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Grupo Temático 3: Análise de Políticas Públicas MELO, L. A.; CABRAL, R. M.; ANDRADE, J. C.
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AS MUDANÇAS DECORRENTES DO RECEBIMENTO DA
PREVIDÊNCIA RURAL PELOS BENEFICIÁRIOS:
o caso da Comunidade do Vale do Catimbau - Buíque-PE
Letícia Alves de Melo1 Romilson Marques Cabral1
Jucimar Cassimiro de Andrade2
RESUMO
O objetivo deste trabalho é identificar as principais mudanças decorrentes do recebimento da previdência rural pelos beneficiários residentes na comunidade do Vale do Catimbau - Buíque-PE. A pesquisa é do tipo exploratória. A técnica de grupo focal foi utilizada em dois grupos. Utilizou-se a análise de conteúdo. O método empregado permite identificar mudanças decorrentes do recebimento do benefício por uma análise comparativa entre os períodos anterior e posterior ao recebimento. Para dar subsídios iniciais à pesquisa fez-se uma revisão de literatura com destaque para as políticas de Previdência Rural. Como resultados foram identificadas algumas categorias, destacando-se que a aposentadoria é a principal fonte de renda para o grupo familiar primário composto geralmente por um casal de idosos e os parentes mais próximos ainda que não residentes em um mesmo local. Evidencia-se sobretudo que a previdência funciona como uma espécie de estabilizador emocional em função das precárias condições pré-existentes dos beneficiários. Palavras-chave: Políticas públicas. Previdência Rural. Beneficiários da previdência. Condições de vida. Mudanças de perspectiva.
1 Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB).
Grupo Temático 3: Análise de Políticas Públicas MELO, L. A.; CABRAL, R. M.; ANDRADE, J. C.
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1 INTRODUÇÃO
Considerada como umas das políticas públicas de estado mais relevantes por
seu caráter protetor, a Previdência Rural, tem evoluído significativamente em termos
de cobertura.
De acordo com aquela organização pode se perceber que a política
previdenciária rural no Brasil possui um caráter distributivo, em consonância com os
objetivos das políticas sociais, previstos na Constituição de 1988, as quais devem
ser organizadas segundo os princípios da seletividade e distributividade na
disponibilização de benefícios e serviços. (OIT, 2012, p. 29-30).
Considerando a definição de Política Pública, apresentada por Peters apud
Souza (2006, p. 4) “política pública é a soma das atividades dos governos, que
agem diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos”.
Por este prisma as políticas públicas previdenciárias buscam assegurar renda aos
indivíduos em situações de vulnerabilidade social, isto é quando existem fatores
limitantes na sua capacidade laborativa.
Diante do envelhecimento progressivo da população brasileira, confirmados a
partir de dados do IBGE, constitui-se um novo paradigma o qual deve se debruçar a
política pública do país nos próximos anos (IBGE apud OIT, 2012, p. 46). Tal fato
evidencia uma realidade que contrasta com o equilíbrio financeiro da política, pois
num futuro breve o número de idosos será bastante elevado, vias a vis aos que se
encontram no mercado de trabalho, trazendo à tona a necessidade de refletir melhor
sobre os rumos dessa política, de forma a garantir qualidade de vida para os futuros
idosos brasileiros.
Pesquisa realizada por Silva e Lopes (2009, p. 213), constata que “os
benefícios têm uma grande participação na composição da renda das famílias nos
estratos de renda mais baixos: em alguns casos, são as únicas fontes de renda das
famílias, principalmente daquelas mais pobres”. Os mesmos autores chegam a
ressaltar que ao analisar a pobreza no Nordeste, em especial na região do
semiárido, foi possível constatar que o benefício torna-se bastante relevante para a
sobrevivência das famílias diante das adversidades socioeconômicas. (SILVA;
LOPES, 2009, p. 213).
