catálogo arte pará 2003
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22a Edição
O Modernismo como Inspiração e Diálogo
Museu do Estado do Pará
Galeria da Residência
Fundação Romulo Maiorana
Belém-PA
Outubro 2003
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Ao longo dos seus vinte e dois anos de atuação, a Fundação Romulo Maiorana vem
assumindo um papel cada vez mais importante para o cenário artístico do Pará,
notadamente o das artes plásticas.
De um sonho que passou de pai para filha, o trabalho exercido nesta fundação ganha,
ano a ano, uma dimensão mais profissional e organizada, realizando projetos que unem
arte e educação. Não só para a formação de um futuro público para exposições de arte,
mas para a formação de cidadãos mais esclarecidos e cientes de seus papéis sociais.
Uma missão que procuramos seguir em todas as empresas que compõem as
Organizações Romulo Maiorana.
Na apresentação de mais uma edição do Arte Pará, que hoje temos o orgulho de ver como
o mais importante salão de arte da região Norte, agradeço a todos que têm feito com que
seja possível continuar o sonho e ampliá-lo, dando a abertura para um diálogo entre artistas
de todas as partes do Brasil. Agradecemos especialmente às empresas que patrocinam o
evento deste ano: REDE Celpa, Unimed-Belém, Supermercados Nazaré e Sistema Del Rey
Casa Própria.
Lucidéa Maiorana
Presidente
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1982 - “Um novo espaço”. Assim escreveu João de Jesus Paes Loureiro no texto de
abertura do primeiro Salão Arte Pará. Passaram-se vinte e dois anos, com mudanças no
mundo, no país, no Estado e no tempo; e o salão Arte Pará está vivo e vive na busca de
aprender para poder ser visto.
O Salão Arte Pará é um espaço ainda novo, de vinte e dois anos felizes e de um trajeto
de idéias concretizadas. Sua finalidade, através dos seus espaços, MEP e Galeria da
Residência, é educar com a arte, revelando um tempo passado e o contemporâneo. É
um trabalho de vida longa.
2003 - Estamos na maturidade e n o crescimento, o Salão ousa mais em su a curadoria e,
como vem fazendo há alguns anos, investe em atividades didáticas, com o apoio dos
monitores da Universidade Federal do Pará. Temos um compromisso com a educação. O
Salão evoluiu. Seu percurso é de um trabalho em conjunto, de uma equipe infatigável na
busca de realizar um sonho dividido com todos.
Roberta Maiorana
DiretoraFundação Romulo Maiorana
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Quantos salões no Brasil têm a permanência do Arte Pará? Virou tradição. E tão inarredável
quanto o Círio de Nazaré, integrando-se a ele tanto no calendário, quanto na expectativa
e nos zelosos preparativos que antecedem ambos.
A feliz semente do seu criador, Romulo, amadureceu nas mãos diligentes da filha, Roberta,
a lhe dotar de novos ares e rumos, mas sem perder jamais os objetivos traçados desde a
primeira versão: estabelecer um espaço competitivo de excelência para as chamadas
artes visuais que fosse referência nacional; propiciar condições ideais para as trocas
simbólicas entre os nossos artistas e os do restante do país; estimular o surgimento de
novos valores, sem descurar aqueles que já estão consagrados; ampliar o debate do
conceito de arte, particularmente a contemporânea, refletindo sobre a sua inserção social.
Bem, obrigado - assim caminha o nosso Arte Pará nessas duas décadas de compromisso
assumido com o bem fazer. Celebremos, sem dúvida de qualquer índole, a obstinada
decisão de manter viva a chama, e que continue a iluminar os tempos que vão chegar.
