenas a
potencialidade lesiva da conduta perpetrada pelos réus.
No caso em comento, inegável a possibilidade de sofrimento de prejuízos de ordem moral
e material por parte dos consumidores, em razão da conduta adotada pelos réus de
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responsabilizarem-se – ainda que de forma omissiva – pelo perigo à saúde e à segurança dos
frequentadores do evento promovido, diante da conhecida e prenunciada ameaça de confronto
entre as torcidas organizadas rivais e a ausência de garantia da efetiva segurança requerida.
Vê-se, ainda, que os réus vêm experimentando enriquecimento sem causa, em
razão de comercializarem ingressos para o evento e não disponibilizarem as condições de
segurança exigidas para a sua realização, diminuindo seu custo operacional e aumentando sua
lucratividade, tudo em detrimento da saúde e da segurança dos frequentadores do evento. Tal fato
não pode nem deve ficar sem reparação, seja em caráter individual seja coletivo.
VIII - DO DANO MORAL COLETIVO OCASIONADO EM 24-06-2017 – RESPONSABILIDADE
DO GOIÁS ESPORTE CLUBE (CLUBE MANDANTE) E DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE
FUTEBOL (ENTIDADE ORGANIZADORA)
Segundo Hermes Zanetti Jr. e Leonardo de Medeiros Garcia14, configura o dano moral
coletivo a injusta lesão à esfera moral de certa comunidade, a violação a determinado círculo de
valores coletivos.
Uma das funções do dano moral coletivo é, destarte, garantir a efetividade dos princípios
de prevenção e precaução, com o intuito de propiciar uma tutela mais efetiva dos direitos difusos e
coletivos, bem como prevenir nova lesão a direitos transindividuais.
O art. 3º da Lei n.° 7.347/85, que disciplina a ação civil pública, afirma que essa “poderá
ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”.
Para o STJ, essa conjunção “ou” – contida no citado artigo, tem um sentido de adição
(soma), não representando uma alternativa excludente. Em outras palavras, será possível a
condenação em dinheiro e também ao cumprimento de obrigação de fazer/não fazer.
Veja-se precedente nesse sentido:
(...) Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3º da Lei7.347/1985 permite a cumulação das condenações em obrigações de fazer ounão fazer e indenização pecuniária em sede de ação civil pública, a fim depossibilitar a concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, jáconsumado. Microssistema de tutela coletiva. (...)4. O dano moral coletivo
14 ZANETTI JR, Hermes e GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direitos Difusos e coletivos. 5ª edição rev., ampl. e atual.,Editora Juspodivm: Salvador/BA, 2014.
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ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendodesnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, aindignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. (...)(REsp 1269494/MG, Rel.Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 24/09/2013) (Grifou-se).
Destaque-se também a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
evidenciando a responsabilidade objetiva do fornecedor de produto ou serviço, que ensejou a
condenação por dano moral coletivo:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FORNECIMENTO PRECÁRIO DEENERGIA ELÉTRICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESACONCESSIONÁRIA. DANO MORAL COLETIVO. 1 - É de se observar que,sendo a apelante concessionária de serviço público, responde objetivamente, ateor do art. 37, § 6º da Constituição Federal, pelos danos que, por ação ouomissão, houver dado causa, bastando à vítima a comprovação do evento danosoe do nexo causal entre este e a conduta lesiva. 2 - Dano moral coletivoevidenciado. Necessidade de reparação com base nos artigos 5°, V, daConstituição Federal e 6°, VI, do Código de Defesa do Consumidor.RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJGO, APELACAO CIVEL 274171-19.2012.8.09.0091, Rel. DES. NEY TELES DE PAULA, 2A CAMARA CIVEL,julgado em 20/09/2016, DJe 2121 de 29/09/2016) (Grifou-se).
