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PolitécnicaAno 11 Edição Quadrimestral Abril de 2019 ISSN 1809 8169InstitutoPolitécnicodaBahia 29E
Recursos Hídricos:Fórum presta homenagem
ao Prof. Newton Hart
Avaliação da degradação estrutural do prédio anexo da
Escola Politécnica da UFBA usando o Método GDE/UnB
EDITORIAL
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
2 EDITORIAL
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
2
Revista do Instituto Politécnico da BahiaFundado em 1896
29EAno 11 Edição Quadrimestral Abril de 2019 ISSN 1809 8169
Essa edição da Revista Politécnica – 29-E –
apresenta um artigo focado nas Tecnologias
de Esgotamento Sanitário aplicadas a muni-
cípios da Bahia e outro focado na Degradação
Estrutural do Anexo da Escola Politécnica da
UFBA. Como nota técnica, são avaliados
riscos de incêndio por falhas elétricas, cada
vez mais frequentes nos grandes centros
O homenageado, Engenheiro Newton Hart
Cerqueira Lima, trabalhou no Departamento
de Saneamento do Estado da Bahia e após a
conclusão de seu Mestrado em Engenharia
Sanitária na USP, integrou o grupo referencia
na área de Engenharia Sanitária na Bahia,
responsável pela estruturação da SAER –
Superintendência de Águas e Esgotos do
Recôncavo e da SESEB – Superintendência de
Engenharia Sanitária da Bahia – empresas
que, juntas, posteriormente deram origem a
EMBASA - Empresa Baiana de Águas e
Saneamento.
O Fórum abordou temas como o saneamento
de pequenos municípios, o tratamento de
água e de esgotos, técnicas aplicadas, mode-
los de gestão e o relato de casos de sucesso,
como a experiência da CAGECE – CE, da
UFES – ES e na UNICAMP – SP. Ficou eviden-
te, em todos esses casos, a importância do
estabelecimento de parcerias, inclusive com
as comunidades envolvidas, assim como o
papel do Estado e da Academia nesses proces-
sos.
mês de março chega para o IPB -
OInstituto Politécnico da Bahia, com o
reinício de suas atividades nesse ano
de 2019 repleto de novas propostas, entusias-
mo e conança, sempre em prol da engenha-
ria como propulsora do avanço econômico e
social.
Como atividade inicial, foi realizado do 1º
fórum da AGENDA DE DESENVOLVIMENTO
BAHIA, que já está em seu ANO 4, cujo tema
foi RECURSOS HÍDRICOS, SANEAMENTO E
DESENVOLVIMENTO e homenageou o
Engenheiro NEWTON HART CERQUEIRA
LIMA.
urbanos e a importância de ações preventivas
para evita-los. Em seu compromisso com a
Memória da Engenharia, essa edição traz
ainda um artigo sobre um grande engenheiro
brasileiro, Malba Tahan e uma entrevista
histórica realizada com o engenheiro eletricis-
ta Álvaro Moreno. O Instituto Politécnico da Bahia agradece a
todos os seus parceiros institucionais e
colaboradores diretos e indiretos, pelo apoio
recebido na realização do Fórum Newton
Rocha Cerqueira Lima. Reitera seus agradeci-
mentos a todos os Palestrantes e Debatedores
convidados, bem como a todos aqueles
interessados que se zeram presentes e
enriqueceram essa oportunidade através de
seus questionamentos e contribuições. Que
esse Fórum possa enriquecer a todos nós e
contribuir para o fomento da Engenharia e da
Bahia e que todos continuemos na caminhada
em prol do desenvolvimento da Bahia e do
Brasil, com o Fórum JOSÉ LOURENÇO DE
A L M E I D A C O S T A : A G E R A Ç Ã O D E
ELETRICIDADE PARA ESTABELECIMENTOS
INDUSTRIAIS E AGRÍCOLAS DE PEQUENO E
MÉDIO PORTE.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
EXPEDIENTE Politécnica3
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EDIÇÃO
CRISTINA MASCARENHAS - MTB 1957
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CRISTINA DE ABREU SILVEIRA
CASA DO VERSO
SILVIO CARLOS GALLO SAMPAIO
DIRETOR RESPONSÁVEL ANTONIO PASTORI
www.ipolitecnicobahia.org
41
29
11
ÍNDICE4 Politécnica
18
0205
Editorial
Avaliação da degradação estrutural doprédio anexo da Escola Politécnica
da UFBA usando o Método GDE/UnB Heitor Oliveira Santos Cruz
Milena Borges dos S. CerqueiraFrancisco Gabriel Santos Silva
Márcio Luís Ferreira Nascimento
Itaiara Sá MarquesLuciano Matos Queiroz
Asher Kiperstok
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
34
Entrevista Recuperada:Professor Álvaro Leal Moreno fala
sobre a carreira e criação da COELBA
Nota Técnica: Incêndios em edicações causados
por eletricidade x manutenção preventiva
O homem que amava calcular
Considerações sobre as tecnologiasaplicadas aos sistemas de esgotamento
sanitário dos municípios baianos de pequeno porte
Caiuby Alves da Costa
Cristina Abreu Silveira
Notícia:Fórum presta homenagem ao professor Newton Hart
Avaliação da degradação estrutural doprédio anexo da Escola Politécnica
da UFBA usando o Método GDE/UnB
ARTIGO5
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica
Heitor Oliveira Santos Cruz
Milena Borges dos S. Cerqueira
Francisco Gabriel Santos Silva
Resumo: O objetivo desse estudo é analisar a degradação da estrutura de concreto armado do Prédio Anexo
da Escola Politécnica da UFBA, ainda não concluído, com apresentação de elementos estruturais totalmente
expostos às ações ambientais da cidade de Salvador/BA.
Abstract: The aim of this study is to analyze the degradation of the reinforced concrete structure of the Annex
Building of the Polytechnic School of UFBA, not yet completed, with presentation of structural elements totally
exposed to the environmental actions of the city of Salvador/BA.
Keywords: Deterioration, Durability, Maintenance.
Palavras-chave: Deterioração, Durabilidade, Manutenção.
Introdução
a indústria da construção civil, as
Nestruturas são projetadas, executadas
e utilizadas para suportar ações
mecânicas e as diversas condições de exposi-
ção durante sua vida útil de projeto. Porém, ao
longo do tempo, ocorre o surgimento de mani-
festações patológicas na sua estrutura, que
muitas vezes é causada pela ação agressiva do
meio ambiente.
As patologias das estruturas podem surgir
devido aos erros construtivos, uso de materiais
de má qualidade, ações de cargas, agressividade
do ambiente, dentre outros fatores. Isso gera, na
ARTIGO Politécnica6
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Avaliação da degradação estrutural do prédio anexo da Escola Politécnica da UFBA
usando método GDE/UnB
Na busca por conhecer as patologias ligadas à
degradação estrutural, surgiram muitos
estudos. Com isso, processos de carbonatação,
penetração de íons cloreto através da difusão
de dióxido de carbono, associados à umidade,
ssurações, etc., processos que iniciam e
aceleram o processo de corrosão das armadu-
ras, se tornaram conhecidos (MEDEIROS,
2015).
Paralelo a isso, também surgiram pesquisas
que buscam avaliar, de forma quantitativa ou
qualitativa, o grau de degradação das estrutu-
ras. Professores do Programa de Pós-
graduação em Estruturas e Construção Civil
do Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental da Universidade de Brasília desen-
volveram trabalhos com o intuito de contribuir
para a melhoria de desempenho das edica-
ções. Um dos métodos desenvolvidos foi o
GDE/UnB, iniciado nos trabalhos de Castro
indústria da construção, uma busca por méto-
dos que diminuam ou inibam essas patologias,
no intuito de reduzir gastos nanceiros com
manutenções.
O pavilhão de aulas da Escola Politécnica da
Universidade Federal da Bahia, objeto de
estudo do presente trabalho, é uma edicação
ainda inacabada, com toda a sua estrutura
totalmente exposta nos últimos6 anos, ao
ambiente agressivo de Salvador, classicada
com classe de agressividade ambiental III,
segundo a norma NBR 6118 (2014), com isso,
apresenta grande risco de degradação estrutu-
ral. Tornando necessário, antes de haver uma
retomada construtiva, um estudo sobre a
degradação estrutural deste edifício, e realizar
as devidas intervenções em tempo hábil para a
recuperação de seus elementos, em prol de
uma construção durável e com desempenho
satisfatório durante toda a sua vida útil.
(1994) e modicado para haver melhoria na
precisão de cálculo, divisão de categorias e
tempo de intervenção, por Lopes (1998), Boldo
(2002) e Fonseca (2007).Desde então este
método foi aplicado em diversas edicações
diferentes e até em pontes (Obras de Artes
Especiais – OAE) através das adaptações feitas
por Euqueres (2011), e em vários trabalhos
acadêmicos.
Metodologia
metodologia usada neste trabalho
Aconsiste na realização de observações dos
elementos da estrutura, em campo, e na
utilização de métodos de inspeção, para o estudo
da durabilidade de uma estrutura de concreto
armado, neste caso, do Prédio Anexo da Escola
Politécnica da UFBA, localizada ao lado do
pavilhão principal de aulas e laboratórios, em
uma região de elevada agressividade ambiental,
por se tratar de uma cidade com ambiente
marinho.
A avaliação quantitativa do grau de deterioração
da estrutura de concreto armado do Prédio
Anexo da Escola Politécnica da Bahia/UFBA foi
feita utilizando a metodologia GDE/UnB (versão
modicada por Fonseca em 2007), levando em
consideração os conceitos de durabilidade e vida
útil das normas NBR 6118 (2014) e NBR 15575
(2013). Com isso, torna-se possível conhecer as
condições atuais da estrutura através deste
estudo de caso, que abrange inspeções visuais,
mapeamento fotográco, realização de croquis,
identicação e classicação dos danos, com o
auxílio do projeto estrutural.
Na Figura 1 é apresentado o uxograma de
aplicação do método GDE/UnB, como as etapas
que devem ser realizadas para a obtenção dos
resultados.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica7Avaliação da degradação estrutural do
prédio anexo da Escola Politécnica da UFBAusando método GDE/UnB
Inicialmente foram realizadas inspeções
visuais da estrutura, no intuito de efetuar uma
divisão em famílias de elementos típicos, de
acordo com suas funções estruturais.
Para efeito de minimização da imprecisão da
avaliação, consultou-se o caderno de inspe-
ção, ao qual apresenta tabelas e fotograas
Apresentação dos Resultados e discussão
Neste tópico é apresentado o estudo de caso
realizado na estrutura em questão, com os
resultados e discussões obtidas com a aplica-
ção do método do Grau de Deterioração da
Estrutura, GDE/UnB, levando em considera-
ções todas as condições particulares da estru-
Figura 2 - Ciclo de carregamento utilizado no ensaio de compressão paralela às bras.
Para cada valor de Gd, o Manual de aplicação
da Metodologia GDE/UnB apresenta reco-
mendações de ações a serem tomadas para
cinco níveis: Baixo, Médio, Alto, Sofrível e
Crítico.
com valores de Fi e Fp sugeridos, em relação
ao elemento identicado com danos.
tura e do ambiente em que a mesma está
submetida.
A Figura 2 apresenta a localização do Prédio
anexo da Escola Politécnica da UFBA, objeto de
estudo do presente trabalho e a Figura 3
Figura 3 - Vista da fachada frontal do Prédio anexo da Escola Politécnica/UFBA.
Inicialmente, o prédio foi projetado com 12
pavimentos, com o objetivo de ser pavilhão de
aulas e laboratórios. Porém, houve uma
modicação e foram executados 8 pavimentos.
A construção foi dividida em 2 etapas. A
primeira, foi a construção de toda a estrutura
do prédio, desde a fundação até a última laje, e
esta etapa foi concluída no nal do ano de
2012. A segunda etapa da construção constitui
a execução de parte do nal das atividades da
primeira etapa, até a conclusão da obra.
Contudo, a segunda etapa da construção,
ainda não foi iniciada.
Durante a realização das inspeções, foram
detectados diversos tipos de anomalias nos
elementos da estrutura. A gura 4 apresenta a
presença da ação de degradação biológica com
o crescimento de vegetação em uma das juntas
existente entre as vigas V29 e V30 do pavimen-
to seis.
Figura 4 - Identicação de vegetação na junta de dilatação entre vigas do pavimento seis.
Fonte: Autores, 2018 Fonte: Autores, 2018
Fonte: Autores, 2018
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica8Avaliação da degradação estrutural do
prédio anexo da Escola Politécnica da UFBAusando método GDE/UnB
Na Figura 5 é apresentado um caso de mani-
festação de manchas e umidade nos elemen-
tos da estrutura. As manchas tiveram o maior
índice de ocorrência nos elementos estrutu-
Esse fator de degradação intensica o entendi-
mento sobre a necessidade emergencial de
manutenção e de retomada da execução da
obra, Além disso, com estre crescimento, as
raízes vão se xando nas ssuras existentes
nos elementos e levar ao surgimento e/ou
agravamento de outros danos, podendo haver
um aumento signicativo no grau de deteriora-
ção do elemento/estrutura.
rais. Segundo Fonseca (2007), elas ocorrem
devido a contaminação do concreto por
fungos, mofo, etc., agentes agressivos que
tem seu desenvolvimento favorecido pela
exposição da estrutura à umidade e precipita-
ção da cidade de Salvador. O mesmo ocorre
para o dano Umidade, que também está
associada a porosidade do concreto e a falta
de impermeabilização dos elementos estrutu-
rais, principalmente as lajes, pois quando há
precipitação ocorre um acumulo de água em
sua superfície, como pode ser observado na
Figura 6.
