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Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 1
Breves Notas de Apoio - Direito Penal
Centro de Formação Jurídica
II Curso de Advogados (Ano 2012)
Formador Rui Lourenço
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 2
LIVRO I
PARTE GERAL
TÍTULO I
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
CAPÍTULO ÚNICO
PRINCÍPIOS GERAIS
Artigo 1º
Princípio da legalidade
1. Nenhuma acção ou omissão pode ser qualificada como crime sem que lei anterior à sua
prática a defina como crime e comine a respectiva pena.
2. As medidas de segurança só podem ser aplicadas a estados de perigosidade cujos
pressupostos estejam definidos em lei anterior.
Observações
Só é crime e medida de segurança o que está escrito, como tal, na Lei.
Factos que já ocorreram não podem ser qualificados como crimes por lei posterior á data da
prática do facto.
Não pode ser aplicada a um crime já realizado, uma pena mais grave, que aquela que estava
prevista.
Notas
Direito comparado
V. art. 1º
Artigo 2º
Proibição de analogia
Para qualificar uma acção ou omissão como crime, definir um estado de perigosidade ou
determinar as respectivas consequências jurídicas, não é permitido o recurso à analogia.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 3
Observações
A analogia é proibida em Direito Penal como forma de definir se uma acção/omissão é, ou não é,
crime.
Mas, pode recorrer-se à analogia quando disso resulte benefício para o arguido.
A punição por um crime implica que o mesmo esteja previsto como tal.
No fundo, o que acontece é uma preocupação de estabilidade, os cidadãos devem saber quais os
comportamentos que não podem ter, por isso, os mesmos estão previstos/tipificados na Lei.
Notas
Direito comparado
V. art. 1º n. 3
Artigo 3º
Aplicação da lei penal no tempo
1. Ninguém pode ser punido por facto definido como crime no momento da sua prática se
lei posterior deixar de o considerar como crime.
2. Neste caso, se já tiver havido decisão de condenação, mesmo que transitada em julgado,
cessam a execução e os seus efeitos penais.
3. A lei posterior à prática do crime aplica-se às condutas anteriores sempre que se mostre
concretamente mais favorável ao agente e, nos casos de decisão transitada em julgado, se
ainda puder aproveitar qualquer vantagem.
Observações
- Quando o facto é praticado e surge uma outra Lei que deixa de considerar considerar esse facto
como crime, não deve existir condenação (n. 1).
- Se houver condenação, a pena deixa de ser executada com a entrada em vigor da nova lei (n. 2).
- A nova lei (ou lei posterior) aplica-se às condutas mais antigas se for mais favorável, de forma
concreta, ao agente desde que, o agente ainda possa aproveitar dos efeitos da nova lei (n. 3).
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Sempre que uma nova disposição legal prevê: o que é crime deixa de ser crime; os processos em
curso no Tribunal, com base nessa lei, são extintos.
Quanto aos condenados, acaba a execução da pena a que foram condenados, e os seus efeitos
penais, e são restituídos à liberdade.
Notas
Direito comparado
V. art 2º, n. 1, 2 e 4.
Artigo 4º
Lei excepcional ou temporária
A lei excepcional ou temporária continua a aplicar-se aos factos praticados durante a sua
vigência ainda que haja decorrido o período de duração ou hajam cessado as
circunstâncias que a determinaram.
Observações
A Lei excepcional ou temporária destina-se a vigorar durante um curto período de tempo.
Ela aplica-se aos factos que surgem enquanto está em vigor.
Mas, aplica-se mesmo depois de terminar o prazo de duração.
Notas
Direito comparado
V. art. 2º, n. 3.
Artigo 5º
Momento da prática do facto
O facto considera-se praticado no momento da acção ou da omissão, independentemente do
momento em que vier a ocorrer o resultado típico.
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Observações
O facto é executado quando o agente age, ou omite uma conduta, com efeitos penalmente
relevantes (acção/omissão tipica, ilicita e culposa).
Nos crimes permanentes - o momento da prática do facto considera-se até ao dia em que cessar a
consumação (acabar de se cometer o crime);
Exemplo: o Sequestro
Nos crimes continuados e nos crimes habituais - o momento da prática do facto considera-se até
ao dia do último acto;
Exemplo: O bancário que todos os dias desvia dinheiro para a sua conta.
Nos crimes não consumados - o momento da prática do facto considera-se até ao último dia do
último acto de execução.
Exemplo: As situações de tentativa e/ou desistência.
Notas
Direito comparado
V. art. 3º.
Artigo 6º
Lugar da prática do facto
O facto considera-se praticado no lugar em que, por qualquer forma, ocorreu a acção ou a
omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado típico.
Observações
O facto é praticado no local da acção/omissão do agente, e também no local onde se produziu o
resultado típico consequência do crime.
Um crime por acção, onde o agente actuou; ou, no caso de se tratar de um crime omissivo, no
local em que o agente deveria ter actuado.
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Exemplo:
- A com intenção de matar B, dá-lhe um tiro, ferindo-o de tal maneira que 3 dias depois
ele morre em consequência do disparo.
O momento da prática do facto típico, ilícito e culposo, é o momento em que o agente
deu o tiro e não o dia da morte.
- No caso do sequestro, o momento da prática do facto arrasta-se até ao dia em que terminar o
sequestro (crime permanente porque dura enquanto a situação ilegal existe).
Notas
Direito comparado
V. art.7º.
Artigo 7º
Princípio da territorialidade
Salvo tratado ou convenção internacional em contrário e seja qual for a nacionalidade do
agente, a lei criminal timorense é aplicável aos factos praticados em território de Timor-
Leste e a bordo de navios ou de aeronaves de matrícula ou sob pavilhão timorense.
Observações
Facto ocorrido no território timorense, a bordo de navios e aeronaves de matrícula ou pavilhão
(bandeira que identifica o país a que pertence o navio) timorense, aplica-se a Legislação penal de
Timor-Leste.
Notas
Direito comparado
V. art. 4º.
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Artigo 8º
Factos praticados fora do território nacional
Salvo tratado ou convenção em contrário, a lei penal timorense é aplicável a factos
praticados fora do território de Timor-Leste nos seguintes casos:
a) Quando constituírem os crimes previstos nos artigos 196º a 206º, 229º a 242º e
307º a 313º;
b) Quando constituírem os crimes previstos dos artigos 123º a 135º, 161º a 169º e
175º a 178º desde que o agente seja encontrado em Timor-Leste e não possa ser
extraditado ou seja decidida a sua não entrega;
c) Quando forem praticados contra timorenses desde que o agente viva
habitualmente em Timor-Leste e aqui seja encontrado;
d) Quando forem cometidos por timorenses ou por estrangeiros contra timorenses,
desde que o agente seja encontrado em Timor-Leste, os factos sejam igualmente
puníveis pela legislação do lugar em que tiverem sido praticados e constituírem
crime que admita extradição e esta não possa, no caso, ser concedida;
e) Se se tratar de crimes que o Estado timorense, por convenção ou tratado
internacional, se tenha obrigado a julgar.
Observações
Aplica-se a Lei penal de Timor-Leste a casos ocorridos fora de Timor, (e desde que não haja
tratado/ convenção, em contrário a estas regras) nos seguintes casos:
Alínea a)
- Crimes contra a Segurança do Estado (art. 196º a 206º)
- Crimes eleitorais (art. 229º a 242º)
- Crimes de falsificação de moeda (art. 307º a 312º)
- Crimes contra a economia, designadamente art. 313º “Branqueamento de capitais”.
Alínea b)
Se o agente criminoso for encontrado em Timor mas não puder ser extraditado ou, for
decidida a sua não entrega, aplica-se a Lei penal Timorense aos seguintes crimes:
- Crimes de Genocidio e contra a Humanidade (art. 123º a 135º)
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- Crimes contra a Liberdade pessoal, Secção I Agressões pessoais (art. 161º a 169º)
- Crimes contra a Liberdade pessoal Secção III Exploração sexual (art. 175º a 178º)
Alínea c)
Quando a vítima é Timorense,
O agente viva habitualmente em Timor,
E, se encontre em Timor,
Aplica-se a Lei penal Timorense.
Alínea d)
Crimes praticados por timorense ou, por estrangeiro contra timorense,
Desde que o agente esteja em Timor,
E, os factos sejam puníveis igualmente como crime no país onde ocorreram,
Não podendo a extradição ser concedida ao agente,
Então aplica-se igualmente a Lei penal Timorense.
Alínea e)
Quando Timor Leste assume internacionalmente o compromisso de julgar certos crimes,
então aplica-se a Lei penal Timorense.
Notas
Direito comparado
V. art. 5º.
Artigo 9º
Restrições à aplicação da lei timorense
1. A lei penal timorense só é aplicável a factos praticados fora do território nacional
quando o agente não tenha sido julgado com decisão transitada no lugar da prática do
facto ou, tendo-o sido, se subtrair ao cumprimento total ou parcial da sanção.
2. Ainda que, nos termos do número anterior, seja aplicável a lei penal timorense, o facto é
julgado segundo a lei do país em que tiver sido praticado se esta for concretamente mais
favorável ao agente.
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3. Nos casos a que se refere o número anterior a sanção aplicável é convertida na que lhe
corresponder no sistema penal timorense ou, inexistindo correspondência, na que a lei
timorense prever para o facto.
4. No caso de o agente ser julgado em Timor-Leste, tendo-o sido anteriormente no lugar da
prática do facto, atende-se à pena que já tenha sido cumprida no estrangeiro.
5. O regime previsto no número 2 não se aplica aos crimes identificados nas alíneas a) e b)
do artigo anterior.
Observações
N. 1
A lei penal timorense aplica-se a factos ocorridos fora de Timor quando:
- O agente não tenha sido julgado, ou iniciado julgamento, e, ainda não exista decisão transitada.
- Tendo sido condenado, começar a cumprir pena mas fugir durante a execução da mesma.
N. 2
Mesmo que fosse aplicável a Lei de Timor, há a necessidade de se averiguar qual a lei mais
favorável ao agente (a de Timor ou do país onde ocorreu o facto criminoso).
N. 3
Pode a sanção estrangeira ser transformada naquela que for mais semelhante na lei timorense, ou,
não havendo equivalente, naquela que a lei penal pune o facto.
N. 4
No caso de julgamento em Timor,
E, tendo anteriormente ocorrido julgamento com condenação (no local da prática do facto).
A pena que já tiver sido cumprida no estrangeiro é relevante em Timor (desconta-se o tempo que
cumpriu da pena).
N. 5
O Princípio do tratamento mais favorável não se aplica para crimes da alínea a) e b) do art. 8 CP.
Notas
Direito comparado
V. art. 6º.
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Artigo 10.º
Aplicação subsidiária
Salvo disposição em contrário, as normas deste Código são aplicáveis aos factos puníveis
por legislação especial.
Observações
O Código Penal aplica-se aos diplomas de natureza penal, naquilo que esses diplomas não
regulem (salvo disposição em contrário).
Notas
Direito comparado
V. art. 8º.
TÍTULO II
DO CRIME
CAPÍTULO I
PRESSUPOSTOS GERAIS
Artigo 11º
Acção e omissão
1. Quando um tipo legal de crime compreender um certo resultado, o facto abrange não só
a acção adequada a produzi-lo como a omissão da acção adequada a evitá-lo, salvo se outra
for a intenção da lei.
2. A comissão de um resultado por omissão só é punível quando sobre o omitente recair um
dever jurídico que pessoalmente o obrigue a evitar esse resultado.
3. No caso previsto no número anterior, a pena pode ser extraordinariamente atenuada.
Observações
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N. 1
Quando o crime exige um resultado específico (ex. morte de alguém é o resultado exigido para
que haja crime de homicídio), o facto criminoso que gera o resultado típico (previsto no tipo de
crime) pode ocorrer por acção ou omissão do agente (salvo se a lei expressamente tiver outra
intenção).
N. 2
A existência de um resultado pelo facto de alguém não fazer uma acção (comissão por omissão),
isto é, por omissão duma conduta que o evitasse, só é punível se existir um dever jurídico a
obrigar o agente a evitar aquele resultado.
O dever jurídico pode surgir de várias formas:
Exemplo:
Art.º 200.º Omissão de auxílio, neste caso o dever do agente tem origem na lei –
Exemplo:
A senhora que toma conta de uma criança e não tem as devidas precauções para evitar a
morte da criança quando esta se engasga com o leite do biberão, nem se preocupou em
virá-la para a libertar da falta de ar, esta senhora viola o contrato que tem com os pais da
criança.
Exemplo:
Atropelar alguém e não a socorrer, o dever era logo socorrer. Se a vítima acabar por ser
socorrida por outrem é punido por omissão de auxílio – omissão pura, caso venha a ser
detectado.
Embora, neste caso também possa ser acusado por ofensas à integridade física ou mesmo,
se a vítima vier a falecer – omissão impura, crime de homicídio involuntário por omissão.
Exemplo:
O nadador salvador que detém os meios para salvar um náufrago e não salva, nem cede o
material para outro salvar (o agente controla o monopólio dos meios de salvamento).
N. 3
Pode a pena ser atenuada extraordinariamente no caso anterior (do n. 2), não o é de forma
automática.
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Notas
Direito comparado
V. art. 10º.
Artigo 12º
Responsabilidade criminal
1. A responsabilidade criminal pelas infracções previstas neste Código cabe às pessoas
singulares e é intransmissível.
2. As pessoas colectivas só respondem criminalmente pelas infracções previstas neste
Código ou em legislação especial quando e nas condições que a lei expressamente
consagrar.
Observações
N. 1
As pessoas singulares são sempre passíveis de responsabilidade criminal, não sendo transmitida
a responsabilidade criminal a qualquer herdeiro ou representante.
N. 2
As pessoas colectivas só são sujeitas a responsabilidade criminal se a lei expressamente prever
tal responsabilização.
Notas
Direito comparado
V. art. 11º.
Artigo 13º
Responsabilidade por actuação em nome de outrem
É punível quem actua como titular de um órgão de uma pessoa colectiva, ou mera
associação de facto, ou como representante de outrem, ainda que se não verifiquem nele,
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mas sim na pessoa do representado, as condições, as qualidades ou as relações previstas no
respectivo tipo de crime.
Observações
É punido directamente na respectiva pessoa:
- Aquele que age como titular de um órgão duma pessoa colectiva, ou associação de facto (ex.
Presidente de Assembleia Geral).
- Aquele que age em nome de outra pessoa (representante legal),
Mesmo que as condições para a prática do crime, as qualidades do agente, ou as relaçoes
necessárias para a prática só existam no representado.
Notas
Direito comparado
V. art.12º.
Artigo 14º
Imputação subjectiva
Só é punível o facto praticado com dolo, ou nos casos especialmente previstos na lei, com
negligência.
Observações
Só os factos dolosos são punidos.
O Código Penal prevê sempre que o agente tem dolo na execução do crime (ex. Homicídio
simples art. 138º e agravação, art. 139º).
Factos praticados a título de negligência, só são punidos se previstos na Lei (ex. art. 140º
Homicídio negligente).
Note-se que a descrição do que é negligente está no art. 16º.
Notas
Direito comparado
V. art. 13º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 14
Artigo 15º
Tipos de dolo
1. Age com dolo quem, representando um facto que preenche um tipo de crime, actuar com
intenção de o realizar.
2. Age ainda com dolo quem representar a realização de um facto que preenche um tipo de
crime como consequência necessária da sua conduta.
3. Quando a realização de um facto que preenche um tipo de crime for representada como
consequência possível da conduta, há dolo se o agente actuar conformando-se com aquela
realização.
Observações
N. 1
Tem dolo quem actua representando um facto tipico (pensando em fazer algo que sabe que está
previsto num tipo de crime),
e age para concretizar um objectivo e, consegue obter o resultado que lhe interessava ter.
Representa -------- Age ---------- obtém resultado pretendido (Dolo Directo)
Exemplo:
Manuel decide matar António.
Espera-o à porta de casa e, quando o vê, aponta a espingarda à cabeça de António e
dispara. Consequência do tiro António morre.
Existe uma relação directa entre aquilo que Manuel quer alcançar e aquilo que ele faz.
A vontade de Manuel é imediatamente dirigida à morte de António.
N. 2
Existe dolo também no agente que representa (pensa) a execução dum facto
e age, sabendo que o resultado da sua conduta necessariamente é ilegal.
Representa ------ Age --------- resultado é consequência da sua conduta (Dolo necessário)
Exemplo:
António decide matar Raimundo, como?
António sabe que todos os dias Raimundo leva o filho (Tito) á escola.
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Assim coloca uma bomba relógio no carro.
A bomba explode matando Raimundo e Tito.
A finalidade da acção de António?
É a morte de Raimundo.
Mas, António aceita como consequência necessária da explosão: a morte do filho de
Raimundo.
Conclusão:
António Tem dolo directo face Raimundo
António tem dolo necessário face o filho de Raimundo (Tito).
N. 3
Tem dolo aquele que representa (pensa) a execução dum facto, e age, sabendo que,
talvez/possivelmente, a sua acção possa ser considerada criminosa face o resultado produzido.
Se o resultado tipico ocorrer, o agente aceita tal resultado, conforma-se.
Representa--------Age------conforma-se com resultado (Dolo eventual)
Carlos aposta com Vitor que é capaz de andar de mota só com uma mão.
Carlos sabe que nunca andou de mota com uma mão apenas, e que é uma rua onde
passam bastantes pessoas.
Carlos não quer magoar ninguém porque quer ganhar a aposta.
Não tem por isso dolo directo de ofensas corporais.
Também não tem dolo necessário de ofensas corporais porque ele não aceita como
fortemente provável atingir alguém que esteja a passar na rua quando ele ande na mota só
com uma mão.
O risco de perder a aposta seria grande.
No entanto, em virtude da pouca experiência a andar de mota, e das pessoas que andam
na rua, Carlos bateu num peão magoando-o no braço.
Carlos aceitou o risco de bater num peão.
Carlos pratica uma Ofensa Corporal com dolo eventual.
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Notas
Direito comparado
V. art. 14º.
Artigo 16º
Tipos de negligência
1. Age com negligência quem, por não proceder com o cuidado a que, segundo as
circunstâncias, está obrigado e é capaz:
a) Representar como possível a realização de um facto que preenche um tipo de
crime mas actuar sem se conformar com essa realização; ou
b) Não chegar sequer a representar a possibilidade de realização do facto.
2. Os tipos de negligência referidos no número anterior assumem a forma de negligência
grosseira sempre que as circunstâncias mostrem que o agente actuou com ligeireza ou
temeridade, não observando os elementares deveres de prudência que no caso se
impunham.
Observações
N. 1
Quem pelo facto de não agir com o cuidado exigivel para a situação em concreto:
a) Pensa que é possível ocorrer um facto mas, age a pensar que ele não acontece.
b) Não pensa sequer que pode acontecer um resultado, simplesmente age.
N. 2
Surge a figura da negligência grosseira quando uma das alíneas do número anterior é preenchida,
mas o agente desrespeita deveres elementares de prudência (ex. uma Ama tem o dever de vigiar
uma criança), o que torna mais censurável a sua atitude descuidada.
Retome-se o exemplo anterior com algumas alterações:-
Carlos é agora um excelente motoqueiro.
Apesar disso ele acerta num peão a passar na rua.
A atitude mental de Carlos é diferente.
Embora pense na possibilidade de atingir alguém, ele não a aceita.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 17
Não actua por isso com dolo eventual.
Carlos não tem por isso vontade de atingir fisicamente o transeunte.
Ele age com negligência consciente.
O crime que pratica já não é o de ofensa corporal com dolo eventual.
Mas sim, o do art.º 148.º, n.º 1, do CP (Ofensa à Integridade Física por Negligência.
Também tem negligência grosseira a pessoa que age sem pensar no que faz!
Exemplo B
Carlos vai a andar de mota na rua em direcção ao Timor Plaza, pela Avenida das
Embaixadas,
Vai a olhar para o mar e, não vê o Joaquim que vai atravessar a estrada.
Carlos não respeita o dever cuidado a conduzir a que está obrigado.
Pratica assim, uma ofensa corporal negligente Art.º 148.º do CP.