Segundo Ricardo Diego Nunes Pereira, os danos morais coletivos estão atrelados à 3ª
geração do constitucionalismo: a solidariedade. Ainda, de acordo com Bittar Filho, estão presentes
quando há violação a direitos da personalidade em seu aspecto individual homogêneo ou coletivo
em sentido estrito, em que as vítimas são determinadas ou determináveis (correspondem ao art.
81, parágrafo único, incisos II e III do CDC)15.
Há que se pontuar que a expressividade dos episódios de agressão, tumulto e violência
da partida realizada em 24.06.2017 transborda os limites de suas vítimas diretas, as quais, ainda
que em número determinado, absorveram os danos gerados à comunidade local, dada a violação
da confiabilidade presumida nas relações de consumo mantidas entre as entidades organizadoras
das competições e os torcedores, assim como o descrédito acarretado à imagem do futebol que
repercute negativamente para todos os outros clubes do país.
A conduta dos demandados em relação aos seus consumidores caracteriza, destarte,
dano moral (ou extrapatrimonial) coletivo, na medida em que prejudica o equilíbrio e a equidade
entre as partes da relação de consumo, em total desconformidade com o que lhe impõem a
legislação de proteção e defesa do consumidor.
15 Disponível em: http://www.dizerodireito.com.br/2013/10/danos-morais-coletivos-e-danos-sociais.html
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Exemplifique-se que, durante a briga, uma cena chamou atenção e foi bastante difundida
pela mídia. Com o filho no colo, um torcedor esmeraldino foi flagrado com as mãos para cima,
gesto repetido pela pequena criança de apenas cinco anos. O torcedor é, conforme noticiado,
Warley Ferreira, de 39 anos, que, justamente por causa da violência, não costumava mais
frequentar clássicos disputados entre Goiás e Vila Nova. De acordo com o informado:
Warley só foi assistir o jogo porque o filho, Heitor, ganhou o direito de entrar emcampo com os jogadores do Goiás. Heitor é aluno da escolinha do clube. Ementrevista ao Globo Esporte.com, o pai explicou por que ergueu o braço e foi emdireção à polícia. Segundo ele, sua intenção era se identificar como pai de famíliae evitar que ele e a criança se machucassem.
“O susto foi grande, mas estamos bem. Só fui porque meu filho entrou em campocom o time. Queria que ele sentisse esse clima do jogo. Também fui porque nãohouve briga na final do Campeonato Goiano. Na hora da briga eu pensei apenasem não correr para onde todos estavam correndo. Achei que fosse pior e quepoderíamos ser feridos com bombas ou bala de borracha, por exemplo. Fui emdireção à polícia porque queria mostrar que era um pai de família – contou Warley,por telefone” (fls. 110/111).
O torcedor Warley e seu filho, assim como todos os presentes no estádio na ocasião da
confusão, sofreram o dano extrapatrimonial coletivo, ou dano sem “dor”, mencionado com
maestria em decisão proferida pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça no seguinte julgado:
“ADMINISTRATIVO – TRANSPORTE – PASSE LIVRE- IDOSOS – DANOMORAL COLETIVO – DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE DORE DE SOFRIMENTO – APLICAÇÃO EXCLUSIVA AO DANO MORALINDIVIDUAL – CADASTRAMENTO DE IDOSOS PARA USUFRUTO DEDIREITO – ILEGALIDADE DA EXIGÊNCIA PELA EMPRESA DETRANSPORTE – ART. 39, § 1º DO ESTATUTO DO IDOSO – LEI10741/2003 VIAÇÃO NÃO PREQUESTIONADO.O dano moral coletivo, assim entendido o que é transindividual e atinge umaclasse específica ou não de pessoas, é passível de comprovação pelapresença de prejuízo à imagem e à moral coletiva dos indivíduosenquanto síntese das individualidades percebidas como segmento, derivadode uma mesma relação jurídica-base. 2. O dano extrapatrimonial coletivoprescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalopsicológico, suscetíveis de apreciação na esfera do indivíduo, masaplicável aos interesses difusos coletivos. (RESP 200801044981,ELIANA CALMON, STJ – SEGUNDA TURMA, 26/02/2010).”(grifou-se)
Nesse sentido, é estreme de dúvidas que a população goianiense – e quiçá nacional –
que já se encontrava incrédula quanto à segurança dos estabelecimentos onde acontecem as
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disputas de futebol, agora mais que nunca evitará frequentar tais espaços e demorará a assimilar
novamente o aspecto sadio e enobrecedor da prática e do hábito de prestigiar o esporte.