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A escritora Rachel de Queiroz apud França (2004, p. XIII), chegou a comparar
a uma inovação institucional, relacionando a previdência rural à Lei Áurea da
princesa Isabel, que se destinava a acabar com a escravidão no Brasil. A Escritora
famosa comentara que "O dinheiro das aposentadorias assegura a estabilidade
econômica a muitas vilas e pequenas cidades onde circula", e acrescentou: "(...) de
certa forma representa uma abolição para o trabalhador dos campos, desde o bóia-
fria aos que lidam com enxada e foice(...)".
Dada a relevância sobre a temática, o presente trabalho busca ofertar
algumas contribuições para a disseminação do conhecimento sobre a política de
previdência rural, especialmente no semiárido do Nordeste brasileiro.
Conforme dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) de
dezembro de 2015, os beneficiários da previdência em Buíque, foram 7.838
benefícios, sendo 6.449 para a população rural. Desses, aproximadamente 104
beneficiários residem na Comunidade do Vale do Catimbau, segundo dados do
Instituto Nacional de Seguro Social relativos a janeiro de 2016.
O objetivo principal de pesquisa foi identificar mudanças promovidas
pela Política de Previdência Rural nos beneficiários do Vale do Catimbau em
Buíque-PE. Os objetivos específicos são: (1) identificar as condições de
sobrevivência antes do recebimento do benefício; (2) identificar as mudanças
na vida dos beneficiários a partir do recebimento do benefício.
Esse trabalho, além desta introdução se divide entre as seguintes
partes: Revisão de literatura; metodologia; análise dos resultados; conclusões
e referências.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Políticas públicas
Políticas públicas são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder
público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade,
mediações entre atores da sociedade e do Estado.
Para Souza (2006, p. 5), política pública é: “o campo do conhecimento que
busca, ao mesmo tempo, „colocar o governo em ação‟ e/ou analisar essa ação
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(variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso
dessas ações (variável dependente)”. Sendo assim, é possível concluir que a política
pública, consiste numa ação do poder público a fim de resolver um problema na
sociedade ou mesmo evitá-lo. Para a mesma autora, as políticas consistem num
ciclo deliberativo, com os seguintes estágios: definição de agenda, identificação de
alternativas, avaliação das opções, seleção das opções, implementação e avaliação.
Quantos aos tipos de políticas existem vários, dentre eles é possível destacar
as políticas sociais, a qual se insere a política de previdência social.
2.1.1 Políticas de Previdência
A Previdência Social é uma política pública que tem por objetivo repor a renda
dos indivíduos nas situações em que eles ficam impossibilitados de trabalhar, seja
de forma eventual ou permanente (IPEA, 2010, p.45).
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 194 aduz que “a seguridade
social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes
públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social. ” Por aí, compreende-se que a previdência faz
parte da seguridade social. Tal constituição tornou-se um marco para o contexto de
seguridade social. A Seguridade Social engloba uma série de princípios norteadores
para as políticas de proteção social. Esses princípios foram descritos em seu
parágrafo único, e são: universalidade da cobertura e atendimento, uniformidade e
equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, seletividade
e distributividade na prestação dos benefícios e serviços, irredutibilidade no valor
dos benefícios, equidade na forma de participação no custeio, diversidade da base
de financiamento e caráter democrático e descentralizado da administração, com
participantes trabalhadores, empregadores, aposentados e de órgãos do governo.
Oliveira, Beltrão e Ferreira. (1997, p.4) esclarecem que a previdência social
consiste num seguro social, “constituído por um programa de pagamentos, em
dinheiro e/ou serviços feitos/prestados ao indivíduo ou a seus dependentes, como
compensação parcial/total da perda de capacidade laborativa, geralmente mediante
um vínculo contributivo”.
França (2004, P. IX) constatou:
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A importância, que o benefício previdenciário exerce nas pequenas comunidades cresce em significado diante da realidade social predominante, quando se verifica que esses benefícios representam, na verdade, o resgate de parcelas significativas da população do limite da miséria, proporcionando-lhes consumir. Estes são, muitas vezes, trabalhadores oriundos da atividade rural, que eram explorados por "salários" mensais muito aquém do salário mínimo, e que, ao obterem a aposentadoria, vêem do dia para a noite "premiados" com o direito de receber esse salário mínimo, que significa um "aumento salarial" e uma fonte de segurança do sustento e autonomia para essas pessoas.