Paulo Chaves Fernandes
Secretário Executivo
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Seleção 8
Premiação 9
Museu do Estado do Pará 11
Artes Plásticas
O modernismo como inspiração e diálogo 12
Alberto da Veiga Guignard 14
Aldo Bonadei 16
Alfredo Volpi 18
Antônio Bandeira 20
Antônio Gomide 22
Cândido Portinari 24
Clóvis Graciano 26
Emiliano Di Cavalcanti 28
Fulvio Pennacchi 30
Ismael Nery 32
Tarsila do Amaral 34
Vicente do Rego Monteiro 36
Entre a Figura e a Abstração 41
Augusto Morbach 44
Benedicto Mello 46
João Pinto Martins 48
Mário Pinto Guimarães 50
Roberto de La Rocque Soares 52
Ruy Meira 54
Tadashi Kaminagai 56
Waldemar da Costa 58
Yoshio Yamada 60
Mostra Competitiva 62
Artes Plásticas
Grande Prêmio 64
Segundo Prêmio 65
Aquisição 66
Artistas Selecionados 68
Galeria da Residência 75
Fotografia
Caixa de LuzLuiz Braga
Mostra Competitiva 82
Fotografia
Grande Prêmio 84
Segundo Prêmio 85
Aquisição 86
Fotógrafos Selecionados 89
Fichas Técnicas 93
Agradecimentos 95
Patrocinadores 96
Apoio Cultural 97
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Seleção
A comissão que fez a seleção dos artistas participantes do Arte Pará 2003 foi formada
pelo curador Marcus de Lontra Costa, pelo jornalista e crítico de arte Celso Fioravante,
pela jornalista Daniela Name, pelo fotógrafo Orlando Maneschy e pelo artista plástico
Emanuel Franco, que presidiu os trabalhos.
A seleção aconteceu no dia 12 de setembro de 2003, na Galeria da Residência, totalizando
53 artistas escolhidos, sendo 33 deles em artes plásticas e 20 em fotografia. Na avaliação
das obras, foram observados os critérios de contemporaneidade e adequação dos meiostécnicos às propostas apresentadas.
9
Premiação
A premiação do Arte Pará 2003 aconteceu no dia 6 de outubro e deu o grande prêmio de
artes plásticas para Marcone Moreira (PA) e o grande prêmio de fotografia para Eduardo
Kalif (PA). O segundo lugar em artes plásticas foi dado a Lúcia Gomes (PA) e, em fotografia,
a Miguel Chikaoka (PA). O júri também concedeu prêmios de aquisição para Danielle
Fonseca (PA), Alexandre Monteiro (RJ), Frederico Dalton (RJ), Dirceu Maués (PA) e
Alexandre Sequeira (PA).
O júri de premiação foi formado pelos fotógrafos Evandro Teixeira e Orlando Maneschy,
pelos curadores Jussara Derenji e Marcus de Lontra Costa e pelo artista plástico Emanoel
Franco, que presidiu os trabalhos. Eles mantiveram os mesmos critérios usados para a
seleção, acrescentando os itens de pesquisa e adequação da obra ao projeto expositivo.
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Museu do Estado do ParáArtes Plásticas
O modernismo como inspiração e diálogo
Curadoria Marcus de Lontra Costa
Di Cavalcanti
Carnaval (detalhe da obra), 1972
Óleo sobre Tela, 1,67x1,97m
Acervo do Banco Central
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O modernismo como inspiração e diálogo
A mostra reúne 31 obras da coleção do Banco Central, um dos mais importantes acervos
sob a guarda de instituições públicas no Brasil. Esse pequeno e exemplar conjunto de
obras selecionadas pela curadoria traça um roteiro sintético do período “heróico” do
modernismo brasileiro, que se esboça nas duas primeiras décadas do século XX, se
cristaliza na emblemática Semana de 22 e avança até a criação de instituições voltadas
para a difusão específica da arte moderna, como os Museus de Arte Moderna do Rio de
Janeiro e de São Paulo, criados no final dos anos 40.