Fonte: Autores, 2018 Fonte: Autores, 2018
Figura 5 - Manchas em viga e Laje Figura 6 - Acúmulo de água na superfície da laje.
A Figura 7 apresenta o formato de cha para a
análise de cada elemento contendo as descri-
ções dos danos detectados, assim como seu
respectivo fator de intensidade (Fi), fator de
ponderação (Fp), grau de deterioração do
elemento (Gde), Grau do Dano (D), nível de
deterioração do elemento, localização, foto ou
croqui da mesma.
Figura 7 - Modelo de Ficha utilizado para catologação e quanticação da deterioração.
Fonte: Autores, 2018
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica9Avaliação da degradação estrutural do
prédio anexo da Escola Politécnica da UFBAusando método GDE/UnB
É importante ressaltar que através de um
acompanhamento ideal dos responsáveis
técnicos da obra, nos processos de execu-
ção, poderia ser evitado ou minimizado
alguns danos, como: falha de concretagem,
cobrimento deciente e desvio de geome-
tria.
Observando a Figura 8, podem-se perceber os cinco
danos que apresentam maior ocorrência na estrutu-
ra, sendo que, o dano Manchas atinge 71,15% dos
elementos estruturais vistoriados que contém
danos, seguido de Umidade com 64,83%, Corrosão
de Armaduras com 59,81%, Falha de Concretagem
com 46,52% e Cobrimento Deciente com 41,82%.
Fonte: Autores, 2018
Figura 8 - Percentual de ocorrência de danos nos elementos estruturais.
O fato da estrutura do prédio ser totalmente aparente (não haver revestimento) facilita a identicação
destes danos e facilita também o agravamento de alguns deles, como as manchas, umidade e corro-
são de armaduras, sendo eles os três danos que apresentaram maior ocorrência nos elementos.
O dano Corrosão de Armaduras aparece como o terceiro de maior ocorrência nos elementos estrutu-
rais, e está presente em todas as famílias de elementos. É notável que este dano não se manifesta
isoladamente, na maioria dos casos, apresenta-se associado a outro dano, por exemplo, a umidade,
cobrimento deciente ou falha de concretagem. E essa exposição da armadura ao ambiente, tratan-
do-se de uma região marinha com classe de agressividade III, segundo a NBR 6118 (2014), proporcio-
na a aceleração da corrosão desta armadura, além de requerer maiores cuidados.
A Tabela 1 apresenta o resultado do Gd obtido com a aplicação do método Gde/UnB.
Tabela 1 - Grau de Deterioração global da estrutura
O grau de deterioração global da estrutura (Gd) igual a 175,17 corresponde ao nível de deterioração
Crítico, assim, o método indica a necessidade de uma intervenção imediata na estrutura.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica10Avaliação da degradação estrutural do
prédio anexo da Escola Politécnica da UFBAusando método GDE/UnB
ara a criação de um programa de manuten-Pção a ser aplicada na estrutura do Prédio anexo da Escola Politécnica, é proposta uma
avaliação detalhada, para complementar a análise realizada no presente trabalho, baseada nas seguintes etapas:
1. Investigação - Estudo de projeto: levantamento dos projetos, detalhamentos e memoriais descritivos da estrutura; 2. Ensaios e procedimentos - Realização de ensaios, testes e avaliações mais detalhadas da estrutura. Neste quesito temos como exemplo o ensaio da velocidade de propagação de ondas ultrassônicas, extração de testemunhos, teor de íons cloretos, índice de vazios e absorção de água por imersão;
3. Avaliação a. Comparação: avaliar o que foi projetado e o que foi executado, levantando quais as diferenças e suas consequências;
5. Recuperação - Aplicação de técnicas e critérios para recuperar a estrutura, por exemplo, polimento, lavagens, saturação, corte (remoção profunda do concreto degradado), tratamento de ssuras, reparos com argamassa, reparos com concreto, reposição ou substituição de armadura corroída, adição de chapas e pers metálicos, proteção externa, etc.
4. Diagnóstico - Avaliação da segurança e durabili-dade da estrutura;
b. Desempenho: fazer um estudo de ações (cargas permanentes, variáveis e acidentais) que ocorrem hoje e que ocorrerão quando a construção estiver nalizada;
Diretrizes de intervenção
Conclusões
A aplicação do método na edicação apresenta-se como um auxílio para os prossionais responsá-veis pela manutenção e continuação da execução
om a aplicação da metodologia
CGDE/UnB, obteve-se resultados coeren-tes com o que foi observado visualmente
na estrutura. Devido ao nível crítico de deteriora-ção apresentado, todas as análises apontam para a realização de inspeção especial emergencial e planejamento de uma intervenção imediata.
Além disso, a classe de agressividade ambiental elevada em que se encontra a estrutura é um forte fator para o elevado grau de deterioração apontado pelo método, principalmente no que se refere aos danos referentes às armaduras dos elementos.
da estrutura do Prédio anexo da Escola Politécnica da UFBA, sendo o preenchimento das chas, e os fatores que indicam a importância do dano em relação à degradação, de grande apoio.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575 – Edicações Habitacionais – Desempenho, 2013.
E-mails de contato dos autores:
heitorosc@hotmail.com
milena.bsc@gmail.com
fgabriel.ufba@gmail.com
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio
de Janeiro, 2014.
BOLDO, P. Análise Quantitativa de Estruturas de Concreto Armado de Edicações no Âmbito do Exército Brasileiro.
Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2002.
CASTRO, E. K. Desenvolvimento de metodologia para manutenção de estruturas de concreto armado. Dissertação
(Mestrado), Universidade de Brasília, Brasília, DF, 1994.
EUQUERES, P. Metodologia de inspeção em estruturas de pontes de concreto armado. Dissertação (Mestrado),
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, 2011.
FONSECA, R. P. A estrutura do Instituto Central de Ciências: Aspectos históricos, cientícos e tecnológicos de projeto,
execução, intervenções e propostas de manutenção. Dissertação de Mestrado em Estruturas e Construção Civil,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2007.
LOPES, B. A. R. Sistema de manutenção estrutural para grandes estoques de edicações: Estudo para a inclusão do
componente Estrutura de Concreto. Dissertação (Mestrado), Universidade de Brasília, Brasília, DF, 1998.
MEDEIROS, A. G. Análise de durabilidade da ponte do Rio do Carmo utilizando ensaios não destrutivos, norma DNIT e a
metodologia GDE/UnB. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2015.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
O homem que amava calcular
ARTIGO11 Politécnica
Márcio Luís Ferreira Nascimento
Keywords: Engineering, Malba Tahan, Mathematics, Julio Cesar de Mello e Souza
Abstract: : In 2018 is celebrated 80 years of an incredible book, written by the Brazilian engineer,
mathematics professor, storyteller and writer Julio Cesar de Mello e Souza. Under the pen name Malba Tahan,
he published such widely translated book on recreational mathematics. We reveal that his best-known story,
the riddle of the 35 camels to be divided among three sons, in proportions of one half, one third and one ninth,
has 22 relevant solutions when considering the general puzzle in which the number of camels and the
proportions are permitted to vary. Finally, we conclude that Tahan, the man who loved to count, really existed.
Palavras Chave: Engenharia, Malba Tahan, Matemática, Julio Cesar de Mello e Souza
Resumo: Em 2018 celebram-se 80 anos do lançamento de um livro incrível, escrito pelo engenheiro,
professor de matemática, contador de histórias e escritor brasileiro Julio César de Mello e Souza. Sob o
pseudônimo Malba Tahan, publicou tal livro amplamente traduzido sobre matemática recreativa. Revelamos
que sua história mais conhecida, o problema dos 35 camelos a serem divididos entre três lhos, em
proporções de um meio, um terço e um nono, tem 22 soluções relevantes quando se considera o problema
mais geral em que o número de camelos e as proporções podem variar. Finalmente, concluímos que Tahan,
o homem que amava calcular, realmente existiu.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica12 O homem que amava calcular
Introdução
Nem todo mundo acredita, mas o Brasil
já teve um ilustre professor de mate-
mática, engenheiro civil e escritor
amado e admirado em praticamente todo
mundo. Escreveu simplesmente um dos mais
originais, curiosos e consagrados livros de
recreação matemática já publicados, traduzido
em dezenas de línguas de diversos países.
Costumava utilizar um pseudônimo que cou
famoso ao redor do globo: Ali Iezid Izz-Edim Ibn
Salim Hank Malba Tahan (1885 - 1921), de rica
e fantasiosa biograa.
Considerado o maior divulgador da matemáti-
ca no Brasil, buscava ensinar através de
desaos bastante criativos e originais.
O mais renomado livro deste autor encontra-se
na 90ª edição em 2017 [1], e não há outra
palavra para descrevê-lo, pois é simplesmente
maravilhoso: intitula-se “O Homem que
Calculava”. Foi publicado em pela primeira vez
1938, inspirado nos célebres contos e lendas
das Mil e Uma Noites, traduzido por Breno
Alencar Bianco, outra invenção do mesmo
autor. O homem por detrás destes dois nomes
imaginados, Julio Cesar de Mello e Souza
(1895 - 1974), que nunca viajou ao Oriente
Médio e tão pouco tinha parentes árabes
(Figura 1), contava uma interessante história a
respeito destas invenções: quando jovem,
recém-formado em engenharia civil (iniciou o
curso na Escola Polytechnica do Rio de Janeiro
em 1913 [2]), começou a ganhar a vida minis-
trando aulas e também escrevendo num jornal,
mas o editor não concordava em publicar suas
notas e contos. Imaginou então um autor
americano, R. S. Slady, e utilizando este
pseudônimo, mudando pouca coisa dos textos
originais, começou a escrever contos no antigo
jornal carioca “O Imparcial” por volta de 1918 –
e em primeira página [3]! De acordo com o
próprio Mello e Souza, foram cinco gloriosos
artigos. Formou-se em 1923 (Figura 2).
Figura 1 - Julio Cesar de Mello e Souza (1895 - 1974), engenheiro civil, professor de
matemática e escritor, mais conhecido pelo seu pseudônimo, Malba Tahan. Imagem em
domínio publico, por volta de 1920.
Breve Histórico
Magníco contador de estórias, tramas
e enredos, único em traduzir ideias
matemáticas para o grande público –
este era Mello e Souza. De acordo com Oliveira
[2], Mello e Souza tinha uma postura critica em
relação aos currículos e aos programas imple-
mentados nas escolas brasileiras, que até a sua
época era cuidado majoritariamente por
prossionais de engenharia, armando que
“era necessário fazer uma revisão cuidadosa
dos programas de matemática com o objetivo
de simplicá-los, torna-los ais vivos e mais
interessantes”. Por meio de um discurso
ARTIGO Politécnica13 O homem que amava calcular
pedagógico próprio e inovador, sutilmente
escondido na proposta de encantamento por
meio de recreações matemáticas, conseguiu
tratar de cultura, matemática e educação por
meio de uma narrativa singular com elementos
de losoa oriental [4].
As primeiras estórias de Tahan foram publica-
das em outro jornal, “A Noite”, em idos de 1925,
na seção: “Contos de Mil e Uma Noites” [2].
Reconhecido pela Academia Brasileira de
Letras, recebeu prêmio no ano seguinte ao
lançamento da primeira edição do livro (confor-
me Figura 3). Curiosamente, Malba é o nome de
um oásis, e Tahan signica “moleiro”, aquele
que prepara o trigo, de acordo com o próprio
O personagem principal de sua mais famosa
obra, Beremiz Samir, era um matemático persa
que encontrou o narrador da estória, Hank
Tade-Maiá, no caminho para Bagdá nos
imaginados idos dos anos 1200 d.C. Assim,
ambos iniciaram uma fantástica viagem
ilustrada numa dúzia de capítulos cheios de
aventuras, enigmas, problemas, curiosidades e
charadas resolvidas de forma cativante, com
grande talento, simplicidade e precisão,
utilizando tanto de aritmética quanto de
geometria e lógica.
Curiosamente, o jovem Júlio César de Mello e
Souza decidiu por ingressar na Escola
Dramática Municipal em 1915, dois anos
depois de iniciar os estudos de Engenharia Civil
[3]. Foi colega de turma de João Álvaro de Jesus
Quental Ferreira (1898 - 1979), ator, diretor de
teatro e dramaturgo brasileiro, mais conhecido
como Procópio Ferreira. Além do “O Imparcial”,
foi colaborador de diversos jornais e revistas,
tais como: “A Noite”, “O Diário da Noite”, “O
Jornal”, “Noite Ilustrada”, “O Cruzeiro”, “O
Correio da Manhã”, “Última Hora”, “Folha da
Noite de São Paulo”, “Jornal do Brasil”, “Diário
de Notícias” e “Tico-Tico”. Foi ainda editor-
chefe de três revistas de sua própria lavra: “Al-
Karismi”, “Lilaváti” e “Damião” [3].
Seu mais lembrado problema deste peculiar
livro envolveu a curiosa estória da divisão de 35
camelos dada por herança a três irmãos, onde o
mais velho deveria receber a metade, o lho do
meio um terço e o caçula a nona parte, que
Beremiz resolveu de uma forma muito, muito
particular e de certa forma surpreendente
(para quem quiser saber como foi, basta ler o
Capítulo 3 do livro [1]).
autor. Também era o sobrenome de uma aluna
sua, Maria Zechsuk Tahan [2,3,5].
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Figura 2: Diploma de engenheiro civil de Julio Cesar de Mello e Souza outorgado em 1923
pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil.