A negligência é neste caso inconsciente, porque não vê Joaquim a atravessar a estrada.
Carlos não prevê sequer a possibilidade de o atropelar.
Diferentemente das situações de negligência consciente, em que o agente prevê a
possibilidade do resultado, na negligência inconsciente o agente não representa a
possibilidade do resultado ocorrer.
Contudo, apesar de não haver previsão da prática do crime, estamos ainda no domínio da
Culpa do agente.
Notas
Direito comparado
V. art. 15º
Para negligência grosseira, está prevista a figura em relação a alguns crimes, ex. 137º, n. 2; 274º,
n. 5; 351º e 369º, n. 5.
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Artigo 17º
Erro sobre as circunstâncias
1. O erro sobre os elementos de facto ou de direito de um tipo legal de crime, assim como o
erro sobre proibições cujo conhecimento seja razoavelmente indispensável para que o
agente possa tomar consciência da ilicitude, exclui o dolo.
2. O regime previsto no número anterior inclui o erro sobre a existência dos pressupostos
de uma causa de exclusão da ilicitude ou da culpa.
3. Fica ressalvada a punibilidade da conduta negligente sempre que a lei a preveja e se
verifiquem os respectivos pressupostos.
Observações
N. 1
Exclui-se o dolo quando o agente actua convencido de circunstâncias que não existem.
O erro pode surgir em relação a:
- Elementos de facto (de um tipo de crime)
- Elementos de direito (de um tipo de crime)
- Proibições (o erro só é relevante quando o conhecimento da proibição é minimamente
exigivel para que o agente se aperceba da ilicitude).
O erro é a representação mental de uma falsa realidade.
Pode ser em relação a objecto, pessoas ou proibições (formas de erro).
N. 2
Exclui-se igualmente o dolo do agente quando age errado sobre:
- Pressupostos das causas de exclusão da ilicitude
- Pressupostos das causas de exclusão da culpa
N. 3
Pode o agente ser punido a título de negligência desde que esta punição seja prevista no tipo de
crime.
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Exemplo:
Gerónimo vai à caça.
Ao pensar que está um javali atrás de um arbusto, dispara e mata um caçador.
Hipótese:
Deve Gerónimo ser punido da mesma forma que o indivíduo A que dispara sobre B para
o matar, porque B teve um caso com a mulher de A?
Não, apesar do resultado Morte, o motivo e causa são diferentes nas situações, porque no
exemplo do caçador não existe motivo para matar o colega caçador.
Houve uma causa da morte, que foi a confusão do barulho nos arbustos que deu a ideia de
existir um javali.
Notas
Direito comparado
V. art. 16º.
Artigo 18º
Erro sobre a ilicitude
1. O desconhecimento da lei não exclui a ilicitude da conduta que a viole.
2. O erro sobre a ilicitude de um facto, se for inevitável, exclui a culpa.
3. Se o erro sobre a ilicitude for evitável, pode a pena ser extraordinariamente atenuada.
Observações
N. 1
O desconhecimento da existência duma lei não impede a conduta do agente de ser ilegal quando
viole essa lei.
N. 2
Exclui-se a culpa se o erro do agente sobre a ilegalidade do facto for inevitável no caso concreto.
N. 3
Pune-se o agente, mas atenua-se extraordinariamente a pena, quando o erro do agente sobre a
ilicitude do facto for evitável.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 20
Erro de facto – o agente pensa que não existem elementos objectivos do Tipo.
Tem uma visão errada sobre as circunstâncias do facto.
Exemplo:
João vai à discoteca e vê uma rapariga bonita, conversam e ela gosta dele.
Vão para o Hotel e têm relações sexuais.
Mas ela tinha 15 anos! Parece mais velha porque tem corpo de mulher adulta!
O João errou em relação a um elemento constitutivo do tipo: errou acerca da idade da rapariga.
A idade é um elemento constitutivo do tipo legal do crime, faz parte integrante e necessária da
definição do crime.
Erro de direito – O indivíduo conhece perfeitamente a realidade dos factos, mas desconhece ou
conhece mal a regra jurídica aplicável. É um erro sobre as proibições.
Exemplo:
- Mário desconhece que é proibido fazer cópias de “software” e, desconhecendo
essa proibição, pega no programa que comprou e faz uma cópia e vende-a.
- Também a vulgar situação dos alunos que tiram fotocópias de livros (Direitos de
Autor).
No art. 17º não há consciência da ilicitude.
No art.18º o agente tem consciência do acto mas não considera que ele seja punível.
Notas
Direito comparado
V. art. 16º, art. 17º.
Artigo 19º
Agravação pelo resultado
Quando a pena aplicável a um facto for agravada em função da produção de um resultado,
a agravação é sempre condicionada pela possibilidade de imputação desse resultado ao
agente pelo menos a título de negligência.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 21
Observações
Existe uma pena para um facto, mas ocorrem por vezes resultados que agravam a pena aplicada a
esse facto (facto base + resultado suplementar).
Estamos no campo dos crimes preterintencionais, aqueles onde o resultado que o agente tem é
mais do que o que queria ter, ou onde o resultado objectivo é maior do que o pensado pelo
agente, na intenção do agente ao cometer o crime.
São crimes agravados, e esta agravação é importante penalmente quando:
O resultado é imputável ao agente, pelo menos, a título de negligência.
Exemplo:
Art. 147º “Agravação” é um crime preterintencional porque tem um resultado “que acresce” ao
resultado que existe no crime base que é o do art. 146º “Ofensas Corporais à integridade física”.
Notas
Direito comparado
V. art. 18º.
Artigo 20º
Inimputabilidade em razão da idade
1. Os menores de 16 anos de idade são penalmente inimputáveis.
2. Aos jovens maiores de 16 e menores de 21 anos de idade aplicam-se as disposições do
presente diploma em tudo o que for omisso em legislação autónoma, relativamente à
aplicação e execução das sanções criminais.
Observações
N. 1
Menores de 16 anos não são punidos criminalmente.
N. 2
Maior de 16 e menores de 21 aplica-se regime especial, e no que este não prever regula o código
penal.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 22
Notas
Direito comparado
V. art. 19º.
V. art. 9º.
Artigo 21º
Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica
1. É inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica, for incapaz, no momento da
prática do facto, de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar de acordo com essa
avaliação.
2. Pode ser declarado inimputável quem, por força de anomalia psíquica, tiver,
sensivelmente diminuída, a capacidade para avaliar a ilicitude no momento da prática do
facto ou para se determinar de acordo com essa avaliação.
3. A comprovada incapacidade do agente para ser influenciado pelas penas pode constituir
índice da situação prevista no número anterior.
4. A imputabilidade não é excluída quando a anomalia psíquica tiver sido provocada pelo
agente com intenção de praticar o facto.
Observações
N. 1
É inimputável quem, por força de anomalia psiquica:
- É incapaz de avaliar a ilicitude de uma conduta (de o que faz é contra a Lei) no
momento em que a executa.
- É capaz de avaliar a ilicitude (sabe que o que faz é contra a lei, ou não) mas não
consegue decidir de forma correcta que atitude ter, face essa avaliação.
N. 2
É igualmente inimputável quem, por força de anomalia psiquica, tiver sensivelmente reduzida a
sua capacidade de avaliação ou de autodeterminação.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 23
Exemplo:
Manuel é Bipolar, entra em estado de “euforia” (muita agitação incontrolável) comete um crime
de dano, partindo o vidro do carro do vizinho quando sai de casa.
N. 3
O facto de o agente não ser afectado por ser punido com uma sanção penal, pode ser indício da
incapacidade sensivelmente reduzida.
N. 4
Quando o agente, de propósito se coloca numa situação de anomalia psíquica de forma a cometer
crimes, deve ser punido.
Exemplo:
Álvaro toma comprimidos de ecstasy sabendo que sob efeito destes consegue ir assaltar uma loja
de bebidas depois de esta fechar.
Notas
Direito comparado
V. art. 20º.
CAPÍTULO II
FORMAS DO CRIME
Artigo 22º
Actos preparatórios
Os actos preparatórios não são puníveis, salvo disposição legal em contrário.
Observações
Acto preparatório só tem relevância penal se a lei expressamente o prever.
Exemplo 1:
Art. 131º, n. 5 CP - “Organizações Terroristas” um acto preparatório pode ser a
mobilização de aderentes à organização (neste caso concreto é punido com a pena
reduzida a metade nos limites mínimo e máximo).
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 24
Exemplo 2:
A vai buscar uma escada para mais tarde subir a uma janela aberta e assaltar uma casa.
Neste caso concreto ir buscar a escada é um acto preparatório pois possibilita a execução
propriamente dita, mas não constitui ainda um perigo efectivo da prática do crime.
Não é punido.
Notas
Direito comparado
V. art. 21º.
Artigo 23º
Tentativa
Há tentativa quando o agente inicia a execução de um crime que decidiu cometer,
praticando parte ou todos os actos objectivamente adequados a produzir o resultado e este
se não verifica por circunstâncias alheias à sua vontade.
Observações
Agente inicia a execução do crime mas não se produz o resultado tipico do crime que o agente ia
executar, por motivos alheios ao agente.
Exemplo:
Maria dispara um tiro com intenção de matar Ana, mas o tiro apenas fere Ana num braço,
existe aqui uma tentativa de homicídio:
- Maria pratica actos de execução, actos adequados a produzir um resultado ilícito (foi
buscar uma arma, carregou a arma, apontou).
- De um crime que decidiu cometer (ao dar o tiro queria a morte de Ana - crime de
homicídio);
- O resultado típico não chega a ocorrer (morte de Ana), apesar da vontade de matar
existir (“são circunstâncias alheias” á vontade de Maria - a sua fraca pontaria).
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Nisto consiste a tentativa.
As tentativas são sempre dolosas.
Notas
Direito comparado
V. art. 22º.
Artigo 24º
Punibilidade da tentativa
1. A tentativa só é punível nos crimes dolosos a que corresponda pena de prisão cujo limite
máximo seja superior a 3 anos e nos demais casos que a lei expressamente determinar.
2. Salvo disposição em contrário, a tentativa é punível com a pena correspondente ao crime
consumado extraordinariamente atenuada.
Observações
N. 1
A tentativa é punida quando:
- Ocorra nos crimes com pena abstracta superior a 3 anos no seu limite máximo.
- Seja expressamente prevista na Lei essa punição.
N. 2
Aplica-se a moldura penal abstracta prevista no tipo mas, atenuada extraordinariamente.
Exemplo:
Um crime consumado com limite máximo de 12 anos de prisão.
A tentativa deste crime é punida até ao máximo de 8 anos (porque tem redução no limite
máximo da moldura abstracta da pena de 1/3 nos termos do art. 57º, n. 1 alínea a)).
Notas
Direito comparado
V. art. 23º, n. 1 e 2.
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Artigo 25º
Tentativa não punível
A tentativa não é punível quando for manifesta a inaptidão do meio empregado pelo agente
ou a inexistência do objecto essencial à consumação do crime.
Observações
Não acontece a punição da tentativa quando:
- For claro que o meio usado pelo agente não é apto a causar o resultado que quer obter.
- Quando não existir no caso concreto o objecto essencial para o crime ser consumado.
Exemplo 1:
A quer matar B e, utiliza várias pedras muito pequenas que lhe vai atirando mas que não
dão sequer para magoar B!
A fez uma tentativa impossível por referência à manifesta inaptidão do meio empregue.
As pedras pequeninas não dão para matar ninguém, nem para magoar.
O estado de raiva de A sobre B é que era tanta que agarrou o que tinha para tentar matar
B!
Ou seja, claramente o que o agente usa não serve para produzir o resultado do crime, daí que se
diga que é uma tentativa não punida.
Exemplo 2:
Antonina pensa que está grávida. Quer abortar e bebe um chá de ervas.
Só que, ela não está grávida.
Esta, é uma tentativa impossível de crime de aborto, por inexistência do objecto do facto.
Se Antonina não está grávida, não consegue abortar!
Consequentemente, se não existe objecto do crime – o feto - não existe tentativa de crime.
Notas
Direito comparado
V. art. 23º, n. 3.
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Artigo 26º
Desistência voluntária
Não é punível a tentativa daquele que voluntariamente desistir de prosseguir na execução
do crime, impedir a consumação ou verificação do resultado, ou se esforçar seriamente por
impedir uma ou outra.
Observações
Não se pune o agente que efectua a tentativa quando:
A)- O agente desiste de cometer o crime
B)- O agente impede a consumação do crime ou, a ocorrência do resultado
C)- Se esforça para impedir a consumação ou ocorrência do resultado
Notas
Direito comparado
V. art. 24º.
Artigo 27º
Casos de comparticipação
Em caso de comparticipação, não é punível a tentativa aquele que voluntariamente desistir
de prosseguir na execução do crime, impedir a consumação ou verificação do resultado, ou
se esforçar seriamente por impedir uma ou outra, mesmo que os outros comparticipantes
prossigam na execução do facto ou o consumem.
Observações
- A desistência tem de ser livre, voluntária, espontânea. Se o agente foi obrigado a desistir, a sua
conduta continuará a ser punível.
- Para que não seja punido é necessário que consiga evitar o resultado, mesmo com recurso a
terceiros.
Está-se no domínio da tentativa acabada (o agente praticou todos os actos de execução que
deveriam produzir como resultado o crime consumado).
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 28
- Os crimes formais são realizados independentemente da produção do resultado (são os crimes
de mera actividade quando praticados por acção, e omissões puras, quando praticados por
omissão).
Nestes casos, o agente quando evita o resultado tipificado na lei, não é punido.
Notas
Direito comparado
V. art. 25º.
Artigo 28º
Arrependimento posterior
Nos crimes sem violência ou grave ameaça contra as pessoas, reparado o dano, restituída a
coisa ou legalizada a situação antes de efectuada participação ou recebida a denúncia ou a
queixa, a pena pode ser extraordinariamente atenuada ou, consoante as circunstâncias, o
agente isento de pena.
Observações
Considera-se que o agente se arrepende quando:
- Nos crimes sem violência;
- Nos crimes de grave ameaça para pessoas;
O agente:
- Repare o dano que causou
- Restitua a coisa que retirou
- Legalize a a situação antes de efectuada a participação, ou recebida a denúncia ou a
queixa.
Nestes casos pode a pena ser extraordinariamente atenuada ou mesmo, o agente ser isento de
pena.
Notas
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 29
Direito comparado
V. art. 72º, n. 2, alínea c).
CAPÍTULO III
AGENTES DO CRIME
Artigo 29º
Agentes
A participação na prática de um crime pode revestir a forma de autoria, instigação ou
cumplicidade e podem ser vários os comparticipantes do mesmo facto.
Observações
É agente quem pratica um facto criminoso sob a forma de autoria, instigação ou cumplicidade,
sózinho ou acompanhado.
Exemplo
- Belarmino empurra José contra a parede para o magoar;
- Jonas diz a António para ele atirar num arbusto porque está lá um javali. Afinal, nesse
arbusto está jerónimo, e só Jonas é que sabe quem lá está.
- Diogo incita Telmo, que é inimputável por sofrer de uma anomalia psíquica grave, a
furtar um objecto da montra duma loja.
Autor Mediato é o que está por trás da prática do facto e este tem o domínio do facto, é este que
é punido.
Quem executa o facto é um simples meio para o autor mediato atingir um fim
Nos exemplos fornecidos, Belarmino, Jonas e Diogo controlam a situação, são os autores.
António e Telmo, são meros executantes do crime.
António é induzido em erro. Jonas serve-se do seu desconhecimento acerca da presença de
Jerónimo.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 30
Finalmente, Telmo é usado por ser inimputável, por não ter capacidade para avaliar o significado
do facto que pratica.
Notas
Direito comparado
V. art. 26º.
V. art. 26º, última parte.
V. art 27º.
Artigo 30º
Autoria
1. É autor quem executa o facto, por si mesmo ou por intermédio de outrem, de que se
serve como instrumento.
2. São co-autores se, por acordo tácito ou expresso, tomarem parte directa na execução ou
actuarem em conjugação de esforços para a prática do mesmo crime.
Observações
N. 1
Considera-se autor quem executa um facto:
- Por si mesmo
- Utilizando outras pessoas
N. 2
É co-autor aquele que que acompanhado por outro (s) individuo (s):
- De acordo tácito ou expresso com o (s) outro (s)
- Executarem um crime
- Agirem com o objectivo de praticar o crime
Exemplo 1:
Pedro e Adalberto, decidem assaltar uma colectividade.
Pedro desliga o alarme, Adalberto entra pela janela.
Exemplo 2:
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 31
Em relação ao caso do condutor de um veículo que aguarda a chegada de outros dois
indivíduos que foram assaltar um banco, este é co-autor ou cúmplice?
A resposta exacta depende do conjunto de circunstâncias, objectivas e subjectivas, que
determina a actuação do condutor, mas, o certo é que ele toma parte efectiva e directa
num momento da execução do crime, designadamente no momento da fuga.
Notas
Direito comparado
V. art. 26º.
Artigo 31º
Instigação
É punível como autor quem determina directa e dolosamente outrem à prática de crime,
desde que haja execução ou começo da execução do crime.
Observações
Considera-se instigador quem convence outrem, de propósito (de forma directa) e, dolosa, para
efectuar um crime.
Para haver punição da instigação é necessário que haja começo de execução do crime.
Exemplo:
Humberto no café, conversa com Teófilo, e propõe dar-lhe 15 000 USD se ele matar João
Teófilo aceita e mata João.
Com proposta de dar dinheiro, Humberto instiga, convence Teófilo a matar João.
Faz aparecer em Teófilo a vontade de cometer intencional e dolosamente um crime.
Humberto não tem a ver directamente com a execução do crime.
Quem controla a execução do crime (tem o domínio do facto) é Teófilo.
Por isso, este artigo equipara a instigação à autoria para efeitos de punibilidade.
Humberto é autor mediato porque está por trás da prática do facto criminoso.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 32
Notas
Direito comparado
V. art. 26º, última parte: “ (...) e ainda quem, dolosamente (...) começo de execução”
Artigo 32º
Cumplicidade
1. É punível como cúmplice quem, dolosamente ajudar material ou moralmente outrem a
praticar um crime.
2. É aplicável ao cúmplice a pena correspondente ao tipo de ilícito, extraordinariamente
atenuada.
Observações
N. 1
Cúmplice é aquele que ajuda alguém na prática de um crime, dando apoio material ou mesmo,
com apoio moral.
N. 2
Pune-se com base na moldura correspondente ao crime, embora extraordinariamente atenuada.
Os graus de atenuação extraordinária constam do art. 57º.
Exemplo:
- Badardino quer matar diogolino, e quer fazê-lo com uma espada samurai!
Pede uma espada samurai a Georgino.
Georgino empresta-lhe a espada sabendo que Badardino quer matar Diogolino, Ora,
Georgino não tem o domínio do facto criminoso!
É punido como cúmplice moral do homicídio.
Notas
Direito comparado
V. art. 27º
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 33
Artigo 33º
Culpa na comparticipação
Cada comparticipante é punido segundo a sua culpa, independentemente da punição ou do
grau de culpa dos outros.
Observações
Cada um é punido de acordo com o que em concreto teve intenção de fazer, e fez no crime.
Notas
Direito comparado
V. art. 29º.
Artigo 34º
Ilicitude na comparticipação
1. Se a ilicitude ou o grau de ilicitude do facto dependerem de certas qualidades ou relações
especiais do agente, basta que essas qualidades ou relações se verifiquem em qualquer
deles, para tornar aplicável a todos os comparticipantes a pena respectiva, excepto se for
outra a intenção da norma incriminadora.
2. Sempre que, por efeito da regra prevista no número anterior, resultar para algum dos
comparticipantes a aplicação de pena mais grave, pode esta, consideradas as circunstâncias
do caso, ser substituída por aquela que teria lugar se tal regra não interviesse.
Observações
N.1
A lei para considerar alguns factos como ilicitos ou para graduar a ilicitude do facto exige uma
qualidade especifica do agente ou, relação especial.