De Tarsila do Amaral a Alfredo Volpi, a curadoria buscou traçar um eixo crítico no qual seevidencia o principal desafio da arte moderna em nosso país: criar uma obra autônoma
num país periférico e contribuir para a formação de um olhar brasileiro que incorporasse
elementos do nosso passado e, ao mesmo tempo, viesse projetar as bases do nosso
futuro. O modernismo surge, portanto, como um desejo, uma ânsia de um país jovem e
republicano disposto a criar um novo “projeto visual” que substituísse a velha ordem
imperial representada pela Academia, oriunda da Missão Francesa de 1815, trazida ao
Rio de Janeiro por D. João VI.
Agrícola e conservador, o Brasil desses “tempos heróicos” sofria as pressões de uma
pequena classe média dos grandes centros urbanos que clamava por uma mudança no
quadro político nacional. Essa reação espalhava-se com destaque no meio militar, no
movimento “tenentista” e numa espécie de ímpeto desenvolvimentista que colidia com
a política da Velha República. Nas artes, o modernismo vem a s e manifestar inicialmente
com os herdeiros dessa aristocracia, privilegiados estudantes que voltavam da Europa
com novas informações, novos projetos.
Ao mesmo tempo, os ímpetos nacionalistas, já despertados na segunda metade do século
XIX com os movimentos artísticos de valorização do índio brasileiro, ressurgem com
força total na literatura e nas artes, visando a valorização da língua “brasileira” e das
nossas lendas e costumes nacionais, muitas vezes sufocados pela valorização estética
excessivamente européia imposta pelos padrões da Academia.
Assim, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Antônio Gomide e Vicente do Rego Monteiro
trazem esse jovem e aguerrido espírito modernista patrocinado por uma aristocracia
disposta a épater les bourgeois, ao mesmo tempo em que refletem o compromisso de
um país disposto a estabelecer novos pactos de convívio e ação política e social. Nesse
sentido, a pintura ao mesmo tempo moderna, surrealista e ingênua de Tarsila, a “caipira
vestida por Poiret”, aluna de Léger, esposa de O swald de Andrade e herdeira e afilhada
da República Velha, é exemplar como emblema e síntese dos anos 20 e das curiosas e
intrincadas relações da arte moderna com as forças conservadoras do poder constituído.
Na verdade, a arte moderna acaba por se estruturar como realidade concreta e como
estratégia real de formação de um pensamento crítico coerente somente nos anos 30,
seja com a ação efetiva dos artistas modernos na então capital brasileira, Rio de Janeiro
, seja com o surgimento de uma nova geração de artistas oriundos da classe operária em
São Paulo. Conforme anota o grande Mário Pedrosa, com a inteligência e precisão de
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sempre: “Se foi Higienópolis que fez a Semana de Arte Moderna de 1922, foram Cambuci
e adjacências que fizeram a Família Artística Paulista na outra etapa. Se o local em que se
realizou a Semana foi o majestoso foyer do Teatro Municipal de São Paulo, a sede da
Família era uma sala do edifício Santa Helena, no largo da Sé, onde desde 1933 se localizava
a maior parte dos sindicatos novos criados com a Revolução de 30.”
Esse projeto modernista, de caráter nacionalista, encontra eco nas propostas do novo
governo e se estrutura através do embate político provocado pela revolução bolchevista
de 1917 e os movimentos nazi-fascistas que alcançam o poder na Itália e na Alemanha. O
Brasil dos anos 30 assinala a formação de um modernismo nacionalista, disposto acolaborar efetivamente para a formação do olhar e do sentimento brasileiro. A exuberância
das mulheres de Di Cavalcanti e o lirismo e sofisticação das paisagens e naturezas-mortas
de Guignard são elementos característicos dessa situação. Porém, se Tarsila, sob todos
os aspectos, é o símbolo da ânsia modernista dos anos 20, Portinari, filho de imigrantes
italianos, de origem campesina, de grande técnica e extraordinário talento, incorpora
elementos acadêmicos, dialoga com os muralistas mexicanos e traz, definitivamente, o
homem brasileiro para o centro da discussão, tema principal da arte e do nosso
modernismo, híbrido e necessário na sua tentativa de se fazer presente numa arena
nacional por vezes tão erma e cruel para a afirmação do novo.
