alexsandro batista
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ALEXSANDRO BATISTA ARAÚJO
TREINAMENTO CONCORRENTE: A INFLUÊNCIA DO
TREINAMENTO AERÓBICO SOBRE TREINAMENTO DE FORÇA
SUBSEQUENTE.
ALAGOINHAS
2010
ALEXSANDRO BATISTA ARAÚJO
TREINAMENTO CONCORRENTE: A INFLUÊNCIA DO
TREINAMENTO AERÓBICO SOBRE O TREINAMENTO DE FORÇA
SUBSEQUENTE.
Monografia apresentada como requisito parcial para Conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia.
Orientador: Prof. Ms. Valter Abrantes
ALAGOINHAS
2010
Dedico este trabalho à minha querida mãe, grande amiga e parceira de todas as horas.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, nosso grande pai.
À minha mãe, grande responsável por minhas conquistas. Por meio de
simples palavras não tenho como expressar toda a importância que esta guerreira
tem em minha vida.
Aos meus amigos Cristiano e Waltinho, meus parceiros de todas as horas.
Ao meu orientador, Professor Mestre Valter Abrantes, minha referência
profissional.
A todos os meus irmãos, sempre torcendo pelo meu sucesso.
À minha noiva Sandra, uma grande mulher na minha vida.
As minhas irmãs Sandra, Andréa e Janete por todo apoio e torcida.
“Mais importante que saber é saber onde encontrar”. Rubem Alves.
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo avaliar a interferência do treino aeróbio sobre a força muscular em exercícios de mesmo grupo muscular. A amostra foi composta por dez jovens do sexo masculino (176,0 ± 5,1cm; 76,5 ± 8,8kg; 19,4 ± 1,3 anos), fisicamente ativos. Na primeira fase do experimento os participantes realizaram uma série de extensão de pernas com carga de 1RM e duas séries do mesmo exercício a80% - 1RM. Após os exercícios resistidos foi realizada uma sessão de atividade aeróbica com duração de 45 minutos entre 50-60% da FCR. Imediatamente após o treino aeróbio, foi realizado o mesmo protocolo de exercício resistido citado anteriormente. Os dados foram demonstrados descritivamente (média, desvio padrão e percentual) através do software Windows Excel 2007. Foi observada significativa interferência negativa no desempenho de força, após o treino aeróbio para o mesmo grupo muscular tanto nos testes de 1RM quanto a 80%-1RM. Os resultados assim sugerem que o treino aeróbio com duração de 45 minutos interfere negativamente no desempenho da força para exercícios de mesmo grupo muscular, nesse caso, especificamente o treino de pernas. Como a interferência observada no exercício concorrente depende do grupo muscular exercitado, possivelmente o efeito deletério decorre da fadiga residual dos músculos envolvidos na atividade anterior, ou seja, o efeito adverso pode ser causado provavelmente por alterações periféricas na musculatura específica. O estudo dessas influências adversas é de extrema importância no momento em que possibilita, por parte dos profissionais da área, uma melhor prescrição de exercícios, organizando-os em sessões diferentes, evitando os efeitos negativos provenientes de sessões prévias de atividades aeróbias.
Palavras chave: treinamento concorrente, treinamento aeróbico, interferência, força muscular.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................8
2 OBJETIVOS............................................................................................................10
2.1 Objetivo Geral.....................................................................................................10
2.2 Objetivos Específicos........................................................................................10
2.3 Delimitação do Estudo.......................................................................................10
2.4 Limitações...........................................................................................................10
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Treinamento de Força........................................................................................11
3.1.1 Treinamento de força e sistemas energéticos.............................................13
3.2 Força muscular...................................................................................................14
3.3 Treinamento aeróbico........................................................................................16
3.3.1 Treinamento aeróbico e sistemas energéticos............................................17
3.4 Treinamento concorrente..................................................................................18
4 METODOLOGIA.....................................................................................................21
4.1 Modelo do estudo...............................................................................................21
4.2 Amostra...............................................................................................................21
4.3 Local do estudo..................................................................................................21
4.4 Determinação da freqüência cardíaca máxima (FCMAX)..................................22
4.5 Determinação do valor de 1-RM e da capacidade de repetição máxima......22
4.6 Arranjo experimental.........................................................................................22
4.7 Coleta de dados.................................................................................................23
4.8 Procedimentos estatísticos..............................................................................23
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................24
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................28
REFERÊNCIAS.........................................................................................................29
ANEXO......................................................................................................................32
8
1 INTRODUÇÃO
Qualquer praticante de exercícios físicos que vise saúde ou fins estéticos
deve planejar seu programa de treinamento com atividades que abarquem tanto os
aspectos aeróbios quanto os de força muscular.
O treinamento aeróbio é indispensável quando se deseja aumentar a
capacidade cardiopulmonar, a mobilização de gorduras como substratos
energéticos, a diminuição da pressão arterial, entre outros diversos benefícios para
uma boa qualidade de vida.
O treinamento de força por sua vez, além do conhecido benefício que traz à
estética, produz resultados positivos no tocante à saúde como o aumento da
densidade óssea, diminuição do tecido adiposo e, por conseguinte a diminuição da
pressão arterial, melhoria da postura e o aumento da massa magra.
Cientes das vantagens de trabalhar tanto os aspectos aeróbios quanto os de
força em seus programas de exercícios, cada vez mais pessoas se utilizam da
prática do treinamento concorrente, que é a combinação de exercícios aeróbios com
exercícios de força na mesma sessão de treinamento.
