anÁlise do gerenciamento de resÍduos de gesso no municÍpio...
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ANÁLISE DO GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS DE GESSO NO MUNICÍPIO
DE SALVADOR-BA
Glauber Araujo Alencar Cartaxo (UFBA )
eng.cartaxo@gmail.com
Ilce Marilia Dantas Pinto de Freitas (UFBA )
ilce_marilia@hotmail.com
VIVIANA MARIA ZANTA (UFBA )
zanta@ufba.br
Esta pesquisa analisa o gerenciamento dos resíduos de gesso em
Salvador/BA. Para a consecução deste objetivo foi necessário
caracterizar o gerenciamento dos resíduos de gesso no município, bem
como identificar e analisar os principais aspecctos que influenciam
esse gerenciamento. O gerenciamento adequado de Resíduos da
Construção Civil - RCC, com ênfase nos resíduos de gesso, é de
fundamental importância para o meio ambiente e à saúde pública.
Assim, para a realização desta pesquisa foi feito um estudo
exploratório com atores do gerenciamento de Resíduos da Construção
Civil, para caracterizar a forma de gerenciamento dos RCC em geral,
e do gesso em particular. Os instrumentos de pesquisa, além dos
bibliográficos e documentais, foram entrevistas e questionários semi-
estruturados, com perguntas abertas e fechadas para identificação do
gerenciamento do resíduo de gesso no município de Salvador. A
persistência da deposição irregular dos resíduos de gesso em áreas de
domínio público está relacionada; à falta de fiscalização e ineficiência
da administração municipal no controle dos RCC, na deposição
irregular em vias e logradouros públicos pela presença de única área
privada para deposição de RCC que não contempla os resíduos Classe
C e Classe D, sendo um fator limitante para correta deposição destes
resíduos, há contratação irregular dos transportadores privados pelos
geradores de RCC para desonerar seus custos com o gerenciamento do
RCC, prioritariamente pela inexistência de reaproveitamento dos
resíduos de gesso no município de Salvador. Espera-se que esse
trabalho possa contribuir para a discussão das estratégias e práticas
do gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, especialmente os
resíduos de gesso.
Palavras-chaves: Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil,
Resíduo de Gesso, Reaproveitamento.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
O gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil - RCC é de grande importância para o
meio ambiente e a saúde pública. O manejo inadequado desses resíduos gera a contaminação
do solo, do ar e da água, entre outros. A quantidade de municípios que possuem processos de
gerenciamento de resíduos de forma adequada, como aterros inertes, usinas de reciclagem ou
outros métodos, ainda é muito pequena, logo, é significativo o volume de RCC destinados a
disposições clandestinas.
É importante ressaltar que houve um aumento das restrições impostas por legislações,
resoluções ambientais e normas da ABNT que trazem exigências relacionadas ao
gerenciamento adequado dos resíduos sólidos e, em especial aos Resíduos da Construção
Civil. Dentre elas destaca-se a Resolução CONAMA 307, em vigor desde 02 de janeiro de
2003, que estabelece critérios e procedimentos para tornar efetiva a redução dos impactos
ambientais gerados pela construção civil.
Dentre os resíduos gerados pela construção civil, o gesso é um dos resíduos que demanda um
manejo diferenciado em função da constatação de haver, atualmente, uma baixíssima
reutilização ou reciclagem, em contraponto a uma enorme deposição desse resíduo em locais
inadequados, gerando um impacto ambiental negativo.
A escolha do resíduo de gesso, dentre os demais resíduos da construção civil, como objeto de
análise desta pesquisa se deve ao fato de seu uso ter crescido gradativamente ao longo dos
últimos anos, gerando cada vez mais resíduos, cujo gerenciamento é questionável.
Tradicionalmente o uso do gesso é aplicado em revestimento de paredes e tetos, como
material de fundição, na produção de placas de forro, sancas, molduras, peças para
acabamento, além da tecnologia drywall, utilizada em chapas e também para o tratamento de
juntas dos sistemas de paredes, tetos e revestimentos. A diversificação e intensificação do uso
desse material demandam uma nova postura dos atores da construção civil em relação aos
resíduos gerados, desde o processo de coleta, transporte e armazenagem, à sua destinação
final.
Ao se comparar a Resolução CONAMA 307/02, que estabelecia que os resíduos de gesso
fossem separados e estocados – em junção da sua toxicidade e ausência de tratamento
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específico para sua disposição -,com a Resolução CONAMA 431/11, que altera a resolução
anterior e reclassifica o resíduo de gesso como reciclável, vislumbra-se um novo cenário que
merece ser analisado.