Na comparticipação, basta que um comparticipante tenha essa “certa qualidade ou relação
especial” para que todos os comparticipantes possam ser punidos como se tivessem essa
qualidade/relação especial, salvo se for outra a intenção da lei.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 34
N. 2
Se da regra do número 1, for aplicada uma pena mais grave para algum dos comparticipantes,
pode a pena ser substituida por aquela que teria lugar se não houvesse a agravação em função da
qualidade/relação especial do agente.
Exemplo.
Um filho mata o pai.
Pra matar conta com a ajuda de um amigo.
A relação de parentesco só existe no filho, mas o amigo vai ser punido de acordo com o
crime de homicídio agravado p.p. art. 139º, al. G), que se aplica ao autor.
Notas
Direito comparado
V. art. 28º.
CAPÍTULO IV
CONCURSOS E CRIMES CONTINUADOS
Artigo 35º
Concurso de crimes
1. O número de crimes determina-se pelo número de tipos de crimes efectivamente
cometidos, ou pelo número de vezes que o mesmo tipo for preenchido pela conduta do
agente.
2. Para efeito do que dispõe o artigo seguinte considera-se como concurso o caso em que o
agente, tendo praticado um crime, comete outro antes de ter sido condenado por decisão
transitada em julgado.
Observações
N. 1
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 35
Concurso de crimes ocorre quando o agente pratica vários crimes.
Os critérios para saber se existe concurso de crimes são:
- O número de tipos de crimes praticados
- O número de vezes que o mesmo tipo de crime é praticado.
N. 2
Quando o agente pratica um crime, e está a ser julgado por ele, e depois comete outro crime,
pode-se considerar a aplicação das regras do concurso de crimes, desde que não haja decisão
transitada em julgado.
Este artigo visa dar resposta ao problema da contagem no número de crimes praticados pelo
agente.
O comportamento do agente poderá preencher apenas um tipo legal de crime, ou uma pluralidade
de infracções.
Notas
Direito comparado
V. art. 30º, n. 1.
Artigo 36º
Punição em caso de concurso
1. Em caso de concurso de crimes, é aplicada uma pena única, cujo limite mínimo
corresponde à mais elevada das penas concretamente aplicadas aos vários crimes e o limite
máximo à soma material das diversas penas parcelares.
2. O limite máximo da moldura do concurso não pode exceder 600 dias para a multa ou 30
anos para a prisão, mesmo nos casos em que a soma material das penas parcelares
ultrapassar esse limite legal.
3. Na determinação da pena única o tribunal considera, em conjunto, os factos e a
personalidade do agente.
Observações
N. 1
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 36
Para concurso de crimes aplica-se uma pena única, onde:
Limite minimo – pena mais grave dos crimes em que se condena o arguido.
Limite máximo – soma das várias penas em que se condena o arguido.
N. 2
A soma das penas, limite máximo a aplicar ao arguido não pode ser superior a:
- 30 anos de prisão
- 600 dias de multa
N. 3
Para aplicação da pena no concurso de crimes é considerado em conjunto, ao mesmo tempo, os
factos e a personalidade do agente.
Para a punição do concurso efectivo, existe a fixação de uma pena por cada crime e depois existe
a unificação das mesmas numa única pena (que no caso de penas de prisão, essa soma não
poderá ultrapassar os 30 anos e na multa os 600 dias).
O crime continuado reduz a culpa do agente, pelo que a punição tem em conta a redução dessa
mesma pena.
Notas
Direito comparado
V. art. 77º, n. 1 e 2.
Artigo 37º
Concurso de sanções
1. Se as penas aplicadas forem umas de multa e outras de prisão, mantém-se a diferente
natureza destas.
2. As penas acessórias e as medidas de segurança, mesmo que previstas por uma só das leis
aplicáveis ou numa só das decisões anteriores, mantêm-se.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 37
Observações
N. 1
As penas de multa e de prisão em que se condene o arguido não são misturáveis, mantêm a sua
diferente natureza.
N. 2
As penas acessórias e medidas de segurança que tenham sido aplicadas ao arguido/condenado
em concurso também se mantêm.
Notas
Direito comparado
V. art. 77º, n. 3 e 4.
Artigo 38º
Pena de prisão com execução suspensa em cúmulo jurídico
A pena de prisão com execução suspensa só pode cumular-se juridicamente com outras
penas de prisão quando:
a) Se tratar igualmente de penas de prisão suspensas na sua execução e a cumulação
referida não obstar à continuação do regime de suspensão da pena única;
b) Tratando-se de cumulação com penas de prisão efectiva, existirem circunstâncias
que determinem a revogação da suspensão da execução da pena, independentemente
da cumulação de penas;
c) As penas suspensas a cumular tiverem diferentes períodos de suspensão ou, sendo
iguais, se encontrarem em distintas fases de cumprimento e o tribunal estabelecer
um período de suspensão único de acordo com as necessidades de prevenção e as
circunstâncias do caso.
Observações
A pena suspensa só se cumula com outras penas quando:
- Forem várias penas suspensas, num único regime.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 38
- Existirem circunstâncias que revoguem a pena suspensa e aí o agente tem mesmo ir para
a cadeia, fazendo cúmulo da pena que estava suspensa com aquela em que o agente foi
condenado em prisão efectiva.
- Existirem diversas penas suspensas com vários períodos e o cúmulo permitir um
período único.
Notas
Direito comparado
V. art. 50º.
Artigo 39º
Conhecimento superveniente do concurso
Se, depois de uma decisão transitada em julgado, mas antes de a respectiva pena estar
cumprida, prescrita ou extinta, houver conhecimento que o agente se encontrava numa das
situações descritas nos artigos anteriores aplicam-se as regras aí consagradas.
Observações
Quando um arguido é condenado e a decisão transita em julgado:
- Antes de a pena estar cumprida, prescrita ou extinta,
- Se vem a saber que o agente está numa situação de concurso de crimes,
- Aplicam-se as regras para cálculo da pena única.
Notas
Direito comparado
V. art. 78º.
V. art. 77º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 39
Artigo 40º
Crime e outra infracção
Se o mesmo facto constituir simultaneamente crime e contra-ordenação, o agente é punido
a título de crime, sem prejuízo da aplicação das sanções acessórias previstas para as outras
infracções.
Observações
Existem situações onde o facto executado pelo arguido é punido como crime e contraordenação.
Pune-se o arguido:
- Pelo crime - com penas do código ou lei especial
- Pela (outra) infracção - com sanção acessória que couber ao caso concreto.
Exemplo:
A vai a uma festa de amigos, bebe cerveja e Gin Tónico, embriaga-se.
Numa operação STOP é mandado parar, sopra no balão e acusa 1,5 de taxa de
alcoolémia.
Comete o crime de condução em estado de embriaguez, e, viola as regras do Código de
Estrada, pelo que tem contraordenação pela infracção.
Notas
Direito comparado
V. art. 65º, n. 2.
Artigo 41º
Crime continuado
1. Salvo tratando-se de crimes que protejam bens eminentemente pessoais, constitui um só
crime continuado a realização plúrima do mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crime
que fundamentalmente protejam o mesmo bem jurídico, executada por forma
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 40
essencialmente homogénea e no quadro de solicitação de uma mesma situação exterior que
diminua consideravelmente a culpa do agente.
2. O crime continuado é punível com a pena aplicável à conduta mais grave que integrar a
continuação.
Observações
É crime continuado (ou seja, considera-se que o agente apenas comete um crime e não vários
crimes) quando:
- Perante bens jurídicos que não sejam eminentemente pessoais:
- O arguido pratica várias vezes o mesmo tipo de crime
- o arguido executa vários tipos de crime ofensivos do mesmo bem jurídico
- Execução dos crimes é homogénea, existe uma conexão nas várias acções ilicitas.
- Num contexto real onde, no caso concreto, se entende que o agente tem uma culpa
reduzida.
Concurso aparente – Exemplo:
- Armando assalta uma casa, para entrar arrombou a porta, entrou e depois viu um cofre,
arrombou a porta do cofre, e retirou um colar de pérolas.
Aparentemente poderia dizer-se que cometeu dois crimes de dano (art. 258º) -
arrombamentos, um de violação de domicílio (art. 185º) e outro de furto (art. 251º).
No entanto será só punido pelo crime de furto qualificado (art. 252º, n. 1, al. F)).
A conduta viola várias normas mas será punido só por uma que absorve as restantes.
Teoricamente comete vários crimes diferentes mas uma só norma é violada, sendo condenado
por um só.
Não há crime continuado mas sim concurso de crimes quando são violados bens jurídicos
eminentemente pessoais (vida, integridade física, honra, liberdade).
Exemplo: O crime de sequestro estão em causa valores pessoais (liberdade), por isso se
estiverem sequestradas ao mesmo tempo 3 pessoas há três crimes de sequestro.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 41
Exemplo: envenenar a comida numa refeição e matar 3 pessoas, há três crimes de
homicídio porque foram ofendidos bens pessoais (a vida).
Exemplo: Chamar nomes “feios” ofensivos, a várias pessoas ao mesmo tempo, há vários
crimes de injúrias, consoante as pessoas que foram ofendidas/ injuriadas.
Notas
Direito comparado
V. art. 30º, n. 2
Artigo 42º
Concurso de normas
Ao facto susceptível de ser qualificado como crime, no todo ou em parte, por mais de uma
disposição legal, não se tratando das situações descritas nos artigos anteriores, é aplicada
uma só norma incriminadora conforme as seguintes regras:
a) A norma especial aplica-se em prejuízo da norma geral;
b) A norma subsidiária prefere à norma principal;
c) A norma mais ampla e complexa consome a que prevê factos subsumíveis na sua
previsão.
Observações
Salvo os casos dos artigos anteriores, tem de se aplicar uma só norma ao facto tipico.
As regras para se fixar a norma aplicável são:
- Norma especial aplica-se (e não a norma geral).
Especialidade – um dos tipos aplicáveis (tipo especial) incorpora os elementos essenciais de um
outro tipo, também aplicável abstractamente (tipo fundamental), acrescentando elementos
suplementares ou especiais referentes àquele facto ou ao próprio agente.
Exemplo: O artigo 132.º (homicídio qualificado), ou 133.º (homicídio privilegiado),
relativamente ao artigo 131.º (homicídio);
A aplicação da lei especial afasta a aplicação da lei geral.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 42
- Norma subsidiária aplica-se (e não a norma principal)
Subsidiariedade – certas normas só se aplicam subsidiariamente, ou seja, quando o facto não é
punido por uma outra norma mais grave.
Casos há, na verdade, em que a lei expressamente condiciona a aplicação de um preceito à não
aplicação de outra norma mais grave
Exemplo:
As normas que punem expressamente actos preparatórios de crimes em relação aos
crimes cujo preenchimento eles visam.
- Norma mais ampla e/ou complexa aplica-se (e não a norma mais restrita/simples)
Este artigo refere-se ao concurso aparente.
Consumpção – o preenchimento de um tipo legal (mais grave) inclui o preenchimento de um
outro tipo legal (menos grave) – devendo a maior ou menor gravidade ser encontrada na
especificidade do caso concreto.
Exemplo que vimos do assalto à casa:
- Armando assalta uma casa, para entrar arrombou a porta, entrou e depois viu um cofre,
arrobou a porta do cofre, e retirou um colar de pérolas.
Furto qualificado – art.º 252º, n. 1, al. F), Violação do domicílio – art. 185º e Dano – art.
258º:
O agente aqui será punido pelo facto mais grave -art.º 252º, n. 1, al. f), e por força dos princípios
“ne bis in idem”, não será punido duas vezes pelo mesmo facto e “lex consumens derogat lex
consumate”.
O facto mais grave “consome” (Consumpção) o facto menos grave.
Notas
Direito comparado
V. art. 30º, n. 1.
CAPÍTULO V
CAUSAS DE EXCLUSÃO
SECÇÃO I
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 43
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE
Artigo 43º
Exclusão da ilicitude
1. O facto não é criminalmente punível quando a sua ilicitude for excluída pela ordem
jurídica considerada na sua totalidade.
2. Nomeadamente, não é ilícito o facto praticado no exercício de um direito ou no
cumprimento de um dever, em legítima defesa, em estado de necessidade justificante ou
mediante consentimento.
Observações
N.1 – A ordem jurídica pode excluir a ilicitude de um facto, e nesse caso ele não é punível, basta
que um ramo de direito considere o facto como legal para que o Dt. Penal não o possa punir.
N.2 – Indicam-se alguns exemplos de causas de exclusão da ilicitude.
O Direito Penal é a última fronteira para permissão de factos, assim desde que, por exemplo, o
Código civil permita que um cidadão tenha um comportamento, que o direito penal já não o
deverá punir.
Se para um ramo do direito (civil, fiscal, laboral, comercial, etc.) o facto é válido, então esse
facto não deve ser punido pelo direito penal.
Exemplos:
Numa busca, viola-se a propriedade de alguém, contudo esse facto é justificado se existir
um Mandado de Busca emanado por um Juiz.
-Quando se detêm alguém, à partida estamos a violar o seu direito à liberdade, contudo a
Lei Constitucional, Lei Processual Penal e Lei Penal, permite face o comportamento da
pessoa.
- Quando a Polícia age em conformidade com a Lei, porque pode e deve, poderá estar a
desrespeitar direitos de alguém, contudo essa “violação” é permitida porque existem
razões para que tal aconteça.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 44
Notas
Direito comparado
V. art. 31º.
Artigo 44º
Legítima defesa
Considera-se legítima defesa a actuação do agente necessária ao afastamento de uma
agressão ilícita, iminente ou actual, a quaisquer interesses juridicamente protegidos do
agente ou de terceiro.
Observações
Existe legítima defesa quando o agente age para afastar:
- Uma agressão ilegal contra ele
- Iminente ou que está a já a ocorrer.
- Que afecta um interesse jurídico protegido pela Lei
- Sendo titular do direito o agente ou terceiro.
Exemplo:
João envolve-se em discussão com Baltazar.
A certa altura, para impedir que João o agrida com um soco, Baltazar dá-lhe com uma
cadeira nas pernas.
Ora, apesar de a conduta de Baltazar caber no tipo de ofensas à integridade física simples, do
Art. 145º, n.º 1, do C. Penal, ela não é ilícita porque visa afastar de forma adequada, ou seja, não
excessiva, a agressão actual e ilícita de João.
Trata-se de um caso de legítima defesa, pois cumpre todas as exigências do Art. 44º do C. Penal.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 45
- Baltazar protege um bem pessoal (a sua integridade física) à custa de outro interesse
juridicamente protegido (a integridade física de João), mas defende o Direito perante o ilícito,
impedindo que uma agressão ilícita atinja o seu objectivo.
- É este último aspecto que torna o interesse protegido por Baltazar superior ao interesse
sacrificado:- Baltazar defende-se e defende o Direito, ele faz a vez da autoridade pública.
É preciso, que não exista uma desproporção grande entre o interesse sacrificado e o interesse
defendido.
- Por isso que, por exemplo, se considere que causar a morte em defesa exclusiva de bens
patrimoniais não constitui legítima defesa dada a desproporção entre os bens jurídicos.
- É ainda preciso que a acção defensiva seja adequada ou “necessária”, para afastar a agressão.
O que significa que se Baltazar, podendo utilizar a cadeira, puxa de uma arma e dá um tiro a
João num braço, apesar de não haver uma desproporção clara ou inequívoca entre o bem jurídico
protegido (a integridade física de Baltazar) e o lesado (a integridade física de João), a defesa é
desnecessária, inadequada ou excessiva, pois Baltazar tinha à disposição um meio perfeitamente
adequado e menos gravoso:- a cadeira.
Neste caso estamos perante um excesso de legítima defesa, continuando o facto a ser ilícito. É o
que estipula o Artº 48º n.º 1, do C. Penal.
Notas
Direito comparado
V. art. 32º.
Artigo 45º
Estado de necessidade
Não é ilícito o facto praticado como meio adequado para afastar um perigo actual que
ameace interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro, quando se verifiquem
os seguintes requisitos:
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a) Haver sensível superioridade do interesse a salvaguardar relativamente ao
interesse sacrificado; e
b) Ser razoável impor ao lesado o sacrifício do seu interesse em atenção à natureza
ou ao valor do interesse em perigo.
Observações
Estado de necessidade ocorre quando o agente:
- Pratica um facto como forma adequada a afastar um perigo actual
- Perigo para interesse jurídicos relevantes
- Do agente ou terceiro
Desde que:
- O interesse a proteger seja superior, para a Lei, que o interesse a sacrificar
E,
- A natureza ou valor do interesse protegido (e em perigo), leve a concluir, ser razoável
sacrificar o outro interesse.
Exemplo:
O Comandante de um navio que atira a carga ao mar (crime de dano) para evitar o
afundamento do navio e salvar a tripulação.
Há aqui direito de necessidade porque o perigo de afundamento do navio não foi praticado pelo
Comandante e o crime que este praticou (dano), é meio adequado para afastar o perigo de o
navio se afundar e a tripulação morrer.
A vida da tripulação e o valor económico do navio é superior ao valor da carga.
Por fim, é razoável forçar o proprietário da carga deitada ao mar o sacrifício de ficar sem a
mesma dado que a natureza e valor dos bens ameaçados é superior ao bem jurídico sacrificado.
Notas
Direito comparado
Art. 34º.
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Artigo 46º
Conflito de deveres
1. Não é ilícita a conduta de quem, em caso de conflito no cumprimento de deveres
jurídicos ou ordens legítimas da autoridade, satisfizer dever ou ordem de valor igual ou
superior ao do dever ou ordem que sacrificar.
2. O dever de obediência hierárquica cessa quando conduz à prática de um crime.
Observações
N. 1 - Existe conflito de deveres quando:
O agente que tiver que cumprir ordens ou cumprir deveres,
Desobedece à ordem ou cumpre outro dever
Desde que,
A ordem ou dever seja de igual valor à ordem desobedecida ou dever incumprido
N. 2 – A obediência ao superior hierárquico deixa de existir quando as ordens do superior levam
à prática de crimes pelo subordinado (inferior hieráquico).
Exemplo:
Quando viajava de carro (comercial com dois lugares apenas), João vê um acidente com
dois feridos graves. A cidade mais próxima fica a 15 Km. E João só tem possibilidade de
transportar um dos feridos.
Coloca um deles no lugar disponível existente e leva-o ao hospital, salvando-lhe a vida.
O outro ferido, que não pôde ser transportado, morre por falta de assistência.
Existe uma omissão de João face um dos feridos (crime de omissão de auxílio do art. 227º, n. 1
do C. Penal), mas a conduta omissiva de João, não é ilícita porque ele actua num quadro de um
conflito de deveres.
João está obrigado a salvar a vida das duas pessoas que se encontravam em perigo. No entanto,
ele só tem possibilidade de salvar uma delas, isto é, só pode cumprir um dever à custa da
violação de outro dever.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 48
Se em lugar de viajar de comercial viajasse com um carro com 4 lugares e decidisse transportar
apenas um ferido, podendo transportar os dois, já não haveria conflito de deveres - apenas a
prática de um crime, o do art. 227º, n. 1.
Basta que o agente cumpra um dever igual ao dever que não cumpre, para que o facto seja
aprovado pelo Direito.
Notas
Direito comparado
Art. 36º.
Artigo 47º
Consentimento
1. Além dos casos especialmente previstos na lei, o consentimento exclui a ilicitude do facto
quando se referir a interesses jurídicos livremente disponíveis e o facto não ofender os bons
costumes.
2. O consentimento pode ser expresso por qualquer meio que traduza uma vontade séria,
livre e esclarecida do titular do interesse juridicamente protegido, e pode ser livremente
revogado até à execução do facto.
3. O consentimento só é eficaz se for prestado por quem tiver mais de 16 anos e possuir o
discernimento necessário para avaliar o seu sentido e alcance no momento em que o presta.
4. Se o consentimento não for conhecido do agente, este é punível com a pena aplicável à
tentativa.
5. Ao consentimento efectivo é equiparado o consentimento presumido, que se verifica
quando a situação em que o agente actua permitir razoavelmente supor que o titular do
interesse juridicamente protegido teria eficazmente consentido no facto, se conhecesse as
circunstâncias em que este é praticado.
