arthur riedel - hei de vencer
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Hei de Vencer
Original de Arthur Riedel
Publicado pela Editora Pensamento S.A.
Assunto - Auto-ajuda
11 Edio MCMLXXVI
Digitalizado, Revisado e Formatado por Melleticia
N D I C E
PREFCIO
TRIUNFO
I - COMO ME VEIO O "HEI de VENCER"
II - A VERDADEIRA PRECE O AMOR
III - A ESCOLA DA VIDA
IV -A AUTO-EDUCAO
V CONFORMAO VERSUS INCONFORMAO VI - ONDE EST A FELICIDADE ?
VII - ONDE EST A VERDADE ?
VIII - VIVER LUTAR
IX - DA TRISTEZA A ALEGRIA
X - DADOS BIOGRFICOS DE ARTHUR RIEDEL
Projeto Democratizao da Leitura
www.portaldetonando.com.br/forumnovo/
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PREFCIO
ARTHUR RIEDER
HEI DE VENCER" no constitui, rigorosamente, um livro, uma obra
pensada e escrita pelo autor. A modstia de Arthur Riedel no lhe
permitiria as veleidades de encimar, com o seu nome, as pginas de uma
brochura. Mas seus admiradores e discpulos tiveram a excelente idia de
taquigrafar algumas das palestras que fez, e a reunio de oito dessas
conversas, mais um artigo explicando a origem da ultraconsagrada frase
"Hei de Vencer", a transcrio do poema "Triunfo" e da pgina de sua irm,
Cinira Riedel, formam este precioso volume, digno, por todos os ttulos, de
levar aos psteros o nome do professor Riedel. No creio ter passado pela
cabea do autor reuni-las em livro, embora o apostolado, a que se dedicou
com tanta pertincia e desinteresse, assim o exigisse; pois, apesar de se loco-
mover por todos os cantos do pas, falando a platias as mais distintas,
no lhe era possvel, evidentemente, ser ouvido por todos. E estamos certos
de que as suas palavras mereciam a ateno, no de milhares, mas de
milhes de brasileiros. Alm disso, as geraes vindouras no gozaro o
privilgio de ouvi-lo, pois a morte silenciou a sua voz. Este volume falar,
portanto, por ele, e tambm, principalmente, dele, pois a verdade que o
professor Riedel est inteirinho nestas pginas. Toda a razo de ser de
suas idias e de sua conduta diante da vida, ele as exps, com clareza e
preciso, graa e segurana, aos seus auditrios.
Num certo sentido estas palestras representam o roteiro por ele
percorrido at chegar sntese admirvel do "hei de vencer". Dona Cinira
Riedel j nos deu alguns dados de sua vida corprea. Mas num homem
como Arthur Riedel, o que menos importa sero talvez esses andares do
progresso dentro da sociedade em que viveu. Que tenha sido isto ou
aquilo, professor ou comerciante, homem rico ou pobre, solteiro ou
casado, so acidentes por assim dizer. O que importa a circunstncia de
estarmos diante de um raro exemplar humano, de um ser que afirmava,
com muita convico e firmeza, estas eloqentes palavras: "Sou um homem
-
feliz". Feliz, por qu? Por ter vencido nos negcios e amealhado fortuna?
Feliz por ter feito um timo casamento ou ter filhos inteligentes e bons?
Feliz por receber da sociedade honradas e prmios? Feliz por possuir uma
bela casa, ter feito grandes viagens ou lido belos livros?
Nada disso. Ao professor Riedel tais preocupaes seriam, quando
muito, acessrias. Sua felicidade provinha doutros fatores. Originava-se
da convico, certa e inabalvel, de que encontrara a si mesmo, de que a
felicidade estava dentro dele mesmo, e que lhe era possvel depois de t-la
conquistado, prend-la para todo o sempre.
Sua experincia espiritual, evidentemente, no nova. Outros, antes e
depois, percorreram o mesmo caminho e chegaram a concluses idnticas.
Mas poucos, como ele, souberam transmitir, aos que ainda se encontram
perdidos na escurido, a lio de sua experincia, a sabedoria de sua vida.
Acontece que o professor Riedel sempre foi um homem simples, a
linguagem com que se dirige aos seus ouvintes a linguagem de um
homem despido de pretenses. No o orador que diante do auditrio
procura a frase de efeito, o tropo sonoro Diz as coisas como elas so, em
palavras que qualquer leigo entender logo de sada. E o que nos parece
mais interessante: ilustra sempre as afirmativas que faz com pequenos
casos ou ligeiras anedotas que esclarecem mais e melhor do que qualquer
torneio de frase. Sirva de exemplo a histria, citada por Freud, da vasilha
cheia de gua impura. Se quisermos substituir essa gua por uma gua
pura, mas no podendo despej-la do balde, como fazer? Abrir sobre ele
uma torneira com gua pura. Assim, a gua ir saindo pouco a pouco e no
fim de algum tempo a gua impura se tornar pura. Ou ento aquela
admirvel histria da peste que ia chegando a determinada cidade em
companhia da morte. Ou ainda, a historieta das rs que haviam cado
numa vasilha com leite. Uma r, diz ele com seu tpico bom humor, era da
escola do "hei de vencer". A outra, era uma r que aceitava o destino pelo
destino, porque estava escrito que no adiantava lutar contra a corrente. A
r do "hei de vencer" comeou a nadar e a dizer: "hei de vencer, hei de
vencer..." A outra rezava e dizia: "Seja feita a vontade de Deus". A
primeira batia os ps, mexia-se toda, forcejava por sair da vasilha. A
segunda, desanimada, s sabia dizer: "Minha irm, por que esse esforo?
no adianta cansar-se; da voc no sai mesmo". A r perseverante res-
pondia: "Saio, sim. O professor Riedel diz que devemos vencer; portanto,
"hei de vencer". E aconteceu o inesperado de tanto bater os ps, o leite virou manteiga e a r pde firmar-se e saltar fora da vasilha. Sua irm,
entregue ao fatalismo, encontrou a morte no fundo da vasilha.
Mas das pequenas histrias ilustrativas do professor Riedel prefiro a
do espelho. Dois homens viram-se pela primeira vez diante de um espelho.
Um deles, ao ver-se reproduzido, fez uma careta, imediatamente
-
respondida. Aumentou a carantonha. Tambm o espelho aumentou a
carantonha. Irritou-se. O gesto foi fielmente reproduzido. Cuspiu. Idem.
Nervoso, j fora de si, investiu contra o espelho. Este, como era natural,
partiu-se, ferindo o homem. O segundo, ao contrrio, ao ver aquela figura
diante dele, deu um risinho meio encabulado. O de l devolveu-lhe o
sorriso, com o mesmo encabulamento. Deu uma risada melhor. A risada
que recebeu de volta estava no mesmo nvel. Gargalhou. Recebeu uma
gargalhada.
No preciso dizer que a segunda atitude a que o professor Riedel
assumiria diante de qualquer espelho.
Era um otimista. Mais do que isso: um mestre da vida. O ttulo que lhe
davam e a que tinha direito era o de professor. Um belo ttulo, sem dvida
alguma. No comeo, professor de letras primrias. Mais tarde, professor
de otimismo. Discpulo de Emlio Cou, dele tomou a frase: "Todos os
dias, sob todos os aspectos, sinto-me cada vez melhor". Mas, embora
esplndida, era uma frase algo comprida. Personalizou-a, sintetizando-a
neste admirvel "hei de vencer", lema que at chegar sntese admirvel
do "hei de vencer", lema que est hoje quantos sabero que dele a idia e a preocupao de divulg-la? inscrito em milhares de lares e de escritrios. Est claro que no foi somente ler a frase de Cou,
transform-la no "hei de vencer" e sair cantando pelas estradas. No. Essa
frase foi a princpio repetida em todos os sons e horas. Chegou mesmo a
adotar um cordel cheio de ns. "Quando a crise vinha, tomava do cordel e,
desfiando cada n, como um rosrio, repetia: "Todos os dias, sob todos os
aspectos, sinto-me cada vez melhor". A melhora foi lenta. Comeou a
dominar sua vontade, a ser senhor de si mesmo. Venceu a crise que o
assaltara. No sendo um homem egosta, tratou de passar o tratamento a
terceiros. Quando percebeu, estava diante de um auditrio. E durante
trinta anos pregou a auto-sugesto mental, o desenvolvimento da vontade.
Ensinou milhares de pessoas a ser donas de si mesmas. Adonai Medeiros
um discpulo, que atesta: "Assisti a vrias de suas "aulas", como assim
chamava, e que eram verdadeiras "sesses" de cura. Regular assistncia o
escutava e era de ver a alegria com que prestava ateno a quem lhe
invadia o ntimo, desvendando um novo mundo, mais bonito que o em que
vivemos. Fora com tudo que vem atristar-nos, com aborrecimentos, com as
preocupaes pueris, com as diversas sensaes determinadoras de
conflitos neuropatolgicos. O professor no cuidava de polir o perodo
e torn-lo acadmico. Suas palavras ditas com naturalidade, saam cheias
de fluidos contagiantes e iam diretas ao consciente de cada um".
Este livrinho continuar o apostolado do professor Riedel Os editores
mantiveram, nestas pginas, o mesmo tom despretensioso e correntio das
conversas. Foi um bem. Os leitores talvez consigam sentir o timbre de voz
-
de seu autor. De uma coisa estamos certos: estas palavras continuaro a
fazer discpulos, continuaro a espalhar a lio que foi a constante
preocupao de Arthur Riedel, e que poderia ser sintetizada nestas frases:
"Tudo te ser dado, se souberes imaginar com clareza e constncia aquilo
que desejas. Se no obtns o que pedes, porque no sabes pedir e nem
sabes o que pedes. Aprende a cultivar uma imaginao positiva, para
benefcio teu e de todas as criaturas. Grava em tua memria que a ima-
ginao uma fora poderosa!"
EDGARD CAVALHEIRO
A M I G O
L, porque desejo o teu
TRIUNFO
Arthur Riedel
TUDO te ser dado, se souberes imaginar com clareza e constncia aquilo
que desejas. Se no obtns o que pedes, porque no sabes pedir e nem
sabes o que pedes. Aprende a cultivar uma imaginao positiva, para
beneficio teu e de todas as criaturas. Grava em tua memria que a
imaginao uma fora poderosa.
RUNAS, fracassos, enfermidades e humilhaes que te aborrecem foram
atrados por teus pensamentos negativos. Procura descobrir o lado bom de
todas as coisas, em ti e em teus prprios inimigos! Segue avante!
IRMAO! O temor, o dio, a vaidade, o orgulho, a inveja, o egosmo e a
luxria, so pensamentos negativos, culpados da tua derrota. S digno de ti
mesmo e repele-os para sempre, a fim de vencer na vida.
UMA mente positiva s irradia amor, confiana, paz, segurana, sade,
tolerncia, caridade, agrado, serenidade e abundncia. S isto vence na
vida. Aprende a ser positivo e a felicidade vir ao teu encontro.
NUNCA faas a outrem o que no desejas a ti prprio, porque, se verdade
que podes pensar positiva e negativamente, tambm certo que o que
desejares ao teu prximo recebers em dobro!