2. Fundamentação teórica
2.1 O gesso na Construção Civil
O gesso pelas características que apresenta, é utilizado largamente na construção civil, em
vários serviços e em diferentes aplicações, visando melhor atender os processos de qualidade
e produtividade no canteiro de obras. Entretanto, a geração de resíduos de gesso torna-se um
problema de ordem pública, desde quando o resíduo depositado de forma inadequada está
associado à formação do gás sulfídrico (H2S) em aterros possibilitando a contaminação do
solo, da água do subsolo.
Segundo Agopyan et al. (1998), no Brasil, o gesso basicamente tem seu uso consagrado na
produção do revestimento final e pode produzir argamassa para emboço, pela sua
plasticidade. As argamassas e as pastas de gesso são muito adequadas para jateamento,
permitindo a execução de revestimentos em larga escala e com acabamentos diversos.
Dados do Departamento Nacional de Produção Mineral -DNPM (2009), conforme
apresentado na Figura 1, mostram a produção de gesso nos anos de 2006, 2007 e 2008.
Fonte: DNPM, 2009
As chapas de gesso acartonado, processo conhecido de construção a seco, são versáteis e
geralmente leves, permitindo usos variados e podendo substituir a alvenaria convencional.
Figura 1 - Produção Nacional de Gesso tonelada por ano.
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Segundo as informações da Associação Brasileira dos Fabricantes de Chapas para Drywall -
ABRAGESSO, o Brasil ainda ocupa o 12º lugar no consumo mundial de chapas de gesso
acartonado - CGA, com 0,18 m2 por habitante/ano, ficando atrás de países como Argentina
com 0,26 m2 habitante/ano e Chile 1,20 m
2 por habitante/ano. Nos Estados Unidos, por
exemplo, o consumo chega a 10,0 m2 por habitante/ano. Esses números sinalizam que o
mercado brasileiro ainda possui um grande potencial de expansão, conforme Figura 2.
Figura 2 - Consumo Mundial por m2 de CGA habitante/ano.
Fonte: ABRAGESSO, 2011.
O consumo das chapas de gesso acartonado cresce a passos largos no Brasil. Passou de 1,7
milhão de m2, em 1995, para 33 milhões de m
2, em 2010, tendo a Região Sudeste como a
maior consumidora do produto e o Nordeste ficando em último lugar no uso da tecnologia,
como mostra a Figura 3.
Figura 3 - Milhões de m2 consumido por ano no Brasil
Fonte: ABRAGESSO 2011.
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As regiões Sudeste e Sul dominam o mercado de placas de gesso acartonado, respondendo por
mais de 80% do consumo nacional, ficando o restante distribuído entre as regiões Centro-
Oeste e Nordeste. O estado de São Paulo lidera esse segmento: responde por 44% do
consumo, com crescimento de 28,66% em 2010. Em seguida estão a região Sudeste, exceto
São Paulo, com 21% do consumo e crescimento de 35,13% em 2010 e a região Sul com 16%
do consumo e a maior expansão de 2010, de 35,83%. As regiões Centro-Oeste e Nordeste,
com participações de 11% e 8%, obtiveram no ano de 2010 expansões de respectivamente
27,53% e 15,83% (ABRAGESSO, 2011). Observa-se o consumo significativo e um potencial
de crescimento.
2.2 Descarte e perda de gesso na construção civil
Segundo ABRAGESSO (2011) a chapa de gesso acartonado é produzida por um rigoroso
controle de qualidade, sendo sua composição básica o gesso e o revestimento feito com papel
cartão especial.
Devido às atividades de corte na construção civil e diferentes modulações das obras, estima-se
que entre 10% e 12% das chapas de gesso acartonado são transformados em resíduos durante
a construção nos EUA (CAMPBELL, 2002).
A ABRAGESSO afirma que no Brasil este valor pode ser menor entre 3% e 5%. Segundo
estimativas de John e Cincotto (2003), as perdas de placas de gesso acartonado são de 5%.
Os fabricantes de gesso em pó do Pólo Gesseiro do Araripe, no estado do Pernambuco,
estimam perdas de 30% da massa de gesso, em 2008, especialmente devido à grande
velocidade de endurecimento do gesso de construção civil, associada à aplicação manual
realizada por mão-de-obra com baixa qualificação. O projeto FINEP HABITARE estimou
que o desperdício gira em torno de 45% (AGOPYAN et al., 1998).
