caderno c: 200 anos de frankenstein - meu querido monstro
Post on 30-Jul-2016
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Fábio TrindadeDA AGÊNCIA ANHANGUERA
fabio.silveira@rac.com.br
Duzentos anos atrás, um clás-sico começava a nascer. Era1816, uma noite chuvosa noVerão suíço, a inglesa de 19anos Mary Shelley, obrigada aficar trancafiada em Genebrapor conta do mau tempo, ra-biscava num pedaço de papelo que se tornaria, dois anos de-pois, um mito. Inspirada, acre-dita-se, pelos contos de fantas-mas do pai, o filósofo e jorna-lista William Godwin, a mu-lher do famoso poeta inglês
Percy Bysshe Shelley apostoucom o futuro marido, presocom ela durante a chuva portrês dias, quem conseguiria es-crever o melhor enredo. Nas-ceu, então, Frankenstein, ouModerno Prometeu, um tipode obra tão surpreendente, ino-vadora e bem escrita que geradiscussões e se mantém atualaté os dias de hoje.
Esta, pelo menos, é a versãomais conhecida de como sur-giu um dos maiores clássicosde todos os tempos, que inspi-rou inúmeras outras obras lite-rárias, teatrais, cinematográfi-cas e televisivas ao longo dostempos. Diz-se também que atorturada criatura foi inspiradaem fatos reais, a partir do mis-tério que cercava o alquimistaKonrad Dippel. Ele, um cientis-ta do século 17, especula-se,realizava experiências secretase bizarras para tentar reanimaro corpo humano.
Dippel morava no casteloFrankenstein, na Alemanha, epor isso as histórias da épocadiziam que ele assinava o ter-mo “von Frankenstein” noscorpos que utilizava nas tenta-tivas de trazê-los do mundodos mortos. O fato é que nun-ca houve nenhuma citação deMary sobre o folclore KonradDippel, mas há relatos de queela teria ouvido a história justa-mente durante o tempo emque passou na Suíça. E VictorFrankenstein, convenhamos,gera comparações com Dippelsuficientes para se considerartais afirmações.
Duzentos anos se passaramdesde os primeiros rabiscos e,na verdade, pouco importa deonde veio a inspiração de Ma-ry. Afinal, Frankenstein criouum novo gênero de terror e foium marco na cultura pop oci-dental. Tanto que novas ver-sões de sua história conti-nuam a aparecer, dando osmais inusitados toques a esteimpressionante conto. Provadisso é o recente filme VictorFrankenstein, estrelado peloeterno Harry Potter, DanielRedcliffe, e o novo professorXavier da franquia X-Men, Ja-mes McAvoy.
A questão é que nem sem-pre essas inovações dão certoe o longa de Paul McGuiganfoi um fracasso, não apenasem bilheteria (teve um custode US$ 40 milhões e faturouUS$ 34,1 milhões), mas princi-palmente em críticas. O filmefoi considerado um desastre,sendo chamado pelo The NewYork Times de “raso comouma moeda de 1 centavo”.
ResgatePor essas e outras, ter acesso
ao enredo original é funda-mental. E mesmo que o filmenão tenha servido de iniciativapara a Landmark, a editora co-nhecida justamente por relan-çar clássicos acaba de colocarno mercado a primeira ver-são de Frankenstein em edi-ção comentada e bilíngue (in-glês-português).
A ideia de Mary foi concebi-da em 1816, porém, ela só foise concretizar em maio de1817, quando a inglesa finali-zou o texto e mandou para al-gumas editoras. O primeirolançamento aconteceu noano seguinte, pela editora La-ckington, Hughes, Harding,Mavor & Jones, de Londres. Aedição foi publicada anonima-mente, com 500 exemplares,em três formatos — como decostume, para a época.
O nome de Mary apareceusobre o título apenas em1822, quando a segunda edi-ção saiu, em dois volumes, pe-la editora G. and W.B. Whit-taker, graças ao estrondososucesso da peça Presunção:ou o Destino de Frankenstein,adaptada pelo dramaturgo Ri-chard Brinsley Peake.