Observações
N. 1 – O titular de um direito que a Lei permite que seja usado pelo próprio (disponível), pode
dar autorização a alguém a fazer algo perante esse direito, que de outra forma seria crime.
Esta autorização não pode violar os bons costumes.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 49
N.2 – Quem consente, tem de fazê-lo de forma séria (não é brincadeira), de forma livre (não
ameaçado ou obrigado) e esclarecida (consciente do que faz).
N. 3 – tem legitimidade o maior de 16 anos com capacidade para saber o que faz, quando dá o
consentimento.
N. 4 – O agente que aja sem saber se tem consentimento do dono do direito é punido com pena
aplicável à tentativa.
Exemplo
Guga (de 50 anos de idade) e Catarina, de dezoito anos de idade, estão apaixonados e o
único obstáculo ao seu casamento é a oposição dos pais dela.
Cansado da situação, Guga propõe a Catarina o seguinte plano:- nessa noite ele encostará
uma escada na janela do quarto dela e silenciosamente fugirão os dois para longe.
Catarina concorda.
Poderá Guga ser punido pelo crime de Rapto definido no Art.º 161º, n. 1 do C. Penal?
Catarina, ao consentir no rapto, renunciou à protecção da sua liberdade e tornou lícito o
comportamento de António.
Por outro lado, o consentimento não é contrário aos bons costumes: se o fosse, a ilicitude não
seria excluída.
Assim acontecia, por exemplo, se Catarina consentisse no rapto para ser escrava de Guga. A
finalidade deste consentimento suscitaria grande repulsa por ser contrário a princípios
fundamentais da civilização moderna.
Neste caso, o Direito não aprova esta forma de Catarina dispor da sua liberdade.
Finalmente, note-se que Catarina já tem idade para dar consentimento.
N. 5 – Se o agente age convencido que caso o dono do direito soubesse do que se passa, o
autorizava a agir, existe consentimento presumido.
Exemplo:
Joana, na ausência do patrão e na impossibilidade de comunicar com ele, abriu uma carta
que lhe era dirigida e que trazia o carimbo de “importante”.
Deverá Joana ser punida pelo crime de Violação de correspondência ou de
telecomunicações tipificado no art. 187º, n.º 1, do C. Penal?
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 50
A resposta é Não. Joana não deve ser punida porque actua ao abrigo de um consentimento
presumido, senão vejamos:
- Não era possível obter o consentimento expresso do patrão
- Joana actuou no interesse do patrão (o carimbo de “Importante” faz pensar que a carta é
importante e que o não conhecimento do conteúdo pode prejudicar o patrão).
- É razoável supor que se o patrão soubesse (no local onde estiver), consentiria na abertura da
carta.
Notas
Direito comparado
Art. 38º.
SECÇÃO II
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPA
Artigo 48º
Excesso de legítima defesa
1. Os meios que, pela sua espécie ou grau de utilização, forem excessivos para a acção
defensiva do agente podem determinar a atenuação extraordinária da pena que caberia ao
crime.
2. O excesso de meios utilizados na legítima defesa devido a perturbação, medo ou susto,
não censuráveis, exclui a culpa do agente.
Observações
N. 1 – Há excesso de legitima defesa quando o agente:
- Pelo tipo de meios que usa
- Pela intensidade com que usa (grau) os meios que utiliza
- Forem superiores (excessivos em relação) ao ataque ilegal que sofre ou iria sofrer
Neste caso, o agente é condenado mas a pena extraordinariamente atenuada.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 51
A natureza do ataque determina a medida dos meios a utilizar. Os meios devem ser
proporcionais.
Exemplo:
- Se alguém agride outrem com uma bofetada não deve essa pessoa agredida defender-se
utilizando uma arma de fogo pois os meios são manifestamente desequilibrados (haveria
excesso de legítima defesa).
- Se a agressão é levada a cabo através da força muscular (murro e pontapé), o meio a
utilizar deverá se possível, ser a força muscular.
- Se alguém nos agride a soco e for possível segurar-lhe os braços, deverá ser esse o
procedimento.
É nítido o excesso dos meios empregues se o agressor utilizar a força muscular e repelirmos essa
agressão a tiro com uma arma de fogo.
- Não é adequado ou proporcional a morte para proteger a propriedade.
- Mas já poderá ser adequada e proporcional matar o agressor para evitar ser morto ou, que uma
terceira pessoa seja morta.
N. 2 – quando agente se tenha excedido na sua defesa:
- Devido a medo, susto ou perturbação,
- Que seja compreensível e não lhe seja de censurar,
Então exclui-se a culpa do agente.
Exemplo:
Leopoldo ataca Diamantino de surpresa, de noite e num local isolado, decidido a dar-lhe
uma tareia.
Surpreendido e assustado, Diamantino que na altura tinha uma pistola, saca da pistola e
desfere um tiro na cabeça do agressor, matando-o.
Sabe-se depois que no local existem paus e pedra que permitiriam a Diamantino
defender-se sem matar Leopoldo.
Diamantino reage contra uma agressão actual e ilícita de Leopoldo.
No entanto, será que a reacção foi excessiva?
Ele tinha á disposição um meio eficaz e menos gravoso para os bens do agressor (Integridade
física e Vida) que era o pau.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 52
Neste sentido, disparar uma pistola na cabeça constitui uma actuação desnecessária. Portanto, o
comportamento de Leopoldo permanece ilícito, sendo até possível agir contra ele em legítima
defesa.
Deverá Diamantino ser punido pelo crime de homicídio?
Parece-nos que não. O excesso por ele cometido explica-se em grande parte pelo susto causado
pela agressão de Leopoldo, praticada de surpresa, de noite e em lugar ermo.
Deste modo, o excesso no meio utilizado é provocado pelo susto que por sua vez é determinado
pelas condições em que teve lugar a agressão.
Consequentemente, apesar de não aprovar em geral o seu comportamento, o Direito não pode
exigir de Diamantino, naquelas circunstâncias, um comportamento diferente e, nessa medida,
não pode censurá-lo.
A maneira de atacar impede que um cidadão normal possa com frieza escolher o meio de defesa
mais adequado.
Notas
Direito comparado
Art. 33º.
Artigo 49º
Estado de necessidade desculpante
1. Age sem culpa quem praticar um facto ilícito adequado a afastar um perigo actual, e não
removível de outro modo, que ameace a vida, a integridade física, a honra ou a liberdade
do agente ou de terceiro, quando não seja razoável exigir dele, segundo as circunstâncias do
caso, comportamento diferente.
2. Se o perigo ameaçar interesses jurídicos diferentes dos referidos no número anterior, e se
verificarem os restantes pressupostos ali mencionados, pode a pena ser
extraordinariamente atenuada ou, excepcionalmente o agente ser isento da pena.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 53
Observações
N. 1 - O estado de necessidade desculpante surge quando o agente pratica um facto contra a lei,
mas adequado a:
Afastar um perigo actual
Perigo que não pode ser afastado sem ser daquela forma que o agente faz.
Perigo que ameaça a vida/ integridade fisica/ Honra / liberdade
Do próprio ou de terceiro.
E,
Não seja de bom senso exigir ao agente que tenha outro tipo de atitude.
Neste caso considera-se que age sem culpa.
N. 2 – Se o perigo ameaçar outros interesse que não os anteriores (designadamente interesses
patrimoniais), mas existirem os restantes pressupostos então,
O agente tem culpa, mas na condenação a pena é extraordinariamente atenuada ou mesmo não
aplicada (isenção de pena).
Exemplo:
Samuel chega à rua onde mora e vê a casa dum vizinho a arder, em chamas, e ouve gritos
de uma criança vindos do seu interior.
De imediato arromba a porta da casa do seu vizinho (crime de dano e invasão de
domicilio), e tira a criança.
Exemplo:
Existe um naufrágio com dois sobreviventes.
Ambos tentam salvar a vida, nadando sem parar, no oceano, até que avistam ambos uma
tábua a flutuar.
A tábua apenas suporta uma pessoa.
O sobrevivente mais forte, alcança-a primeiro e, impede o outro de subir para ela
provocando-lhe a morte por afogamento (crime de homicidio).
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 54
Salva-se um bem jurídico (a vida do sobrevivente) de valor idêntico ao bem que lesou (a vida do
que que não sobreviveu porque não ficou com a tábua para se apoiar no oceano até ser salvo).
Não estamos perante um estado de necessidade justificante do Art. 45º, pelo que o
comportamento do naufrago sobrevivente é ilegal.
No entanto, o Direito não faz ao sobrevivente nenhuma censura penal pessoal.
Se ele não tivesse pontapeado o outro, impedindo-o de subir para a tábua, ou morreria afogado
com o seu colega de infortúnio – já que a tábua não suportava os dois -, ou poderia ser morto
pelo próprio Frederico na sua ânsia de salvamento.
Notas
Direito comparado
Art. 35º.
Artigo 50º
Obediência indevida desculpante
Age sem culpa o funcionário que cumpre uma ordem sem conhecer que ela conduz à
prática de um crime, não sendo isso evidente no quadro das circunstâncias por ele
representadas.
Observações
Age sem culpa o funcionário que:
- Cumpre uma ordem
- Sem conhecer que ela conduz a um crime
- Não sendo o crime previsível no caso concreto (pelo funcionário).
Exemplo 1:
O funcionário que cumpra uma ordem, sem ter noção, que esse cumprimento conduzirá à
prática de um crime, não sendo isso evidente no seu consciente, age sem culpa – Causa
de exclusão da culpa.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 55
Exemplo 2:
Superior hierárquico que abana uma folha dizendo ao subordinado que é um mandado de
busca e apreensão num certo local, ordenando-lhe que arrombe a porta da casa para fazer
a busca.
Notas
Direito comparado
V. Art. 37º.
TÍTULO III
DAS CIRCUNSTÂNCIAS
CAPÍTULO ÚNICO
REGRAS GERAIS
Artigo 51º
Determinação da medida da pena
1. A determinação da medida da pena, dentro dos limites definidos na lei, é feita em função
da culpa do agente e das exigências de prevenção.
2. Na determinação concreta da pena o tribunal atende a toadas as circunstâncias que, não
fazendo parte do tipo de crime, depuserem a favor do agente ou contra ele.
3. Na sentença são expressamente referidos os fundamentos da medida da pena.
Observações
N. 1 – é feita nos termos da Lei, em função da (maior ou menor) culpa do agente e das
exigências (gerais e especiais) de prevenção.
N. 2 – Na pena concreta entram as circunstâncias contra e/ou a favor do agente que não fazem
parte do tipo de crime.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 56
N. 3 – Os fundamentos da pena têm de ser expressos (declarados) na sentença.
Notas
Direito comparado
V. art. 71º.
Artigo 52.º
Circunstâncias agravantes gerais
1. São consideradas circunstâncias agravantes gerais da responsabilidade do agente todas
as circunstâncias anteriores, contemporâneas ou posteriores ao crime, que, não fazendo
parte do tipo legal, revelem um maior grau de ilicitude dos factos, da conduta ou da culpa
do agente, aumentando a necessidade da pena.
2. São susceptíveis de constituir circunstâncias agravantes gerais, entre outras, as
seguintes:
a) Execução do crime com deslealdade, entendendo-se que tal acontece nos casos de
traição, emboscada, espera, disfarce
b) O crime ser praticado contra as pessoas empregando meios, modos ou formas que
directas ou indirectamente visem garantir a execução sem o perigo que lhe poderia
resultar da eventual defesa do ofendido;
c) O crime ser praticado mediante fraude, engano, excesso de poder ou de
autoridade ou aproveitando-se das circunstâncias de lugar, tempo
d) O crime ser cometido mediante o pagamento ou a recepção de um valor ou
recompensa;
e) O crime ser motivado por razões racistas ou qualquer outro sentimento
discriminatório por causa do género, ideologia, religião ou crenças da vítima, da
etnia, da nacionalidade a que pertença, em razão do sexo ou das suas orientações
sexuais, ou de enfermidade ou diminuição física de que sofra;
f) Ter o agente o dever especial de não cometer o crime, de impedir a sua prática ou
de concorrer para a sua punição ou prevalecer-se, para a prática do crime, de
autoridade pública que detenha ou invoque;
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 57
g) Não sendo caso de reincidência, o agente tiver praticado um ou mais crimes da
mesma natureza nos 3 anos anteriores ao momento da prática daquele por que
estiver a ser julgado, independentemente da altura da condenação;
h) O crime ser praticado na mesma ocasião de outro crime como meio de facilitar a
realização de outro ou outros crimes;
i) Execução do crime ser facilitada pelo facto do agente entrar ou tentar entrar na
residência do ofendido ou utilizar veneno, inundação, incêndio, explosão, naufrágio
ou avaria de barco ou arma
j) A prática do crime ou o aproveitamento das consequências do mesmo ser
facilitada pelo concurso de duas ou mais pessoas;
k) Aumentar intencional e desumanamente o sofrimento da vítima causando-lhe
sofrimentos desnecessários à consumação ou quaisquer outros actos de espoliação,
crueldade ou destruição também desnecessários à execução do crime;
l) O ofendido ser ou ter sido cônjuge ou se encontrar em situação de facto idêntica,
ou ser ascendente, descendente, irmão, adoptado ou adoptante do agente;
m) O ofendido ser pessoa particularmente vulnerável em razão da idade, doença ou
deficiência física ou psíquica, sempre que tal circunstância não faça parte do tipo
legal.
Observações
N. 1 – São situações independentes do crime cometido, que são da vida do agente, e que agravam
a responsabilidade criminal do mesmo, as circunstâncias que ocorrem:
Antes do crime (anteriores),
Durante a execução do crime (contemporâneas)
Depois do crime ocorrer (posteriores)
E, que, não sendo elementos do tipo crime em especial, revelam:
- Grau superior de ilicitude dos factos executados pelo agente
- Grau superior de conduta criminosa do agente
- Grau superior de culpa do agente na prática do facto
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 58
N. 2 – As alíneas a) a m) são exemplos de circunstâncias agravantes gerais.
Notas
Direito comparado
No Código Penal Português não se regula de forma específica como em Timor a questão das
circunstâncias agravantes.
Assim encontramos em vários artigos ao longo do código estas agravantes, como por exemplo:
Art. 294º (Agravação, atenuação especial e dispensa da pena para os crimes mencionados nesse
artigo).
Mas também art. 177º, 184º, 197º, 343º, 361º (agravantes)
Art, 18º (agravação da pena pelo resultado)
Art. 147º, 285º (agravação pelo resultado).
Artigo 53º
Reincidência
1. É punido como reincidente quem, por si só ou sob qualquer forma de comparticipação,
cometer um crime doloso que deva ser punido com prisão efectiva superior a 6 meses,
depois de ter sido condenado por sentença transitada em julgado em pena de prisão
efectiva superior a 6 meses por outro crime doloso, se, de acordo com as circunstâncias do
caso, o agente for de censurar por a condenação ou as condenações anteriores não lhe
terem servido de suficiente advertência contra o crime.
2. Se entre a prática de um e outro crime tiverem mediado mais de quatro anos, não se
verifica a reincidência, não se contando no referido prazo o tempo em que o agente tiver
cumprido medida processual, pena ou medida de segurança privativas da liberdade.
3. Em caso de reincidência, o limite mínimo da pena aplicável ao crime é elevado de um
terço e o limite máximo permanece inalterado, não podendo a agravação exceder a medida
da pena mais grave aplicada nas condenações anteriores.
Observações
Considera-se reincidente aquele que (sózinho ou acompanhado):
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 59
- Comete um crime doloso punido com mais de 6 meses de prisão.
- Comete o crime doloso depois de já ter sido condenado por outro crime (a titulo de dolo
e não de negligência) com pena de prisão (efectiva) superior a 6 meses, e a decisão
transitada.
- Quando seja de censurar o agente pelo facto de a (s) condenação (condenações) não lhe
terem servido de alerta para evitar cometer outros crimes.
N. 2 - Entre os crimes não pode decorrer mais de 4 anos, não contando neste prazo o tempo que o
agente esteve privado de liberdade.
N. 3 – O mínimo da pena é aumentado em cerca de 1/3 e, a agravação não ultrapassa a medida da
pena mais grave das condenações aplicadas ao arguido (condenado).
Notas
Direito comparado
V. art. 75º e art. 76º.
Artigo 54º
Habitualidade criminal
1. Quando o agente praticar um crime doloso a que deva aplicarás, concretamente, pena de
prisão efectiva superior a 1 ano ocorrendo, cumulativamente, os seguintes requisitos:
a) O agente ter praticado anteriormente três ou mais crimes dolosos a que tenha sido
aplicada pena de prisão efectiva;
b) Terem decorrido menos de três anos entre cada um dos crimes e o seguinte;
c) A avaliação conjunta dos factos e da personalidade do agente revelar acentuada ou
perigosa tendência para o crime;
a pena aplicável é a do crime cometido elevando-se os limites mínimo e máximo em um
terço.
2. O disposto neste preceito prevalece sobre as regras próprias da punição da reincidência.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 60
Observações
Considera-se criminoso habitual quem:
- Pratica crime com dolo
- Punido com prisão efectiva superior a 1 ano
- Tendo antes executado 3 ou mais crimes que foram punidos com prisão efectiva
- Com intervalos de 3 anos entre os crimes
- Sendo a avaliação conjunta dos factos (provados no processo) e, da personalidade do
agente reveladora de que o agente tem tendência para o crime.
Como consequência:
- Eleva-se o mínimo e o máximo da moldura penal abstracta em 1/3.
N. 2 – Se o condenado tem a qualidade de reincidente e de criminoso habitual, aplica-se o regime
do criminoso habitual para punir o arguido, sendo a moldura da pena elevada em 1/3 nos seus
limites legais.
Notas
Direito comparado
No código Penal Português menciona-se a questão em relação aos crimes habituais, aqueles onde
o arguido se dedica de forma profissional ou habitual a cometer crimes, mas não se individualiza
uma disposição como esta, que existe neste Código, assim são exemplos de criminalidade
habitual os artigos 176º, n. 2 (Lenocínio) e, art. 141º, n. 2, o aborto, quando agente se dedica á
sua prática.
Artigo 55º
Circunstâncias atenuantes gerais
1. São consideradas circunstâncias atenuantes gerais da responsabilidade do agente, as
circunstâncias que precedam, acompanhem ou ocorram após a prática do crime e que
deponham a favor do agente.
2. São susceptíveis de constituir circunstâncias atenuantes gerais, entre outras, as seguintes:
a) As causas de exclusão referidas no capítulo anterior, sempre que se não verifique
a totalidade dos requisitos previstos para que a causa de exclusão produza efeitos;
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 61
b) O agente actuar em consequência de factos causadores de emoção violenta,
obsessão ou outro estado passional de idêntica natureza ou reagir em acto imediato
a provocação;
c) O agente apresentar-se voluntariamente às autoridades antes de conhecer a
existência de procedimento criminal contra si;
d) O agente confessar espontaneamente a prática do crime ou contribuir
decisivamente para o apuramento das circunstâncias em que a acção criminosa
ocorreu;
e) A existência de actos demonstrativos do arrependimento sincero do agente;
f) A pouca intensidade do dolo ou da negligência;
g) A reconciliação entre a vítima e o agente.
Observações
N. 1 – São aspectos “que estão fora do crime em si”, mas que ajudam a determinar com mais
exactidão o facto típico e ilícito.
Ocorrem antes (precedem), durante (acompanham) ou depois (após) a execução do crime, e, que
funcionam como atenuadores da pena.
N. 2 – Indicam-se exemplos de atenuantes gerais.
Notas
Direito comparado
V. art. 72º.
Art. 345º.
Art. 286º e 364º.