A partir desta percepção infere-se que a previdência rural traz dignidade as
pessoas no sentido de alcançarem um renda, depois de muito trabalho superando
inúmeros desafios, passando então a obtenção de um determinado grau de
satisfação.
2.1.1.1 Previdência Rural
Com a universalidade da cobertura, foi ampliada para o trabalhador rural,
conforme dispõe a Constituição Federal de 1988, em seu art. 195:
O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei.
Com a ampliação da cobertura previdenciária criou-se a figura do segurado
especial. O segurado especial, conforme específica o art. 9, da Lei 8.212, atualizado
pela Lei nº 11.718, de 20 de junho de 2008, é definido como “Como segurado
especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou
rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda
que com o auxílio eventual de terceiros a título de mútua colaboração”.
Assim, com o dispositivo introduzido na Constituição Federal Brasileira de
1988, foi posteriormente regulamentado pela Lei nº 8.212, e em seu art. 3º criou-se
alguns princípios e diretrizes, norteadores para a previdência social entre eles, cabe
ressaltar a determinação de não permitir que o benefício previdenciário seja inferior
ao valor de um salário mínimo. O estabelecimento de um benefício mínimo e de
regras diferenciadas de acesso (não relacionadas exclusivamente à contribuição
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financeira) são as características básicas do princípio de universalidade. Vê-se,
então, que o princípio da universalidade, típico da Seguridade Social, na Previdência
só se aplica ao subsistema da Previdência Rural – e, ainda assim, àqueles que
produzem em regime de economia familiar.
A partir dessas conclusões, parece possível afirmar que a Previdência Social
é uma das políticas sociais mais eficazes do Governo Federal. Evitando que 18,1
milhões de pessoas fiquem abaixo da linha de pobreza (FRANÇA, 2004, p. XI). Fato
incontestável é que os domicílios que gozam de uma aposentadoria rural desfrutam
de uma qualidade de vida melhor do que àqueles que não têm o seguro rural,
principalmente no Nordeste do país (GALINDO; IRMÃO, 2003). Já Aquino e Souza
(2007, p. 5-6), afirmam que “a Previdência Rural, ao beneficiar um público, em geral
muito pobre, que sempre esteve fora das conquistas sociais do país, assume um
papel de grande importância para a promoção da distribuição de renda e equidade
social”.
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de Estudo
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória com abordagem
qualitativa. Para Barbour (2000, p. 13) uma das características comuns em relação à
forma como é feita a pesquisa qualitativa é que os pesquisadores buscam ter acesso
a experiências, interações e documentos em seu contexto natural, e de forma que
dê espaço as suas particularidades e aos materiais nos quais são estudados. O
caráter qualitativo desta pesquisa caracteriza-se por trabalhar como universo de
significações, motivos, aspirações, crenças, dos valores e atitudes. Esse conjunto de
fenômenos humanos faz parte da realidade social o que os tornam quase
impossíveis de serem transformados em dados quantitativos (MINAYO, 2009, p. 21).
Ainda na perspectiva de Minayo (2009, p. 24), o verbo que traduz a pesquisa
qualitativa é compreender, as relações, atitudes, crenças e hábitos e representações
a partir desse conjunto de fenômenos gerados socialmente.
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3.2 Delimitação do Estudo
O presente estudo foi realizado com trabalhadores rurais inativos,
beneficiários da previdência rural, entre eles os aposentados principalmente, além
de um pensionista da Comunidade Central do Vale do Catimbau. Essa comunidade
está localizada na cidade de Buíque-PE, sendo esse lugar o principal foco desta
pesquisa embora a região do Vale do Catimbau, se estenda entre os municípios de
Buíque, Tupanatinga, Inajá e Ibimirim, no Sertão do Moxotó, que são regiões
semiáridas. Criado pela Lei municipal nº 214, de 1957, o distrito de Catimbau,
anexado ao município de Buíque, mais conhecido como Vale do Catimbau, está
localizado a cerca de 285 Km do Recife, tendo aproximadamente 10 km de distância
da sede do município de Buíque. O Vale do Catimbau é considerada região turística
e pedagógica devido ao seu perfil geológico e geomorfológico. O cenário
paradisíaco de luxuosas paisagens contrasta com a miséria do local. Os índices de
Índices de Desenvolvimento Municipal (IDHM) e de renda são de 0,527 (baixo) e
0,497 (muito baixo) segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2010).