Figura 3: Prêmio da prestigiosa Academia Brasileira de Letras do ano de 1939 recebido
em 1940 pelo seu trabalho mais popular, publicado em 1938 “O Homem que Calculava”: www.academia.org.br.
Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.
Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica14 O homem que amava calcular
Tal problema envolveu tempos depois uma
controvérsia acadêmica sobre sua originalida-
de, pois alguns citavam como fontes livros de
recreação matemática, e outros armavam
ainda como origem um antigo livro do grande
matemático italiano Niccolo Fontana Tartaglia
(1500 - 1557) que deveria contar a estória da
divisão de 17 cavalos devido a uma herança
que envolvia a metade, a terça e a nona parte
entre irmãos [4]. No entanto, não existe este
problema na grande obra General Trattato
(“Tratado Geral”, 1556), tão pouco em outro
livro da lavra do matemático italiano Leonardo
Pisano (ou Fibonacci, c. 1170 - c. 1250),
chamado Liber Abaci (“Livro do Ábaco”),
publicado em 1202. Nada similar foi encontra-
do nem mesmo nas versões existentes do
primeiro livro de álgebra, escrito por volta de
820 pelo matemático e astrônomo persa Abu
Ja'far Muhammad ibn Musa Al-Khwarizmi (c.
780 - c. 850), chamado “Al-kitāb al-mukhta�ar
fī �isāb al-ğabr wa'l-muqābala” (algo como
“Compêndio sobre Cálculo por Restauração e
Balanceamento”). A origem da palavra álgebra
surgiu diretamente do título deste livro, e
algarismo provém da derivação do nome deste
sábio persa, homenagens estas mais que
signicativas [4].
A divisão de N camelos entre três irmãos
Para treinar
e fato, problemas de divisão similares
D(mas não exatamente iguais) existem
há muito tempo – registros do Papiro
Rhind (em exibição no Museu Britânico), de
1550 a. C. apontam divisões de quantias por
três frações [4]. Livros de recreações matemáti-
cas mais recentes (por volta de cem, duzentos
anos) envolviam divisões entre cavalos, elefan-
tes, bois e outros animais.
Nascimento e Barco [4] defendem que Mello e
Souza foi o primeiro a propor a divisão de 35
animais em três partes distintas (também
conhecido como problema da metade + terça +
nona parte).
Analisando um caso mais geral, como seria a
divisão de n camelos entre três irmãos seguin-
do uma partilha de 1/a, 1/b e 1/c, para a, b e c
números inteiros positivos e com a ≤ b ≤ c,
deixando dois jamales de sobra após se acres-
centar um ao rebanho antes da partilha?
O matemático inglês Ian Nicholas Stewart (n.
1945) resolveu esta particular questão para o
clássico problema de 17 camelos (ou cavalos)
cuja partilha entre três irmãos resultava na
sobra de um único camelo [6] após inclusão de
um animal. Neste caso, havendo d camelos (por
exemplo, d=17 +1), é possível chegar à Equação
(1):
denominada de Equação de Mustafá por
Stewart [ ]. 6
Dito de outra forma, se a=2, b=3 e c=9, d=18 =
17+1. Stewart provou que existem apenas 14
diferentes soluções inteiras para a, b, c e d
números inteiros positivos e com a ≤ b ≤ c ≤ d
[6]. No entanto, nem todas estas quatorze
soluções são relevantes. Uma condição aritmé-
tica precisa ser levada em conta: d necessaria-
mente precisa ser um número divisível por a, b e
c, e existem portanto apenas 12 soluções
relevantes.
No caso dos 35 camelos, um é emprestado e
dois devem ser devolvidos ao m da divisão. Em
outras palavras, a equação resultante envolve t
camelos, levando à Equação (2):
denominada Equação de Tahan [ ].4
É fácil perceber que se a=2, b=3 e c=9, t=36 = 35
+1. Existem 28 soluções envolvendo três
números de partilha inteiros positivos a, b, c
para t camelos, com a ≤ b ≤ c ≤ t, deixando dois
camelos à disposição após a partilha. No
entanto, t deve ser também um múltiplo inteiro
de a, b e c. Tal restrição aritmética reduz o
número de soluções para apenas 22 possibili-
dades relevantes, que também deixam dois
camelos após a partilha, conforme indicado na
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica15 O homem que amava calcular
Para treinar Tabela 1. O número de camelos n para cada
partilha entre três irmãos deve ser igual a t -1.
Mello e Souza vivenciou uma época onde se
discutiu e foi elaborado o “Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova”, movimento
liderado, entre outros, pelo educador, jurista e
escritor brasileiro Anísio Spínola Teixeira
(1900 - 1971). Tal proposta, estabelecida em
Para treinar
Tabela 1 - A Equação de Tahan: 1/a + 1/b + 1/c = (t-2)/t, apresenta exatamente 28 soluções
para a, b, c e t números inteiros positivos com a ≤ b ≤ c ≤ t. O asterisco indica seis resultados que não obedecem à condição aritmética que t deve ser um múltiplo de a, b e c. Isto implica
em 22 soluções relevantes do problema dos 35 camelos para quaisquer três irmãos com
partilhas 1/a, 1/b e 1/c.
Figura 5 - Manchas em viga e Laje
Discussão
Figura 4 - As várias facetas do homem que amava calcular: i) Julio Cesar, o nome de
batismo militar dado pelos pais, João de Deus de Mello e Souza (1862 - 1910) e Carolina
Carlos de Toledo (depois Carolina de Mello e Souza, 1886 - 1925); ii) Mello e Souza, o professor e educador; iii) Malba Tahan, o escritor, contador de historias e alter ego
mais famoso. Chegou a usar outros nomes em diversas situações na vida: Salomão IV, 846
(identicação quando aluno do Colégio Militar) e Capote, enquanto criança /
adolescente; assinou também como R. S. Slady e Breno Alencar Bianco na fase adulta.
1932, estava de acordo com ações políticas de
implementação de um processo de industriali-
zação e urbanização do Brasil [ ].7
Inovador inquieto, multifacetado ( ), Figura 4
Mello e Souza foi o primeiro colaborador de
matemática do programa radiofônico “Univer-
sidade do Ar”, pioneira iniciativa brasileira de
educação à distância, com foco na formação de
professores secundaristas no Estado Novo
( ). O programa era veiculado às 18h Figura 5
45min entre 1941 e 1944 pela Rádio Nacional
do Rio de Janeiro, ZYJ 460 na frequência 1130
kHz, criada em 1936 e ainda em atividade [ ]. 8
Mello e Souza foi também o primeiro a elaborar
a revista Al-Karismi entre 1946 e 1951, a
primeira no mundo a homenagear ao célebre
matemático persa e destinada a professores e
alunos de matemática, que explorava recrea-
ções matemáticas, bem como jogos, proble-
mas, histórias, aplicações e curiosidades [ ].2
Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.
ARTIGO Politécnica16 O homem que amava calcular
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.
Figura 5 - Cartaz de 1941 da
“Universidade do Ar”, pioneira iniciativa
radiofônica brasileira de educação à
distância, com foco na formação de
professores, veiculada pela Radio Nacional.
No entanto, esta data merece uma reexão,
pois não seria Malba Tahan um nome ctício?
Decerto o personagem foi inventado, mas o
nome deixou de ser ctício, e a razão é simples
de entender: até a década de 1950 os brasilei-
ros podiam indicar um pseudônimo em sua
carteira de identidade ( ). Mello e Souza Figura 6
assim o fez [ ], passando também a assinar 4
ocialmente o nome do sábio persa, e de fato
pode-se então admitir que Malba Tahan, o
homem que amava calcular, realmente existiu
– como queríamos demonstrar (C.Q.D.).
matemática recreativa [ , , ], muitos deles 2 3 4
vendendo milhões de publicações em diversos
países como: Alemanha, Argentina, Colômbia,
Coréia, Croácia, Escócia, Espanha, Estados
Unidos, França, Grécia, Holanda, Itália, Japão,
México, Portugal, Servia e Venezuela, entre
outros. Muitas das suas obras, hoje considera-
das interdisciplinares [ ], são ainda impressas, 3
mostrando a força e vigor de suas ideias,
histórias e estórias. Sua família mantém um
site em sua memória: . No www.malbatahan.com.br
Brasil, o Dia Nacional da Matemática é come-
morado na data de seu aniversário, todo dia 6
de maio, que também é o dia de nascimento de
Malba Tahan.
A proposta literária do homem que amava
calcular foi de certa forma inspirada pela
criação, poucos anos antes, de duas experiên-
cias pioneiras no campo da educação matemá-
tica no país: a publicação da Revista Brasileira
de Mathematica Elementar (1929 - 1930), que
pouco tempo depois passou a se chamar
Revista Brasileira de Mathematica (1930 - c.
1933). Estas foram escritas primeiramente por
docentes e discentes da Escola Politécnica da
Universidade Federal da Bahia (fundada em 14
de março de 1897). Por volta de 1931, a revista
foi transferida para o Rio de Janeiro. Vale
lembrar que Mello e Souza foi colaborador
eventual em alguns artigos, principalmente na
seção inicial da revista, intitulada Galeria
Mathematica, que tratava da biograa de
ilustres matemáticos [ , ]. O conteúdo das 2 9
mesmas, namente ilustrado, buscava
apresentar assuntos de interesse cientíco e
pedagógico na área de matemática.
Mello e Souza escreveu 33 livros, outros 29 em
parcerias. Já com seu pseudônimo mais
famoso escreveu 63 livros sobre lendas e
Material Métodos
Conclusões
ello e Souza, um autor de múltiplas
Midentidades, foi mestre em escrever e
contar estórias, em especial as de
conteúdo matemático. Procurou ensinar
matemática com arte, conhecimento e
sabedoria. Hábil explorador das palavras,
percebeu como poucos que um modo sutil de
ensinar conceitos matemáticos abstratos
requer utilizar da abstração, do lúdico e do
imaginário por meio de belas estórias. Defendia
que o ensino da técnica matemática deveria ao
menos ser amenizado e motivado com algumas
curiosidades, recreações e fantasias, além de
pequenas introduções históricas. Aos poucos,
sutilmente, seu personagem Tahan conseguiu
(como ainda consegue) adentrar na mente de
m u i t o s j o v e n s , p r o v o c a n d o - o s c o m
curiosidades e enigmas matemáticos por meio
Gustavo Páez Ortega
escritos o que ensinar, como ensinar e para
que(m) ensinar. Mello e Souza mostrou
caminhos humildes e criativos para se atingir
este muito particular conhecimento humano
por meio de estórias encantadoras e
divertidas. Sob seu alter ego, procurou dar
outra opção ao desao da esnge matemática
e desfazer o mito de que o conhecimento
matemático é acessível apenas à alguns
poucos. Esta tarefa somente poderia ser
concluída por alguém que amava calcular...
Maktub (“Estava Escrito”)!
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
de analogias embebidas em interessantes
contos de faz de conta. Em resumo, conseguiu
harmonizar razão e imaginação de forma
única, entrelaçando em belas estórias o
racional e o emocional.
A o t r a b a l h a r c o m o i m a g i n á r i o n a
matemática, rompeu com as barreiras que
este saber de certezas, muitas vezes mais
confundido com arrogância (ou aptidão) do
que com beleza, parece impor: decifra-me ou
te devoro! Provocador, questionava em seus
O ARTIGO Politécnica17 O homem que amava calcular
Fonte: Autores, 2018
Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.
(a) Frente (b) Verso
Figura 6 - Carteira de identidade de Julio Cesar de Mello e Souza em 1954. Na frente (a), encontra-se a foto e o registro numérico 175.353, além da impressão
digital e assinatura. No verso (b), encontra-se seu nome completo,
data de expedição, liação, cidade, estado, data de
nascimento e informações adicionais. Abaixo de seu nome é possível ler o pseudônimo “Malba
Tahan”. Mais recentemente a carteira de identidade brasileira
foi modicada e simplicada, não mais sendo admitido acrescentar um apelido.
[ ] C. C. Oliveira. A Sombra do Arco-Íris: um Estudo Histórico / Mitocrítico do Discurso Pedagógico de Malta Tahan. Tese. 2
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (2007) 171 pgs.
[ ] M. L. F. Nascimento; L. Barco. The Man Who Loved to Count and the Incredible Story of the 35 Camels. J. Math. Arts 4
10 (2016) 35-43.
[ ] I. Stewart. The Riddle of the Vanishing Camel. Mathematical Recreations, Sci. Am. 266 (1992) 122–124.6
[ ] M. H. C. Romero. Universidade do Ar: em Foco a Primeira Iniciativa de Formação de Professores Secundaristas via 8
Rádio no Estado Novo (1941 - 1944). Dissertação. Universidade Federal de Uberlândia (2014), 167 pgs.
[ ] M. Tahan. O Homem que Calculava. Record, Ed., Rio de Janeiro (2017), 286 pgs.1
Referências
[ ] J. C. Faria. A Prática Educativa de Júlio César de Mello e Souza Malba Tahan: um Olhar a partir da Concepção de 3
Interdisciplinaridade de Ivani Fazenda. Dissertação. Universidade Metodista de São Paulo (2004) 278 pgs.
E-mails de contato do autor:
mlfn@ufba.br
[ ] A. L. M. Dias. Uma História da Educação Matemática na Bahia. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História - 9
ANPUH, São Paulo (2001) 1-21.
[ ] M. G. Siqueira Filho. Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan: Episódios do Nascimento e Manutenção de um 5
Autor-Personagem. Tese. Universidade Estadual de Campinas (2008) 258 pgs.
