acionamentos pneumático e hidráulico
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM MESTRADO ACADMICO
JLIA DE CSSIA MIGUEL VIEIRA
EDUCAO EM SADE COM ABORDAGEM TRANSCULTURAL: o
padro alimentar do idoso indgena
RECIFE
2013
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0
JLIA DE CSSIA MIGUEL VIEIRA
EDUCAO EM SADE COM ABORDAGEM TRANSCULTURAL: o
padro alimentar do idoso indgena
Dissertao apresentada ao Colegiado do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal de Pernambuco, para obteno do Ttulo de Mestre em Enfermagem.
Linha de Pesquisa: Enfermagem e Educao em Sade nos Diferentes Cenrios do Cuidar Grupo de pesquisa: Sade do Idoso Orientadora: Prof. Dra. Mrcia Carrra Campos Leal
RECIFE
2013
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JLIA DE CSSIA MIGUEL VIEIRA
EDUCAO EM SADE COM ABORDAGEM TRANSCULTURAL: o
padro alimentar do idoso indgena
Dissertao aprovada em: 26 de fevereiro de 2013.
______________________________________
Prof. Dra. Mrcia Carrra Campos Leal UFPE (Presidente)
________________________________________
Prof. Dra. Telma Marques da Silva UFPE
________________________________________
Prof. Dra. Silvana Maria Sobral Griz UFPE
________________________________________
Prof. Dra. Jael Aquino UPE
RECIFE
2013
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Dedico a Steven de Souza Pimentel, pelo companheirismo e fora em todas as etapas percorridas.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeo a Deus pelos dons e talentos recebidos, pelo cuidado e
conforto em todos os momentos.
A Steven de Souza Pimentel, companheiro de todas as horas, pelo incentivo e apoio
desde a seleo, que apesar das dificuldades sempre acreditou que seria possvel.
minha me, Maria Goreti Miguel Vieira, pelo exemplo de fora, humildade e
bondade, essenciais na formao de um ser humano capaz de reconhecer s necessidades dos
outros.
minha famlia, irmos, tios primos, que apesar da distncia estiveram na torcida e
em oraes.
minha nova famlia em Recife, representada por Elita Teixeira de Souza e Jos
Incio de Souza (in memorian), obrigada pelo apoio e carinho.
minha orientadora, Prof. Dra. Mrcia Carrra, por todos os ensinamentos no
somente acadmicos, mas tambm nos aspectos humanos, com carinho, compreenso e
respeito, obrigada pelo exemplo, incentivo, fora e oraes.
Prof. Dra. Ana Paula Marques, pelo apoio e acompanhamento em todo o processo
de construo deste estudo.
Prof. Dra. Eloine Alencar, inicialmente minha co-orientadora, pela ajuda antes
mesmo de iniciar este processo, obrigada pelos ensinamentos.
Ao Prof. Dr. Renato Athias, por sua contribuio desde a condio de bolsista eleita
do Programa Internacional de Bolsas de Ps-Graduao da Fundao Ford- IFP.
Ao Prof. Dr. Ednaldo Cavalcante pelo incentivo e colaborao na vivncia
intercultural de ensino e cuidado em enfermagem.
Aos Professores da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra pelos ensinamentos
acerca da Enfermagem Gerontlogica, em nome do Prof. Dr. Joo Apstolo.
equipe IFP representada pela Fundao Carlos Chagas no Brasil em nome da
Prof. Dra. Flvia Rosemberg, e em New York representada pela Prof. Dra. Joan Dassin.
Ao corpo docente do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem do Centro de
Cincias da Sade da Universidade Federal de Pernambuco, em nome da Coordenao
representada pela Prof. Dra. Cleide Maria Pontes e da Prof. Dra. Eliane Maria Ribeiro
Vasconcelos, pelos ensinamentos e pelo direcionamento na construo de nossos trabalhos
com qualidade.
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Aos funcionrios da Casa de Sade do ndio - CASAI de Manaus, em nome do Sr.
Severo Gamenha, sinceros agradecimentos.
Aos idosos e familiares internados na CASAI no perodo da coleta, pelos
ensinamentos acerca de seus valores culturais e humanos essenciais no desenvolvimento de
uma prtica de enfermagem transcultural.
s minhas amigas Patrcia Monteiro e Carmen Castro pelo apoio incondicional e por
mostrar que verdadeiras amizades superam qualquer distncia fsica.
s minhas novas amigas e companheiras de mestrado, Adriana, Ana Luzia, Danielle,
Emily, Felicialle, Francimar, Giselle, Marlia e Suely, obrigada pelo carinho e
compartilhamento das alegrias, tristezas e dificuldades que nos fortaleceram a cada dia.
Agradeo em especial Danielle Alencar, pela amizade, companheirismo e
compartilhamento dos novos conhecimentos acerca da gerontologia e pela construo
conjunta de todas as etapas percorridas neste processo.
Aos amigos e colegas bolsistas IFP pelos compartilhamentos e empenho na busca de
uma sociedade mais justa e igualitria.
A todos que contriburam direta e indiretamente para a concretizao deste trabalho,
muito obrigada.
-
O caminho de Deus perfeito; a palavra do Senhor
provada; ele escudo para todos os que nele se
refugiam.
(Bblia Sagrada, Livro dos Salmos captulo-18: 30)
-
VIEIRA, J.C.M. Educao em sade com abordagem transcultural: o padro alimentar do idoso indgena. Recife-PE: UFPE, 2013. 142 f. Dissertao (Mestrado em Enfermagem) Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, 2013.
RESUMO
A alimentao considerada fator essencial para manuteno da sade dos indivduos, sendo
permeada por contextos culturais particulares a grupos populacionais distintos, que em
situaes diferentes daquelas comumente vivenciadas, com a mudana de hbitos, podem
interferir no processo sade doena. Considerando as particularidades do idoso indgena, o
contexto alimentar em Instituies de Sade carece atender aspectos inerentes sua cultura,
crenas e valores que permeiam o ato de alimentar-se, que apesar das influncias de outros
povos, apresenta suas razes ligadas a tradies milenares. O estudo foi organizado conforme
as normas do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal de
Pernambuco em 4 captulos: reviso de literatura, mtodos e resultados do artigo de reviso e
artigo original. O artigo de reviso teve como objetivo avaliar as evidncias disponveis
acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em especial o indgena, cuja busca foi
realizada nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade
(LILACS), Literatura Internacional da rea Mdica e Biomdica (MEDLINE), Base de
Dados em Enfermagem (BDENF), selecionados 13 artigos conforme critrios
preestabelecidos. Os resultados mostraram estudos em diversos pases, porm nenhum
voltado ao idoso indgena, estes apontam mudanas nos hbitos alimentares de idosos,
associados principalmente a questes socioeconmicas e culturais, alm das mudanas
ocorridas com a globalizao e a transio nutricional. O artigo original teve como objetivo
avaliar o contexto cultural da alimentao de idosos indgenas. O estudo descritivo,
transversal, com abordagem quantitativa, teve como local de estudo a Casa de Sade do ndio
CASAI de Manaus no perodo de 90 dias com a participao de 30 idosos internados neste
perodo. Utilizou-se para anlise dos dados estatstica descritiva mediante o Software
Estatstico Livre R, com embasamento terico conceitual da Teoria do Cuidado Cultural
proposto por Madeleine Leininger. Os resultados demonstram as novas conformaes acerca
da viso de mundo e das dimenses das estruturas social e cultural, representada pela presena
de elementos tecnolgicos, nova configurao religiosa, modos de vida, questes econmicas,
educacionais e de ambiente. Neste contexto, cada fator oriundo do modelo Sunrise de
Leininger demonstra como o ambiente e o contexto social e cultural direcionam o padro
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alimentar do idoso seja na aldeia ou em Instituies de Sade. No aspecto geral da
alimentao e nutrio na CASAI, os alimentos oferecidos so bem aceitos, porm
apresentam-se parcialmente diferentes daqueles consumidos na aldeia, podendo estar
relacionado tendncia de significativa parcela referenciar a diminuio do apetite aps
internao e apresentar quadro de desnutrio segundo avaliao pelo ndice de massa
corporal. Partindo destes resultados foi elaborado material informativo sobre o contexto
cultural da alimentao de idosos indgenas voltados para melhoria do planejamento de
cuidados de enfermagem transcultural. Conclui-se que o contexto alimentar dos idosos est
intimamente arraigado sua cultura, porm apresenta mudanas nos hbitos alimentares com
forte influncia da globalizao. Inerente sade, os pontos principais relacionam-se
presena de doenas crnicas como hipertenso e diabetes, o alto consumo de acares e
gorduras, diminuio do apetite aps internao e quadro de desnutrio.
Descritores: Idoso. Populao indgena. Hbitos alimentares. Enfermagem transcultural.
Educao em sade.
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ABSTRACT
The feed is considered essential factor to maintaining the health of individuals, being
permeated by particular cultural contexts to different population groups, which in situations
different from those commonly experienced with changing habits, may interfere with the
health condition. Considering the peculiarities of the indigenous elderly, the feed context in
Institutions of Health meet needs inherent aspects of their culture, beliefs and values that
permeate the act of eating that despite the influences of other people, has its roots linked to
ancient traditions. The study was organized according to the rules of the Graduate Program in
Nursing, Federal University of Pernambuco in 4 chapters: literature review, methods and
results of the literature review and original article. The review article aim was to evaluate the
available evidence on the issue of food and nutrition elderly, especially the indigenous, whose
search was conducted in the databases: Latin American and Caribbean Health Sciences
(LILACS), Literature International medical and biomedical (MEDLINE), Database of
Nursing (BDENF), selected 13 papers as established criteria. The results showed studies in
several countries, but none facing the indigenous elderly, these suggested changes in the
eating habits of the elderly, mainly associated socioeconomic and cultural issues, in addition
to changes with globalization and the nutrition transition. The original article aim was to
evaluate the cultural context of feeding elderly indigenous. The descriptive study, transversal,
with a quantitative approach, had as local of study the Health House of Indian CASAI
Manaus within 90 days with the participation of 30 elderly patients hospitalized during this
period. Was used for data analysis descriptive statistics by Statistical Software R Free, with
basement conceptual theoretical the Theory of Cultural Care proposed by Madeleine
Leininger. The results show the new conformations about the worldview and dimensions of
social and cultural structures, represented by the presence of technological elements, new
religious setting, livelihoods, economic issues, educational and environment. In this context,
each factor derived from Sunrise Model of Leininger demonstrates how the environment and
the social and cultural context direct the feeding patterns of the elderly is in the village or in
Health Institutions. In general aspect of food and nutrition in CASAI, foods offered are well
accepted, but have partially different from those consumed in the village, which may be
related to the tendency to cite significant portion decreased appetite after hospitalization and
present framework of malnutrition as assessed by body mass index. From these results were
prepared information materials about the cultural context of Indian food elderly facing better
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planning of transcultural nursing care. We conclude that the context feed the elderly is closely
rooted to their culture, but shows changes in eating habits with a strong influence of
globalization. Inherent to health, the main points related to the presence of chronic diseases
such as hypertension and diabetes, high consumption of sugars and fats, decreased appetite
after hospitalization and framework of malnutrition.
