capítulo viii - política.pptx

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CAPÍTULO VIII - POLÍTICASir David Ross – “Aristóteles”

SOBRE A ESTRUTURA DA POLÍTICA Provavelmente, é um erro supor a existência

de uma ordem original ou própria dos livros da Política.

Um estudo dos princípios dos vários livros revela que a obra é constituída pela confluência (convergência) de cinco tratados independentes:

1) sobre a economia doméstica – preliminar ao estudo do Estado, uma vez que este deriva da economia doméstica (livro I);

2) sobre as repúblicas propostas como ideais e as mais estimadas constituições existentes (livro II);

3) sobre o estado, o cidadão e a classificação das constituições (livro III);

4) sobre as constituições inferiores (livros IV-VI);

5) sobre o estado ideal (livros VII, VIII).

Os livros VII e VIII diferem dos três primeiros pelo seu tom mais dogmático, e o seu estilo mais cuidado sugere que se fundam, pelo menos parcialmente, em trabalhos já publicados.

Os livros IV-VI diferem do resto da Política pelo seu tom mais prático e menos ideal.

Também diferem pela quantidade de detalhes históricos que contêm.

Na Política IV-VI sentimos, mais do que em qualquer outro lado, como o pensamento de Aristóteles está firmemente enraizado na história.

SOBRE O MÉTODO Defende a prioridade do todo em relação à

parte;

a identidade da natureza de uma coisa com o fim para o qual ela se move;

a superioridade da alma sobre o corpo, da razão sobre o desejo;

a importância do limite, da moderação.

A POLÍTICA ABRE COM UMA SEÇÃO CUJO OBJETO PARECE SER 1) a justificação do estado face ao ponto de

vista sofístico que o representa existindo por convenção e não possuindo qualquer estatuto real a exigir a fidelidade dos seus membros; e

2) esclarecer a sua natureza pela sua distinção a respeito das outras comunidades.

Aristóteles começa afirmando que, uma vez toda a comunidade é formada para salvaguardar qualquer bem, o estado, comunidade suprema e que abarca todas as outras, tem que visar o bem supremo.

O ponto de vista teleológico por si adotado é uma característica de todo o seu sistema.

O significado e a natureza de tudo no mundo, criatura viva, instrumento ou comunidade, devem ser procurados no fim do seu ser.

No caso de um instrumento, isto é um fim desejado pelo seu uso, e a forma do instrumento está de acordo com este fim imposto exterior sobre a sua matéria.

instrumento

uso Fim

a forma está de acordo com este fim imposto exterior à matéria

No caso da criatura viva ou de uma comunidade, o fim é imanente à própria coisa – para a planta a vida do crescimento e da reprodução, para o animal a vida da sensação e do apetite, os quais se sobrepõem à vida vegetativa, para o homem e para a comunidade humana a vida da razão e da ação moral, sobreposta às duas.

A palavra que empregamos como “estado” não significa outra coisa que “cidade”.

Foi na cidade que ele viu, não apenas a forma mais elevada de vida política conveniente à sua época, mas também a forma mais elevada que era capaz de conceber.

Admite, sem um longo exame, que a vida humana pode ser vivida mais plenamente numa pequena comunidade onde todos os cidadãos se conheçam entre si e onde cada um participe do governo, não somente na escolha dos seus legisladores mas «governando e sendo governado» alternadamente.

Está claro que o estado pertence ao gênero “comunidade”, mas a sua diferença específica já não é tão clara.

O seu método para descobrir a diferença específica do estado consiste na análise das suas partes constitutivas, estudando-as na sua gênese.

Existem dois instintos primordiais que levam os seres humanos a associarem-se mutuamente:

o instinto de reprodução que une um homem e uma mulher;

e o instinto de autopreservação que une o senhor e o escravo – o espírito econômico e o corpo vigoroso em termos de uma ajuda mútua.

Deste modo, obtemos uma sociedade mínima formada por três pessoas: a família, que representa «a associação estabelecida pela natureza para a satisfação das necessidades cotidianas».

homem mulhe

r

escravo

família

O estágio seguinte é a aldeia, união de várias famílias «para o fornecimento de algo mais para além das necessidades cotidianas».

família aldeiafamília

famíliafamília

família

O terceiro estágio constitui-se pela união de muitas aldeias numa «comunidade completa, suficientemente extensa para estar perto ou quase da autossuficiência; formada para salvaguardar a vida, existe para permitir a boa vida».

aldeiaaldeia Comunidad

e/cidade/pólisaldeia

aldeia

Reside aqui a diferença específica relativamente ao estado.

Este nasceu pela mesma razão da aldeia – a salvaguarda da vida. Mas nele realiza-se um outro desejo: o desejo de boa vida.

A boa vida inclui, para Aristóteles, duas coisas: a atividade moral e intelectual.

O estado oferece um campo mais adequado do que aquele que precede a atividade moral, uma variedade maior de relações nas quais as virtudes devem ser exercidas. Este fato fornece um maior alcance à atividade intelectual; é possível uma divisão mais completa do trabalho intelectual e cada espírito torna-se mais estimulado para um contato com outros espíritos.

Esfera pública – o homem faz isso para bem viver e para cumprir o seu princípio especificador, ou melhor, ele só pode cumprir a sua função “o homem só pode ser homem” se transcender, se lançar na esfera pública.

«Se as primeiras formas de sociedade são naturais, assim também é o estado, pois ele é o fim delas e a natureza de uma coisa é o seu fim. O que cada coisa é quando totalmente desenvolvida, designamos de sua natureza... Consequentemente, é evidente que o estado é uma criação da natureza, e o homem, por natureza, um animal político... Aquele que é incapaz de viver em sociedade, ou que não tem esta necessidade pois é autossuficiente, deve ser uma besta ou um deus».