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FORMASTE no passado imagens negativas, que se materializaram e agora
te perseguem. Pois bem, a arte de destru-las est em cultivares unicamente
bons pensamentos. Experimenta e vers!
OS PENSAMENTOS bons modificam u tua sade, o teu ambiente e a tua
vida. Se queres melhorar de sorte, melhora tambm os teus pensamentos,
pensando unicamente no Bem!
I - COMO ME VEIO O "HEI de VENCER"
QUANDO eu era pequenino, e quantos anos j l vo! escrevia, pelo Natal, bilhetes a Papai Noel. Escrevia no bem o termo,
porque eu mal falava, e se tomava o lpis era para rabiscar uma folha de
papel, riscos para baixo, riscos para cima, uma espcie de hierglifos,
lngua que ningum entendia. Escrito tatibitate... E ia, correndo, de por na
caixa do correio, que havia no porto de nossa casa, o bilhete para Papai
Noel. Pedia e pode algum escrever a Papai Noel que no seja pedindo? um cavalinho de pau, um tambor, um polichinelo, soldadinhos de chumbo.. . e na festiva manh que comemorava o nascimento do Nazareno,
ia espiar o sapato que deixara aos ps da cama e l encontrava o to
ambicionado presente. Papai Noel decifrava as minhas garatujas e trazia-
me tudo quanto lhe pedia.
Cresci e sempre pelo Natal compunha meus bilhetes, j ento com letra
desenhada, e sujeito e verbo combinados, e cada vez querendo novas
coisas: velocpede, patinete, livros de histrias, e pela manh, encontrava
sempre o que pedira. Papai Noel lia meus bilhetes, atendendo sempre as
minhas solicitaes...
Mas, na mesma caixa em que depositava tais bilhetes, o Justino, um
pretinho, filho da cozinheira Tia Rosa, colocava tambm os seus "bilhetes-
pedidos", e estes no eram atendidos! Recebia um terno de roupa, um par
de sapatos, mas nunca os brinquedos solicitados, que eram sempre coisas
guerreiras, pois o sonho de Justino era ser general. No podia crer que
Papai Noel no entendesse a letra do Justino, porque era eu quem escrevia
os bilhetes por ele.
Continuei pela vida afora a escrever bilhetes a Papai Noel e ento j
no era s pelo Natal. Ao depender de um exame, ao desejar passar as
-
frias na fazenda, qualquer coisa que desejasse, l ia o bilhete para o
Protetor. E ele sempre me atendia...
Fiz-me moo, ou o tempo me fez moo, e j no escrevia os bilhetes
em papel, mas fazia meus pedidos depois de enrolar um Padre-Nosso.
Bilhetes mentais, mas sempre pedidos. E sempre atendidos. Olhava em
torno e tinha a vaga desconfiana de gozar de proteo especial, porque
outros que rezavam com mais f no eram atendidos.
Depois, depois continuei sempre a escrever bilhetes a Papai Noel, mas
no era mais atendido. A vida desabou sobre mim todas as dores e todos os
sofrimentos. Desequilbrio psquico impossibilitando-me os estudos e o
trabalho, morte de seres queridos, fome, e Papai Noel sem mais atender
meus bilhetes!
Bilhetes perdidos, meus bilhetes to cheios de f, escritos em prosa e
versos, em preces mentais. Papai Noel se esquecia de mim. Ento descri de
tudo. J no era o seu filho predileto, ele j no lia os meus bilhetes. Na
misria negra de minha vida de ento, nem um claro de esperana havia.
S o lcool acalmava os meus horrveis acessos, para voltarem ento com
mais impetuosidade. O suicdio me acenava, como nico fim de tortura
tamanha. Um livro de Smiles, que havia lido sem entender, porque era
afilhado de Papai Noel, tomado ao acaso da estante em hora de desespero,
trouxe-me um raio de esperana. Atravs da fora de vontade, do desejo de
realizaes, outros homens, antes de mim, haviam vencido e transformado
suas vidas.. Tomei um carvo e escrevi, na parede, o meu primeiro bilhete,
no mais a Papai Noel, mas a mim mesmo:
HEI DE VENCER
O inconsciente tem suas manhas e nos causa surpresas; o meu estado
de abatimento era enorme, mas a minha vontade de vencer era maior. No
havia mais a admitir um momento sequer de fraqueza. Prometi vencer, e
para no esquecer, fui escrevendo em toda parte a minha frase-chave, a
minha divisa "HEI DE VENCER". Escrevia em letras garrafais diante do meu
leito, que era um leito de Procusto; no espelho do banheiro, no leno, nos
papis e nos livros, em toda parte l estava gravada a minha divisa. E fui-
me vencendo. Comecei a encarar a vida por novo aspecto, por nova forma.
Imprimi centenas de cartes com o lema usado, e os colocava sempre
minha frente, onde quer que estivesse. Como um sol radiante depois de
uma noite tempestuosa, minha vida foi-se modificando. Quebrei os frascos
de remdio, e quando era ameaado dos meus ataques, dizia: Hei de Vencer, e ia-o repetindo mentalmente, at que a crise passava e o ataque no vinha. Sarei. Se ia tirar um cigarro, na carteira, l estava o Hei de
Vencer, e o cigarro ia parar longe. Ao tomar um copo d'gua, ia repetindo
mentalmente, gole por gole, a minha clebre divisa, e se a tentao me
-
levava (tentao so os vcios do inconsciente) a encher um clice de
conhaque, ao lev-lo boca, deparava com o Hei de Vencer que mandara
gravar em tudo que usava copos, pratos, clices e l ia o lcool fazer companhia ao cigarro abandonado no cho...
Atirei-me novamente ao trabalho e ao estudo. No admiti mais um
momento de desnimo. Os meus impulsos, os meus instintos, eram
vencidos pela vontade firme e persistente. Recuperei completamente a
sade, coisa que os mdicos no acreditavam possvel. Dominei o meu
desejo.
Quando os que me conheceram doente, pobre, desequilibrado,
alcolico, infeliz, martirizado pelas dores fsicas e morais, querem saber
qual o milagre que produziu em mim tal transformao, que conseguiu
mudar por completo a face de meu viver, eu tiro do bolso um cartozinho e
digo-lhes: eis o milagroso santo. No carto, h somente a minha divisa.
E em palestras e escritos venho pregando este evangelho: "Deixai em paz o Papai Noel; que ele traga brinquedos s criancinhas. Gravemos
no inconsciente esse desejo de ser o que ns queremos ser. Cada um traa a
sua vida e o seu destino. Aprendei a pensar, e a felicidade vir ao vosso
encontro".
fevereiro de 1945
II - A VERDADEIRA PRECE O AMOR
Como me fizeram diversas perguntas sobre a prece, esse ser o nosso tema
de hoje, porquanto, alm de ser por demais interessante, h atualmente duas
fortes correntes nos meios espiritualistas: uma pr-prece e outra contra a
prece.
Ora, a prece devemos compreender bem nada mais do que uma vibrao mental; o seu valor no consiste nas palavras e sim na sua
vibrao com maior ou menor intensidade. Agora, para compreender bem o
assunto, vamos ver, quando fazemos uma prece, a quem nos devemos
dirigir, ou quem pode atender a nossa prece.
Partimos do princpio de que, em regra geral, ns pedimos a Deus.
Ora, Deus no atende a ningum: Deus o Verbo, o Logos; Deus
Princpio, Vibrao e, neste caso, Ele est manifestado em tudo e no ,
como materialmente se supe, um ser sentado l em cima no cu, num
trono, distribuindo graas. Absolutamente. Ele Divindade, Ele
-
Manifestao. Assim sendo, todos os pedidos dirigidos a Deus podemos estar certos no sero atendidos por Ele. A sua vibrao demasiado transcendente para Ele poder receber as nossas vibraes.
A prece pode ser atendida por ns mesmos. Quando pedimos algo,
intensamente, sobretudo uma coisa de sade, estamos criando uma forma
mental, uma sugesto e, diante dessa sugesto, agindo o nosso
subconsciente pode perfeitamente realizar-se, dar-se uma cura. So as
chamadas curas pela f, como aquela em que a Jesus disse uma mulher
tocando-lhe a tnica: "Mestre, estou curada". Ele respondeu: " Tua f te curou, mulher". Ora, no foi Jesus, foi a vibrao intensa, foi a prece
dessa mulher, feita a Ele, mas servida por si mesma, por fora de sua f, e
assim, por conseguinte, as nossas vibraes mentais, as preces feitas, so
atendidas, em regra geral, por ns mesmos, razo pela qual ns acon-
selhamos, quando se faz uma vibrao mental ou uma prece para sade criar uma idia mental de uma pessoa forte, cheia de sade, de energia, e
assim ns mesmos atendemos nossa prece, quer dizer, a prece til
porque o nosso subconsciente est ajudando, est tirando uma forma
negativa, substituindo-a por uma forma positiva.
A prece pode ser atendida tambm pelos mortos recentes, chamados
espritos, mas a precisamos compreender bem os espritos. As pessoas,
depois de desencarnadas, quando morrem, se tm algum grau de evoluo,
libertam-se logo no plano astral, no procuram ficar em contato com a
terra, procuram planos superiores. Por conseguinte, esses mortos
dificilmente atendem.
So raros os casos em que os mortos ou chamados espritos atendem as
nossas preces.
H muitos casos conhecidos nos quais os mortos apareceram para
auxiliar os vivos.
Leibniz conta que um senhor vivo estava com duas crianas num
castelo. Estas iam correndo por um corredor quando viram o vulto de uma
mulher, recentemente falecida, aparecer-lhes na frente. As crianas
voltaram correndo e contaram ao pai que tinham visto o vulto da me.
Foram verificar e notaram que havia um poo profundo no fim do corredor,
onde as crianas teriam cado e ficado feridas ou mortas, no fosse terem
visto o vulto.
Ora, isso prova que esse esprito, preso terra pelo seu amor aos filhos,
procurava ainda zelar por eles.
Eu mesmo tive dois casos bastante interessantes. Uma vez, na cidade
de So Carlos, sa de uma casa da Rua So Carlos e dirigi-me minha
residncia, na mesma rua. Nada mais precisava fazer do que subir certa
-
rua. No entanto, ao chegar a uma esquina, vi o vulto de uma mulher, mais
ou menos velha, com a xalezinho na cabea, que me disse: "vire esta rua"...
Nada precisava fazer naquela rua. Olhei-a surpreso, mas ela repetiu: "vire
esta rua".. . No sei o que me ocorreu, mas virei a rua e segui. Quando che-
guei mais adiante, encontrei um rapaz cado com a cabea na guia da
calada, todo ensangentado. Bati primeira casa prxima; atenderam-me
e indicaram a residncia do rapaz. Vieram pessoas da famlia e o levaram
para l. Chegando em casa, reconheceram-no e me informaram ser ele
sujeito a ataques. Costumava andar pelas ruas e por isso no o deixavam
sair sozinho, mas, naquele dia, desobedecendo, havia sado.
Ora, no fosse a minha presena, ter-se-ia esvado em sangue, porque a
rua era relativamente deserta.