Descriptors: Aged. Indigenous population. Food habits. Transcultural nursing. Health
education.
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LISTA DE ILUSTRAES
REVISO DE LITERATURA
Figura 1. Pirmide etria populacional indgena da regio norte do Brasil....................... 20
Figura 2. Organizao do DSEI e Modelo Assistencial.................................................... 23
Figura 3. Mapa do Brasil com localizao dos DSEI....................................................... 25
Quadro 1. Etnias indgenas do Estado do Amazonas....................................................... 19
Quadro 2. Principais marcos da legislao sobre Sade indgena no Brasil..................... 24
MTODO
Figura 1. Modelo Sunrise de Leininger e as dimenses da diversidade e universalidade
do cuidado cultural............................................................................................................
35
ARTIGO 1
Tabela 1. Artigos encontrados nas bases de dados LILACS, MEDLINE E BDENF..... 30
Quadro 1. Sinopse dos artigos inclusos na reviso integrativa..........................................
46
ARTIGO 2
Figura 1. Modelo Sunrise de Leininger............................................................................. 66
Figura 2. Modelo Sunrise adaptado para o cuidado cultural indgena.............................. 69
Figura 3. Padro alimentar de idosos indgenas segundo a frequncia de consumo......... 73
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALCESTE - Anlise Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto
BDENF Base de Dados em Enfermagem
CASAI Casa de Sade do ndio
DSEI Distrito Sanitrio Especial Indgena
ENDEF - Estudo Nacional de Despesa Familiar
FBS - Fundao Brasil Central
FNS - Fundao Nacional de Sade
FUNAI Fundao Nacional do ndio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IFP International Fellowship Program / Programa Internacional de Bolsas de Ps-
Graduao da Fundao Ford
IMC ndice de Massa Corporal
LILACS Literatura Latino Americana em Cincias da Sade
MEDLINE Medical Literature and Retrieval System on Line
OMS Organizao Mundial de Sade
PBE Prtica Baseada em Evidncias
PNDS - Pesquisa Nacional sobre Demografia e Sade
PNI Poltica Nacional do Idoso
PNSN - Estudo Nacional sobre Sade e Nutrio
PUC Pontifcia Universidade Catlica
SESAI Secretaria Especial de Sade Indgena
SISREG- Sistema de Regulao do SUS
SUS Sistema nico de Sade
SUSA - Servio de Unidades Sanitria
TDUCC - Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural
UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
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SUMRIO
1 INTRODUO .............................................................................................................. 14
2 CAPTULO 1 - REVISO DE LITERATURA......................................................... 19
2.1 Os idosos indgenas no Brasil ..................................................................................... 19
2.2 Sade indgena no Brasil ............................................................................................ 22
2.3 Alimentao e nutrio dos idosos indgenas brasileiros.......................................... 25
2.4 O papel da enfermagem nos diversos cenrios do cuidar: uma abordagem transcultural
27
3 CAPTULO 2 - MTODO............................................................................................. 29
4 CAPTULO 3 - ARTIGO DE REVISO..................................................................... 41
5 CAPTULO 4- ARTIGO ORIGINAL.......................................................................... 61
6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................ 83
REFERNCIAS................................................................................................................ 85
APNDICES...................................................................................................................... 93
APNDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE......................... 93
APNDICE B Termo de Responsabilidade do Pesquisador.......................................... 95
APNDICE C Termo de Autorizao para Pesquisa DSEI Manaus............................. 96
APNDICE D Termo de Autorizao para Pesquisa FUNAI Manaus......................... 97
APNDICE E Instrumento de Coleta de Dados do Artigo Original ............................. 98
APNDICE F Material Informativo nos moldes da Teoria de Leininger ................... 104
ANEXOS............................................................................................................................. 121
ANEXO A Instrumento de avaliao do rigor metodolgico dos artigos selecionados na reviso integrativa.........................................................................................................
121
ANEXO B Instrumento para classificao hierrquica das evidncias para avaliao dos estudos selecionados na reviso integrativa..............................................
123
ANEXO C Carta de Anuncia DSEI................................................................................ 124
ANEXO D Carta de Anuncia FUNAI............................................................................. 125
ANEXO E Parecer do Comit Nacional de tica em Pesquisa....................................... 126
ANEXO F Normas de publicao da Revista de Nutrio PUC de Campinas ............ 129
ANEXO G Normas de publicao da Revista de Enfermagem da UERJ ..................... 137
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14
1 INTRODUO
O envelhecimento populacional considerado um fenmeno mundial1. Estima-se
que o nmero de pessoas com mais de 60 anos, em termos de proporo da populao global,
aumentar de 11% em 2009 para 22% em 20502.
Estudo realizado pelas Naes Unidas (2009) aponta que este acontecimento resulta
da transio de alta para baixa fertilidade e a sucessiva reduo da mortalidade adulta,
representando uma mudana demogrfica sem precedentes iniciada no mundo desenvolvido
no sculo XIX e, de modo recente nos pases em desenvolvimento, os quais apresentam
propenso ao clere crescimento no futuro prximo, devido ao menor tempo de adaptao s
mudanas associadas a este fenmeno2.
No Brasil, o quadro demogrfico vem evidenciando uma reduo no ritmo de cres-
cimento populacional e alteraes na sua estrutura etria. Este processo de transio associado
queda das taxas de mortalidade e fecundidade tem causado uma acelerada variao na estru-
tura etria do pas, com diminuio da proporo de crianas e jovens, aumento da populao
adulta e uma tendncia expressiva da elevao de idosos3.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) apontam a projeo
populacional brasileira para um aumento do nmero de idosos acima de 60 anos ou mais, com
duplicao no perodo de 2000 a 2020, ao passar de 13,9 para 28,3 milhes, elevando-se em
2050 para 64 milhes4. No estado do Amazonas, os dados referentes a este grupo populacio-
nal mostram o aumento de 4,9% no ano 2000 para 6% em 20103.
Neste cenrio, importante considerar que, o processo de envelhecimento apresenta
mudanas especiais na sade do idoso, incluindo fatores de origem fisiolgica ou em
decorrncia de outros fatores externos, o que pode interferir direta ou indiretamente na
manuteno e promoo da sade desta populao.
De tal modo, os idosos diferenciam-se conforme sua histria de vida, seu nvel de
independncia funcional e necessidade de servios de sade, onde a avaliao deve estar
embasada no processo de envelhecimento e de suas particularidades de acordo com a
realidade sociocultural em que vivem5. No caso de idosos com culturas distintas,
especialmente os indgenas, reconhecer as mudanas peculiares ao envelhecimento e aspectos
inerentes cultura fundamental na prestao dos cuidados de sade.
Em relao aos servios de sade prestados ao idoso indgena, estes so realizados
-
15
nos municpios amazonenses atravs do Subsistema de Ateno Sade Indgena, organizado
na forma de Distrito Sanitrio Especial Indgena (DSEI), disposto de uma rede de servios de
sade articulado com o Sistema nico de Sade (SUS), composto por plos-base ou posto de
sade, e apresenta como apoio em alguns municpios as Casas de Sade do ndio (CASAI).
Entretanto, para execuo de servios de sade a estes idosos, a ausncia de recursos
humanos representa uma das principais barreiras de acesso, alm das barreiras geogrficas,
financeiras, organizacionais, informacionais e culturais, que expressam o tipo da oferta que,
de modo conexo, operam promovendo ou dificultando a possibilidade destas pessoas
utilizarem os servios de sade6.
No caso das comunidades indgenas amazonenses, estas apresentam particularidades
geogrficas que atuam dificultando o acesso aos servios de sade, devido s distncias
percorridas em horas ou dias entre os municpios e comunidades. Alm disso, grande parte
destas apresenta deslocamento majoritariamente por via fluvial e em alguns casos por via
area.
Nesse contexto, considerando a diversidade tnica no Estado do Amazonas e a
misso da CASAI em direcionar suas atenes para populao indgena, de fundamental
importncia que a equipe de enfermagem no direcione suas aes apenas para idosos
acometidos por doenas em geral, mas atue com uma viso holstica no cuidado ao ser
humano, com suas particularidades e necessidades individuais e coletivas, respeitando suas
crenas e costumes como um todo.
Durante vivncia profissional em uma CASAI do interior do Amazonas, observou-se
que alguns idosos indgenas, ao chegar Instituio recusavam a alimentao, o que
provavelmente contribua para o retardamento do processo de recuperao da sade e de seu
estado geral. Em conversas individuais sobre tal situao, muitos informaram que alm da
interferncia da doena no gostavam da comida de branco, por isso no se alimentavam,
sendo necessria a adaptao de cardpio de acordo com a disponibilidade dos alimentos no
municpio.
Acredita-se que o processo de sada das aldeias indgenas para a cidade de Manaus
pode contribuir para diversas alteraes no contexto alimentar, interferindo no processo
sade-doena do idoso, pois alm de estar longe de seu povo, pode encontrar diversos
obstculos que impeam o desenvolvimento de suas prticas sociais e culturais.
-
16
No mbito da sade, a alimentao considerada um fator imprescindvel para
promover, manter e/ou recuperar a sade em todas as fases da vida, com variao das
necessidades nutricionais de acordo com sexo, faixa etria, atividade fsica, estado fisiolgico
ou patolgico7.
Dentre as medidas propostas para a assistncia ao idoso no aspecto nutricional
recomenda-se o acompanhamento da aceitao da dieta diariamente, observao de alteraes
de peso associada ingesto alimentar, favorecendo a adequao da dieta e intervenes
necessrias para o envelhecimento saudvel1.