O instituto da indenização por dano moral tem função dúplice (punitiva e pedagógica):
“de um lado, compensar a(s) vítima(s), de outro, punir o agressor”16.
Por sua vez, no que tange ao “quantum” indenizatório, deve-se levar em conta a
aplicabilidade do “punitivedemages”, cujo objetivo precípuo é evitar que o ofensor volte a cometer
a prática danosa, bem como inibir potenciais ofensores.
Para a quantificação de tal instituto, torna-se mister uma análise: da natureza, gravidade
e repercussão da lesão na sociedade; o poder econômico do ofensor; o eventual proveito obtido
com a conduta ilícita; a reprovabilidade da conduta; o prejuízo causado pela sua conduta à
sociedade; e a vulnerabilidade do consumidor alvo da conduta danosa.
Nesse sentido, tem sido pacífica em várias cortes do país a condenação por dano moral
e os critérios para o “quantum” indenizatório. Vejamos:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TELEFONIA CELULAR.PROMOÇÃO. NATAL CLARO. RELAÇÃO DE CONSUMO. MÁPRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO MORAL PURO. A má prestação doserviço de telefonia móvel se mostra ocorrente quando a operadora ooferece de forma defeituosa aos seus clientes, o que configura a condutailícita. A prestadora deixa de apresentar a segurança que o consumidorpoderia dela esperar. Exegese do art. 14, §1º do CDC. A situaçãoexperimentada pelos consumidores da demandada não é caso de meroaborrecimento ou transtorno corriqueiro. Privados da utilização doserviço contratado, por falha da prestadora, viram-se os clientesfrustrados em sua expectativa de uso, restando caracterizado o danomoral. É presumível o incômodo de qualquer consumidor frente àcontratação de serviço que falha em razão da falta de suporte operacionalda prestadora. QUANTUM INDENIZATÓRIO. CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO.A indenização a título de reparação de dano moral deve levar em contanão apenas a mitigação da ofensa, mas também atender a cunho depenalidade e coerção, a fim de que funcione preventivamente, evitandonovas falhas administrativas. Indenização fixada em valor que nãoconfigura enriquecimento indevido por parte da autora e, ao mesmotempo, cumpre com o caráter repressivo-pedagógico da indenização.APELO PROVIDO.” (TJRS - AC 70024450033 - 9ª C.Cív. - Relª MarileneBonzanini Bernardi - DJ 24.09.2008) (Grifou-se)
16 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de Direito do consumidor: à luz da jurisprudência do STJ. - Salvador: Editora Juspodivm, 2009.
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Assim, devem os réus ser condenados a ressarcir da forma mais ampla possível os
consumidores, coletivamente considerados, pela violação latente de preceitos do Estatuto do
Torcedor e do Código de Defesa do Consumidor, e de modo a inibir novas atitudes semelhantes.
Cumpre ressaltar que parcela da doutrina consumerista qualifica o fato ocorrido em
24/06/2017, como hipótese geradora de danos sociais, apresentando uma fundamentação
jurídica, que em muito se assemelha à contida nesse tópico.
Caso seja esse o entendimento de Vossa Excelência (a existência de danos sociais), o
Ministério Público, atendendo ao princípio da eventualidade, requer a condenação dos requeridos
em danos sociais.
IX – DAS MEDIDAS ASSECURATÓRIAS DA SEGURANÇA DOS TORCEDORES QUE DEVEM
SER ADOTADAS PELOS REQUERIDOS
Dispõe o artigo 18 do Estatuto do Torcedor que “Os estádios com capacidade superior a
10.000 (dez mil) pessoas deverão manter central técnica de informações, com infraestrutura
suficiente para viabilizar o monitoramento por imagem do público presente”.