Atualmente uma das maiores discussões que envolve a prática da
musculação, diz respeito à ordem como são feitos os exercícios de força e aeróbicos
dentro de uma mesma sessão. Segundo Guedes (2004) a essa associação de
exercícios aeróbicos e exercícios resistidos no programa de treinamento, dá-se o
nome de treinamento concorrente (TC). Para alguns treinadores o treinamento
concorrente é uma alternativa interessante para quem busca um maior gasto
energético no intuito de conseguir um corpo mais esbelto e, portanto mais saudável.
A grande dúvida levantada é sobre a interferência desse tipo de treinamento sobre a
produção da força, quando o treino resistido for realizado logo após o treino aeróbio
numa mesma sessão. Segundo Kraemer (2006) o tema da compatibilidade do
exercício despertou o interesse de estudiosos da ciência do esporte na década de
80 quando Hickson (1980) demonstrou que o desenvolvimento da força dinâmica
9
poderia sofrer interferência negativa do treinamento concorrente de força e
resistência aeróbia.
Estudos já demonstram que o treino aeróbio não é influenciado
negativamente pela prática prévia de exercícios de força (KRAEMER et al., 1995;
MCCARTHY et al., 2002; SALE et al., 1990 apud GUEDES, 2004). Porém, a prática
subseqüente do treino de força sofre interferências adversas do exercício aeróbio
prévio, de acordo com os achados de diversas pesquisas da área ( BACURAU et al.,
2003; CRAIG et al., 2006 apud TRICOLI et al., 2005). Apesar de um número
considerável de pesquisas sobre TC apontarem para uma interferência deletéria do
treino de endurance sobre o desempenho da força quando se trata de exercícios de
mesmo grupamento muscular, muitos profissionais da área de Educação Física
ainda são negligentes quanto à montagem de programas de treinamento.
.Com isso, o estudo pode ajudar profissionais da área de Educação Física
que pretendem desenvolver treinos pautados na prescrição/periodização consciente,
organizando assim, programas que minimizem o efeito deletério do treinamento
concorrente.
10
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
O presente estudo teve por objetivo analisar qual a influência do treinamento
aeróbio sobre o desempenho da força muscular no treinamento de força
subseqüente.
2.2 Objetivos Específicos
Discutir os fatores associados à influência do treinamento aeróbio sobre o
desempenho da força muscular em exercícios resistidos de mesmo grupamento
muscular.
2.3 Delimitação do Estudo
O estudo registrou e analisou o treinamento de um grupo de jovens do sexo
masculino (de 18 a 21 anos) participantes de um protocolo de exercícios físicos
composto por atividade aeróbia e treinamento de força em uma academia de
ginástica na cidade de Entre Rios.
A composição da amostra restringiu-se a participantes fisicamente ativos, com
experiência mínima de 1 (hum) ano em atividades aeróbias e exercícios resistidos.
O grupo amostral foi acompanhado num período de 15 dias, tempo em que
participaram de todos os testes que compuseram o arranjo experimental.
2.4 Limitações
Na coleta de dados, o critério utilizado foi a observação dos movimentos
realizados na cadeira extensora, enfatizando-se o primor técnico dos movimentos e
a falha muscular. A escolha deste critério levanta uma dúvida sobre a possibilidade
de o participante cessar o movimento antes mesmo de ocorrer a falha na
musculatura recrutada. A impossibilidade de acompanhar a dieta dos participantes
no tocante à suplementação alimentar, também se configura como fator limitante do
estudo, no momento em que substâncias ergogênicas atenuariam possíveis efeitos
deletérios provenientes da prática do treinamento concorrente.
11
3 REFERENCIAL TEÓRICO
A fim de tornar mais simples o entendimento do tema principal dessa
pesquisa, o presente capítulo foi estruturado a partir de tópicos imprescindíveis
para o estudo, são eles: a) Treinamento de força; b) Força muscular; c)
treinamento aeróbico; d) Treinamento concorrente.
3.1 Treinamento de força
Também conhecido como treinamento resistido, ou ainda mais
comumente musculação, o treinamento de força configura-se hoje como uma
das principais modalidades praticadas por intusiastas de exercícios físicos que
procuram uma modalidade capaz de trazer benefícios tanto para saúde como
também para uma estética mais bonita e atlética.
Sobre essa afirmação Guedes (2003) coloca que tal modalidade tem
sido recomendada não só para atletas e para a estética, mas também para a
promoção de saúde e qualidade de vida de jovens, idosos, hipertensos e
cardiopatas. Segundo Fleck e Kraemer (2006) o crescente número de salas de
musculação que surgem a todo o momento nas pequenas e grandes cidades
atesta a informação supracitada.
Reconhecidamente importante nos dias de hoje, o treinamento de força
nem sempre gozou desse status. Antigamente algumas falsas idéias a respeito
do tema eram comumente disseminadas. Para alguns atletas, esse tipo de
treinamento poderia retardar o crescimento ou até mesmo acarretar uma perda
de flexibilidade articular devido ao aumento do volume muscular (MCARDLE,
KATCH e KATCH, 2001).