Com o processo de envelhecimento, sendo este normal e fisiolgico, surgem
alteraes no organismo que podem alterar as necessidades nutricionais, podendo agravar-se
pelo surgimento de doenas, interferncias medicamentosas, problemas sociais e
psicolgicos7.
Segundo pesquisadores de referncia para sade indgena, ainda sabe-se pouco sobre
o perfil nutricional do indgena brasileiro8-9, o que refora a necessidade de investigar o
padro alimentar e nutricional do idoso indgena, bem como suas interferncias na
recuperao de sua sade, utilizando de uma abordagem transcultural que possa fornecer
subsdios que auxiliem a enfermagem na prestao da assistncia e adequao dos processos
de educao em sade para a referida populao.
Face s peculiaridades ocorridas no processo de envelhecimento, e a diversidade da
populao indgena, em especial o idoso, estudos relacionados questo alimentar tornam-se
importantes para entender o processo sade-doena e promover o adequado cuidado de
enfermagem, utilizando como ferramenta principal a educao em sade.
Nesse nterim, a educao e a sade atuam como meios de produo e emprego de
conhecimentos voltados ao desenvolvimento de uma sociedade, que interligados, seja em dis-
tintos nveis de ateno sade ou na aquisio contnua de conhecimentos pelos profissio-
nais de sade, ocorre um aproveitamento mesmo que inconscientemente de um ciclo perma-
nente de ensino e aprendizagem10.
Partindo desse pressuposto, a CASAI representa um cenrio onde a enfermagem
alm de reconhecer as particularidades dos pacientes, ao mesmo tempo pode utilizar os co-
nhecimentos adquiridos na melhoria dos cuidados prestados em um ciclo constante de educar
e cuidar.
-
17
Para a compreenso deste estudo ser utilizado como embasamento a Teoria Trans-
cultural de Leininger11, que enfatiza a importncia para o enfermeiro em reconhecer o signifi-
cado do cuidado cultural, os mtodos de cuidado caractersticos de cada cultura e como os fa-
tores culturais so capazes de influenciar no cuidado ao indivduo.
A teoria transcultural valoriza a importncia que os fatores culturais desempenham
no ser humano, pois se o idoso for cuidado de forma incongruente em relao aos seus pa-
dres e crena poder apresentar sinais de conflitos culturais, frustrao, estresse e preocupa-
es de ordem moral e tica12.
Para o alcance do cuidado cultural, o processo de educar em sade se torna a
ferramenta fundamental para a implementao e adequao dos cuidados de enfermagem,
sendo importante que os profissionais no mbito da educao em sade, valorizem o modo de
ser individual e coletivo das pessoas, respeitando seus pontos de vista e seu modo de viver e
preservar a sade, bem como os aspectos simblicos de seu convvio13.
A equipe de enfermagem atravs de suas aes prticas mantm uma importante
aproximao com o paciente submetido a cuidados em instituies de sade14. Portanto, este
estudo poder auxiliar o Enfermeiro no reconhecimento das especificidades desta populao,
contribuindo para a melhor assistncia e direcionamento das prticas de educao em sade.
Dentre os aspectos prioritrios para os cuidados de enfermagem em nutrio,
importante a verificao de alteraes no paladar e olfato, que podem ocorrer em decorrncia
da reduo do nmero e mudanas na funo de papilas gustativas, atrofia das fibras olfatrias
que recobrem a mucosa nasal, reduo da secreo salivar, uso de medicamentos, carncia
nutricional e higiene oral imprpria, sendo recomendados os seguintes cuidados15:
Com relao s alteraes papilares e das fibras olfatrias, deve-se salientar a
importncia de alimentos com bom tempero;
A diminuio da secreo salivar pode ser aliviada com ingesto frequente de
lquidos e bochechos com gua quando da sensao de secura bucal;
A diversificao alimentar evita carncias nutricionais e os regimes alimentares
devem ser orientados considerando-se o hbito de pacientes e a dificuldade em
modifica-los;
A higiene oral (boca, dentes e/ou prteses) deve ser estimulada para proporcionar
uma sensao agradvel de frescor oral e, estimular o apetite 15.
Nesse nterim, enfatiza-se que, o idoso indgena apresenta hbitos alimentares parti-
culares relacionados sua cultura, onde a alimentao est relacionada a crenas, valores,
-
18
costumes, rituais, interao social, e mudanas ocorridas podem alterar o padro alimentar e a
manuteno e recuperao da sade do idoso. Mediante o exposto, este estudo apresenta a se-
guinte pergunta condutora: Qual o contexto cultural alimentar do idoso indgena na CASAI
Manaus?
Desse modo, o estudo apresenta como objetivo geral: avaliar o contexto cultural da
alimentao de idosos indgenas na CASAI de Manaus; e como objetivos especficos: descre-
ver o padro alimentar na CASAI; identificar os hbitos alimentares dos idosos na CASAI e
na comunidade; descrever o contexto cultural alimentar segundo a teoria do cuidado cultural;
verificar as condies de sade; avaliar o estado nutricional.
De acordo com as normas do Programa de Ps-graduao em Enfermagem da Uni-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE), a dissertao foi estruturada em quatro captulos,
sendo apresentados dois artigos: um de reviso integrativa da literatura e outro do artigo ori-
ginal, a serem encaminhados para publicao em peridico cientfico.
O primeiro captulo apresenta a reviso da literatura com abordagem geral sobre o
ndio brasileiro enfatizando o idoso, aspectos polticos da sade indgena, o cenrio da ali-
mentao e nutrio indgena e o papel da enfermagem transcultural no processo de cuidado e
educao em sade em diferentes contextos culturais.
O segundo captulo descreve o mtodo de forma detalhada, utilizado nos dois artigos
cientficos.
O terceiro captulo refere-se ao artigo de reviso Padro alimentar de idosos em di-
ferentes contextos culturais submetido Revista de Nutrio da Pontifcia Universidade Ca-
tlica (PUC) de Campinas, cujo objetivo foi avaliar as evidncias disponveis na literatura
acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em especial o indgena.
O quarto captulo corresponde ao artigo original: Alimentao do idoso indgena sob
a tica da enfermagem transcultural organizado nos moldes da Revista de Enfermagem da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), cuja submisso ser realizada aps
aprovao pela banca examinadora.
-
19
2 CAPTULO 1 - REVISO DA LITERATURA
2.1 Os idosos indgenas no Brasil
No Brasil existem mais de duzentas etnias indgenas, disseminadas por quase todos
estados brasileiros, cujos povos so culturalmente distintos em comparao sociedade
nacional e entre si, com cosmologias, dialetos, meios de subsistncia, organizao social e
sistemas polticos prprios16.
Discutir sobre os ndios brasileiros significa falar de diversidade de povos, cujos
habitantes originariamente ocupavam o territrio conhecido nos dias atuais como continente
americano, ocupao que se data de milhares de anos antecedentes invaso europeia,
destacando-se alguns critrios mais aceitos de autodefinio entre esses povos, ressaltando que
estes no so singulares e nem excludentes17:
Continuidade histrica com sociedades pr-coloniais; Estreita vinculao com o
territrio; Sistemas sociais, econmicos e polticos bem definidos; Lngua, cultura e
crenas definidas; Identificar-se como diferente da sociedade nacional e; Vinculao
ou articulao com a rede global dos povos indgenas.
De acordo com dados da Fundao Nacional do ndio FUNAI (2012), a populao
indgena brasileira representa cerca de 0,4 da populao nacional com 817.000 ndios,
somente no Amazonas concentra-se cerca de 20% totalizando 168.680 ndios, distribudos na
rea urbana em 34.302, rural em 134.37, pertencentes a diversos grupos tnicos, em mdia
66 etnias indgenas, conforme figura abaixo18:
Quadro 1. Etnias indgenas do Estado do Amazonas
Apurin Iss Katawixi Marimam Parintintin Tuyca Arapso Jarawara Katukina Marubo Paumari Waimiri-Atroari Aripuan Juma Katwen Matis Pirah Waiwi Banav-Jaf Juriti Kaxarari Mawaina Pira-tapya Wanana Baniwa Kaixana Kaxinaw Maw Sater-Maw Warekena Barasna Kambeba Kayuisana May Surina Wayampi Bar Kanamari Kobema Mayoruna Tarina Xeru Deni Kanamanti Kokama Miranha Tenharin Yamamadi Desana Karafawyna Korubo Miriti Tor Yanomami Himarim Karapan Kulina Munduruku Tukano Zuruah Hixkaryana Karipuna Maku Mura Tukna
Fonte: FUNAI, 2012.
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20
Em 1991, a populao indgena praticamente era dividida entre a proporo de crian-
as e adolescentes (0 a 14 anos de idade) e a proporo de adultos (15 a 64 anos de idade),
enquanto os idosos (65 anos ou mais de idade) representavam 4,7% da populao total de in-
dgenas19. Dados recentes apresentam a pirmide etria indgena da regio norte20, cuja base
larga e vai se reduzindo com a idade, em um arqutipo que conjetura suas altas taxas de fe-
cundidade e mortalidade, bastante influenciadas pela populao rural.
Figura 1 Pirmide populacional indgena da Regio Norte
Fonte: IBGE, 2010.
O idoso indgena est amparado por polticas voltadas ateno aos povos indgenas
em geral21, e pela Poltica Nacional do Idoso22, de acordo com as normas que regulamentam
esta lei para o idoso brasileiro.
Segundo a Poltica Nacional do Idoso considera-se idoso, para os efeitos desta Lei, a
pessoa maior de sessenta anos de idade, conforme o artigo 3 que rege-se pelos seguintes
princpios:
I - a famlia, a sociedade e o estado tm o dever de assegurar ao idoso todos os direi-
tos da cidadania, garantindo sua participao na comunidade, defendendo sua digni-
dade, bem-estar e o direito vida;
-
21
II - o processo de envelhecimento diz respeito sociedade em geral, devendo ser ob-
jeto de conhecimento e informao para todos;
III - o idoso no deve sofrer discriminao de qualquer natureza;
IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatrio das transformaes a serem
efetivadas atravs desta poltica;
V - as diferenas econmicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradies
entre o meio rural e o urbano do Brasil devero ser observadas pelos poderes pbli-
cos e pela sociedade em geral, na aplicao desta Lei22.