Artigo 56º
Circunstâncias de atenuação extraordinária
1. Para além dos casos expressamente previstos na lei, a pena prevista no tipo legal de
crime é extraordinariamente atenuada sempre que existam circunstâncias anteriores,
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 62
contemporâneas ou posteriores ao crime que conjunta ou individualmente, diminuam por
forma acentuada a ilicitude da conduta, a culpa do agente ou a necessidade da pena:
2. Para efeito do disposto no número anterior, são consideradas entre outras, as seguintes
circunstâncias:
a) O agente ter actuado sob a influência de ameaça grave ou sob o ascendente de
pessoa de que depende ou a quem deve obediência;
b) A conduta do agente ser determinada por motivo honroso, por forte solicitação
ou tentação da própria vítima ou por provocação injusta ou ofensa imerecida;
c) O agente reparar o dano causado ou diminuir os seus efeitos, em qualquer
momento do processo mas antes de iniciada a audiência de julgamento;
d) Ter decorrido muito tempo sobre a prática do crime, mantendo o agente boa
conduta;
e) Ser o agente portador de imputabilidade sensivelmente diminuída.
Observações
N. 1 - São circunstâncias que:
- Por si próprias
- Em conjunto
Diminuem bastante a:
- Ilicitude da conduta do agente
- A culpa do agente
- A necessidade de aplicar uma pena ao agente.
Levando à atenuação da pena prevista no tipo legal.
N. 2 – Indicam-se alguns exemplos de circunstâncias de atenuação extraordinária
Notas
Direito comparado
V. art. 72º.
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Artigo 57º
Graus de atenuação extraordinária
1. Sempre que houver lugar à atenuação extraordinária da pena, observa-se o seguinte
relativamente aos limites da pena aplicável:
a) Limite máximo da pena de prisão é reduzido de um terço;
b) Limite mínimo da pena de prisão é reduzido a um quinto se for igual ou superior
a 3 anos e ao mínimo legal se for inferior;
c) Limite máximo da pena de multa é reduzido de um terço e o limite mínimo
reduzido ao mínimo legal;
d) Se o limite máximo da pena de prisão não for superior a 3 anos pode a mesma ser
substituída por multa, dentro dos limites gerais.
2. A pena extraordinariamente atenuada que tiver sido em concreto fixada é passível de
substituição, incluída a suspensão, nos termos gerais.
Observações
Estabelecem-se critérios para reduzir a pena aplicável:
Pena de prisão
- Reduz-se 1/3 no limite máximo
- Reduz-se 1/5 no limite mínimo quando este seja igual ou superior a 3 anos
- Reduz-se mínimo da pena de prisão ao mínimo legal se for inferior a 3 anos
Multa
- Reduz-se 1/3 o limite máximo
- Reduz-se ao mínimo legal o limite mínimo
- Pode a multa substituir pena de prisão que tenha limite máximo de 3 anos (nos termos
gerais).
N. 2 – Em concreto, a pena extraordinariamente reduzida para aplicar ao arguido, ainda pode ser
substituida (ou mesmo, suspensa), nos termos gerais.
Notas
Direito comparado
V. art. 73º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 64
Artigo 58.º
Concurso de circunstâncias
1. A ocorrência de uma circunstância modificativa da moldura abstracta do tipo legal
determina a aplicação do regime de atenuação extraordinária previsto no artigo anterior.
2. No caso de concorrerem duas ou mais circunstâncias modificativas da moldura abstracta
do tipo legal, apenas uma é considerada nos termos do artigo anterior, funcionando as
restantes como circunstâncias de carácter geral na determinação da medida da pena.
Observações
N. 1 – Quando ocorre uma circunstância que muda a moldura abstracta de um tipo legal (limite
mínimo e máximo da pena aplicável), aplica-se o regime do art. 57º.
N. 2 – Se forem várias as circunstâncias modificativas apenas uma (1) é aplicada para alterar o
limite mínimo e máximo da pena aplicável nos termos do art. 57º.
As outras que existem, funcionam como circunstâncias gerais para fixar a pena em concreto.
Notas
Direito comparado
V. art. 72º, n. 3.
TÍTULO IV
DAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO CRIME
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Artigo 59º
Penas e medidas de segurança
1. Não é permitida a aplicação de pena de morte ou de pena privativa de liberdade ou de
medida de segurança com carácter perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida.
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2. Não é permitida a aplicação simultânea de pena e de medida de segurança privativas da
liberdade pela prática do mesmo facto.
Observações
N. 1
- Não existe pena de morte
- Não existe pena ou medida de segurança com carácter perpétuo ou sem prazo certo
N. 2 – Ao mesmo facto, não se pode aplicar uma pena e uma medida de segurança privativas da
liberdade do arguido.
Notas
Direito comparado
V. art. Constituição da República Portuguesa, art. 24º
Artigo 60º
Limite das penas e das medidas de segurança
1. A pena concreta nunca pode ultrapassar a medida da culpa.
2. A medida de segurança fundamenta-se na perigosidade do agente da prática de um facto
previsto como crime e dura até se verificar que cessou o estado de perigosidade criminal
que lhe deu origem, não podendo, ter uma duração superior ao limite máximo da pena
correspondente ao crime referido.
Observações
N.1- A pena aplicada ao arguido tem como limite a culpa deste na prática do crime.
N. 2 – A medida de segurança aplicada ao inimputável:
- Tem por base a perigosidade deste
- Dura enquanto o agente for perigoso
- Não pode ter duração superior ao tempo que tem o limite máximo da pena aplicável ao
caso concreto.
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Não há pena sem culpa e a culpa é decisiva para a medida concreta da pena – nulla poena sine
culpa.
Notas
Direito comparado
V. art. 40º, n. 2 e 3.
Artigo 61.º
Finalidade das penas e medidas de segurança
A aplicação de penas e de medidas de segurança visa a protecção de bens jurídicos
essenciais à vida em sociedade e a reintegração do agente nesta.
Observações
As sanções criminais têm por objectivo:
- Proteger bens jurídicos
- Reintegrar o agente na sociedade
Prevenção geral – A aplicação das penas e das medidas de segurança tem como finalidade a
prevenção geral, positiva, de integração: “protecção de bens jurídicos”.
Esta forma de prevenção geral leva as pessoas a “pensar duas vezes” antes de cometer um crime
(coercibilidade preventiva).
A prevenção geral pretende levar as pessoas a não cometer crimes, há aqui patente a ameaça
com a pena, a qual tem poder de dissuasão.
Prevenção especial – tem como finalidade permitir que, depois de aplicada a pena, o agente
tenha adquirido consciência que não deve tornar a errar e, assim deve viver novamente em
comunidade.
Visa a reintegração do agente na sociedade, conduzir a sua vida de modo socialmente
responsável (é um objectivo ressocializador).
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 67
Chama-se prevenção especial na perspectiva de que ao punir um indivíduo pretende-se que ele
não cometa mais crimes ou porque sente que foi “segregado” ou “estigmatizado” com o
cumprimento da pena, ou porque foi ressocializado.
Notas
Direito comparado
V. art. 40º, n 1.
Artigo 62º
Escolha da pena e da medida de segurança
1. Se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena privativa e não privativa da
liberdade, o tribunal dá preferência à segunda sempre que esta realizar de forma adequada
e suficiente as finalidades da punição.
2. Na escolha do tipo de medida de segurança a aplicar ao agente cuja perigosidade se
mostre processualmente adquirida, tem-se em consideração a personalidade daquele e o
modo de tratamento adequado ao caso.
Observações
N. 1 –
Ao prever-se para o crime a punição com prisão ou com pena não privativa de liberdade, deve
aplicar-se sempre que possível, a pena não privativa da liberdade.
N. 2 –
Na escolha do tipo de medida de segurança a aplicar ao agente, no processo onde haja provas de
que é perigoso, considera-se:
- Personalidade do agente e,
- Tratamento adequado para a situação
Relativamente às penas, elas podem ser privativas ou não privativas da liberdade das pessoas,
independentemente das penas acessórias.
Dá-se preferência às penas não privativas de liberdade.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 68
- Penas não privativas da liberdade
- multa
- deveres
- regras de conduta
- regime de prova
- prestação de trabalho
- admoestação
- liberdade condicional
- dispensa da pena
- Penas privativas da liberdade:
Prisão
- Medida de segurança privativa da liberdade:
Medidas de internamento
- Medidas de segurança não privativas da liberdade:
Suspensão temporária do exercício de funções públicas; Proibição do exercicio de função;
Expulsão; Proibição de condução; Cassação da licença de porte de arma.
Notas
Direito comparado
V. art. 70º.
Artigo 63º
Efeitos das penas e das medidas de segurança
Nenhuma pena ou medida de segurança tem, como efeito necessário, a perda de direitos
civis, profissionais ou políticos.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 69
Observações
As penas e medidas de segurança aplicadas ao agente (arguido ou inimputável) não causam
automaticamente o retirar dos seus direitos civis, profissionais ou politicos.
Notas
Direito comparado
V. art. 65º.
Artigo 64º
Execução das penas ou medidas privativas da liberdade
1. O agente condenado em pena de prisão efectiva ou sujeito a medida de internamento
pode beneficiar da concessão de liberdade condicional ou de liberdade para prova.
2. Salvo disposição em contrário, cumpridos cinco sextos da pena, o condenado é
obrigatoriamente posto em liberdade condicional.
3. A concessão de liberdade condicional carece do consentimento do condenado, excepto
nas circunstâncias descritas no número anterior.
4. São consagrados em legislação própria os pressupostos e as condições para a concessão
de liberdade condicional, assim como os direitos e deveres dos reclusos e os pressupostos e
condições em que a pena de prisão efectiva pode ser executada em regime aberto.
Observações
N. 1
- Ao agente condenado em pena de prisão efectiva pode ser aplicada liberdade condicional
- Ao agente condenado em medida de segurança pode ser aplicado o regime de liberdade para
prova.
N. 2 - Cumpridos 5/6 da pena é aplicada liberdade condicional ao preso sem consentimento
deste, salvo disposição em contrário.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 70
Exemplo:
Pena de prisão de 12 anos ………5/6 = 10 anos ………..1/6 = 2 anos
Se 12 corresponde 6/6 (unidade completa)
Então 1/6 corresponde a 12 (a dividir por 6) que dá 2.
Se 2 corresponde a 1/6, então 5/6 corresponde a 2+2+2+2+2 ou 2x5.
Logo 5/6 são 10 anos.
N. 3 - Excepto o caso do anterior n. 2, isto é, com períodos de tempo inferiores a 5/6, é preciso
consentimento do condenado para sair em liberdade condicional.
N. 4 – Em lei especial regula-se:
Pressupostos (liberdade condicional)
Condições (liberdade condicional)
Direitos (dos presos)
Deveres (dos presos)
Regime aberto de execução (da prisão efectiva)
Notas
Direito comparado
V. art. 61º, 64º.
Artigo 65º
Concurso de penas e medidas privativas da liberdade
1. Quando o mesmo agente tenha sido condenado em pena de prisão efectiva e sujeito a
medida de internamento, esta é executada antes da pena de prisão e nesta descontada.
2. Logo que a medida de internamento deva cessar, o tribunal coloca o agente em liberdade
condicional se se encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena e a
libertação se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e paz social.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 71
Observações
N. 1 – Executa-se primeiro a medida de internamento e, depois, é que se aplica pena de prisão
efectiva.
Desconta-se no tempo total de prisão a cumprir o tempo que o agente esteve internado.
N. 2 – O agente que foi internado,
E, após terminar medida de internamento tem pena de prisão a cumprir,
Pode beneficiar de liberdade condicional se:
- O Agente tiver passado internado o equivalente a metade do tempo total da pena de
prisão a cumprir e,
- A libertação não causar perturbação social.
Exemplo
Pena de prisão pelo crime é de 4 anos.
Metade é 2 anos.
Após 2 anos, se não houver problema com a comunidade onde vivia o condenado, pode o preso
(antigo internado) sair em liberdade condicional.
Notas
Direito comparado
V. art. 99º.
CAPÍTULO II
PENA DE PRISÃO
Artigo 66º
Duração da pena de prisão
1. A pena de prisão tem a duração mínima de 30 dias e máxima de 25 anos.
2. Nos casos especialmente previstos na lei, o limite da pena prisão é de 30 anos.
3. O limite máximo da pena referido no número anterior nunca pode ser excedido.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 72
Observações
N. 1 – Limite mínimo - 30 dias / Limite máximo – 25 anos.
N. 2 – Pode ir até 30 anos, quando previsto na lei.
N. 3 – o limite máximo de 30 anos nunca pode ser ultrapassado.
Notas
Direito comparado
V. art. 41º (Duração e contagem dos prazos da pena de prisão).
Artigo 67º
Substituição da prisão por multa
1. A pena de prisão aplicada em medida não superior a 1 ano é substituída por igual tempo
de multa, até ao limite máximo legal, sempre que as exigências de prevenção de futuros
crimes não imponham o cumprimento da prisão e, face às circunstâncias do caso, o
tribunal entenda não dever suspender a execução.
2. O não pagamento injustificado da multa substitutiva ou de alguma prestação, implica o
cumprimento imediato da pena de prisão inicialmente fixada, que pode ser sustado pelo
pagamento imediato da totalidade da multa ou pela indicação de bens como garantia,
descontando-se sempre as prestações que tiverem sido pagas.
3. O tribunal deve fundamentar a decisão porque não efectua a substituição sempre que a
pena aplicada o permita.
Observações
N.1 – pena de prisão inferior a 1 ano pode ser substituída por multa (até ao limite máximo legal)
desde que:
- As exigências de prevenção de outro crimes estejam asseguradas,
- E, no caso concreto o tribunal entenda não suspender execução da pena de prisão.
N. 2 – O não pagamento, sem justa causa, da multa, tem como consequência o cumprimento da
pena de prisão.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 73
Para evitar a prisão pode o condenado pagar a totalidade da multa ou indicar bens como garantia.
N. 3 – se o tribunal optar por não aplicar multa substitutiva da prisão, tem de fundamentar essa
escolha.
Notas
Direito comparado
V. art. 43º.
Artigo 68º
Suspensão da execução da prisão
1. Sempre que a pena de prisão aplicada não for superior a 3 anos, o tribunal pode
suspender a sua execução por um período a fixar entre 1 e 5 anos, a contar do trânsito em
julgado da decisão.
2. A decisão deve conter os fundamentos que determinam a suspensão, nomeadamente, a
personalidade do agente, as circunstâncias em que foi praticado o crime, o comportamento
anterior, as suas condições de vida e, muito especialmente, a previsibilidade da sua conduta
futura.
3. O tribunal deve fundamentar a decisão porque não efectua a suspensão sempre que a
pena aplicada o permita.
Observações
N. 1 - pena aplicada não superior a 3 anos, pode ser suspensa de 1 a 5 anos.
N. 2 - decisão do tribunal que aplica a suspensão deve descrever os fundamentos que conduziram
a essa suspensão.
N. 3 – Dever de fundamentar a decisão de não aplicar a suspensão quando esta era possível de
ser aplicada.
Notas
Direito comparado
V. art. 50º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 74
Artigo 69º
Suspensão da prisão condicionada a deveres
1. O tribunal pode condicionar a suspensão da execução da pena de prisão ao cumprimento
de certos deveres, não humilhantes, destinados a reparar o mal do crime.
2. Podem condicionar a suspensão, nomeadamente, os seguintes deveres:
a) Reparação ou garantia de reparação dos prejuízos causados pelo crime em prazo
determinado;
b) Apresentação pública de desculpas ao ofendido;
c) Desempenho de determinadas tarefas conexas com o crime praticado;
d) Entrega de quantia ao Estado ou instituição de beneficência com significado na
reinserção do condenado.
3. Os deveres impostos não podem em caso algum representar para o condenado
obrigações cujo cumprimento não lhe seja razoavelmente exigível
4. Os deveres impostos podem ser modificados até ao termo do período de suspensão
sempre que ocorrerem circunstâncias relevantes supervenientes ou de que o tribunal só
posteriormente tiver conhecimento
5. É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 2 do artigo anterior.
Observações
N. 1 - para ter a pena suspensa:
O arguido sujeita-se a cumprir deveres que, apesar de tudo, não são humilhantes.
Estes deveres visam reparar o mal que o arguido causou.
N. 2 - indicação exemplificativa de alguns deveres a aplicar ao condenado.
N. 3 - os deveres impostos têm de ser razoáveis face o caso concreto
N. 4 - Podem estes deveres serem modificados, até ao final do prazo de suspensão, se tal
alteração for necessária face o surgimento de circunstâncias de conhecimento posterior à
aplicação das mesmas pelo juiz.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 75
N. 5 - Decisão do tribunal deve ter os fundamentos da suspensão condicionada a certos deveres.
Notas
Direito comparado
V. art. 50º, n. 2 e 3.
V. art. 51º.
Artigo 70º
Regras de conduta
1. O tribunal pode impor ao condenado o cumprimento, pelo tempo de duração da
suspensão, de regras de conduta destinadas a facilitar a sua reintegração na sociedade,
nomeadamente:
a) Não exercer determinadas profissões;
b) Não frequentar certos meios ou lugares;
c) Não residir em certos lugares ou regiões;
d) Não acompanhar, alojar ou receber determinadas pessoas;
e) Não frequentar certas associações ou não participar em determinadas reuniões;
f) Não ter em seu poder objectos capazes de facilitar a prática de crimes;
g) Apresentar-se periodicamente perante o tribunal, o técnico de reinserção social
ou entidades não policiais.
2. O tribunal pode ainda, obtido o consentimento prévio do condenado, determinar a sua
sujeição a tratamento médico ou a cura em instituição adequada.
3. É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 3 a 5 do artigo anterior.
Observações
N. 1 - Durante o tempo que cumpre a suspensão:
O tribunal pode obrigar o condenado a agir de certa maneira, ou omissivas (de não fazer
qualquer coisa), com o objectivo de reintegrar o condenado na sociedade.
- As alíneas a) a g) são exemplos de regras de conduta.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 76
N. 2 - O tribunal pode, com autorização do condenado, ordenar tratamento médico ou cura em
instituição adequada.
N. 3 – aplica-se o regime do art. 69º n. 3 a 5 ao regime das regras de conduta.
Notas
Direito comparado
V. art. 50º, n. 2 e 3.
V. Art. 52º.
Artigo 71º
Suspensão da prisão com acompanhamento
1. Quando a suspensão simples ou condicionada da prisão for insuficiente para garantir a
recuperação do delinquente e o seu afastamento de actividades criminosas, o tribunal pode
decretar a suspensão sujeitando o condenado ao acompanhamento pelos serviços de
reinserção social enquanto durar o período de suspensão, obtendo-se sempre que possível o
acordo do condenado.
2. Incumbe aos serviços de reinserção social, conjuntamente com o Ministério Público e o
juiz da condenação, ouvido o condenado, elaborar o plano de readaptação social que,
aprovado pelo tribunal, será cumprido com a assistência do referido funcionário ou serviço
de reinserção.
3. Do plano de readaptação devem constar todos os deveres a que o condenado fica sujeito
podendo o tribunal impor os deveres e regras de conduta referidos nos artigos 69º e 70º ou
outras obrigações que interessem ao plano de readaptação, nomeadamente:
a) Obter tratamento ou internamento em estabelecimento adequados, sempre que as
circunstâncias o exijam
b) Responder a convocatórias do magistrado responsável pela execução e do técnico
de reinserção social
c) Receber visitas do técnico de reinserção social e informareis sobre os seus meios
de subsistência
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 77
d) Informar o técnico de reinserção social sobre alterações de residência e de
emprego, bem como sobre qualquer deslocação da residência quando superior a 8
dias
e) Obter autorização do prévia do magistrado responsável pela execução para se
deslocar ao estrangeiro
4. É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 2 do artigo 68º.
Observações
N.1 – suspende-se a prisão mas sujeita-se o condenado a ser acompanhado pelos serviços de
reinserção social (se possível com acordo do condenado) para se garantir:
- Eficaz recuperação do criminoso (condenado/delinquente).
- Cessação da prática de crimes
N. 2 – elabora-se um plano de readaptação social a aplicar ao condenado/suspenso, que tem de
ser aprovado pelo tribunal.
N. 3 – No plano de readaptação social constam todos os deveres e regras de conduta que o
condenado tem de cumprir, e, indicam-se exemplos de quais [alíneas a) a e)].
N. 4 – A decisão que aplica esta forma de suspensão tem de ser fundamentada (nos termos do art.
68º n. 2).