Os indicadores sociais baixos são típicos de regiões do Semiárido nordestino, que é
caracterizado por variáveis climáticas que favorecem as frequentes secas tornando
o enfrentamento da pobreza um desafio constante. A cidade de Buíque é marcada
por projetos auto-sustentáveis no cultivo do caju, que está entre suas principais
produções agrícola.
3.3 Variáveis e Fonte de Dados
Foram analisadas as seguintes características demográficas e
socioeconômicas dos idosos: sexo, idade, número de filhos, residentes no domicílio ,
propriedade de imóvel de residência, escolaridade, o tempo de recebimento do
benefício, a destinação do benefício, situação antes e depois do recebimento da
aposentadoria.
Para as análises das categorias analíticas propostas neste trabalho, a
pesquisa embasou-se em dados primários, coletados a partir da utilização da técnica
de grupo focal. Dessa forma, foram realizados dois grupos focais, no mesmo dia,
sendo um pela manhã e outro à tarde com um número de participantes de doze em
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cada turno. Através dos grupos focais, levantou-se, sobretudo os dados que se
referem a vida dos beneficiários antes e depois do recebimento dos benefícios.
3.4 Coleta e Análise de Dados
A coleta de dados foi realizada através da técnica de Grupo focal, e sobre
esta Barbour (2009, p. 54), afirma ser a técnica de grupos focais como um dos
métodos qualitativos, que apresentam um ótimo desempenho ao proporcionar
insights dos processos, em vez dos resultados. A autora, afirma ainda que a
pesquisa qualitativa reconhece a existência de múltiplas vozes e muitas vezes busca
capturá-las (2009, p. 58). Para tanto, a amostra inicialmente pretendida, baseava-se
numa estratégia utilizando-se de dados secundários, mas diante das controvérsias
nas informações obtidas com pessoas chaves da comunidade, foi utilizada a
amostra por conveniência. Apesar desse tipo de amostrar se passível de críticas, foi
possível o acesso às pessoas. Para Kind (2004, p. 125), os grupos focais utilizam a
interação grupal para produzir dados e insigths que seriam dificilmente conseguidos
fora do grupo. Na interpretação de Wilkinson apud King (2004, p. 128) grupo focal é
uma “técnica de coleta de dados que envolve, essencialmente, um pequeno número
de pessoas em um grupo de discussão informal (ou discussões), focado em torno de
determinados tópicos ou conjunto de questões”.
Inicialmente foi realizada uma visita preliminar à Comunidade Vale do
Catimbau a fim de reconhecê-la, bem como ter acesso aos beneficiários e aos
líderes locais. Neste sentido, Yelland e Gifford apud Barbour (2009, p.80), observam
que o status do recrutador pode ser particularmente importante para alguns grupos
étnicos, e isso sugere que o potencial para recrutamento via membros respeitados
da comunidade pode ser uma estratégia frutífera. Assim, foram contatados os lideres
representantes da associação de agricultores do Vale do Catimbau, além de
sindicatos locais. A fim de obter dados secundários o órgão consultado foi o INSS,
Agência de Arcoverde. Após a obtenção dos dados secundários, relativos aos
beneficiários da comunidade, e com a orientação de pessoas da comunidade e até
mesmo da liderança, inclusive com acompanhamento, foi realizada outra visita à
comunidade a fim de convidar os beneficiários para colaborar com a pesquisa. Para
tanto, foram propostos os dois grupos, agendados para uma data posterior.