A Poltica Nacional de Ateno Sade dos Povos Indgenas integra a Poltica Naci-
onal de Sade, convencionada s determinaes das Leis Orgnicas da Sade com as da
Constituio Federal, que reconhecem aos povos indgenas suas especificidades tnicas e cul-
turais e seus direitos territoriais. A implementao desta poltica remete adoo de um mo-
delo complementar e distinto de organizao dos servios direcionados proteo, promoo
e recuperao da sade, que garanta aos ndios o exerccio de sua cidadania nessa rea21.
Apesar da ausncia na literatura especializada sobre a importncia do ndio para a
sociedade brasileira, suas contribuies iniciaram-se aps a chegada dos portugueses, com as
orientaes tcnicas sobre sobrevivncia na selva e enfrentamento de seus perigos, alm de
suas influncias culturais e religiosas incluindo seus conhecimentos milenares da medicina
tradicional e mtodos de subsistncia. Tais contribuies denotam a importncia desses povos
no somente na poca da colonizao, mas atualmente como atores que preservam seus sabe-
res e na manuteno do equilbrio ecolgico to considerado pelo mundo inteiro17.
Na cultura indgena, o milenar conhecimento dos mais velhos (idosos) destacado
por seus domnios acerca do conhecimento de prticas teraputicas para o tratamento de do-
enas, sendo considerados os guardies das tradies indgenas em seu grupo tnico, devido
seus vrios anos de convvio com muitas pessoas e por serem dotados de dons superiores que
permitem a cura de males e prticas de equilbrio da natureza23.
Neste cenrio o papel do idoso na cultura indgena, representa o respeito por parte
dos mais jovens que se deve suas experincias e conhecimentos adquiridos de gerao em
gerao, e sua contribuio para harmonia de seu povo.
Nas ltimas dcadas houve um aumento nos movimentos de reivindicao e
conquista de direitos indgenas, favorecendo o seguimento de novos caminhos das polticas
voltadas para os povos indgenas, apoiadas no modelo da particularidade da diferena, da
interculturalidade e da apreciao da diversidade8.
-
22
Tais polticas vm sendo desenvolvidas no mbito das polticas especificas da
populao indgena, mas sem muita nfase para as necessidades humanas e culturais, menor
ainda no que se refere ao idoso, o que demonstra a necessidade de intensificar os modelos de
cuidados em sade que busquem a interao entre usurios dos servios de sade para atender
de forma holstica esta populao.
2.2 Sade indgena no Brasil
A partir do incio do sculo XX, especificamente em 1918 inicia-se o processo de
criao e implantao de medidas voltadas ao cuidado da populao indgena, comeando
com a criao do Servio de Proteo aos ndios. Todavia, somente em 1940, surgiram as
primeiras tentativas de proporcionar aos povos indgenas servios de sade, partindo da
iniciativa de Noel Nutels, que buscou reconhecer a realidade desta populao por meio da
expedio Roncador-Xingu, organizada pela Fundao Brasil Central (FBC) 24.
Nutels criou em 1952, um plano para defesa do ndio brasileiro contra a tuberculose,
identificada como um dos principais agravos de sade, destacando a importncia da criao
de barreiras sanitrias ao redor dos territrios indgenas. Este plano foi vigorado pelo
Ministrio da Sade (MS) em 1956, denominado Servio de Unidades Sanitria (SUSA),
vinculado ao Servio Nacional de Tuberculose24.
A partir deste perodo at 1990, a sade indgena passou por transies, at a regu-
lamentao pelo Decreto n. 3.156, de 27 de agosto de 1999, sobre as condies de assistncia
sade, e pela Medida Provisria n. 1.911-8, acerca da organizao da Presidncia da Rep-
blica e dos Ministrios, incluindo a transferncia de recursos humanos e outros bens destina-
dos s atividades de assistncia sade da FUNAI para a Fundao Nacional de sade
(FUNASA), e pela Lei n 9.836/99, de 23 de setembro de 1999, que constitui o Subsistema de
Ateno Sade Indgena no mbito do SUS, conforme figura abaixo24.
-
23
Figura 2. Organizao do DSEI e Modelo Assistencial
Fonte: Ministrio da Sade, 2002.
Para o alcance dos propsitos da Poltica Nacional de Ateno Sade dos Povos
Indgenas so estabelecidas as seguintes diretrizes, com objetivo de orientar a definio de
ferramentas de planejamento, implementao, avaliao e controle das aes de ateno sa-
de dos povos indgenas:
Organizao dos servios de ateno sade dos povos indgenas na forma de Dis-
tritos Sanitrios Especiais e Plos-Base, no nvel local, onde a ateno primria e os
servios de referncia se situam;
Preparao de recursos humanos para atuao em contexto intercultural;
Monitoramento das aes de sade dirigidas aos povos indgenas;
Articulao dos sistemas tradicionais indgenas de sade;
Promoo do uso adequado e racional de medicamentos;
Promoo de aes especficas em situaes especiais;
Promoo da tica na pesquisa e nas aes de ateno sade envolvendo comuni-
dades indgenas;
Promoo de ambientes saudveis e proteo da sade indgena;
Controle social21.
-
24
Segue no quadro abaixo16 os principais marcos das legislaes para a populao
indgena no Brasil. A partir de 2012 a sade indgena passa por transio na sua gesto da
FUNASA para a Secretaria Especial de Sade Indgena (SESAI) do Ministrio da Sade.
Quadro 2. Principais marcos da legislao sobre sade indgena no Brasil
Temas /Documentos Assuntos
Decreto 23 /1991 Transfere da Funai para o Ministrio da Sade a responsabilidade pela coordenao das aes de sade para populao indgena.
Decreto 1.141 / 1994 Constitui a Comisso intersetorial (CSI) e retorna a Coordenao da Sade indgena para Funai, sendo esta responsvel pela questo curativa, e o Ministrio da Sade pelas aes de preveno (revoga o decreto 23 / 1991)
Resoluo 196 / 1996 do Conselho Nacional de Sade
Aprova diretrizes e normas regulamentadoras sobre pesquisas com seres humanos, indicando a especificidade da populao indgena.
Lei 9.836 (Lei Arouca) Institui no mbito do SUS, o Subsistema de Ateno Sade indgena, criando regras de atendimento diferenciado e adaptado s particularidades sociais e geogrficas de cada regio.
Portaria 852 /1999 do Ministrio da Sade
Cria os Distritos Sanitrios Especiais Indgenas (DSEI)
Portaria 1.163 / 1999 do Ministrio da Sade
Dispe sobre as responsabilidades na prestao de assistncia sade dos povos indgenas no Ministrio da Sade.
Portaria 479 / 2001 da Funasa
Estabelece diretrizes para elaborao de projetos de estabelecimento de sade, abastecimento de gua, melhorias sanitrias e esgotamento sanitrio, em reas indgenas.
Portaria 254/2002 do Ministrio da Sade
Aprova a Poltica Nacional de Ateno Sade dos povos indgenas.
Portaria 2.405 /2002 do Ministrio da Sade
Cria o Programa de Promoo da Alimentao Saudvel em comunidades indgenas.
Portaria 69 / 2004 da Funasa
Dispe sobre a criao do Comit consultivo da Poltica de Ateno Sade dos Povos indgenas, vinculado Funasa.
Fonte: Santos, 2009.
-
25
No atual modelo de ateno sade indgena, os DSEI esto divididos em 34 por
todo o pas, respeitando a distribuio geogrfica e particularidades tnicas da populao,
conforme figura abaixo21.
Figura 3. Mapa do Brasil com localizao dos DSEI
Fonte: Ministrio da Sade, 2002.
Destaque para os DSEI pertencentes ao Estado do Amazonas, conforme localizao
no mapa: 5 - Alto Rio Purus - AC/AM; 6 - Alto Rio Negro AM; 7 - Alto Rio Solimes
AM; 13- Vale do Javari AM; 18- Manaus AM; 22- Mdio Rio Purus AM; 23- Parintins
- AM/PA; 25- Porto Velho - RO/AM; 29- Mdio Rio Solimes e Afluentes AM; 34-
Yanomami - RR/AM.
2.3 Alimentao e nutrio dos idosos indgenas brasileiros
Tempos atrs, para a sua subsistncia, os povos indgenas utilizavam da agricultura,
caa, pesca e coleta, porm, com a influncia das organizaes expansionistas, surgiram
novos padres econmicos, restries territoriais e outros fatores que contriburam para
expressiva mudana em sua subsistncia, resultando na diminuio e dficit no padro
alimentar8.
-
26
Nas dcadas de 1970 a 1990 os trs principais estudos de pesquisas nacionais no
incluram a populao indgena como segmento de anlise especfica, ocorridos no perodo de
1974 a 1975 o Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF), em 1989 o Estudo Nacional
sobre Sade e Nutrio (PNSN) e em 1996 a Pesquisa Nacional sobre Demografia e Sade
(PNDS)8.
A partir dos anos 70 surgiu a realizao de vastos e minuciosos estudos sobre as
condies de alimentao e nutrio da populao brasileira, porm no ocorreu semelhante
para os indgenas, j que atualmente o problema alimentar e nutricional um assunto
fundamental das discusses do setor indgena, com amplo aparecimento nos crculos da
mdia. Entretanto, apesar da falta de levantamentos mais abarcantes, ocorreu nos ltimos anos
um acentuado aumento no nmero de investigaes sobre as questes nutricionais dos povos
indgenas no pas16.
Como avano neste campo, foi realizado entre 2008-2009, o I Inqurito Nacional de
Sade e Nutrio dos Povos indgenas, com o objetivo de descrever a situao alimentar e
nutricional e fatores determinantes em crianas < de 60 meses e mulheres de 14 a 49 anos de
idade. Alm disso, nos ltimos anos foram realizados estudos relacionados questo
nutricional de crianas, com investigao da sade e nutrio25-27. Outros estudos, neste
mbito, avaliaram o crescimento fsico, perfil nutricional e o uso do ndice de Massa Corporal
(IMC) na avaliao do estado nutricional de adultos28-29.
O resultado dos estudos com crianas indgenas evidenciou graves quadros de
anemia, desnutrio, baixa estatura para idade, baixo peso, cuja introduo de alimentos
industrializados e mudanas culturais no mbito alimentar so apontadas como fatores
desencadeantes para esse conjunto30-33. Em relao aos adultos, a maioria dos estudos remete
para a questo do sobrepeso e obesidade, bem como os riscos para doenas metablicas,
devido s constantes modificaes nos estilos de vida tradicionais e suas formas de
subsistncia34-36.
