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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO
AS DIFERENÇAS ENTRE O CONCURSO DE PESSOAS, A QUADRILHA OU BANDO E A ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
LUIZ ALBERTO STUMPF
Itajaí, Outubro de 2006
ii
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO
CRIMES DE CONCURSO DE PESSOAS, QUADRILHAS OU BANDO E ORGANIZAÇÃOES CRIMINOSAS
LUIZ ALBERTO STUMPF
Monografia submetida à Universidade
Do vale do Itajaí – UNIVALI, como Requisito parcial à obtenção do grau de
Bacharel em direito.
Orientador: Professor Esp. Fabiano Oldoni.
Itajaí, Outubro de 2006.
iii
AGRADECIMENTO
Agradeço a minha família, pelo incentivo
para que eu concluí-se mais esta etapa em
minha vida. Pela simplicidade,
honestidade e dignidade de meus pais,
eles me ensinaram o que nenhum curso de
graduação ensina, eles me ensinaram a ser
uma pessoa correta, a ser um homem de
verdade. Também agradeço a minha tia
Marli pelo apoio, e que sem este seria muito
difícil chegar até aqui. Aos amigos, porque
muito mais que fazer um curso de Direito fiz
grandes amizades, e que, tenho certeza
que permanecerão ao longo do tempo.
Agradeço ao Professor Fabiano Oldoni
orientador deste trabalho monográfico,
pela sua dedicação e zelo sobre o
trabalho.
iv
DEDICATÓRIA
Como não poderia ser diferente dedico a
meus pais, por serem as pessoas dignas e
justas. Pois tudo isso devo a eles, por terem
acreditado em meu sonho que hoje se
torna meu futuro.
v
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentado a Universidade
do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora
e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acera do mesmo.
Itajaí, 05 de Outubro de 2006.
Luiz Alberto Stumpf Graduando
vi
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão de Curso de Direito da Universidade do
Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Luiz Alberto Stumpf, sob
o título Crimes de concurso de pessoas, Quadrilhas ou bando e organizações
criminosas, foi submetida em 22 de Novembro de 2006 à banda
examinadora composta pelos seguintes professores Esp. Fabiano Oldoni
Orientador e presidente da banca, professor MSc. Rogério Ristow e professor
Renato Massoni Domingues membros da banca, e aprovado com a nota 9,0
(nove)
Itajaí, Novembro de 2006
Professor Esp. Fabiano Oldoni
Orientador e Presidente da Banca
Professor MSc. Antônio Augusto Lapa
Coordenador da Monografia
vii
ROL DE ABREVEATURAS E SIGLAS
Art. Artigo
CP. Código Penal
P.C.C. Primeiro Comando da Capital
viii
ROL DE CATEGORIAS
CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME
“É aquele que busca, sob um prisma jurídico, estabelecer os
elementos estruturais do crime. A finalidade desse enfoque é propiciar a
correta e mais justa decisão sobre a infração penal e seu autor, fazendo que
o julgador ou interprete desenvolva seu raciocínio em etapas.”1
CONCEITO FORMAL DE CRIME
“Crime é o fato humano contrário a lei” (Carmignani); “Crime é
qualquer ação legalmente punível”; “Crime é toda ação ou omissão
proibida pela lei sob ameaça de pena.”2
CONCEITO MATERIAL DE CRIME
“Sob o ponto de vista material, o conceito de crime visa aos bens
protegidos pela lei penal. Dessa forma, nada mais é que a violação a um
bem penalmente protegido.” 3
CONCURSO DE PESSOAS
“Concurso de pessoas, ou concurso de agentes, ou co-autoria,
ou participação criminosa, pode ser definido como a ciente e voluntária
1 BONFIM, Edílson Mougenot. CAPEZ, Fernando. Direito Penal Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 253
2 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.95
3 JEUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 sd.. São Paulo: Saraiva, 2005. p.153.
ix
colaboração de duas ou mais pessoas na prática da mesma infração
penal”4
CO-AUTORIA
“Funda-se ela sobre o princípio da divisão do trabalho; cada
autor colabora com sua parte no fato, a parte dos demais, na totalidade do
delito e, por isso, responde pelo todo”5.
CRIME
“Crime é uma conduta humana que lesa ou expõe a perigo um
bem jurídico protegido pela lei penal. Sua essência é a ofensa ao bem
jurídico, pois toda a norma penal tem por finalidade sua tutela.”6
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
“A expressão crime organizado (‘organized crims’) é uma palavra
nova, de origem americana, entretanto como grupos criminosos organizados
para a execução de crimes, nos mais variados campos (tráfico de armas,
drogas mulheres – ainda comum hoje em dia, entre nós, como na Espanha e
oriente médio, em regra, Japão – jogos, assaltos, extorção, corrupção, entre
outros).
A expressão crime organizado traz incita em si (sic) a noção
básica de associação de pessoas, em grupos, com a finalidade de, através
4 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado. P.236
5 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.232
6 NORONHA, E. Magalhães, Direito Penal. 37 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.97.
x
de práticas criminosas (animus delinquendi) tirarem, quase sempre proveitos
patrimoniais ou políticos”7.
PARTICIPAÇÃO
“partícipe no domínio do fato é o agente que realiza uma
conduta que não se adapta ao verbo núcleo do tipo, e que não tem o
domínio sobre a execução ou consumação do delito.”8
QUADRILHA OU BANDO
“O crime de quadrilha ou bando é de concurso necessário, ou
seja tem como elementar a participação de várias pessoas para o fim único
de cometer crimes. Pode ser cometido por qualquer pessoa que se associe a
no mínimo mais de três pessoas.”9
7 SZNICK, Valdir. Crime Organizado – Comentários. São Paulo: Leud, 1997. p. 18.
8 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 sd.. São Paulo: Saraiva, 2005. p.411
9 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. Parte Especial. 15 ed.. São Paulo: Saraiva, 2002. p.425
xi
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................XIV
INTRODUÇÂO..............................................................................................................1
CAPITULO 1 CRIME E TEORIAS DO CONCURSO DE PESSOAS.................................4
1.1 CONCEITO DE CRIME..........................................................................................4
1.1.1Conceito formal.................................................................................................7
1.1.2 Conceito material.............................................................................................9
1.1.3 Conceito analítico..........................................................................................11
1.2 TEORIASDO CONCURSO DE PESSOAS..............................................................12
1.2.1 Teoria monista.................................................................................................13
1.2.2 Teoria dualista.............................................................................................. ..14
1.2.3 Teoria pluralista...............................................................................................16
1.3 CONCEITODO CONCURSO DE PESSOAS..........................................................17
1.3.1 Divisão do Concurso de Pessoas..................................................................18
1.3.1.1Concurso necessário...................................................................................19
1.3.1.2Concurso Eventual.......................................................................................20
1.3.2 Requisitos........................................................................................................21
1.3.2.1Pluralidade de Condutas.............................................................................21
1.3.2.2 Relevância causal.......................................................................................22
1.3.2.3 Liame Subjetivo............................................................................................23
1.3.2.4 Identidade da Infração...............................................................................24
CAPÍTULO 2 AUTORIA, CO-AUTORIA E PARTICIPAÇÂO.........................................26
2.1 AUTORIA..............................................................................................................26
xii
2.1.1 Teoria Extensiva..............................................................................................26
2.1.2 Teoria Restritiva...............................................................................................29
2.2 FORMAS DE AUTORIA.........................................................................................30
2.2.1 Autoria Direta..................................................................................................31
2.2.2 Autoria Intelectual..........................................................................................31
2.2.3 Autoria Mediata..............................................................................................32
2.2.4 Autoria Colateral.............................................................................................32
2.3 CO-AUTORIA.......................................................................................................33
2.4 PARTICIPAÇÃO...................................................................................................34
2.4.1 Teoria Causal..................................................................................................36
2.4.2 Teoria da acessoriedade..............................................................................37
2.4.3 Participação Moral........................................................................................38
2.4.4 Participação Material....................................................................................39
2.5 PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA......................................................40
CAPÍTULO 3 DIFERENÇA ENTRE CONCURSO DE PESSOAS, QUADRILHA OU BANDO E ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA..................................................................42
3.1ORGANIZAÇÃOCRIMINOSA...............................................................................42
3.2QUADRILHA OU BANDO......................................................................................46
3.2.1Conceito...........................................................................................................46
3.2.2 Sujeito Ativo....................................................................................................46
3.2.3 Elemento Objetivo do Tipo............................................................................48
3.2.4 Elemento Subjetivo.........................................................................................51
3.2.5 Consumação..................................................................................................52
3.3A POSIÇÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA CATARINENSE ACERCA DO
CONCURSO DE PESSOAS E DO CRIME DE QUADRILHA OU
BANDO......................................................................................................................54
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................62
xiii
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS......................................................................64
xiv
RESUMO
O presente trabalho monográfico busca conceituar o crime e as formas de
como os indivíduos se agrupam para as práticas delituosas. Buscou-se um
entendimento de autoria e suas formas, bem como as formas de co-autoria e
participação no concurso de pessoas, qual a forma como se dá um
concurso de pessoas e seus requisitos. A pesquisa também foi observou as
organizações criminosas, embora se tratando de uma matéria nova não
existe ainda na legislação brasileira um conceito sobre o assunto. Também foi
objeto de pesquisa os crimes cometido por quadrilha ou bando, onde ao
final foi elaborada um diferença entre os crimes de quadrilha ou bando e os
cometidos por concurso de pessoas, onde foi demonstrado os requisitos para
se caracterizar um e outro.
1
INDRODUÇÃO
Na presente monografia será estudada a forma de como os
indivíduos buscam a união para o cometimento de delitos. Uma vez que a
sociedade faz com que os indivíduos tenham relações cada vez mais
próximas, e assim, aparece um grande número de delitos praticados advindo
destas relações.
Contudo o Direito Penal busca a proteção da sociedade,
aplicando sanções para as condutas típicas culpáveis, as quais podem ser
comissivas ou omissivas.
Assim, o ordenamento jurídico possui as formas como os crimes
devem ser tratados, e o objetivo com esta pesquisa é estudar as formas em
que os indivíduos buscam a união para a prática de delitos, e quais são estas
formas, verificando se o tipo penal foi cometido por um só agente, ou se
houve a participação de mais agentes.
Assim tem-se, no ordenamento jurídico, forma diferenciada de
sanções quando um crime é cometido por mais de uma pessoa, sendo em
concurso eventual ou necessário.
Dentre estas formas há várias maneiras de como pode um crime
ser praticado, podendo ser por concurso de pessoas, co-autoria e
participação.
Desta mesma maneira, será estudo as formas de concurso
necessário onde o Código exige no tipo penal a participação de várias
pessoas para que o crime se realize, dando-se ênfase para o crime previsto
2
no art. 288 do Código Penal, por ser um tipo que exige concurso necessário
de agentes.
Também será trazido à tona um tema relativamente novo, mas
que sabe-se é um fenômeno presente nos dias atuais, as chamadas
organizações criminosas.
Contudo este trabalho visa um esclarecimento, com base na
doutrina, de como estes crimes se diferenciam na sua forma de execução,
ou seja, quando ocorrerá um concurso de pessoas, uma quadrilha ou
quando se estará diante de uma organização criminosa.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da
conceituação de crime formal, material analítico, passando para as teorias e
conceituação do concurso de pessoas, sendo as teorias monista, dualista e
pluralista. Bem como, concurso eventual e necessário, pluralidade de
conduta e por fim a identidade da infração.
O Capítulo 2, trata da autoria, e suas teorias, extensiva e
restritiva e as formas de autoria. Também será tratado da co-autoria e
participação e suas teorias causal e de acessoriedade, da participação
moral e material, e também da participação de menor importância.
No Capítulo 3, tratou-se da diferença entre concurso de pessoas,
quadrilha ou bando e organização criminosa, parindo da conceituação e
suas formas consumadas, buscando a posição do Tribunal de Justiça do
Estado de Santa Catarina e finalmente uma breve diferenciação dos tipos
estudados.