Notas
Direito comparado
V. art. 53º.
V. art. 54º.
Artigo 72º
Modificação do regime de suspensão
Se, durante o período de suspensão da execução da pena de prisão, o condenado não
cumprir os deveres impostos ou for julgado e condenado por outro crime, o tribunal,
atentas as circunstâncias, pode alterar o regime de suspensão de execução da pena de
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 78
prisão, inicialmente fixado, modificar os deveres ou advertir solenemente o condenado,
consoante as circunstâncias do caso.
Observações
O incumprimento do regime da suspensão da pena tem consequências, o tribunal pode:
- Modificar o tipo de deveres ou regras de conduta
- Fazer uma advertência solene (repreensão oral)
Notas
Direito comparado
V. art. 55º.
Artigo 73º
Revogação da suspensão
1. Se, durante o período de suspensão da execução da pena de prisão, o condenado for
julgado e condenado por outro crime ou reincidir dolosamente no não cumprimento das
regras ou deveres impostos e não for possível ou se revelar insuficiente a modificação do
regime de suspensão, o tribunal revoga a suspensão.
2. A suspensão da execução da pena de prisão é sempre revogada se, durante o respectivo
período, o condenado cometer crime doloso por que venha a ser punido com pena de prisão
efectiva.
3. A revogação da suspensão não dá ao condenado o direito de exigir a restituição de
prestações efectuadas durante e por causa da suspensão.
Observações
N. 1 - Se, durante o tempo de suspensão, o suspenso for:
- Julgado e condenado por outro crime.
- Reincidir dolosamente no incumprimento das regras/deveres
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 79
- E, se a modificação do regime de suspensão, não for possível, ou medida bastante para
o condenado ter outro tipo de comportamento,
Então revoga-se a suspensão.
N. 2 – Sempre que o suspenso, seja condenado noutro crime, com pena de prisão efectiva,
revoga-se a suspensão.
N. 3 – Não existe reembolso das quantias que o condenado pagou, por causa da suspensão.
Notas
Direito comparado
V. art. 56º.
Artigo 74º
Extinção da pena de prisão
A não revogação da suspensão da execução da pena de prisão determina a extinção da pena
e dos seus efeitos, decorrido o prazo de suspensão.
Observações
O cumprimento da suspensão extingue a pena de prisão e os seus efeitos.
Notas
Direito comparado
V. art. 57º, n 1.
CAPÍTULO III
PENA DE MULTA
Artigo 75º
Duração da pena de multa
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 80
1. A pena de multa é fixada no mínimo de 10 e no máximo de 360 dias, salvo disposição
legal em contrário.
2. Cada dia de multa corresponde a uma quantia entre meio dólar e 200 dólares
americanos, que o tribunal fixa em função da situação económica e financeira do
condenado e dos seus encargos pessoais.
3. Sempre que as circunstâncias do caso o justifiquem, o tribunal pode autorizar o
pagamento da multa dentro do prazo de 1 ano, ou permitir o pagamento em prestações,
não podendo a última prestação ultrapassar o limite de 2 anos após a data do trânsito em
julgado da condenação.
Observações
N. 1 - salvo disposição em contrário,
Mínimo – 10 dias
Máximo – 360 dias
N. 2 - cada dia 0,50 USD até 200 USD, consoante condição sócio-económica.
N. 3 – Sempre que se justifique, o condenado:
- Pode pagar toda a multa, em 1 ano (a contar do trânsito).
- Pode pagar em prestações no máximo de 24, até 2 anos (a contar do trânsito).
Notas
Direito comparado
V. art. 47º.
Artigo 76º
Prisão alternativa à pena de multa
A decisão que aplicar directamente pena de multa fixa prisão em alternativa, pelo tempo
correspondente à multa, reduzido a dois terços.
Observações
A decisão que fixa a pena de multa, fixa os dias de prisão em caso de não pagamento.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 81
Os dias fixados para cumprir como prisão pelo não pagamento da multa, correspondem a 2/3 do
tempo da multa.
Notas
Direito comparado
V. art. 49º.
Artigo 77º
Redução ou isenção da pena de multa
1. Se o condenado em pena de multa não cumprir a pena devido a circunstâncias,
posteriores à condenação, que impossibilitem ou dificultem o seu cumprimento e lhe não
sejam imputáveis, o tribunal pode decretar a redução ou a isenção da pena.
2. O disposto no número anterior é aplicável à pena de multa que substitua a prisão.
Observações
N. 1 - Pode-se isentar do pagamento da multa, ou reduzir a multa aplicada em concreto quando
o condenado não consiga pagar a multa, ou tenha muita dificuldade em pagar, por motivos que
ocorrem depois de ter sido condenado, e que não foram causados por ele.
N. 2 - O anterior n. 1 aplica-se à pena de multa enquanto pena principal, mas também se aplica à
multa que substitui a pena principal de prisão efectiva.
Notas
Direito comparado
V. art. 49º, n. 3 (Conversão da multa não paga em prisão subsidiária - embora aqui se fale em
suspensão, e só após a suspensão decorrer se extinga a multa que não foi paga pelo condenado).
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 82
CAPÍTULO IV
PENA DE TRABALHO A FAVOR DA COMUNIDADE
Artigo 78º
Trabalho a favor da comunidade
1. A pena de trabalho a favor da comunidade consiste na prestação gratuita de trabalho em
organismo público ou a outras entidades que o tribunal repute de interesse comunitário
desde que obtido o consentimento do condenado.
2. A duração do trabalho que o condenado deva prestar é fixada pelo tribunal substituindo-
se cada dia de prisão fixado na sentença por uma hora de trabalho, nunca podendo
ultrapassar 240 horas.
3. O trabalho pode ser prestado durante ou fora do horário normal de serviço, de forma
contínua ou não, sem exceder por dia o permitido segundo o regime de horas
extraordinárias e sempre de modo a que não seja afectada a sobrevivência do condenado
ou dos seus familiares.
4. O não cumprimento injustificado da prestação do trabalho a favor da comunidade,
importa o cumprimento da pena inicialmente aplicada, descontados os dias de trabalhos já
prestados, de acordo com o nº2.
Observações
N.1 - Com consentimento do condenado pode este ser colocado a trabalhar gratuitamente em
organismos públicos ou instituições de interesse comunitário.
N. 2 - Cada dia de prisão corresponde a 1 hora de trabalho, e não pode ser fixado um período
superior a 240h de trabalho.
N. 3 – Regras para o exercício pena de prestação de trabalho;
- Durante ou fora do horário normal de serviço
- De forma contínua ou não
- Sem exceder o limite de horas extraordinárias
- Sem ser afectada sobrevivência do condenado e familiares
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 83
N. 4 – O não cumprimento da pena de trabalho, sem justa causa, gera aplicação da pena
inicialmente aplicada, não se contando os dias de trabalho prestados (de acordo com a regra 1 dia
igual (=) 1 hora de trabalho, do n. 2).
Notas
Direito comparado
V. art. 58º.
Artigo 79º
Requisitos
1. A pena de trabalho a favor da comunidade é aplicável pelo tribunal em substituição da
pena de prisão em medida não superior a 1 ano ou de pena de multa, sempre que concluir
que por este meio se realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição e,
no caso da prisão, existam razões de prevenção criminal que desaconselhem a suspensão da
execução ou a substituição por multa.
2. A aplicação de trabalho a favor da comunidade depende sempre do consentimento do
condenado e, no caso de substitutiva de multa, pode ser decretada na sentença ou em
despacho posterior, desde que apresentado requerimento pelo condenado antes de
ordenada a penhora em processo de execução instaurado por falta de pagamento da multa.
3. É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 3 do artigo 67.º.
Observações
N.1 – aplica-se a pena de trabalho como substitutiva:
- De pena de prisão não superior a 1 ano.
- De pena de multa
N. 2 – Tem de haver consentimento do condenado.
Pode ser decretada na sentença ou, em despacho depois de sentença notificada ao arguido.
Se houver já a correr execução pelo não pagamento da multa, o requerimento pode ser
apresentado até existir ordem de penhora de bens.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 84
N. 3 – Existindo condições para ser aplicada a pena de prestação de trabalho, e o tribunal optar
por não a aplicar, deve o tribunal fundamentar a sua decisão (art. 67º n. 3).
Notas
Direito comparado
V. art. 58º.
Artigo 80º
Suspensão, redução ou isenção de pena
Se o condenado não cumprir a prestação de trabalho devido a circunstâncias, posteriores
ao seu decretamento, que impossibilitem ou dificultem o seu cumprimento, não lhe sendo as
mesmas imputáveis, aplica-se o regime previsto no artigo 77º.
Observações
Aplica-se o regime do art. 77º para os casos onde o condenado deixe de ter condições para
cumprir a pena de trabalho, total ou parcialmente, por motivos alheios à sua vontade.
Notas
Direito comparado
V. art. 59º.
Artigo 81º
Legislação complementar
As demais condições de aplicação da pena de prestação de trabalho a favor da comunidade
e de funcionamento dos serviços de execução do trabalho a favor da comunidade são
objecto de diploma especial.
Observações
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 85
Os pormenores da execução da pena de trabalho e, do funcionamento dos serviços de execução
do trabalho para comunidade vão para lei própria.
Notas
Direito comparado
Esta norma não tem paralelo no Código Penal Português, embora a matéria deste artigo seja
regulada igualmente por lei específica que não o Código Penal.
CAPÍTULO V
PENA DE ADMOESTAÇÃO
Artigo 82º
Admoestação
Se o agente for considerado culpado pela prática de crime a que corresponda em abstracto
pena de prisão não superior a 3 anos ou multa, o tribunal pode limitar-se a admoestá-lo
desde que, cumulativamente:
a) O dano causado pela conduta criminosa tenha sido reparado;
b) Se trate de delinquente primário;
c) A prevenção criminal e a recuperação do delinquente se bastem com a
admoestação.
Observações
Quando o agente é culpado de um crime com moldura penal abstracta de limite máximo até 3
anos, ou multa, pode ser admoestado desde que:
- O agente tenha reparado o dano que causou,
- Seja primário (sem condenações anteriores)
- Sejam reduzidas as exigências de prevenção criminal, e o arguido se comporte
“socialmente bem” apenas com a aplicação desta pena.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 86
Notas
Direito comparado
V. art. 60º.
Artigo 83º
Execução da pena de admoestação
A admoestação consiste numa solene e adequada repreensão oral ao condenado, executada
pelo tribunal em audiência pública, após o trânsito em julgado da decisão a aplicar.
Observações
A admoestação consiste em “ralhar” / “repreender”, o arguido, numa audiência com as regras
solenes (formais) duma audiência de julgamento, marcada com esse objectivo.
Esta audiência só se realiza depois do trânsito em julgado da decisão.
Notas
Direito comparado
V. art. 60º, n. 4.
CAPÍTULO VI
PENAS ACESSÓRIAS
Artigo 84º
Princípio geral
1. A lei pode fazer corresponder a certos crimes a proibição de exercício de determinados
direitos ou profissões.
2. As penas acessórias são cumuláveis entre si e só podem ser aplicadas em simultâneo com
uma pena principal, devendo a sua duração ser fixada em função da medida da culpa.
Observações
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 87
N. 1 – como consequência da prática de crimes, pode eventualmente ser o agente proibido de
exercer direitos que seja titular, ou profissão que tenha.
N. 2 – podem ser aplicadas várias penas acessórias (cumulação de penas), mas elas só são
aplicadas como sanção/sanções acessórias (s) duma única pena principal.
A culpa do agente é critério para fixar a duração da sanção acessória.
Notas
Direito comparado
V. art. 65º.
Artigo 85º
Suspensão temporária do exercício de funções públicas
1. O tribunal que condenar alguém que desempenhe um cargo público a pena de prisão
efectiva deve decretar a suspensão do exercício dessa função pelo período de cumprimento
da pena, se o condenado não for demitido disciplinarmente.
2. São aplicáveis ao condenado, durante o período de suspensão, os efeitos que de acordo
com a legislação respectiva acompanham a sanção disciplinar de suspensão do exercício de
funções.
3. O disposto nos números anteriores é correspondentemente aplicável a profissões ou
actividades cujo exercício depender de título público, autorização ou homologação da
autoridade pública.
Observações
N.1 – O arguido que ocupe um cargo público e que seja condenado em prisão efectiva, deve ser
suspenso do cargo que desempenhe (pelo período da pena), a não ser que seja demitido em
virtude de processo disciplinar.
N. 2 – Os efeitos da sanção disciplinar de suspensão do desempenho de funções públicas
aplicam-se ao condenado, de acordo com a legislação em vigor para o efeito.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 88
N.3 – Aplica-se este artigo a profissões e actividades, cujo exercício dependa de autorização ou
homologação de autoridade pública.
Notas
Direito comparado
V. art. 67º.
Artigo 86º
Proibição do exercício de função
1. O titular de cargo público, funcionário público ou agente da Administração, que, no
exercício da actividade para que foi eleito ou nomeado, for condenado a pena de prisão
superior a 3 anos pode ser proibido do exercício daquelas funções por um período de 2 a 5
anos quando ocorrer alguma das seguintes circunstâncias:
a) O facto ser praticado com flagrante e grave abuso da função ou com manifesta e
grave violação dos deveres inerentes à função;
b) O agente revelar indignidade ou incapacidade manifesta para o exercício do
cargo;
c) A natureza do facto implicar a perda da confiança necessária ao exercício da
função.
2. O disposto no número anterior é correspondentemente aplicável às profissões ou
actividades cujo exercício depender de título público ou de autorização ou homologação da
autoridade pública.
3. O tempo em que o condenado estiver privado da liberdade em consequência de medida
de coacção, pena ou medida de segurança não conta para o período de proibição.
4. Não tem aplicação a pena acessória prevista neste artigo, quando, pelos mesmos factos,
for aplicada a medida de segurança prevista no artigo 100º.
5. A aplicação do disposto no presente artigo obriga à comunicação da condenação do
tribunal à autoridade pública da qual o funcionário depender.
Observações
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 89
N. 1 – Pode ser proibido de exercer a função que desempenha aquele que:
- Tenha um cargo público/ seja funcionário público / agente de administração,
- Que no exercício da actividade para que foi eleito ou nomeado
- Seja condenado por um crime com prisão superior a 3 anos
- Por um período de 2 a 5 anos
Desde que ocorra:
- Abuso da função ou violação de deveres da função
- Indignidade ou incapacidade para exercer o cargo
- Perca de confiança no agento para desempenhar a função.
N. 2 – Aplica-se este artigo a profissões e actividades, cujo exercício dependa de autorização ou
homologação de autoridade pública.
N. 3 – Se o condenado esteve privado da liberdade, a proibição de exercer conta-se depois de sair
em liberdade.
N. 4 – Quando seja aplicável o art. 100º - medida de segurança de interdição profissional- não se
aplica este artigo 86º.
N. 5 – Dever de comunicação da decisão de proibir o funcionário de exercer funções, à
autoridade pública da qual este dependa.
Notas
Direito comparado
V. art. 66º.
Artigo 87º
Expulsão
1. O cidadão estrangeiro condenado pela prática de crime a que corresponda pena de
prisão superior a 3 anos pode ser expulso do território nacional se nele residir há menos de
15 anos:
a) Por um período até 2 anos se residente há mais de 10 anos;
b) Por um período até 5 anos se residente há mais de 5 e menos de 10 anos;
c) Por um período até 10 anos se residente há menos de 5 anos.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 90
2. A expulsão referida no número anterior aplica-se quando no caso concreto seja exigida
por razões de segurança interna, saúde pública ou para evitar a continuação da actividade
criminosa.
3. A pena de expulsão é executada independentemente do cumprimento total ou parcial da
pena principal.
Observações
N.1- Pode ser expulso de Timor o cidadão estrangeiro:
- Que cá resida há menos de 15 anos e
- Seja condenado por crime punido com prisão superior a 3 anos
O tempo de expulsão depende do tempo que reside em Timor:
- Mais de 10 anos --- expulso até 2 anos
- Mais de 5 anos e menos de 10 anos --- expulso até 5 anos
- Menos de 5 anos--- expulso até 10 anos
N. 2 – Motivos para expulsão:
- Segurança interna
- Saúde pública
- Evitar continuação da actividade criminosa.
N. 3 – Quando é aplicada a sanção de expulsão, o agente tem de sair do país, tenha ou não
cumprido a totalidade da pena.
Notas
Direito comparado
Em Portugal existe processo administrativo (no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) e processo
judicial (no Tribunal) tudo dependendo da situação do agente e do comportamento, em Portugal.
V. art. 97º.
Artigo 88º
Proibição de condução
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 91
1. Pode ser sujeito a inibição de conduzir veículos a motor por um período a fixar entre 3
meses e 2 anos quem for punido:
a) Por crime previsto nos artigos 207º a 209º;
b) Por crime cometido com utilização de veículo motorizado e cuja execução tiver
sido por este facilitada de forma relevante; ou
c) Por crime de desobediência cometido mediante recusa de submissão às provas
legalmente estabelecidas para detecção de condução de veículo motorizado sob efeito
de álcool, estupefaciente, substância psicotrópica ou produto com efeito análogo
perturbador da aptidão física, mental ou psicológica.
2. É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 3 do artigo 86º.
Observações
N. 1 – Pode ser proíbido de conduzir veiculos a motor, por 3 meses a 2 anos, quem:
- For punido por condução sem carta (art. 207º); condução sob efeito de álcool ou
substâncias psicotrópicas (art. 208º); condução perigosa (art. 209º).
- Cometer crime sendo o veículo motorizado importante para facilitar o crime
- Praticar crime de desobediência mediante recusa de fazer as provas de detecção do
álcool ou drogas.
N. 2 – O tempo que o agente está privado da liberdade não conta para contagem do prazo de
proibição da sanção de inibição de condução (art. 88º, n. 3).
Notas
Direito comparado
V. art. 69º.
Artigo 89º
Cassação da licença de porte de arma
1. Em caso de condenação por crime doloso praticado com utilização de arma, o tribunal
pode decretar a cassação da licença de uso e porte de arma ponderadas as circunstâncias e
a gravidade da conduta, por um período de 2 a 8 anos.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 92
2. É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 3 do artigo 86º.
Observações
N. 1 – Quando o arguido é condenado por crime praticado com uso de arma, em função das
circunstâncias do caso e da gravidade do comportamento do agente, poderá ser ordenada a
cassação da licença por 2 a 8 anos.
N. 2 – aplicam-se as regras do 86º, n. 3 na contagem do tempo da cassação (conta-se depois de o
condenado sair em liberdade).
Notas
Direito comparado
- Armas de fogo são reguladas em diploma próprio.
CAPÍTULO VII
DETERMINAÇÃO DA PENA
Artigo 90º
Princípios gerais
1. Sempre que a lei fixar uma pena, esta refere-se ao crime na forma consumada.
2. A moldura da pena abstracta sobre a qual é determinada a medida concreta de pena,
obtém-se:
a) Fazendo funcionar sobre a pena abstracta correspondente ao crime consumado as
circunstâncias agravantes modificativas da reincidência e da habitualidade criminal,
previstas respectivamente nos artigos 53.º e 54.º;
b) Cumprido o que dispõe a alínea anterior ou a partir da pena abstracta
correspondente ao crime consumado se inexistirem circunstâncias modificativas, são
consideradas as situações de atenuação extraordinária se, no caso, existirem.
Observações
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 93
N.1 – As penas existentes na lei para punir os factos tipicos, são sempre em relação ao crime na
foma consumada (e não tentada).
N. 2 – Para encontrar a moldura abstracta da pena (onde depois se acha a pena em concreto a
aplicar ao arguido) respeitam-se os seguintes pressupostos:
- Na pena prevista para o crime, aplica-se a elevação dos minimos e máximos se houver
habitualidade criminal ou reincidência.
- Aos novos limites (mais elevados em 1/3 no mínimo ou 1/3 no mínimo e máximo), ou,
não tendo sido alterado o limite previsto no tipo (neste caso, as penas para o crime são as
mesmas), consideram-se as circunstâncias de atenuação extraordinária que existam.