Conversando, contei o caso: foi uma senhora, ali na esquina, quem me
disse que passasse por esta rua e admiro-me porque no veio ela mesma
bater aqui na casa, e ela mesma no prestou socorro ao rapaz. As pessoas
da casa me olharam e perguntaram: o senhor viu bem essa senhora?
Reparou bem? Era uma senhora de idade? Ao responder afirmativamente,
uma daquelas pessoas me disse: com licena, e trouxe-me um retrato.
Olhei-o. Era justamente o daquela senhora.
Todos se entreolharam espantados. Disse-me uma das pessoas da casa:
Era a av do rapaz, falecida h um ano e meio. Isto quer dizer que ela, no sei por que razo, pde materializar-se e manifestar-se para mim, e no
pde manifestar-se tomando uma forma fsica para bater a uma casa ou dar
uma intuio a outrem. Aproveitando-se do meu psiquismo, ela pde mani-
festar-se e prestar um socorro noite.
Isto caso claro de auxlio feito por uma pessoa recentemente
desencarnada.
Tenho tambm um caso, que se refere diretamente minha pessoa.
Uma noite chovia torrencialmente. Noite escura, ttrica e m, talvez, como
dizia o poeta. Eu ia por uma estrada, alm de Campinas, em direo a uma
fazenda. Era uma estrada onde nunca havia transeuntes, a no ser durante o
dia. Ia de carro, e em conseqncia de atrasos, estava passando por ali
depois de meia-noite. De repente vi dois caminhos na minha frente; fiquei
em dvida se deveria seguir pelo da direita ou pelo da esquerda. A
escurido era densa; chovia, e os faris no ajudavam. Ento segui pela
estrada e logo vi uma mulher toda de branco parada diante do carro.
Brequei e perguntei, sem mesmo saber por que: o caminho para Cabras este? Ela me disse: no, senhor; o outro. Aquilo me causou certo
espanto: Ver uma mulher de branco, no meio da estrada deserta, depois da
meia-noite... Olhei para v-la. No a vi mais. Sumira-se, desaparecera.
Liguei os faroletes, olhei para todos os lados; nada mais vi. Voltei ao outro
caminho e fui para a fazenda. No dia seguinte, contando o caso na fazenda,
-
disse-me o empregado: Se o senhor seguisse mais duzentos metros, teria cado no Rio Jaguari, pois a ponte que havia sobre o mesmo foi destruda.
Isto quer dizer: o auxiliar invisvel, ao que suponho, ou pelo que me foi
dado depois reconstituir, foi uma senhora pouco tempo antes falecida e
qual eu havia prestado alguns servios. Ela tomara uma forma para me
livrar de um perigo.
H centenas de casos que podem ser contados sobre a interferncia dos
mortos.
Tambm somos auxiliados, s vezes, pelos espritos da natureza. A
natureza est cheia de espritos, seres que se dedicam a auxiliar o desen-
volvimento das plantas ou animais. Estes seres no tm ainda grande
desenvolvimento para prestar servios aos homens, mas quando eles encon-
tram aqueles que amam as plantas e os animais, procuram, na medida do
possvel, auxili-los. Dispem de pouca fora, mas podem dar uma intui-
o, podem tomar a forma de um pssaro, ou de um animal, que distrai a
ateno. So conhecidos auxlios interessantes prestados pelos espritos da
natureza. So conhecidas as lendas dos gnomos dos contos de fadas. Eles
tomam forma e defendem as plantas e os animais. Por isso, todos aqueles
que sabem amar uma planta ou um animal, so por eles ajudados e
protegidos, e os que maltratam os animais e as plantas, de vez em quando
levam uma pea enorme, pregada por eles. Podem estar certos de que, s
vezes, a ferroada de um maribondo no nada mais do que a vingana de
um esprito da natureza.
Ora, as nossas preces a esses espritos so de pouco valor, porque eles
no tm fora e pouco podem. Eles apenas amam ou implicam com as
pessoas.
Ns temos os devas, que so seres de outra linha evolutiva. Eu diria
que so os anjos, com grande poder mas que tambm no se interessam
muito por ns, porque o seu plano de trabalho muito vasto.
Realmente, eles ajudam todos os iniciados, os seres que j alcanaram
uma certa libertao e com os quais se podem pr em contato, porque os
devas vivem mais nas florestas, nos lugares isolados. A sua pureza no
permite que vivam no meio dos homens ou dos conflitos em que ns
vivemos na cidade.
Temos, e tambm como auxiliares, os discpulos. Estes so os mais
importantes. Os discpulos so aqueles que desejam trabalhar para o bem
da humanidade. Esquecem-se de si mesmos e procuram dedicar-se ao
trabalho da humanidade. Procuram manter uma vida pura, vivendo um
tanto retirados dos homens, numa certa meditao. Selecionam a sua
alimentao, e tomam resguardo com o seu corpo fsico e mais ainda com
-
a sua mente. Esses discpulos tomam a si o encargo de auxiliar a
humanidade.
Numerosos discpulos esto encarnados, esto na matria, esto na vida
entre ns mesmos. Eles dispem do poder de se desdobrarem e vo
socorrer as pessoas necessitadas, que, por uma lei de afinidade, por uma lei
de evoluo, merecem o seu amparo, porque no basta pedir para receber;
preciso que se merea para receber.
Os discpulos prestam trabalhos extraordinrios, interessantes. So
auxiliados pelos grandes mestres da sabedoria, pois os mestres, os adeptos,
no podem baixar at nosso ambiente, no podem apresentar-se diante de
ns e, assim, os discpulos so os veculos para os trabalhos, auxiliando a
evoluo dos seres humanos.
Ora, ns sabemos perfeitamente que h uma lei crmica, pela qual cada
um de ns colhe aquilo que semeou, e muitas vezes mais.
Eu ouo dizer: mas, quando voc auxilia algum, pode estar intervindo
no carma desse algum.
Ora, quem somos ns, para julgar o carma dos outros? Quem sabe se o
carma daquele indivduo o carma matador? E por conseguinte,
poderamos prestar auxlio para que esse algum se civilizasse.
H alguns anos atrs, fui indicado para prestar auxlio a doentes de
molstias mentais. Tinha mesmo a pretenso de curar. Uma vez um
teosofista chamou a minha ateno, dizendo-me: tome cuidado, porque pode estar lanando mo de foras ocultas para intervir no carma dos ou-
tros. Nefito em Teosofia, fiquei pensando se realmente no estava
intervindo. Pouco tempo depois tivemos o prazer de receber aqui em So
Paulo a visita de Jinarajadasa, presidente da Sociedade Teosfica mundial e
considerado por ns um adepto.
Para esclarecer a dvida, perguntei-lhe: ser que com esse meu
trabalho, auxiliando, procurando curar os outros, intervenho no carma de
algum?
Olhou-me, deu uma risada e batendo em meu ombro, disse: voc
muito pequenino para mudar o carma de algum. Fiquei contente com o
"meu pequenino".
Ora, isto mostra que temos o dever de ajudar a todos. Esse o
trabalho dos discpulos.
Os discpulos viro procurar-nos quando ns compreendermos que no
h morte; quando compreendermos que somos eternos, que todos viemos
do "Logos" e para o "Logos" voltaremos; quando comearmos a trabalhar
para o bem da humanidade na medida de nossas foras. Aquele que tem
-
desenvolvimento psquico, ajuda o corpo fsico. Assim o fazem os
missionrios, as irms de caridade, os grandes cientistas e os sbios,
aqueles que trabalham de alguma forma para o bem-estar moral, mental ou
material da humanidade.
Os discpulos procuram trabalhar no campo mental, mantendo, como
disse, uma vida mais ou menos pura, para o bom desenvolvimento da fora
psquica, conseguindo desdobrar-se e auxiliar as pessoas que esto em
perigo e que podem ser ajudadas.
Uma vez se manifestou um incndio numa casa, que logo ficou toda
envolvida em chamas. Num andar de cima havia um menino de cinco anos.
Esse menino tinha uma misso a cumprir, um trabalho a realizar, um plano
traado no espao para que ele viesse a realizar algo importante.
Ausentes da casa as pessoas da famlia, um discpulo teve a viso
astral do que se passava. Dirigiu-se para o prdio incendiado e conseguiu
envolver o menino como que num halo de luz, dando-lhe uma coragem e
uma energia inauditas.
E houve tempo para que chegasse um bombeiro e o salvasse. Este
bombeiro depois contou a um amigo que justamente no lugar onde o
menino se achava, no havia pegado fogo e que ele, o bombeiro, viu um
vulto branco em torno do menino, protegendo-o contra as chamas.
Ora, um discpulo mais tarde contou que havia executado esse
trabalho; fora-lhe permitido salvar esse menino porque o carma dele no
era para morrer queimado. So inmeros os casos conhecidos entre os que
se dedicam aos trabalhos ocultos, de socorros prestados pelos discpulos.
Eles podem manifestar-se sob uma poro de formas, dependendo
muito do grau de sua evoluo. H discpulos que se apresentam tomando
uma forma fsica para avisar algum perigo, ou limitam-se a dar uma
intuio.
No se invoca o auxlio de um discpulo. Eles aparecem; em regra
geral, eles procuram, diante de uma lei crmica de atrao mental, porque
se ns fazemos um determinado bem, devemos receber um bem. lgico
que se ns salvamos uma vida, devemos receber algo em troca, porque na
vida nada se faz sem se receber uma retribuio; a conseqncia de uma
lei crmica, de causa e efeito.
Quando agimos, quando fazemos um bem qualquer, devemos receber,
por conseguinte, o valor do bem prestado. De nada adianta estarmos a toda
hora pedindo a Deus que nos mande algo, estarmos a implorar o auxlio
dos mortos, porque estes nem sempre nos podem auxiliar.
-
No nos cabe tambm pedir aos espritos superiores o seu amparo e
auxlio. Eles j esto em planos mais elevados, entregues a trabalhos
superiores, e no nos podem auxiliar diretamente. No nos cumpre tambm
estar pedindo aos discpulos que venham em nosso socorro. O que nos
compete agirmos continuamente, agirmos a todas as horas, provocando,
formando bom carma, amando a natureza sob todas as formas, no
cortando nunca uma flor sem necessidade, no ferindo ningum, nem
mesmo um pssaro. Amemos toda a natureza, dando ateno a uma planta,
a uma flor, a um animal, seja ele o menor ou o maior.
A todos prodigalizemos o nosso amor, toda a nossa vibrao de
fraternidade, e teremos os espritos da natureza como nossos amigos.
Amando a humanidade, amando todos os seres, auxiliando a evoluo
da humanidade, ns teremos os devas como nossos amigos. Servindo ao
prximo como a ns mesmos, teremos o amparo dos auxiliares invisveis,
os discpulos.
Por conseguinte, s o amor pode ser prece, ou a prece s pode ser o
amor. Prece no pedir, a todas as horas a Deus que nos d alguma
coisa, no agradecer a Deus o almoo ou o jantar que est em nossa
mesa; e sim, pedir a Deus que nos d o esprito da compaixo, nos d
idias de compreender que aquele almoo ou jantar pode e deve ser
repartido com algum, e que as sobras da nossa mesa servem para outros.