A presença de Le Corbusier, o surpreendente arrojo da arquitetura moderna brasileira e a
construção do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro acabam por resolver
definitivamente os dilemas do nosso modernismo e contribuem para a implantação denovas diretrizes teóricas, nas quais se resolve a dicotomia entre o nacional e o internacional,
entre o Mundo e o Eu.
Nesse sentido, as obras de Antônio Bandeira se afirmam como explosão de vitalidade e
ousadia cromática, enquanto o genial Alfredo Volpi detona conceitos tradicionais com a
elaboração de uma obra poética na qual a clareza e a sofisticação estabelecem um dos
mais belos diálogos de toda a h istória da arte brasileira.
Surge, então, já nos anos 50, um país estruturado e pronto a enfrentar os grandes dilemas
estéticos com os quais o mundo se defronta. Graças a esses artistas, o Brasil começa a
estruturar um olhar substantivo e coerente e cria uma linguagem na qual elementos
internacionais e nacionais se fundem de maneira ousada e harmônica. A abstração
geométrica e informal, os grandes movimentos culturais dos anos 50 (concretismo e
neo-concretismo, bossa nova, cinema novo, etc...) tornam-se possíveis graças à açãoousada e pioneira desses grandes artistas, que estruturam a base de nosso saber.
Vê-los aqui, reunidos, nessa Feliz Lusitânia, querida Belém, é mais que uma honra e um
prazer. É um reencontro sempre necessário com o que temos de mais puro e valioso, a
nossa história, os nossos valores, a nossa maneira de ver e dialogar com o mundo. Tudo
o que nos une...
Marcus de Lontra Costa
Belém, setembro de 2003.
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Alberto da Veiga Guignard
Nova Friburgo - RJ, 1896 / Belo Horizonte - MG, 1962
Marcada pela singeleza, a obra de Guignard guarda algo de extremamente autêntico, que
revela a própria personalidade amorosa e solitária do artista, em trabalhos cujo
despojamento das pinceladas e a estruturação aparentemente simples do desenho
ocultam uma ciência compositiva sóbria e apurada.
Suas paisagens, recriadas em uma atmosfera onírica, e que sugerem referências orientais,
são trabalhadas com delicadeza e dramaticidade. Amante do desenho, com o qual organiza
suas composições, Guignard foi ainda um grande retratista, autor de cenas brasileiras e
de naturezas-mortas muito sensíveis, tendo mesmo se aventurado pela temática religiosa
e incursionado tardiamente pela pintura histórica. Introvertido e apaixonado, carinhoso e
solitário, Guignard, atento à ciência da pintura, levou para sua obra a dolorida ternura de
sua alma.
Menção Honrosa no Salão Nacional de Belas Artes de 1924, quando esteve rapidamente
no Brasil, Medalha de Bronze no salão de 1929 e Prata no salão de 1939, ganhador do
Prêmio de Viagem ao País em 1940 e Medalha de Ouro em 1942, Guignard conquistou
aos poucos amplo respeito e admiração, construindo, ao longo dos anos, uma obra sólida
e fiel aos seus princípios estéticos.
Convidado por Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, Gu ignard mudou-
se em 1944 para Minas Gerais, onde viveu até o fim da vida como professor de um curso
livre de desenho e pintura.
Vaso de Flores, 1958
Têmpera sobre Tela, 0,50x0,70m
Acervo do Banco Central
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Aldo BonadeiSão Paulo - SP, 1906 / São Paulo - SP, 1974
Aldo Bonadei foi aluno de Pedro Alexandrino entre 1923 e 1928, período em que freqüentou
ainda o ateliê de Antonio Rocco e o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. No começo
dos anos 30, foi para a Itália, onde estudou na Academia de Belas Artes de Florença,
aprofundando-se no estudo do nu. Retornou a São Paulo e passou a integrar a Família
Artística Paulista e o Grupo Santa Helena, do qual faziam parte artistas como Rebolo,
Zanini, Pennacchi, Clóvis Graciano e Volpi.