Uma terceira edição, consi-derada mais popular, aindachegou às lojas enquanto Ma-ry era viva, em 1831. Impres-sa em apenas um volume eamplamente revista pela auto-ra para torná-la mais conser-vadora, devido à pressão daépoca, foi esta versão quetrouxe a introdução em queMary relata as circunstânciasem que a história foi concebi-da.
É, entretanto, o texto de1818 mesmo que a Landmarkresgata aos leitores, tendo co-mo brinde a introdução de1831. Ou seja, a melhor for-ma de deleitar-se com o hor-ror cru e honesto criado na-quela noite fria e chuvosa deduzentos anos atrás, esquecen-do tudo o que foi visto por aídesde então quando o assuntoé Frankenstein.
Obras inspiradas sobre o monstromais querido do terror mundial
SAIBA MAIS
SERVIÇO
� FRANKENSTEIN (1910)A primeira versão para as telonas da história de MaryShelley surgiu ainda nos primórdios do cinema. Umcurta de pouco mais de 10 minutos, dirigido por J.Searle Dawley.
� FRANKENSTEIN (1931)O filme considerado o maior clássico de Frankensteinveio 20 depois. A Universal Studios decidiu adaptar ahistória, chamou o diretor James Whale e cunhou aeterna figura do monstro com a cabeça quadrada comparafusos. A obra levou os fãs à loucura e se tornou umestrondo.
� A NOIVA DE FRANKENSTEIN (1935)O sucesso em 1931 foi tanto que, quatro anos depois,o filme ganhou uma sequência, desta vez tendo comofoco a criação de uma companheira para o monstro,com Elsa Lanchester no papel da versão feminina dacriatura. Mais uma vez, um sucesso. O longa foirefilmado em 1985, como A Prometida.
� O FILHO DE FRANKENSTEIN (1939)E já que a franquia ia de vento em popa, surgiu,novamente em um intervalo de quatro anos, O Filho deFrankenstein. O longa que fechou a trilogia daUniversal mostra o filho do Dr. Frankenstein de volta aolocal onde tudo começou, na tentativa de ressuscitar omonstro e transformá-lo numa criatura boa.
� O JOVEM FRANKENSTEIN (1974)Como a maioriados filmes desucesso,Frankensteinganhou diversassátiras, sendoconsiderada amelhor e maisengraçada delas a de 1974. O Jovem Frankensteinmostrou um doutor bastante atrapalhado e contou noelenco com os hilários Gene Wilder e Peter Boyle.
� FRANKENSTEIN DE MARY SHELLEY (1994)Considerado amelhor adaptaçãodo livro de 1818, ofilme conta com umelenco de peso:Robert De Niro napele do Monstro,Kenneth Branaghcomo o doutor eHelena Bonham Carter no papel da jovem Elizabeth.
� FRANKENWEENIE (2012)Tim Burtontambém entrouna onda emuma dasadaptações maisinusitadas dahistória de MaryShelley. Naanimação,inspirada nocurta, tambémde Burton, de 1984, o Monstro é criado por um garotoa partir do cadáver de seu cachorrinho. O públicoaprovou e o longa foi indicado ao Oscar em suacategoria.
� VICTOR FRANKENSTEIN (2015)O mais recentefilme sobre o sercriado emlaboratório temsua históriacontada a partirde Igor (DanielRadcliffe), ojovem eperturbadoassistente do dr. Frankenstein (James McAvoy, na foto)— até então, apenas um estudante de medicina.
Meu querido monstroFotos: Cedoc/RAC
/ HORROR / Criado há 200 anos por Mary Shelley, Frankenstein é fonte contínua de inspiração
Editora Landmarklança edição originalem formato bilíngue
BIOGRAFIA
Frankenstein — Editora LandmarkEdição bilíngue português-inglês — 320 págs., R$ 42,00
Boris Karloff como a criatura do dr. Frankenstein nofilme de 1931; no destaque, a nova edição da obra
Leonardo DiCaprio iráinterpretar Vladimir Putin
em filme. PÁGINA A28
Sugestões de pautas, críticas e elogios:cadernoc@rac.com.br
CORREIO POPULARCampinas, quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
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