boletim de informação em saúde bis
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Boletim de Informação em Saúde – BIS
ANO III – Número 001 – Publicação Setembro/2020
Perfil Epidemiológico da Mortalidade por Suicídio e Violência
Autoprovocada (tentativa de suicídio) no Estado do Piauí, entre 2018 a 2020.
TERESINA/PI
SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO PIAUÍ – SESAPI
DIRETORIA DE VIGILÂNCIA E ATENÇÃO EM SAÚDE – DUVAS
COORDENAÇÃO DE EPIDEMIOLOGIA
COORDENAÇÃO DE ANÁLISE, DIVULGAÇÃO DE SITUAÇÃO E
TENDÊNCIA EM SAÚDE – CADTS
JOSÉ WELLINGTON BARROSO DE ARAÚJO DIAS
Governador do Estado do Piauí
FLORENTINO ALVES VERAS NETO
Secretário de Estado da Saúde do Piauí
HERLON CLISTENES LIMA GUIMARÃES
Superintendente de Atenção Integral à Saúde – SUPAT
CRISTIANE MARIA FERRAZ DAMASCENO MOURA FÉ
Diretoria de Unidade de Vigilância e Atenção Saúde – DUVAS
ZENIRA MARTINS SILVA
Coordenação de Análise, Divulgação de Situação e Tendência em Saúde
FRANCISCA PEREIRA DAS NEVES LEARTE
Supervisora do SIM/SINASC
MARIA AMÉLIA DE OLIVEIRA COSTA
Coordenação de Epidemiologia
MARIA MÁRCIA PEREIRA DE ARAÚJO
Supervisora do SINAN
MALENA GONÇALVES ALMEIDA
Supervisora DANT’S
ORGANIZADORES DESTA EDIÇÃO: Mortalidade
Zenira Martins Silva
Marylane Viana Veloso
ORGANIZADORES DESTA EDIÇÃO: Tentativas de Suicídio
Maria Márcia Pereira de Araújo
Malena Gonçalves Almeida
Maria Amélia de Oliveira Costa
ELABORAÇÃO DESTA EDIÇÃO: Mortalidade
Zenira Martins Silva
Marylane Viana Veloso
Irisnalda Meneses da Silva Costa
ELABORAÇÃO DESTA EDIÇÃO: Tentativas de Suicídios
Maria Márcia Pereira de Araújo
Malena Gonçalves Almeida
Maria Amélia de Oliveira Costa
Introdução
A definição para o suicídio se refere ao ato de encerrar a própria vida. Esse
encerramento ocorre após tentativas por lesões não fatais autoprovocadas ou
intoxicações intencionais1. Essas lesões são subdivididas em comportamento suicida
não fatais e suicidas. Nos primeiros, ocorrem a ideação suicida (pensamentos),
tentativas de suicídio e plano suicida; na segunda o suicídio propriamente dito e em
autoagressão (englobando atos de automutilação, arranhaduras, cortes, mordidas e
amputação de membros)2.
Os fatores de risco mais importantes são as tentativas prévias, que expressam a
tragédia pessoal diante de um contexto de sofrimento sem aparente superação, e que
atinge níveis insuportáveis para a continuidade da vida, afetando de forma irreparável, a
família e a sociedade.
Para a saúde pública, o suicídio representa um grave problema que afeta o curso
de vida individual e social. Constitui um evento que vem aferindo grande visibilidade,
mobilizando a preocupação de todas as instâncias do poder público, demandando ações
concretas de prevenção em todos os níveis da administração pública, fundamentados
estatísticas alarmantes distribuídas em todo planeta.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) quase 1 bilhão de pessoas
vive com transtorno mental e 800 mil morrem por suicídio todos os anos - uma a cada
40 segundos em todo mundo. Aproximadamente 1 milhão de pessoas morrem por
suicídio anualmente, o que já superando as mortes por suicídio e pelas guerras, sendo
79% dos casos concentrados nos países de baixa e média renda³. Representa o segundo
lugar em causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos em todo mundo, sendo três vezes
maior em homens em países de alta renda, e proporcionalmente igual entre homens e
mulheres de países de baixa ou média renda4 .