Em relao aos idosos indgenas, os dados so escassos, j que a maioria dos estudos
tem retratado o perfil alimentar e nutricional de crianas, que apresentaram e ainda
apresentam agravantes considerados como riscos para a sade, principalmente quando
comparados a indicadores no mbito nacional.
O conhecimento do perfil epidemiolgico em mudana dos povos indgenas,
ressaltando a imensa diversidade tnica, de fundamental importncia para dirigir a
-
27
organizao, planejamento e melhoria da qualidade dos servios de sade, ainda focalizados
nas doenas, especialmente as infecciosas e parasitarias, por questes histricas e
contribuio na morbidade e mortalidade indgena16.
2.4 O papel da enfermagem nos diversos cenrios do cuidar: uma abordagem
transcultural
A Enfermagem no mbito de seu exerccio profissional vem desempenhando
importante papel nos processos de manuteno e recuperao da sade da populao
brasileira, por ser uma profisso privilegiada no sentido de reconhecer os diversos contextos
de insero dos indivduos, seja de forma individual ou coletiva, evidenciando que os
conhecimentos relacionados a esta cincia precisam ser amplamente difundidos e
aprofundados a cada dia, considerando as diversidades culturais de cada povo.
No cenrio da sade indgena, salienta-se a riqueza em sua diversidade cultural17,
que significa atualmente o alicerce em defesa de seus direitos e orgulho de pertencimento
legtimo, quando a cultura no se refere ao nvel de interao com a sociedade nacional, mas
com o particular modo de viso de mundo, no mbito social, poltico, econmico e espiritual.
Neste aspecto, destaca-se a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado
Cultural (TDUCC) de Madeleine Leininger, que criou o termo enfermagem transcultural,
considerando distinta da antropologia mdica e demais disciplinas, por estar enfocada em
culturas diversas no cuidado cultural11.
Mediante seus estudos, Leininger utilizou estes conceitos para embasar a teoria (cultu-
ra, valores culturais, cuidado de enfermagem culturalmente diverso, etnocentrismo, generali-
zao, esteretipo, congruncia cultural, etnoenfermagem e enfermagem transcultural)11.
No mbito do cuidado ao idoso imprescindvel a interao com o paciente, visando
compreenso e conhecimento sobre a sua maneira de viver, inclusive de seus familiares e/ou
indivduos envolvidos no processo. Este direcionamento para a prtica gerontolgica baseada
pela multiplicidade dos princpios culturais, defendendo-os como as muitas dimenses de sua
vivncia, incluindo o seu meio de convvio, viabilizam um melhor desenvolvimento do cuidar
em enfermagem37.
fundamental a compreenso de que o cuidado cultural, uma vez que cada povo
tem suas maneiras particulares de cuidar, sendo fundamental para uma assistncia adequada
-
28
que a enfermagem avalie as condutas de cuidados culturalmente competentes. Assim, a teoria
de Leininger aplicvel, pois tem como objetivo o conhecimento da natureza, essncia, fins
sociais, assim como o desenvolvimento e melhoria do cuidado de enfermagem, que tem fun-
es culturais peculiares e globais38-39.
Este processo teraputico eficiente culturalmente organizado e referenciado pelas
necessidades do indivduo, podendo ser validado de acordo com as individualidades das pes-
soas, pois as culturas tm seu modo tpico de conduta em relao ao cuidado, que habitual-
mente notrio pelos prprios integrantes, mas comumente desconhecido por enfermeiras de
outras culturas12.
A diversidade cultural no processo de cuidar do idoso constitui-se em valorizar os
costumes disseminados por cada povo, onde estes esto compenetrados de maneira decisiva
em cada grupo tnico sendo muito complexa sua erradicao, pois os grupos desenvolvem as-
pectos similares unidos sua histria, lngua e aos costumes, alm de habitualmente parti-
lhar de modo comum de suas crenas sobre o envelhecimento40.
Com base nesta teoria, a enfermagem pode desempenhar suas atividades profissio-
nais e adapt-las ao contexto em que vivem os idosos indgenas, auxiliando-os a expor seus
anseios e aflies, compartilhando os fatores que podem contribuir para as alteraes negati-
vas em seu padro alimentar e nutricional e, adotar estratgias que promovam o seu bem-
estar, uma vez que,
Para uma boa prxis do cuidado de sade, alm da teoria e da filosofia meramente
ilustrativa, que por longas dcadas ocupar a busca do saber cientfico na educao
em enfermagem demanda levar em considerao aspectos do contexto ambiental,
das pessoas, dos fenmenos envolvidos e das culturas41.
Portanto, reconhecer as bases culturais da populao indgena, em particular no
aspecto alimentar e nutricional, torna-se vivel as prticas de sade e educao voltadas
realidade do idoso indgena.
-
29
3 CAPTULO 2 MTODO
3.1 Primeiro Artigo - Padro alimentar de idosos em diferentes contextos culturais
Neste captulo sero apresentados os procedimentos metodolgicos realizados na
construo da reviso integrativa. A reviso integrativa apresenta como objetivo a anlise de
pesquisas relevantes como suporte para a tomada de deciso e a melhoria da prtica clnica,
permitindo a sntese do conhecimento de um dado assunto, bem como apontar lacunas que
necessitam serem preenchidas com a realizao de novos estudos42.
Para construo foram utilizadas as seguintes etapas43:
1. Escolha do tema;
2. Definio da hiptese e objetivos do estudo;
3. Definio de critrios de incluso e excluso;
4. Definio das informaes a serem extradas dos artigos selecionados;
5. Busca na literatura, avaliao dos estudos, anlise e discusso dos resultados;
6. Apresentao da reviso integrativa.
Para direcionamento do estudo formulou-se a seguinte pergunta norteadora: quais as
evidncias disponveis na literatura acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em es-
pecial da populao indgena, e qual a sua contribuio para a prtica do cuidado em enfer-
magem?
Para seleo dos artigos foram utilizadas trs bases de dados: Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS), Literatura Internacional da rea
Mdica e Biomdica (MEDLINE), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), utilizando os
descritores extrados dos Descritores em Cincias da Sade (DeCS) disponvel na Biblioteca
Virtual em Sade (BVS): idoso, hbitos alimentares, populao indgena, cuidados de enfer-
magem. Para busca na base de dados MEDLINE utilizou-se em substituio ao descritor po-
pulao indgena o descritor ndios sul-americanos, devido o no reconhecimento do pri-
meiro descritor citado na base citada.
Os critrios de incluso dos artigos para esta reviso integrativa foram: artigos que
abordassem a temtica sobre alimentao e nutrio de idosos em diferentes culturas, artigos
publicados em ingls, espanhol e portugus, publicados nos ltimos 20 anos (1991-2011).
-
30
A busca na literatura foi realizada atravs de cruzamento em pares dos descritores, uti-
lizando a ferramenta descritor de assunto, na seguinte ordem: idoso and hbitos alimenta-
res, idoso and populao indgena, idoso and ndios sul-americanos, idoso and cuidados de
enfermagem, hbitos alimentares and populao indgena, hbitos alimentares and ndios sul-
americanos e hbitos alimentares and cuidados de enfermagem.
Os artigos foram pr-selecionados a partir do ttulo e resumo, e a seleo final obede-
ceu aos critrios de incluso preestabelecidos, conforme descrio na tabela abaixo:
Tabela 1. Artigos encontrados nas Bases de Dados LILACS, MEDLINE E BDENF,
2011.
Base de da-
dos
Artigos
encontrados
Artigos
selecionados
Artigos
repetidos
Artigos
excludos
Artigos
inclusos
LILACS 366 57 0 49 08
MEDLINE 5498 56 01 56 05
BDENF 02 0 0 0 0
Total 5866 113 01 105 13
Foram utilizados para avaliar a qualidade dos estudos selecionados dois instrumentos:
o primeiro adaptado do Critical Apppraisal Skills Programme (CASP)44 Programa de habi-
lidades em leitura crtica, integrante do Public Health Resource Unit (PHRU). O instrumen-
to apresenta 10 itens (mximo 10 pontos): 1) objetivo; 2) adequao metodolgica; 3) apre-
sentao dos procedimentos tericos e metodolgicos; 4) seleo da amostra; 5) procedimento
para a coleta de dados; 6) relao entre o pesquisador e pesquisados; 7) considerao dos as-
pectos ticos; 8) procedimento para a anlise dos dados; 9) apresentao dos resultados; 10)
importncia da pesquisa. Os resultados de classificao apresentam os seguintes escores: 06 a
10 pontos (boa qualidade metodolgica e vis reduzido), e mnima de 5 pontos (qualidade me-
todolgica satisfatria, porm com risco de vis aumentado). A avaliao foi realizada em pa-
res, cujos artigos selecionados neste estudo apresentaram escore entre 6 e 10.
O segundo instrumento foi a Classificao Hierrquica das Evidncias para Avaliao
dos Estudos45, que define os nveis de evidncia destes: 1) reviso sistemtica ou metnalise;
2) ensaios clnicos randomizados; 3) ensaio clnico sem randomizao; 4) estudos de coorte e
de caso-controle; 5) reviso sistemtica de estudos descritivos e qualitativos; 6) nico estudo
-
31
descritivo ou qualitativo; 7) opinio de autoridades e/ou relatrio de comits de especialida-
des. Os estudos includos classificaram-se entre os nveis 5 a 6.
Aps avaliao com os instrumentos acima citados foram selecionados 13 artigos. Pa-
ra a organizao e coleta dos dados dos artigos inclusos na reviso integrativa, elaborou-se um
instrumento composto pelos seguintes itens: Ttulo do artigo, Autoria, Revista/Ano, Fon-
te/Idioma, Estudo realizado, Resultados, Concluses e recomendaes.
-
32
3.2 Segundo Artigo - Alimentao do idoso indgena sob a tica da enfermagem
transcultural
A pesquisa foi desenvolvida e organizada com base no modelo de estudos
quantitativos propostos por Polit e Beck (2011)42, seguindo uma sequncia de etapas lineares
e regulares dividida em cinco fases. A primeira fase de conceituao do estudo foi descrita no
captulo 1 (introduo) e 2 (reviso da literatura), e da segunda a quinta fase foram descritas
no captulo 3 (metodologia) e 4 (artigo original).