Notas
Direito comparado
V. art. 71º.
V. art. 72º.
V. art. 73º.
Artigo 91º
Determinação concreta da pena
1. Encontrada a moldura abstracta da pena nos termos do artigo anterior, o tribunal avalia
todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo nem tendo sido valoradas nos termos
do disposto no artigo anterior, agravem ou diminuam a responsabilidade do condenado.
2. Com base na valoração destas últimas circunstâncias, o tribunal fixa a medida exacta da
pena que considere necessária para a protecção dos bens jurídicos essenciais à vida em
sociedade e à reintegração social do agente, dentro dos limites da moldura fixada no tipo ou
dos limites resultantes da aplicação do disposto no artigo anterior.
3. A medida da pena aplicada ao condenado não pode, em circunstância alguma,
ultrapassar a medida da culpa.
Observações
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 94
N. 1 – Depois de se achar a moldura penal abstracta (limites minimo e máximo a aplicar ao
arguido) o tribunal faz uma avaliação das circunstâncias (agravantes ou atenuantes) que não
fazem parte do tipo, e também não fazem parte das circunstâncias referidas no art. 90º.
N. 2 – Depois da valoração destas circunstâncias referidas no no 1 (se ela existirem), então é que
se fixa a medida exacta da pena a aplicar ao arguido
N. 3 – A medida da pena não pode ultrapassar a culpa do agente na prática do crime, e tem como
objectivo a protecção dos bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade que são as
finalidade das pena).
Notas
Direito comparado
V. art. 71º, n. 2.
V. art. 72º.
Artigo 92º
Caso especial da pena de multa
No caso da pena de multa o disposto no presente capítulo é aplicável à determinação do
tempo de duração da multa, sem prejuízo do que dispõe o n.º 2 do artigo 75º para o cálculo
da quantia correspondente a cada dia de multa.
Observações
Para se fixar o tempo de duração da multa aplicam-se os artigos 90º (princípios gerais da
determinação da pena) pena e 91º (determinação concreta da pena), custando cada dia entre meio
a duzentos USD.
Notas
Direito comparado
V. art. 47º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 95
CAPÍTULO VIII
MEDIDAS DE SEGURANÇA
SECÇÃO I
MEDIDA DE INTERNAMENTO
Artigo 93º
Pressupostos
Quando um facto descrito num tipo legal de crime for praticado por inimputável nos
termos do disposto no artigo 21º, pode este ser mandado internar em estabelecimento
adequado, sempre que por virtude da anomalia psíquica, da natureza e da gravidade do
facto praticado o tribunal tiver fundado receio que venha a praticar outros factos típicos a
que correspondam crimes contra as pessoas ou a crimes de perigo comum.
Observações
O art. 21º CP define quem é inimputável, e o inimputável que cometer um crime pode ser
internado desde que:
- A natureza do facto
- A gravidade do facto
- A existência do receio que o inimputável pratique outros crimes contra pessoas ou
crimes de perigo comum
Tal justifique, isto é, que não reste outra opção para salvaguardar a paz social que não seja
internar o agente inimputável.
Notas
Direito comparado
V. art. 91º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 96
Artigo 94º
Duração
1. Se o facto praticado pelo inimputável for punível com prisão até 3 anos o internamento
não pode durar mais de 1 ano.
2. Se o facto praticado pelo inimputável corresponder a crime contra as pessoas ou a crime
de perigo comum, puníveis com pena de prisão igual ou superior a 5 anos, o internamento
tem a duração mínima de 3 anos, salvo se a libertação se revelar compatível com a defesa
da ordem pública e da paz social.
3. Se o facto praticado pelo inimputável corresponder a crime punível com pena superior a
8 anos e o perigo de novos factos da mesma espécie for de tal modo grave que desaconselhe
a libertação, o internamento pode ser prorrogado por períodos sucessivos de 2 anos até se
verificar que cessou o estado de perigosidade criminal que lhe deu origem.
4. O internamento não pode exceder o limite máximo da pena correspondente ao tipo de
crime cometido pelo inimputável.
Observações
N. 1- Até 1 ano (crime com prisão até 3 anos)
N. 2 - Mínimo de 3 anos (crime contra pessoas ou perigo comum com prisão igual/superior 5
anos)
N. 3 - Pode haver prolongamento do internamento por períodos de 2 anos, até se considerar que
acabou a situação de perigo existente no comportamento do inimputável.
N. 4 – Internamento não pode durar mais que o máximo da pena aplicável ao crime.
Notas
Direito comparado
V. art. 91º, n. 2.
V. art. 92º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 97
Artigo 95º
Cessação da medida
1. A medida cessa quando findar o estado de perigosidade criminal que a originou ou,
mantendo-se este, quando for atingido o limite máximo de duração da medida, salvo nas
circunstâncias referidas no nº.3 e 4 do artigo anterior.
2. A medida de internamento é obrigatoriamente sujeita a revisão de 12 em 12 meses.
3. Se for invocada a existência de causa justificativa para a cessação do internamento, o
tribunal aprecia a questão a todo o tempo.
Observações
N. 1 – A medida de internamento extingue-se quando:
- Termina o estado de perigosidade do agente
- For atingido o limite máximo de duração da medida (excepto se houver prorrogação do
internamento art. 94, n. 3 e 4).
N. 2 - de 12 em 12 meses procede-se ao exame da medida de internamento para saber se
continua ou não.
N. 3 – Se houver outros motivos para cessar a medida de internamento (que não sejam os do n.
1), o tribunal pode conhecer esses motivos em qualquer altura.
Notas
Direito comparado
V. art. 92º.
V. art. 93º
Artigo 96º
Substituição da medida de internamento
1. A medida de internamento pode ser substituída por liberdade para prova ou por
expulsão do território nacional quando aplicada a estrangeiros.
2. No caso de expulsão do território nacional, é correspondentemente aplicável o disposto
no artigo 87º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 98
Observações
N. 1 – Internamento pode ser substituido por:
- Liberdade para prova
- Expulsão de Timor Leste (para estrangeiros)
N. 2 – A expulsão só se aplica se houver razões de segurança interna, saúde pública ou para
evitar continuação da actividade criminosa que a justifiquem (art. 87º, n. 2).
Notas
Direito comparado
V. art. 94º.
V. art. 97º.
Artigo 97º
Liberdade para prova
1. Se da revisão referida no artigo 95º resultar que há razões para esperar que a finalidade
da medida possa ser alcançada em meio aberto, o tribunal coloca o internado em liberdade
para prova.
2. O período de liberdade para prova é fixado entre um mínimo de 2 anos e um máximo de
5 anos, não podendo ultrapassar o limite máximo fixado no nº.4 do artigo 94º.
3. A decisão de liberdade para prova pode impor ao internado regras de conduta,
necessárias à prevenção da perigosidade, em termos correspondentes aos referidos no
artigo 70º, bem como o dever de se submeter a tratamentos e regimes de cura ambulatórios
apropriados e de se prestar a exames e observações nos lugares que lhe forem indicados.
4. O agente a quem for suspensa a execução do internamento é colocado sob vigilância
tutelar dos serviços de reinserção social.
5. Se não houver motivos que conduzam à revogação da liberdade para a prova, findo o
tempo de duração desta, a medida de internamento é declarada extinta.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 99
6. Se, findo o período de liberdade para a prova, se encontrar pendente processo ou
incidente que possa conduzir à sua revogação, a medida é declarada extinta quando o
processo ou o incidente findarem e não houver lugar à revogação.
Observações
N. 1 - De 12 em 12 meses a medida de internamento é revista e, se respeitando os motivos que
levaram à aplicação da medida de internamento, se puder libertar o inimputável, então liberta-se
o inimputável.
N. 2 – O período de liberdade para prova é de 2 a 5 anos, tendo como limite máximo o limite da
pena aplicável ao crime (art, 94º, n. 4).
N. 3 – neste período de liberdade pode ser aplicado ao inimputável regras de conduta (art. 70º) e
obrigação de fazer tratamentos e regimes de cura ou exames.
N. 4 – Terminado o período de liberdade para prova fixado pelo tribunal extingue-se a medida de
internamento.
N. 5 – Serviços de reinserção social vigiam aquele que teve a execução de internamento
suspensa.
N. 6 – Pode acontecer que após o prazo da liberdade para prova, exista contra o agente processo
pendente que possa levar à revogação da liberdade para prova.
Neste caso, esta só acaba quando o processo pendente acabar não havendo lugar à revogação.
Notas
Direito comparado
V. art. 94º.
Artigo 98º
Revogação da liberdade para prova
1. A liberdade para prova é revogada quando:
a) O comportamento do inimputável revelar que o internamento é indispensável; ou
b) O inimputável for condenado em pena privativa da liberdade e não se verificarem
os pressupostos da suspensão da execução, nos termos do nº 1 do artigo 68º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 100
2. A revogação determina o reinternamento, sendo correspondentemente aplicável o
disposto nos artigos 94º e 95º.
Observações
N. 1 - Revoga-se a liberdade para prova quando:
- Comportamento do agente exige a aplicação da medida de internamento
- Condenação em prisão não se verificando o regime da suspensão da prisão (art. 68º , n.
1).
N. 2 - Revogação implica ser novamente internado, com aplicação do art. 94º - duração- e 95º -
cessação da medida.
Notas
Direito comparado
V. art. 95º.
Artigo 99º
Suspensão da execução do internamento
1. O tribunal pode determinar a suspensão do internamento se for razoável de se esperar
que com a suspensão se alcance a finalidade da medida de segurança e a suspensão se
revelar compatível com a defesa da ordem pública e da paz social.
2. Á suspensão do internamento é correspondentemente aplicável o disposto nos nº.3 e 4º do
artigo 97º.
3. A suspensão da execução do internamento não pode ser decretada se o agente for
simultaneamente condenado em pena privativa da liberdade e não se verificarem os
pressupostos da suspensão da execução desta, nos termos do nº. 1 do artigo 68º.
4. A duração e cessação da suspensão de internamento são determinadas nos termos dos
artigos 94º e 95º, respectivamente.
5. Á revogação da decisão de suspensão da medida de internamento aplica-se o disposto no
artigo 98º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 101
Observações
N. 1 – Se a finalidade da medida de segurança continuar importante, mas a suspensão for
compatível com a defesa da ordem pública e paz social, então pode ser suspensa a execução da
medida de segurança.
N. 2 – Podem impor-se regras de conduta ao inimputável (as regras do 97º, n. 3 e 4) sendo o
mesmo vigiado pelo serviço de reinserção social.
N. 3 – Não há suspensão da execução se houver condenação em prisão não se verificando o
regime da suspensão da prisão (art. 68º, n. 1).
N. 4 – A duração da suspensão fixa-se com base no art. 94º e, à cessação da suspensão aplica-se
o art. 95º.
N. 5 – Para revogação da suspensão aplica-se o art. 98º.
Notas
Direito comparado
V. art. 98º.
SECÇÃO II
OUTRAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
Artigo 100º
Medida de interdição profissional
1. Quando um inimputável por anomalia psíquica praticar um acto previsto num tipo legal
de crime relacionado com a actividade profissional que exerce e existir fundado receio de,
enquanto mantiver essa ocupação, continuar a praticar factos idênticos, o tribunal pode
proibi-lo do exercício da respectiva actividade por um período de 1 a 5 anos, atendendo às
circunstâncias do caso e à personalidade do inimputável.
2. Decurso do período de interdição suspende-se durante o período em que o agente estiver
privado da liberdade por força de medida de coacção processual, pena ou medida de
segurança.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 102
Observações
N. 1 - se o inimputável (anomalia psiquica) durante o exercicio da sua profissão cometer um
crime, e existir receio que continue a fazer factos idênticos, o tribunal pode proibi-lo de exercer
durante 1 a 5 anos.
Consoante a personalidade do agente e circunstâncias do caso.
N. 2 – O tempo que estiver a cumprir medida de coacção, pena ou medida de segurança não
conta para contagem da interdição da profissão
Notas
Direito comparado
V. art. 100º.
Artigo 101º
Proibição de condução e cassação da licença de uso e porte de arma
1. O inimputável que praticar qualquer um dos actos previstos no nº.1 do artigo 88º pode
ser sujeito à inibição de conduzir veículos a motor por um período de 2 a 6 anos, sempre
que a personalidade deste gerar fundado receio de se vir a praticar novos factos da mesma
espécie.
2. Caso o acto praticado pelo inimputável corresponder a um crime relacionado com a
utilização de arma, o tribunal pode decretar a cassação da licença de uso e porte de arma
por um período de 5 a 10 anos, sempre que a personalidade deste gerar fundado receio de
se vir a praticar novos factos da mesma espécie.
3. É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 3 do artigo 86º.
Observações
N.1 – O inimputável que praticar o tipo de crime do art. 88º (Proibição de condução) pode ser
proibido de conduzir veiculos a motor de 2 a 6 anos se tiver tendência para cometer novos crimes
usando veiculos a motor.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 103
N. 2 – Ao inimputável que cometa crime com arma de fogo, pode ser cassada licença de uso e
porte de arma de 5 a 10 anos, se tiver tendência para cometer novos crimes com armas de fogo.
N. 3 - Para o tempo de proibição não conta o tempo que esteve privado da liberdade nos termos
do art. 86º, n. 3.
Notas
Direito comparado
V. art. 101º.
- Armas de fogo são reguladas em diploma próprio.
CAPÍTULO IX
OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME
Artigo 102º
Perda dos objectos do crime
1. São declarados perdidos a favor do Estado os objectos que serviram ou estavam
destinados a servir para a prática de um crime, ou que por estes foram produzidos, quando
pela sua natureza ou pelas circunstâncias do caso ponham em perigo a segurança das
pessoas ou a ordem pública, ou ofereçam sérios riscos de serem utilizados para o
cometimento de novos crimes.
2. Ficam salvaguardados os direitos da vítima e de terceiros, que não tenham concorrido
para a sua utilização ou produção, ou tirado vantagem do objecto de que sejam
proprietários.
3. O tribunal fixa o destino dos objectos declarados perdidos sempre que a lei o não fizer,
podendo ordenar a sua total ou parcial destruição ou coloca-los fora do comércio.
4. O disposto no n.º 1 tem lugar ainda que nenhuma pessoa determinada possa ser punida
pelo facto.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 104
Observações
N. 1 - Podem ser declarados perdidos a favor do estado:
- Os objectos que foram usados pelo agente no crime
- Os objectos que foram produzidos (feitos de propósito) com vista à prática do crime
Quando:
- Pela natureza do objecto ou
- Circunstâncias do caso
Que ponham em risco:
- As pessoas
- Ordem pública
Ou possam ser usados para se praticarem novos crimes.
N. 2 – Protegem-se terceiros que nada tenham que ver com o crime.
N. 3 – Quando a lei não diga qual o destino a dar aos objectos, o tribunal fixa o que fazer, e pode
assim ordenar a destruição ou colocar fora do comércio (impedir que sejam usados por terceiros).
N. 4 – Aplica-se este artigo a todos os objectos aos quais possa ser aplicado, mesmo que não se
saiba quem é o agente que os usou.
Notas
Direito comparado
V. art. 109º.
Artigo 103º
Perda de vantagens
1. Todas as coisas, direitos ou vantagens adquiridas, de forma directa ou indirecta, em
consequência da prática de um crime, são declarados perdidos a favor do Estado, sem
prejuízo dos direitos da vítima ou de terceiros de boa fé.
2. Se as coisas, direitos ou vantagens não puderem ser apropriadas em espécie, a perda é
substituída pelo pagamento ao Estado do respectivo valor.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 105
Observações
N.1 – Os direitos, coisas (bens) e vantagens (benefícios) que o agente adquira por causa do crime
que cometeu é declarado perdido a favor do Estado.
Respeita-se, no entanto, os direitos da vítima e de terceiros de boa-fé.
N. 2 – Paga-se ao Estado o valor da coisa, direito ou vantagem quando a mesma não possa ser
devolvida.
Notas
Direito comparado
V. art. 111º.
Artigo 104º
Responsabilidade civil emergente de crime
1. A indemnização de perdas e danos emergentes de um crime é obrigatória e oficiosamente
apurada e arbitrada pelo tribunal sempre que tiverem sido apurados e quantificados os
danos, salvo se o lesado nos termos da lei processual penal declarar que pretende deduzir o
pedido em separado.
2. Os pressupostos e o cálculo da indemnização regulam-se pelas normas de direito civil.
3. O responsável pela indemnização pode efectuar transacção da mesma dando disso
conhecimento ao tribunal, sob pena de ineficácia do acto.
Observações
N. 1 - Da prática do crime por vezes acontecem perdas e danos, quando assim é, se existirem
elementos no processo que indiquem:
- Quais são as perdas
- Quais são os danos
- Em que montante é a indemnização
Deve o tribunal condenar o arguido no pagamento da quantia apurada em sede de indemnização.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 106
N. 2 – O Direito civil é aplicado no tocante aos pressupostos e cálculo da indemnização.
N. 3 – Pode existir acordo (transacção) quanto à indemnização a pagar, mas o tribunal tem de ter
conhecimento do acordo sob pena de este não produzir efeitos jurídicos.
Notas
Direito comparado
V. art. 71º a 84º do código de processo Penal.
V. art. 129º.
Artigo 105º
Privilégio do crédito do lesado
O crédito decorrente do direito do lesado à indemnização por perdas e danos emergentes
de crime beneficia de preferência relativamente a qualquer outro surgido após o
cometimento do facto, incluindo as custas e a quantia relativa à multa.
Observações
O direito a ser indemnizado nos termos do artigo anterior dá ao lesado um direito de crédito que
tem preferência sobre outros créditos que surjam depois da prática do crime.
Tem preferência mesmo sobre as custas e a multa a pagar.
Notas
Direito comparado
V. art. 130º.
TÍTULO V
DIREITO DE QUEIXA
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 107
Artigo 106º
Natureza do crime
1. Os crimes podem revestir a natureza pública ou semi-pública, para efeitos do exercício
do direito de queixa.
2. São crimes públicos aqueles cujo procedimento criminal não depende de queixa
3. São crimes semi-públicos aqueles cujo procedimento só pode iniciar-se depois de
exercido o direito de queixa.
4. O direito de queixa consiste na manifestação de vontade por parte do titular do mesmo
de que pretende procedimento criminal.
Observações
N. 1, 2 e 3 –
- A natureza pública ou semi-pública do crime depende do exercicio de queixa ser obrigatório ou
não.
- Crime público é aquele para o qual o MP tem competencia para investigar assim que tem
notícia da ocorrência do crime.
- Crime semí-publico é aquele para o qual o MP precisa que seja efectuada queixa para que possa
investigar a existência de crime.
(salientar o art. 211º, n. 3 e, n. 4 do CPP para crime semi-público quanto ao arquivamento dos
autos por falta de queixa)
N. 4 – A queixa é realizada pela formal manifestação de vontade, no sentido de que pretende
procedimento criminal contra alguém.
(ver art. 224º CPP sobre início do inquérito)
(Convém que na queixa constem os elementos exigidos para a auto de participação constante do
art. 212º, n. 1 Alíneas a) a f) do CPP).
Notas
Direito comparado
V. 113º
V. art. 49º CPP
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V. 262º e sgs CPP
Em Portugal existe ainda a figura do crime particular, onde se exige:
- Apresentação de queixa pelo ofendido (art. 50º, n. 1 CPP; 113º e 117º do CP)
- Pedido de constituição de Assistente (art. 246º, n. 4, 2ª parte CPP)
- (pagamento da taxa de) constituição de Assistente (art. 50º, n. 1; art. 68º, n. 2; 246º n. 4 CPP)
salvo apoio judiciário
- Dedução de acusação particular (art. 50º, n. 1 e art. 285º, n. 1 CPP);
Artigo 107º
Titular do direito de queixa
Quando o procedimento criminal depender de queixa, têm legitimidade para apresentá-la
os titulares do direito indicado na lei processual penal.
Observações
Têm legitimidade os que são indicados no Código de Processo Penal.
(ver artigo 214º CPP sobre os titulares do direito de queixa e extensão dos efeitos).
Notas
Direito comparado
V. art. 113º.
Artigo 108º
Prazo para o exercício do direito
O prazo para o exercício do direito de queixa é de 6 meses e conta-se autonomamente para
cada um dos titulares do direito de queixa.