Um santo disse uma vez: "Enquanto toda a humanidade no puder comer
po com manteiga, no quero manteiga; como s po".
S pelo amor podemos realizar uma prece e a nossa prece deve ser
assim: no pedir, no agradecer; viver, viver intensamente, viver servindo,
viver amando a todos e a todos sentindo. Receberemos a recompensa por
uma lei normal, e teremos ento uma aura pura, aura de perfeio; seremos
rodeados pelos espritos da natureza que sentiro prazer de estar conosco.
Quando nos extasiarmos diante de uma flor, quando regarmos uma rvore,
quando fizermos carinho a um animal, teremos os devas diante de ns.
Quando na prece orarmos pela humanidade toda, pedirmos pelos que esto
lutando nos hospitais, nas casernas, nos presdios, ao sol ou chuva,
teremos os devas perto de ns, porque eles trabalham pela evoluo da
humanidade. Quando estivermos escrevendo um livro, fazendo uma
conferncia til, teremos os devas perto de ns, porque eles sentem o
desejo intenso de cooperar nesse trabalho de evoluo. Quando
socorrermos uma criana, quando visitarmos um enfermo, quando conso-
larmos um aflito, teremos os auxiliares invisveis, os discpulos, a nosso
lado, porque eles querem nosso trabalho.
Por conseguinte, faamos prece, mas que a prece seja um amor e um
amor de trabalho.
-
III - A ESCOLA DA VIDA
MUITOS anos passados, em plena mocidade, fui
acometido de uma crise nervosa que quase me levou a um sanatrio de mo-
lstias mentais. Apelei para os maiores clnicos, os maiores especialistas e
estes nada resolveram. Das mos dos mdicos fui para as mos dos
charlates, e depois busquei, no prprio espiritismo sem nada encontrar a soluo para o meu sofrimento. Vizinho da loucura, caiu-me s mos um livro de auto-sugesto mental, um livro do Prof. Emlio Cou.
Li essa obra procurando pr em prtica as suas lies. Comecei com
grandes dificuldades, porque o meu estado mental no me auxiliava. Com
esforos e trabalhos, fui, pouco a pouco, adquirindo o domnio sobre mim
mesmo. Adotei por lema a frase de Emlio Cou: "Todos os dias, sob todos
os aspectos, sinto-me cada vez melhor". Repetia continuamente essa frase.
Seguindo seu conselho, adotei um cordel cheio de ns, e quando sentia que
a crise vinha, tomava do cordel e desfiando cada n, como um rosrio,
repetia: "Todos os dias, sob todos os aspectos, sinto-me cada vez melhor".
E realmente, no fim de algum tempo, fui-me sentindo melhor. Comecei
a dominar a minha natureza; comecei a ser senhor de mim mesmo, a
compreender que atravs de minha vontade poderia dominar o meu
psquico. Assim fui melhorando cada vez mais e cheguei a uma cura. Com-
pleta? No sei. No sei se at hoje estou completamente curado ou quase
curado. Mas dominei-me; nunca mais tive um ataque, e da por diante,
fazendo continuamente exerccios mentais, adquiri prazer nisso, senti que
era uma verdade, fui-me conduzindo e governando, e essa fora me tem
levado atravs da vida como uma chama, fazendo-me feliz. Naturalmente,
um velho hbito nosso contar aos outros como saramos de alguma coisa, e
a foi que comecei, entre amigos, a contar, ora a uns, ora a outros, e a
aconselhar a todos que diziam sofrer de molstias nervosas, a leitura do
livro de Cou, a seguir o seu trabalho, a fazer exerccios de auto-sugesto e,
falando hoje para um, amanh para outro, certo dia, no sei como, me vi
diante de um auditrio, e assim nasceram estas palestras. H perto de trinta
anos venho pregando a auto-sugesto mental, o desenvolvimento da
vontade, ensinando cada um a ser dono de si mesmo. Como velho
professor, estas palestras sempre foram mais aulas do que qualquer outra
coisa. No procuro decor-las, nem fazer citaes ou mostrar
conhecimentos profundos. Procuro ensinar, criando com Emlio Cou, "A
Escola da Vida".
-
Um dia, tomando o livreto "Viver Bem", escrito pelo mestre Antnio
Olvio Rodrigues, encontrei este trecho:
Procure ser til; existem inmeras ocasies, durante o dia, de
prestar o seu auxlio; um simples olhar de simpatia, uma simples
palavra de consolo ou de estmulo fazem erguer uma vontade
desfalecida. No importa que a ao praticada lhe parea
insignificante; por menor que seja a semente lanada terra, sendo
de boa qualidade brotar, pois nada que bom se perde.
Esteja sempre pronto a estender a mo quele que cai,
estimulando-o a se erguer e seguir novamente o caminho. Encoraje os
que desfalecem e que se deixam vencer sem esperana e sem f.
Distribua, em todas as horas do dia, gestos delicados, palavras
amveis, sorrisos carinhosos, boas aes. Estas atitudes, de aparncia
simples, realizam, muitas vezes, verdadeiros milagres.
O bom humor prolonga a vida e ajuda a resolver todas as
dificuldades.
No h pretenso de minha parte em ser um grande homem, mas h
pretenso em seguir o que ensina o livreto "Viver Bem", isto , a ser
compreendido, estar ao alcance de todo o mundo, ajudar todos a vencerem.
Ns temos o inconsciente cheio de formas de pensamentos negativos e,
enquanto no aprendermos a vencer esse inconsciente, no teremos
realizado nada para dizer: "Ora, no tenha medo, no pense no mal". Mas
entre o dizer e o praticar h uma grande diferena. O inconsciente est
cheio de formas negativas que nos vm do passado, de nossos pais, porque
todos ns temos a mania de educar os filhos. Mas eu pergunto: quem
educou os pais? isso que procuro fazer: educar os pais para que as
crianas possam ser educadas. Para vencer nosso inconsciente, para
colocar neles idias positivas, preciso partir de um esforo constante,
porque sabemos que, fora de pensar uma idia consciente, ns a
colocamos no inconsciente.
Ora, se o inconsciente est cheio de formas negativas, no nos
possvel pegar nessas formas negativas, arranc-las e jog-las fora.
preciso substitu-las pouco a pouco. Freud, o criador da psicanlise,
ensinou o seguinte: "Se ns tivermos uma vasilha cheia de gua impura e
quisermos substituir essa gua por uma gua pura, sem poder despejar o
vaso que a contm, devemos abrir sobre ele uma torneira com gua pura.
Assim, a gua ir saindo pouco a pouco e no fim de algum tempo a gua
impura se tornar pura. Levar tempo, dependendo, naturalmente, da
quantidade de gua impura que o vaso contiver e da quantidade de gua
pura que pusermos dentro do vaso que ir modificar a nossa vida, isto ,
-
modificar nosso modo de pensar. No fcil. No dizendo: "De manh
em diante vou pensar dessa forma; de manh em diante vou fazer isso, ser
melhor". No basta. A vida no admite transies rpidas. A mudana se
faz lentamente; levamos anos para modificar-nos mentalmente, mas, se
criarmos idias positivas, se formos todos os dias, lentamente, batendo,
repetindo, vamos gravando at que fique completamente fixa no consciente
(e a razo de Cou aconselhar que se repita continuamente uma frase,
porque fora de repeti-la a vamos gravando no consciente, lentamente),
at que um dia o consciente fique cheio de idias positivas.
Contudo, a dificuldade que tenho encontrado reside nas velhas idias
enraizadas. Cada um de ns tem velhas idias, velhas crenas que nos
foram doadas desde crianas e das quais no temos fora nem coragem
para nos livrar. Por exemplo: um velho fazendeiro dispe em sua fazenda
de velhssima mata e quer derrub-la para semear trigo. Quando vai
derrubar a mata para fazer a sementeira, aparece-lhe o filho e diz: "Olhe,
aquela rvore; no a corte, papai; to bonita; sua sombra, eu brincava
sempre". Chega outro filho e diz: "Aquela trepadeira to bonita; no deve
cort-la". "Aquela rvore tem um passado vivo; respeite aquela rvore".
Assim, o fazendeiro corta aqui um pouco, ali outro pouco, alm mais um
pouco, e no fim ir plantar sombra daquela rvore, para no a prejudicar
e terminar no tendo colheita. Agora chega outro lavrador e diz:
"Derrube tudo".
"Mas aquela rvore tem um passado", respondem-lhe.
"Derrube-a com passado e tudo", retruca ele.
"Eu brincava sombra daquela outra rvore; derrubando-a perde-se a sombra", obtemperam-lhe.
"Derrube tambm aquela rvore", prossegue ele; "preciso semear e colher trigo".
Assim temos que fazer. Rompermos com velhas religies, com velhos
preconceitos, com velhos hbitos, para criar e manter hbitos novos. Como
disse, no rapidamente que se faz tal modificao; lentamente, atravs
de um esforo contnuo que ns o conseguimos. Intitulo esta palestra de "A
Escola da Vida", porque sempre disse para comigo mesmo que as escolas
nos ensinam tudo, menos a viver. Ns somos de uma sabedoria enorme em
tudo, menos na arte de viver.
Um sbio atravessava de barca um rio e, conversando com o barqueiro,
perguntava: "Diga-me uma coisa: voc sabe botnica?" O barqueiro olhava
para o sbio e respondia: "No minto, no senhor; no sei que histria
essa". "Voc no sabe botnica, a cincia que estuda as plantas?" "Mas que
pena! voc perdeu uma parte de sua vida!" O barqueiro continuou
-
remando. Depois de um pouco, perguntou novamente o sbio: "Diga-me
uma coisa: voc sabe astronomia?" O coitado do caiara cocou a cabea,
olhou de um lado, olhou de outro, e disse: "No, no, senhor; no sei o que
astronomia". "Astronomia a cincia que estuda os astros, o espao, as
estrelas". "Que pena! voc perdeu parte de sua vida!" E assim foi
perguntando um pouco de cada cincia; se o barqueiro sabia sociologia,
fsica, qumica, e de nada o barqueiro sabia. E o sbio sempre terminava
com o seu rifo: "Que pena! voc perdeu parte de sua vida!" De repente o
barco bateu de encontro a uma pedra, rompeu-se e comeou a afundar. O
barqueiro perguntou ao sbio: "O senhor sabe nadar?" "No, no sei". "Que
pena! o senhor perdeu sua vida inteira!"
assim que encontro pela vida afora essas pessoas de sabedoria.
Sabem tudo, sabem todas as matrias, discutem todas as artes, todas as le-
tras, conhecem tudo deste e do outro mundo. Preferem saber coisas do
outro mundo, mas quando procuramos saber se essas pessoas tm a menor
noo da arte de viver, no a tm, no sabem viver. isso o que procuro
ensinar atravs das minhas palestras; busco ensinar a viver para que no s
aprendamos a viver como aprendamos tambm a conhecer nossa alma e a
nos dominar. A fim de poder entender vossa alma, deveis passar por uma
limpeza espiritual. Deveis limpar-vos de vossas impurezas, ms aes, e
maus pensamentos. Afugentai toda ambio pessoal, todo desejo
individual, todo pensamento egosta. Convencei-vos de que no sois seno
uma pequena unidade no grande todo, uma folha a mover-se na infinita
rvore da vida, simples gota d'gua no vasto oceano da imortalidade.