Segundo Espinelli (2005), o conhecimento por parte do gerador da taxa de desperdício de
materiais, conforme Tabela 1, é um importante fator para a redução das perdas no canteiro de
obra. A percepção da necessidade de minimizar a geração dos RCC, não é apenas uma
questão econômica, mas uma ação importante para a preservação ambiental.
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Tabela 1 - Taxas de desperdício de materiais
Materiais Taxa de desperdício (%)
Média Mínimo Máximo
Concreto usinado 9 2 23
Aço 11 4 16
Blocos e Tijolos 13 3 48
Placas Cerâmicas 14 2 50
Revestimento Têxtil 14 14 14
Eletrodutos 15 13 18
Tubos para sistemas prediais 16 8 56
Tintas 17 8 24
Condutores 17 14 35
Gesso 30 14 120
Fonte: ESPINELLI (2005)
A Tabela 1, apresenta taxas de desperdício, na qual aparecem diferenças consideráveis entre
valores mínimos e valores máximos, diferença esta devido provavelmente às variações entre
metodologias de projetos, execução e controle de qualidade das obras.
Conforme dados do Sindicato SINDUSGESSO (2011), os resíduos de gesso em revestimento
geram maior proporção de resíduo gerado em obras da indústria da construção civil, conforme
ilustrado na Figura 4. As principais fontes de resíduos de gesso são revestimento e placa de
gesso acartonado.
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Figura 4 - Fonte de Resíduo de Gesso.
Fonte: SINDUSGESSO (2011)
2.2.1 Impacto ambiental do resíduo de gesso
O resíduo de gesso é um material determinante na contaminação dos demais resíduos da
construção civil. Alguns autores (JONH; CINCOTTO, 2003; NITA et al, 2004) ressaltam que
os resíduos de gesso constituem um problema de limpeza pública, pois este material apresenta
limitações para disposição em aterros sanitários, onde, na ausência de nitrato e oxigênio, o
sulfato do gesso pode ser reduzido biologicamente por bactérias anaeróbias, formando três
tipos de sulfetos, entre eles o sulfeto de hidrogênio (H2S), também denominado gás sulfídrico.
O gesso não pode, também, ser reciclado juntamente com a fração mineral do RCC para
produção de agregados, pois o sulfato nele presente reage com aluminatos do cimento,
gerando etringita, que apresenta volume muito maior que os compostos originais, gerando
altas tensões de expansão na matriz dos concretos, chegando a destruir elementos construtivos
com este material (JOHN; CINCOTTO, 2003). A norma brasileira de especificação de
agregados reciclados de RCC (ABNT, 2004) limita o teor de sulfato nestes agregados a 1%
para uso em concretos sem função estrutural e 2% para uso em pavimentação.
Com a alteração de classificação do resíduo de gesso para Classe B, através Resolução
CONAMA 431/11, fica claro que o gerador é responsável e pode dá uma destinação pelo
adequado gerenciamento do resíduo de gesso dentro do canteiro de obra, bem como nas fases
de coleta, segregação, transporte e destinação final, possibilitando assim que o material limpo
possa ser utilizado novamente na cadeia produtiva (ABRAGESSO, 2011)
3. Procedimentos metodológicos
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Para caracterizar o gerenciamento dos resíduos de gesso em Salvador, foi necessário
investigar o órgão gestor e fiscalizador como um dos atores no manejo do resíduo de gesso,
através de pesquisa documental na Empresa de Limpeza Urbana do Salvador - LIMPURB,
órgão responsável pela limpeza urbana no município, buscando entender o processo, para
posteriormente fazer a caracterização do gerenciamento do resíduo de gesso oriundo de obras
de reforma, reparo e demolição no município de Salvador/BA.
Esse mesmo órgão forneceu informações para identificar e analisar os principais aspectos que
influenciam o gerenciamento de resíduos de gesso no município, além da análise documental,
foram feitas entrevistas com vistas à obtenção de dados complementares que permitissem a
identificação e posterior análise dos aspectos mencionado.
O questionário semi-estruturado foi aplicado aos transportadores - pessoa jurídica, para
coletar as seguintes informações: quanto tempo que as empresas cadastradas fazem coleta e
transporte de Resíduos da Construção Civil, tipos de resíduos transportados, destinação dos
mesmos, além de focar na coleta, transporte e destinação final do resíduo de gesso no
município.