ESCRAVATURA Depois de ter demonstrado que o estado

deriva da família, Aristóteles passa a considerar as diferentes «partes da economia doméstica».

As duas únicas que serão longamente discutidas são a relação entre senhor e escravo e a aquisição de riqueza.

A respeito da escravatura, encontra-se em face de dois pontos de vista:

um para o qual a autoridade exercida sobre os escravos é idêntica em espécie à autoridade política, e constitui uma instância normal de superiores sobre inferiores;

e outro para o qual a natureza não reconhece nenhuma distinção entre senhor e escravo, ou seja, que a escravatura, repousando numa convenção contrária à natureza, é por isso injusta.

Por essência um escravo é «um instrumento para assegurar a vida», por outras palavras, «uma possessão animada».

O escravo é um instrumento, não de produção, mas de ação.

Aristóteles assinala que a antítese do superior e do inferior se encontra por todo o lado na natureza e que, por todo o lado em que existe uma tal diferença entre duas coisas, é vantajoso para ambas que uma legisle sobre a outra. A natureza tende a produzir uma tal distinção entre os homens – a fazer uns robustos para o trabalho e outros aptos para a vida política. Assim, certos homens são por natureza livres e outros escravos.

A aprovação que Aristóteles faz da escravatura possui um certo número de caracteres que devem ser observados.

1) A distinção entre o homem livre por natureza e o escravo natural nem sempre, admite ele, foi tão clara quanto o poderíamos desejar.

2) A escravatura pelo simples direito de conquista na guerra não deve ser aprovada.

3) Os interesses do senhor e do escravo são idênticos. Portanto, o senhor não devia abusar da sua autoridade.

4) Deveria ser dada a esperança de emancipação a todo o escravo.

No entanto, o que não podemos aprovar no ponto de vista de Aristóteles é a sua divisão da raça humana em duas partes distintas.

Num sistema de subordinação, nenhum membro deve ser visto como tratando-se simplesmente de um «utensílio animado».

AQUISIÇÃO DE RIQUEZA A secção seguinte da Política relaciona-se

com o problema de saber em que medida a aquisição de riqueza está ligada à economia doméstica.

DOIS MODOS DE AQUISIÇÃO DE RIQUEZA O modo natural que consiste em juntar

aqueles produtos da natureza necessários aos propósitos da vida. Aqui, distingue três espécies principais:

o apascentar, a caça (subdividida em pesca e caça) e a lavoura.

Este modo constitui uma parte da economia doméstica, ou mais propriamente, uma pré-condição delas. A tarefa do senhor da casa e do homem de estado consiste na utilização daquilo que foi assim acumulado.

A troca é intermédia entre este último modo e o segundo modo de aquisição de riqueza.

Aristóteles coloca aqui a distinção entre o valor de uso das coisas e o seu valor de troca.

O segundo modo não natural de aquisição de riqueza manifesta-se quando os bens começam a ser trocados, não por outros bens, mas por dinheiro. As características intrínsecas ao dinheiro apontadas por Aristóteles são:

1) o ser mais portátil que os bens;

2) o possuir uma utilidade própria para além da comodidade da troca.

1) Modo natural

Troca

2) Modo não-natural

Mais adiante, considera que de todos os modos de aquisição de riqueza não naturais, a pior espécie consiste na usura pois o dinheiro, ele mesmo uma invenção não natural, é usado aqui, não para o seu propósito original, a troca, mas para um fim ainda menos natural.

Aristóteles conclui o livro com uma discussão acerca das várias espécies de regras, próprias à família.

Senhor – escravo (poder despótico) Marido – mulher (poder constitucional) pai – filhos (poder monárquico)

AS REPÚBLICAS IDEAIS No livro II, Aristóteles consagra-se a um

estudo crítico das repúblicas ideais já propostas, bem como das constituições e legislações mais apreciadas pela História, no sentido de extrair daí o melhor de tudo o que foi concebido e realizado neste campo.

Começa pela crítica da República de Platão. Primeiro, examina as sugestões de Platão a respeito da comunidade das mulheres e das crianças. São dois os seus argumentos principais:

1) Platão está errado quando estabelece o princípio segundo o qual «quanto maior for a unidade, melhor é o estado».

2) Mesmo se a unidade fosse um verdadeiro ideal para o estado, esta poderia ser produzida pelo tipo de organização previsto por Platão.

A respeito da propriedade, Aristóteles distingue três variações possíveis da prática existente:

1) A propriedade privada da terra e o uso comum dos produtos;

2) A propriedade comum e o uso privado; 3) A propriedade comum e o uso comum.

No fundo, o seu argumento essencial é que a propriedade, como a família, consiste numa extensão natural e normal da personalidade, numa fonte de prazer e numa oportunidade de se exercer uma boa atividade. O estabelecimento da comunhão das riquezas constitui uma medida legislativa destinada, em princípio, a suprimir o egoísmo, mas as fontes do egoísmo são profundas demais para poderem ser removidas pela legislação. Fundamentam-se na perversidade dos homens. E a cura para elas, como Platão havia já realmente pensado, reside na educação.

Num último capítulo, Aristóteles examina os planos elaborados tendo em vista a igualação da propriedade. Pensa que o crescimento da população tende constantemente a perturbar qualquer igualação da propriedade possível de ser estabelecida. Não são as possessões, mas os desejos da humanidade, que precisam ser igualados. A conclusão é a seguinte: «é melhor orientar a espécie mais nobre de naturezas a não desejarem mais impedindo as inferiores de obterem mais».

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