Atualmente nota-se uma mudança de perspectiva quando o assunto a
ser tratado é o treinamento de força. Muito dessa mudança é conseqüência do
trabalho de DeLorme and Watkins (1946). Apesar de muitos eventos esportivos
já acontecerem desde 1800 foram eles que demonstraram após a II Guerra
Mundial a importância da progressão nos exercícios de resistência para o
12
aumento de força muscular e hipertrofia para os militares. Daí, desde meados
de 1950-1960, o treinamento de força tem sido um tópico de grande interesse
no meio científico, médico e entre os atletas (ACSM, 2002).
Quanto aos benefícios para a saúde Fleck e Kraemer (2006, p.19)
coloca que:
[...] os indivíduos que participam de um programa de treinamento de força esperam que ele produza determinados benefícios, tais como aumento de força, aumento da massa magra, diminuição da gordura corporal e melhoria do desempenho físico em atividades esportivas e da vida diária. Um programa de treinamento de força bem elaborado e consistentemente desenvolvido pode produzir todos esses benefícios [...]
Segundo Bompa e Cornacchia (1998) como adaptação ao treinamento
de força, os músculos crescem, ossos ficam mais fortes, o sistema nervoso
central torna-se mais eficiente para recrutar ações musculares e a performance
motora ganha em refinamento e coordenação.
Para Ramos (2000), o treinamento de força proporciona adaptações
fisiológicas dentro do sistema muscular, ósseo e neural que o colocam como
imprescindível para aqueles indivíduos que se preocupam com a profilaxia
(prevenção) no tocante à saúde e à manutenção da autosuficiência.
Além de todos os benefícios que traz à saúde o treinamento de força,
com certeza a melhor metodologia de treinamento desportivo para desenvolver
a capacidade física força, pode ser considerada uma modalidade esportiva, já
que existem diversas competições de fisiculturismo, levantamentos básicos e
olímpicos.
Dentro do treinamento de força existem diferentes tipos de trabalho que
de acordo com Junior (2000) obedece a características próprias. De acordo
com o autor cada tipo de trabalho pode ser caracterizado como um ciclo de
treinamento são eles: adaptação, RML (Resistência Muscular Localizada),
força de potência, força rápida, força máxima, hipertrofia e ainda a RMP
(Resistência Muscular Prolongada).
13
Para Pitanga (2004) cada programa de exercícios resistidos deve
privilegiar todos os grupos musculares, de preferência seqüenciados por tipos
de articulação. Ainda segundo o autor podemos utilizar para prescrição do
treinamento, testes de carga máxima ou repetições máximas e que para a
determinação da intensidade, número de repetições e séries, o objetivo do
aluno deve ser considerado.
Hoje, após visível progresso científico na área, o treinamento de força passa a
figurar não como um mero instrumento esculpidor de corpos fortes e
musculosos, mas como um indiscutível parceiro da saúde.
3.1.1 Treinamento de força e sistemas energéticos
Dependendo da duração e da intensidade, diferentes atividades físicas
ativam sistemas específicos de transferência de energia. Em muitos casos,
todos os três sistemas de transferência de energia – o sistema trifosfato de
adenosina-fosfocreatina (ATP-PCr), o sistema do ácido lático e o sistema
aeróbico – operam predominantemente em diferentes momentos durante o
exercício (MCARDLE, KATCH e KATCH, 2001).
Cada tipo de esforço muscular aciona um sistema energético e alguns
até podem acionar mais de um sistema. Assim, os sistemas energéticos podem
ser divididos em anaeróbico alático, anaeróbico lático, anaeróbio-aeróbio e
aeróbio (JUNIOR, 2000).
No treinamento de força especificamente - que é caracterizado por ser
uma atividade intensa e de duração curta – a demanda energética é mantida
em duas situações distintas, exceto no caso do sistema de circuito: em ações
musculares de até 10 segundos, essas ações são mantidas quase que
exclusivamente pela energia provinda da quebra dos radicais de alta energia
armazenados no músculo (fosfocreatina).
Nesse caso segundo Junior (2000), a intensidade do exercício situa-se
entre 90 a 100% da capacidade máxima e não há formação de lactato, daí o
nome “anaeróbico alático”. Nos casos em que esses esforços ultrapassem a
barreira dos 10 segundos até os 3 minutos de duração, a demanda energética
14
é suprida através da quebra anaeróbica da glicose (glicólise anaeróbia) tendo
como conseqüência a formação do lactato. Ainda segundo Junior (2000),
nessas ações têm uma intensidade situada entre 50 e 80% da capacidade
máxima. Além das especificidades de demanda energética, observa-se um
caso específico de recrutamento de fibras no treinamento de força, onde
predominam as fibras tipo II.
3.2 Força muscular
Por definição “a força, ou força muscular, é a capacidade de gerar força
máxima maximorum externa.” (KRAEMER e ZATSIORSKY, 2008, p.37). Dentro
do treinamento com pesos, a força muscular pode ser conceituada como a
quantidade de tensão que um músculo ou grupamento muscular pode gerar em
um padrão específico e determinada velocidade de movimento (KRAEMER e
HAKKINEN, 2004 apud GENTIL, 2008).
Data-se da metade da década de 1880, a maior importância dada à
mensuração da força muscular (MCARDLE, KATCH e KATCH, 2001). Ainda
segundo os autores:
[...] as forças armadas avaliavam a força dos recrutas durante a Guerra Civil; as mensurações da força proporcionavam também a base para as avaliações sistemáticas de aptidão nos programas de Educação Física de colégios e universidades. (MCARDLE, KATCH e KATCH, 2001).