3
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das
reflexões sobre o exercício do direito de defesa no inquérito policial.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:
� O crime de quadrilha ou bando é praticado em concurso
necessário de pessoas, diferenciando-se da co-autoria, onde o
concurso de pessoas é eventual.
� A organização criminosa não tem definição legal, não podendo,
por isso, ser aplicada.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de
Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de
Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na
presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do
Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa
Bibliográfica.
4
CAPÍTULO 1
CRIME
1.1 CONCEITO DE CRIME
Com o surgimento da sociedade, e com os indivíduos vivendo
em uma comunidade surgem as relações entre os indivíduos, também
começando a surgir os crimes que derivam dessas relações.
Com o objetivo de entender melhor o crime e seus conceitos,
passa-se, agora, a um estudo mais aprofundado de sua conceituação.
Segundo Brasil, este é o conceito de crime1: “Crime é toda ação
ou omissão ilícita, culpável, tipificada em lei, que ofenda valores sociais
básicos de um dado momento histórico em determinada sociedade”.
Percebe-se que o Código Penal de 1940 trás em sua exposição
de motivos acerca do crime:2
Pareceu-nos inconveniente manter a definição de causa
no dispositivo pertinente à relação de causalidade,
quando ainda discrepantes as teorias e
conseqüentemente imprecisa a doutrina sobre a
exatidão do conceito. Pôs-se portanto, em relevo a ação
e omissão como as duas formas básicas do
comportamento humano. Se o crime consiste em uma
ação humana positiva ou negativa (nullum crimen sine
actione), o destinatário da norma penal é todo aquele
1 BRASIL, Celso Dicionário Jurídico de Bolso: terminologia Jurídica: termos e expressões latinas de uso forense. 3 ed. Campinas: Servanda, 2001.p.122.
2 Código Penal. 40 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.7
5
que realiza a ação proibida ou omite a ação
determinada, desde que, em face das circunstâncias, lhe
incumba o dever de participar o ato ou abster-se de
fazê-lo.
Já no entendimento de Mirabete crime é:3
Deve-se lembrar também que delito, conduta típica e
ilícita, pode ensejar, como resposta final, tanto a pena
como a medida de segurança. Por isso, diz bem Walter
Coelho: “Podemos, pois, reafirmar, em perspectiva bem
mais acurada e extensiva, que o crime é o fato humano
típico e ilícito, em que a culpabilidade é o pressuposto da
pena, e a periculosidade o pressuposta da medida de
segurança.”
No conceito de crime adotado por Mirabete, crime deve ser um
fato típico e ilícito, onde a culpabilidade é o pressuposto para a aplicação
da pena, e a periculosidade para a aplicação da medida de segurança.
Contudo já se pode definir que crime é um fato descrito na lei
como ilícito, e que sendo ilícito a norma penal tenta impor limites para que os
indivíduos não o pratiquem.
Este é o conceito dado por Noronha:4
Crime é na conduta humana que lesa ou expõe a perigo
um bem jurídico protegido pela lei penal. Sua essência é
a ofensa ao bem jurídico, pois toda a norma penal tem
por finalidade sua tutela.
O autor acima citado também traz um conceito dogmático:5
3 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.97/98.
4 NORONHA, E. Magalhães, Direito Penal. 37 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.97.
5 NORONHA, E. Magalhães, Direito Penal. 37 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.97.
6
A ação humana, para ser criminosa, há de corresponder
objetivamente à conduta descrita na lei, contrariando a
ordem jurídica e incorrendo seu autor no juízo de censura
ou reprovação social. Considera-se, então, delito como a
ação típica, antijurídica e culpável. Ele não existe sem
uma ação (compreendendo também a omissão), a qual
se deve ajustar á figura descrita na lei, opor-se ao direito
a ser atribuível ao indivíduo a título culpa lato sensu (dolo
ou culpa).
Para Jesus há quatro sistemas de crime, que são formal, material,
formal e material, formal, material e sintomático:6
Formalmente, conceitua-se o crime sob o aspecto da
técnica jurídica, do ponto de vista da lei.
Materialmente, tem-se o crime sob o ângulo ontológico,
visando a razão que levou o legislador a determinar
como criminosa uma conduta humana, e sua natureza
danosa e suas conseqüências.
O terceiro sistema conceitua o crime sob os aspectos
formal e material conjuntamente. Assim, Carrara, que
adotava o critério substancial e dogmático, definia o
delito como “a infração da lei do Estado, promulgada
para proteger a segurança dos cidadãos, resultante se
um ato externo do homem, positivo ou negativo,
moralmente imputável e politicamente danoso”.
O quarto critério visa os aspectos formal material do
delito, incluindo na conceituação a personalidade do
agente. Renieri, sob esse aspecto define o delito como
“fato humano tipicamente previsto por norma jurídica
sancionada mediante pena em sentido estrito (pena
criminal), lesivo ou perigoso para bens ou interesses
considerados merecedores da mais enérgica tutela”.
6 JESUS, Damásio E de, Direito Penal. 28 sd.. São Paulo: Saraiva, 2005. p.150.
7
Na visão do autor acima citado os dois conceitos que
predominam são o formal e o material:7
O primeiro apreende o elemento dogmático da conduta
qualificada como crime por uma norma penal. O
segundo vai além, lançando olhar às profundezas das
quais o legislador extrai os elementos que dão conteúdo
e razão de ser ao esquema legal.
Pode-se concluir, depois de analisados os conceitos trazidos
pelos autores estudados, que crime é uma conduta humana que pode ter
como natureza uma ação ou omissão que cause dano aos bens tutelados
pelo ordenamento jurídico.
Assim, toda ação ou omissão humana, que seja tipificada por lei,
que seja culpável e antijurídica será considerada crime perante nosso
ordenamento social e jurídico.
1.1.1 Conceito Formal
Já no conceito formal Mirabete trás as seguintes conceituações:8
Sob o aspecto formal, podem-se citar os seguintes
conceitos de crime. “Crime é o fato humano contrário a
lei” (Carmignani); “Crime é qualquer ação legalmente
punível”; “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei
sob ameaça de pena”
Assim é o conceito formal trazido por Jesus9: “Sob o aspecto
formal , crime é um fato típico e antijurídico”.
7 JESUS, Damásio E de, Direito Penal. 28 sd.. São Paulo: Saraiva, 2005. p.151.
8 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.95
8
Mirabete tráz como características do crime sob o aspecto
formal:10
Para a existência do crime é necessária uma conduta
humana positiva (ação em sentido estrito) ou negativa
(omissão). É necessário, ainda que esta conduta seja
típica, que esteja descrita em lei como infração penal.
Por fim, só haverá crime se o fato for antijurídico, contrario
ao direito por não estar protegido por causa que exclua
sua injuridicidade. Assim, são características do crime, sob
o aspecto analítico:
a) a tipicidade
b) a antijuridicidade
Fato típico é o comportamento humano (positivo ou
negativo) que provoca, em regra, um resultado, e é
previsto como infração penal. Assim se A mata B em
comportamento voluntário, pratica o fato típico descrito
no art. 121 do CP (matar alguém) e, em princípio, um
crime de homicídio.
Fato antijurídico é aquele que contraria o ordenamento
jurídico. No direito penal, a antijuridicidade é a relação
de contrariedade entre o fato típico praticado e o
ordenamento jurídico.
Neste mesmo sentido está a doutrina de Jesus:11
Visto o CP, encontraremos, no Art 121 caput, o fato de
matar alguém com o nomen juris “homicídio simples”, a
que o legislador comina a pena de seis a vinte anos de
reclusão. Há , assim, um fato que se subsume a uma
norma penal incriminadora, que se denomina fato típico.
É este o primeiro requisito do crime.
9 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.151.
10 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.98
11 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.153.
9
Não basta, porém, que o fato seja típico para que exista
crime. É preciso que seja contrario ao direito, antijurídico.
Estes são os conceitos no aspecto de crime formal, trazidos na
doutrina de Silva:12
“Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei, sob
ameaça de pena” (FRAGOSO, Heleno Cláudio).
“Crime é um fato típico e antijurídico” (JESUS, Damásio
de).
“Crime é todo fato que a lei proíbe sob a ameaça de
uma pena” (BRUNO, Aníbal).
“Crime é toda ação legalmente punível” (MAGGIORE)
Vê-se, portanto, que o conceito formal de crime, é toda ação ou
omissão proibida pela lei sendo esta conduta um fato típico antijurídico e
punível, ou seja crime no ponto de vista formal é um comportamento
humano proibido pela lei, é a violação da norma que a lei considera como
crime.
1.1.2 Conceito Material.
Já no conceito material assim ensina Jesus:13
O conceito material do crime é de relevância jurídica,
uma vez que coloca em destaque o seu conteúdo
teleológico, a razão determinante de constituir uma
conduta humana infração penal e sujeita a uma sanção.
È certo que sem descrição legal nenhum fato podo ser
considerado crime. Todavia, é importante estabelecer o
critério que leva o legislador a definir somente alguns
fatos como criminosos. É preciso dar um norte a
12 SILVA, Ronaldo, Direito Penal Parte geral. 1º ed. Momento Atual., 2002. p.73.
13 JESUS, Damásio E de, Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.153.
10
legislador, pois, de forma contraria, a seu alvedrio a
criação de normas incriminadoras, sem esquema de
orientação, o que fatalmente, viria lesar o jus libertates
dos cidadãos.
No sentido substancial, para Manzini, delito é a ação ou
omissão, imputável a uma pessoa, lesiva ou perigosa a
interesse penalmente protegido, constituído de
determinados elementos e eventualmente integrado por
certas condições, ou acompanhada de determinadas
circunstâncias previstas em lei.
Como se nota, sob o ponto de vista material, o conceito
e crime visa aos bens protegidos pela lei penal. Dessa
forma, nada mais é que a violação e um bem
penalmente protegido.
Sobre os conceitos materiais, Mirabete acompanha o
pensamento do doutrinador acima citado. Segundo ele, o conceito material
é aquele que tem em vista o bem protegido pela lei penal.
Assim explica Mirabete:14
Como as definições formais visam apenas ao aspecto
externo do crime, é necessário indagar a razão que levou
o legislador a prever a punição dos autores de certos
fatos e não de outros, como também conhecer os
critérios utilizados para distinguir os ilícitos penais de outras
condutas lesivas, obtendo-se assim um conceito material
ou substancial de crime. As investigações dos estudiosos
desenvolveram-se nesse sentido e abrangem inclusive
ciências extra-jurídicos como a Sociologia, a filosofia, a
Psicologia etc. para uns, o tema central do conceito de
crime reside no caráter danoso do ato; para outros, no
antagonismo da conduta com a moral; e para terceiros,
no estado psíquico do agente. Essas conceituações, no
entanto, esbarram na dificuldade decorrente de sofrer o
14 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.98
11
fenômeno delituoso flutuações no tempo, no espaço, na
filosofia política do Estado etc. A melhor orientação para
obtenção de um conceito material de crime, como
afirma Noronha, é aquela que tem em vista o bem
protegido pela lei penal.
Veja-se, também, os conceitos de crime material expostos na
doutrina de Silva:15
“Crime, um desvalor da vida social” (FRAGOSO Heleno
Cláudio).
Tentativa d se encontrar o conceito universal de crime,
cuja essência independa da lei jurídica.
“Ofensa aos sentimentos alternistas de piedade e
probidade comuns aos indivíduos na comunhão social”
(GAROFALO).
Vê-se, portanto que o conceito de crime material, nada mais é
que a violação de um bem penalmente protegido.
1.1.3 Conceito Analítico
Já sobre o conceito analítico assim ensina Silva: 16
Examina o crime, a partir da contrariedade, a lei, mas
analisando-o em seus elementos constitutivos decorrentes
do próprio sistema jurídico.
• O crime é conduta humana típica, antijurídica e
culpável.