Foram feitas entrevistas com os responsáveis pela área de transbordo e triagem dos RCC,
visando identificar os locais de deposição do resíduo de gesso e/ou alternativas para triagem,
reaproveitamento, reuso e reciclagem desse resíduo, no município de Salvador-BA.
Esta análise também proporciona a descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos,
indo além das aparências do que está sendo comunicado. A análise de conteúdo é uma das
técnicas mais comuns na investigação empírica realizada por diferentes ciências.
No que se refere à análise documental, a mesma foi realizada tendo como base prioritária o
Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, com a identificação do
transportador, da área receptora de tratamento e área receptora para destinação final dos
resíduos de gesso no município de Salvador. Foi realizada também uma entrevista com o
representante do Aterro Privado de Resíduos da Construção Civil no município, para um
aprofundamento da pesquisa sobre as áreas de destinação final de resíduos de gesso.
Além das modalidades de coleta de dados anteriormente mencionadas, optou-se ainda por
uma visita com aplicação de questionário semi-estruturado à ABRAGESSO, para investigar
as ações propostas e/ou realizadas pela referida associação no sentido de possibilitar, na
prática, a alteração da classificação do resíduo de gesso proposta na Resolução CONAMA
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4. Análise e discussão dos resultados
A LIMPURB como órgão responsável pelo gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos e
exerce fiscalização e controle sobre a questão dos RCC no município. Dados da própria
empresa mostram a participação desses resíduos na totalidade de resíduos sólidos coletados na
cidade. Em 1991 a massa de RCC era 22% dos resíduos aterrados, em 1998 o percentual já
havia avançado para 42%, quase 60% do material foi recolhido de vias e áreas públicas pela
própria empresa (LIMPURB, 2010).
Os relatórios da própria LIMPURB no período entre 2004 a 2009 ressaltam as mudanças
ocorridas após a tentativa de implantação das bases e postos de descarga de resíduo. Vale
ressaltar que essas ações representaram uma evolução na postura do poder público municipal
em relação aos RCC. A Figura 5 monstra a quantidade de RCC coletada entre os anos de 2004
a 2009
Figura 5 - Quantidade dos Resíduos da Construção Civil tonelada/ano.
Fonte: LIMPURB, (2004-2011).
Para o gerenciamento de RCC, o poder público municipal se baseia na Resolução 307/02, do
CONAMA, onde os resíduos são classificados em classe A, classe B, classe C e classe D. No
primeiro semestre de 2010, foi computado um volume estimado de 38.855 ton./mês de RCC,
oriundo dos grandes geradores, sendo que 56,17% foram originados dos processos de
construção, 7,87% dos de reforma, 28,09% dos de demolição e 1,51% de
pavimentação/urbanização. Deste total apenas 2.606,00 ton./mês foram direcionadas para
aterros licenciados para receber os resíduos classe A. Segundo os técnicos da Assessoria de
Planejamento Urbano da LIMPURB, os demais resíduos provavelmente estão sendo
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descartados de forma aleatória em vias e logradouros públicos, gerando ônus financeiro e
ambiental para a Prefeitura Municipal do Salvador. Há, portanto necessidade de uma
fiscalização mais atuante, integrada com outros órgãos da prefeitura, para coibir esta prática
que tanto pode impactar a cidade (PMSB, 2010).
Os RCC gerados atingem elevadas proporções na massa de resíduos sólidos urbanos – de 41 a
70% (PINTO, 2005). Quanto ao município de Salvador, os números apresentados em
relatórios internos de 2010, falam de uma geração de 50.850 ton./mês de resíduos sólidos
urbanos. Deste total, 38.855 ton/mês são RCC, entregues por transportadores privados
cadastrados, representando um volume de massa de 76,42%, no ano de 2010.
Entretanto, apenas 2.606 ton./mês são destinados ao aterro privado responsável por receber os
resíduos Classe A, o que corresponde a 6,7% do volume coletado no ano de 2010 no
município de Salvador. É evidente que este número não corresponde ao total dos RCC
gerados no município, sabendo-se que o gerador é o responsável pela destinação adequada
conforme prevê a Resolução CONAMA 307/02.
4.1 Caracterização do gerenciamento dos resíduos de gesso em Salvador
O gerenciamento dos resíduos de gesso, por parte do órgão responsável pela gestão e
fiscalização dos RCC gerados no município, é muito insatisfatório resumindo-se ao
preenchimento do Projeto de Gerenciamentos dos Resíduos da Construção Civil por parte do
grande gerador, não possuindo nenhum tipo de ingerência sobre a geração desse tipo de
resíduo pelo pequeno gerador, cujo volume é menor que 2m3.