Mesmo com a taxa global de óbitos em queda de 9,4%, no Brasil houve aumento
em 7% por 100 mil habitantes, em 2016. Em 2019, a faixa etária de 20 a 39 anos esteve
entre as cinco primeiras causas de morte no país4. E dentre os meios, destacaram-se o
enforcamento e as intoxicações exógena5. Em relação às tentativas, em dez anos 46,7%
foram por intoxicação exógena, das quais 69,9% foram no sexo feminino e 30,1% no
masculino4. Em 2016, o Piauí figurava em primeiro lugar, entre os estados brasileiros
com maior taxa de mortalidade padronizada por suicídio entre homens (16/100mil
habitantes), e segundo entre mulheres (4,6/100mil habitantes) 4
.
A notificação tem por objetivo vincular as vítimas de suicídio aos serviços de
saúde, como forma de intervenção em saúde mental e prevenção de novas ocorrências.
Em geral, suicídios, tentativas e autoagressões são subnotificados, mesmo em países
com bons sistemas de informação. Segundo a OMS6 existem evidências de que apenas
25% dos que tentam se matar, entram em contato com hospitais, chegando aos serviços
apenas os casos graves e sendo tratados apenas de forma emergencial.
Segundo a Portaria do Ministério da Saúde7
nº 1.271/2014, a tentativa de
suicídio passou a ser um agravo de notificação obrigatória e imediata, devendo a
notificação ser feita para o nível central em até 24 horas. O início do cuidado com a
pessoa também deve ser imediato, com recebimento de acompanhamentos de
emergência necessários, bem como acolhimento e seguimento na Rede de Saúde
Mental8.
Nesse contexto, o presente Boletim de Informação em Saúde (BIS) tem como
objetivo dá visibilidade aos dados sobre o suicídio no Estado do Piauí, tanto da
mortalidade por suicídio registrado no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM),
no período nos anos de 2018 e 2019, como dos casos de lesões autoprovocadas e
tentativas registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no
período de 2018 a junho de 2020 no Piauí e suscitar reflexões, discussões, prevenções e
apoio aos atores sociais engajados na prevenção.
Metodologia
Foi realizada uma análise descritiva dos dados sobre suicídio, que segundo a
Classificação Internacional das Doenças (CID-10) constituem as lesões autoprovocadas
intencionalmente, definidas no capítulo XX com os códigos X60-X84. Os dados foram
extraídos do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) junto a Coordenação de
Análise, Divulgação de Situação e Tendência em Saúde da SESAPI, nos anos de 2018 e
2019. Os dados sobre as tentativas de suicídio, foram obtidos junto ao Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN), junto a Coordenação de
Epidemiologia da SESAPI.
Foram calculadas as taxas brutas de mortalidade por sexo e idade em 2018 e
2019, considerando no denominador a estimativa da população residente para 2018 e
2019 no Estado do Piauí (dados obtidos no site DATASUS, referente aos dados
preliminares) por 100 mil habitantes. As variáveis selecionadas foram: regiões de saúde
(Cocais, Carnaubais, Entre Rios, Vale do Sambito, Vale do Rio Guaribas, Vale do
Canindé, Serra da Capivara, Vale do Rio Piauí Itaueiras, Tabuleiros do Alto Parnaíba,
Chapada das Mangabeiras e Planície Litorânea), sexo (masculino/feminino), faixa etária
(10-19, 20-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-69, 70 anos ou mais), escolaridade por anos (0-
3, 4-7, 8-11, 12 ou mais, ignorado, não informado), raça/cor(branca, negra, amarela, não
informada), situação conjugal ( solteiro/separado, casado, não informado, ignorado),
meios utilizados (enforcamento, intoxicação exógena, arma de fogo e outros), por local
de ocorrência (hospital, domicílio, via pública e outros). Foram calculadas: a taxa bruta
específica por suicídio por 100 mil habitantes; e, as proporções das demais variáveis.