Esquecei-vos do vosso eu e pensai nos vossos semelhantes. Dessa forma
no s aprendereis a conhecer a vossa alma, como sereis capazes de
encaminhar o curso de vossa alma para a Alma de Deus, da mesma maneira
que as guas dos rios fluem para o oceano.
Ns devemos pensar nos outros, mas naturalmente pensar bem dos
outros, porque h muita gente que pensa em seus semelhantes, mas s
pensa mal. O que nos aconselha a pensar nos outros o sagrado Evangelho,
porque ns devemos dar aos outros em amor, em bondade, em fraternidade.
Devemos auto-educar nosso pensamento, porque, enquanto no educarmos
nosso pensamento, enquanto no educarmos nossa vontade, nossos
pensamentos estaro sempre no espao, perdidos, e se no os
coordenarmos, no conseguiremos manter uma linha de pensamento
permanente, igual e feliz. Educar o pensamento no to difcil; basta um
pequeno esforo; s traar dentro de ns esta vontade: dia por dia terei de
ser melhor.
Prentice Mulford nos adverte que se todos os dias fizermos um
pequeno esforo, seja ele o mais simples, acabaremos educando a nossa
vontade. Ele aconselha, por exemplo, que se coloque todos os dias, no
-
quintal, uma pedra. Todas as noites, a uma hora certa, ou antes de deitar,
devemos pegar essa pedra e traz-la para dentro de casa, e de manh, ao
levantar-nos, lev-la ao mesmo lugar no quintal. Eu sei que todos dizem:
que coisa fcil. Ento aconselho que faam essa experincia. Comecem
todos os dias, ao se levantarem, por tomar um objeto e lev-lo ao quintal, a
um lugar qualquer, e noite vo busc-lo para traz-lo de volta para casa.
Vo ver que na primeira noite o fazem; na segunda se esquecem; na ter-
ceira deixam de faz-lo porque faz frio; na quarta porque chove; outro dia,
a noite est bonita, e ento vo. Todavia, isso no adianta quase nada,
porque s um exerccio persistente, constante, que educa a vontade. E
preciso todos os dias fazer o mesmo exerccio, todas as manhs levar o
objeto a um determinado lugar e noite ir, busc-lo, e assim, atravs desse
esforo, ir educando a vontade. Educar a vontade o nico meio de se
conseguir caminhar para a felicidade. Ningum conseguir ser feliz se no
comear a educar sua mente, a desenvolver a sua vontade. Se cada um de
ns fizer todos os dias um exerccio, todos os dias um esforo, acabar
educando a vontade. Isto o que desejo conseguir nesta srie de palestras
que vou fazer. Tornar bem claro, repisar, para que no fim de algum tempo
todos possam dizer, como eu digo: venci.
5 de julho de 1948
IV -A AUTO-EDUCAO
NOSSA formao mental faz-se durante a infncia.
teoria ainda hoje muito difundida de que os fatores externos pouco
influenciam na formao da personalidade, ope-se modernamente uma
srie de observaes que mostram a ao decisiva do ambiente, sobretudo
nos cinco primeiros anos de vida. A anlise psicolgica, em inmeros casos
individuais, revela que as diretivas da conduta do indivduo no so mais
que hbitos mentais adquiridos na primeira infncia. Que a personalidade
psquica se no a sntese dos hbitos mentais? Para ns essa defeituosa
formao psquica, por influncia das excitaes da vida de que fala
Krapelin, nada mais do que o conjunto de hbitos mentais adquiridos
atravs da vida e que num dado momento desabrocham em manifestaes
paranicas. Dessa forma, vemos que a nossa formao mental toda feita
durante a nossa infncia. Durante a infncia gravamos todos os fatos que
iro mais tarde influenciar nossa vida.
-
E eu pergunto: qual a formao mental que os professores nos do?
Uma formao mental completamente negativa. Ns todos sofremos de um
complexo de inferioridade porque somos educados mentalmente num
complexo de inferioridade. Tudo quanto nos dizem, tudo quanto fazem
para formar a nossa mente, diminuindo, deprimindo, nada construindo,
no nos elevando mental ou moralmente. Mas, como podem os nossos pais
levantar-nos, se eles j foram criados dessa mesma forma; se eles ouviram
o que repetem; se a sua formao mental imperfeita?
Ora, vemos desde o bero a forma errada pela qual somos criados.
Comeam a nos enganar na vida desde pequeninos, quando nos pem uma
chupeta na boca. A chupeta uma mentira. Todo esforo merece uma
recompensa. A chupeta a gente a usa, porm sem a recompensa que advm
do seio materno. As crianas sabem que chupando o seio, recebem o leite.
um esforo com uma recompensa. No entanto, a chupeta uma mentira.
As crianas se cansam, fazem enorme esforo na esperana de receber
alimento, e nada recebem. Desde a comeamos a ser enganados.
Depois a criana vai crescendo e deve aprender a andar. Poucas so as
crianas que aprendem a andar por si. A maior parte aprende a andar,
segura pela camisinha, pelo seu calo, amarrada ao bero, dando a mo ou
em carrinho de roda. Quer dizer: o homem o nico animal que precisa de
algum para o ensinar a andar. No aprende a andar por si, no faz esforo,
enquanto no tiver mos que o amparem. Assim fica atravs da vida,
sentado, querendo que algum o segure pelas fraldas ou pela camisa para
ajud-lo a andar.
assim a nossa formao mental. Vamos crescendo num ambiente
onde nos dizem, onde ouvimos continuamente todas as formas negativas de
pensamento: "A vida um vale de lgrimas"; "a vida um sofrimento"; "a
vida uma tragdia". Vamos, desde a infncia, crescendo com a idia de
que viemos ao mundo para sofrer, para viver num vale de lgrimas.
Depois, quando crescidos, nos passam a inculcar idias religiosas.
Ento pior. Ensinam-nos a idia de um Deus. Um Deus sob todos os
aspectos negativo: um Deus inconsciente e mau, porque um Deus que fez
no primeiro dia a terra, depois a gua, depois isto e aquilo. Tudo o que fez
achou bom, mas passados alguns anos, Ele, onipotente, onipresente,
onisciente, achou que tudo estava ruim e por isso mandou um dilvio
destruir o que tinha feito. Fez a obra e Ele mesmo achou que no prestava.
Ento comeam todos a manter a idia de um Deus negativo.
Depois, para nos governar, porque a mame e o papai no podem
conosco, arranjam um Deus que castiga: 'Menino, se voc subir a essa ca-
deira, Deus o castiga". "Se tirar fruta do pomar, Deus o castiga". E ns
ficamos acreditando que tudo quanto fazemos Deus castiga. Que Deus est
-
atrs da porta com uma varinha de marmelo para nos castigar. Acontece
que um dia subimos cadeira e no acontece nada. Deus no castigou.
Outro dia vamos ao pomar tirar frutas e no nos acontece nenhum castigo.
Se nesse momento Deus est descuidado, ento levamos a vida inteira
procurando Deus distrado para travessuras. Todos estamos convencidos de
que um erro feito sem castigo ser por causa de Deus estar distrado. Ento,
debaixo disso temos o direito de errar. Se temos fora para arrepender-nos,
por que no temos o direito de errar?
Depois nos dizem um poro de coisas bonitas: "No mintas, nunca,
menino". "Diz sempre a verdade", e ficamos convencidos de que no
devemos mentir nunca. Acontece que depois batem porta. o padeiro.
Grita logo o marido: "Mulher, se for o padeiro, diga que no estou em
casa". uma mentira. Para as crianas, nada no mundo maior, mais cheio
de luz do que os seus pais. Seus pais so uma coisa extraordinria.
Ora, ouvindo o pai mentir, acham que tambm podem mentir. Ora, o pai
mente para se defender, e a criana sabe o objetivo. Esse caso de dizer "ele
no est em casa" tpico. Esto-nos dando uma formao mental pssima.
Vamos crescendo, vamos vivendo num ambiente errado. Tudo quanto
negativo nocivo nossa formao mental.
Se os pais soubessem a influncia que exercem sobre os filhos, sua
vida seria outra, suas conversas, as msicas, tudo fariam para elevar a alma
da criana. Mas no fazem isso. Acham que a criana no v, no ouve e
no sente. No verdade. A nossa mente infantil como um filme
cinematogrfico sem gravao. Tudo quanto as crianas vem em torno de
si, vo gravando, ainda que no se apercebam. As idias ficam gravadas no
subconsciente, e assim gravamos todas as impresses de nossa infncia.
Se formos mal-educados mentalmente, da forma que exponho, como
que depois de homem poderemos ter a mente clara, concisa, forte, til?
Mais tarde ouvimos nossos pais dizerem: " preciso gozar a vida".
Gozar a vida interessante. Ainda no vi ningum falar em gozar que no
pensasse em beber champanha, comer peru e namorar a mulher do
prximo. Chama-se a isso gozar a vida. Estudar, trabalhar, produzir para
ganhar dinheiro, no. Nossa preocupao no fazer uma formao mental
boa, no fazei bela a vida para ser bela a morte. Conheo a teoria de que
a morte nivela os homens. No creio. No creio que depois da morte os
homens pequeninos deixem de ser pequeninos e os grandes deixem de ser
grandes. A morte no nivela nem iguala, porque os pequenos no se
tornam grandes e os grandes no se tornam pequenos. Ns temos a
preocupao de gozar a vida. Como gozar a vida consiste em ter dinheiro,
ns vivemos, ento, com a preocupao mental do dinheiro, do bem-estar.
Quando nos dizem: "Fulano est bem", pensamos logo que fulano tem
-
dinheiro. Ningum pensa que fulano est bem, porque alcanou a linha
mxima, perfeita. No, ele est bem, porque tem dinheiro. Se ele vai casar
bem, porque a noiva tem dinheiro. Estamos com a idia geralmente
materializada, estamos vivendo dentro de uma poca completamente
materializada, e assim que formamos a nossa mente.
Quando atingimos a mocidade, a maioridade, estamos com a mente
formada e a raramente nos pem na mo um livro que nos poderia ajudar a
viver. Ao contrrio, comeamos a pegar romances de aventuras policiais e
a assistir filmes cinematogrficos, com longas viagens, com bailes, festas,
casacas, onde vemos como se goza a vida, como se leva uma vida feliz.
Nossa formao mental, porm, inquestionavelmente uma formao
negativa. Quando a queremos modificar, encontramos uma dificuldade:
vibra-nos um subconsciente inteiramente formado e gravado de todas as
idias negativas.
Se nos tivessem, desde criana, dado idias positivas, feito ouvir boas
msicas, levado a museus; se nos tivessem mostrado quadros belos,
chamando-nos a ateno para o nascer e o pr do sol, para as flores, para os
pssaros, nossa mente teria tido uma formao artstica superior. E o que
acontece que ns agora temos assim uma formao completamente
negativa. negativa a nossa formao porque nos pegaram pelas fraldas,
pela camisa, e assim continuamos at agora. Ento vamos em busca de
foras que nos amparem. No encontrando um papai, uma mame que nos
d a mo para ajudar; no encontrando um padrinho que nos proteja ou que
nos d um dinheirinho, comeamos a buscar fora da terra essa proteo.