Segundo Junior (2000), a década de 60 inaugurou uma fase de
superestimação do fator aeróbio em detrimento ao da força motora. Mesmo
que em menor proporção, ainda é possível observar resquícios dessa
constatação. Evidencia disso é a reduzida quantidade de estudos científicos
que são encontrados sobre o tema quando comparados com os estudos
voltados à valência aeróbia.
A força muscular pode se manifestar de diversas maneiras, seja como
força máxima, força rápida, força de potência ou finalmente como força de
resistência aeróbia. (JUNIOR, 2000). No tocante ao campo do treinamento
15
desportivo, mais especificamente ao treinamento de força, é interessante
destacar que são reconhecidas como medidas da força de um atleta, somente
as forças externas que atuam sobre o corpo deste atleta. (ZATSIORSKY e
KRAEMER, 2008). Desse modo pode-se, segundo Junior (2000) afirmar que
para exercer determinada força o sistema motor, através de suas alavancas
ósseas e respectivas musculaturas, contrapõe uma determinada resistência.
Tal resistência, se vencida, caracteriza a ação muscular concêntrica
(encurtamento do músculo envolvido). Se sustentada, caracteriza a ação
muscular isométrica (sem modificação no comprimento muscular). Pode
ocorrer também do músculo ceder a tal resistência, caracterizando assim a
ação muscular excêntrica (alongamento do músculo envolvido).
No tocante ao campo do treinamento desportivo, mais especificamente
ao treinamento de força, é interessante destacar que são reconhecidas como
medidas da força de um atleta, somente as forças externas que atuam sobre o
corpo deste atleta. (ZATSIORSKY e KRAEMER, 2008). Desse modo pode-se,
segundo Junior (2000) afirmar que para exercer determinada força o sistema
motor, através de suas alavancas ósseas e respectivas musculaturas,
contrapõe uma determinada resistência. Tal resistência, se vencida, caracteriza
a ação muscular concêntrica (encurtamento do músculo envolvido). Se
sustentada, caracteriza a ação muscular isométrica (sem modificação no
comprimento muscular). Pode ocorrer também do músculo ceder a tal
resistência, caracterizando assim a ação muscular excêntrica (alongamento do
músculo envolvido).
É importante ressaltar que no momento em que existem diferentes
tipos de ações musculares, cada uma com características específicas, há de se
considerar que ganhos de força são específicos às ações treinadas (FLECK e
KRAEMER, 1999 apud GENTIL, 2008), portanto ao se buscar, por exemplo,
ganhos de força concêntrica, seria totalmente incoerente prescrever treinos
com ênfase em ações excêntricas para tal objetivo.
Vários são os fatores que estão intimamente ligados à força, assim
podemos destacar os fatores neurais, os fatores musculares, biomecânicos e
psicológicos. Os fatores neurais segundo alguns estudos são os maiores
16
responsáveis pelo aumento de força nas primeiras semanas de treino (GENTIL,
2008). Os fatores musculares estão segundo Guedes (2003) relacionados
principalmente com a hipertrofia muscular, que seria “o aumento volumétrico de
um músculo, devido ao aumento volumétrico das fibras que o constituem”.
(GENTIL, 2008, p. 37).
Acredita-se que a hipertrofia muscular, principal objetivo da grande
maioria das pessoas que optam pelo treinamento de força, “[...] influencie na
força, pois mantidas constantes as demais variáveis, uma maior quantidade de
massa muscular envolvida em um movimento aumentará a capacidade de
gerar força”. (KRAEMER e HAKKINEN, 2004 apud GENTIL, 2008). Esse fato é
confirmado por Kraemer e Zatsiorsky (2008) quando mencionam que músculos
com uma maior área transversal produzem maiores forças do que músculos
semelhantes com uma área transversal menor.
A partir desse achado, nota-se a importância de privilegiar treinos que
trabalhem de forma equilibrada e consciente cada um desses aspectos. Bosco
(2007) traz uma contribuição importante nesse sentido quando afirma que tanto
para melhorar a força máxima quanto para aumentar a massa muscular, o
treino com cargas elevadas (entre 70-100% da carga máxima) seria o mais
indicado.
Finalmente, o desenvolvimento da força muscular configura-se como
parte integrante do processo de treinamento para qualquer modalidade
esportiva (VERKOSHANSKI, 1995 apud GUEDES, 2003), além de ser de
fundamental importância para a realização das tarefas da vida diária, das mais
simplórias às mais complexas.
3.3 Treinamento aeróbico
Diferente do treinamento de força, o treino de endurance, como
também é chamado o treinamento aeróbico, se caracteriza por ter uma
predominância aeróbia, segundo Navarro e Silva (2007) promover o sistema
17
cardiovascular e ser sustentado energeticamente pelo metabolismo de ácidos
graxos e carboidratos.
Os exercícios aeróbicos, por “aumentar a capacidade do indivíduo de
mobilizar, transportar e oxidar os ácidos graxos para a obtenção de energia
durante o exercício submáximo” (MCARDLE, KATCH e KATCH, 2001, p. 478),
são muito apreciados por pessoas que desejam exibir um corpo mais “enxuto”,
livre dos excessos de gorduras, tão indesejados.
Com relação à saúde, são inúmeros os benefícios atribuídos à prática
regular desses exercícios, como a própria melhoria da capacidade aeróbica.