Os técnicos da LIMPURB informam que o resíduo de gesso é coletado de forma inadequada,
camuflado no meio dos outros RCC. Não existe fiscalização para o transporte do gesso, para
que seja feito o gerenciamento de forma separada dos demais resíduos. A gestão do resíduo de
gesso ainda é um problema para o município. O poder público municipal arca com o ônus da
coleta, transporte, transbordo, triagem e destinação final de uma grande parcela do RCC,
segundo técnicos pesquisados na LIMPURB e, no caso particular do gesso, por quase todo
esse resíduo. Por falta de uma fiscalização mais atuante, de um programa de educação
ambiental continuada, de um sistema de informação eficiente e da inexistência de um Plano
Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, é que tantos problemas ainda
ocorrem. Além disso, a descontinuidade administrativa da LIMPURB, a falta de um ente
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regulador atuante, conforme prevê a Lei de Saneamento Básico nº 11.445 de 5 de janeiro de
2007, também são entraves para o gerenciamento adequado dos resíduos em Salvador.
Durante a pesquisa os entrevistados foram questionados quanto à destinação final dada ao
resíduo de gesso, 96% dos transportadores entrevistados afirmam não transportar esse tipo de
resíduo e desconhecem se há alguma área apropriada para o recebimento do mesmo,
afirmando que mediante a determinação de uma lei que eles não souberam identificar, não se
deve coletar e transportar os resíduos de gesso, pois não há local adequado no município para
a disposição final.
A deposição irregular dos resíduos de gesso oriundos da construção civil foi identificada
também durante a aplicação do questionário semi-estruturado da pesquisa. Nele, 4% das 42
(quarenta e duas) empresas, não consideram que o resíduo de gesso é um problema e afirmam
pegar a carga por saber que as demais empresas transportadoras não o fazem, vendo assim um
“nicho” de mercado para aumento de seus lucros. Questionou-se sobre o local de destinação
destes resíduos, e vários entrevistados afirmaram que a destinação ocorre em áreas afastadas
da cidade. Quando indagados sobre o porquê de agirem desse modo, responderam que assim
agiam em função da ausência de fiscalização. Portanto, a impunidade é evidente. Outra
questão que chamou a atenção é o fato desses entrevistados demonstrarem não ter
conhecimento dos impactos ambientais causados pelos RCC.
Vendo esta realidade de desconhecimento da classificação dos RCC, foi perguntado durante a
entrevista se eles conheciam a Resolução CONAMA 307/02 e a classificação dos resíduos e
68% demonstraram total desconhecimento da questão.
Dos 96% que negaram realizar o transporte do resíduo de gesso, 20% afirmaram que não o
fazem por não haver local adequado para destinação final. Caso houvesse local adequado,
84% afirmaram ter interesse em transportar os resíduos de gesso, para aumentar seus lucros.
Fica evidenciado, portanto, que é necessário o cumprimento da Resolução CONAMA 307/02,
que determina que o transportador é co-responsável pelo resíduo transportado, pois o gerador
paga pela coleta, transporte e destinação final e o transportador legalmente cadastrado, é quem
faz a destinação do resíduo de gesso inadequadamente. Assim, se esse resíduo é depositado
em local inadequado, como foi evidenciado pela pesquisa e realizado registro fotográfico pela
cidade, aqui apresentado em quatro diferentes pontos da cidade, a responsabilidade é do
transportador e uma fiscalização eficiente iria contribuir para coibir essa prática. A Figura 6
mostra a disposição irregular encontrada durante a pesquisa nas proximidades do bairro de
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Valéria e a Figura 7 traz outro registro feito no bairro Mata Escura. Já a Figura 8 tem um
registro do bairro de Pau da Lima, de disposição irregular de resíduo de gesso e outros
Resíduos da Construção Civil, o mesmo ocorrendo na Figura 9, cujo registro foi feito em
junho de 2011, na Av. Luis Viana Filho, conhecida como Av. Paralela, via de acesso principal
entra a cidade do Salvador e o Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães.
Figura 7 - Deposição irregular de resíduo de gesso Salvador/BA.
Figura 9 - Deposição irregular de resíduos de gesso Salvador/BA.