Ento, volvemos os olhos para onde? Para os santos, para os guias
protetores, para os mestres, para as foras externas, e ento tudo que
fazemos depende de um Deus particular: "Vou a tal lugar se Deus quiser";
"encontrarei isto se Deus quiser"; "se Deus quiser no encontro nada".
Cada um traa o seu destino "se Deus quiser", no compreendendo que
precisa desenvolver a sua vontade.
Dessa atitude negativa provm muitas das molstias nervosas, e essas
molstias esto de tal maneira espalhadas, que j um velho ditado diz: "Que
de mdico e louco cada um tem um pouco". Acredito que de mdico temos
um pouco, mas que de loucos quase todos ns temos muito. Todos somos
desequilibrados nervosos, desequilibrados mentais, sem vontade prpria. E
o que acontece? Vamos buscar a cura aonde? Aos mdicos de nervos. A
evoluo da psicoterapia demonstra que progressivamente a medicina tira
da alma foras para a cura das psiconevroses, isto , da neurastenia,
histeria, psicastenia, e para a reeducao do carter. Essas foras esto
dentro de ns. Os clientes vo pedi-las aos clnicos, e mal sabem que todas
se acham latentes no ntimo deles mesmos.
-
Que pensamento faz parte das grandes energias naturais, como a
eletricidade, as quedas d'gua, as correntes atmosfricas. A sua boa direo
educa os povos, faz o progresso humano, constri as sociedades, melhora
as raas e cura os enfermos. O grande segredo est no justo aproveita-
mento de to extraordinria fora. Ns encontramos dificuldades em
explicar isso porque estamos cheios de teorias, e o mais difcil a prtica.
Precisamos abandonar as idias negativas, tais como as de que o
mundo um vale de lgrimas, de que tudo triste, de que a dor a nossa
companheira. Deixemos de lado a dor e o aborrecimento. A vida me
maravilhosa, porque s compreendo uma coisa: nada aceito fora da lgica e
da cincia.
Raciocinemos com lgica: h um Deus que criou o mundo. Todos ns
cremos na existncia desse Criador. Quase todo o mundo o cr. Eu
pergunto: Se Ele, onipotente e onipresente, criou alguma coisa, tirou-a de
si, porque no podia criar alguma coisa do nada. Ele tirou de si este mundo,
e por conseguinte, tirou-nos dele; portanto, no posso crer em nada
imperfeito. No admissvel que haja alguma coisa errada, porque se o
houvesse, seria o prprio Deus que a criou.
Essa histria de diabo absurda, impossvel ter Deus um opositor.
Ele no tem opositores. Ele criou todas as coisas, e por conseguinte, todas
as coisas so boas. Agora perguntamos: por que existe o mal? No existe o
mal. Ns que tomamos diversas coisas como mal e outras coisas como
bem. Do problema geral da criao nada entendemos, porque Ele criou as
melhores coisas.
J um dia um pastor protestante me perguntou: "O senhor cr que os
animais tm alma ou tm utilidade?" No o sei. Creio que se Deus os criou,
devem ter utilidade. Qual a utilidade da pulga? Naquela ocasio no o
sabia; mas todos devem saber que recentemente foi descoberto que as
pulgas curam doenas mentais, e por conseguinte, so teis. Ainda no h
confirmao cientfica, mas consta que as minhocas produzem no subsolo
certa substncia que fortalece a vista. Assim, veremos ainda algum dia que
tudo tem razo de ser. O Supremo Criador, Deus, no podia fazer nada que
no fosse bem feito. Perfeitamente. Ou isso lgico ou ento no sei o que
seja lgico. Se criou tudo com esta perfeio, as coisas que nos parecem o
mal, no so ms, so boas. E os sete pecados mortais? Os sete pecados
mortais que chamamos pecados no foram criados por Ele, porque Ele
criou a vida e suas manifestaes.
preciso compreender-se bem que quando falo em criao, no creio
nela, porque para criar-se algo preciso tir-lo de alguma coisa. Deus s
poderia manifestar-se tirando algo de si mesmo. Soube manifestar-se em
vida, e essa vida est em evoluo. De fato, depois do estado primitivo,
-
voltamos a Ele, seguindo uma linha perfeita de evoluo, semelhante que
traamos da nossa infncia velhice. Assim tambm essa coisa que
chamamos pecado, ou mal, tem uma razo. Se analisarmos com
imparcialidade, veremos o pecado atravs da formao mental da vida. O
homem, no seu estado primitivo, tinha um viver simples, morava em
cavernas, no se impressionava com nenhuma coisa, no queria nada e no
tinha nada; alimentava-se de frutas e vivia mais ou menos satisfeito. Mas
veio a ambio. Por ambio ele quis conquistar as terras vizinhas, e por
conseguinte se preparou para uma luta e para essa luta inventou o uso da
arma. Comendo s fruta, veio-lhe a vontade de comer peixe e pssaros, e
teve que desenvolver a inteligncia para pescar e caar. Por isso inventou a
arma e o anzol. Ante a necessidade de satisfazer sua gula, plantou, semeou
e colheu, e descobriu que, cozido, o alimento era melhor. Vieram ento a
vasilha e a descoberta do fogo.
Assim o homem foi fazendo tantas descobertas atravs de sua gula e de
seu orgulho. Quis se mostrar mais embelezado, e foi atravs da vaidade que
ele se fez mais bonito. Assim, comeou a pintar-se, a adornar-se, e vendo-
o, as mulheres passaram a pintar-se tambm, como o fazem at hoje. Que
seria dos pescadores de prolas, que seria dos caadores de animais, se no
fosse a vaidade feminina? Que seria de todas as nossas fbricas de bons
produtos, se no fosse a gula humana? Que seria do mundo, se nos
contentssemos com bananas, com razes, com mandioca? O mundo no
teria a evoluo que teve. Assim, a evoluo foi feita atravs do chamado
pecado mortal.
Analisamos estes fatores porque mais tarde, quando atingirmos nossa
evoluo, teremos que lembrar-nos disso, pois a evoluo como a
serpente em crculo mordendo a prpria cauda. Por conseguinte, temos, por
concluso, que tudo no mundo est perfeitamente analisado e que nenhuma
mente foi mal formada, embora estejamos cheios de idias negativas.
Friso isso para ficar bem claro que a culpa a formao errada que
recebemos. Quanto mais empreendemos, mais iremos pondo idias novas,
positivas; iremos aprendendo por ns mesmos a receber idias novas.
Precisamos deixar de viver pedindo amparo, mendigando s portas do
Eterno, suplicando que nos ampare e que o Alto nos ajude a pr em Deus a
responsabilidade de tudo que acontece. No. A responsabilidade do que
acontece nossa. Cada um de ns aquilo que lhe ensinam. Cada um de
ns o responsvel por sua prpria vida, pois cada um traa o seu prprio
destino.
O nosso pensamento uma grande fora: ele sempre se exterioriza, se
objetiva, se realiza em nosso corpo fsico, faz e desfaz molstias diversas,
em condies mal definidas. Transmite-se a distncias imensas e
impressiona crebros afinados em consonncia com o crebro emissor.
-
Assim que Lourdes cura luz clara do sol; cura como curam todos os
focos de f intensa. Assim curava a piscina de Betsaida, na Judia; assim
so curados os peregrinos da Meca e os sectrios de Buda, na ndia. Assim
na nossa Capela da Aparecida; assim se do curas na humilde cabana do
feiticeiro atrasado, mas capaz de ter f viva "como um gro de mostarda".
A gente acredita em milagres. Ora, milagre aquilo que se realiza fora
das leis naturais. Eu lhes digo francamente que no creio absolutamente
que coisa alguma se realize fora das leis naturais. A maioria dos fenmenos
que no momento no podem ser explicados, com o correr dos tempos
encontrar a sua explicao. Essas curas quase milagrosas de que ouvimos
falar, no mais as consideraremos milagres se as formos buscar luz da
sugesto. Aceitarei o milagre da Capela de Lourdes ou das guas do
Ganges, se eu vir nascer um dedo numa pessoa que no o tivesse. A seria
um caso contra as leis naturais. Mas fazer um paraltico andar, no. No
vejo milagre a, porque tem o paraltico que sarar desde que j tenha perna.
Ele tem perna e no anda. Mostrem-me quem anda sem ajuda, no tendo
perna. uma questo psiconeurtica que podemos explicar
cientificamente. Por isso h paralticos que saem andando.
Conheo o caso, nos Estados Unidos, de um pavilho com 17
paralticos. O pavilho pegou fogo e 13 paralticos levantaram-se,
desceram as escadas e saram correndo. Os outros 4 morreram queimados
porque tinham leses nos nervos e no podiam sarar. Os outros tinham
reflexo condicionado e por isso andaram. Quando viram o fogo, despertou-
se-lhes a energia e saram correndo. Milagre de quem? Milagre de Deus,
diro!
Nos milagres de Santo Antoninho ningum se lembrou de que Deus
fez milagres para ele. Ns somos assim. H um desastre de automvel e
algum se salva: "Graas a Deus me salvei", diz a pessoa, "no foi por
casualidade". Mas nesse mesmo desastre de automvel um menino morreu.
Deus no foi camarada com esse menino. Sempre salva s um. Graas a
Deus salvou-se um. Para o atrasado que se machucou, que quebrou a
perna, "graas a Deus ele no morreu".
S se diz graas a Deus, quando no se cai. No h lgica nisso; pode
parecer que haja, porm no h. A nossa mente est, por conseguinte,
predisposta a criar uma fora positiva para vivermos a vida que ns
criamos: a idia consciente de que cada um de ns traa o seu prprio
destino. Eu j disse esta verdade diante de uma coletividade.
Devemos traar o nosso prprio destino; por conseguinte, vamos fazer
um esforo para que a nossa atitude mental permita que cada um de ns v
caminhando por si, vencendo por si, traando seu destino por si. Marco
Aurlio disse: "Apaga no pensamento o que for apenas imaginao", di-
-
zendo at mesmo constantemente: "Agora tenho o poder de expulsar de minha alma qualquer vcio, qualquer desejo, numa palavra, qualquer
inquietao: e vendo as coisas como so, sirvo-me delas conforme o seu
prstimo. Lembra-te deste poder que a natureza te confere".
Buscarei tambm exemplos no livro que considero o livro-chave de
todos os livros, o livro que devemos ter em nossa cabea, o livro que deve-
mos ter dentro de ns, mas estou certo de que no haveria mais guerras,
no haveria mais animosidade, e sim, paz e concrdia, se apenas se
realizasse esta sua frase: "Amai-vos uns aos outros". Jesus mostrou
perfeitamente, nas suas curas chamadas milagrosas, o poder extraordinrio,
o poder da sugesto que Ele chamava F. Vejamos S. Mateus, cap. 9, vers.
20-22: "E eis que uma mulher que havia j doze anos padecia de um fluxo
de sangue, chegando por detrs dEle, tocou a orla de seu vestido; porque
dizia consigo: se eu to-somente tocar seu vestido, ficarei s. E Jesus,
voltando-se e vendo-a, disse: Tem nimo, filha; tua f te salvou. E
imediatamente a mulher ficou s". Note-se que Ele no disse: "Eu te curei.