O artista faz parte da segunda fase do modernismo brasileiro, caracterizada pelos artistas
proletários que, com cavalete às costas e caixas de tintas nas mãos, trabalhavam suas
telas ao ar livre, diante do assunto - em geral paisagens dos arredores da cidade.
Rompendo com o rigor inicial do aprendizado acadêmico, Aldo Bonadei alcançou,
progressivamente, uma simplificação de seus planos pictóricos, absorvendo os exemplos
de Cézanne e de um cubismo moderado. Sua liberdade criativa, no entanto, o levou por
caminhos variados e pessoais, com uma paleta de alturas cromáticas muitas vezes
intensas. Suas experimentações no campo da abstração expressam a tensão entre uma
representação figurativa lírica e uma racionalidade muito subjetiva, operando assim, em
um só artista, uma multiplicidade de forças plásticas em constante elaboração.
A arte abstrata foi praticada por Bonadei esporadicamente, entre 1940 e 1968, sempre
em paralelo à obra figurativa. Apesar dessas in teressantes experiências com a abstração,
o artista produziu as melhores obras dentro dos temas cezanianos prediletos: as naturezas-
mortas e as paisagens.
Igreja, 1955
Óleo sobre Tela, 0,55x0,74m
Acervo do Banco Central
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Alfredo Volpi
Lucca - Itália, 1896 / São Paulo - SP, 1988
Chegou ao Brasil ainda criança. Foi entalhador, carpinteiro, encadernador e pintor
decorativo e se dedicou progressivamente ao estudo da pintura. Após uma primeira
premiação em 1928, começou a freqüentar o Grupo Santa Helena, saindo em expedições
pictóricas pelos arredores da cidade e se relacionando com artistas como Rebolo Gonzales,
Bruno Giorgi, Mario Zanini e Aldo Bonadei.
Mestre de um colorido tonal sucinto e harmonioso, Alfredo Volpi iniciou sua pintura ainda
sob os efeitos de um impressionismo tardio, ampliando seu universo estético no contato
com outros artistas. Alcançou uma alta maturidade expressiva já em suas primeiraspaisagens e marinhas, julgadas por Sérgio Milliet como algumas das melhores de nossa
pintura, junto aos trabalhos de Castagnetto e Pancetti.
A atenção sobre alguns aspectos da arquitetura colonial, somando-se ao influxo dos pré-
renascentistas italianos, transparece em sua produção construtiva que, se aproximando
da abstração, não rompe com as referências do mund o exterior.
Após participar da XXVI Bienal de Veneza em 1952, dividiu com Di Cavalcanti, no ano
seguinte, o Prêmio de Pintura da II Bienal de São Paulo. Novamente na Bienal de Veneza,
em 1954, Volpi foi apontado pelos artistas do abstracionismo geométrico como um de
seus precursores, participando como convidado especial de exposições de arte concreta
no Rio de Janeiro (1956) e São Paulo (1957).
Bandeiras e Mastros, Sem data
Têmpera sobre Tela, 1,02x0,70m
Acervo do Banco Central
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Antônio Bandeira
Fortaleza - CE, 1922 / Paris - França, 1967.
Começou nas artes de modo praticamente autodidata. Desde jovem, atuou na vida cultural
de sua cidade, fundando, com outros artistas, o Centro Cu ltural Cearense de Belas Artes.
Entre 1942 e 1945, expôs localmente suas pinturas e desenhos figurativos de índole
expressionista, ligados tematicamente a uma ambiência regional. Mudou-se em 1945
para o Rio de Janeiro, com Aldemir Martins e Inimá de Paula. Foi onde realizou com
sucesso uma primeira individual no Instituto dos Arquitetos do Brasil. No mesmo ano,
conseguiu uma bolsa de estudos do governo francês e se mudou para Paris.Pintor de grande liberdade criativa, mesmo em sua produção figurativa, Antônio Bandeira
é dono de uma obra de certo modo intimista, apesar dos gestos largos de algumas de
suas pinceladas, que materializam plasticamente uma espécie de paisagem interior e
psicológica e uma busca pela verdade da própria pintura, sem compromissos com a
realidade imediata do mundo exterior.