[ ] R. G. Oliveira. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nacional em seu Contexto Histórico. Dissertação. Universidade 7
Estadual Paulista, Campus de Rio Claro (2002) 56 pgs.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica18
Considerações sobre as tecnologiasaplicadas aos sistemas de
esgotamento sanitário dos municípios baianos de pequeno porte
Itaiara Sá Marques
Luciano Matos Queiroz
Asher Kiperstok
Resumo: Dentre os 417 municípios baianos, 387 possuem população urbana menor que 50 mil habitantes,
onde a dispersão e a renda da população não justicam, na maioria dos casos, a implantação de sistemas de
esgotamento sanitário convencionais. Constatou-se que apesar da presença de Tecnologias de Baixa
Complexidade Operacional (TBCO) nas tecnologias de tratamento, há uma tendência de padronização das
soluções..
Keywords: sewage treatment; technologies of low operational complexity; small municipalities
Abstract: Considering the 417 municipalities in Bahia State, Brazil, 387 presented an urban population of less
than 50 thousand inhabitants. The low population density and low income do not justify, in most localities, the
construction of conventional domestic wastewater collection and treatment systems. However, it was observed
that there is a tendency to implement standardized projects that do not take into account the local reality
despite the availability of lower operational complexity options..
Palavras Chave: esgotamento sanitário; tecnologias de baixa complexidade operacional; municípios de
pequeno porte
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica19Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte
Nelson (2005) relata dois extremos de
tecnologias para esgotamento sanitário:
aquelas que utilizam uxo por gravidade
para transporte dos esgotos, que possuem
a l g u m a o u n e n h u m a p a r t e m ó v e l ,
dependem de processos naturais na maior
parte do tratamento, tendem a ter menores
custos, requerem pouca ou nenhuma
energia (poucos ou nenhum equipamento
eletromecânico), e não necessitam de
operação e manutenção intensa; e àquelas
tecnologias altamente mecanizadas, que
utilizam estações elevatórias de esgoto
(EEE ) , e qu ipamen to mecân i c o pa ra
proporcionar mistura, aeração forçada,
ltração pressurizada, ou qualquer outro
aumento de eciência no tratamento. Pode-
se entender que as tecnologias que foram
d e s c r i t a s n o p r i m e i r o e x t r e m o s ã o
t e c n o l o g i a s d e b a i x a c o m p l e x i d a d e
operacional.
Nesse contexto, considerou-se que a
t e r m i n o l o g i a “ t e c n o l o g i a d e b a i x a
complexidade operacional” (TBCO) para
soluções de esgotamento sanitário devem
c o n t e m p l a r a s p e c t o s c o m o p o u c a
m e c a n i z a ç ã o , o u s e j a , p o u c a s , o u
nenhuma EEE, sistemas de tratamento que
não necessitem de aeração forçada ou
recirculação de euente, e que a solução
respeite as particularidades locais, como
t o p o g r a a , t i p o d e s o l o , í n d i c e
pluviométrico, capacidade técnica e a
capacidade de pagamento do usuário,
podendo essa solução ser individual ou
coletiva.
S .A. (EMBASA) são rentáve is , sendo
responsáveis por 70% do faturamento total
da empresa. Seis dos 15 municípios com
resultados econômicos satisfatórios estão
localizados na Região Metropolitana da
cidade do Salvador (EMBASA, 2014), ou
seja, onde a densidade demográca e a
situação econômica justicam as soluções
implantadas, que são, na maioria dos
casos, convencionais.
onforme dados publicados pelo
CInstituto Brasileiro de Geograa e
Estatística (IBGE, 2016), dentre os
417 municípios baianos, 387 são conside-
rados de pequeno porte, ou seja, possuem
população urbana menor que 50 mil habi-
tantes e, nessas localidades, a dispersão e a
renda da população não justicam, na
maioria dos casos, a implantação das
soluções convencionais de esgotamento
sanitário.
A c o m p l e x i d a d e d a s a t i v i d a d e s d e
manutenção e operação desses sistemas
convencionais pode constituir um grande
problema para operadora dos serviços de
esgotamento sanitário dos municípios de
men o r p o r t e , qu e , g e r a lmen t e , n ão
possuem infraestrutura, nem recursos
sucientes para geri-los. Várias são as
c a r a c t e r í s t i c a s q u e g e r a m e s s a s
d i c u l d a d e s : a c e n t r a l i z a ç ã o d o
t ra tamento em grandes es tações de
tratamento de esgotos (ETE), execução de
obras complexas com elevados custos de
d e sap rop r i a ção , e x c e s so do uso d e
recalque para vencer grandes distâncias e
desníveis topográcos, consumo elevado
de energia elétrica, elevada produção de
subprodutos do tratamento (lodo e gases),
c u s t o s e l e v a d o s d e m a n u t e n ç ã o e
o p e r a ç ã o , d i c u l d a d e p r á t i c a d e
universalizar o atendimento dos serviços
em deco r r ênc ia da ma io r d i spe rsão
populacional, além da minimização das
oportunidades de reciclo de nutrientes e
reúso da água, o que nas regiões semiáridas
é imprescindível.
Conforme análise elaborada a partir de um
m o d e l o e c o n ô m i c o - n a n c e i r o
desenvolvido pela Fundação Instituto de
Administração da Universidade de São
Paulo (FIA/USP), apenas 15 municípios
baianos dos 364 (1.027 localidades com
água t ratada e 112 loca l idades com
esgotamento sanitário) atendidos pela
Empresa Baiana de Águas e Saneamento
Introdução
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica20Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte
metodologia utilizada consistiu em
Apesquisa documental por meio do
levantamento, sistematização, análise
estatística e interpretação de dados e informa-
ções apresentadas nos relatórios internos da
Empresa Baiana de Águas e Saneamento
(Embasa) tais como: Resumo Geral de SES
Operados, pela Superintendência de Operação
Norte, pela Superintendência de Operação Sul
e pela Superintendência de Esgotamento
Sanitário da Região Metropolitana de Salvador;
na Tabela 1394 do IBGE (2010) referente aos
domicílios particulares permanentes segundo
o tipo de esgotamento sanitário; Tabela
Resumo de Informações e Indicadores Por
Estado, Tabelas Completas de Informações e
Indicadores dos Prestadores de Serviços
Regionais, Tabela Completa Pesquisa
S impl icada , Tabe las Comple tas de
Informações e Indicadores dos Prestadores de
Serviços Locais – Direito Privado com
Administração Pública (LPr) e Tabelas
Completas de Informações e Indicadores dos
O objetivo deste artigo é elencar as características dos sistemas de esgotamento sanitário (SES) dos
municípios baianos de pequeno porte, ou seja, com população até 50.000 habitantes, com operador
declarado, visando identicar tecnologias com pouca mecanização e que respeitem as particularida-
des locais, como topograa, tipo de solo, índice pluviométrico, capacidade técnica e a capacidade de
pagamento do usuário. Adicionalmente, buscou-se analisar desaos oriundos do atual modelo de
prestação dos serviços públicos de saneamento diante da possibilidade de implantação de soluções
individuais de esgotamento sanitário.
Objetivo
Metodologia
Prestadores de Serviços Locais – Direito
Público (LPu) do SNIS (2014); e Plano Estadual
de Manejo de Águas Pluviais e Esgotamento
Sanitário (Pemapes) (Bahia, 2011).
Analisou-se, também, as respostas de
questionário estruturado aplicado aos
prossionais envolvidos na elaboração,
contratação e operação de sistemas de
esgotamento sanitário (SES). O questionário foi
enviado por correio eletrônico para diferentes
grupos de prossionais da área das diversas
regiões do país: professores e pesquisadores de
universidades que trabalham na área de
esgotamento sanitário; projetistas de SES
autônomos ou de empresas de consultoria;
engenheiros, técnicos e gestores dos
ó rgãos/empresas r esponsáve i s pe l o
planejamento dos serviços de esgotamento
sanitário; pela contratação e nanciamento
dos projetos de SES; pela execução das obras
de SES; pela operação de SES; e pela regulação
e/ou scalização dos serviços de esgotamento
sanitário.
Foto Ilustrativa - esgoto sem tratamento lançado a
céu aberto.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica21Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte
O principal operador dos SES da Bahia é
a Empresa Baiana de Águas e
Saneamento (Embasa). A partir do
levantando realizado nos relatórios de sistemas
operados por essa empresa, constatou-se que,
até o ano de 2016, a empresa prestava serviços
de esgotamento sanitário em 105 (cento e
cinco) municípios. A empresa está em processo
de recebimento de mais 2 (dois) SES, dos
municípios de Botuporã e Mirangaba, porém,
esses não foram considerados no estudo.
Segundo estimativa do IBGE (2016), desses
105 municípios, 70 (setenta) possuem
população total abaixo de 50 mil habitantes.
Porém, considerando a mesma relação entre
população total e população urbana do Censo
2010 para o ano de 2016, constata-se a
existência de 80 municípios com população
urbana abaixo de 50 mil habitantes.
Nos sete últimos relatórios publicados no
Sistema Nacional de Informação sobre
Saneamento (SNIS) entre os anos de 2008 e
2014, 21 (vinte e um) municípios declararam
que possuem um SAAE ou empresas
municipais como operadores do serviço de
esgotamento sanitário. Desses, segundo
estimativa do IBGE (2016), 14 (catorze)
possuem população total inferior a 50 mil
habitantes. Entretanto, considerando a
população urbana, mesma relação do Censo
2010, 16 (dezesseis) municípios possuem
população inferior a 50 mil habitantes.
Considerando os dados disponíveis nos seis
últimos relatórios publicados no SNIS entre os
anos de 2009 e 2014, 71 (setenta e um)
municípios declararam como operadora do
serviço de esgotamento sanitário, a Prefeitura
Municipal. Porém, 10 (dez) desses municípios
foram desconsiderados no estudo, pois se
constatou que a Embasa opera algum SES no
município, a saber: Araci, Glória, Santa
Brígida, Senhor do Bonm, Glória, Mairi,
Botuporã e Caturama, além de Lapão e Tanque
Novo que foram retirados desse estudo, pois,
segundo o Pemapes (Bahia, 2011), são 100%
atendidos por meio de tanques sépticos (TS).
Segundo estimativa do IBGE (2016), apenas o
município de Monte Santo possui população
total maior que 50 mil habitantes. Porém,
considerando a população urbana, mesma
relação do Censo 2010, todos os 61 (sessenta e
um) municípios possuem menos que 50 mil
habitantes.
Os dados mostram que dos 80 (oitenta)
municípios com população urbana inferior a
50 mil habitantes que possuem algum SES
operado pela Embasa, 54 (cinqüenta e quatro)
possuem SES centralizados na sede municipal
ou distritais, sendo que apenas 03 (três) desses
não apresentam estação elevatória de esgotos
(EEE). Por outro lado, dos 26 (vinte e seis)
municípios que possuem SES descentralizado,
e m b a i r r o s o u e m p r e e n d i m e n t o s
habitacionais, 11 (onze) não possuem
nenhuma EEE. Considerando o universo
amostral, 111 (cento e onze) SES, o número
total de SES descentralizados em bairros ou
empreendimentos habitacionais é igual a 51
(cinquenta e um), sendo que 43 (quarenta e
três) desses sistemas estão localizados em
municípios que não possuem SES com ETE
centralizada.
Resultados e Discussões
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica22Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte
Considerando municípios do grupo atendidos
pela Prefeitura Municipal, 60 (sessenta)
possuem SES centralizado na sede, porém,
apenas 19 (dezenove) declaram a existência de
estação de tratamento de esgotos (ETE), sendo
que 08 (oito) dessas estão fora de operação
segundo o Pemapes (Bahia, 2011). Apenas 03
(três) municípios possuem EEE, fato que está
relacionado à inexistência das ETE. Barra do
Rocha é o único município que possui rede e
ETE apenas em um bairro, sendo que o SES
não possui EEE e a ETE está fora de operação
(Bahia, 2011). Os municípios de Mundo Novo,
Piritiba e Teolândia possuem, também,
sistemas descentralizados em bairros e
empreendimentos habitacionais, entretanto, a
ETE do Bairro ACM no município de Mundo
Novo apresenta eciências de remoção de
poluentes muito aquém do desejado; a da
Praça São Judas Tadeu no município de
Piritiba está fora de operação e a do Bairro
Urbana em Teolândia é operada pela
iniciativa privada.
Dentre os 16 (dezesseis) municípios do grupo
que declaram a operação dos SES por meio de
SAEE e Empresas Municipais, todos possuem
SES centralizado na sede municipal, sendo que
06 (seis) não possuem ETE, apenas rede
coletora e 02 (dois) estão com suas ETE fora de
operação, conforme apontado no Pemapes
(Bahia, 2011). Os municípios que não possuem
EEE são 08 (oito), sendo que desses, apenas o
município de Jaborandi possui ETE em
operação. O município de Taperoá possui um
SES Bairro Patichulin, porém, também não
possui ETE, assim como o SES da sede.
Constatou-se que os SES operados pela
Embasa, Prefeituras Municipais e SAAE
possuem tecnologias de tratamento variadas,
conforme apresentado na Figura 1. A maioria
das tecnologias de tratamento é considerada de
baixa complexidade operacional, porém,
dependendo da concepção do SES, detecta-se a
implantação de muitas EEE, por exemplo, e,
então, a operação e manutenção do sistema de
esgotamento tornam-se altamente complexas,
mesmo com uma tecnologia de tratamento de
baixa complexidade, como as lagoas de
estabilização. Dentre as tecnologias de menor
complexidade operacional, encontram-se os
banheiros secos e os tanques sépticos (TS),
porém, nenhuma das prestadoras de serviços
opera ou mantém esses banheiros secos e/ou
TS como so lução indiv idual izada de
tratamento de excretas. Apenas um SES,
i n s t a l a d o e m u m e m p r e e n d i m e n t o
condominial na cidade de Una, na região sul do
estado da Bahia, possui TS operado pela
Embasa, porém, fazendo parte de um
tratamento centralizado e não como solução
individual. O sistema foi contabilizado na
solução UASB+Filtro.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica23Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte
população urbana com 01 (uma) EEE e
tecnologia de tratamento também composta
por reator UASB seguido de lagoas de
polimento. Já o SES do município de
Cravolândia atende 84% da população urbana
com 01 (uma) EEE e com sistema de
tratamento composto apenas por lagoas de
estabilização.