Pois bem. Já existe, no Estádio Serra Dourada, sistema de vigilância e monitoramento
das arquibancadas. Inclusive, o aparato tecnológico tem sido de grande valia para auxiliar a
identificação da prática de delitos – e seus respectivos agentes – e possibilitar a apreensão, em
flagrante, pela Polícia Militar, durante a realização das partidas de futebol.
Contudo, compete destacar que as soluções de tecnologia amadureceram muito nos
últimos anos, de modo que, atualmente, é absolutamente viável e acessível proceder análise de
dados por algoritmos e inteligência artificial, sem depender tanto da checagem humana,
comprovadamente ineficaz e pouco persistente.
Ainda, verifica-se a necessidade remodelar os sistemas atualmente vigentes no Estádio
Serra Dourada, sob pena de, em pouco tempo, tornarem-se obsoletos e sem adequação às
exigências e certificações internacionais.
9.1. DAS CERTIFICAÇÕES INTERNACIONAIS
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São exemplos de certificações internacionais na área de Segurança, a Norma
ANSI/BICSI 005-2016 (fls. 402/429) e a Norma Britânica (British Security Industry Association –
flS. 430/488) amplamente utilizada na Europa que, de maneira muito didática estabelece os
parâmetros mínimos de qualidade de imagem que devem ser aplicados nas diversas cenas, de
acordo com a resposta esperada.
Segundo a Norma Britânica são especificados os níveis de detalhamento de imagem
(pixels/m) de acordo com o objetivo a ser alcançado (fls. 441/442):
Objetivo Quantidade de pixels/m
Monitorar 12.5 pixels/m
Detectar 25 pixels/m
Observar 62.5 pixels/m
Reconhecer 125 pixels/m
Identificar 250 pixels/m
Convém citar, também, documentos relevantes como o Caderno de Características
Técnicas Mínimas dos Equipamentos (fl. 398), que lista os parâmetros de qualidade mínima que
devem ser considerados nos estádios de futebol, exigido para a realização da Copa do Mundo de
Futebol em 2014.
Além do mais, cumpre mencionar o Termo de Referência de Prestação de serviços de
soluções, sistemas, aplicativos e infraestrutura de tecnologia da informação e comunicação (TIC)
para o projeto segurança eletrônica das instalações (PSEI), da Secretaria Extraordinária de
Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça, espécie de edital de segurança das
arenas das Olimpíadas do Rio em 2016 (fls. 489/590) utilizado pelo governo federal para contratar
o serviço de câmeras de todas as arenas da competição. Considerando que as Olimpíadas foram
um sucesso do ponto de vista da segurança nas arenas, tem-se o procedimento como referência
positiva de projeto licitado.
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Prosseguindo a análise, o Caderno Fifa World Cup Brasil (fls. 299/397) consiste numa
compilação de recomendações técnicas e, devido ao modelo de compras governamentais do
Brasil, a maioria dos estádios teve adaptações com base em sua aplicação.
O modelo para a próxima copa do mundo – a realizar-se no ano de 2018 - é bastante
similar, porém as especificações técnicas já sofreram – em vista do transcurso de quase 04
(quatro) anos – algumas modificações como, por exemplo, a tendência de inclusão de controle
maciço (apesar de sutil) da identificação dos torcedores desde o processo de compra/venda do
ingresso, conforme evidenciado na reportagem de fl. 747.
Diversas matérias jornalísticas têm comentado o rigor com a segurança observado
durante os testes efetuados na Copa das Confederações, como exemplificado às fls. 749 e 751.
9.2. DO CADASTRO BIOMÉTRICO JÁ IMPLEMENTADO EM OUTROS ESTADOS DA
FEDERAÇÃO
Em termos de aplicação prática, no Brasil, podem ser citadas as melhorias
implementadas em arenas esportivas no estado do Rio Grande do Sul. Ambos os estádios Beira-
Rio e Arena Grêmio já contam com cadastro biométrico dos torcedores, que necessitam proceder
à validação das digitais em catraca especial para ingressar nos estabelecimentos.