Das tentativas de suicídio, foram calculadas as proporções por condições
sociodemográficas, tipos do meio utilizado para a prática do ato, município de
residência e informante do evento. Todas as análises foram comparadas às de outras
regiões do país, como também a períodos anteriores no estado do Piauí.
Os dados foram tabulados no Tabwin e exportados para planilha eletrônica
Excel, para realização dos cálculos necessários. As taxas foram calculadas com base
nas estimativas de população pelo Ministério da Saúde/SVS/DASNT/CGIAE.
Resultados
Perfil dos óbitos por suicídio informados no Sistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM) nos anos 2018 e 2019.
No Estado do Piauí, entre 2018 e 2019, ocorreram 651 registros de óbitos por
suicídio no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Desses, 76,5% ocorreram
no sexo masculino e 23,5% no feminino. A taxa bruta de mortalidade específica por
suicídio foi de 10 óbitos por 100.000 habitantes, sendo discretamente maior em 2018
(10,1/100.000 hab.), mostrados na Figura 1. Segundo dados do SIM- Estadual, dentre
as mortes violentas no Estado do Piauí, o suicídio ocupou a terceira causa de morte com
14,8%, homicídios (26,19%) e acidentes (58,0%).
Masculino Feminino Geral
2018 15,3 5,2 10,1
2019 16,1 3,9 9,8
15,3
5,2
10,1
16,1
3,9
9,8
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
18,0
Taxa
de
Mo
rtal
idad
e/1
00
mil
hab
A taxa bruta de mortalidade nos dois anos analisada, do sexo masculino foi
(15,7/100.000 hab.) e das mulheres (4,5/100.000 hab.), com risco 3,4 vezes maior entre
os homens, quando comparado às mulheres. Entre 2018 e 2019 houve aumento de 8,3%
nos óbitos do sexo masculino.
Figura 1: Taxa Bruta de Mortalidade Específica por suicídio, segundo sexo, Piauí, 2018
e 2019.
Fonte: SESAPI/DUVAS/ CADTS/SIM
Os dados da Tabela 1 indicam que do total de óbitos por suicídio, 72,2%
ocorreram no sexo masculino entre adultos jovens (20 a 59) e 20% entre os idosos (60
anos ou mais). Mostra ainda, 14,4% dos óbitos femininos ocorreram nas adolescentes
(10 a 19) e 19,6% na faixa etária de 40 a 49 anos.
Em relação à escolaridade, 59,2% dos óbitos no sexo masculino, concluiu menos
de 07 anos de estudo, enquanto 49%, ocorreram no sexo feminino com mais 8 anos de
escolaridade. O peso do suicídio em homens negros foi de 73,4% e nas mulheres
brancas 30,1%. O suicídio também atingiu 53,5% dos homens solteiros, viúvos e
separados; e nas mulheres foi de 60,1%, com mesmo estado civil.
Tabela 1: Caracterização dos óbitos por suicídio no Estado do Piauí, segundo condições
socioeconômicas, no período de 2018 e 2019.