Por outro lado, dos 60 SES com ETE
centralizada, 28 (vinte e oito) apresentam
relação entre número de EEE para cada 1.000
economias, maior que 2,0, sendo que 08 (oito)
possuem esse indicador acima de 10,0,
demonstrando uma complexidade operacional
e de manutenção do sistema de coleta e
transporte, apesar da maioria das tecnologias
de tratamento não ser considerada complexa.
Os SES do município de Maragogipe podem ser
considerados os mais complexos do grupo, pois
só o SES da sede possui 12 (doze) EEE, além da
tecnologia de tratamento ser o processo de lodo
ativado. Destaca-se, também, o SES de
Nagé/Coqueiros, que possui 06 (seis) EEE,
sendo que 05 (cinco) estão localizadas no
Distrito de Coqueiros para atender apenas 132
economias. Apesar da complexidade do
sistema de coleta e transporte, o SES possui
TBCO para o tratamento. O mesmo ocorre com
o SES de São Roque do Paraguaçu, que possui
02 (duas) EEE para atender apenas 126
economias. Somando todos SES do município
Considerando os SES operados pela Embasa, o
SES com ETE centralizada que atende a maior
parcela da população urbana do município e
que possui menor complexidade operacional é
o de Barra do Tarrichil, no município de
Chorrochó. O SES de Barra do Tarrichil atende
toda população urbana com ETE centralizada
composta por lagoas de estabilização, além de
não ser necessária nenhuma EEE para
transportar os esgotos. Outros SES que
também possuem TBCO para atender 100% da
população urbana são os de Encruzilhada e
Várzea Nova, com apenas 01 (uma) EEE e o de
Canápolis, com apenas 02 (duas) EEE, todos
com sistema de tratamento composto por
UASB seguido de lagoa de polimento. O SES do
município de Santa Brígida atende 95% da
Considerando os sistemas operados pela
E m b a s a , c o n s t a t o u - s e a
preponderância do reator anaeróbio
(UASB) como principal tecnologia de
tratamento. São 15 (quinze) SES cuja
tecnologia de tratamento é apenas o reator
UASB; 38 (trinta e oito) com UASB seguidos de
lagoas de polimento; 03 (três) UASB seguidos
de ltro anaeróbio; e 08 (oito), UASB seguidos
de lodo ativado. Existem, também, reatores
UASB implantados na maioria das Estações de
Tratamento de Esgoto Compactas (ETEC), que
totalizam 17 (dezessete) SES. Depois da opção
pelo reator UASB, a opção por lagoas, sejam
facultativas, aeradas, anaeróbias, de
maturação ou de polimento é a mais frequente,
sendo 16 (dezesseis) SES atendidos por lagoas.
O arranjo tecnológico UASB seguidos de lagoas
de polimento também é o mais utilizado nos
SES dos municípios operados pelas PM e
SAAE. Apenas a Embasa opera tecnologias de
tratamento mais complexas para esses
municípios, são 08 (oito) SES com tecnologia de
tratamento composta por lodo ativado ou valo
de oxidação. Ainda há as lagoas aeradas
presentes em 05 (cinco) SES, Cachoeira/São
Félix, Itaparica sede, Santa Cruz Cabrália,
Santo Amaro e Euclides da Cunha e as ETEC,
que, geralmente, apresentam processos com
aeração forçada, que podem ser considerados
sistemas de tratamento mais complexos.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica24Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte
de Maragogipe, o percentual de atendimento da
população urbana não ultrapassa 60%.
No mesmo grupo de sistemas complexos,
encontram-se os SES dos municípios de
Cachoeira/São Félix no recôncavo baiano, que
possui 07 (sete) EEE no município de
Cachoeira e 05 (cinco) EEE em São Félix, além
de possuir lagoas aeradas na concepção do
tratamento dos esgotos, apesar de alcançar um
percentual elevado de atendimento da
população. O SES de Santa Cruz Cabrália
possui 12 (doze) EEE e também apresenta
lagoas aeradas na concepção de tratamento,
mas diferente do SES de Cachoeira/São Félix,
o percentual de atendimento da população
urbana é baixo. O SES de Vera Cruz, ampliado
no ano de 2016, conta com 18 (dezoito) EEE e
processo de lodo ativado no tratamento. Apesar
de estar com percentual baixo de atendimento,
20%, esse número deve aumentar, visto que
novas ligações ainda podem ser executadas.
Tem-se ainda o SES de São Francisco do Conde
que, também, possui lodo ativado como
concepção de tratamento, e um número
elevado de EEE, 10 (dez), não atendendo
grande parcela da população urbana.
A maioria dos sistemas locais não possui
percentual elevado atendimento da população
urbana com sistema de esgotamento operado
pela Embasa. O SES de Várzea do Meio no
município de Várzea da Roça é o sistema local
que atende maior parcela da população urbana
e não possui nenhuma EEE. Dos 51 (cinquenta
e um) sistemas locais que atendem bairros,
conjuntos habitacionais e condomínios, 20
(vinte) possuem nº EEE/1.000 economias
maior que 2,0, sendo que 04 (quatro) possuem
esse indicador acima de 10,0.
Quando comparados com os SES com ETE
centralizada, os sistemas locais são igualmente
complexos, pois apenas 23 (vinte e três) não
possuem EEE e apesar desses sistemas
possuírem apenas 01 (uma) ou 02 (duas) EEE,
eles atendem uma parcela da população muito
pequena que não pagaria os custos de
operação e manutenção dos mesmos. Além
disso, 15 (quinze) desses sistemas, que
Assim, apesar de apenas 7,2% do número total
de SES operados pela Embasa possuírem
tecnologias mais complexas de tratamento,
como l odo a t i vado , 93 ,3% dos SES
centralizados (que correspondem à 54,0% do
total) possuem EEE e metade desses em
quantidade elevada, ou seja, em uma relação
entre número de EEE para cada 1.000
economias maior que 2,0. Já para os SES
descentralizados, apesar de 45,0% não
possuírem EEE, 71,4% dos que possuem tem
essa relação maior que 2,0, além do que, o
atendimento desses sistemas é menor. Logo,
percebe-se a complexidade operacional
excessiva da maioria desses sistemas,
demonstrando que talvez tenham sido
implantados sem um estudo mais aprofundado
que vericasse se essas tecnologias seriam as
mais adequadas, principalmente por se tratar
d e m u n i c í p i o s d e p e q u e n o p o r t e e
provavelmente com baixa renda, como na
m a i o r i a d o s c a s o s , o q u e l e v a r á a
insustentabilidade econômica do sistema.
possuem EEE, são compostos por ETEC, que
geralmente possuem sistema de aeração
forçada e bombas de recirculação no
tratamento, o que os torna ainda mais
complexos.
Para os SES operados pelas prefeituras,
percebe-se que 31,7% dos SES centralizados
não possuem tratamento, apenas sistemas de
coleta e transporte, já para os SAAE/Empresa
Municipal, esse percentual é de 50,0%, sem
contar as ETE fora de operação, demonstrando
a grande fragilidade dos sistemas operados por
esses órgãos.
O Art. 5º da Lei Nacional de Saneamento
preconiza:
“não constitui serviço público a ação de saneamento executada por meio de soluções individuais, desde que o usuário não dependa de terceiros para operar os serviços, bem como, as ações e serviços de saneamento básico de responsabilidade privada, incluindo o manejo de resíduos de responsabilidade do gerador” (Brasil, 2007, p. 3).
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica25Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte
Independentemente da denição da natureza
da prestação do serviço, ou seja, público ou
privado, o GT recomenda que os municípios
realizem atividades de educação ambiental
junto à população, alertando para a
necessidade da correta implantação dos
sistemas individuais e limpeza periódica, como
a ç ã o d e s a n e a m e n t o , a g a r a n t i r a
universalização do acesso, além de proteção ao
Esse GT discutiu a responsabilidade do poder
público com relação à operacionalização das
soluções individuais de esgotamento sanitário,
vericando o papel do município, da
prestadora do serviço e da regulação.
Concluiu-se que nos municípios que não há
rede de coleta de esgoto sanitário, será
implantada solução individual de esgotamento
sanitário. O município deve estabelecer
condições de instalação e limpeza, além de
cadastro das residências com soluções
individuais e rotina de scalização, devendo
avaliar a forma da prestação do serviço de
extração do lodo, estabelecendo se de natureza
pública ou privada. Já o local para a destinação
nal do lodo foi considerado pelo GT como
componente do serviço público, sendo
necessário ser devidamente licenciado. Logo,
quando o tratamento e disposição nal se
derem em estação de tratamento de euente
operada pela iniciativa privada, esse serviço
deverá ser objeto de delegação, mediante
licitação e regulação (MP/RS, 2015).
Nos casos que se faça opção por serviço de
limpeza das fossas e transporte do lodo por
meio privado, realizado por empresas do ramo
limpa-fossas, foi sugerido que os municípios
mantenham atualizado o cadastro das
empresas, que devem possuir licenciamento
ambiental, que operem em seu território e
realizem, em conjunto com a Fepam, a
scalização da destinação dada às cargas de
lodo coletado. Se o município optar por realizar
diretamente ou por delegação, é cabível a
cobrança de remuneração pelo serviço
realizado, por meio de tarifa ou preço público, a
m de garantir a sustentabilidade da ação de
saneamento nos termos da política nacional
(MP/RS, 2015).
Porém, mesmo os tanques sépticos (TS),
considerados umas das tecnologias de menor
complexidade operacional para tratamento de
esgotos domésticos, e sendo, na maioria dos
casos, utilizados como solução individual de
esgotamento sanitário, precisam de mais
atenção do que diz o senso comum.
No Rio Grande do Sul, o Ministério Público
(MP/RS), a Companhia Riograndense de
Saneamento (Corsan), a Agência Estadual de
Regulação dos Serviços Públicos Delegados do
Rio Grande do Sul (AGERGS), a Funasa, a
Federação das Associações de Municípios do
Rio Grande do Sul (FAMURS), a Secretaria do
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do
Rio Grande do Sul (FEPAM/SEMA) e a
Secretaria Estadual de Obras, Saneamento e
Habitação (SOP) formaram um Grupo de
Trabalho (GT) no ano de 2015 sobre Soluções
Individuais de Esgotamento Sanitário. O GT
buscando avançar, no âmbito do Programa
Ressanear e na promoção da proteção do meio
ambiente e da saúde pública naquele estado,
atendendo à Política Nacional de Saneamento,
propôs diretrizes para orientar os municípios,
órgãos de saneamento e de regulação, para
sistematizar o funcionamento efetivo das
soluções individuais enquanto alternativa de
tratamento de esgoto sanitário (SOP, 2016).
Essa norma técnica também discorre sobre a
disposição de lodo e escuma, informando que
sob nenhuma hipótese podem ser lançados em
corpos de água ou galerias de águas pluviais e
para atendimento a comunidades isoladas,
informa que deve ser prevista a implantação de
leitos de secagem, projetados de acordo com
norma especíca.
A NBR 7229/1993 descreve os procedimentos
para limpeza dos TS, dentre os quais, destaca-
se que o intervalo de remoção do lodo e da
escuma devem ser equivalentes ao período de
limpeza do projeto, que varia entre 1 e 5 anos e
que a remoção periódica desses resíduos deve
ser feita por prossionais especializados, que
disponham de equipamentos adequados, para
garantir que não haja contato direto entre as
pessoas e o lodo.
ARTIGO Politécnica26Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Identicaram-se três principais discursos nas
respostas abertas: público vinculado à ideia de
maior eciência no tratamento ou melhoria da
qualidade do meio ambiente, sendo que alguns
A maioria dos docentes e dos prossionais que
trabalham em órgão planejador, regulador e
scalizador dos serviços de esgotamento
acredita que os TS podem ser consideradas
como serviços público. Já a maioria dos
prossionais que trabalham nas empresas que
elaboram os projetos, nanciamos sistemas,
executam as obras e prestam o serviço de
esgotamento sanitário, não consideram essa
solução como serviço público. Apesar desse
cenário, a diferença entre os que consideram
público e os que não consideram não foi muito
discrepante em nenhuma das atividades
prossionais, demonstrando que essa é uma
questão que gera bastante dúvida.
meio ambiente e à saúde pública (MP/RS,
2015).
A discussão sobre o que pode ou não ser
considerado serviço de saneamento público,
segundo a Lei 11.445/2007, se dá em torno da
dependência de terceiros para operar os
serviços, sendo as soluções individuais, que se
enquadram nessa situação, consideradas
como serviço privado. Como há dúvidas se as
soluções individuais de esgotamento sanitário
mais utilizadas, que são os TS seguidos de
disposição no solo, podem ser consideradas
como serviço público, vericou-se a percepção
e o entendimento dos prossionais sobre o
assunto, sendo que dos 92 respondentes, 49
não consideraram como serviço público e 43
consideraram. Em relação ao perl dos
respondentes, a Figura 2 apresenta as
respostas sobre a questão.