Tira-se da doutrina de Moura Teles.17
15 SILVA, Ronaldo, Direito Penal Parte geral. 1º ed. Momento Atual., 2002. p.73.
16 SILVA, Ronaldo, Direito Penal Parte geral. 1º ed. Momento Atual., 2002. p.73.
17 Teles, Ney Moura, Direito Penal Parte Geral. 1º ed. São Paulo. Atlas. 2004. p.154/155
12
Se nenhum dos conceitos apresentados atende aos
interesses do penalista, a solução é procurar uma nova
forma de conceituar o crime, partindo do ordenamento
jurídico vigente, analisando todas as normas penais,
incriminadoras, permissivas justificantes permissivas
exculpantes, bem assim as explicativas, para construir
com base no conjunto do ordenamento jurídico penal e
dos fatos que a vida revela, um conceito analítico de
crime, partindo do geral para o particular, decompondo
o crime em suas características mais simples. Conceituar,
analiticamente, o crime é extrair de todo e qualquer
crime aquilo que for comum a todos eles, é descobrir suas
características, suas notas essenciais, seus elementos
estruturais. Essa é a tarefa que se impõe.
Já para Bonfim e Capez este é o conceito de analítico.18
É aquele que busca, sob um prisma jurídico, estabelecer
os elementos estruturais do crime. A finalidade desse
enfoque é propiciar a correta e mais justa decisão sobre a
infração penal e seu autor, fazendo que o julgador ou
interprete desenvolva seu raciocínio em etapas.
Nota-se, porém, que neste conceito se busca identificar a
estrutura do crime, buscando-se a tipicidade da conduta, verificando se o
agente foi ou não culpado por sua prática.
1.2 TEORIAS DO CONCURSO DE PESSOAS
Assim, uma vez que já se estabeleceu uma definição para o
crime, é necessário entrar no tema principal desta monografia, que seria a
participação de mais de uma pessoa para a sua realização. Como se
observará tal participação poderá ser apenas eventual ou de suma
18 BONFIM, Edílson Mougenot. e CAPEZ, Fernando, Direito Penal Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 253
13
importância para caracterizar o delito, chamada então de participação
necessária.
Quando se enfrenta um crime que envolve como agentes mais
de uma pessoa, se faz preciso encontrar uma solução capaz de estabelecer
o grau de participação e suas responsabilidades criminais, para que se fixe
de maneira justa a participação de cada agente.
Portando, devido à complexidade da matéria, que divide muitos
autores, surgiram novas teorias que tratam deste assunto, porém dentre elas
se sobressaem três que merecem análise, pois dizem respeito ao concursus
delinquentium propriamente dito, e são elas:
a) monista
b) dualista
c) pluralista
1.2.1 Teoria Monista
Também chamada de Unitária é a mais tradicional e “é
predominante entre os penalistas da Escola Clássica. Tem como fundamento
a unidade de crime. Todos os que contribuem para a integração do delito
cometem o mesmo crime. Há unidade de crime e pluralidade de agentes.”19
De acordo com esta teoria, todos os participantes são
considerados autores, devendo responder por um único crime praticado em
concurso, não há diferença entre autores e cúmplices, porque todos
concorreram de forma relevante para a realização do crime, portanto
devem receber há mesma pena, a não ser, que haja alguma circunstancia
particular a ser observada. 19 JESUS, Damásio E. de, Direito Penal – 1º Vol. Parte Geral. p.410.
14
Para Mirabete:
Segundo a concepção tradicional da teoria monista, unitária ou
igualitária, o crime, ainda quando tenha sido praticado em
concurso de varias pessoas, permanece único e indivisível. Não
se distingue entre as varias categorias de pessoas [...] sendo
todos autores do crime.20
Nesta teoria o delito será único e igual para todos aqueles que
participarem do crime “sendo que cada conduta constitui parte integrante
do evento delituoso. De tal forma, não é necessário que todos os
participantes cometam juntos o ato material descrito no tipo penal.”21
Leal destaca que:
... a solução apresentada pela teoria monista ou unitária é uma
decorrência lógica da adoção previa da teoria da
equivalência dos antecedentes, como instrumento jurídico para
resolver o problema do nexo causal. Se tudo o que contribui
para o resultado é considerado causa, todos os que, de
qualquer modo, concorrem para a realização do tipo penal são
seus autores. 22
Entretanto, deve-se lembrar, que em muitos casos, a natureza do
crime apresenta uma clara distinção entre a participação dos agentes,
indicando quem agiu como autor principal e quem foi participe. Portanto,
nestes casos, é necessário um tratamento diferenciado para estes agentes, o
que levando-se, ao pé-da-letra esta teoria, é impossível possuir autor e
participe de forma diferenciada.
20 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de Direito Penal. p. 226
21 NASCIMENTO, José Flavio Braga, Concurso de Pessoas. p.50
22 LEAL, João José, Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 524
15
Este rigor excessivo desta teoria, leva a doutrina critica-la, pois,
posta da forma como preconiza, não resta duvidas que de seu rigorismo
exagerado surgirá a injustiça.
Da crítica a ela, importa é que surgiram as outras teorias, no
intuito de amenizar ou de suavizar este rigor unitário e torná-la passível de
aplicação.
1.2.2 Teoria Dualista
Nesta teoria, dividiu-se a autoria em primária e secundária, desta
forma existe um único delito para os autores principais e outro para os
cúmplices, “há um delito único entre os autores e outro crime único entre os
partícipes.”23
Leal a define como:
Para esta teoria, autor é aquele que tem uma atuação principal
na pratica da infração penal e que, em conseqüência, deve ser
sancionado de forma plena, enquanto que o cúmplice, por ter
atuado secundariamente, deve ser sancionado de forma
menos severa. 24
Para autores como José Flavio “a unidade do crime praticado
pelos autores, emana da consciência e vontade deles de concorrerem para
o mesmo delito.”25
Para Mirabete:
Para a teoria dualística, ou dualista, no concurso de pessoas há
um crime para os autores e outro para os partícipes. Existe no
23 JESUS, Damásio E. de, Direito Penal 1º Vol. Parte Geral. p.410
24 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 523
25 NASCIMENTO, José Flavio Braga, Concurso de Pessoas. p. 51
16
crime uma ação principal, que é a ação do autor do crime, o
que executa a ação típica, e ações secundárias, acessórias,
que são as realizadas pelas pessoas que instigam ou auxiliam o
autor a cometer o delito.26
Destaca-se ainda que o crime é somente um fato, em alguns
casos a ação do participe é mais importante que a do autor.
Autores como Nelson Hungria e Magalhães Noronha são
totalmente contrários a esta teoria, afirmando-a contraria a lógica, já que na
acreditam ser impossível a “dualidade de crimes onde existe uma conjunção
de vontades e causas para o mesmo e um único resultado.”27
Tal teoria, também se defronta com a critica de alguns autores,
conforme Leal:
... em grande número de crimes praticados em concurso,
inexiste participação secundaria, sendo todos autores (co-
autores) [...] não se pode esquecer que, em muitos casos, torna-
se praticamente impossível distinguir onde termina a
participação secundária e começa a principal e vice-versa. 28
No entanto, deve ser lembrado pelo direito que na pratica, em
alguns casos essa diferença é clara.
1.2.3 Teoria Pluralista
Segundo esta teoria, há a pluralidade de pessoas e de crimes,
portanto cabe a cada agente uma participação correspondente e própria,
26 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 226
27 NASCIMENTO, José Flavio Braga – Concurso de Pessoas. p. 51
28 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 523
17
ou seja, “cada um dos participantes, embora no plano objetivo colabore
para a prática de uma ação conjunta, realiza subjetivamente seu crime.” 29
Para Leal, significa que em tese:
... cada agente concorre, na empreitada comum, com uma
forma pessoal de participação: esta pode ser considerada
principal ou secundária, conforme grau de maior ou menor
intensidade na realização do tipo penal. Por isso, cada
concorrente deve receber a sua própria reprimenda. 30
A Teoria Pluralista, na definição de Mirabete:
... à multiplicidade de agentes corresponde um real concurso
de ações distintas e, em conseqüência, uma pluralidade de
delitos, praticando cada uma das pessoas um crime próprio,
autônomo. A falha apontada para esta teoria é a de que as
participações de cada um dos agentes não são formas
autônomas, mas convergem para uma ação única, já que há
um único resultado que deriva de todas as causas diversas. 31
O ponto negativo desta teoria seria o fato de que na prática, é
difícil dividir tanto a ação criminosa praticada em comum, para
posteriormente ainda, classificá-la em categorias que não seja como autor e
partícipe.
Portanto, como veremos no decorrer do trabalho, a teoria
adotada pelo código vigente, é a teoria Monista, entretanto com algumas
ressalvas de suma importância para o concurso de pessoas.
1.3 CONCEITO DO CONCURSO DE PESSOAS
29 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 522
30 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 523
31 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: 18 ed. Atlas. 2002. p. 226
18
A infração penal, na maioria das vezes é decorrência de várias
condutas e diferentes sujeitos, com interesses diversos em garantir sua
execução ou impunidade. Nesses casos, denomina-se então co-
delinqüência, concurso de pessoas, co-autoria, participação, co-
participação ou concursus delinquentium.
Assim sendo, um crime pode ser praticado por uma ou mais
pessoas, que em concurso colaboram de maneira moral ou material para
sua realização.
Para Mirabete, “concurso de pessoas, ou concurso de agentes, ou
co-autoria, ou participação criminosa, pode ser definido como a ciente e
voluntária colaboração de duas ou mais pessoas na prática da mesma
infração penal”.32
Leal define como aquela que “se configura quando dois ou mais
agentes, de comum acordo, participam de uma mesma empreitada
criminosa e praticam um mesmo crime, pelo qual devem responder
penalmente, na medida de suas respectivas culpabilidades”.33
Inobstante a isto é necessário destacar a direção das vontades
para um ponto único, que é a realização de um crime, sem que para isso
haja necessariamente um acordo antecipado entre os colaboradores.
1.3.1 Divisão do Concurso de Pessoas
O concurso de pessoas, como foi dito anteriormente, comporta
duas espécies; pode ser eventual, que será o objeto de estudos; e
necessário, quando se faz necessário a pluralidade de agentes para a
caracterização do delito, como no caso do crime de quadrilha.
32 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado. P.236
33 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 521
19
1.3.1.1 Concurso Necessário
Há alguns crimes que só acontecem se houver a participação de
mais de uma pessoa, são os crimes de concurso necessário, cuja tipificação
tem como elemento necessário a participação de mais de um agente.
Como por exemplo, o crime de rixa, quadrilha e bigamia que só podem ser
cometidos de forma coletiva.
Para Leal, os concursos necessários são “os quais somente
ocorrem se houver a participação de duas ou mais pessoas. Nesses crimes, a
pluralidade de agentes, é elemento necessário de realização do tipo penal,
que descreve um modelo de conduta obrigatoriamente plurissubjetiva”. 34
Todavia a norma penal, não estende a punibilidade a todos, o
fundamento da diversidade surge porque a lei proíbe uma conduta, mas
protege seu concorrente necessário, como seria o caso da corrupção de
menores. Há ainda, casos em que a lei pune somente o sujeito ativo do
delito, e não aquele que praticou alguma conduta sofrendo a ação, por
exemplo o rufianismo.
Para Jesus, “quando a pluralidade de agentes é elemento de
tipo, cada concorrente responde pelo crime, mas este só se integra quando
os outros contribuem para a formação da figura típica”.35
O princípio de que, quem de qualquer forma concorre para um
crime, incide nas penas a ele aplicadas, só cabe no concurso eventual, uma
vez que, no concurso necessário “a norma incriminadora exige a prática do
fato por mais de uma pessoa, não há necessidade de estender-se à punição
34 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 415
35 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal – 1º Vol. Parte Geral. p.406
20
por intermédio da disposição ampliativa.”36 Os que cometem o delito são
portanto, co-autores.
O concurso necessário, no tocante ao crime de quadrilha, será
abordado mais detalhadamente no terceiro capítulo, onde então poderá ser
visto a diferença entre este delito, o concurso de pessoas e a figura da
organização criminosa.
1.3.1.2 Concurso Eventual
Como visto, a grande maioria das infrações pode ser cometida
por uma única pessoa, mas se admite que seja cometida também de forma
coletiva, com o concurso de mais de uma pessoa, surgindo então a figura do
concurso eventual.