Variáveis Masculino Feminino
n % n %
Faixa etária
10 a 19 anos 39 7,8 22 14,4
20-29a 120 24,2 34 22,2
30-39a 109 22,0 24 15,7
40-49a 73 14,7 30 19,6
50-59a 56 11,3 17 11,1
60-69a 55 11,1 15 9,8
70 anos e + 44 8,9 11 7,2
Total 496 100,0 153 100,0
Escolaridade
Nenhuma 73 14,7 15 9,8
0 a 3 anos 129 26,0 25 16,3
4 a 7 anos 92 18,5 28 18,3
8 a 11 anos 108 21,7 49 32,0
12 e+ 38 7,6 26 17,0
Ignorado 52 10,5 9 5,9
Não Informado 5 1,0 1 0,7
Raça/cor
Branca 100 20,1 46 30,1
Negra (Preta + Parda) 365 73,4 104 68,0
Amarela 1 0,2 0 0,0
Não informado 31 6,2 3 2,0
Estado civil
Solteiro, Viúvo e Separado 275 55,3 92 60,1
Casado e União estável 186 37,4 57 37,3
Não Informado 26 5,2 3 2,0
Ignorado 10 2,0 1 0,7 Fonte: SESAPI/DUVAS/ CADTS/SIM
Apesar da distribuição dos óbitos por suicídio ocorrer em todas as regiões do
Estado, a densidade demográfica do Piauí é maior nas regiões centro-norte, daí a
concentrar maior número de óbitos nessas regiões, como mostra o mapa da figura 2.
Figura 2: Distribuição geográfica dos registros de óbito por suicídio no Estado do
Piauí, entre 2018 e 2019
Total de Municípios: 150
(67% dos municípios) 2018
/ 2019
Nº de Municípios = 224
Total geral de óbitos = 651
Taxa Bruta de Mortalidade
Específica Suicídio: 10
óbitos/100mil hab.
Fonte: SESAPI/DUVAS/ CADTS/SIM
Entre os anos de 2018 e 2019, o Estado do Piauí registrou 651 óbitos por
suicídio. Destes 37,9% ocorreram na Região de Saúde Entre Rios, 16,4% no Vale do
Rio Guaribas, e em menor proporção, 1,7% ocorreu na Região dos Tabuleiros do Alto
Parnaíba, mostrado na Tabela 2.
Tabela 2: Proporção de registro de óbitos por suicídio nas Regionais de Saúde do Piauí,
no período de 2018-2019.
Fonte: SESAPI/DUVAS/ CADTS/SIM
Em 2018, 108 municípios informaram óbitos por suicídio, e em 2019 foram 109.
Considerando os dois anos, 61 municípios informaram óbitos por suicídio. Esses
municípios, responderam por 73,3% dos registros do total dos óbitos, mostrados na
Figura 3.
Os municípios que apresentaram o maior número de óbitos por suicídio nos dois
anos entre 2018 e 2019 foram: Teresina, Parnaíba, Altos, Campo Maior, Piripiri, São
Raimundo Nonato e São João do Piauí.
Região de Saúde 2018 2019 Total
Nº % Nº % Nº %
Região dos Cocais 29 8,8 30 9,3 59 9,1
Região dos Carnaubais 16 4,8 17 5,3 33 5,1
Região do Entre Rios 123 37,3 124 38,6 247 37,9
Região do Vale do Sambito 8 2,4 23 7,2 31 4,8
Região Vale do Rio Guaribas 52 15,8 55 17,1 107 16,4
Região do Vale do Canindé 18 5,5 9 2,8 27 4,1
Região da Serra da Capivara 21 6,4 11 3,4 32 4,9
Região do Vale dos Rios Piauí e
Itaueiras 18 5,5 25 7,8 43 6,6
Região Tabuleiros do Alto
Parnaíba 6 1,8 5 1,6 11 1,7
Região da Chapada das
Mangabeiras 16 4,8 5 1,6 21 3,2
Região da Planície Litorânea 23 7,0 17 5,3 40 6,1
Total 330 100 321 100,0 651 100,0
Figura3: Distribuição dos óbitos por suicídio nos municípios do Piauí, nos anos 2018 e
2019, informados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)
Fonte:
SESAPI/DUVAS/ CADTS/SIM
Em relação ao local de ocorrência
dos óbitos, merece atenção o domicílio com
73% das ocorrências (Figura 4). Essa é uma
questão importante, pois é nesse espaço que os indivíduos convivem com os demais
membros da família, vizinhos e amigos. Em geral, o comportamento suicida é pouco
percebido pelas pessoas que convivem, isso revela que o sofrimento psíquico que
antecede o evento suicida é silencioso, o que impede ações de proteção de prevenção.