Eu fiz o milagre". "Tem nimo, filha; tua f te salvou", foi o que Ele disse.
Ainda S. Mateus, vers. 28-30: "E quando chegou casa, os cegos se
aproximaram dEle; e Jesus disse-lhes: Credes vs que eu possa fazer isso?
Disseram-lhe eles: Sim, Senhor. Tocou ento os olhos deles, dizendo: Seja-
vos feito segundo a vossa f. E os olhos se lhes abriram". Isso indica
perfeitamente que Jesus mostrava que a f, o poder da sugesto, o poder do
indivduo, o seu desejo enorme, era o que curava. No era Ele quem estava
fazendo milagres.
Se cada um de ns adquirisse essa confiana enorme em si, se cada um
quisesse adotar gratuitamente o lema que lancei h alguns anos "Hei de Vencer" e pensasse diariamente: "Hei de Vencer", venceria as doenas, as lutas, porque se venceria a si mesmo. E que maior inimigo tem o homem
do que a si mesmo? Bem proclamou o imortal Pitgoras em seus "Versos
ureos":
Conhecedor, assim, de todos os teus direitos, Ters o corao livre de
vos desejos E sabers que o mal que aos homens cilicia De seu
querer fruto: e que esses infelizes Procuram longe os bens cuja fonte
em si trazem! Seres que saibam ser ditosos, so mui raros. Joguetes
das paixes oscilando nas vagas, Rolam, cegos, num mar sem bordas
e sem termo, Sem poder resistir nem ceder tormenta. Salvai-os,
grande Zeus, abrindo-lhes os olhos! Mas no; aos homens, cabe eles, eles, raa divina,
O Erro discernir, e saber a Verdade. A Natureza os serve. E tu que a
penetraste, Homem sbio e ditoso, a paz seja contigo, Observa minhas leis,
abstm-te das coisas Que tua alma receie, em distinguindo-as bem: Sobre
-
teu corpo reine e brilhe a inteligncia, Para que, ascendendo-te ao ter
fulgurante, Mesmo entre os imortais consigas ser um Deus.
12 de julho de 1948
V CONFORMAO VERSUS INCONFORMAO
Ns SOMOS desde a infncia preparados para uma vida feliz. Isso herdamos
de muito longe. No passado as religies pregavam to-somente que o
homem devia sofrer o mais que pudesse neste mundo para ser feliz no cu
e, como so raros os que vo para o cu, ns continuamos sofrendo no
inferno. Portanto, a nossa vida sofrer neste mundo e no outro. Quanto
mais sofremos, melhor!
Assim, cria-se um complexo de inferioridade em nossa mente; estamos
de tal maneira preparados para tudo quanto mau que, se analisarmos um
pouco a vida em torno de ns, notaremos que quando toca uma campainha
em casa e vemos que um telegrama, todos correm aflitos e pensam: "Que
ser?" "Quem morreu?" Ningum espera uma notcia boa. "Que coisa boa
ter acontecido?" isso ningum diz. Esperamos, matematicamente, uma
coisa m. Se toca o telefone durante a noite, corremos para atend-lo e
pensamos: "Meu Deus, que ter acontecido?" Ningum espera que tenha
sido um engano, o acaso, uma boa notcia, ou a visita de algum a que
queremos bem.
Sempre esperamos coisas ms. Estamos sempre preparados na vida
para coisas ms. Se algum se demora na rua, perguntamos logo: "Meu
Deus, que ter acontecido?" Pensamos logo num desastre. Que a pessoa
tenha encontrado um colega, no nos ocorre; nossa mente cria logo a idia
de um desastre, de um sucesso mau. Estamos sempre preparados para o que
h de mau. As crianas so obrigadas, necessariamente, a ter sarampo,
tosse comprida, coqueluche, catapora, porque precisam ter. Mas no vejo
necessidade nenhuma em ter todas essas coisas. Posso-lhes garantir que
no tive nada disso. A nossa mente est de tal modo preparada que as
crianas ho de ter isso. Porque sabemos que algumas crianas no bairro
tiveram sarampo ou tosse comprida, esperamos que nossa casa h de vir
tambm o sarampo ou a tosse comprida. Nossa mente est sempre
preparada dessa forma negativa e difcil venc-la ou modific-la para
uma forma positiva, a fim de esperarmos coisas boas. Isso raramente
esperamos.
-
A nica vez que compramos iluso quando adquirimos um bilhete de
loteria. A sim; nessa ocasio todo o mundo espera que seu dia chegar.
Espera. Mas no chega. interessante quando se ouve respeitveis chefes
de famlia dizerem: "preciso fazer economia: preciso ter um dinheirinho na
Caixa". Por qu? "Porque amanh pode ser preciso uma operao em
casa". Ele est precisando de dinheiro para uma operao: est criando a
idia mental de uma operao, de uma vida pobre. Vo-me dizer que
prudncia. Ah! No. Est criando coisas ms, est vendo coisas ms.
Naturalmente, quando h um caso de molstia contagiosa, ns todos
esperamos a hora de a doena chegar nossa casa. Procuramos fugir;
desinfetamo-nos, procuramos livrar-nos da molstia fisicamente;
moralmente, no entanto, estamos chamando a doena, provocando-a. Co-
nheo a histria da peste que se aproximava de uma cidade, ao lado da
morte. O governador da cidade ia saindo. Encontrando a morte, disse-lhe:
"Escuta uma coisa; no faas muito mal minha cidade". A morte olhou-o
e disse-lhe: "No. Vou tirar 3000 pessoas s". "Bem; sendo assim, pa-
cincia", disse-lhe o governador. E saiu. Contudo, soube durante o
caminho que tinham morrido 20000 pessoas. Quando voltou, encontrou a
morte e a peste que regressavam. Ele parou e disse morte: "Voc me
prometeu tirar 3000 pessoas, mas tirou 20000; um excesso de 17000
pessoas; como foi isso?" A morte olhou-o bem e respondeu-lhe: "No,
tenha pacincia. Eu e a peste tiramos 3000 pessoas; as outras 17000
morreram de medo, no de peste". O medo foi que fez com que
morressem. A nossa mente est sempre esperando coisas ms. Devemos
criar uma atitude mental forte, uma atitude mental positiva, a idia de
vencermos dentro da vida, de sermos felizes.
No viemos ao mundo para sofrer. A dor purifica, a dor eleva? No. A
dor perfeitamente desnecessria. Vamos deixar de doenas, de pestes, de
dor. Vamos sentir na vida a alegria, a felicidade. Para combater essa forma
negativa no campo da auto-sugesto, Emlio Cou criou a clebre frase:
"Todos os dias, sob todos os aspectos, sinto-me cada vez melhor".
Achei a frase um pouco grande, um tanto comprida, e nem sempre, nas
horas de necessidade, nos lembramos de repeti-la. O Padre Manuel Marie
Desmarais, que recentemente fez uma srie de conferncias nesta Capital,
aconselhou a frase seguinte: "O mundo ser melhor e mais feliz porque eu
vivo".
Eu, h muitos anos, sintetizei tudo isso numa frase simples e rpida, bem
incisiva: "HEI DE VENCER". A minha frase, no comum, mal-interpretada,
porque quase todas as pessoas dizem Eu hei de vencer" da forma que
entendem. Para dizer "hei de vencer", seria preciso que primeiro a pessoa
dissesse: "hei de me vencer". H coisas mais difceis do que vencer-se a si
-
mesmo? Sintetizando, prefiro dizer: "hei de vencer". No sei como, nem
quando, nem de que forma, nem de que jeito, mas sei que "hei de vencer".
Uma ocasio, duas rs caram em duas vasilhas com leite. Uma r era
da escola do "Eu hei de vencer", da energia, da vontade, da perseverana. A
outra, era uma r que aceitava o destino pelo destino porque estava escrito
no "Matktub" dos rabes. A r do "Hei de vencer" comeou a nadar e a
dizer "Hei de vencer". "Eu hei de vencer"; a outra r rezava e dizia: "Seja
feita a vontade de Deus". A primeira batia os ps, fazia fora, e a segunda
dizia: "Minha irm, por que essa fora? No adianta cansar-se; da voc
no sai mesmo". A r perseverante respondeu: "Saio sim. O prof. Riedel
diz que devemos vencer; portanto, "hei de vencer". Com certeza essa r
assistira a algumas de minhas palestras! No fim de algum tempo, aconteceu
uma coisa que ningum esperava: de tanto a r bater os ps, o leite virou
manteiga. Ento ela firmou o p, pulou fora e disse: "Eu hei de vencer". A
outra continuou no seu fatalismo e morreu. Assim, na vida, a nossa atitude
mental modifica a nossa situao. Quando menos esperamos, a situao
muda, modifica-se. O difcil criarmos a atitude mental "Eu hei de vencer". No sei quando e nem como. No sei quanto tempo o leite batido
pelas patinhas da r levou para virar manteiga. Agora: "Eu hei de vencer"
cria uma atitude mental forte. Bastante semelhante a essa histria das duas
rs, um trecho de uma das conferncias do Padre Desmarais sobre a
Psicologia Aplicada. Ele trata da influncia do psquico sobre o fsico:
"Quem no sabe que o otimismo, a confiana de sarar, para um
doente o melhor remdio? Havia no Canad um padre dominicano tu-
berculoso, que os superiores mandaram para um sanatrio. No quarto que
lhe fora reservado, encontrou um padre de outra comunidade, que se
achava mais ou menos no mesmo estado de molstia. Desde o comeo, o
nosso padre repetia: "Quero sarar, quero sarar". Ps-se a rezar com nimo,
a estudar liturgia, a histria da igreja, etc. Como passatempo recreativo,
comeou uma coleo de selos. Uma correspondncia abundante com
filatelistas dos pases, os mais diversos, ocupou vrias das suas horas
vagas. Desse modo, manteve-se ocupado, jovial, confiante, rejeitando toda
introspeco mrbida na sua molstia.
O outro padre, ao contrrio, passava a maior parte de seu tempo
desocupado, ruminando as suas idias negras. "Que pena!", suspirava ele.
"Os mdicos dizem que terei de passar dois anos aqui. Dois anos, como
custam a passar! Sou padre... as almas tm tanta necessidade de ministrio
sacerdotal! Que pena!" E multiplicava durante horas as suas jeremiadas.
Que aconteceu? Ao cabo de um ano e meio esse padre pessimista
morreu. O seu companheiro otimista, o dominicano, saiu do sanatrio no
fim de dois anos, completamente curado. Retomou as suas funes
-
apostlicas e ainda hoje, depois de quinze anos, trabalha com eficcia, para
o maior bem das almas".
Essa histria do Padre Desmarais bastante semelhante minha das
duas rs. O padre dominicano com sua atitude mental, no estando preo-
cupado com o que lhe iria acontecer, resolveu a sua situao.
muito comum as pessoas dizerem: "Porque a minha dor de cabea, a
minha asma..." Fazem da molstia uma coisa, uma propriedade sua, e fica
de tal maneira gravada no seu subconsciente, que a dor no passa nunca.