Para Shintati:
Há, também, crimes que, podendo ser praticados por uma só
pessoa, são praticados, no caso concreto, por várias pessoas e
são chamados crimes de concurso eventual. É este caso que a
doutrina denomina co-delinqüência, concurso de agentes, co-
autoria, concurso de delinqüentes e que nosso Código preferiu
chamar concurso de pessoas. 37
Capez assim define:
Refere-se aos crimes monossubjetivos, que podem ser
praticados por um ou mais agentes. Quando cometido por duas
ou mais pessoas em concurso, haverá co-autoria ou
participação, dependendo da forma como os agentes
36 JESUS, Damásio E. de, Direito Penal – 1º Vol. Parte Geral. p.407
37 SHINTATI, Tomas M, Curso de direito penal – parte geral, p. 163
21
concorrem para a pratica do delito, pois tanto uma como a
outra, podem não ocorrer, sendo ambas eventuais. 38
No concurso eventual, a conduta delitiva pode ser cometida por
um só agente, mas eventualmente, pode ser praticada por mais de um
sujeito.
1.3.2 Requisitos
Para que se possa encontrar o concurso de agentes, a doutrina
apresenta alguns requisitos que devem ser observados por serem
considerados indispensáveis a sua configuração:
a) pluralidade de condutas;
b) relevância causal;
c) liame subjetivo
d) identidade da infração.
Mirabete destaca ainda “existentes condutas de várias pessoas,
é indispensável, do ponto de vista objetivo, que haja nexo causal entre cada
uma delas e o resultado. Havendo essa relação [...] concorrem essas pessoas
para o evento e por ele serão responsabilizadas.”39
1.3.2.1 Pluralidade de Condutas
O primeiro requisito se refere a várias pessoas agindo em relação
a um tipo penal, mas não é necessário que todos ajam da mesma forma,
com atos idênticos.
38 CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal – parte geral, p. 287
39 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p.229
22
Para Monteiro de Barros, “a pluralidade de agentes é essencial
ao concursus delinquentium. Todavia, não se pode falar em concurso de
agentes quando, de dois participantes, um é inimputável ou atua sem
culpabilidade”.40
Embora todos os participantes tenham o intuito de realizar o
delito, e contribuam com seu comportamento para este fim, eles realizam
condutas diversas e em condições diferentes. Enquanto alguns praticam a
ação tipificada, outros instigam ou determinam, atos que em si só, não são
delituosos.
Jesus assim se manifesta:
Na participação há agentes que praticam o núcleo do tipo e
outros que, não cometendo atos preparatórios ou executórios
(em principio atípicos), contribuem para o desdobramento físico
da serie de causas do evento e respondem pelo fato típico em
razão da norma de extensão.41
1.3.2.2 Relevância Causal
Para a pluralidade de condutas, resta claro que este fato integra
a própria definição, já a relevância causal se deve ao fato de que há várias
pessoas concorrendo para o mesmo crime, é de suma importância que
cada uma delas tenha feito alguma contribuição eficaz para que se
alcance seu resultado.
É necessário que a participação dos agentes seja de relevância
jurídica em relação ao delito, é necessária a sua contribuição a conduta
criminosa, não podendo ser uma ação vaga e simples ou o simples
conhecimento do delito.
40 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal: parte geral. p 375
41 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal – 1º Vol. Parte Geral. p.420
23
Leal elucida:
A simples presença no local do crime, em regra, não configura
por si só participação no crime praticado por outro. Da mesma
forma, o conhecimento de que alguém está decidido a
cometer um crime não constitui forma de co-participação. 42
Portanto, a simples manifestação de participar de uma
prática delituosa não é crime, porque essa exteriorização de vontade não foi
acompanhada de uma conduta.
1.3.2.3 Liame Subjetivo
É necessário ainda, que haja um vínculo unindo várias condutas
em torno do delito praticado. Ocorre quando aquele que além de desejar o
delito, intervém pessoalmente em algum dos atos, com a intenção de que
ele se concretize. Portanto não há co-autoria se as condutas não estiverem
ligadas por um nexo de causalidade.
O concurso se configura “quando o agente decide consciente e
voluntariamente participar no crime do outro.” 43 e pode existir ainda co-
autoria mesmo quando não há acordo de vontades e o autor principal
recusa a colaboração.
Jesus define ainda: “As várias condutas não são suficientes para
a existência da participação ou co-autoria. Imprescindível é o elemento
subjetivo, pelo qual cada concorrente tem consciência de contribuir para a
realização da obra comum”. 44
42 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 525
43 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 526
44 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal – 1º Vol. Parte Geral. p.421
24
Mas a simples anuência ao crime que está sendo praticado por
um terceiro, não caracteriza uma ação em punível, é necessário que haja
realmente uma ação objetiva, que contribui de forma relevante para realizar
o delito.
Leal destaca ainda que “a vontade de participação deve ser
anterior ou coincidir temporalmente com a prática do evento delituoso.
Inexiste, portanto, co-autoria na conduta posterior de auxilio ou colaboração
ao autor do crime”. 45
1.3.2.4 Identidade da Infração
Portanto é necessário ainda observar se há “um vínculo subjetivo
unindo as várias condutas. [...] Essencial é, também, a identidade de
elemento subjetivo, visto que não se pode falar de concurso culposo em
crime doloso ou vice-versa.”46
Este não seria propriamente um requisito, mas sim uma
conseqüência jurídica. O Código Penal expõem que não são puníveis, se o
crime não chegar ser tentado, a instigação e o auxilio, portanto, o próprio
código exige crime tentado ou consumado para que ocorra a participação,
deixando claro que todos os participantes respondem pelo mesmo crime.
Jesus deixa claro:
Se o código exige crime tentado ou consumado para que haja
participação, é evidente que todos os participantes respondem
pelo mesmo delito. Mudando o nomem juris do crime para um
45 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3ª ed. p. 526
46 JUNIOR, Edmundo José Bastos. Código Penal em Exemplos Práticos, p. 136
25
dos participantes, a operação de desclassificação estende-se a
todos.47
Portanto, partindo-se do princípio da unidade do crime,
ocorrendo a participação, todos os participantes respondem pelo mesmo
crime; e se o delito muda a qualificação de um dos agentes, todos os demais
concorrentes se desclassificam legalmente também.
Desta forma, passará a ser analisado, no capítulo seguinte, de
forma mais detalhada, a autoria, a co-autoria e a participação.
47 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal – 1º Vol. Parte Geral. p.424
26
CAPÍTULO 2
AUTORIA, CO-AUTORIA E PARTICIPAÇÃO
2.1 AUTORIA. Autor é o que realiza a conduta do verbo típico da figura delitiva.
Na doutrina tem-se apresentado três posições sendo as quais; teoria restritiva,
teoria extensiva e teoria do domínio do fato.
2.1.1 Teoria Extensiva
Vê-se na doutrina de Bonfim e Fernando Capez: 48
Do mesmo modo que o conceito unitário, toma por base
a teoria da equivalência dos antecedentes (conditio sine
qua non), não fazendo qualquer diferenciação entre
autor e partícipe; todos são autores. Entretanto, mais
moderada que a perspectiva unitária, tal corrente
admite a de causas de diminuição de pena, com vista a
estabelecer diferentes gruas de autor. Surge então a
figura do cúmplice, ou seja o autor menos importante,
aquele que contribui de modo menos significativo para o
evento. Pode-se dizer, então, que, embora não fazendo
distinção entre autoria e participação, acaba por aceitar
uma autoria mitigada (na realidade, uma forma de
participação mascarada), que é aquela a que se
aplicam as causas de redução de pena, diante a menor
importância da conduta. Passam a existir a figura do
autor e a do cúmplice (autor menos importante.
48 BONFIM, Edílson Mougenot. e CAPEZ, Fernando. Direito Penal Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 601.
27
Assim também explica a doutrina de Damásio sobre a teoria
extensiva:49 “Não é somente quem realiza as características do tipo penal,
mas também aquele que, de qualquer maneira, contribui para a produção
do resultado”.
Entende-se, portanto, que na teoria extensiva, tendo por base a
teoria unitária, onde todos são autores, porém a mesma é um pouco mais
moderada , fazendo uma distinção entre os autores do crime, surgindo desta
maneira a figura do cúmplice que é um autor menos importante a execução
do tipo penal, ou seja, a sua contribuição não é muito significante para o
evento.
Vê-se também na doutrina de Luiz Régis Prado:50
Conceito extensivo de autor- funda-se na teoria da
conditio sine qua no, sendo autor aquele que concorre
de qualquer modo para o resultado. Não distingue entre
co-autoria e participação. Esse conceito “relacionava a
autoria com a causação de uma realização típica, de
maneira que a instigação e a cumplicidade por serem
também causantes do tipo aparecem materialmente
como formas de autoria”. Autor é aquele que coopera
com a pratica do delito impondo uma condição para tal.
É decorrência da teoria subjetiva- causal; no dizer de
Welzel é um fruto tardio da doutrina causalista da ação.
Também se encontra na doutrina Zaffaroni e Pierangeli:51
49 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.407.
50 PRADO, Luiz Reges. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: 6º ed. Revista dos Tribunais. P. 472
51 ZAFFARONI, Eugenio Raúl.e PIERANGELLI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: 5º ed. Revista dos Tribunais. P. 634.
28
Para uns, os participes são autores e as normas a seu
respeito são acusas de atenuação da pena. Esse é o
conceito extensivo de autor, que se funda na
causalidade e na teoria da equivalência das condições.
Se pretendemos fundar a autoria na causalidade, todo
aquele que traz alguma contribuição é autor e não há
maneira de objetivamente distinguir autor e participe. É
por isso que este critério a respeito da natureza da
participação deve recorrer aos critérios subjetivos de
delimitação.
Portanto, a teoria extensiva de autor, não traz de forma objetiva
diferenciação entre autor e partícipe, para esta teoria todas os indivíduos
que de alguma forma concorrem para a ação delituosa são considerados
autores.
Esta teoria também como já citado se encontra baseada na
teoria da equivalência das condições, não vislumbrando qualquer diferença
objetiva, entre qualquer conduta praticada ou contribuições entre autores e
participes.
Assim explica Prado:52 “Todo aquele que intervem em um
determinado delito concorre do ponto de vista causal igualmente para a
produção do resultado.
Não havendo, portanto, qualquer forma de distinção objetiva e
causal na teoria extensiva entre autor e partícipe. Todos aqueles que de
alguma forma contribuírem para o resultado da ação delituosa são autores.
52 PRADO, Luiz Reges. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: 6º ed. Revista dos Tribunais. P. 473
29
Que não é o meu entendimento pessoal sobre a matéria, uma
vez que deve sim ser feitas algumas considerações entre autor e partícipe, e
o que buscaremos embasar com a ajuda da doutrina.
2.1.2 Teoria Restritiva
Percebe-se na doutrina de Costa Jr:53
os clássicos distinguem os autores principais (co-réus ou
co-autores) dos secundários ou acessórios (cúmplices) Os
primeiros participam dos atos de consumação do crime
enquanto os demais participam dos atos restantes.
Modernamente, sustenta-se que o co-réu realiza uma
conduta executiva (típica), ao passo que o co-participe
desenvolve uma conduta preparatória (atípica)
Vê-se, porém, que há uma diferença entre autor e participe
vejamos o que diz Maggio:54
Teoria restritiva é aquela que distingue o autor do
participe, ou seja, autor é só aquele que realiza a
conduta típica. O CP adotou a teoria restritiva, uma vez
que o art. 29 (caput e §§)distingue nitidamente autor e
participe . Assim todo aquele que, sem realizar conduta
típica concorre para a sua realização, não será
considerado autor, mas mero participe.
Encontra-se na doutrina de Bonfim e Capez:55
53 COSTA, Paulo José Jr. Curso de direito Penal. São Paulo: 3º ed. Saraiva . p. 116
54 MAGGIO, Vicente da Paula Rodrigues. Direito Penal. São Paulo: 3 ed. Revista Ampliada e Atualizada. P. 171
55 BONFIM, Edílson Mougenot. CAPEZ, Fernando. Direito Penal Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 601.
30
Teoria restritiva: Faz diferença entre autor e participe. A
autoria não decorre da mera causação do resultado,
pois não é qualquer contribuição para o desfecho típico
que pode enquadrar-se nesse conceito.