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Diante da ausência de um consenso sobre o número de participantes, a
quantidade de convites foi encaminhada considerando um nível mínimo e máximo
que deve ser entre 6 e 15 pessoas para dar suporte aos resultados de um Grupo
Focal (CHIESA; CIAMPONE, 1999; PEREIRA et al.,1999; SIENA; DUARTE, 1999,
apud KING, 2004, p. 128). Desta forma o convite foi destinado a 28 beneficiários da
previdência rural que residem na comunidade, e que coincidentemente foram 14
homens e 14 mulheres, para participar dos trabalhos de emprego de Grupos Focais.
Além disso, baseando-se também na fala de Barret e Kirk apud Barbour
(2009, p.81), sobre a importância do sobrerrecrutamento para os grupos focais com
participantes idosos, devido a sua propensão a faltas foi solicitada, à liderança, que
fossem feitos anúncios, a fim de relembrar o compromisso assumido de participar
dos grupos.
A coleta de dados foi realizada em dois grupos em um mesmo dia: o 1º pela
manhã e o 2º na parte da tarde. Com 11 participantes, dos quais 5 homes e 6
mulheres Fizeram parte do segundo grupo 12 participantes, 7 mulheres e 5 homens.
Esse quantitativo de grupos seguiu a sugestão de King (2004, p. 125), que destaca a
organização de pelo menos dois grupos para cada variável pertinente ao tema que
será abordado. A duração da sessão de cada grupo foi de cerca de 80 minutos
tempo considerado suficiente, dado que as respostas começaram a se repetir.
Os dados obtidos foram através de gravação e filmagem e posteriormente
transcritos e analisados pela técnica de análise de conteúdo, de viés qualitativo.
Segundo Minayo (2009, p. 84), através dessa técnica é possível “caminhar no que
está por trás dos conteúdos manifestos”. Assim, dentre as várias maneiras de
analisar conteúdo, foi utilizada a análise temática, a qual identifica a presença ou
frequência de aparição de elementos significativos dentro do objetivo analítico
escolhido, ou seja, dentro do contexto da temática estudada. (MINAYO, 2009, p. 85-
86).
3.5 Perfil dos colaboradores
Para participar dos trabalhos foram convidados 28 beneficiários da
previdência rural, residentes na comunidade do Vale do Catimbau. Dentre os
convidados, 23 participaram, sendo 57% (n=13) homens e 43% (n=10) mulheres.
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Entre os presentes 65% (n=15) tinham entre 56 e 70 anos e 35% (n=8) acima de 70.
Todos afirmavam morar em imóvel próprio.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com vistas a responder ao problema e aos objetivos que este artigo se
propôs buscou-se seguir, um dos dois processos inversos sugeridos por Bardin
(1977, p. 119), a fim de realizar o processo de categorização. Sendo então o que
aduz que o sistema de categorias não é fornecido antes, e resulta da classificação
analógica e progressiva dos elementos.
Faz-se aqui uma síntese da análise em vista aos limites impostos pelo espaço
oferecido ao artigo. Assim será apresentado na Figura 1 logo abaixo o escopo do
processo que envolveu a análise do conteúdo. Na etapa 1) encontra-se a transcrição
das falas (codificação) extraídas do grupo focal. Na etapa 2) Decodificação da fala,
encontram se o(s) fragmentos da fala(s) mais relevante(s) que se toma(m) por
indicativo de uma categoria de análise, que buscam de forma analítica produzir uma
decodificação para uma categoria; a etapa 3)Categorias de Análise, engloba o
registro de categorias que tem a premissa de embasar uma pesquisa posterior. Por
fim, a etapa 4) Memorando, esse contextualiza sob a respectivas das categorias
extraídas, uma análise geral do conteúdo.
Figura 1 – Processo de Análise do Conteúdo
Fonte: Elaboração pelos autores (2016).