5. Considerações Finais
A motivação para realização desse estudo objetivou uma reflexão crítica acerca do processo
de coleta, transporte e destinação final dos resíduos de gesso oriundos da construção civil no
município de Salvador, sob a luz da Resolução CONAMA 307/02 e da Resolução CONAMA
431/11, recentemente publicada, e que reclassifica os resíduos de gesso como Classe B,
possibilitando assim novas perspectivas para seu reaproveitamento.
Figura 6 - Deposição irregular de RCC incluindo resíduo de gesso em Salvador/BA.
Figura 8 - Deposição irregular de resíduo de gesso, Salvador/BA.
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O processo de gestão dos Resíduos da Construção Civil demanda uma necessidade cada vez
mais premente do uso com cautela dos recursos naturais, bem como o não despejo no meio-
ambiente dos rejeitos que poderiam ser reaproveitados tais como resíduos Classe A e B pela
Resolução CONAMA 307, evitando sua presença constante no espaço urbano das grandes
cidades.
Para os fluxos dos Resíduos da Construção Civil, a Prefeitura Municipal do Salvador adota o
Modelo Tecnológico desde outubro de 2008. Entretanto, a pesquisa analisou que este modelo
não contemplou nenhuma área de transbordo, tratamento e destinação final dos resíduos de
gesso no município, deixando assim de ordenar o território em relação a essa questão,
facilitando, portanto, a sua deposição inadequada e aleatória em vias e logradouros públicos.
Nesse sentido, concluiu-se que a elevada geração de resíduos de gesso da construção civil,
demonstra a necessidade de criação de novas políticas de valorização dos resíduos de forma
setorizada, bem como das possíveis formas de seu reaproveitamento.
Notou-se uma disposição, por parte dos transportadores, em evitar a deposição irregular do
resíduo de gesso, como também ficou demonstrado o interesse dos técnicos do órgão público
– LIMPURB, em discutir uma solução compartilhada entre os atores envolvidos, visando
oferecer uma solução mais adequada à destinação final dos resíduos de gesso na cidade do
Salvador.
Em função do exposto, recomenda-se ao poder público municipal investir esforços na busca
de alternativas para o gerenciamento adequado dos resíduos de gesso, através da proposição
de políticas publicas que contemplem a coleta, transporte e destinação final desse resíduo,
enxergando-o como uma fonte geradora de renda, considerando, inclusive, a possibilidade de
que seu reaproveitamento se torne uma solução para redução do descarte clandestino e
aleatório no meio ambiente.
Assim, para melhor aproveitamento do resíduo de gesso, faz-se necessário também que sua
segregação, triagem, coleta e armazenamento aconteçam de forma adequada, possibilitando
com isso uma melhor qualidade do gesso reciclado.
Viabilizar a transformação do resíduo de gesso em um produto com valor agregado para o
reaproveitamento é uma tarefa complexa que além de demandar conhecimento técnico, de
mercado e das diretrizes legais, necessita envolver a identificação do resíduo separado dos
demais RCC, determinar as quantidades do resíduo gerado no canteiro de obra, promover a
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participação efetiva dos geradores dos resíduos, investigar oportunidades de
reaproveitamentos viáveis e definir modelos de negócio e futuras parcerias.
É fundamental que esta cadeia de valor para o resíduo de gesso seja economicamente viável,
estudando-se alternativas caso a caso de destinação adequada para o reaproveitamento dos
resíduos de gesso. Conforme autores estudos a deposição do gesso em aterros somente é
recomendável se realizada em locais isolados sem contato com matéria orgânica ou umidade.
Apesar das experiências de outros países demonstrarem que é possível estabelecer mercado de
reaproveitamento do resíduo de gesso, no Brasil essa realidade é ainda tímida, porém, esse
cenário, tem perspectivas de melhoria a partir da implementação de políticas baseadas na
Resolução CONAMA 431/11. Entretanto, é preciso que haja comprometimento
administrativo, público e privado, no cumprimento das legislações vigentes.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT. NBR 10004: resíduos
sólidos – classificação. Rio de Janeiro, 2004. 71 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS FABRICANTES DE CHAPAS PARA DRYWALL
(Brasil) (Org.)- ABRAGESSO. Números do segmento. Disponível em:
<www.drywall.org.br>, 2011. Acesso em: 20 mai. 2011.
AGOPYAN, V. et al. Alternativas para redução de desperdício de materiais nos
canteiros de obras. São Paulo, FINEP, ITQC, Escola Politécnica da USP, 1998
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