Pitanga (2004, p. 103) ressalta que:
“O aumento da capacidade aeróbica proporciona proteção cardiovascular, mediante modificações positivas em muitos fatores de risco coronariano. Dentre eles, o exercício aeróbico regular melhora o metabolismo das gorduras e dos carboidratos, diminui a pressão arterial e reduz a adiposidade corporal”
Segundo (MCARDLE, KATCH e KATCH, 2001) “o treinamento
aeróbico produz melhoras significativas na capacidade para o controle
respiratório no músculo esquelético”. Ainda segundo os autores, músculos
esqueléticos treinados aerobicamente possuem maiores e mais numerosas
mitocôndrias, fato corroborado por (SALTIN, 1973 e SCHON, 1978 apud
WEINECK, 2005, p. 215) quando cita um aumento de 2-3 vezes no número, no
tamanho e na superfície das mitocôndrias.
Aumentos nesse sentido e também alterações acontecidas a nível de
enzimas do ciclo de Krebs e da cadeia respiratória ( BUYZE et al,1976 e
HOLLOSZY, 1975 apud WEINECK, 2005, p. 215) resultam num aumento da
capacidade oxidativa, tão esperada por quem busca um objetivo mais estético
e também de saúde, e da capacidade aeróbia de resistência.
3.3.1 Treinamento aeróbico e sistemas energéticos
O treinamento aeróbico é basicamente sustentado energeticamente
pelas reações metabólicas do sistema de energia a curto prazo da glicólise,
18
com subseqüente acúmulo de lactato ( MCARDLE, KATCH e KATCH, 2001), e
principalmente pela oxidação de ácidos graxos como já citado anteriormente.
Para conseguir o ATP necessário às contrações musculares através da
oxidação de ácidos graxos, nesse momento o exercício já ultrapassou dos 2-4
minutos de duração, com conseqüente diminuição da intensidade, o corpo
depende quase que exclusivamente do metabolismo aeróbico para geração
dessa demanda energética (MCARDLE, KATCH e KATCH, 2001). Nesse
momento a dependência da energia produzida por vias anaeróbicas aláticas
(ATP-PCr) e anaeróbicas láticas (HCO) é diminuída, justificando assim a
dependência da produção aeróbica.
Portanto de modo geral, à medida que o esforço físico diminui e passa
a acontecer numa intensidade entre 50-80% do VO2 máximo, os sistemas
energéticos solicitados no exercício de endurance se diferem dos observados
no treinamento de força, assim como as fibras solicitadas, que nesse caso são
as fibras de contração do tipo I. Essas fibras têm um maior número de
mitocôndrias, fato que, como visto anteriormente, justifica uma maior
capacidade metabólica aeróbica.
3.4 Treinamento concorrente
O treinamento concorrente é hoje, tema recorrente nas discussões que
envolvem os programas de exercícios físicos. A polêmica surge no momento
de definir a ordem correta de se realizar o treino de força e o aeróbio dentro de
uma mesma sessão de treinamento. Para Guedes (2004) esta associação de
exercícios de características distintas define o TC. A interferência negativa que
o TC pode exercer sobre a valência força é a grande questão a ser discutida
pelos praticantes de musculação e estudiosos da área de Educação Física.
Diversos estudos concordam que o treinamento concorrente não
prejudica o desenvolvimento da capacidade aeróbia, podendo esta ser
potencializada (KRAEMER et al., 1995; MCCARTHY et al., 2002; SALE et al.,
1990 apud GUEDES, 2004). Quando se trata do desenvolvimento da força,
19
hipertrofia e potência muscular os estudos já não são tão consensuais e alguns
autores sugerem que esse tipo de prática prejudica o desenvolvimento dessas
valências (BELL et al., 2000; KRAEMER et al.,1995). As causas dessa provável
interferência são diversas, e alguns estudos já trabalham com hipóteses tanto
crônicas, que sugere que algumas adaptações que o corpo deveria sofrer para
desenvolver as valências força e resistência aeróbia são antagônicas, quanto
agudas, que sugere que o comprometimento da força tenha origem na fadiga
causada pelo componente aeróbico do treinamento (TRICOLI et al.,2005 apud
FONTANELLI, 2009).
Tais achados são corroborados por estudos que demonstram que
vários são os mecanismos responsáveis pelas limitações nas adaptações do
músculo esquelético no desenvolvimento da força durante o treinamento
concorrente, podendo ser citados os de ordem neurais, os de disponibilidade
de substratos energéticos e os de incompatibilidade funcional dos diferentes
tipos de fibras (HAKKINEN et al., 2003; CREER et al., 2005 apud MONTEIRO,
2009). O tema torna-se polêmico na medida em que alguns estudos também
demonstram que a força não é afetada por conta da prática prévia de
exercícios de resistência aeróbia (BELL et al.,1991b; HORTOBAGYI, KATCH e
LA CHANCE, 1991; SALE et al., 1990 apud KRAEMER, 2006).