No caso da Arena Grêmio, a adoção do sistema segue contrapartida estabelecida em
TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado entre o clube, órgão de segurança e o Ministério
Público do Rio Grande do Sul no ano de 2016.
O Controle de Acesso Biométrico é uma ferramenta que será utilizada paraidentificação individual dos torcedores. A implementação desse sistema naArena é uma evolução que colabora para o aumento da segurança dosusuários. O processo será implementado aos torcedores que desejam assistir aosjogos do Tricolor na Arquibancada Norte da Arena do Grêmio17.
De acordo com Thiago Floriano, supervisor do Departamento do Torcedor Gremista
(DTG), “o plano é proteger todo torcedor presente no setor. A ideia é que com a biometria fique
mais fácil identificar e individualizar responsabilidade e evitar punição genérica”18.
17 Disponível em: https://arenapoa.com.br/biometria18 Idem nota 18.
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Complementa, ainda, que “existe uma melhoria evidente de comportamento da
torcida, não só das organizadas. Depois de muitos anos, tivemos um clássico Gre-Nal sem
nenhuma ocorrência no Jecrim.(…) Existe evolução, sim, e a biometria visa alimentar esse
círculo virtuoso no estádio”.
Também no estado do Paraná, o Clube Atlético Paranaense, proprietário da Arena da
Baixada, já iniciou os procedimentos para implementação do acesso biométrico, com testes nos
jogos do campeonato brasileiro sub-20 (vide fls. 753).
Ademais, a descrição técnica para o Sistema de Monitoramento de Perímetro da Arena
Pernambuco (Fifa World Cup Brasil) contida nas fls. 299/397consiste em documento que enfoca a
concepção do projeto do sistema de monitoramento do perímetro, incluindo topologia,
dimensionamento, especificações dos materiais e desenhos que complementam o perfeito
entendimento da obra.
O escopo do mencionado projeto foi a implantação de um sistema de segurança por
imagem e com a visualização das imagens em tempo real, com o auxílio de softwares de modo a
possibilitar a recuperação de imagens gravadas de eventos ocorridos nas áreas da arena e ter
capacidade de gerenciar alarmes em caso de alguma anormalidade ou invasão (fl. 304).
9.2. DA SETORIZAÇÃO
De acordo com o Manual de recomendações para a segurança e conforto nos estádios
de futebol elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), subdividir a capacidade total do
estádio em pequenas unidades ou setores de cerca de 2.500 a 3.000 espectadores cada um,
permite um controle mais fácil de uma multidão de espectadores e a distribuição mais
equilibrada de banheiros, bares e restaurantes.(fl. 673).
Cada um destes setores deveria ter sua própria rota de circulação assim como sua quota
de instalações disponíveis e uma separação das diferentes categorias de espectadores também
deveria ser parte deste sistema. A efetiva divisão entre áreas pode algumas vezes ser
conseguida por simples barreiras ou por mudanças nos níveis de sua localização dentro
das arquibancadas (fl. 673)
No caso de separação de torcidas, cada setor deve ser completamente
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independente. Esta independência pode significar a implantação e o controle de rotas
protegidas com segurança policial para estes grupos, desde sua chegada pelos meios de
transporte até as catracas de entrada no estádio e daí até as suas áreas de assentos do
setor a eles reservados:
Por causa do efeito decisivo de padrão de subdivisão no planejamento das rotasde circulação, a administração deve ser ouvida no estágio inicial do projeto, sobresua proposta a respeito de como as áreas de assentos no estádio deverão serorganizadas. A forma mais usual é que nas arquibancadas a linhas de divisãocorram de cima para baixo, com “zonas neutras” policiadas separando os doisblocos dos torcedores dos times da “casa” e dos “visitantes”. Este padrão dedivisória tem a vantagem de ser flexível, pois esta “zona neutra” pode facilmenteser deslocada de um lado para outro para permitir um número maior ou menor detorcedores numa área determinada. Mas o vazio da “zona neutra” representa umaperda de renda, e o problema de assegurar acesso às saídas, banheiros einstalações de alimentação para todo mundo, precisa ser muito bem planejado.