Os autores acima citados56 em sua obra ainda fazem uma
divisão, no que tange a autor no conceito restritivo, que são elas, teoria ou
critério objetivo-formal, critério objetivo-material e teoria do domínio do fato.
No critério objetivo-formal só é considerado autor do crime,
aquele que comete o verbo núcleo do tipo penal, ou seja, é o que realiza a
conduta principal contida na definição. Já o partícipe não pratica o verbo
núcleo do tipo, mas concorre de alguma forma para o resultado a ação
delituosa.
Já no critério objetivo-material o autor não é quem comete o
verbo núcleo do tipo penal, mas sim, aquele que da a contribuição objetiva
de maior importância. Ficando assim, portanto, na dependência de quem ira
interpretar o caso do que será contribuição de maior importância, assim
sendo tal teria não é adotada segundo os autores.
No que tange a teoria do domínio do fato, para essa teoria será
considerado autor aquele que tem o controle da ação executiva
realizando-a ou não, como autor mediato e autor intelectual, ou seja, é a
pessoa que tem o domínio sobre o fato de como será realizada a conduta
como sua execução ou interrupção.
2.2 FORMAS DE AUTORIA.
56 BONFIM, Edílson Mougenot. e CAPEZ, Fernando. Direito Penal Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 602,605
31
2.2.1 Autoria Direta
Tira-se da doutrina de Damásio57 o seguinte sobre autoria direta.
Na autoria propriamente dita (autoria direta individual e
imediata), o autor ou o executor realiza materialmente a
conduta típica (executor material individual), age
sozinho, não havendo indutor, instigador ou auxiliar. Ele
tem o domínio da conduta.
Já no entendimento de Prado58 a autoria direta se mistura com a
teoria de autor intelectual.
“É aquele que pratica o fato punível pessoalmente, autor
executor (pratica materialmente a ação típica) e autor intelectual (sem
realizá-la de modo direto, domina-a completamente).”
Portanto, autor direto em nosso entendimento é aquele que age
materialmente que pratica o verbo nuclear do tipo penal sozinho, sem
qualquer fonte instigadora, indutora ou que lhe tenham dado qualquer tipo
de auxilio para que o mesmo desencadeasse o resultado de sua conduta.
2.2.2 Autoria Intelectual
Autor intelectual segundo Damásio59 é o sujeito que organiza e
planeja a ação delituosa, ou seja, o resultado criminoso é o produto de sua
57 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.409
58 PRADO, Luiz Reges. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: 6º ed. Revista dos Tribunais. P. 476
59 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.410
32
criatividade. Sendo que, o CP agrava a pena de autor intelectual ao sujeito
que organiza e comanda as atividades dos demais agentes.
2.2.3 Autoria Mediata
Veja-se o que trata a doutrina de Mirabete60 sobre a autoria
mediata: “Como já se assinalou, autor não é apenas o que realiza
diretamente a ação ou omissão, mas quem consegue a execução por meio
de pessoa que atua sem culpabilidade.”
Para Damásio61 o autor mediato é o sujeito de trás serve-se de
outra pessoa para praticar a conduta criminosa.
Vê-se, portanto, que autor mediato é o que tem o domínio do
fato servindo-se de outra pessoa para realizá-lo, sendo este terceiro
instrumento para a realização do fato típico.
Geralmente os autores mediatos servem-se de menores, doentes
mentais, coação moral irresistível e obediências hierárquicas.
Desta forma, na autoria mediata não haverá concurso de
agentes nos crimes de não própria.
2.2.4 Autoria Colateral
Tira-se da doutrina Maggio62 o seguinte sobre autoria colateral.
60 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.233
61 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed.. São Paulo: Saraiva, 2005. p.410
62 MAGGIO, Vicente da Paula Rodrigues. Direito Penal. São Paulo: 3 ed. Revista Ampliada e Atualizada. P. 175
33
Dá-se autoria colateral quando dois ou mais agentes
procuram causar o mesmo resultado ilícito, sem que haja,
porém colaboração entre eles, agindo cada um por
conta própria. A convergência de ações para o
resultado comum ocorre por coincidência e não por
ajuste prévio ou cooperação consciente.
Vê-se neste mesmo sentido a doutrina de Mirabete63
Inexistindo a consciência de cooperação na conduta
comum, não haverá concurso de pessoas, restando a
autoria colateral. (...) Caso duas pessoas, ao mesmo
tempo, sem conhecerem a intenção uma da outra,
dispararem sobre a vítima, responderão cada uma por
um crime se os disparos de ambas forem causa da morte.
Entende-se, no entanto, que autoria colateral não é um concurso
de pessoas e sim, um mero acontecimento de vontades e condutas iguais de
dois agentes que visam o mesmo resultado masque, um não sabe das
intenções do outro de praticar a mesma conduta delituosa.
Trata-se assim, de acontecimentos de condutas iguais mas
inconsciente dos agentes um não sabe da intenção do outro.
2.3 CO-AUTORIA
A co-autoria funde-se com a autoria da ação delituosa, ou seja,
quando duas ou mais pessoas realizam tarefas sendo que desta advenha a
totalidade do delito.
63 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.232
34
É o que se extrai da doutrina de Mirabete64: “Funda-se sobre ela
sobre o princípio da divisão do trabalho; cada autor colabora com sua parte
no fato, a parte dos demais, na totalidade do delito e, por isso, responde
pelo todo”.
Dá-se, portanto, a co-autoria quando vários agentes realizam a
conduta principal na ação penal.
Esse é o posicionamento de Prado65:
Será co-autor aquele que realiza parcialmente a conduta
típica, ou, ainda que não o faça, detenha o domínio do
funcional do fato. Portanto, o sujeito que tem o domino
funcional realiza o fato em conjunto com aqueles que
executam diretamente a conduta típica.
Para Zaffaroni e Pierangeli66 pode acontecer que para a
realização de um delito, sendo que eles concorrem para a totalidade do
fato. Sendo dado tal explicação pelos doutrinadores mencionados que, os
agentes que concorrem para o crime, tem o domínio funcional do fato.
Sendo que a contribuição de cada um é de tal relevância que
sem ela o fato não poderia ter sido realizado.
2.4 PARTICIPAÇÃO
64 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.232
65 PRADO, Luiz Reges. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: 6º ed. Revista dos Tribunais. P. 474
66 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. PIERANGELLI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: 5º ed. Revista dos Tribunais. P. 639, 640
35
Para Damásio67 partícipe no domínio do fato é o agente que
realiza uma conduta que não se adapta ou verbo núcleo do tipo, e que, não
tem o domínio sobre a execução ou consumação do delito.
Neste sentido é a doutrina de Maggio:68
Dá-se a participação quando a agente, mesmo não
praticando a conduta principal (o verbo núcleo do tipo),
concorre de qualquer modo para a realização do crime,
seja induzindo, seja instigando ou auxiliando
secundariamente.
Vê- se na doutrina de Mirabete:69
Fala-se em participação em sentido estrito, como a
atividade acessória daquele que colabora para a
conduta do autor com a pratica de uma ação que, em si
mesma, não é penalmente relevante. Essa conduta
somente passa a ser relevante quando o autor, ou co-
autores, iniciam ao menos a execução do crime. O
partícipe não comete a conduta descrita pelo preceito
primário da norma, mas pratica uma atividade que
contribui para a realização do delito.
De acordo com a doutrina de Mirabete70 a doutrina considera
duas espécies básicas de participação, sendo elas, a instigação e a
cumplicidade.
67 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed.. São Paulo: Saraiva, 2005. p.411
68 MAGGIO, Vicente da Paula Rodrigues. Direito Penal. São Paulo: 3 ed. Revista Ampliada e Atualizada. P. 172
69 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.232
70 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.233
36
Desta forma instiga o agente aquele age sobre sua vontade
fazendo nascer a idéia da pratica de crime, ou dando apoio a uma idéia já
existente.
Já o cúmplice é aquele que contribui para o crime prestando
auxílio em um comportamento ativo, exemplo clássico o empréstimo de uma
arma de fogo para que o agente efetue os disparos.
No entendimento de Prado71: “Entende-se por participação
stricto sensu a colaboração dolosa em um fato alheio. É a contribuição
dolosa- sem o domínio do fato.”
Percebe-se, portanto, que na co-autoria, varias pessoas realizam
o verbo nuclear do tipo penal sendo que, todas as ações formam a
totalidade do crime.
Já na participação se da quando um agente concorre de
qualquer modo para a realização do crime de outrem, porém não realizando
a conduta descrita no núcleo do tipo penal.
2.4.1 Teoria Causal
Este é o conceito que se tira da doutrina de Damásio:72
Esta teoria destrói a diferença entre agentes principais e
secundários, sendo verdadeiramente unitária. Parte do
princípio da equivalência das condições antecedentes.
71 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: 6º ed. Revista dos Tribunais. P. 478,479
72 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.413,414
37
Todo o resultado é conseqüência de um conjunto de
causas necessárias para a sua produção. Se todos os co-
delinqüentes são causas do crime, é evidente que o
delito é conseqüência da atividade de cada em e de
todos sem distinção objetiva. Não se pode fazer distinção
entre autores e participes entre o que realiza um delito e
o que participa de um delito alheio. O participe não é
responsável pelo fato do delito alheio, mas por crime
próprio, pois este delito é tão próprio em relação àquele
que executa materialmente a conduta típica quanto ao
que dá causa ao evento de modo diferente.
Vê-se, no entanto, que para esta teoria não há uma
diferenciação entre autores e partícipes, sendo que, a totalidade do fato se
da através de um conjunto de causas necessárias para sua produção. Sendo
que o crime é a conseqüência de uma atividade comum entre os agentes,
portanto, comum a cada um dos agentes.
2.4.2 Teoria da acessoriedade
Para Damásio73 a participação é assessoria de uma ação típica
principal, porem não sendo puníveis por si mesmos dependem do fato do
autor ou executor . Não podendo se falar portando em participação sem
que aja uma conduta principal, ou sem que alguém realize atos de um crime
tentado ou consumado.
É o que percebe-se na doutrina de Bonfim e Capez74
Há quatro classes de acessoriedade:
73 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.,414
74 BONFIM, Edílson Mougenot. e CAPEZ, Fernando. Direito Penal Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 614.
38
a) Mínima: basta ao partícipe concorrer para um fato
típico, pouco importa que não seja ilícito. Para essa
corrente, quem concorre para a pratica de um
homicídio acobertado pela legítima defesa responde
pelo crime, pois só importa se o fato principal é típico.
b) Limitada: a participação só responde pelo crime se o
fato principal é típico e ilícito;
c) Extremada: o partícipe somente é responsabilizado se
o fato principal é típico, ilícito e culpável. Desta forma,
não responderá por crime algum se tiver concorrido
para a atuação de um inimputável;
d) Hiperacessoriedade: o fato deve ser típico, ilícito e
culpável, incidindo ainda sobre o participe todas as
agravantes e atenuantes de caráter pessoal relativas
ao autor principal.
Sendo que esta divisão acima citada é a corrente majoritária
entre os doutrinadores.
2.4.3 Participação Moral
Segundo Maggio75 a participação moral divide-se em:
“Induzimento - Consiste em fazer nascer, criar na mente do agente, a idéia
criminosa. Instigação - Consiste em reforçar, estimular, idéia já existente.”
É também o que se extrai da doutrina de Bonfim e Capez:76
Moral: Instigação e induzimento. Instigar é reforçar uma
idéia já existente. O agente já a tem em mente; ela é
apenas reforçada pelo participe. Induzir é fazer brotar a
75 MAGGIO, Vicente da Paula Rodrigues. Direito Penal. São Paulo: 3 ed. Revista Ampliada e Atualizada. P. 173
76 BONFIM, Edílson Mougenot. CAPEZ, Fernando. Direito Penal Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 618
39
idéia no agente. Este não tinha idéia de cometer o crime,
mas tal idéia é colocada em sua mente.