Torna-se patente a quantidade de dúvidas que irão surgir toda vez que
um profissional da área de educação física optar pelo treinamento concorrente
como protocolo de exercício a ser sugerido para seus alunos, uma vez que os
estudos não demonstram um parecer conclusivo quanto ao assunto. O ideal
nesse caso será trabalhar de maneira consciente e observar todos os fatores
que envolvem a atividade a ser realizada. McCarthy e colaboradores (1995)
apud Kraemer (2006) realizou um estudo onde demonstrou que o treinamento
concorrente de força e resistência aeróbia pode ser compatível, dependendo
de fatores como nível de intensidade e volume de treinamento.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração é o objetivo que
se busca atingir com o programa de atividade física escolhido. Estudos
mostram que quando se busca um maior gasto energético, benefícios a nível
de cardiopatas, melhorias na densidade óssea, diminuição de gordura corporal,
20
as sessões combinadas ( força+ aeróbio) são mais efetivas se comparadas
com sessões isoladas (CASTINHEIRAS, 2007). Portanto, é interessante antes
de tomar qualquer decisão, ponderar sobre as estratégias que melhor irão se
adequar aos desafios surgidos, respeitando sempre os níveis de aptidão física,
assim como as limitações de seus clientes.
21
4 METODOLOGIA
4.1 Modelo do estudo
Para Mattos, Blecher e Rosseto Jr (2004), “o método de pesquisa
descritivo tem como características observar, registrar, analisar descrever e
correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los.” (p. 15). Coloca ainda que
a pesquisa descritiva tem como objetivo descobrir com precisão a frequência
em que um fenômeno ocorre e sua relação com outros fatores.
, Enfim, esta pesquisa assumiu a forma de estudo descritivo, mais
especificamente um estudo de caso, uma vez que teve como preocupação a
investigação de um evento específico da amostra, nesse caso a interferência
do treinamento concorrente na força muscular em exercícios envolvendo a
mesma musculatura.
4.2 Amostra
A amostra foi composta por dez jovens do sexo masculino (176,0 ±
5,1cm; 76,5 ± 8,8kg; 19,4 ± 1,3 anos), fisicamente ativos, alunos da academia
de ginástica Perfil da cidade de Entre Rios-Ba. Todos os alunos da amostra
possuíam uma experiência mínima de 12 meses dentro das atividades
realizadas no experimento (treinamento de força e treinamento aeróbico). Os
participantes foram informados sobre os procedimentos utilizados e
participaram de maneira voluntária do estudo, assinando um termo de
consentimento informado e proteção de privacidade. Para efeito de facilitar a
aplicabilidade dos testes, o grupo amostral foi dividido em dois, realizando os
procedimentos em dias diferentes
4.3 Local do estudo
O município de Entre Rios localiza-se a 134km da cidade do Salvador e
tem população estimada no último censo do IBGE no ano de 2007 de 38.886
habitantes. A cidade em questão possui três academias de ginástica, sendo
que uma destas é de uso restrito dos associados de um clube social.
22
4.4 Determinação da freqüência cardíaca máxima (FCMAX)
A frequência cardíaca máxima foi predita através da equação de
Karvonen apresentada a seguir: FCmax = 220 – idade. No teste, porém, foi
utilizada a equação de freqüência cardíaca de reserva para determinação da
zona alvo.
4.5 Determinação do valor de 1-RM e da capacidade de repetição máxima
O teste para determinação do valor de 1-RM e da capacidade de
repetição máxima foi realizado no aparelho de extensão de pernas. Após uma
breve sessão de alongamento e aquecimento, este último realizado no próprio
aparelho utilizado no teste através da execução de 20 repetições ligeiras, o
valor referente a 1- RM foi determinado após a realização de 3-6 tentativas
consecutivas, com intervalos de 180 segundos para restabelecimento das
reservas de ATP-CP. O maior valor observado e a perfeição no padrão do
movimento foram utilizados como critério de avaliação. Para determinar a carga
referente às repetições máximas foi calculado o valor percentual de 80% de 1-
RM.
4.6 Arranjo experimental
Para analisar a interferência do exercício aeróbico prévio sobre a força
muscular em exercícios resistidos de mesmo grupo muscular, os participantes
do experimento divididos em dois grupos, primeiramente realizaram o teste
inicial (1-RM e determinação da carga de RMs) em dias separados. Uma
semana após o teste, os grupos sempre em dias separados, realizaram uma
série de extensão de pernas com carga referente a 1-RM, antes e depois de
uma atividade aeróbica em bicicleta ergométrica com duração de 45 minutos,
em um intervalo de intensidade entre 50-60% da freqüência cardíaca de
reserva (FCR). A frequência cardíaca de reserva foi utilizada para determinar a
zona alvo do treino, devido ao fato desta, levar em consideração o estágio de
aptidão do indivíduo, que nesse caso é representado pela freqüência cardíaca
de repouso.
Na análise da produção de força após o exercício em bicicleta
ergométrica, o critério utilizado para determinar a influência deletéria do treino
23
aeróbio sobre o exercício posterior em extensora, era a perfeição no padrão de
movimento. Após três dias da realização do último protocolo, os grupos
realizaram o mesmo procedimento, só que desta vez, ao invés de uma série na
extensora com carga de 1-RM, antes e depois do exercício aeróbio, os
mesmos executaram duas séries de extensão de pernas a 80% de 1-RM,
novamente antes e depois da bicicleta ergométrica. Os critérios de
avaliação foram a falha muscular e mais uma vez o primor técnico nos
movimentos.
4.7 Coleta de dados
Os efeitos do treino aeróbio sobre o subseqüente desempenho da força
muscular foram observados a partir de criteriosa análise dos movimentos
realizados em aparelho específico de extensão de pernas. Cada participante do
estudo foi testado com cargas relativas a 1-RM e 80%-RM.