No caso de dois lances de arquibancada, esta divisão de cima para baixo é outravez possível, pois um grupo de torcedores pode ser colocado na arquibancada decima e o outro na de baixo. Se os torcedores “visitantes” estiverem naarquibancada de cima não há risco de invasão de campo, mas existe apossibilidade de lançarem objetos nos torcedores da “casa” que ficaram em baixo,e qualquer tipo de problema se torna difícil de resolver por causa da relativainacessibilidade dos níveis superiores. Se os torcedores de fora forem colocadosna arquibancada inferior o problema pode parecer mais fácil de resolver, mas há orisco de invasão do campo, precisando assim de um número maior de policiais ouuso mais intenso de pessoal de apoio e segurança (fls. 80/81)19.
Importante ressaltar que alocar as torcidas organizadas em determinado setor facilita
sobremaneira a fiscalização e a manutenção da ordem e segurança.
Já foi, inclusive formalizado, um Termo de Ajustamento de Conduta (fls. 285/298) em
12.09.2011 entre o Ministério Público, a Polícia Militar do Estado de Goiás, as torcidas Força
Jovem, Esquadrão Vilanovense, Torcida Organizada Sangue Colorado, Torcida organizada
Dragões Atleticanos, a Federação Goiana de Futebol, o Goiás Esporte Clube, o Vila Nova Futebol
Clube, o Atlético Clube Goianiense, a Agência Goiana de Esporte e Lazer (AGEL) e o Ministério
do Esporte.
O documento supra visou a regularização dos atos constitutivos e a identificação e
cadastro dos membros das torcidas organizadas (fl. 287). Um primeiro passo para a
concretização do cadastro biométrico já foi dado.
19 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Manual de recomendações para a segurança e conforto nos estádios de futebol,2010. http://tmp.mpce.mp.br/nespeciais/nudetor/legislacao/manual_recomendacoes_seguranca_estadios.pdf
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Portanto, destacada a relevância do cadastro biométrico e da setorização de modo a
prevenir a violência nos espetáculos de futebol, é imprescindível a adoção de medidas de
segurança mais eficazes, para que, nos confrontos entre Vila Nova Futebol Clube e Goiás Esporte
Clube, não mais ocorram os eventos presenciados na data de 24/06/2017.
X – DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA
A Lei 7.347/85 prevê expressamente no seu art. 12 a possibilidade de concessão de
liminar, com ou sem justificação prévia, para evitar dano irreparável ou de difícil reparação,
presentes, claro, os requisitos do fumus boni iuris e o periculum in mora.
De outra parte, disciplina o artigo 294 do Código de Processo Civil o seguinte:
Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode serconcedida em caráter antecedente ou incidental.
Em relação à tutela de urgência, dispõe o artigo 300 do Código de Processo Civil o
seguinte:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos queevidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco aoresultado útil do processo.§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigircaução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possavir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamentehipossuficiente não puder oferecê-la.§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificaçãoprévia.§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quandohouver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
Para a concessão de tutelas de urgência é necessário evidenciar a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.
A probabilidade do direito está comprovada pelos documentos trazidos aos autos, que
revelam a aplicabilidade do direito à segurança resguardado pelo Estatuto (Lei nº 10.671 de
2003), assim como pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078 de 1990), ao torcedor que
frequenta estádios de futebol na capital goiana, bem como o histórico de confrontos entre as
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torcidas, a reincidência (reconhecida na decisão do STJD) e a séria dificuldade em se
manter a segurança dos torcedores esmeraldinos e vilanovenses nos clássicos.