Este também é o conceito tirado da doutrina de Jesus:77
“Participação moral é o fato de incutir na mente do autor principal o
propósito criminoso ou reforçar o pré-existente”.
Conclui-se então, que a participação moral se dá na forma de
idéias de um partícipe para o autor, ou seja, o partícipe incute na idéia do
autor a ação delituosa; na instigação o autor já tem a idéia e o partícipe o
encoraja à prática, ou o induz fazendo com que o autor crie em sua mente a
idéia da prática de uma ação delituosa.
2.4.4 Participação Material
A participação material consiste em dar subsídios para a ação
delituosa do autor. Sendo que o mesmo já esteja convicto de sua ação.
Neste caso a participação material se dá na forma de emprestar uma arma
de fogo, prestar informações a respeito de uma determinada pessoa.
Para Jesus78 “participação material é o fato de alguém insinuar-
se no processo da causalidade física.”
É também este o posicionamento de Bonfim e Capez:79
Considera-se assim partícipe aquele que presta ajuda
efetiva na preparação ou execução do delito. Segundo
77JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.,425
78 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.,425
79 BONFIM, Edílson Mougenot. e CAPEZ, Fernando. Direito Penal Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 618
40
José Frederico Marques, “são auxiliares da preparação
do delito os que proporcionam informações que facilitam
a execução, ou os que fornecem armas ou outros
objetivos úteis ou necessários à realização do projeto
criminoso; ou da execução, aqueles que, sem realizar os
respectivos atos materiais, nela tomam parte pela
prestação de qualquer ajuda útil”.
Vê-se, no entanto, que na participação material, a participação
se dá de forma mais efetiva para a consumação do fato criminoso, ou seja,
fornecendo objetos necessários para a consumação do delito.
2.5 PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA
Assim explica Mirabete80 sobre a participação de menor
importância:
A participação de menor importância só pode ser a
colaboração secundaria dispensável, que, embora
dentro da causalidade, se não prestada ao impediria a
realização do crime. Não deve ser reconhecida a causa
de diminuição de pena quando o agente participou da
idealização do crime, forneceu instrumento indispensável
à pratica do delito etc.
Percebe-se, portanto, que na participação de menor
importância deve ser o agente que a praticou castigado na medida de sua
culpabilidade.
É o que diz o art. 29, em seu § 1º, do Código Penal:
80 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.238
41
§ 1º Se a participação for de menor importância, a pena
deve ser diminuída de um sexto a um sexto.
Portanto a participação de menor importância, é a participação
secundária, mesmo ela estando na causalidade a falta da mesma não
impediria a consumação do resultado da ação delituosa.
Visto as formas de autoria, co-autoria e participação, daremos
início o tema principal do trabalho, que é, diferenciar os crimes cometidos
em concurso de pessoas, quadrilha ou bando e organização criminosa,
demonstrando se o concurso é eventual ou necessário que passará a ser
estudado no 3º capítulo.
42
CAPÍTULO 3
DIFERENÇAS ENTRE CONCURSO DE PESSOAS, QUADRILHA OU
BANDO E ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS.
Será visto no terceiro capítulo as formas que os indivíduos se
juntam para a prática de crimes, uma vez que na empreitada criminosa a
união de pessoas visando o mesmo fim torna sua consumação facilitada,
com cada indivíduo fazendo sua parte.
Nota-se, portanto, que os crimes podem ser praticados, como já
mencionado, em concurso eventual e concurso necessário de pessoas.
Quando se dá a prática de um crime em concurso eventual, está-se diante
do concurso de pessoas, regra esculpida no artigo 29, do Código Penal,
respondendo cada agente pela sua conduta.
Já o concurso necessário se apresenta em determinados crimes
que não podem ser consumados sem a presença de um número mínimo de
pessoas. Entre eles cita-se, como exemplo, o crime de quadrilha, previsto no
artigo 288, do Código Penal e o crime de associação habitual para o tráfico,
previsto no artigo 14, da Lei 6.368/76, agora revogado pelo artigo 35, da Lei
11.343/06, onde o primeiro exige um número mínimo de quatro pessoas e o
segundo um número mínimo de duas pessoas.
3.1 ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
Será, tratado, neste primeiro momento a figura da organização
criminosa.
43
A expressão crime organizado (‘organized crims’) é uma
palavra nova, de origem americana, entretanto como
grupos criminosos organizados para a execução de
crimes, nos mais variados campos (trafico de armas,
drogas mulheres – ainda comum hoje em dia, entre nós,
como na Espanha e oriente médio, em regra, Japão –
jogos, assaltos, extorção, corrupção, entre outros).
A expressão crime organizado traz incita em sí (sic) a
noção básica de associação de pessoas, em grupos,
com a finalidade de, através de práticas criminosas
(animus delinquendi) tirarem, quase sempre proveitos
patrimoniais ou políticos81.
Vê-se, que a matéria de crimes cometidos por organizações
criminosas ainda é pouco estudada, existindo pouca doutrinas que falam
sobre o assunto.
Tem-se no Brasil a Lei nº 9.034 de 1995, alterada pela Lei 10.217 de
2001, que trata sobre o crime organizado, porém a lei citada em momento
algum conceitua o que seja crime organizado, tendo cunho puramente
processual penal, pois trata da forma como devem ser tratados estes crimes
processualmente.
Delmanto comenta a respeito.82
O art. 6º da Lei nº 9.034/95 (lei do Crime Organizado
Estabelece que “nos crimes praticados em organização
criminosa, a pena será reduzida de um a dois terços,
quando a colaboração espontânea do agente levar ao
esclarecimento de infração penal e sua autoria”.
Dispondo o art. 1º dessa mesma lei, com a nova redação
dada pela Lei nº 10.217/01, que ela “define e regula meios
81 SZNICK, Valdir. Crime Organizado – Comentários. São Paulo: Leud, 1997. p. 18.
82 Delmanto, Celso. Código Penal Comentado. 6 ed. Rio de Janeiro: Renovar. 2002. p.569
44
de prova e procedimentos investigatórios que versem
sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por
quadrilha ou bando ou organizações ou associações
criminosas de qualquer tipo” (...) Salvo engano, não há
no Brasil conceito de organização criminosa.
Verifica-se desta maneira, que não existe ainda no Brasil uma
legislação que defina especificamente o que é uma organização criminosa,
cabendo a doutrina a tentativa de explicar, como será visto no texto abaixo.
Nota-se, portanto, que nas organizações criminosa há,
“hierarquia estrutural, planejamento empresarial, claro
objetivo de lucros, uso de meios tecnológicos avançados,
recrutamento de pessoas, divisão funcional de atividades,
conexão estrutural ou funcional com o poder público
e/ou com o poder político, oferta de prestações sociais,
divisão territorial das atividades, alto poder de
intimidação, alta capacitação para a fraude, conexão
local, regional, nacional ou internacional com outras
organizações etc.83
Em uma primeira análise, pode-se dizer que o P.C.C (Primeiro
Comando da Capital) é um exemplo claro de organização criminosa, pois a
luz do texto acima o P.C.C, se encaixa nos requisitos específicos, possuindo
um grande número de participantes, um alto poder intimidador, podendo
organizar ações simultâneas ao mesmo tempo em lugares diferentes.
Contudo, isso é uma opinião pessoal do autor, já que a doutrina
encontra dificuldades para definir o que seja uma organização criminosa,
conforme Capez.84
83 BRASIL, Artigo: Organização Criminosa. Disponível em. <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2919>. Acesso em 25/09/2006
84 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Especial. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p. 269/270
45
Ainda não se tem a menor idéia do que venha a ser
organização criminosa. É claro que ela pode ser definida
doutrinariamente, porém isso ofenderia o princípio da
reserva legal. Assim, a Lei de Crime Organizado somente
pode ser aplicada aos crimes de quadrilhas ou bando e
de associação criminosa. Às chamadas organizações
criminosas ainda não, pois não se sabe o que significam.
E continua Capez.85
Não existe em nenhuma parte do nosso ordenamento
jurídico a definição de a organização criminosa. Cuida-se,
portanto, de um concito vago, totalmente aberto,
absolutamente poroso. (...) o legislador não ofereceu
sequer a descrição típica mínima do fenômeno, só nos
resta concluir que, nesse ponto, a lei (9.034/95) passou a
ser letra morta. Organização criminosa, portanto, hoje, no
ordenamento jurídico brasileiro, é uma alma uma
enunciação abstrata em busca de um corpo de um
conteúdo normativo que atenda o princípio da
legalidade.
Verifica-se que não se tem uma certeza jurídica sobre o que
pode ser chamado de organização criminosa. Uma vez que não existe em
nosso ordenamento jurídico a definição do tipo e seus requisitos, não se
podendo fazer qualquer tipo de conceito ou uma aplicação analógica da
lei, uma vez que isso ofenderia o princípio da reserva legal.
Desta forma, a única coisa que se pode ter certeza é que uma
organização criminosa, da mesma forma que o concurso eventual de
agentes (concurso de pessoas), não é um tipo penal e necessita de mais de
um agente para que se possa configurar.
85 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Especial. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p. 271
46
3.2 QUADRILHA OU BANDO
3.2.1 Conceito
O crime de quadrilha ou bando está previsto na art. 288 do
Código Penal:
Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, quadrilha ou
bando, para o fim de cometer crimes:
Pena – reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único. A pena aplica-se em dobro, se a
quadrilha ou bando é armado.
Trata-se, portanto da reunião de mais de três pessoas com o
objetivo de cometer crimes, em prática estável ou permanente.
3.2.2 Sujeito Ativo
O crime de quadrilha ou bando pode ser cometido por qualquer
pessoa, pois é um crime comum, de concurso necessário de agentes, pois o
artigo 288 é imperativo ao exigir mais de três pessoas, conforme explica
Jesus.86
O crime de quadrilha ou bando é de concurso
necessário, ou seja, tem como elementar a participação
de várias pessoas para o fim único de cometer crimes.
Pode ser cometido por qualquer pessoa que se associe a,
no mínimo mais de três pessoas.
86 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. Parte Especial. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.425
47
No mesmo sentido é a doutrina de Capez.87
Trata-se de crime comum, pois qualquer um pode
praticá-lo. Estamos aqui diante de um crime coletivo,
plurissubjetivo ou de concurso necessário, pois o tipo
penal exige que no mínimo quatro pessoas integrem a
quadrilha ou bando. Conforme já ressaltado, pode
integrar o computo legal o inimputável ou agente não
identificado, desde que provada a participação deste na
associação criminosa, por exemplo, por meio do relato de
testemunhas.
A doutrina de Mirabete88 vai ainda mais longe.
No crime de quadrilha ou bando pouco importa que os
seus componentes não se conheçam reciprocamente,
que haja um chefe ou líder, que todos participem de
cada ação delituosa ou que cada um desempenhe uma
tarefa específica. O que importa verdadeiramente é o
propósito deliberado de participação ou contribuição, d
forma estável e permanente, para o êxito das ações do
grupo.
Percebe-se, portanto, que o sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa, pois se trata de crime comum, porém é um crime coletivo de
concurso necessário, pois o tipo penal exige a associação de mais de três
pessoas.
Pode ser incluído no computo os inimputáveis, quando estes
tiverem capacidade para entender e integrar a quadrilha, mesmo o
integrante não identificado, desde que provada sua participação na
quadrilha.
87 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Especial. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p. 256
88 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal Parte especial. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.199
48
Nem mesmo os agentes precisam se conhecer reciprocamente,
bem como não precisam participar da mesma ação delituosa. Não
necessita ter chefe ou líder, ou que cada indivíduo pratique uma tarefa
específica. Mas imprescindível que haja precisamente a associação para a
prática de crimes de forma estável ou permanente.
3.2.3 Elemento Objetivo do Tipo
Os elementos objetivos do tipo, ou o núcleo do tipo é a
associação de mais de três pessoas em uma associação permanente, com o
fim de cometer crimes.
Tira-se na doutrina de Mirabete.89
O núcleo do tipo é a associação dos sujeitos ativos.