Ainda h pouco tempo tive ocasio de observar em Porto Alegre uma
pessoa que veio consultar-me sobre uma dor horrvel que sentia numa
perna amputada alguns anos antes. Continuava sentindo dor na perna
amputada, o que em medicina se chama "dor fantasma".
Conservada essa dor guardada no subconsciente, nem lhe amputando a
perna conseguiram tirar a dor que sentia. Isso acontece porque enorme a
influncia do psquico sobre o fsico. Essa influncia to grande, que s
vezes me perguntam: "Por que as faculdades de medicina no tm um
curso de Psicologia Aplicada?" porque o mdico que examina o doente
se preocupa to-somente com o fsico, j dizia Silva Jnior, um grande
mdico veterinrio do Rio de Janeiro.
Mas essa preocupao do psquico , em regra geral, pouco
interessante para ns. Ns nos preocupamos sempre com o nosso fsico,
com a nossa vida, com tudo que de mau que nos acontece, e quando
queremos sair desse estado, a nossa preocupao tanta, que no achamos
nada. Com a mente liberta, uma concentrao profunda, um "Eu hei de
vencer", resolvemos grande nmero de problemas em nossa vida. Se
buscarmos sempre manter uma atitude mental de "Eu hei de vencer",
modificaremos a nossa vida. Eu sei que a maior parte das pessoas diz:
"Tenho dito tanto "Eu hei de vencer", e no me modificou nada". Eu sei.
porque s pensam no "Eu hei de vencer" na hora de apuro. No criando a
fora necessria no subconsciente, na hora que comea com o "Eu hei de
vencer", no vence coisa nenhuma. preciso criar o hbito no subcons-
ciente, criar uma fora; preciso dedicao.
J lhes contei que sofri de uma molstia mental nervosa. Para venc-
la, adotei para comigo mesmo esse "Eu hei de vencer". No devemos ter
acanhamento nenhum em diz-lo, como no temos acanhamento de tirar de
uma caixa de plulas uma delas e tomar. Eu escrevia em todos os objetos de
uso "Eu hei de vencer". Para estar sempre alerta, escrevi no leno "Eu hei
de vencer". Trazia um papel no bolso escrito "Eu hei de vencer". Puxava a
gravata para fora do colete quando estava conversando com um amigo e
recolhia-a quando o amigo ia embora. Eu dizia: "hei de vencer", "hei de
vencer". Andava o dia inteiro com essa idia: "hei de vencer", "hei de
vencer", em torno de mim, na mesa, em todos os lugares "hei de vencer".
-
Muita gente ria de mim, mas posso-lhes assegurar que de alguns
professores que riram de mim, mais tarde fui encontrar na mesa deles um
papelzinho com o "hei de vencer". Ora, se criarmos essa atitude mental,
fazendo esse exerccio contnuo, todos os dias, todas as horas, de manh,
ao levantar-nos, pensamos imediatamente "Eu hei de vencer", no necessrio rezar; eu passo muito bem sem rezar, porque o "hei de vencer" persistente uma atitude mental idntica prece.
Acordamos de manh com idias negativas; acordamos emburrados,
zangados porque temos muito que fazer ou porque no temos nada que
fazer. Se durante a semana, dizemos: "que maada, terei que ir ao
escritrio trabalhar"; se domingo, que "maada, no tenho o que fazer
hoje". Nossa atitude mental negativa; apesar disso queremos que o
mundo gire nossa vontade, no que o mundo seja como . Tive um
companheiro de quarto, no Rio de Janeiro, um poeta paulista, que noite
escolhia um terno branco, punha-o no guarda-roupa, arrumava-se todo,
limpava os sapatos, preparava-se no sbado para domingo, naturalmente
para ir ver a namorada. Quando, ao chegar o domingo, de manh, o dia
estava encoberto, ento ele ficava zangado, bravo, se revoltava todo, e
dizia: "Voc est vendo? hoje que eu ia pr a roupa branca, amanhece um
dia assim. Que maada!" Eu, ao contrrio, estava sempre bem disposto.
Um dia ele me disse: "Voc no se zanga nunca?" No, porque escolho a minha roupa de acordo com o dia, e voc quer escolher o dia de acordo
com a roupa. Isso impossvel. O dia est encoberto? ento visto roupa
pesada; est claro? ento visto roupa leve. Visto-me de acordo com o dia.
Um dia ele saiu de casa zangado, aborrecido e, no caminho, encontrou
Olavo Bilac. Ento Olavo Bilac lhe disse: "Olhe aqui, voc compre um par
de culos pretos, bem escuros, e guarde-os em sua casa. Quando
amanhecer, ponha os culos e levante-se com eles, e ver tudo escuro, tudo
triste, tudo embaado. Meia hora depois, arranque os culos e ver que o
dia est bonito, que tudo est lindo. Essa era a atitude de Bilac, que era um
grande otimista: o otimismo que o meu colega Zezinho acabou adotando.
Querermos o bem a nosso modo, no possvel. Temos que viver dentro
da vida, criando um otimismo mental de alegria, desde manh, levantando-
nos com otimismo, alegres e com a idia "Eu hei de vencer".
Quando digo que devemos adotar o "Eu hei de vencer", esse vencer
vencer-se a si mesmo, vencer dentro da vida, estabelecer uma harmonia
interna. No preciso ter riqueza para ser feliz, nem ter sade perfeita, nem
coisa alguma. Podemos realizar a nossa felicidade quando criamos essa
atitude mental. Tive um amigo, poeta portugus, que veio para o Brasil
tuberculoso, desenganado. Quando lhe fui apresentado, ele estava com a
idia do suicdio. Disse-me francamente: "Estou tuberculoso e vou
suicidar-me".
-
Depois de assistir a algumas palestras minhas, disse-me ter modificado
sua atitude mental. Adotou o "Eu hei de vencer". Dias antes de morrer,
escreveu os seguintes versos: "Eu hei de vencer", dedicados ao nosso
amigo Dr. Walter Autran:
"Barco sem rumo pelo mar da vida Ao aoite das ondas
alterosas. Depois de longas horas tormentosas, rota a
vela, a bssola partida...
Mas o nauta sorri, sorri de esperana, Pensando com fervor e
confiana, Na fora criadora do seu "Eu" E na graa infinita
de viver.
Gritando para que o oua o prprio cu,
Eu quero... Deus o quer... Hei de vencer..."
Isso mostra que, nas vsperas de morrer, ele soube ter uma atitude
mental forte, porque "Hei de vencer" no quer apenas dizer que vamos ven-
cer com sade. vencer dentro da prpria vida. Direi mesmo que na minha
vida h uma pgina bastante dolorosa para mim, mas que ao mesmo tempo
para o meu "Hei de vencer", para as minhas palestras de trinta anos,
representa um forte estmulo. Vi uma filha, com 21 anos de idade,
condenada morte. Sabendo que ia morrer, no dia em que completava 21
anos, deu uma festa em casa, embora sabendo que tinha apenas poucos dias
de vida. Brincou, conversou e quando lhe pedia que se sentasse e
descansasse, respondia: "Por qu? Se eu tenho que morrer dia 6, posso
morrer dia 5; indiferente". E morreu dias depois. Pelo menos preparou
sua alma para ter sade, para viver e para vencer. Se olharmos um pouco
para a histria dos homens vencedores, encontramos ali um presidente
Roosevelt, atacado de paralisia infantil, vivendo anos e anos quase sem
sade e dirigindo os Estados Unidos da Amrica do Norte. Vemos
Epicteto que foi escravo; Byron, que era coxo; Cames, cego e desterrado;
Beethoven, surdo, cego e asmtico; Walter Scott, coxo; Edison, surdo;
Galileu, tendo consumido a vida em seus estudos de astronomia, de
filosofia experimental, e sofrendo das infmias da Inquisio, santo
humilhado aos setenta e quatro anos de idade por nunca ter mentido; sbio
que sentiu, dia a dia, sua vista apagar-se, ao compor suas "Tbuas dos
Satlites de Jpiter". Terminou cego, mas trabalhou. Vemos Gustavo
Coelho cego, e depois de cego conseguir descobrir a bssola mecnica.
Goodrick foi surdo e mudo de nascena, mas pela Histria morreu aos 22
anos, abenoando sua desventura por ter visto as estrelas, contemplado a
amplido e revolucionado astronomia. Beethoven, surdo, escutava a har-
-
monia das esferas, o hino dos astros! Sejamos assim! Abenoemos a dor,
porque vivemos, porque amamos. Fechemos os olhos para contemplar a
altura. O ideal seria vermos dentro de ns mesmos, como vemos, no
espao, astros, mundos, miragens, esplendores, condensando o infinito no
corao. O sonho o azul; a poesia a asa.
Ns criamos em torno de ns um problema, e cada um de ns tem um
problema em sua vida. Fica dentro de si como o peru dentro do crculo de
giz; no atina como sair dele. Cada pessoa que me procura acho interessante tem um caso complicado como nunca em sua vida. Para cada um o seu o mais complicado. Cada um tem, em torno de si, a idia
de que no pode resolver seus prprios problemas.
preciso criar uma atitude mental forte, uma atitude mental capaz de
vencer. Aconselho essa frase "Hei de vencer", mas no queiram us-la na
hora da angstia, na hora da dificuldade; no queiram us-la para
determinado fim, porque eu sei de uma mocinha que pegou o "Hei de
vencer" na hora de fazer um exame e o ps dentro do caderno. Pode ser que
vena, no sei; mas no isso o que aconselho. "Hei de vencer"
obrigatrio diante de tudo, diante de todos os conflitos da vida. Eu venci,
de qualquer forma, e no me digam que o meu caso diferente, porque sei
que em qualquer aspecto podemos vencer. Em toda a histria da fora de
vontade, a pgina mais brilhante que conheo a do "Abre-te, Ssamo", de
Hellen Keller.
"Deslumbramo-nos. Abre-te, Ssamo! Desvendemos o enigma.
Desnuda-te, sis! Para mim, Hellen Keller representa o esforo da
humanidade no seu surto perptuo para a luz! Hellen Keller uma cega,
surda-muda americana, autora de duas obras admirveis, "The story of my
life" e "The world I live in", livros cuja leitura produziu sobre meu esprito
de filsofo profunda impresso potica. Essa mulher l, no original,
Shakespeare, Goethe, Molire, freqenta museus, exposies, fbricas,
vendo com os dedos to bem como ns; dana perfeitamente, orientada
pela vibrao trepidante dos instrumentos musicais no ar e no cho, pedala
em bicicleta, sabe profundamente matemtica, grego, latim, histria, geo-
grafia, astronomia; desenha, redige artigos para a imprensa; costura, borda,
monta a cavalo; doutora em cincias jurdicas e sociais, tendo tambm
feito com distino o curso universitrio; cantou num concerto uma ria
popular; joga xadrez e todos os jogos possveis; toca vrios instrumentos;
possui, pelas suas lucubraes filosficas, idias originais, do mais puro
brilho, da mais clara elevao. Esta mulher assombrosa uma nova
Helena, to bela, moralmente, quanto o foi pelo fsico a inspiradora eterna.
para o cientista, empolgado por mltiplas cogitaes, sequioso de
adivinhar, oscilando cont
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