Sem deixar de lado a qualidade e importância de suas obras na fase cearense, é a ida do
artista para Paris, entretanto, que o coloca na linha de frente dos debates artísticos de
seu tempo, com o abstracionismo informal se impondo naturalmente como sua linguagem
preferencial, o que fez de Bandeira um dos expoentes internacionais dessa vertente.
Olhos Saindo na Escuridão do Bosque, 1953
Guache sobre Cartão, 0,98x0,68m
Acervo do Banco Central
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Antônio Gomide
Itapetininga - SP, 1895 / Ubatuba - SP, 1967
Antônio Gonçalves Gomide foi aluno da Escola Normal de São Paulo antes de se mudar
com a família, em 1913, para Genebra, onde freqüentou a Academia de Belas Artes local
até 1918. Estudou com Gillard e Ferdinand Hodler. Naquela mesma época, entrou em
contato com Sérgio Milliet, também na Suíça.
Na década de 20, após viagens entre Espanha, Portugal e Brasil, o artista se fixou na
França. Foi onde aprendeu com Marcel Lenoir a técnica do afresco, colaborando na
execução de murais para o Institut Catholique e conventos da região de Toulouse. Instalado
em Paris, entrou em contato, nesse período, com Picasso, Braque, Lhote, Picabia, Severini
e os brasileiros, como Brecheret, Anita Malfatti e Vicente do Rego Monteiro.
Realizou, também nesse período, vitrais, cartazes e desenhos em tecidos, expondo no
Salon des Indépendants (1924) e no Salon d’Automne (1926). Expôs seus trabalhos com
sucesso também em São Paulo, em 1927, quando executou afrescos em algumas
residências da cidade. Logo depois, retornou definitivamente ao Brasil e participou, em
1930, junto a Tarsila do Amaral e outros artistas, da exposições da Casa Modernista e de
arte brasileira no Roerich Museum de Nova Iorque. Em 1931, expôs no chamado Salão
Revolucionário, no Rio de Janeiro e, em 1932, participou da fundação da Sociedade Pró-
Arte Moderna e do Clube dos Artistas Modernos, com Di Cavalcanti, Carlos Prado e
Flávio de Carvalho.
Dono de uma técnica controlada, Gomide constrói seus quadros em composições
figurativas muito equilibradas, nas quais as texturas e tons terrosos de alguns trabalhos
evidenciam as pesquisas do artista que, dominando o afresco, percorre ainda um conjunto
diferenciado de linguagens, em desenhos, gravuras, aquarelas, relevos, cerâmicas e
esculturas.
Seguro e dinâmico, o artista dá à figura humana um tratamento quase abstrato,
destacando-se em sua produção a elevada sensibilidade de suas pinturas religiosas, a
beleza de suas paisagens e marinhas, e o extraordinário movimento de suas cenas
populares.
A Despedida, 1930
Óleo sobre Tela, 1,05x1,31m
Acervo do Banco Central
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Cândido Portinari
Brodósqui - SP, 1903 / Rio de Janeiro - RJ, 1962
Considerado o mais importante pintor moderno brasileiro, Cândido Portinari traduz o
conteúdo freqüentemente dramático de suas obras em um cromatismo sóbrio e
equilibrado que, trazendo a presença de um certo classicismo, denota algo de sua origem
peninsular.
De família de agricultores imigrantes no interior paulista, Portinari auxiliou na decoração
interna da paróquia de sua cidade em 1912, ainda menino. Em 1918, matriculou-se no
Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde, em 1921, começou a estudar pin tura na
Escola Nacional de Belas Artes. Participou regularmente do salão anual da instituição e
ganhou, em 1928, o cobiçado Prêmio de Viagem ao Estrangeiro.