Quase metade dos respondentes que não
consideram as soluções individuais como
serviço público mostra um discurso que só é
público ser for coletivo, outros 06 (seis)
acreditam que não pode ser considerado
público, pois a solução não é eciente, podendo
contaminar o meio ambiente. Essas respostam
demonstram a falta de conhecimento do que é
acreditam que o TS é uma solução que pode
melhorar e garantir a qualidade do meio
ambiente e outros acreditam que é ineciente;
públ ico como colet ivo; públ ico como
responsabilidade pela operação do prestador
do serviço, sendo que alguns consideram que a
solução individual pode ser operada pelo
prestador e outras acreditam que é de
responsabilidade do cidadão, pois seria
inviável para o prestador operar os TS por
diversas razões.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ARTIGO Politécnica27Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte
Observa-se que não há consenso em nenhuma
dos grupos de prossionais sobre essa questão,
mesmo entre os prossionais das prestadoras
do serviço, demonstrando que é possível que as
so luções ind i v idua i s e o s s i s t emas
descentralizados sejam operados pelas
companhias que detém da experiência para tal,
contribuindo para melhor controle dessas
soluções, visto que, os usuários necessitam de
considerado serviço público pela Lei
11.445/2007 e sobre a legalidade dessas
s o l u ç õ e s . J á o u t r o s 1 9 ( d e z e n o v e )
respondentes que não consideram essas
soluções como serviço público, possuem o
discurso relacionado à prestação dos serviços,
sendo que muitos deles concordam que as
soluções individuais não dependem de
terceiros para operar, cabendo aos usuários a
responsabilidade pela operação, e alguns
consideram que é inviável a prestação por parte
da prestadora, independente da solução
necessitar de terceiros para sua operação.
Por outro lado, entre os que acreditam que as
soluções individuais podem ser consideradas
serviço público, 18 (dezoito) pensam que os TS
podem melhorar a qualidade do meio ambiente
quando bem operadas, entendendo que o poder
público pode garantir melhor essa situação.
Entretanto, isso pode signicar também que os
respondentes acreditam que o público tem o
dever de garantir a qualidade e eciência das
soluções, enquanto para o privado essa
exigência seria menor. Outros 17 respondentes
acreditam que o poder público é responsável
pela solução de esgotamento sanitário, mesmo
quando são individuais, e que o usuário
depende do prestador para sua operação.
Para questão sobre a possibilidade das
prestadoras dos serviços de esgotamento
sanitário operarem soluções individuais de
esgotamento sanitário, 47 respondentes
acreditam que não e 45 acreditam que sim,
demonstrando mais uma vez a necessidade de
se regulamentar essa questão envolvendo
todos os segmentos envolvidos, visto que não
existe um consenso sobre o assunto. A Figura 3
apresenta as respostas por perl dos
respondentes.
Entre todos os respondentes, 13 consideram a solução individual como serviço público, porém não consideram que as prestadoras possam/devam operar e 15 apesar de não considerarem como serviço público, acreditam quer as prestadoras devem operar. Essa situação deixa claro a necessidade urgente de discutir essa questão.
orientação e assistência para manter os TS.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
E-mails de contato dos autores:
BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Diário Ocial
da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 8 jan. 2007.IBGE – Instituto Brasieliro de Geograa e Estatística. Censo Demográco, 2010. Disponível em:
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&o=25&i=P&c=1394. Acesso em: 03 jul. 2015.
SOP, Secretaria de Obras, Saneamento e Habitação. Soluções Individuais de Esgotamento Sanitário. Grupo de Trabalho:
Soluções Individuais de Esgotamento Sanitário. Disponível em: <http://www.sop.rs.gov.br/conteudo/1472/solucoes-
individuais-de-esgotamento-sanitario>. Acesso em: 28 out. 2016. n. 73, p. 55–62, 2007.
lmqueiroz@ufba.br
Referências
BAHIA. Plano Estadual de Manejo de Águas Pluviais e Esgotamento Sanitário. TOMO VIII – Sinopse do Diagnóstico. Bloco
I. Governo do Estado da Bahia. Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Março de 2011.
SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos - 2014.
Disponível http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diagnostico-ae-2014. Acesso em: 21 ago. 2016.
Itaiaramarques@gmail.com
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 7229: Projeto, construção e operação de sistemas de
tanques sépticos. Rio de Janeiro, 1993.
MP/RS, Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul. Urbanismo: Soluções individuais de esgotamento sanitário:
grupo apresenta conclusões. 2015. Disponível em: <https://www.mprs.mp.br/urbanistico/noticias/id38681.html>.
Acesso em: 28 out. 2016.
ARTIGO Politécnica24 Caracterização Simplicada da Resistência e Rigidez de Clone deEucalyptus Urophylla para uso em Projeto de Estruturas: Novo Modelo.
Conclusão
É necessária uma pesquisa mais aprofundada,
visando comparar os custos de implantação e
operação desses sistemas, vericando o seu
payback e sua rentabilidade. O importante é
vericar qual alternativa de esgotamento
sanitário será a mais ecaz, eciente e efetiva
em função das particularidades locais.
Observou-se que não há consenso entre os
respondentes do questionário sobre o que é
considerado serviço público, nem tão pouco se
os TS como soluções individuais se enquadram
como tal. Poucos relacionaram o serviço
público à necessidade de terceiros para
operação. Alguns relacionaram o serviço
público à coletividade e outros vincularam à
Apesar das TBCO estarem presentes nos
municípios com população urbana menor que
50 mil habitantes, principalmente, quando se
considera as tecnologias de tratamento,
quando se observa o panorama do SES como
um todo, as TBCO ainda estão muito aquém,
considerando o potencial e a necessidade de se
incorporá-las nesses municípios, ou seja,
apesar de existir, as TBCO são pouco adotadas.
Apesar da Lei Nacional de Saneamento não
especicar quais são as soluções individuais
que não constituem serviço público, e
observando as exigências da NBR 7229/1993,
entende-se que os TS não se enquadram em
solução que independem de terceiros em sua
manutenção e operação. Logo, mesmo que o
poder público não opere os TS, é necessário que
o Estado estabeleça uma política pública que
proporcione condições ao usuário de implantar
e operar esse tipo de solução individual. As
soluções individuais também devem ser
consideradas como alternativa de esgotamento
sanitários nos planos e projetos das cidades.
eciência da solução.
Acredita-se que ações como a do Estado do Rio
Grande do Sul, que teve a iniciativa de reunir
diversos segmentos da sociedade para discutir
a questão das responsabilidades pelos TS, são
necessárias para esclarecer e regulamentar
essa questão. Só assim as soluções individuais
serão implantadas da forma correta, realizando
o seu verdadeiro papel que é melhorar a
qualidade do meio ambiente.
Politécnica29
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
ENTREVISTA
Entrevista Recuperada:Professor Álvaro Leal Moreno fala
sobre a carreira e criação da COELBA
Entre alguns documentos encontrados nos arquivos do IPB está uma entrevista nunca publicada, realizada com o professor Álvaro Leal Moreno, professor do Departamento de
Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da UFBA e professor emérito da UFBA, reproduzida a seguir..
Entrevistador: Caiuby Alves da Costa (C) Entrevistado: Álvaro Leal Moreno( M)
M – Nasci em Ilhéus, em junho de 1931, z
meus estudos iniciais em Ilhéus: o curso
primário com professora particular e ginásio no
Ginásio Municipal de Ilhéus. O curso colegial o
z no Colégio Central da Bahia
C – Quando você fez vestibular já pensava (*1)em cursar engenharia elétrica?
C – Moreno, gostaria de saber alguns dados
pessoais seus.
M – Ingressei na Escola Politécnica em 1954, já
com a intenção de cursar engenharia elétrica.
Para treinar
(*2)M – Ainda estudante estagiei na CEEB e já
prossional ingresse i na COMISSÃO
INCORPORADORA DA COELBA em 1958, a
COELBA estava sendo criada.
M – A Comissão Incorporadora teve como (*3)secretario executivo Nildo Peixoto . Existia
um só engenheiro eletricista, o Engº Thomaz
Luiz Gomes quando ingressei.
C – E o início de suas atividades prossionais?
C – Moreno, e a sua experiência na criação da
COELBA?
Politécnica30 ENTREVISTA
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
presidente, um diretor-administrativo e um
diretor-técnico.
M – Aí tem uma história meio complicada.
Esses primeiros diretores foram indicados
pe los func ionár ios da COELBA. Um
funcionário do BNDE para diretor-presidente,
Nildo Peixoto para diretor-técnico e um diretor-
administrativo. O diretor-presidente não
chegou a tomar posse, embora eleito, por
questões familiares alegadas, mas na realidade
os motivos foram salariais.
C – E como cou?
C – Quais foram os primeiros diretores?
M – Foi então eleito José de Freitas Jatobá, por
indicação do governador Juracy Magalhães e
continuou Nildo Peixoto.
C – Além da direção quem compunha a
equipe da Coelba?
M – Continuamos os mesmos: Thomaz, eu,
Ney, Luiz Caetano, Geraldo Tavares na área
jurídica, e dois funcionários: uma secretária e
um contínuo. Nós ocupávamos somente duas
salas no segundo andar do edifício Nelson
Farias, no Comercio. Esta equipe, assim,
permaneceu por algum tempo.
C – Quando houve alteração, sensível, no
quadro?
M – Em 1961. Sensível porque nós éramos dois
engenheiros e houve a admissão de mais um
engenheiro. Isso signicou um aumento de
50% no quadro de engenheiros.A admissão, de pessoal, subsequente foi de
eletrotécnicos, pois nossos problemas eram
mais operacionais de manutenção do que de
produção e projetos, donde a necessidade
maior era as do que pegassem nas ferramentas
do que homens de prancheta.A meta principal, nessa época, era a ampliação
da área de operação da empresa, a primeira
delas foi Jaguaquara, depois Jequié, Nazaré e
C – Como vocês conseguiam dar conta do
serviço?
M – Operávamos nas regiões de Mata de S.
João, Cruz das Almas e Santa Inês. Os recursos
materiais eram escassos, nada possuíamos a
não ser um jipe, nenhum outro equipamento.
Havia um pouco de materiais e as ferramentas
eram emprestadas, tomadas a empreiteiros
amigos, principalmente Deraldo Gomes da
Silva.
M - A fundação da COELBA em 29 de março de
1959.
C – Com a fundação da COELBA como cou a
situação?
M - Nós tínhamos um lema que era: no caso de
um defeito o designado para resolve-lo tinha
que resolve-lo, buscasse apoio na comunidade
e “ se virasse”. Essa fase durou de 1958 a 1960.
C – Qual a primeira estrutura da COELBA
após sua fundação?
C – E qual era a equipe existente à época?
M – A COELBA passou a ter um diretor-
C – Que regiões eram operadas e que
recursos eram disponíveis?
C – Após essa fase, qual o grande salto?
M - Além de Nildo, Thomaz e eu, compunham a
equipe técnica: Geraldo Tavares, serviços
jurídicos, Ney Fiúza e Luiz Caetano.
M – A situação nanceira melhorou bastante,
porque com a fundação da COELBA foi
aprovada uma Lei estadual que vinculava 5%
da arrecadação tributaria do Estado para a
COELBA, independente da Secretaria da (*4) Fazenda. Um coletor ao arrecadar Cr$ 100,00
de impostos era obrigado a depositar Cr$ 5,00
diretamente na conta da COELBA, senão era
autuado.
Professor Álvaro Leal Moreno fala sobre a carreira e criação da COELBA
Politécnica31 ENTREVISTA Professor Álvaro Leal Moreno fala sobre a carreira e criação da COELBA
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Diretor-presidente – Frederico Zucher
M – Sim. Em 1962 passamos a ocupar um
prédio na Rua do Pilar. Aí, já tínhamos três
andares. Em 1963 houve modicação na
diretoria da COELBA, esta passou a ter a
seguinte constituição:
Diretor Financeiro - Vespasiano
Participávamos das reuniões da Associação
Baiana dos Municípios e em todos os encontros
regionais tínhamos, sempre, um plano de
eletricação rural para a área.
O quadro funcional foi aumentando com
engenheiros formados na Escola Politécnica.
Esses encontros eram eminentemente
políticos, e eu não tinha esse tipo de
experiência, as vezes “tremia”, mas ia assim
mesmo. Essa atuação nos proporcionou apoio
da Câmara Estadual e dos prefeitos do interior.
A COELBA era bem considerada na Câmara
Estadual, tanto pela oposição quanto pela
bancada do governo. Normalmente, os
assuntos relacionados com a COELBA eram
aprovados por unanimidade.
Serrinha.
C – Nessa época a sede continuava a mesma?
Vice- presidente - Nildo PeixotoDiretor-técnico - Álvaro Moreno
Diretor-Comercial - Odulfo
Em 1964, novo aumento do quadro funcional
com engenheiros demitidos da Petrobrás:
Jorge Gonçalves, Afrânio de Carvalho Freire e
Joselí Viana.
M – Em 1965. Nessa época, já tínhamos um (*5) serviço de Volksvagens “pé de boi” , para
transportes leves.A partir do Roosevelt a
COELBA amplia sua área de atuação. A
partir do Roosevelt a COELBA amplia sua
área de atuação.
C - Quando a COELBA mudou-se para o
edifício Roosevelt?
C – Quando a COELBA assumiu os serviços
de Jequié?