As categorias de análise configuram-se como os insights acerca da realidade
estudada, que nortearam a uma posterior pesquisa de campo mais ampla. Elas
resultaram do processo de decodificação das entrevistas transcritas na integra,
chegando a um total de treze categorias, dispostas no Quadro I a seguir. Cada
categoria constitui-se dos trechos selecionados das falas dos entrevistados. Adverte-
se que as categorias descritas da próxima sessão dizem respeito a temática a que o
estudo que está sendo descrito se propôs, servindo como modelo para outros
1.Fala (Codificação)
2.Decodificação Aberta
3.Decodificação para
micro análise
4.Codificação Axial
5.Categorias de
Análise
6.Memorando
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estudos do gênero embora com ressalvas, por tratar as peculiaridades inerentes a
cada pesquisa. No quadro estruturado, decodificou-se algumas características
através do (salientar, classificar, agregar e categorizar) trechos da entrevista
transcrita, que foram estruturados na coluna Categorias de análise, e foram
agregados, para efeito de comparação, um corte no tempo, sendo: 1) o antes do
recebimento do benefício e, 2) depois do recebimento do benefício previdenciário.
Quadro 1 – Categorias de Análise identificadas a partir das entrevistas
TEMA CORTE NO
TEMPO CATEGORIAS DE ANALISE EXTRAIDAS
Impactos da Previdência Rural
Antes do recebimento do benefício
- Expectativa de recebimento do benefício - Condições Precárias de sobrevivência - Instabilidade da renda - Inversão do fluxo migratório - Formação escolar baixa - Agricultura em condições adversas por conta da estiagem.
A partir do recebimento do benefício
- Acesso ao consumo de bens (duráveis e não duráveis) e serviços. - Existência de contribuições recebidas de outras origens. - Dependência de parentes próximos. - Existência de outras rendas na unidade. - Alterações de poder nas relações de gênero. - Chantagem emocional dos dependentes por condição da renda. - Autonomia de renda da mulher.
Fonte: Elaboração dos autores (2016).
Após a extração das categorias analíticas, optou-se por elaborar uma síntese
dos resultados, o qual se expõe a seguir.
4.1 Sínteses da análise
Os homens relataram que a opção pelo trabalho na agricultura, ainda durante
a infância deriva da influência dos pais, por estes já trabalharem na agropecuária a
principal atividade na região. No período anterior ao benefício, quando trabalhavam
no campo eles não tiveram a opção de estudar. Os pais afirmavam que era preciso
trabalhar para sobreviver e esta era repleta de dificuldades. Um relato forte foi sobre
as condições climáticas (estiagens prolongadas). Esse fator levava a dependência
de programas de governo, como o das “frentes de emergência”. Através desse tipo
de programa eram ofertadas oportunidades trabalho e renda. Esses programas eram
a salvação de muitos, mas não todos, uma vez que havia limites de oferta para
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participar dessas frentes. Deste modo, restavam duas alternativas: a sobrevivência
sub-humana ou a migração para o sudeste.
Passar fome foi a condição revelada algo que ressaltaram com emoção. Com
o atingimento da idade de receber o benefício, algumas relatam as dificuldades para
atender os requisitos exigidos o que foi também manifestado pelos depoentes como
sendo de muita angustia pelas incertezas geradas. Superada esta fase com a
chegada do benefício de aposentadoria, a vida mudou significativamente, e para
melhor, possibilitando o acesso à alimentação básica, evidenciando ser esse o
principal destino da renda. Os novos ganhos de renda possibilitaram também o
acesso ao consumo de outros bens e serviços como: reforma da casa, consulta e
exames médicos e, sobretudo ajudar os familiares próximos. E mesmo diante da
regularidade e estabilidade do valor do benefício, alguns deles, que ainda
apresentam condições físicas favoráveis, continuam trabalhando na agricultura, a
fim de complementar a renda da família, e quando esta não traz a colheita desejada,
é a renda da aposentadoria que supre às necessidades básicas da família,
permitindo que seus membros não passem fome.
Quanto às mulheres aposentadas, elas reafirmam alguns pontos destacados
pelos homens em relação à vida antes do benefício de aposentadoria, entre eles
destacam-se as dificuldades para sobreviver através do trabalho na agricultura, e
que não tiveram também a oportunidade de estudar, pois os pais as obrigavam a
trabalhar sendo esta uma questão de sobrevivência familiar. Somando se a isso,
todas as aposentadas relatam que tiveram filhos, e algumas delas tiveram muitos
filhos, mas não chegaram a criar todos, supondo-se que alguns morreram ou mesmo
os entregaram para adoção, provavelmente pelas condições precárias de
sobrevivência decorrentes do trabalho na agricultura. Alguns dos participantes
mencionaram que chegou a morar na região metropolitana de Recife -PE e no
Estado de São Paulo, mas que retornaram à área rural com vistas a auferir o
benefício no que revela um certo incentivo à imigração reversa.