Observações
6 meses, a contar da prática do facto.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 109
Se for caso de comparticipação, conta-se os 6 meses em relação a cada um dos titulares de direito
de queixa.
Notas
Direito comparado
V. art. 115º.
Artigo 109º
Renúncia e desistência da queixa
A renúncia, a desistência ou o não exercício do direito de queixa relativamente a um dos
comparticipantes do crime aproveita aos restantes, nos casos em que também estes não
possam ser perseguidos sem queixa.
Observações
No caso de comparticipação:
- A renúncia
- A desistência
- O não exercício da queixa
Que é feita em relação em relação a um dos comparticipantes aproveita aos restantes.
(ver artigo 216º CPP sobre renúncia e desistência da queixa)
A renúncia traduz-se na perda voluntária de um direito que o renunciante abdica de ter, sem o
atribuir ou ceder a outrem.
O ofendido pode desistir expressamente (e não tacitamente), porque já apresentou queixa, em
que assinou um papel formal.
Logo para desistir, terá que assinar igualmente, para não surgirem dúvidas.
Ou seja, se o ofendido desistir sobre um dos comparticipantes, e ele não se opuser, essa
desistência aproveita aos restantes, se esses restantes não se opuserem.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 110
Se se opuserem, a queixa continua para eles, mas o processo não segue em relação ao que não se
opôs.
Tal como para exercer a queixa, é necessário ter 16 anos para a sua desistência é necessário ter
igualmente os 16 anos.
Notas
Direito comparado
V. art. 116º.
TÍTULO VI
EXTINÇÃO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL
CAPÍTULO I
PRESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO CRIMINAL
Artigo 110º
Prazos de prescrição
1. O procedimento criminal extingue-se, por efeito de prescrição, logo que sobre a prática
do crime tiverem decorrido os seguintes prazos:
a) 20 anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite
máximo seja superior a 12 anos;
b) 15 anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite
máximo seja superior a 7 anos, mas que não exceda 12 anos;
c) 8 anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite
máximo seja superior a 3 anos, mas não ultrapasse os 7 anos;
d) 4 anos, nos restantes casos.
2. Quando a lei estabelecer para qualquer crime, em alternativa, pena de prisão ou de
multa, só a primeira é considerada para efeito do disposto neste artigo.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 111
Observações
N. 1 - O processo-crime acaba quando decorram sobre a pratica do crime os seguintes prazos:
- Para crimes com pena superior a 12 anos ------- 20 anos
- Para crimes com pena de 7 a 12 anos ------------ 15 anos
- Para crimes com pena de 3 a 7 anos -------------- 8 anos
- Para crimes com pena até 3 anos------------------ 4 anos
N. 2 – Este artigo só se aplica à pena de prisão.
Notas
Direito comparado
V. art. 118º.
Artigo 111º
Contagem do prazo
1. O prazo de prescrição do procedimento criminal corre desde o dia em que o facto se tiver
consumado ou desde o dia do último acto de execução quando se tratar de crime não
consumado, crime continuado ou crime habitual.
2. Nos crimes permanentes o prazo de prescrição conta-se desde o dia em que cessar a
consumação.
3. No caso de cumplicidade atende-se ao facto do autor.
Observações
N. 1 – conta-se do dia:
- Em que se consumou o crime ou
- Em que se executou o último acto de execução (crime não consumado, continuado, crime
habitual).
N. 2 – no crime permanente, conta-se do dia que cessa a consumação.
N. 3 – para o cúmplice conta-se de acordo com (a contagem do prazo para) o autor do crime.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 112
- O crime de mera actividade está consumado no momento em que o agente actua,
- O crime de resultado só está consumado quando o resultado típico se verifica; e entre o
momento em que o agente actuou e o momento em que o resultado típico se produziu, pode
decorrer um espaço de tempo mais ou menos longo.
Exemplo:
Imagine-se a situação de (A) querer matar (B), dá-lhe um tiro, mas (B) não morre logo: fica em
coma durante um mês, vindo a falecer ao fim desse tempo.
O prazo de prescrição do procedimento criminal só se começa a contar a partir do momento da
verificação do resultado “morte”.
Notas
Direito comparado
V. art. 119º.
Artigo 112º
Suspensão da prescrição
1. A prescrição do procedimento criminal suspende-se, para além dos casos especialmente
previstos na lei, durante o tempo em que:
a) O procedimento não puder legalmente iniciar-se ou continuar por falta de
autorização legal ou de sentença a proferir por tribunal não penal, ou por efeito da
devolução de uma questão prejudicial a juízo não penal;
b) O delinquente cumprir, no estrangeiro, pena ou medida de segurança privativa
da liberdade;
c) O procedimento criminal estiver pendente, a partir do momento em que o
arguido é notificado da acusação.
2. A prescrição volta a correr a partir do dia em que cessar a causa da suspensão.
3. A causa de suspensão não pode, consoante as situações, ultrapassar metade do prazo
previsto no artigo 110º.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 113
Observações
A prescrição do procedimento criminal suspende-se, salvo casos especiais, durante o tempo que:
Alínea a)
- Não se puder dar início a um processo-crime por falta de autorização legal
- Não se puder continuar com um processo em curso:
- Por falta de autorização legal
- Por ter de se esperar uma decisão dum tribunal não penal (ex. pedido cível)
- Por ter de se enviar uma questão prejudicial a juízo não penal (ex. tribunal
constitucional sobre aplicação de norma constitucional)
Alínea b)
O criminoso estar a cumprir pena (ou medida de segurança privativa da liberdade) no
estrangeiro
Alínea c)
O arguido ser notificado da acusação, e, o processo estar pendente desde essa altura.
N. 2 – quando cessar o motivo que levou à suspensão do processo, volta a correr o prazo
(recomeça a contagem).
N. 3 – Não se pode ultrapassar metade do prazo fixado nas alíneas a) a d) do art. 110º (consoante
a causa de suspensão e o prazo de prescrição).
Notas
Direito comparado
V. art. 120º .
CAPÍTULO II
PRESCRIÇÃO DAS PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA
Artigo 113º
Prazos de prescrição das penas
1. As penas prescrevem nos seguintes prazos:
a) 25 anos se forem superiores a 12 anos de prisão;
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 114
b) 20 anos se forem superiores a 8 anos mas não ultrapassarem os 12 anos de prisão;
c) 12 anos se forem superiores a 4 anos mas não ultrapassarem os 8 anos de prisão;
d) 8 anos nos casos restantes de penas de prisão;
e) 4 anos no caso das penas de multa.
2. O prazo de prescrição das penas conta-se desde o trânsito em julgado da decisão que a
aplicar.
Observações
N. 1 – as penas prescrevem quando decorrerem os prazos seguintes:
- Crimes punidos com mais de 12 anos ------------------25 anos
- Crimes punidos com mais de 8 anos até 12 anos -----20 anos
- Crimes punidos com 4 a 8 anos de prisão --------------12 anos
- Crimes punidos com prisão -------------------------------8 anos
N. 2 – Conta-se o prazo de prescrição (da pena):
- a partir do trânsito em julgado da decisão condenatória do arguido.
Notas
Direito comparado
V. art. 122º.
Artigo 114º
Prescrição das penas acessórias
A prescrição das penas acessórias fica sujeita ao regime da pena principal.
Observações
A pena acessória extingue-se no mesmo prazo que a pena principal (aplicam-se os prazos de
prescrição da pena principal -art. 113º, n. 1).
Notas
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 115
Direito comparado
V. art. 123º.
Artigo 115º
Prazos de prescrição das medidas de segurança
As medidas de segurança prescrevem nos seguintes casos:
a) 15 anos se privativas da liberdade;
b) 5 anos se não privativas da liberdade;
c) 2 anos nos casos de cassação da licença de porte de arma.
Observações
- Medidas privativas da liberdade (Internamento) --------------------15 anos
- Medidas não privativas de liberdade ---------------5 anos
- Cassação da licença de uso e porte de arma ------2 anos
Notas
Direito comparado
V. art. 124º
Artigo 116º
Suspensão da prescrição
1. A prescrição das penas e das medidas de segurança suspende-se, para além dos casos
previstos especialmente na lei, durante o tempo em que:
a) Por força de lei a execução não puder começar ou continuar;
b) Após a evasão do condenado e enquanto não for recapturado;
c) O condenado estiver a cumprir outra pena ou medida de segurança privativa da
liberdade;
d) Perdurar a dilação do pagamento da multa;
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 116
e) O condenado estiver temporariamente impedido de prestar o trabalho a favor da
comunidade;
f) A execução estiver a ter lugar.
2. A prescrição volta a correr a partir do dia em que cessa a causa da suspensão.
3. É correspondentemente aplicável o que dispõe o n.º 3 do artigo 112º.
Observações
N. 1 – As penas e medidas de segurança suspendem-se quando:
- A execução da pena/medida não puder iniciar-se ou, continuar a executar (caso já tenha
tido inicio).
- Em caso de fuga do condenado, até à sua recaptura
- Durante o tempo que o condenado cumprir pena/medida privativa da liberdade, noutro
processo
- Enquanto decorre o prazo suplementar para pagar a multa (dilação).
- Enquanto o condenado não estiver em condições de trabalhar a favor da comunidade.
- Durante a execução.
N. 2 – Quando acabar a causa que deu origem à suspensão do prazo de prescrição, volta a correr
o prazo.
N. 3 - Não se pode ultrapassar metade do prazo fixado nas alíneas a) a d) do art. 110º - consoante
a causa de suspensão e o prazo de prescrição- por remissão do art. 112º, n. 3.
Notas
Direito comparado
V. art. 125º.
CAPÍTULO III
IMPRESCRITIBILIDADE
Artigo 117º
Crimes de genocídio, contra a paz e a humanidade e de guerra
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 117
O procedimento criminal e as penas impostas pelos crimes de genocídio, contra a paz e a
humanidade e de guerra são imprescritíveis.
Observações
Estes crimes não prescrevem.
Notas
Direito comparado
Não existe norma deste género no Código Penal Português.
CAPÍTULO IV
OUTRAS CAUSAS DE EXTINÇÃO
Artigo 118º
Outras causas
Para além dos casos especialmente previsto na lei, a responsabilidade criminal extingue-se
pela morte do agente, pela amnistia e pelo indulto.
Observações
Para além dos casos previstos na lei (prescrição) para eliminar a responsabilidade criminal do
agente, existem outras formas de acabar com a responsabilidade criminal, que são:
Morte do agente; amnistia e indulto
Notas
Direito comparado
V. art. 127º.
Artigo 119º
Morte do agente
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 118
A morte do agente extingue o procedimento criminal, bem como a sanção criminal que lhe
tenha sido aplicada.
Observações
A morte tem dois efeitos jurídicos, a saber:
- Extingue o procedimento criminal
- Cessa a sanção criminal aplicada
Notas
Direito comparado
V. art. 128º, n. 1.
Artigo 120º
Amnistia
A amnistia extingue o procedimento criminal e faz cessar a execução da sanção ainda não
cumprida total ou parcialmente, bem como os seus efeitos e as penas acessórias na medida
em que for possível.
Observações
Os efeitos da amnistia são:
- Extinguir procedimento criminal
- Cessar o cumprimento da sanção que não tenha sido ainda executada
- Cessar os efeitos e as penas acessórias
Notas
Direito comparado
V. art. 128º, n. 2.
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 119
Artigo 121º
Amnistia e concurso de crimes
Salvo disposição em contrário, a amnistia é aplicável a cada um dos crimes que constituem
o concurso.
Observações
No concurso de crimes, o agente é julgado e punido por vários crimes, assim a cada crime há que
ver se a amnistia é aplicável, ou não.
Salvo disposição, que diga expressamente que a amnistia se aplica a todos os crimes pelos quais
o arguido é julgado.
Notas
Direito comparado
V. art. 128º, n 2.
V. art. 30º.
Artigo 122.º
Indulto
O indulto extingue a pena, no todo ou em parte, ou substitui-a por outra prevista na lei e
mais favorável ao condenado.
Observações
O indulto é uma forma de acabar com uma pena aplicada ao arguido.
Os efeitos são:
- Extinguir toda a pena, se ainda não foi executada, ou parte da pena, se o condenado já
começou a cumprir pena.
- Substituir a pena aplicada ao arguido por outra que seja mais favorável (quando não se
extinga nos termos da alínea anterior!).
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Notas
Direito comparado
V. art. 128º, n. 4.
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Índice de Artigos
CÓDIGO PENAL
LIVRO I - PARTE GERAL
TÍTULO I - DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
CAPÍTULO ÚNICO - PRINCÍPIOS GERAIS
Artigo 1º - Princípio da legalidade
Artigo 2º - Proibição de analogia
Artigo 3º - Aplicação da lei penal no tempo
Artigo 4º - Lei excepcional ou temporária
Artigo 5º - Momento da prática do facto
Artigo 6º - Lugar da prática do facto
Artigo 7º - Princípio da territorialidade
Artigo 8º - Factos praticados fora do território nacional
Artigo 9º - Restrições à aplicação da lei timorense
Artigo 10.º - Aplicação subsidiária
TÍTULO II - DO CRIME
CAPÍTULO I - PRESSUPOSTOS GERAIS
Artigo 11º - Acção e omissão
Artigo 12º - Responsabilidade criminal
Artigo 13º - Responsabilidade por actuação em nome de outrem
Artigo 14º - Imputação subjectiva
Artigo 15º - Tipos de dolo
Artigo 16º - Tipos de negligência
Artigo 17º - Erro sobre as circunstâncias
Artigo 18º - Erro sobre a ilicitude
Artigo 19º - Agravação pelo resultado
Artigo 20º - Inimputabilidade em razão da idade
Artigo 21º - Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 122
CAPÍTULO II - FORMAS DO CRIME
Artigo 22º - Actos preparatórios
Artigo 23º - Tentativa
Artigo 24º - Punibilidade da tentativa
Artigo 25º - Tentativa não punível
Artigo 26º - Desistência voluntária
Artigo 27º - Casos de comparticipação
Artigo 28º - Arrependimento posterior
CAPÍTULO III - AGENTES DO CRIME
Artigo 29º - Agentes
Artigo 30º - Autoria
Artigo 32º - Cumplicidade
Artigo 33º - Culpa na comparticipação
Artigo 34º - Ilicitude na comparticipação
CAPÍTULO IV - CONCURSOS E CRIMES CONTINUADOS
Artigo 35º - Concurso de crimes
Artigo 36º - Punição em caso de concurso
Artigo 37º - Concurso de sanções
Artigo 38º - Pena de prisão com execução suspensa em cúmulo jurídico
Artigo 39º - Conhecimento superveniente do concurso
Artigo 40º - Crime e outra infracção
Artigo 41º - Crime continuado
Artigo 42º - Concurso de normas
CAPÍTULO V - CAUSAS DE EXCLUSÃO
SECÇÃO I - CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE
Artigo 43º - Exclusão da ilicitude
Artigo 44º - Legítima defesa
Artigo 45º - Estado de necessidade
Artigo 46º - Conflito de deveres
Artigo 47º - Consentimento
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SECÇÃO II - CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPA
Artigo 48º - Excesso de legitima defesa
Artigo 49º - Estado de necessidade desculpante
Artigo 50º - Obediência indevida desculpante
TÍTULO III - DAS CIRCUNSTÂNCIAS
CAPÍTULO ÚNICO - REGRAS GERAIS
Artigo 51º - Determinação da medida da pena
Artigo 52.º - Circunstâncias agravantes gerais
Artigo 53º - Reincidência
Artigo 54º - Habitualidade criminal
Artigo 55º - Circunstâncias atenuantes gerais
Artigo 56º - Circunstâncias de atenuação extraordinária
Artigo 57º - Graus de atenuação extraordinária
Artigo 58.º - Concurso de circunstâncias
TÍTULO IV - DAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO CRIME
CAPÍTULO I - DISPOSIÇÕES GERAIS
Artigo 59º - Penas e medidas de segurança
Artigo 60º - Limite das penas e das medidas de segurança
Artigo 61.º - Finalidade das penas e medidas de segurança
Artigo 62º - Escolha da pena e da medida de segurança
Artigo 63º - Efeitos das penas e das medidas de segurança
Artigo 64º - Execução das penas ou medidas privativas da liberdade
Artigo 65º - Concurso de penas e medidas privativas da liberdade
CAPÍTULO II - PENA DE PRISÃO
Artigo 66º - Duração da pena de prisão
Artigo 67º - Substituição da prisão por multa
Artigo 68º - Suspensão da execução da prisão
Artigo 69º - Suspensão da prisão condicionada a deveres
Artigo 71º - Suspensão da prisão com acompanhamento
Artigo 72º - Modificação do regime de suspensão
Artigo 73º - Revogação da suspensão
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Artigo 74º - Extinção da pena de prisão
CAPÍTULO III - PENA DE MULTA
Artigo 75º - Duração da pena de multa
Artigo 76º - Prisão alternativa à pena de multa
Artigo 77º - Redução ou isenção da pena de multa
CAPÍTULO IV - PENA DE TRABALHO A FAVOR DA COMUNIDADE
Artigo 78º - Trabalho a favor da comunidade
Artigo 79º - Requisitos
Artigo 80º - Suspensão, redução ou isenção de pena
Artigo 81º - Legislação complementar
CAPÍTULO V - PENA DE ADMOESTAÇÃO
Artigo 82º - Admoestação
Artigo 83º - Execução da pena de admoestação
CAPÍTULO VI - PENAS ACESSÓRIAS
Artigo 84º - Princípio geral
Artigo 85º - Suspensão temporária do exercício de funções públicas
Artigo 86º - Proibição do exercício de função
Artigo 87º - Expulsão
Artigo 88º - Proibição de condução
Artigo 89º - Cassação da licença de porte de arma
CAPÍTULO VII - DETERMINAÇÃO DA PENA
Artigo 90º - Princípios gerais
Artigo 91º - Determinação concreta da pena
Artigo 92º - Caso especial da pena de multa
CAPÍTULO VIII - MEDIDAS DE SEGURANÇA
SECÇÃO I - MEDIDA DE INTERNAMENTO
Artigo 93º - Pressupostos
Artigo 94º - Duração
Artigo 95º - Cessação da medida
Artigo 96º - Substituição da medida de internamento
Artigo 97º - Liberdade para prova
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Artigo 98º - Revogação da liberdade para prova
Artigo 99º - Suspensão da execução do internamento
SECÇÃO II - OUTRAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
Artigo 100º - Medida de interdição profissional
Artigo 101º - Proibição de condução e cassação da licença de uso e porte de arma
CAPÍTULO IX - OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME
Artigo 102º - Perda dos objectos do crime
Artigo 103º - Perda de vantagens
Artigo 104º - Responsabilidade civil emergente de crime
Artigo 105º - Privilégio do crédito do lesado
TÍTULO V - DIREITO DE QUEIXA
Artigo 106º - Natureza do crime
Artigo 107º - Titular do direito de queixa
Artigo 108º - Prazo para o exercício do direito
Artigo 109º - Renúncia e desistência da queixa
TÍTULO VI - EXTINÇÃO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL
CAPÍTULO I - PRESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO CRIMINAL
Artigo 110º - Prazos de prescrição
Artigo 111º - Contagem do prazo
Artigo 112º - Suspensão da prescrição
CAPÍTULO II - PRESCRIÇÃO DAS PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA
Artigo 113º - Prazos de prescrição das penas
Artigo 114º - Prescrição das penas acessórias
Artigo 115º - Prazos de prescrição das medidas de segurança
Artigo 116º - Suspensão da prescrição
CAPÍTULO III - IMPRESCRITIBILIDADE
Artigo 117º - Crimes de genocídio, contra a paz e a humanidade e de guerra
CAPÍTULO IV - OUTRAS CAUSAS DE EXTINÇÃO
Artigo 118º - Outras causas
Artigo 119º - Morte do agente
Artigo 120º - Amnistia
Breves notas de apoio – Dt. Penal – II Curso de Advogados – Formador Rui Lourenço Page 126
Artigo 121º - Amnistia e concurso de crimes
Artigo 122.º - Indulto
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