Implica a conduta típica pois, a união, reunião aliança
de quatro ou mais pessoas. (...) “Não basta para
configurar o delito de quadrilha ou bando a reunião de
mais de três pessoas para e execução de um ou mais
crimes. É necessário que alem dessa reunião, haja um
vinculo associativo permanente para fins criminosos,
uma predisposição comum de meios para a pratica de
uma serie indeterminada de delitos e uma continua
vinculação entre os associados para a concretização de
um programa delinqüencial”.
Verifica-se na doutrina de Jesus.90
Exige-se que a quadrilha ou bando (termos sinônimos),
seja composta de no mínimo quatro pessoas em face da
elementar “... mais de três pessoas ...” descrita no tipo
89 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal Parte especial. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.200
90 JESUS, Damásio E de. Direito Penal. Parte Especial. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.426
49
penal. Para o computo desse número incluem-se os
inimputáveis.(...) Não configura o crime de associação
momentânea para o fim de cometer delitos. Exige-se a
estabilidade, e a permanência da associação, sendo
desnecessário, entretanto, que a associação seja
organizada formalmente, bastando a organização de
fato.
Extrai-se da doutrina de Capez91 os seguintes ensinamentos sobre
os elementos configuradores que compõem o núcleo do art. 288, que é,
associação estável ou permanente, composta por mais de três pessoas e
com o fim de cometer crimes.
Associação estável ou permanente: é o elemento que
diferencia a quadrilha ou bando da associação
ocasional para a prática de crimes, isto é, da co-
participação. O delito do art. 288 exige um vinculo
associativo entre os membros da quadrilha, que seja
permanente e não eventual, esporádico. (...) exige-se,
portanto, um vínculo permanente, constante, para a
pratica reiterada de crimes, ou seja, para a
concretização de um programa delinqüêncial.
Composta por mais de três pessoas: a associação
criminosa deve se integrada por mais de três
delinqüentes. Não importa nesse cômputo que um deles
seja inimputável ou que não seja identificado. Ainda que
somente um quadrilheiro seja identificado, se houver a
prova da existência dos demais associados, por
exemplo, por meio de prova testemunhal, o crime em
apreço se perfaz. Também não importa que um dos
associados venha a integrar a quadrilha ou bando após
sua criação, pois estamos diante de um crime
permanente. Da mesma forma, não é preciso que os
91 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Especial. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p. 254/255
50
integrantes da quadrilha ou bando se conheçam
pessoalmente, pois é muito comum a associação
ocorrer entre integrantes de cidades ou Estados diversos,
podendo a comunicação entre eles ocorrer mediante
uso de correspondência, telefone, internet etc.
Com o fim de praticar crimes: exige-se que a quadrilha
ou bando se reúna para a pratica de crimes
indeterminados. Se a reunião for para a prática de
crimes determinados, haverá apenas co-autoria ou
participação nos crimes praticados. A associação deve
ser para a pratica de crimes e não de contravenção
penal.
Verifica-se desta maneira, que para se constituir o crime de
quadrilha o tipo penal descrito no art. 288, do Código Penal, dever ser
preenchido na sua totalidade.
A associação deve ser estável ou permanente, para assim
configurar o crime, não bastando apenas a reunião de mais de três pessoas
para o cometimento de um crime. Neste caso se estaria diante da co-autoria
ou participação. A associação deve ter por objetivo a prática reiterada de
crimes.
Portanto, o crime de quadrilha ou bando reúne três elementos
indispensáveis para sua configuração, conter mais de três pessoas, ser estável
ou permanente, e que a associação tenha deliberado o propósito da prática
reiterada de crimes. Pode acontecer que os integrantes da associação nem
mesmo se conheçam, mas que existe um fim único entre eles que é a prática
de crimes.
Verifica-se, ainda, da necessidade de que a associação seja
formada para a realização de crimes indefinidos. Pois se ocorrer a
51
associação para a execução de um crime específico, a figura que se
amolda não é a quadrilha e sim a co-autoria, uma vez que o tipo penal do
artigo 288, CP, quando fala em crimes, pressupõe que os crimes sejam
indeterminados.
Em resumo, primeiro deve-se consumar a quadrilha e depois é
que deve ser determinados os crimes que venham a ser cometidos. Caso os
crimes já estejam pré-definidos, e a associação é no sentido de praticar
aqueles delitos, tem-se a co-autoria.
3.2.4 Elemento Subjetivo
O elemento subjetivo é o dolo, ou seja, a vontade do agente em
se associar a outras pessoas objetivando a prática de crimes.
Veja-se a doutrina de Mirabete.92
O dolo e a vontade do agente de se associar a outros
com a finalidade de cometer crimes (elemento subjetivo
do tipo ou dolo especifico). Há, portanto, acordo de
vontade, vínculo associativo entre os agentes. Não
importa os motivos determinantes que animam os
agentes.
Neste mesmo rumo é a doutrina de Capez.93
É o dolo, isto é, a vontade de o agente se associar a
outras pessoas com a finalidade de cometer crimes (esse
fim específico constitui o elemento subjetivo do tipo),
92 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal Parte especial. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.202
93 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Especial. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p. 256
52
sejam eles contra o patrimônio, contra os costumes,
contra a liberdade individual etc.
Complementa-se com a doutrina de Jesus.94
O primeiro é o dolo, ou seja, a vontade de associarem-se,
mais de três pessoas, quadrilha ou bando. Exige-se ainda
um outro elemento subjetivo do tipo, consubstanciado na
expressão “para o fim de cometer crimes”, reveladora de
um especial fim de agir.
Percebe-se que o principal elemento subjetivo é o dolo, ou seja,
a vontade do agente de se reunir com outras pessoas com o objetivo de
praticar crimes. Independentemente de qual o tipo de crime, podendo ser,
contra o patrimônio, contra a liberdade individual ou contra os costumes,
mas é indispensável que existe à vontade do agente de se reunir com a
finalidade criminosa.
3.2.5 Consumação
Nota-se que o crime de quadrilha ou bando tem sua
consumação no momento da associação de no mínimo quatro pessoas,
independentemente da realização de qualquer delito futuro.
Este é o entendimento de Capez.95
Consuma-se o crime no instante em que a associação
criminosa (no mínimo quatro pessoas) é formada
independentemente da prática de qualquer delito, pois é
94 JEUS, Damásio E de. Direito Penal. Parte Especial. 15 ed.. São Paulo: Saraiva, 2002. p.426
95 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Especial. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p. 256/257
53
nesse momento que se apresenta o perigo concreto para
a paz pública. (..) Trata-se de crime permanente. A
consumação se protai no tempo enquanto perdurar a
associação. O prazo de prescrição da pretensão punitiva
só começa a correr na data em se der o encerramento
da conduta, isto é, com o termino da associação. Por se
tratar de crime permanente, é possível a prisão em
flagrante enquanto durar a quadrilha ou bando.
Assim explica Mirabete.96
Consuma-se o crime previsto no art 288 com a simples
associação de quatro ou mais pessoas para a pratica de
crimes, com o que já se apresenta um perigo
suficientemente grave para alarmar o público ou
conturbar a paz ou a tranqüilidade de âmbito da
convivência civil. É indiferente que o agente venha a
aderir à associação depois de formada a quadrilha ou
bando; para ele a consumação se opera com esta
adesão. Não há necessidade, para se ter por consumado
o delito, que o bando execute ou inicie a execução de
algum crime. A desistência do agente, ainda que
voluntária, não lhe exclui a responsabilidade.
Verifica-se, então, que o crime se consuma no momento da
associação de mais de quatro pessoas com a finalidade de cometer crimes.
No próprio momento da associação se configura a infração penal descrita
no art. 288 do Código Penal.
Para o indivíduo que ingressar em uma quadrilha ou bando após
a formação desta, o simples ato de aderi-la consuma o delito para ele. O
agente que mesmo voluntariamente se desliga da quadrilha não exclui sua
responsabilidade.
96 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal Parte especial. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.202
54
Por esta razão é que não se admite a tentativa, já que é um
crime instantâneo, conforme Mirabete: “Não há que se falar em tentativa. As
meras gestões para persuadir outras pessoas a formar a quadrilha são
apenas atos preparatórios do crime previsto no artigo 288”.97
No mesmo sentido leciona Capez: “A tentativa é inadmissível.
Justifica Noronha que o crime em estudo já é por si só um ato preparatório:
associar-se, reunir-se para praticar crimes, “difícil, assim, falar em atos
preparatórios, seguidos de não consumação”.98
3.3 A POSIÇÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA CATARINENSE ACERCA DO CONCURSO DE
PESSOAS E DO CRIME DE QUADRILHA OU BANDO
Jurisprudência relativa a concurso de pessoas.
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO QUALIFICADO.
CONCURSO DE PESSOAS E EMPREGO DE ARMA.
QUALIFICADORAS COMPROVADAS. INCIDÊNCIA. -
Incide a qualificadora do concurso de pessoas se as
provas colhidas, tanto na fase pré-processual como na
fase instrutória, demonstram à saciedade, que o acusado
atuou em conivência com mais duas pessoas, ainda que
apenas aquele tenha sido preso em flagrante e em posse
apenas de parte do produto do roubo. - Mesmo que
por ocasião do flagrante não tenha sido encontrada na
posse do acusado, e mesmo que, eventualmente, no
97 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal Parte especial. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.203
98 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Especial. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p. 258
55
momento do crime não estivesse em seu poder a arma,
responde o mesmo pela qualificadora prevista no inciso I,
§ 2º, do art. 157, do CP, pois é circunstância de caráter
objetivo, tendo restado evidenciado o conhecimento de
referida circunstância por parte do agente. ROUBO.
CONSUMAÇÃO. RETIRADA DA COISA DA ESFERA DE
VIGILÂNCIA E DISPONIBILIDADE DA VÍTIMA. PRESO EM
FLAGRANTE APENAS UM DOS AGENTES COM PARTE DO
PRODUTO DO CRIME. TENTATIVA DESCARACTERIZADA.
DECISÃO MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. - O roubo é
um crime material que exige um resultado para
consumação, qual seja, a diminuição patrimonial da
vítima, ainda que momentaneamente, com a retirada do
bem da sua esfera de vigilância, sem importar que venha
depois recuperá-lo. - O crime é consumado para todos
os envolvidos, não se beneficiando o acusado com a
causa de diminuição do art. 14, II do CP, ainda que preso
em flagrante e em posse apenas de parte dos objetos
subtraídos, em razão de os demais comparsas terem
conseguido escapar com o restante do produto do
roubo.99
EMENTA: Crime contra o patrimônio. Roubo. Concurso
de agentes e uso de arma. Recurso defensivo objetivando
a absolvição em face da ausência de provas seguras
acerca da participação do agente na prática delituosa.
Réu que planeja e coordena a perpetração de roubo,
deslocando-se, na companhia do co-réu, em seu próprio
carro, até o local onde a vítima foi abordada, dando
integral apoio e cobertura ao autor direto da subtração.
99 BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina 01.022356-2. 04/06/2002. Disponível em : <http: www.tj.sc.gov.br>. Acesso em 05//03/2003
56
Conjunto probatório com amparo na confissão do co-réu,
nas palavras coerentes da vítima, bem como nas dos
policiais que atenderam a ocorrência. Validade.
Condenação mantida. Pena. Dosimetria. Pretendida
redução da pena-base para o mínimo previsto.