Outro aspecto relevante refere-se ao impacto que o suicídio causa sobre a família e a
comunidade em geral, deixando no tempo marcas inapagáveis/ insuperáveis.
Figura 4 - Distribuição Percentual de óbitos por suicídio, segundo local de ocorrência,
Piauí, 2018 e 2019.
Fonte: SESAPI/DUVAS/ CADTS/SIM
9%
73%
4% 13%
1%
Hospital
Domicílio
Via publica
Outros
Ignorado
Os dados evidenciaram que 78,5% dos óbitos por suicídio foram perpetrados por
enforcamento em ambos os sexos. Entre as mulheres, a intoxicação exógena ocupou a
segunda posição (15,7%), no sexo masculino a arma de fogo com 10,1%. Já a
intoxicação exógena respondeu por 7,8% do total dos óbitos informados em 2018 e
2019. Em relação ao agente tóxico, 31,4% foram por medicamentos, 41,2% por
pesticidas e 23,5% por outros produtos químicos de substâncias não especificadas
(Tabela 3).
Quanto a variável outros, destacaram-se as precipitações de lugares elevados
com 41,2% do total e os afogamentos com 31,2% (Tabela 3).
Tabela 3: Meios utilizados nos óbitos por suicídio no Estado do Piauí, no período de
2018 a 2019.
Fonte: SESAPI/DUVAS/ CADTS/SIM
*Outros: Afogamentos e lesões intencionais precipitadas em lugar elevado.
Resultados das Lesões Autoprovocadas
Perfil das lesões autoprovocadas e tentativas de suicídio registradas no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan) no período de 2018 a 2020.
Observou-se uma tendência de aumento das notificações de tentativas de
suicídio entre 2018 e 2019 e uma redução, segundo proporcionalidade, no ano de 2020,
provavelmente consequência da Pandemia do vírus Sars cov2 agente etiológico da
doença Covid-19, que deixou as atenções da Vigilância Epidemiológica dos Municípios
voltadas, prioritariamente, para o enfrentamento da Covid-19, segundo analise das
fichas de Notificação de violência no SINANET.
No estado do Piauí, foram 2.273 casos de tentativas de suicídio no sexo
feminino dos 3757 totais, confirmando estatísticas nacionais de que as mulheres são
Variáveis Masculino Feminino
n % n %
Meios utilizados
Enforcamento 402 80,9 108 70,6
Intoxicação exógena 27 5,4 24 15,7
Arma de fogo 50 10,1 5 3,3
Outros* 18 3,6 16 10,4
Total 497 100,0 153 100,00
938
1297
338 383
611
190
2018 2019 2020
FEMININO MASCULINO
mais expostas, devido a sobrecarga de atividades e responsabilidades assumidas,
próprias da condição de gênero, desigualdades sociais que situam a mulher no centro da
desvantagem economica financeira, violências domésticas, sexuais e urbanas que
influenciam no surgimento de transtornos mentais/psicoses e sofrimentos diversos além
das exposições ambientais que também afetam os homens9.
Figura 1: Distribuição do número de notificações de lesões autoprovocadas no Piauí,
segundo ano de notificação no período de 2018 a 2020*.
Fonte: SESAPI / Coordenação de Epidemiologia/ SINAN NET *Dados obtidos até 30/06/2020
Figura 2. Distribuição do número de notificações de violência autoprovocada no Piauí,
segundo sexo, no período de 2018 a 2020*.
4002
5189
1384 1321
1908
528
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
2018 2019 2020
violencia lesões
2%
69%
13%
16%
ARMA DE FOGO
ENVENENAMENTO
ENFORCAMENTO
OBJETO PERF.CORTANTE
Fonte: SESAPI / Coordenação de Epidemiologia/ SINAN NET *Dados obtidos até 30/06/2020
Figura 3. Distribuição do número de notificações de violência autoprovocadas segundo
o meio de utilização para execução, no período de 2018 a 2020*/ Piauí.