3.2.1Delineamento da pesquisa
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, com abordagem quantitativa, estes
apresentam como objetivo a informao a respeito da distribuio de um evento na populao,
em termos quantitativos46. Os estudos quantitativos so caracterizados por um delineamento
da realidade, ao mesmo tempo em que descreve, registra, analisa e interpreta processos ou fe-
nmenos da natureza47.
Para a coleta, anlise e discusso dos resultados foi utilizado o modelo conceitual
criado por Madeleine Leininger, a Teoria da Universalidade e Diversidade Cultural. O modelo
conceitual lida com abstraes reunidas por causa da sua relevncia para um tema comum,
garantindo amplamente uma compreenso do fenmeno estudado e reflete as suposies e
vises filosficas de quem o elaborou42.
3.2.2 Local de estudo
O estudo foi realizado na CASAI, localizada na cidade de Manaus, estado do
Amazonas. A referida cidade apresenta populao estimada de 1.802.525 habitantes segundo
dados do IBGE, 201048.
A CASAI responsvel pelo atendimento de toda populao indgena do estado, os
quais so referenciados por outras CASAI ou DSEI pertencentes ao Amazonas.
-
33
Segundo a Portaria do Ministrio da Sade N 1776, DE 08 de Setembro de 2003,
Art.-106.,-so-competncias-da-Casa-de-Sade-do-ndio49:
I - receber pacientes e seus acompanhantes encaminhados pelos Distritos;
II - alojar e alimentar pacientes e seus acompanhantes, durante o perodo de
tratamento-mdico;
III - acompanhar pacientes para consultas, exames subsidirios e internaes
hospitalares;
IV - prestar assistncia de enfermagem aos pacientes ps-hospitalizao e em fase
de-recuperao;-e
V - fazer contra-referncia com os Plos Bases e articular o retorno dos pacientes e
acompanhamento aos seus domiclios por ocasio da alta.
A CASAI de Manaus est vinculada ao DSEI Manaus, que faz parte do subsistema
de sade indgena sob gesto da Secretaria Especial de Ateno sade indgena (SESAI) do
Ministrio da Sade (MS). Este local foi escolhido por receber pacientes indgenas de todos
os municpios do Amazonas, incluindo idosos de diferentes etnias.
No ms de maio de 2012 foi realizado o reconhecimento do local de estudo e
apresentao do projeto aos gestores. Durante este perodo identificou-se a mudana na
dinmica do processo de referncia e contra referncia da populao, com a implantao do
sistema de regulao do Ministrio da Sade (SISREG), definindo-se que os DSEIs do
interior s podero encaminhar os pacientes aps marcao de consulta e procedimentos
especficos pela CASAI Manaus, o que contribuiu para significativa reduo de pacientes
internados.
3.2.3 Populao de estudo
A populao de referncia foi composta por todos os idosos de ambos os sexos,
internados na CASAI Manaus-Amazonas, no perodo de 90 dias. A idade estabelecida (60
anos e mais) respeita condio que define a pessoa idosa de acordo com a Lei 8842/94 que
trata sobre a Poltica Nacional do Idoso22;
3.2.3.1 Amostra do estudo
A amostra do estudo do tipo em sequncia, que envolve recrutar todas as pessoas
-
34
de uma populao acessvel que atendam aos critrios de elegibilidade ao longo de um
intervalo de tempo especfico ou at alcanar um tamanho de amostra determinado42. A
amostra foi composta por 30 idosos, internados no perodo da coleta (29/10/12 a 26/01/13),
perfazendo 90 dias, conforme consentimento em participar do estudo.
3.2.4 Critrios de incluso
-Estar internado na CASAI no perodo de vigncia da pesquisa;
-Concordncia em participar do estudo com a assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (APNDICE A).
3.2.5 Critrios de excluso
- Idosos acometidos por patologias que comprometesse os processos de cognio e
comunicao, e que estivessem recebendo cuidados paliativos.
3.2.6 Procedimentos para Coleta de dados
O estudo utilizou como embasamento terico a Teoria da Universalidade e
Diversidade Cultural Madeleine Leininger. Nos estudos quantitativos, o uso de teorias ou
modelos conceituais deduz implicaes e formulam hiptese, ou seja, prev o comportamento
das variveis em relao teoria, sendo necessria a medio das variveis-chave da teoria, a
coleta de dados por amostra adequada e teste de hipteses por anlise estatstica42.
3.2.6.1 Instrumento
Para a obteno dos dados deste estudo foi elaborado um instrumento estruturado
(APNDICE E), com perguntas fechadas do tipo dicotmicas e de mltipla escolha e abertas,
obtidas atravs de registros institucionais (itens 1 a 12) e entrevista face a face (itens 13 a 35).
Considerando as particularidades da populao idosa indgena e a escassez de
estudos referente ao objeto de estudo optou-se por incluir perguntas abertas referentes viso
dos participantes sobre o processo sade-doena e hbitos alimentares na CASAI e na
-
35
comunidade de origem.
3.2.7 Operacionalizao das Variveis:
As variveis investigadas foram organizadas nos moldes do modelo do sol nascente
(nvel I) proposto por Leininger (figura 1)50, partindo da viso de mundo para as dimenses da
estrutura cultural e social (fatores tecnolgicos, religiosos e filosficos, de companheirismo e
sociais, culturais e modos de vida, polticos e legais, econmicos e educacionais) e sua relao
com o contexto de ambiente e o padro de cuidado51. Alm do agrupamento das variveis
sciodemogrficas e condies de sade.
Figura 1- Modelo Sunrise de Leininger e as dimenses da diversidade e universalidade do cuidado cultural.
Fonte: Leininger, 1991.
Para codificao das perguntas abertas foi realizada anlise de contedo,
especificamente a fase lexical, utilizando o Programa Estatstico Anlise Lexical Contextual
de um Conjunto de Segmentos de Texto ALCESTE, cuja funo de anlise quantitativa de
-
36
dados textuais52.
Quanto s consideraes acerca da anlise de contedo, apesar de comumente
utilizada na anlise de comunicaes nas cincias humanas e sociais, autores alegam ser um
mtodo mais frequentemente seguido no tratamento de dados de pesquisas qualitativas53.
Entretanto, alguns autores a consideram um conjunto de tcnicas quantitativas53-56, enquanto
outros57-59 defendem que ela possui elementos tanto da abordagem quantitativa como da
qualitativa, porque, nesse caso,
a contagem da manifestao dos elementos textuais que emerge do primeiro estgio
da anlise de contedo servir apenas para a organizao e sistematizao dos dados,
enquanto as fases analticas posteriores permitiro que o pesquisador apreenda a
viso social de mundo por parte dos sujeitos, autores do material textual em
anlise60.
Para disposio dos alimentos consumidos utilizou- se como padro os estudos de
Najas (1994), Philippi (1999) e Cornatosky (2009), adotando o mtodo de frequncia de
consumo alimentar, que tem como objetivo verificar a partir de uma lista de alimentos a
ocorrncia de ingesto destes em um perodo de tempo especfico, sendo estabelecido como
porto de corte para o padro alimentar o consumo a partir de 70% na ingesto diria de
alimentos 61-63.
Para avaliao do estado nutricional foi utilizada a antropometria com verificao do
peso e altura, para obteno do ndice de Massa Corporal IMC para idosos, segundo Lipschitz
(1994)64.
3.2.7.1 Varivel dependente
Padro alimentar do idoso indgena
3.2.7.2 Variveis independentes
A) Sociodemogrficas
Sexo masculino ou feminino;
Data de nascimento formato dia, ms e ano;
Local de nascimento categorizada por comunidade indgena de origem;
DSEI Distrito Sanitrio Especial Indgena responsvel;
Idade Considerada em anos completos, a partir da data de nascimento e coleta de da-
dos, ou seja, na data da entrevista;
-
37
Motivo da internao motivo do encaminhamento para CASAI Manaus;
Antecedentes pessoais hipertenso arterial sistmica (HAS), Diabetes Mellitus
(DM), cardiopatias, cncer, nefropatias, outros.
B) Condies de sade
Motivo de internao descrio das causas da internao (diagnstico, tratamento);
Antecedentes pessoais Hipertenso, Diabetes, Cardiopatias, Cncer, Nefropatias, ou-
tras doenas;
Sade autopercebida - tima, boa, regular, no sabe/no responde;
Sade bucal- percepo da sade bucal, aspectos inerentes mastigao, presena de
incomodo na boca, boca seca, dificuldade para engolir, escovao, atendimento odon-
tolgico e uso de prtese dentria;
Estado nutricional- classificao do IMC em desnutrio, peso adequado e sobrepeso.
C) Fatores tecnolgicos
Elementos tecnolgicos uso e propriedade de produtos tecnolgicos como televiso,
aparelho de som, fogo, ventilador, geladeira;
Equipamentos utilizados para transporte e agricultura motor de popa, ralador de
mandioca;
Elementos de comunicao na comunidade: aparelho telefnico (orelho), celular, ra-
diofonia;
D) Fatores religiosos e filosficos
Religio catlico, protestante, outros;
Presena de conhecedor das foras da natureza Paj;
E) Fatores de companheirismo e sociais
Etnia a ser categorizada, devido o grande nmero de etnias no Estado do Amazonas;
Lngua falada lngua principal falada pelos idosos;
Lngua materna lngua indgena tradicional falada pelos idosos;
Estado conjugal casado (a) ou em unio consensual, solteiro (a) (nunca se casou ou
morou com companheiro (a), vivo(a), separado(a) ou divorciado(a);
Nmero de filhos descrio se o(a) idoso (a) teve filhos ou no;
Arranjo familiar nmero e parentesco das pessoas que moram na mesma residncia
com o (a) idoso (a);
F) Fatores Culturais e modos de vida
-
38
Concepes sobre o processo sade-doena: Conceituao sobre sade e doena na vi-
so indgena, baseado em estudos sobre O ndio Brasileiro: o que voc precisa saber
sobre os povos indgenas no Brasil hoje (Luciano, 2006)40, que retrata a concepo
sobre este processo de forma diferenciada no aspecto cultural, em contraste concep-
o de povos no-indgenas.