Partiu para a Europa, onde permaneceu até 1931, quando retornou definitivamente ao
Rio de Janeiro. Realizou sua primeira individual em São Paulo, em 1934 e, no ano seguinte,
sua obra “Café” foi premiada na International Exhibition of Paintings de Pittsburgh, EUA.
Foi quando passou a reger a cadeira de pintura do Instituto de Artes da Universidade do
Distrito Federal.
Após uma vasta produção pictórica, na qual se destacam seus inú meros retratos e cenas
brasileiras, foi convidado, em 1953, para realizar um painel na sede da ONU em Nova
York. Intitulado “Guerra e Paz”, o painel foi inaugurado quatro anos depois, sendo premiado
com o Guggenheim’s National Award e o Hallmark Art Award. Ainda em 1953, Portinari
pintou os murais para a igreja de Batatais, no interior paulista, e expôs no Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro. Foi eleito pelo International Fine Arts Council dos Estados
Unidos como o melhor pintor de 1955.
Samba, 1956
Óleo sobre Tela, 1,67x1,97m
Acervo do Banco Central
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Clóvis Graciano
Araras - SP, 1907 / São Paulo - SP, 1988
Clóvis Graciano mudou para a capital paulista em 1934, após participar da Revolução
Constitucionalista de 1932. Até então autodidata, seu contato com Cândido Portinari o
levou a freqüentar o ateliê de Waldemar da Costa. No mesmo período, cursou a Escola
Paulista de Belas Artes. Em 1937, instalou-se no Palacete Santa Helena, onde se integrou
ao chamado Grupo Santa Helena, que congrega, entre outros, Francisco Rebolo, Mario
Zanini e Aldo Bonadei. Membro também da Família Artística Paulista, foi eleito presidente
do grupo em 1939, participando regularmente dos Salões do Sindicato dos Artistas
Plásticos.
A partir dos anos 50, dedicou-se à pintura mural e realizou mais de cem trabalhos em
edifícios de diversas cidades brasileiras. Clóvis Graciano produziu também ilustrações
para obras literárias, cenários e figurinos. Na década de 70, o artista assumiu o cargo de
diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo e a função de adido cultural em Paris.
Em sua obra, que se destaca no ambiente artístico da época, convivem harmoniosamente
elementos figurativos distintos, extraídos tanto do expressionismo, quanto de certo
realismo social. Dono de um desenho estruturante de grande talento, o artista dedica
atenção especial à figura humana e atinge, com sua linguagem compositiva e cromática,
um lirismo comedido e rigoroso.
Retrato de Tarsila, Sem data
Óleo sobre Tela, 0,50x0,65m
Acervo do Banco Central
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Emiliano Di Cavalcanti
Rio de Janeiro - RJ, 1897 / Rio de Janeiro - RJ, 1976
Di Cavalcanti começou a exprimir suas propensões artísticas ainda muito jovem, ao
publicar, em 1913, sua primeira caricatura na revista Fon-Fon e participar, em 1916, do I
Salão dos Humoristas no Rio de Janeiro. Já estudante de Direito, em 1917, mudou-se
para São Paulo, passando a estudar na Faculdade do Largo São Francisco. Mas logo
envolveu-se com a imprensa, trabalhando como revisor n o jornal O Estado de São Paulo
e publicando ilustrações em O Pirralho. No mesmo ano, realizou uma individual de
caricaturas.
Freqüentando, a partir de 1918, o ateliê de Georg Fischer Elpons, começou a estreitar o
contato com o círculo da vanguarda paulista, vindo a servir como uma ponte entre os
jovens intelectuais e artistas do Rio de Janeiro e São Paulo, e participou ativamente da
Semana de Arte Moderna de 1922. Abandonando definitivamente o Direito, mudou-se
para Paris, onde conheceu Breton, Léger, Max Ernst, De Chirico, Matisse, Braque e Picasso.