4.8 Procedimentos estatísticos
Os dados foram analisados a partir da estatística descritiva (média,
desvio padrão e percentual) utilizando o software Windows Excel 2007. Para
verificar as diferenças entre os valores antes e depois do exercício aeróbio
(endurance) nos teste de uma repetição máxima (1RM) e de repetições a 80%
de uma repetição máxima (80% RM) foi utilizado o teste t, considerado
significativo p<0,05 utilizando o software Windows Excel 2007.
24
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi observado significativo decréscimo no desempenho da força
muscular após a execução do treino de endurance em bicicleta ergométrica
(testes de 1-RM e REPMAX- antes do exercício em bicicleta ergométrica.
Tabela 1. Teste de Repetições Máximas (extensão de pernas), antes e após
exercício em bicicleta ergométrica.
TESTE ANTES APÓS
END UR ANC E END UR ANC E Primeira série a 80% de uma 9,2 ± 1,2 6,7 ± 1,3*
repeti ção máxi ma (1R M) R EPETIÇ ÕES R EPETIÇ ÕES Segunda série a 80% de uma
repetição máxima (1RM)
8,6 ± 1,4
REPETIÇÕES
6,1 ± 1,2 *
REPETIÇÕES
* P< 0,05 levando em consideração os valores antes e depois do exercício de
endurance
Embora haja muito interesse em se buscar respostas para a questão do
treinamento concorrente no que tange às adaptações induzidas por este tipo de
treinamento, os estudos ainda não são conclusivos, segundo Aoki et al. (2008).
Estudos demonstraram que as adaptações decorrentes do treinamento de
endurance e do treinamento de força ocorrem por meio de transformações
estruturais e funcionais específicas de cada estímulo, inclusive no que diz
respeito ao recrutamento dos diferentes tipos de fibras musculares (BACURAU
et al., 2003). Segundo Monteiro (2009) as diferentes adaptações envolvidas no
desenvolvimento da força durante o treinamento concorrente são no nível de
mecanismos neurais, de disponibilidade de substratos energéticos e da
interconversão na capacidade funcional dos diferentes tipos de fibras.
Hakkinen et al (2003) em seus estudos afirmam que o treinamento
concorrente pode atenuar o desenvolvimento da força explosiva através de
25
uma limitação na ativação neural voluntária. Em relação aos substratos
energéticos Kraemer et al., 2005 apud Castinheiras, 2009 acreditam que o
comprometimento no desenvolvimento da força durante o treinamento
concorrente tenha origem na depleção de substratos energéticos pela atividade
aeróbica.
Já no nível das fibras musculares, quando dois programas são
realizados, com foco no treinamento aeróbico e outro sobre o treinamento de
força, a resposta adaptativa não é a mesma que ocorre quando apenas um
protocolo é utilizado (FLECK e KRAEMER, 2006). Atualmente três hipóteses
são utilizadas para explicar a interferência deletéria do treinamento
concorrente, a hipótese crônica, a hipótese do overtraining e por último a
hipótese aguda.
De acordo com a hipótese crônica, o organismo não seria capaz de
promover adaptações tão distintas ao mesmo tempo. Nelson et al., (1990) apud
Tricoli et al., (2005) descreveram que treinamentos de força combinados com
treinamentos de resistência aeróbica podem recrutar diferentes tipos de
unidades motoras.
Segundo os mesmos autores, protocolos de endurance de alta
intensidade ( 90% VO2 max) e de treinamentos de força acima de 80% de 1-
RM recrutariam os mesmos tipos de fibras musculares, as do tipo II. Assim
sendo, a combinação desses dois protocolos causaria um estresse maior no
mesmo tipo de fibra, impossibilitando adaptar-se para um aumento de força.
Segundo Fleck e Kraemer (2006) o sobretreinamento pode ser a causa
final da incompatibilidade entre os protocolos de força e endurance, e que
treinamentos convencionais de três dias por semana podem ser compatíveis
dentro da lógica de treinamento concorrente.
A hipótese do overtraining sugere que um alto volume de treinamento
concorrente seria capaz de criar um ambiente catabólico que levaria ao estado
de excesso de treinamento. Esse resultado indesejado estaria muito ligado à
26
questão da alteração na razão testosterona/cortisol segundo Tricoli et al.,
(2005).
Pelo fato deste estudo ter sido realizado utilizando-se os mesmos
grupamentos musculares (ex: bicicleta ergométrica seguida de extensão de
joelhos), a hipótese que melhor explicaria o comprometimento da força após o
exercício de endurance seria a hipótese aguda. Segundo Aoki et al., (2008) a
hipótese aguda foi proposta por Craig et al., (1998) após constatar que o treino
de corrida não produzia inibição da força em membros superiores, mas só nos
inferiores, e que neste caso a fadiga residual causada pela execução prévia de
um treino aeróbico estaria restrita apenas à musculatura treinada,
comprovando assim o comprometimento músculo-específico. Alguns achados
demonstram que mesmo nos casos onde os mesmos grupos musculares foram
recrutados, o efeito adverso do treinamento concorrente após 8 horas não foi
observado (AOKI et al., 2008).