M – Em 1962. O prefeito da cidade era Lomanto
Junior e esta nova área de atuação da COELBA
foi resultado de um dos encontros da
Associação Baiana dos Municípios. Nesse
encontro, após a nossa explanação o prefeito se
queixou que não havia recebido os benefícios
da COELBA. Conversamos e lhe pedi para
visitar o Sistema elétrico de Jequié, o que ele
aceitou. O Sistema era composto de 8(oito)
motor-gerador diesel, alguns em 50Hz e outros
em 60Hz. Perguntei-lhe se queria entregar o
serviço a COELBA. Sua resposta: “está
entregue”!. Ao que repliquei: está recebido!
Na volta à Salvador comuniquei o fato a Nildo.
Após expandimos nossas atividades para
Itapetinga, Encruzilhada e outros municípios,
entre os quais Senhor do Bonm e Juazeiro.
C – Como essa expansão se processou?
M – Trabalhávamos, não ocialmente, mas (*6) prossionalmente com os colegas do DERBA
Vieira, professor da Escola, conheceu nessa
época. Onde havia planejamento rodoviário
estabelecíamos plano de eletricação. Era
nossa tese que energia e transporte eram
fundamentais para a população, pois
proporcionavam condições de desenvolvimento
das atividades locais, pelas facilidades que a
energia aportava e pelo escoamento da
produção, proporcionado pelas estradas: dê
isso ao povo, o resto ele faz. Era o nosso
pensamento à época. Para ilustrar esse tipo de
Politécnica32 ENTREVISTA Professor Álvaro Leal Moreno fala sobre a carreira e criação da COELBA
C – Desculpe interrompê-lo, mas eu discordo.
Nessa época, “seguindo a tradição”, você
empregou mais um demitido da Petrobrás,
que fui eu (1968). Lembre-se que você me
instalou numa sala ao lado da sua (sala da
vice-presidência) e me deu o Código de Águas
para ler. Você, posteriormente, foi diretor de
operações.
C – Que outros fatos foram determinantes na
evolução da COELBA?
C – E quem fornecia Energia à COELBA?
(*7)M – A criação da Eletrobrás em 1961 , quando (*8)o ministro da área era Oliveira Brito , passamos
a contar com mais recursos, quer sob a forma de
nanciamentos, quer como participação
societária. Outro fato foi a absorção pela
COELBA da CERC (Centrais Elétricas do Rio de
Contas). Numa fase intermediária o engenheiro
Eunapio Peltier de Queiroz assumiu a
presidência das duas empresas e Nildo Peixoto
assumiu a Secretaria de Minas e Energia do
Estado. Ele foi o primeiro Secretario de Minas e
Energia. Isso ocorreu em 1964. Logo em seguida
houve a fusão das duas empresas. Com a
ascensão de Nildo a Secretário, Eunápio passou
a presidência e eu a vice-presidência.
Posteriormente, no governo Luis Viana (1967-
1971), assumiu a presidência o Dr. Adhemar
Torres Brandão, que foi professor da Escola.
Nessa época eu passei a diretor de operações.
ação, lembro que no dia em que foi inaugurada
a estrada asfaltada de Senhor do Bonm, foi
também inaugurada a eletricação da cidade.
M - O nosso supridor era basicamente a CHESF. O diálogo, inicialmente, era difícil, embora as pessoas fossem níssimas. A posição da CHESF, tecnicamente, era muito radical mas, no fundo, foi estabelecida uma boa convivência.
M – Outro fato importante foi a ascensão de (*9)Alberto Guimarães à presidência da COELBA,
ele preparou a fase de transição que, em seguida (*10)resultou na fusão da COELBA com a CEEB , sob
a presidência de Wilson Rocha.
C – Como era estruturado o curso de
engenharia elétrica à época?
M - Eu me formei em 11 de dezembro de 1958.
Em 1959, extra ocialmente cava, pela
manhã, duas vezes na semana na Escola.
Reunia os alunos e mostrava o que era
engenharia elétrica, a necessidade da Bahia e
do Brasil terem engenheiros eletricistas e,
parale lamente, o ferec ia-me para dar
explicações sobre o assunto de quaisquer
disciplinas do curso de engenharia.
C – Moreno, e quanto a Escola Politécnica?
M – Engenharia elétrica tinha três (3)
disciplinas e a opção era feita no quarto ano. A
disciplina do 4º ano era ELETROTÉCNICA
GERAL, ensinada pelo professor José Lourenço
de Almeida Costa. No quinto ano havia
MEDIDAS ELÉTRICAS E MAGNETICAS,
ensinada por João Duarte e APLICAÇÕES
INDUSTRIAIS DA ELETRICIDADE, ministrada
por Adhemar Torres Brandão. Até essa data
eram os engenheiros civis que se matriculavam
no quinto ano e cursavam Eletrotécnica Geral,
fazendo posteriormente as outras duas.
C – Quando ocialmente você começou a
ensinar na ESCOLA?
M – Iniciei minhas atividades docentes em 1960
como assistente de ensino de Medidas Elétricas e
Magnéticas. Nossa primeira luta foi a de conseguir
alunos para o curso de engenharia elétrica. Após
cada vestibular eu fazia palestra para os
calouros, mostrando o futuro da eletricidade no
Brasil.Não existia o departamento de Engenharia
Elétrica , éramos então subordinados ao
Departamento de Física, cujo chefe era o professor
Walter Porto, de quem sempre tivemos apoio.
Nossa primeira reinvidicação foi a do
desdobramento da disciplina Medidas Elétricas,
criando a disciplina TRANSMISSSÃO E
DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Essa
decisão veio de uma frustração muito grande com
a disciplina Aplicações Industriais da Eletricidade.
Um dia o professor Adhemar avisou que iria
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica33 ENTREVISTA Professor Álvaro Leal Moreno fala sobre a carreira e criação da COELBA
M – Começamos pelo desejável. O Departamento deve se preocupar dar ao engenheiro uma formação básica, sobretudo na área de circuitos elétricos (uma concepção bem geral e não o programa atual) e Matemática aplicada à engenharia. A necessidade que vejo desta formação é que, no Brasil, começa-se a dar preferência aos engenheiros que possuam mestrado ou doutorado. Para se fazer um mestrado ou doutorado, aquele que não conhece bem circuitos e matemática não conseguirá obter bom desempenho. No meu entendimento, no curso de graduação, devemos dar ênfase a parte teórica, limitando as práticas a xação dos conceitos teóricos. Hoje, por exemplo, acho que nosso curso tem muito de formação prossional especica. A disciplina Radio-Difusão é especica demais, ela tem assuntos importantes, mas não para o curso de Graduação. Ela poderia ser um item de outra disciplina, como Eletromagnetismo.
formavam vinham a ensinar inicialmente de graça. Alguns desses professores contratados, posteriormente, pelo departamento tornaram-se, ocialmente professores. Cursos de Mestrado e Doutorado, nem pensar! No Brasil não existiam cursos e era necessária a obtenção de bolsas no exterior, cujas ofertas se concentravam no eixo Rio – S. Paulo. Foram os alunos que construíram o departamento.
M – Prever o futuro é difícil, se eu soubesse jogaria na loteria. Mas, o que posso dizer é que durante muitos anos, eu não sei quantos, iremos necessitar de fontes geradoras, linhas de transmissão, subestações e redes de distribuição. Esses serviços não podem ser desenvolvidos sem o prossional de engenharia elétrica. Na área industrial, parece-me que a ênfase vai ser dada a área de controle e automação. Em menor grau, a área de pesquisa tecnológica. Nossas industrias ainda não fazem pesquisas, no entanto com privatizações, a aquisição de empresas nacionais por empresas estrangeiras, é bem possível que esta venha ser uma área de importância.
C – Como você vê a atual formação do
engenheiro e que formação seria desejável para
os anos futuros?
C – Em sua opinião, qual o futuro da prossão
engenheiro eletricista?
iniciar o estudo de Transmissão e Distribuição.
Nessa época eu era estagiário da CEEB e algum
fato me reteve na CEEB e eu não pude assistir o
inicio de Transmissão e Distribuição. Na aula
seguinte, o professor Adhemar começou a aula
falando sobre Iluminação e eu, então, perguntei ao
professor: o senhor nos disse que iria falar sobre
T & D e ele me respondeu... já dei na semana
passada. Isso me motivou a propor uma disciplina
de T & D. Contamos com o apoio de Walter Porto e
a disciplina foi criada em 1960 e eu fui seu
primeiro professor. Em 1961 z um curso de
especialização no ITA, na área de Circuitos de
Eletrônica Aplicada, concluindo o mesmo em
junho de 1962. Durante esse período Alberto
Guimarães assumiu a disciplina Transmissão e
Distribuição de Energia Elétrica. No meu retorno
ensinei ELETRÔNICA, disciplina que vinha a ser
c r i a d a e E L E T R O T É C N I C A G E R A L .
Posteriormente, viu-se a necessidade d disciplinas
CIRCUITOS ELETRICOS E MAGNETICOS e
conseguimos a criação desta disciplina. Fui,
então , pro fessor da mesma. Com o
desenvolvimento industrial da Bahia, sentimos a
necessidade da cadeira Maquinas Elétricas, que
foi, posteriormente, implantada.
C - Dentre os seus primeiros alunos, dos quais
você se recorda?
M – Após 37, anos não é fácil lembrar-me de todos
os alunos, lembro-me de Jayme Sarmento, Edson
Peixoto, Nelito, Armando, Gustavo Rocha, Lourival
Santana, Haroldo Lima, Paulo Mendes e outros.
M – Foi a mudança da estrutura universitária que criou os Institutos Básicos. Precisávamos de novas disciplinas, precisávamos criar laboratórios, precisávamos de professores. Tínhamos 4 a 5 alunos por ano, enquanto Física tinha cerca de 300 por ano, os quais precisavam, também, de recursos humanos e materiais. Como justicar com 4 ou 5 alunos recursos humanos e materiais? Posteriormente, zemos convenio com a COELBA em 1970, na época Cr$ 100.000,00. Com esses recursos compramos alguns equipamentos. Professores nós conseguíamos com alunos que se destacavam e quando se
C - Que fato marcou a estrutura universitária
após os primeiros anos de docência?
Politécnica34 NOTA TÉCNICA
Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Cristina de Abreu Silveira
Uma causa frequente de riscos associados a instalações elétricas está no envelhecimento
destas, associado principalmente ao ressecamento da isolação e à oxidação das partes
metálicas, além do desgaste e da deterioração de outros componentes.
Incêndios decorrentes de problemas elétricos em edicações tem se tornado uma preocupação
crescente nas grandes cidades, principalmente em função dos inúmeros fatores de risco que
eles agregam. Esses riscos poderiam ser potencialmente reduzidos através de ações pontuais
de manutenção que requerem a mobilização de todos os segmentos da sociedade, do poder público
e dos moradores e usuários dessas instalações.
Alertar a sociedade para a importância da manutenção preventiva e enumerar algumas
intervenções simples que podem minimizar esses riscos e evitar perdas patrimoniais e humanas
signicativas é a proposta dessa matéria: é absolutamente necessário que os usuários realizem
inspeções periódicas que assegurem a vida útil e o melhor desempenho dessas instalações.
Curtas do IPB
Introdução
Fatores de Risco
Figura 1: Quadros de distribuição antigos e componentes oxidados
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica35 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva
Alie-se a esses a idade do imóvel e a natureza de
sua atividade m; não raro as edicações,
independentemente de serem residenciais ou
n ã o , s o f r e m m o d i c a ç õ e s e m s u a s
características iniciais, sem que se considere
relevante avaliar a adequação da instalação
elétrica existente a essas mudanças.
Não raro residências unifamiliares se
transformam em estabelecimentos comerciais
- clínicas, escritórios, lojas, escolas, etc. que
necessitam de mudanças signicativas na
instalação elétrica e por esse motivo irão
requerer o cumprimento de normas técnicas, a
Incêndios causados por eletricidade têm geralmente sua origem no sobreaquecimento da ação
existente, seja por irregularidades no projeto da instalação (ou mesmo na inexistência dele), seja por
uso inadequado destas.
Esses problemas tornam-se ainda mais signicativos nas grandes cidades onde proliferam
construções informais com instalações elétricas clandestinas – os chamados “gatos” – e construções
verticalizadas densamente povoadas, nas quais se costuma negligenciar recomendações básicas de
segurança.
Avaliando a Instalação Elétrica
observância de procedimentos legais, como a
contratação de um prossional habilitado, a
emissão de uma ART e a emissão de um alvará
junto aos órgãos municipais, geralmente
negligenciados. Isso também se aplica à
transformação de garagens em pequenas lojas
de serviços e ocinas, feitas sem observância
dos normativos técnicos e dos requisitos legais.
Cada um desses elementos, aliado à falta da
manutenção preventiva - principalmente nas
instalações elétricas e hidráulicas das
edicações - podem resultar em curtos-circuitos
e evoluir para incêndios e desabamentos.
Figura 2: Edicações nas grandes cidades
A queima “rápida” de uma lâmpada pode ser
causada por defeito dela, mas se após a troca
Geralmente as instalações elétricas estão
embutidas nas paredes, pisos e forros das
edicações, o que impede o usuário vistoriá-la
diretamente. Entretanto, existem alguns fatos que
podem ser considerados indicadores de
problemas, a saber:
a. Queima frequente de lâmpadas
b. Água pingando dos pontos de luzEssa tem ocorrência eventual em forros após
lavagens de tanques de edifícios e mais
frequente diante da incidência de fortes
chuvas em telhados, podendo ocorrer em
desta por outra(s), o problema persistir, é provável
que haja alguma falha na isolação do circuito: na
ação ou no soquete. Se a conexão no soquete
estiver em ordem, o problema está na ação;
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica36 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva
toda e qualquer situação na qual haja a
penetração de água em eletrodutos ou em
seus pontos de ligação de cargas. Nesse caso
a intervenção não irá se restringir ao circuito
elétrico da edicação, mas também aos
elementos responsáveis pelo problema e
envolve obras de infraestrutura e/ou de
vedação na mesma.