Fonte: SESAPI / Coordenação de Epidemiologia/ SINAN NET *Dados obtidos até 30/06/2020
Do total de 3.352 notificações de violência autoprovocada e cujo campo “ meio
utilizado” foi preenchido, 2.312 (69%) foram por envenenamento; 535 (16%) foram por
objeto pérfuro-cortante ; 450 (13%) utilizaram como meio para a tentativa de suicídio, o
enforcamento; e 57 (2%) usaram arma de fogo entre os meios mais utilizados (Figura
03).
Tabela 1. Características sociodemograficas dos casos de violencia autoprovocada por
ano, piauí, 2018 a 2020*.
Quanto às características sociodemográficas (Tabela 1), a violência
autoprovocada predominou nos indivíduos de raça/cor parda, 2.144 (57,06%) casos
seguida pela cor branca com 462 (12,29%). O número de notificações com
preenchimento de Ign/branco (898 notificações, 23,90%) é alta, o que pode levar a
LOCAL DE OCORRENCIA 2018 2019 2020 TOTAL
Ign /Branco 194 351 80 625
Residência 1048 1402 409 2859
Habitação Coletiva 2 14 3 19
Escola 5 18 3 26
Local de pratica esportiva 1 3 1 5
Bar ou Similar 8 7 2 17
Via pública 31 65 17 113
Comércio/Serviços 9 18 0 27
Indústrias/construção 0 1 1 2
Outros 23 29 12 64
TOTAL 1321 1908 528 3757
ESCOLARIDADE 2018 2019 2020 TOTAL
Ign/Branco 606 803 226 1635
Analfabeto 15 27 4 46
Ensino Fundamental Incompleto 236 315 94 645
Ensino Fundamental Completo 47 73 23 143
Ensino Médio Incompleto 133 258 56 447
Ensino Médio Completo 154 204 59 417
Educação Superior Completa 61 107 19 187
Educação Superior Completa 37 66 24 127
Não Se Aplica 32 55 23 110
TOTAL 1321 1908 528 3757
SITUAÇÃO CONJUGAL 2018 2019 2020 TOTAL
Ignorado,Branco 364 474 121 959
Solteiro 587 923 259 1769
Casado/União Consensual 256 364 99 719
Viúvo 11 13 4 28
Separado 44 44 11 99
Nao se Aplica 59 90 34 183
TOTAL 1321 1908 528 3757
RAÇA/COR 2018 2019 2020 TOTAL
Ign/Branco 322 481 95 898
Branca 149 254 59 462
Preta 73 126 34 233
Amarela 16 23 5 44
Parda 759 1020 335 2114
Indigena 2 4 0 6
TOTAL 1321 1908 528 3757
DISTRIBUIÇÃO SOCIODEMOGRAFICA DOS CASOS DE VIOLENCIA AUTOPROVOCADA POR ANO, TERESINA/PI, 2018 A 2020.
Fonte: SINAN NET/ Coordenação de Epidemiologia/SESAPI *Dados obtidos até 30/06/2020
análises incorretas de um indicador importante. Da população notificada, 959 (25,52%)
casos não declararam sua situação conjugal e 1.769 (47,08%) se declararam solteiros.
No que tange à escolaridade, o maior percentual foi de ensino fundamental incompleto,
com 17,16%. Ressalta-se o percentual de ignorados/branco neste quesito (43,51%) e
2,92% registraram “não se aplica”.
Com relação ao local da ocorrência, evidencia-se que a maior parte dos
casos de violência autoprovocada notificados (76,09%) ocorreu na própria residência
das vítimas. Nota-se um número expressivo de notificações denominado outros e não
classificados , como casa de parentes, amigos, clubes, instituições, sendo o segundo
maior local de notificações do ato violento com 64 (1,70%) registros. Seguido por 113
(3%) onde a tentativa ocorreu em vias públicas.