Hbitos alimentares no local de origem a ser categorizada, pois muitos alimentos da
culinria indgena no so conhecidos e descritos na literatura, a ser organizada por
tipos de alimentos, quantidade e horrio das refeies e com quem realiza as refeies;
Alimentao na CASAI descrio de alimentos oferecidos pela Instituio, com
descrio da quantidade, horrio, tipos de alimentos e aceitao;
G) Fatores polticos e legais
Liderana na Comunidade Ocupao de cargo poltico de destaque na comunidade;
H) Fatores econmicos
Situao Previdenciria Identificao do tipo de vnculo com a Previdncia Social
distribuda nas seguintes categorias: no aposentado (a), aposentado (a), pensionista
ou em benefcio;
Renda Renda do (a) idoso (a) em salrios mnimos vigentes no momento da investi-
gao;
Contribuio na renda familiar Participao do (a) idoso (a) no oramento da famlia
distribuda nas seguintes categorias: participa totalmente, parcialmente ou no contri-
bui.
Atividades realizadas para contribuio no sustento familiar prticas agrcolas (ro-
a), caa e pesca.
I) Fatores educacionais
Escolaridade categorizada em anos de estudo com aprovao.
3.2.6.2 Pr-teste
No processo de elaborao de questes de um instrumento estruturado necessrio
cuidado na construo de cada pergunta, no intuito de garantir clareza, sensibilidade ao estado
psicolgico dos entrevistados, ausncia de desvio e nvel de leitura. Nesse sentido, a
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39
realizao de pr-teste fundamental, por permitir a avaliao da utilidade do instrumento e
sua aplicabilidade de acordo com os objetivos da pesquisa42.
Neste estudo optou-se pela realizao deste processo na primeira semana da coleta,
no intuito de adequar as questes de acordo com as particularidades da populao alvo e da
dinmica do servio de sade. Aps esse momento foram realizados os ajustes necessrios
nos blocos relacionados s condies de sade e hbitos alimentares. Acerca dos principais
alimentos consumidos, foram listados segundo o ponto de corte de 70% para ordenao no
instrumento de coleta.
Outro ponto identificado neste momento foi sobre a necessidade de recrutar outro
profissional para realizao da coleta, pois durante a entrevista havia perguntas abertas que
demandam muita ateno, obteno de dados para avaliao do ndice de massa corporal,
alm da interao com familiares dos idosos, alm do reconhecimento prvio acerca da cultu-
ra indgena. Nesse sentido, foi treinada uma enfermeira com experincia profissional em sa-
de indgena para auxlio durante o procedimento de coleta de dados.
3.2.6.2 Etapas da Coleta de Dados
Para execuo da coleta e obteno do TCLE seguiu-se as seguintes etapas:
1. Explicao sobre o projeto de pesquisa ao idoso e (se for o caso) solicitao da
presena do acompanhante ou representante legal;
2. Aps entendimento solicitou-se permisso para realizar a entrevista;
3. Posteriormente a aceitao seguiu-se a prxima etapa, em caso negativo encerrou
a etapa;
4. Perguntou-se cada item do questionrio de forma clara, respeitando as
particularidades de cada etnia e o nvel de compreenso;
5. Aps o fim da entrevista solicitou-se a assinatura do idoso ou impresso digital,
bem como a assinatura das testemunhas;
6. O pesquisador responsvel, o idoso e/ou a pessoa responsvel por este (se for o
caso), rubricaram todas as folhas do TCLE e complementaro com as assinaturas completas
na ltima folha deste documento.
7. Entregou-se uma cpia do TCLE informando contatos do pesquisador para
possveis dvidas e/ ou desistncia;
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40
3.2.8 Anlise dos dados
Aps a coleta foi organizado um banco de dados e realizada anlise quantitativa das
informaes, mediante processo sistematizado de base estatstica, utilizando o Programa de
Base Estatstica Livre R.
Para anlise e discusso dos resultados foi utilizada como embasamento a Teoria do
cuidado cultural de Leininger, sendo descritas as variveis em bloco: variveis
sciodemogrficas, condies de sade, viso de mundo, dimenses da estrutura cultural e
social e contexto de lngua e ambiente.
No plano de anlise estatstica, as variveis categricas foram descritas sob a forma
de propores, as discretas sob a forma de mdias e frequncia. A digitao foi realizada em
dupla entrada para validao do banco de dados.
3.2.9 Aspectos ticos
O estudo foi submetido apreciao do Comit de tica e Pesquisa do Centro de
Cincias da Sade da Universidade Federal de Pernambuco, encaminhado e aprovado pelo
Comit Nacional de tica e Pesquisa (CAAE 00574012.1.0000.5208).
-
41
4 CAPTULO 3 ARTIGO DE REVISO INTEGRATIVA
Padro alimentar de idosos em diferentes contextos culturais
Dietary patterns of elderly in different cultural contexts
Short title: Alimentao e cultura na Terceira idade
Food and culture in old age
Jlia de Cssia Miguel Vieira1,2
Mrcia Carrra Campos Leal1
Ana Paula de Oliveira Marques1
Danielle Lopes de Alencar1
Resumo
Trata-se de uma reviso integrativa da literatura com o objetivo de avaliar as evidncias
disponveis acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em especial o indgena, por
ser uma populao diferenciada pelos seus hbitos alimentares arraigados a sua cultura e
de interesse para definio de politicas assistenciais, bem como de subsidiar teoricamente
os cuidados de enfermagem no mbito da nutrio em sade. Foram utilizadas para
seleo trs bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da
Sade (LILACS), Literatura Internacional da rea Mdica e Biomdica (MEDLINE), Base de
dados em Enfermagem (BDENF), selecionados 13 artigos conforme critrios
preestabelecidos. Os resultados mostraram estudos em diversos pases, porm nenhum
voltado ao idoso indgena, estes apontam mudanas nos hbitos alimentares de idosos,
associados principalmente a questes socioeconmicas e culturais, alm das mudanas
ocorridas com a globalizao e a transio nutricional, o que ressalta a importncia de mais
estudos que abordem essa temtica, enfatizando o indgena, como subsdio para a prtica
do cuidar em enfermagem.
Termos de indexao: Idoso, Hbitos Alimentares, Populao Indgena, ndios Sul-
Americanos
-
42
Abstract
It is an integrative literature review aimed to assess the available evidence on the issue of
food and nutrition elderly, especially the indigenous population to be a differentiated by their
eating habits ingrained in their culture and of interest to define welfare policies, as well as
theoretically subsidize nursing care within the health nutrition. Were used to select three
databases: Latin American and Caribbean Health Sciences (LILACS), International Literature
medical and biomedical (MEDLINE), Database of Nursing (BDENF), selected 13 papers as
established criteria. The results showed studies in several countries, but none facing the
elderly indigenous, these suggested changes in the eating habits of the elderly, mainly
associated socioeconomic and cultural issues, in addition to changes with globalization and
the nutrition transition, which highlights the importance of more studies that address this
theme, emphasizing the indigenous, as support for the practice of nursing care.
Indexing terms: Aged, Food habits, Indigenous population, Indians, South American.
INTRODUO
O aumento significativo da populao idosa requer crescente capacitao dos
profissionais para atender e cuidar de modo particular dessa populao, observando as
peculiaridades que so inerentes ao ser idoso, que apresenta caractersticas que
demandam cuidados diferenciados1.
Os idosos diferenciam-se conforme sua histria de vida, seu nvel de independncia
funcional e necessidade de servios de sade, onde a avaliao deve estar embasada no
processo de envelhecimento e de suas particularidades de acordo com a realidade
sociocultural em que vivem2.
Abordando a alimentao, esta considerada um importante fator para promoo,
manuteno e ou/recuperao da sade em todas as fases da vida, sendo que com o
processo de envelhecimento surgem alteraes no organismo que podem modificar as
necessidades nutricionais do idoso3.
Inmeras so as razes que envolvem a escolha dos alimentos, podendo existir mais
de uma varivel na escolha final como: a cultura, o status, o prestgio, a presso publicitria,
o aspecto religioso4. Tal afirmao denota a importncia em reconhecer o contexto alimentar
dos idosos nos diferentes cenrios do cuidar em sade.
-
43
Devido ao nmero crescente e da complexidade de conhecimentos na rea de
sade, tornou-se indispensvel o desenvolvimento de estratgias no mbito da pesquisa
com embasamento cientfico, aptas a delimitar procedimentos e passos metodolgicos mais
precisos e de apresentar aos profissionais um melhor emprego das evidncias explanadas
em numerosos estudos5. Portanto, nesse estudo optou-se pelo uso de um dos recursos da
prtica baseada em evidncias (PBE), a reviso integrativa da literatura6, que objetiva a
organizao da sinopse do conhecimento cientfico produzido sobre a temtica investigada
para sua posterior associao prtica.
Uma das finalidades da Prtica Baseada em Evidncias (PBE) alentar a utilizao
de resultados de pesquisa atrelada prtica assistencial de sade nos distintos nveis de
ateno, avigorando a importncia da pesquisa para a prtica clnica7, o que possibilita uma
viso amplificada dos processos de interveno sobre a problemtica em questo.
Poucas pesquisas brasileiras tm investigado os padres alimentares de indivduos
idosos8. Portanto, visando aprofundar os conhecimentos de forma integrada no contexto do
cuidado aos idosos, este estudo tem como objetivo avaliar as evidncias disponveis na
literatura acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em especial o indgena, por ser
uma populao diferenciada pelos seus hbitos alimentares arraigados a sua cultura e de
interesse para definio de politicas assistenciais, bem como de subsidiar teoricamente os
cuidados de enfermagem no mbito da nutrio em sade.
PROCEDIMENTO METODOLGICO
Foram utilizadas as seguintes etapas para organizao da presente reviso: escolha
do tema, definio da hiptese e objetivos do estudo, definio de critrios de incluso e ex-
cluso, definio das informaes a serem extradas dos artigos selecionados, busca na lite-
ratura, avaliao dos estudos, anlise e discusso dos resultados, apresentao da reviso
integrativa9.
Para direcionamento do estudo formulou-se a seguinte pergunta norteadora: quais as
evidncias disponveis na literatura acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em
especial da populao indgena, e qual a sua contribuio para a prtica do cuidado em en-
fermagem?