O perigo de dano é latente, uma vez que já aconteceram os episódios de agressão e
violência relatados: a) agressão a torcedor do Goiás Esporte Clube por torcedor do Vila Nova
Futebol Clube infiltrado na torcida amiga do Figueirense; b) morte do torcedor esmeraldino Davi
Icário da Silva a caminho do Estádio Serra Dourada, antes da partida em 24.06.2017; c) briga
entre torcedores do Goiás e do Vila Nova na área interditada antes destinada à torcida geral,
culminando com cortes e hematomas na cabeça da vítima Wanderson Xavier de Sousa, que ficou
desacordado e, não fosse a intervenção do Batalhão de Choque da Polícia Militar, poderia ter sido
também vítima de homicídio.
Obtempere-se, nesse sentido, o recebimento de denúncia por torcedor do Vila Nova
Futebol Clube em 31.08.2017, solicitando a determinação de torcida única no próximo clássico
Vila Nova x Goiás, a realizar-se dia 14.10.2017 por ocasião do 2º turno da série B do Campeonato
Brasileiro de Futebol (fl. 738). Segundo narrou, sua preocupação deve-se ao fato de testemunhar
movimentações nas redes sociais – sobremaneira Facebook - e em diversos grupos do aplicativo
de mensagens WhatsApp articulando brigas, confusões e até morte na partida, configurando
nítida situação de tragédia anunciada, conforme demonstrado (fls. 739/745).
Todos os episódios poderiam ter sido evitados se de fato estivessem sendo tomadas as
devidas precauções para oferecer ao torcedor e consumidor segurança, conforme determinam as
leis específicas e a Constituição Federal.
Ademais, estabelece o art. 536 do Código de Processo Civil, que “no cumprimento de
sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de
ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente”, ao
passo que o art. 537 estatui que “a multa independe de requerimento da parte e poderá ser
aplicada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução,
desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para
cumprimento do preceito”.
Na espécie, a manutenção dos jogos no mesmo contexto acarretará os mesmos
problemas, o que reclama a imposição liminar de atos a serem praticados pelos requeridos, com a
cominação de multa, com vistas a assegurar o seu resultado prático.
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Presentes, portanto, a probabilidade do direito e o perigo de dano, necessário que:
a) seja determinado às entidades organizadoras (CBF e FGF) que autorizem partidas
entre Vila Nova Futebol Clube e Goiás Esporte Clube com torcida única, até que sejam
implementadas medidas eficientes e eficazes de segurança, tais como implantação de catraca
biométrica para identificação dos torcedores e disponibilização de local específico, isolado e
controlado para alocação das torcidas organizadas (setorização), a serem executadas pela
Agência Goiana de Obras e Transportes (AGETOP), mantenedora do Estádio Serra Dourada;
b) seja determinado aos clubes (Goiás Esporte Clube e Vila Nova Futebol Clube) que,
quando detiverem o mando de jogo, se abstenham de comercializar ingressos para a torcida
visitante nos clássicos Goiás x Vila Nova e Vila Nova x Goiás, até que sejam implementadas as
medidas de segurança supramencionadas (catracas biométricas e setorização).
XI – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS requer:
a) a concessão de tutela antecipada para determinar às entidades organizadoras (CBF e
FGF) que permitam a realização de partidas entre Vila Nova Futebol Clube e Goiás Esporte
Clube apenas com torcida única, até que sejam implementadas medidas eficientes e eficazes
de segurança, tais como implantação de catraca biométrica para identificação dos torcedores e
disponibilização de local específico, isolado e controlado para alocação das torcidas organizadas
(setorização), a serem executadas pela Agência Goiana de Obras e Transportes (AGETOP),
mantenedora do Estádio Serra Dourada.
b) seja cominada às entidades organizadoras (CBF e FGF) multa no valor de R$
1.000.000,00 (um milhão de reais), por jogo realizado em descumprimento da liminar, revertendo-
se os valores ao Fundo Estadual de Proteção e Defesa ao Consumidor - FEDC
c) a concessão de tutela antecipada para determinar aos clubes (Goiás Esporte Clube e
Vila Nova Futebol Clube) que, quando detiverem o mando de jogo, se abstenham de
comercializar ingressos para a torcida visitante nos clássicos Goiás x Vila Nova e Vila Nova x
Goiás, até que sejam implementadas as medidas de segurança supramencionadas (catracas
biométricas e setorização) no Estádio Serra Dourada.