Tabela 2. Distribuição dos casos de violência interpessoal/autoprovocada segundo faixa
etária e sexo e ano, no período de 2018 a 2020*, no Piauí.
Adolescentes, adultos jovens e adultos (dos 15 aos 49 anos) representam o
público mais vulnerável e com maior índice de notificação nos três anos estudados,
apresentando 1.130 notificações no ano de 2018, 1.585 notificações em 2019 e 428
notificações em 2020, até a data de exportação dos dados(14/07/2020). Observa-se que,
nas faixas etárias citadas, há uma predominância pela ocorrência no sexo feminino em
todos os anos. Outra questão a ser notada é o fato de que o número de notificações de
violência autoprovocada na faixa etária entre 10 a 14 se manteve maior que as faixas
etárias entre 50 a mais de 80 anos. Indicando que cada vez mais cedo, e pré-
adolescentes têm praticado tal violência.
FEMININO MASCULINO TOTAL FEMININO MASCULINO TOTAL FEMININO MASCULINO TOTAL
66 13 79 106 25 131 31 3 34
250 67 317 345 117 462 74 33 107
375 175 550 504 248 752 141 84 225
182 81 263 233 138 371 62 34 96
37 18 55 63 37 100 17 15 32
9 5 14 9 15 24 2 6 8
3 4 7 2 1 3 6 1 7
922 363 1285 1262 581 1843 333 176 509
Fonte: SINAN NET/ Coordenação de Epidemiologia/SESAPI *Dados obtidos até 30/06/2020
TOTAL
2018FAIXA ETÁRIA
15 A 10
20 A 34
35 A 49
50 A 64
65 A 79
80 E+
10 A 14
2019 2020
45 47 114 128 176 454 460
1858
3282
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Tabela 3. Distribuição dos casos de violência interpessoal/autoprovocada segundo o
meio de utilização por sexo e ano.piauí, 2018 a 2020*.
Quanto ao meio utilizado observa-se que o envenenamento, em todos os anos
estudados, manteve-se como o meio mais utilizado e que o sexo feminino é o que mais
faz uso desse meio. Em segundo lugar, encontra-se o enforcamento seguido de objeto
perfurocortante. Ao se analisar o uso de arma de fogo como meio utilizado para a
tentativa de suicídio, observa-se que, em todos os anos analisados neste boletim, o sexo
masculino é o que mais faz uso desse meio.
Figura 4. Municípios piauienses de maiores notificações de lesões autoprovocadas no
período de 2018 a 2020*.
Fonte: SESAPI / Coordenação de Epidemiologia/ SINAN NET *Dados obtidos até 30/06/2020
FEMININO MASCULINO TOTAL FEMININO MASCULINO TOTAL FEMININO MASCULINO TOTAL
65 73 138 124 128 252 26 34 60
666 196 862 861 290 1151 215 84 299
4 26 30 2 17 19 1 7 8
94 43 137 212 90 302 54 42 96
829 338 1167 1199 525 1724 296 167 463
Fonte: SINAN NET/ Coordenação de Epidemiologia/SESAPI *Dados obtidos até 30/06/2020
TOTAL
2018 2019 2020
Objeto Perf. Cortante
MEIO UTILIZADO
Enforcamento
Envenenamento
Arma de Fogo
Figura 5: Mapa da distribuição de Municípios piauienses com notificação de lesões
autoprovocadas no período de 2018 e 2019.
Fonte: SESAPI / Coordenação de Epidemiologia/ SINAN NET/TABWIN *Dados obtidos até 30/06/2020
Considerações finais
As pessoas que chegam a tentar o suicídio devem ser o principal foco das
ações de vigilância e de ações preventivas dos profissionais e serviços de saúde. A
tentativa de suicídio se desenvolve gradualmente, expressando um processo de crise.
Dessa forma, a intervenção precoce e feita de forma adequada,que envolva a pessoa e
seu conjunto de relações, é uma estratégia de prevenção do suicídio10
.