Para seleo dos artigos foram utilizadas trs bases de dados: Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS), Literatura Internacional da rea
Mdica e Biomdica (MEDLINE), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), utilizando os
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44
descritores extrados dos Descritores em Cincias da Sade (DeCS) disponvel na Bibliote-
ca Virtual em Sade (BVS): idoso, hbitos alimentares, populao indgena, cuidados de en-
fermagem. Para busca na base de dados MEDLINE utilizou-se em substituio ao descritor
populao indgena o descritor ndios sul-americanos, devido o no reconhecimento do primeiro descritor citado na base citada.
Os critrios de incluso dos artigos para esta reviso integrativa foram: artigos que
abordassem a temtica sobre alimentao e nutrio de idosos em diferentes culturas, arti-
gos publicados em ingls, espanhol e portugus, publicados nos ltimos 20 anos.
A busca na literatura foi realizada atravs de cruzamento em pares dos descritores,
utilizando a ferramenta descritor de assunto, na seguinte ordem: idoso and hbitos alimen-tares, idoso and populao indgena, idoso and ndios sul-americanos, idoso and cuidados
de enfermagem, hbitos alimentares and populao indgena, hbitos alimentares and n-
dios sul-americanos e hbitos alimentares and cuidados de enfermagem.
Os artigos foram pr-selecionados selecionados a partir do ttulo e resumo, e a sele-
o final obedeceu os critrios de incluso preestabelecidos, conforme descrio na tabela
abaixo:
Tabela 1. Artigos encontrados nas Bases de Dados LILACS, MEDLINE E BDENF,
2011.
Base de
dados
Artigos
encontrados
Artigos
selecionados
Artigos
repetidos
Artigos
excludos
Artigos
inclusos
LILACS 366 57 0 49 08
MEDLINE 5498 56 01 56 05
BDENF 02 0 0 0 0
Total 5866 113 01 105 13
Foram utilizados para avaliar a qualidade dos estudos selecionados dois instrumen-
tos: o primeiro adaptado do Critical Apppraisal Skills Programme (CASP)10 Programa de
habilidades em leitura crtica, integrante do Public Health Resource Unit (PHRU). O instru-mento apresenta 10 itens (mximo 10 pontos): 1) objetivo; 2) adequao metodolgica; 3)
apresentao dos procedimentos tericos e metodolgicos; 4) seleo da amostra; 5) pro-
cedimento para a coleta de dados; 6) relao entre o pesquisador e pesquisados; 7) consi-
derao dos aspectos ticos; 8) procedimento para a anlise dos dados; 9) apresentao
dos resultados; 10) importncia da pesquisa.
Os resultados de classificao apresentam os seguintes escores: 06 a 10 pontos
(boa qualidade metodolgica e vis reduzido), e mnima de 5 pontos (qualidade metodolgi-
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45
ca satisfatria, porm com risco de vis aumentado). A avaliao foi realizada em pares, cu-
jos artigos selecionados neste estudo apresentaram escore entre 6 e 10.
O segundo instrumento foi a Classificao Hierrquica das Evidncias para Avalia-
o dos Estudos11, que define os nveis de evidncia destes: 1) reviso sistemtica ou me-
tnalise; 2) ensaios clnicos randomizados; 3) ensaio clnico sem randomizao; 4) estudos
de coorte e de caso-controle; 5) reviso sistemtica de estudos descritivos e qualitativos; 6)
nico estudo descritivo ou qualitativo; 7) opinio de autoridades e/ou relatrio de comits de
especialidades. Os estudos includos classificaram-se entre os nveis 5 a 6.
Aps avaliao com os instrumentos acima citados foram selecionados 13 artigos.
Para a organizao e coleta dos dados dos artigos inclusos na reviso integrativa, elaborou-
se um instrumento composto pelos seguintes itens: Ttulo do artigo, Autoria, Revista/Ano,
Fonte/Idioma, Estudo realizado, Resultados, Concluses e recomendaes.
RESULTADOS
Conforme os critrios de incluso e avaliao foram analisados 13 artigos, onde to-
dos os temas dos artigos estavam relacionados questo alimentar e nutricional do idoso,
bem como sua contribuio para a prtica do cuidado em enfermagem, entretanto nenhum
destes apresentou referncia ao idoso indgena.
Dos 13 artigos, 10 (77%) foram publicados em revistas internacionais e 3 (23%) em
revistas nacionais, sendo 5 (39%) em revistas de nutrio, 4 (31%) em revistas de sade
pblica, 2 (15%) em revistas de Enfermagem e 2 (15%) em revistas de Cincias da sade
em geral.
Em relao aos delineamentos de pesquisa dos artigos includos 11 (84,6%) so de
abordagem quantitativa, 1 (7,7%) abordagem qualitativa e 1(7,7%) quantitativa e qualitativa,
sendo 06 estudos analticos (46%) e 7 (54%) descritivos.
Quanto ao local de estudo 3 (23%) foram realizados no Brasil, 2 (15%) nos Estados
Unidos da Amrica, 1 (7,7%) na Inglaterra, 1 (7,7%) na Sucia, 1 (7,7%) no Mxico, 1
(7,7%) na Espanha, 1 (7,7%) no Kenya, 1 (7,7%) no Chile, 1 (7,7%) na Argentina, 1 (7,7%)
na Colmbia. No Brasil, 2 (67%) realizado no estado de So Paulo, 1 (33%) no Esprito San-
to.
Segue nas Figuras de 1 a 3 a avaliao sinptica dos artigos avaliados na presente
reviso integrativa, organizados conforme paridade nas temticas.
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46
Quadro 1 - Sinopse dos artigos inclusos na reviso integrativa
Ttulo do artigo 1. Los hbitos alimentarios en el adulto mayor y su relacin
con los procesos protectores y deteriorantes en salud12
Autoria Restrepo SLM, Morales RMG, Ramrez MCG, Lpez MVL, Varela
LEL
Revista/ano Rev. chil. nutr. / 2006
Fonte /Idioma LILACS /Espanhol
Estudo
realizado
Estudo descritivo, corte transversal, com abordagem quantitativa e
qualitativa, buscou investigar os aspectos protetores e
deteriorantes relacionados alimentao e nutrio do idoso.
Resultados Os hbitos alimentares so contribuintes para fragilidade dos
idosos.
Concluses e
recomendaes
O consumo identificado est relacionado a questes econmicas e
estado psicossocial dos idosos.
Ttulo do artigo 2. Hbitos de consumo de productos apcolas en un colectivo
de ancianos13
Autoria Orzaez VillanuevaMT, De Frutos Prieto A, Tellez Gonzalez M et al.
Revista/ano ALAN / 2002
Fonte /Idioma LILACS / Espanhol
Estudo
realizado
Estudo descritivo com abordagem quantitativa, cujo objetivo foi
identificar os hbitos de consumos apcolas por idosos da
Espanha.
Resultados Os idosos consomem produtos apcolas e tem conhecimento sobre
este.
Concluses e
recomendaes
Apesar do consumo e conhecimento em relao ao mel, a maioria
dos idosos ignoram os outros produtos apcolas como a prpolis.
Ttulo do artigo 3. Relacin entre los factores que determinan los sntomas
depresivos y los hbitos alimentarios en adultos mayores de
Mxico14
Autoria vila-Funes JA, Garant MP, Aguilar-Navarro S
Revista/ano Rev Panam Salud Publica / 2006
Fonte /Idioma LILACS / Espanhol
Estudo Estudo analtico com abordagem quantitativa objetivou determinar
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47
continuao
realizado
os fatores comuns associados a hbitos alimentares e sintomas
depressivos.
Resultados Os sintomas depressivos associaram hipertenso arterial, como
tambm o uso de prtese dentria, incontinncia urinria e quedas.
Concluses e
recomendaes
Os autores enfatizam a importncia do padro alimentar em
estudos sobre depresso em idosos, recomendam estudos
longitudinais.
Ttulo do artigo 4. The relationship between nutrient intake, dental status and
family cohesion among older Brazilians15
Autoria Andrade FB, Caldas Junior AF, Kitoko PM, Zandonade E
Revista/ano Cad. Sade Pblica / 2011
Fonte /Idioma LILACS /Ingls
Estudo
realizado
Estudo analtico, transversal, quantitativo visou avaliar a relao
entre consumo inadequado de nutrientes, condio bucal e coeso
familiar.
Resultados No houve associao entre o consumo inadequado e a coeso
familiar.
Concluses e
recomendaes
H relao entre a condio de sade bucal e o consumo
inadequado de nutrientes importantes entre idosos no
institucionalizados.
Ttulo do artigo 5. Nutritional status, functional abilities and food habits of
institutionalized and non-institutionalised elderly people in
Morogoro Region, Tanzania16
Autoria Nyaruhucha CN, Msuya JM, Matrida E
Revista/ano East Afr Med J / 2004
Fonte /Idioma MEDLINE / Ingls
Estudo
realizado
Estudo descritivo, transversal, quantitativo, objetivo de determinar o
estado nutricional, hbitos alimentares e as habilidades funcionais.
Resultados Diferena no estado nutricional entre homens, ambos os sexos
com baixo peso e desnutrio. Hbitos alimentares idnticos,
incontinncia urinria foi a incapacidade funcional mais comum
entre homens.
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48
continuao
Concluses e
recomendaes
A maioria dos idosos tem pouca ou nenhuma fonte de renda, que
fazem com que eles tenham condies de vida precrias.
Ttulo do artigo 6. Dietary patterns of Hispanic elders are associated whit
acculturation and obesity17
Autoria Lin H, Bermudez OI, Tucker KL
Revista/ano J Nutr. / 2003
Fonte /Idioma MEDLINE / Ingls
Estudo
realizado
Estudo descritivo, transversal, quantitativo, objetivo de identificar
padres alimentares entre os idosos hispnicos e no hispnicos.
Resultados Os hispnicos foram mais propensos a ingesta de vegetais ricos
em amido ou derivados de leite do que no hispnicos, sugerindo
associao entre a obesidade. Os idosos com maior grau de
aculturao apresentaram maior consumo de frutas e cereais.
Concluses e
recomendaes
Os autores sugerem que estudos longitudinais so necessrios
para esclarecer a natureza causal dessas associaes.
Quadro 2 Sinopse dos artigos inclusos na reviso integrativa
Ttulo do artigo 7. Hbitos alimentarios de adultos mayores de dos regiones de
la Provincia de Catamarca, Argentina18
Autoria Cornatosky MA, Barrionuevo OT, Rodr
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