A partir do recebimento do benefício de aposentadoria, as mulheres
beneficiárias evidenciam com alegria que a vida mudou para melhor, e foi possível
ter acesso ao consumo de bens e serviços, entre eles destacam o alimento (assim
como os homens), a moradia própria, a serviços médicos e até poder ajudar os
parentes próximos. Um dos relatos destaca a mudança na relação de poder, dentro
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da família, em virtude do recebimento do benefício, antes, a renda principal era a do
homem, sendo a mulher sua dependente. Depois, essa relação se inverte,
principalmente nos primeiros anos de recebimento do benefício, em virtude
possivelmente da mulher se aposentar com idade inferior à dos homens (5 anos
antes), período em que a renda do homem ainda é instável, por ser oriunda da
agricultura.
Diante do exposto é possível perceber que a vida antes de ter uma renda
certa e regular era marcada por muitos desafios, destacando-se a superação para
sobreviver diante da ausência de alimentos. Com a chegada do benefício tornou-se
possível ter alimentos, e viver uma vida mais tranquila chegando a beneficiar a toda
família.
5 CONCLUSÃO
A partir da pesquisa realizada com beneficiários da Comunidade do Vale do
Catimbau, em Buíque-PE, sobre as mudanças decorrentes do recebimento do
benefício de previdência social foi possível perceber o significado da renda não só
para o beneficiário, mas para o grupo familiar a qual aquele idoso pertence. Através
das indagações chaves sobre o período que antecede o recebimento e o posterior,
foi possível extrair importantes categorias de análise. Essas categorias, possibilitam
entender quais são as mudanças substanciais na vida daquelas pessoas a partir do
recebimento do benefício.
O período antecedente foi marcado por muitas adversidades. Entre ela, foi
possível identificar com ênfase, a ausência de renda regular mínima devido as
limitações da atividade na agricultura com destaque para a estiagem. presente no
Semi árido nordestino. Outra questão relevante evidenciada sobre esse período, é a
expectativa em relação ao recebimento do benefício, que traz a esperança de mudar
a vida para algo significativamente melhor. Já no período posterior ao recebimento,
percebeu-se que a renda, regular e permanente, trouxe mudanças positivas na vida
dos beneficiários e familiares. Esses passam a ter uma liberdade financeira para
consumir, possibilitando descansar um pouco, apesar de alguns demonstrarem o
quão gostam de trabalhar no campo. Como consequência negativa constata-se a
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existência de pressão psicológica sobre o idoso por parte de parentes próximos para
que esses assumam compromissos financeiros.
Ressalte-se que o presente estudo, através das categorias levantadas nos
Grupos Focais, ofereceu significativos insigths para elaboração do roteiro da
dissertação de um dos autores do presente estudo.
Por fim, apesar dos fatores que limitaram o desenvolver da pesquisa, seja de
tempo, recursos acredita-se que os objetivos definidos para essa pesquisa, com
característica exploratória, foram atingidos. E assim, é possível inferir que a política
de previdência rural, mais que uma política estritamente previdenciária é uma
política social abrangente e significativa para a seguridade social para o nordeste do
Brasil.
Considerando a relevância da temática para as diferentes áreas do
conhecimento, principalmente na situação em que se encontra contexto político
nacional (ano de 2017), quando uma nova proposta de modificação profunda das
regras de aposentadoria é proposta pelo Governo Federal. As expectativas apontam
para as incertezas quanto ao futuro das atuais políticas públicas. Em que pesem os
limites deste estudo, os resultados apresentados revelam o quanto as mudanças
sugeridas poderão interferir nas condições de vida das populações mais pobres do
semi-árido nordestino.
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