A notificação imediata da tentativa de suicídio possibilita a intervenção
individual adequada em tempo oportuno, subsidiando medidas de prevenção que têm
como base conhecer, identificar fatores de risco e proteção, cuidado dos casos e
Alta concentração de lesões autoprovocada
Baixa concentração de lesões autoprovocada
Sem notificações de lesões autoprovocada
LEGENDA
acompanhá-los por meio do encaminhamento e vinculação da vítima de forma imediata
aos serviços da rede de atenção na região de saúde8. Portanto, a notificação deve ser o
primeiro passo para uma atenção integral destinada às pessoas em situação de violência.
Muitos são os desafios a serem enfrentados e superados, no que diz respeito
à notificação e preenchimento adequado das fichas de notificação, por parte dos
estabelecimentos de saúde e profissionais envolvidos. Essas questões dificultam a
análise do fenômeno de forma mais aprofundada. Desse maneira,reitera-se a
importância do incentivo à notificação compulsória de violência
interpessoal/autoprovocada em todos os municípios por meio da capacitação dos
profissionais envolvidos, uma vez que é fundamental o uso adequado das informações
para fins de análises de situação em saúde e planejamento de ações de vigilância,
prevenção e controle da violência autoprovocada nos municípios.
RECOMENDAÇÕES
- Vigilância contínua, que capta dados de violência
interpessoal/autoprovocada nos serviços de saúde; que tem como meio de instrumento
de coleta a Ficha de Notificação de Violência Interpessoal/Autoprovocada e
- Vigilância sentinela (pontual), por meio de inquérito e por amostragem, a
partir de informações sobre violência interpessoal/autoprovocada coletadas em Serviços
de Urgência e Emergência, que tem como meio do instrumento de coleta de informação
a Ficha de Notificação de Acidentes e Violências em Serviços Sentinela de Urgência e
Emergência.
- Busca ativa nos municípios dos casos notificados e investigação dos casos.
REFERENCIAS
1. ABP. Associação Brasileira de Psiquiatria. Suicídio: informando para prevenir.
Conselho Federal de Medicina. Brasília, 2014. Disponível em:
http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14#page/2.
2. Bahia CA, Avanci JQ, Pinto LW, Minayo MCS. Lesão autoprovocada em todos os
ciclos da vida: perfil das vítimas em serviços de urgência e emergência de capitais do
Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 22(9):2841-2850, 2017 DOI: DOI: 10.1590/1413-
81232017229.12242017
3. World Health Organization (WHO). Suicide in the world Global Health Estimates,
2019.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Suicídio: tentativas e
óbitos por intoxicação exógena no Brasil, 2007 a 2016. Boletim Epidemiológico,
vol.50, n.15, 2019
5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Perfil epidemiológico
das tentativas e óbitos por suicídio no Brasil e a rede de atenção à saúde. Bol.
Epidemiol. 2017a ;48(30):1-18. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.
br/images/pdf/2017/setembro/21/2017-025-Perfilepidemiologico- das-tentativas-e-
obitos-por-suicidio-no- Brasil-e-a-rede-de-atencao-a-saude.pdf
6. World Health Organization (WHO). Preventing suicide: a global imperative. Geneve:
OMS, 2014
7. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete Ministerial. Portaria 1.271 de 06 de Junho de
2014. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt1271_06_06_2014.html
8. Organização da Nações Unidas (ONU). OMS pede aumento maciço nos
investimentos em saúde mental, 2020. Disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-
pede-aumento-macico-nos-investimentos-em-saude-mental/
9. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde: violência
Interpessoal/autoprovocada. Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de
Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. 1. ed. atual. Ministério da Saúde,
Brasília; 2016, p.725.
10. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim
Epidemiológico: Perfil epidemiológico das tentativas e óbitos por suicídio no Brasil e a
rede de atenção à saúde. Ministério da Saúde, Vol. 48 N° 30, 2017.
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