Muito comum, principalmente no uso de
extensões domésticas. Se o condutor aquece
excessivamente, sua isolação é precária e
isso pode levar ao choque elétrico, com risco
de danos patrimoniais e risco de morte. O
ideal é evitar, ou minimizar o emprego
dessas extensões.
d. Aquecimento excessivo nos cabos de
conexão de aparelhos
A queima da isolação de circuitos por
sobreaquecimento, quando muito elevada,
exala um odor de borracha queimada, que
prenuncia uma falha mais severa, como um
curto-circuito. Em situações dessa natureza
e. Cheiro de borracha queimada (vulgo
“cheirinho de ampère”)
Figura 4: Tomadas com benjamins e inltrações de
parede
c. Bornes de tomadas ligeiramente
deformadas ou derretidos Ocorre basicamente por dois motivos: má qualidade
da tomada e/ou a ligação de aparelhos com
potência excessiva para o ponto. Um exemplo
clássico é o uso de ferro elétrico (1000W) em uma
tomada baixa (TUG) (100VA) instalada em um
circuito que já esteja bastante carregado.
Figura 3: Lâmpadas pingando água e borne de tomada queimado
Pratica usual sempre condenada é a utilização das tomadas tipo “benjamin” com uma grande quantidade de equipamentos ligados, que podem danicá-los e comprometer toda a instalação. Rever o projeto e adequar às necessidades do consumidor é a solução ideal.
g. Umidade ou cheiro de mofo em paredes
o ideal é retirar da tomada o provável agente
do problema e chamar um eletricista.
f. Excesso de aparelhos por tomada, usando conectores “T”
O cheiro de mofo e as manchas de umidade excessiva - principalmente nas paredes - traduz a presença de água represada nestas e pode, em médio prazo, vir a causar a pane de circuitos elétricos.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica37 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva
Atualmente os eletrodutos e caixas terminais
embutidas nas edicações não são feitas de
material condutor. São feitos de material
isolante, como o plástico (também conhecidos
como conduítes ou eletrodutos exíveis) e o
PVC. Nesse caso, não há como efetuar um
aterramento direto, como no caso do exemplo
anterior.
O dispositivo DR (Diferencial Residual) protege
as pessoas e os animais contra os efeitos do
choque elétrico por contato direto ou indireto
(causado por fuga de corrente): ao detectar
Para assegurar o aterramento efetivo das
instalações é necessário utilizar condutores de
terra por toda a instalação e interligá-los a
dispositivos DR no quadro de saída dos
circuitos, interligados aos medidores, de
acordo com o padrão de estrada instalado pela
concessionária no ponto de entrega.
h. Desligamento repentino de disjuntores
no quadroQuando isso ocorre, supondo que o dispositivo
não está com defeito, signica que está
havendo uma sobrecarga no circuito que foi
desligado: existem cargas ligadas a este ramal
que ultrapassam a capacidade de proteção do
disjuntor. Nesse caso o ideal é rever a
distribuição dessas cargas por circuito e
efetuar os ajustes necessários, de acordo com
as normas. É comum o usuário constatar o
desligamento e simplesmente religar o
disjuntor, restabelecendo o sistema: nesse
caso é comum que ele ignore que existe um
problema na instalação até o evento se repetir
ou o disjuntor deixar de operar. A mera
substituição do disjuntor pode não ser a
solução do problema.
Maus hábitos de consumo são grandes vilões e
agentes de acidentes e danos às instalações
elétricas, difíceis de serem modicados.
Entretanto, algumas dicas podem ser úteis
para que estes sejam minimizados e as
instalações se tornem mais seguras. Por
exemplo:
i. Hábitos de Consumo
Prevenção como agente redutor de riscos
Figura 1: Quadros de distribuição antigos e componentes oxidados
Ÿ Ainda em relação a cozinhas, não usar
tomadas que estejam molhadas: é comum
existirem tomadas instaladas próximas a
pia.
Ÿ Não utilizar extensões, adaptadores e
tomadas superpostas na alimentação de
circuitos que permaneçam ligados por
muito tempo ou que supram muitas cargas
simultaneamente. Vale ressaltar que o uso
da extensão como prolongamento de um
circuito não é um problema, desde que seja
considerada a adequação da seção do
condutor à sua aplicação e os critérios de
carregamento do circuito.
Ÿ Não ligar vários equipamentos em uma
mesma tomada, seja através de um
benjamin, seja através de uma extensão ou
de uma régua.
Ÿ Nunca utilizar aparelhos elétricos com as
mãos molhadas: esse é um hábito comum
nas cozinhas e que pode resultar em choque
elétrico e levar a vítima a óbito.
Ÿ Sempre que houver inltração ou água
minando de circuitos elétricos, evite usá-
los e procure logo um eletricista para
avaliar o problema.
Um aspecto fundamental a ser
cons ide rado para uma ma io r
segurança nas instalações elétricas
das edicações é avaliar o estado geral da
ação e a adequação desta ao perl das cargas
e aos hábitos de consumo de seus usuários. A
instalação pode parecer perfeita vista de fora,
mas pode haver problemas nas ações
embutidas, principalmente decorrentes de
rupturas na isolação dos condutores ou da
instalação de um número excessivo deles nos
eletrodutos, em desacordo com a norma.
É preciso também car atento à idade da
edicação, pois se ela for muito antiga, seus
eletrodutos, caixas terminais e pontos de luz
são feitos de ferro e, nesse caso, o antigo
“hábito” de aterrar o chuveiro e as cargas de
cozinha nos parafusos ou diretamente nas
caixas até funciona.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica38 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva
b. Circuitos de alimentação de tomadas que
a. Circuitos de alimentação de cargas de
chuveiro ou banheira;
uma fuga de corrente na instalação, o DR
desliga imediatamente o circuito no qual está
inserido. De acordo com a NBR 5410, a
instalação do DR é obrigatória desde 1997
nos seguintes casos:
Figura 6: Exemplos de circuitos com Dispositivos DR (detectores de corrente de fuga) instalados
d. Circuitos de alimentação de cargas de
cozinhas, copas, lavanderias, áreas de serviço,
garagens e demais dependências normalmente
molhadas ou laváveis.
são externas à edicação;
c. Circuitos de alimentação de tomadas inter-
nas que venham a ser utilizadas para suprir
cargas na área externa à edicação;
Figura 5: Norma técnica NBR-5410 e Dispositivos DR (Diferencial Residual)
Na gura 6 são mostrados dois exemplos de circuitos com utilização do dispositivo diferencial
residual DR.
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica39 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva
Para treinar A prevenção e a eciência energética
Muitos acidentes poderiam ser evitados,
principalmente no âmbito da energia elétrica se
a sociedade tivesse a cultura da prevenção
arraigada em seus hábitos. Como não há, seria
interessante que o poder público estabelecesse
a obr igator iedade de a lgumas ações
preventivas mediante contrapartidas e
assumisse, dessa forma, sua parcela de
responsabilidade em ocorrências, buscando
minimizá-las.
Com relação à participação do CREA-BA nesse
processo, uma excelente proposta seria
através de ações da Engenharia Pública
solidicada, apta a atuar nas comunidades
carentes e de baixa renda, favelas e invasões,
independentemente do porte do município e de
seus recursos. As parcerias com empresas,
entidades e instituições também é muito bem
vinda e poderia ser estimulada através de um
programa de incentivos ou de uma política de
contrapartidas e benefícios.
O risco de incêndios decorrentes da precarie-
dade das instalações elétricas ou de seu mau
uso tem um custo extremamente elevado,
principalmente se comparado ao custo de
implantação de um Programa de Manutenção
Preventiva.
Em muitos casos essas intervenções são
caracterizadas como Retrot e promovem a
melhoria do desempenho energético da instala-
ção, reduzem as perdas e os desperdícios de
energia, além de serem rapidamente perceptí-
veis em edicações coletivas condominiais. Os
retrots adequam as instalações ao perl das
novas cargas, promovem a eciência energética
e podem resultar em uma redução no consumo
de energia de até 30% em relação ao consumo
anterior.
Sob a perspectiva da Eciência Energética,
ações de retrot em edicações multifamiliares
e condominiais consideram geralmente:
Ÿ Avaliação da envoltória da edicação,
inclusive visando a utilização de iluminação
e ventilação natural;Ÿ Substituição de sistemas de iluminação,
cargas elétricas e aparelhos de condiciona-
mento de ar antigos por equipamentos
ecientes, mais econômicos, etiquetados de
acordo com o Programa Brasileiro de
Etiquetagem (PBE), regulamentado pelo
INMETRO;Ÿ Implantação de sistemas de aproveitamento
da água de chuva e de reaproveitamento da
água utilizadas nas unidades autônomas
para outros ns (jardins, por exemplo);Ÿ Instalação de sistemas energéticos solar
térmico ou fotovoltaico para redução do
consumo de energia elétrica, entre outras.
Ÿ Redistribuição dos circuitos e das cargas
existentes, buscando obter um consumo
mais balanceado para a instalação;
Ÿ Substituição da ação antiga por novos
condutores;
Figura 7: Eciência Energética - Instalações aparentes e Novas Tecnologias: eletrotas
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica40 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva
Ÿ Ações mais proativas das engenharias, princi-
palmente no âmbito da Engenharia Pública;
Ÿ Ações das Entidades e Instituições: divulgação,
parcerias, capacitação e principalmente,
participação ativa nos programas em prol do
Todo;
A Engenharia precisa se tornar mais atuante na
vida e no dia a dia da sociedade, recuperar seu
espaço e obter seu reconhecimento por questões
mais assertivas, e não apenas – negativamente -
quando da ocorrência de alguma catástrofe: a
queda de um edifício, de uma barragem, de um
viaduto, de um avião ou de uma encosta; uma
inundação, um incêndio, um apagão.
Ÿ Ações das Concessionárias e empresas
prestadoras de serviços: na orientação de seus
usuários, no estímulo à prevenção;
O que esperar, portanto, para um futuro próximo?
Ÿ Ações do Usuário: uso correto e mais eciente
dos recursos energéticos à sua disposição.
Responsabilidade e participação no bem-estar
público.
Ÿ Ações de Estado visando fomentar o desenvol-
vimento sustentável: saneamento básico, água
potável, energia elétrica, compromisso; ou
ainda, estabelecendo bases legais para a
Manutenção Preventiva, ou penal, no caso de
acidentes com vítimas;
Introdução
A eciência energética – multidisciplinar e fortemente comprometida com a sustentabilidade – não se
restringe a intervenções no âmbito da eletricidade, mas recomenda ainda ações visando o uso
racional da água, a criação de espaços verdes, o uso de automação nas edicações, como estabelecido
nos Regulamentos do PBE e nos diversos segmentos do PROCEL: saneamento, indústria, educação,
setores públicos, edicações, indústria, disponibilizados a todos os interessados e ao público em
geral em sua página na web .http://www.procelinfo.com.br
Também é preciso car atento aos sinais:
mudanças climáticas que elevam temperaturas
e reduzem níveis de umidade. Áreas verdes
substituídas por concreto e asfalto nas grandes
cidades. Poluição, mobilidade urbana compro-
metida e falta de compromisso do poder público
com a qualidade de vida dos cidadãos.
A Etiquetagem das Edicações no Brasil já está
regulamentada para prédios públicos – novos
ou retrots – e daqui a alguns anos deverá ser
obrigatório para os segmentos comercial,
serviços e residencial, a exemplo do que já
ocorre em outros países.
Do ponto de vista humano, os custos e benefíci-
os da boa prática da Manutenção Preventiva
não se comparam às perdas patrimoniais e de
vidas que costumam vir atreladas a estes casos,
nem aos custos ambientais e sociais que
impactam toda a sociedade. Anal, prevenir é
sempre a melhor alternativa para gerenciar os
riscos e o custo de evitar acidentes e prevenir
defeitos é muito menor que o custo da ocorrên-
cia deles e seus impactos.
Nenhuma das iniciativas propostas trará o
resultado esperado se não houver a conscienti-
zação de seus usuários, seja pela mudança nos
hábitos, seja pela criação de um programa de
orientação com relação aos cuidados e ao uso
correto de equipamentos e suas instalações.
Figura 8: Selos de Eciência Energética - Etiquetagem em
Edicações
Cristina de Abreu Silveira, Engenheira Eletricista com Mestrado em Automação e Doutorado em Processamento de Energia. Professora do Curso de Engenharia Industrial Elétrica no IFBA – Campus Salvador – Conselheira do IPB e Coordenadora Adjunta da Câmara Especializada em Engenharia Elétrica do CREA-BA – E-mail: caabreu@gmail.com
Sobre a autora
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica41 NOTÍCIA
Recursos Hídricos: Fórum presta homenagem ao Prof. Newton Hart
Agenda de Desenvolvimento Bahia 2019 prestou homenagem ao prof. Newton Hart C. Lima
Aque deu nome ao fórum de discussões sobre Recursos Hídricos, Saneamento e
Desenvolvimento. O evento foi realizado no Espaço Arlindo Fragoso, na Escola Politécnica da
Universidade Federal da Bahia, no dia 21 de março e fez parte dos eventos comemorativos dos 122
anos da Escola Politécnica. Conra a galeria de fotos!
Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896
Politécnica42 NOTÍCIA Recursos Hídricos:
Fórum presta homenagem ao Prof. Newton Hart
Galeria Fórum Prof. Newton Hart
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