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d) seja cominada aos clubes (Goiás Esporte Clube e Vila Nova Futebol Clube) multa no
valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), por jogo realizado em descumprimento da liminar,
revertendo-se os valores ao Fundo Estadual de Proteção e Defesa ao Consumidor – FEDC
e) a confirmação da tutela antecipada para CONDENAR as entidades organizadoras (CBF
e FGF) em obrigação de fazer consistente em permitir a realização de partidas entre Vila Nova
Futebol Clube e Goiás Esporte Clube apenas com torcida única, até que sejam
implementadas medidas eficientes e eficazes de segurança, tais como implantação de catraca
biométrica para identificação dos torcedores e disponibilização de local específico, isolado e
controlado para alocação das torcidas organizadas (setorização), a serem executadas pela
Agência Goiana de Obras e Transportes (AGETOP), mantenedora do Estádio Serra Dourada.
f) a confirmação da tutela antecipada para CONDENAR os clubes (Goiás Esporte Clube e
Vila Nova Futebol Clube) em obrigação de não-fazer consistente em se abster de comercializar
ingressos para a torcida visitante nos clássicos Goiás x Vila Nova e Vila Nova x Goiás, (quando
mandante da partida) até que sejam implementadas as medidas de segurança supramencionadas
(catracas biométricas e setorização) no Estádio Serra Dourada.
g) a CONDENAÇÃO da Agência Goiana de Trasportes e Obras - AGETOP em obrigação
de fazer consistente em garantir condições de segurança, para realização dos jogos Goiás x Vila
Nova e Vila Nova x Goiás, no Estádio Serra Dourada, através da implantação de catraca
biométrica para identificação dos torcedores e disponibilização de local específico, isolado e
controlado para alocação das torcidas organizadas (Setorização);
h) a CONDENAÇÃO genérica da CBF e do Goiás Esporte Clube (detentor do mando de
jogo) para ressarcir os danos materiais e morais sofridos pelos torcedores presentes na partida
realizada em 24.06.2017, nos termos do artigo 95 do Código de Defesa do Consumidor;
i) a CONDENAÇÃO da CBF e do Goiás Esporte Clube em danos morais coletivos (e/ou
danos sociais) no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) ocasionados na partida realizada
em 24.06.2017;
j) a citação dos réus para que, caso desejem, apresentem resposta ao pedido ora
interposto, sob pena de revelia;
k) a designação de audiência de conciliação prevista no art. 319,VII do CPC;
l) a comunicação pessoal dos atos processuais, nos termos do art. 41, inciso IV, da Lei nº
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8.625/93, 180 e 183, §1º do Código de Processo Civil;
m) a isenção de custas e emolumentos, nos termos do art. 4º, inciso III, da Lei 9.289, de 04
de julho de 1996, e artigo 18 da Lei 7.347/85;
n) a condenação dos réus ao pagamento das custas e emolumentos, bem como o ônus da
sucumbência.
Protesta provar os fatos alegados por meio de todas as provas admitidas em direito, em
especial, prova documental, pericial, testemunhal e inspeção judicial.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), para os fins
do art. 319, inciso V, do CPC.
Goiânia/GO, 15 de setembro de 2017.
MARÍSIA SOBRAL COSTA MASSIEUX Promotora de Justiça
70ª Promotoria de Justiça
SANDRO HENRIQUE SILVA HALFELDBARROS
Promotor de Justiça Coordenador do GFUT
DIEGO OSÓRIO DA SILVA CORDEIRO Promotor de JustiçaMembro do GFUT
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