Para Bacurau et al., (2003) a suplementação de carboidrato realizada
antes e durante a execução de uma sessão de endurance não reverte o efeito
deletério do treinamento concorrente sobre o desempenho da força,
comprovando que a depleção do glicogênio muscular, que era o mecanismo
proposto para justificar a suplementação com carboidrato não seria o mais
indicado para explicar o decréscimo no desempenho da força muscular após
uma sessão aeróbia.
Em estudo realizado por Aoki e Gomes (2005) a suplementação com
creatina anulou o efeito adverso do exercício de endurance sobre o
desempenho da força em repetições máximas. Para os autores a depleção de
creatina-fosfato pode estar associada à diminuição do desempenho da força
após sessão de endurance, já que se instalaria nesse caso um ambiente de
fadiga residual, mais uma vez a hipótese do comprometimento agudo se
mostra mais plausível para explicar tal fenômeno.
O presente estudo corrobora os achados de Craig et al., (2006) apud
Tricoli et al., (2005), que atribuem a queda na produção da força a fatores
como a falta de tempo de recuperação da musculatura e até a diminuição na
27
ativação das musculaturas envolvidas no protocolo (musculaturas dos
membros inferiores).
Em relação ao teste de 1-RM, os dados encontrados diferem de alguns
achados, a exemplo do estudo realizado por Bacurau et al., (2003), onde os
testes de 1-RM não sofreram alteração após o exercício de endurance, com ou
sem o uso de suplementação de carboidrato. No presente estudo, a
capacidade de executar o teste de carga máxima também foi significativamente
comprometida, conforme se observa na tabela 2.
Tabela 2. Teste de 1-RM (extensão de pernas), antes e após exercício em
bicicleta ergométrica (50-60% da FCR).
TESTE ANTES APÓS
E ND U R A NC E E ND U R A NC E UMA REPETIÇÃO MÁXIMA (1RM) 62,7 ± 9,1 kg 54,7 ± 9,1 kg*
* P< 0,05 levando em consideração os valores antes e depois do exercício de
endurance
No caso da ausência de comprometimento no teste de carga máxima,
a explicação estaria no recrutamento adicional de fibras IIa e IIb observada
nesse teste, já que a produção de energia em esforços máximos e curtos é
fornecida predominantemente pela degradação da creatina fosfato, e a
produção de energia pela glicólise, observada no caso das repetições
máximas, é menos importante. A diminuição na capacidade de gerar força
observada no teste de carga máxima ainda não está totalmente elucidada.
28
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O treinamento aeróbio em bicicleta ergométrica interferiu de forma
deletéria no desempenho da força muscular em exercícios de mesmo
grupamento muscular. Os dados apresentados no presente estudo sugerem
que o comprometimento observado no protocolo de treinamento concorrente
tem característica músculo-específica, reforçando a hipótese aguda que neste
caso, teria a fadiga residual como principal causa para o decréscimo da força.
Os resultados obtidos têm relevância na construção de programas de
treinamento. A partir do momento em que se tem ciência dos efeitos deletérios
do treinamento concorrente realizado para mesmo grupamento muscular, a
construção de programas de endurance para membros inferiores, e de
exercícios de força, para membros superiores torna-se uma alternativa
interessante e eficiente. Com isso, o estudo se configura como importante
ferramenta para os profissionais da área de Educação Física que pretendem
desenvolver treinos pautados na prescrição/periodização consciente visando
minimizar os efeitos indesejados.
É importante ressaltar que várias são as hipóteses utilizadas para
explicar esse fenômeno tão complexo como é o treinamento concorrente, e que
estudos demonstram que vários fatores podem ser responsáveispela
diminuição da força e não só os achados e apresentados por este estudo. A
hipótese aguda apenas se mostrou mais condizente com os dados
encontrados.
Mais estudos são necessários para investigar de maneira mais
conclusiva a questão da ordem na execução dos exercícios. Além disso, a
possibilidade deste estudo ser realizado de maneira a investigar outras
variáveis, capazes de responder a questões de ordem crônica também seria
extremamente válida.
29
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32
ANEXO
A
33
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO ESTADO DA
BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
COLEGIADO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Senhor_
Estamos realizando uma pesquisa com o objetivo de verificar a influência do treinamento aeróbico sobre o treinamento de força subsequente, tendo como responsável o Prof. Ms. Valter Abrantes e como pesquisador Alexsandro Batista Araújo.
O Senhor está sendo convidado a participar desta pesquisa, onde será feito o uso do espaço da academia em que é usuário. Solicitamos então a sua autorização para realizar com o senhor todos os procedimentos necessários ao estudo.
Este estudo pretende seguir os princípios éticos de pesquisas envolvendo seres humanos, evitando danos/ agravos aos sujeitos envolvidos na pesquisa. Sua participação é voluntária e, a qualquer momento, estaremos a sua disposição para esclarecimentos sobre a pesquisa e você terá todo o direito de desistir dela quando não se sentir devidamente satisfeito, sem nenhum prejuízo para o senhor.
Caso haja algum prejuízo por quaisquer danos decorrentes desta pesquisa, o senhor terá direito à indenização, que estará de acordo com Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Será garantido o sigilo de todas as informações individuais coletadas nessa pesquisa, preservando a sua identidade. Os resultados desse estudo serão publicados e poderão ajudar a entender a influência do treinamento aeróbico sobre o treinamento de força subseqüente.
Se você concordar em participar, deverá assinar este termo. Uma cópia dele ficará como você e a outra com os pesquisadores.
Alagoinhas (BA), / / Assinatura do sujeito
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