Circunstância de o crime ter sido praticado mediante
concurso de agentes, considerada quando da análise
das circunstâncias judiciais elencadas no artigo 59, do
Código Penal. Possibilidade. Recurso não provido.100
EMENTA: CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO - ROUBO
CIRCUNSTANCIADO PELO CONCURSO DE PESSOAS -
APELANTE QUE ESPONTANEAMENTE CONFESSOU A
PRÁTICA DO ILÍCITO PENAL - PALAVRAS DA VÍTIMA E DO
CONDUTOR DO FLAGRANTE QUE CONFIRMARAM A
EFETIVA PARTICIPAÇÃO DA CO-RÉ NÃO RECORRENTE NA
PERPETRAÇÃO DO ASSALTO - AFASTAMENTO DA CAUSA
DESCRITA NO INCISO II DO § 2º DO ART. 157 DO CÓDIGO
PENAL INVIÁVEL. No crime de roubo, as palavras da
vítima, que inclusive serviram para propiciar a prisão em
flagrante dos responsáveis pelo ilícito, aliadas aos demais
elementos probatórios contidos nos autos, perfaz prova
suficiente para sustentar o reconhecimento da co-autoria
do delito e, por conseguinte, a manutenção da causa
agravadora. DESCLASSIFICAÇÃO - MODALIDADE
TENTADA - RES ALIENA QUE FICOU NA POSSE TRANQÜILA
DOS MELIANTES E SEQUER FOI RECUPERADA - CRIME
CONSUMADO. Se a coisa alheia restou extraída da
esfera de vigilância do ofendido, ficando não só na posse
tranqüila dos assaltantes, como nunca fora àquele
100 BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina 02.008504-4. 04/06/2002. Disponível em : <http:
www.tj.sc.gov.br>. Acesso em 29/09/2006
57
restituído, impossível reconhecer que o delito de roubo foi
apenas tentado, pois a etapa consumativa do crime se
dá no momento da efetiva diminuição do patrimônio
pertencente à vítima. ATENUANTE - CONFISSÃO
ESPONTÂNEA - CIRCUNSTANCIA QUE FOI DEVIDAMENTE
SOPESADA NA SENTENÇA, POR OCASIÃO DA APLICAÇÃO
DA PENA, INCLUSIVE MINORANDO A SANÇÃO-BASE
IRROGADA AO APELANTE. CAUSA GERAL DE
DIMINUIÇÃO - ARREPENDIMENTO POSTERIOR (ART. 16 DO
CP) - INFRAÇÃO PENAL COMETIDA PELO APELANTE
INCOMPATÍVEL COM OS PRESSUPOSTOS DA MEDIDA
POSTULADA - CRIME COMETIDO COM VIOLÊNCIA À
PESSOA E AUSÊNCIA DE RESTITUIÇÃO DO BEM SUBTRAÍDO À
ESFERA PATRIMONIAL DA VÍTIMA - CONCESSÃO DA
BENESSE OBSTADA. APELO DEFENSIVO IMPROVIDO.
101
Jurisprudência relativa a crimes de quadrilha ou bando.
EMENTA: APELAÇÕES CRIMINAIS. a) - RÉUS
CONDENADOS E FORAGIDOS, COM INTIMAÇÃO DA
SENTENÇA VIA EDITAL. VEDAÇÃO PARA RECORRER EM
LIBERDADE. RECURSOS NÃO CONHECIDOS. b) - RÉUS
CONDENADOS POR CRIME DE FORMAÇÃO DE
QUADRILHA. INEXISTÊNCIA DE PROVA DA HABITUALIDADE.
DELITO NÃO CONFIGURADO. CONDENAÇÃO EXCLUÍDA
DA SENTENÇA. RECURSOS EM TAL SENTIDO PROVIDOS. c) -
AUTORES DIRETOS DOS CRIMES DE EXTORSÃO MEDIANTE
SEQÜESTRO E ROUBO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE
AGENTES E COM EMPREGO DE ARMAS DE FOGO. AÇÕES
DELITUOSAS DISTINTAS. PROVA DA AUTORIA E
MATERIALIDADE, INCONTESTES. CONDENAÇÃO MANTIDA.
101 BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina 2003.015423-0 27/10/2003. Disponível em : <http:
www.tj.sc.gov.br>. Acesso em 29/09/2006
58
REDUÇÃO DAS PENAS IMPOSTAS. APELOS PROVIDOS
PARCIALMENTE. d) - AUTOR INTELECTUAL DE CRIME DE
EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO. PROVA INDICIÁRIA DE
QUE CONCORREU DECISIVAMENTE PARA O CRIME.
CONDENAÇÃO MANTIDA. CRIME DE ROUBO DE CUJA
PARTICIPAÇÃO NÃO RESULTOU COMPROVADA.
APENAÇÃO EXCLUÍDA DA SENTENÇA. APELO PROVIDO
PARCIALMENTE. e) - RÉ CONDENADA POR CRIMES DE
SEQÜESTRO MEDIANTE EXTORSÃO E ROUBO. INEXISTÊNCIA
DE PROVA DE SUA PARTICIPAÇÃO NOS FATOS. APELO
PROVIDO. ABSOLVIÇÃO DECRETADA. f) - RÉ CONDENADA
POR CRIME DE RECEPTAÇÃO DOLOSA. PROVA
INCONSISTENTE AO JUÍZO DE CONVICÇÃO NO
CONCERNENTE A SUA CONFIGURAÇÃO, RECURSO
PROVIDO. ABSOLVIÇÃO DECRETADA.102
EMENTA: ROUBO DUPLAMENTE CIRCUNSTANCIADO E
QUADRILHA ARMADA - FALTA DE DEMONSTRAÇÃO
PROBATÓRIA DA AFFECTIO SOCIETATIS DIRECIONADA À
PRÁTICA DE DELITOS - ACORDO MOMENTÂNEO QUE NÃO
SE CONFUNDE COM A ESTABILIDADE PERMANENTE EXIGIDA
PARA O CRIME DE QUADRILHA - DELITO,
CONSEQUENTEMENTE, NÃO CARACTERIZADO - SENTENÇA
CONDENATÓRIA REFORMADA - PENA-BASE ESTABELECIDA
PARA O CRIME DE ROUBO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL -
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS A PERMITIREM O SEU
EXACERBAMENTO, QUANDO MÚLTIPLOS OS ANTECEDENTES
NEGATIVOS APRESENTADOS, AINDA MAIS SE A PRÁTICA
INFRACIONAL É PERPETRADA POR INDIVÍDUOS FORAGIDOS
DE PENITENCIÁRIA ONDE CUMPREM PENA POR DELITO
102 BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina 24.676 28/06/1990. Disponível em : <http:
www.tj.sc.gov.br>. Acesso em 29/09/2006
59
NÃO MENOS GRAVE - APELO PARCIALMENTE PROVIDO
EMENTA: QUADRILHA OU BANDO - AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UM QUARTO
ELEMENTO NECESSÁRIO À CONFIGURAÇÃO DO DELITO -
CONJUNTO PROBATÓRIO QUE INCUTE SÉRIAS E FUNDADAS
DÚVIDAS ACERCA DA INFRAÇÃO - ABSOLVIÇÃO QUE SE
IMPÕE. DOSIMETRIA - PLEITO DE REDUÇÃO DA PENA-
BASE EM RELAÇÃO AO DELITO DE ROUBO
CIRCUNSTANCIADO - INVIABILIDADE - EXISTÊNCIA DE
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS QUE
JUSTIFICARAM O SEU INCREMENTO. ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA - PEDIDO FORMULADO NA
INSTÂNCIA INFERIOR E AINDA NÃO ANALISADO -
VIABILIDADE DE APRECIAÇÃO POR ESTA CORTE -
DECLARAÇÃO DO INCONFORMADO FEITA POR MEIO DE
SEU PATRONO DE QUE NÃO TEM CONDIÇÕES DE ARCAR
COM AS CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS SEM PREJUÍZO PRÓPRIO OU DE SUA
FAMÍLIA - INTELIGÊNCIA DO ART. 4º DA LEI N. 1.060/50 -
DEFERIMENTO APENAS PARA A ISENÇÃO DA VERBA
REMUNERATÓRIA DO PROCURADOR - FIXAÇÃO DE 7,5
URH'S AO ASSISTENTE JUDICIÁRIO QUE ATUOU SOMENTE NA
SEGUNDA INSTÂNCIA - CUSTAS PROCESSUAIS - MATÉRIA
AFETA AO JUÍZO DA EXECUÇÃO - PRECEDENTES - NÃO
CONHECIMENTO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO103
103 BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina 2004.029520-9 29/03/2005. Disponível em : <http:
www.tj.sc.gov.br>. Acesso em 29/09/2006
60
Verifica-se após a matéria pesquisada uma diferença entre
concurso de pessoas e quadrilha ou bando.
A quadrilha se distingue do concurso de pessoas, pois os
componentes de uma quadrilha se reúnem para a prática reiterada de
crimes, com estabilidade ou permanência, onde mais de três pessoas no
mínimo quatro se associam para a prática de crimes.
Já no concurso de pessoas os co-autores se juntam para o
cometimento de um só crime, sendo desta forma momentânea sua
formação. É o agente que de qualquer forma concorre para o crime e a este
incide a pena na medida de sua culpabilidade. Já no crime de quadrilha ou
bando, mesmo que um dos quadrilheiros não participe da ação delituosa
será responsabilizado da mesma forma dos demais que executaram o delito.
Não se pode fazer um comparativo entre crimes de quadrilha ou
bando e concurso de pessoas da figura da organização criminosa devido
não encontrar subsídios no ordenamento jurídico brasileiro acerca da
definição deste instituto jurídico. Verifica-se somente com base em textos
doutrinários que as organizações criminosas são compostas por grande
número de agentes treinados e capacitados, dispondo de grande poder de
intimidação, com grande aparato tecnológico, com hierarquia definida,
com ramificações regionais, nacionais e em outros países.
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os crimes podem ser praticados por uma só pessoa, ou pode o
mesmo, ser praticado em concurso eventual ou necessário.
Ao término da pesquisa realizada, buscou-se de maneira clara e
simples com base na doutrina, trazer as diferenças entre concurso eventual e
concurso necessário.
Para tanto foram pesquisados vários autores, fazendo
primeiramente um conceito de crime, entre os quais o conceito formal,
material e o analítico, ficando definido que crime é um fato típico, descrito
na lei penal e ilícito, ou seja, contrário a norma penal.
Quando se tem um concurso de pessoas, o Direito Penal busca
estabelecer o grau de participação de cada agente e sua responsabilidade
na conduta criminosa, onde se encontram três teorias; a teoria monista,
dualista e pluralista, sendo que a primeira não faz distinção alguma, entre os
autores e cúmplices, todos respondendo pelo mesmo crime, havendo um
único crime e uma pluralidade de agentes. Já para a dualista há um crime
praticado pelos autores principais, e outro para os autores secundários.
Já para a pluralista há a pluralidade de pessoas e de crimes.
Portanto cabe a cada agente uma participação correspondente e própria.
Portanto, no concurso de pessoas, em entendimento próprio
após a pesquisa, deve-se fazer uma distinção entre os autores e os partícipes,
fazendo com que cada um seja penalizado na medida de sua
culpabilidade.
62
Pois muitas vezes a mera participação não influencia no
resultado final do crime, pois o domínio do fato não está em suas mãos,
portanto, não podendo ser tratado como o autor do fato, deve sim este
responder até o limite de sua culpabilidade.
Já nos concursos necessário, que no estudo foi dado ênfase ao
crime de quadrilha, todos os componentes devem responder pelo crime, pois
os agentes se agrupam visando a prática reiterada de crimes,
diferentemente do concurso de pessoas, em que os agentes cometem um
único delito.
Pois mesmo que um quadrilheiro não participe de uma ação
delituosa do grupo, o mesmo responderá junto com os demais pela
formação de quadrilha.
Assim, ficou demonstrada a primeira hipótese levantada, uma
vez que o crime de quadrilha ou bando é praticado em concurso necessário
de pessoas, diferenciando-se da co-autoria, onde o concurso de pessoas é
eventual.
Quanto à segunda hipótese, a mesma também restou
demonstrada, eis que a organização criminosa não tem definição legal no
Direito pátrio, razão pela qual a mesma não pode ser aplicada.
63
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS
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Paulo: Saraiva
BONFIM, Edílson Mougenot. e CAPEZ, Fernando. Direito Penal Parte geral.
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Expressões latinas de uso forense. 3º ed. Campinas: Servanda, 2001.
BRASIL, Artigo: Organização Criminosa. Disponível em.
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2919>. Acesso em 25/09/2006.
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Disponível em : <http: www.tj.sc.gov.br>. Acesso em 29/09/2006
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64
BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina 2004.029520-9 29/03/2005.
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