Emiliano Di Cavalcanti fez de sua obra, unindo vida e criação, uma ode aos tipos mais
simples do Brasil, com os quais se sentia em comunhão, retratando-os com caloroso e
desprendido afeto, destacando-se, sobretudo, como um artista brasileiro que traduz com
lirismo, em um cromatismo intenso e vibrante, os personagens e ambientes do país.
Figura Mitológica, 1969
Óleo sobre Tela, 0,50x0,73m
Acervo do Banco Central
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Fulvio Pennacchi
Garfagnana, Toscana - Itália, 1905 / São Paulo - SP, 1992
Pintor, ceramista, desenhista, ilustrador e professor, Fulvio Pennacchi formou-se na
Academia Real de Pintura de Lucca em 1927, onde foi aluno de Pio Semeghini, a quem
substituiu em 1927. Pennacchi veio para o Brasil em 1929 e se estabeleceu em São
Paulo, realizando, inicialmente, além de sua produção artística, outras atividades para se
sustentar. Chegou a trabalhar em um açougue.
Convidado pelo escultor Galileo Emendabili, em 1932, passou a dividir com ele um ateliê
e a colaborar em algumas das obras dele. Integrou ainda o Grupo Santa Helena e a Família
Artística Paulista, junto de Rebolo, Bonadei, Volpi e Clóvis Graciano, entre outros, e
participou da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Entre 1930 e
1935, Fulvio Pennacchi realizou uma série de obras de temática religiosa. Um ano depois,
tornou-se professor de desenho no Colégio Dante Alighieri.
Figura de Homem, Sem data
Óleo sobre Painel, 0,30x0,58m
Acervo do Banco Central
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Ismael Nery
Belém - PA, 1900 / Rio de Janeiro - RJ, 1934
Em 1923, Nery iniciou uma intensa produção de desenhos e pinturas que retratam
encontros entre personagens masculinos e femininos. Em sua segunda viagem à Europa,
em 1927, teve contato com o movimento surrealista e com a obra de Marc Chagall. Em
seu retorno, realizou duas exposições, primeiro em Belém do Pará (1928) e depois no Rio
de Janeiro (1929), quando vendeu apenas um trabalho para Graça Aranha.
Adoeceu em 1930 e passou os últimos quatro anos de sua vida dedicando-se também à
poesia. Ismael Nery morreu, precocemente, aos 33 anos de idade. Em 1935, o escritor epoeta Murilo Mendes, o primeiro entre os defensores da obra de Nery, organizou uma
exposição póstuma, publicando ainda uma série de artigos em sua homenagem no jornal
O Estado de São Paulo.
Caso raro de pintor filósofo, em que construção plástica e preocupação metafísica unem-
se harmoniosamente, Ismael Nery (chamado também de pintor maldito do início do
modernismo) é tido por alguns como um autêntico surrealista, embora haja em suas
obras aspectos também cubistas e expressionistas. As imagens criadas pelo artista,
porém, ultrapassam estas classificações, atingindo uma originalidade que as colocam
além de qualquer escola ou estilo.
Perfil e Alma, Sem data
Óleo sobre Madeira, 0,35x0,28m
Acervo do Banco Central
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Tarsila do AmaralCapivari - SP, 1886 / São Paulo - SP, 1973
Filha de ricos fazendeiros do café, Tarsila do Amaral estudou em colégios religiosos de
São Paulo e de Barcelona. Regressou ao Brasil e casou-se em 1912, tornando-se mãe de
uma menina. Em 1916, começou a executar, em São Paulo, modelagens em barro com
William Zadig e Mantovani, iniciando-se, em 1917, no desenho e na pintura com Pedro
Alexandrino.
Em 1920, mudou-se com a filha para Paris, onde continuou os estudos e expôs no Salon
Officiel des Artistes Français (1922). De volta a São Paulo, aproximou-se dos jovens
modernistas, formando o Grupo dos Cinco, com Menotti del Picchia, Oswald de Andrade,
Anita Malfatti e Mário de Andrade.
Influenciada por Anita, sua pincelada tornou-se mais livre. Após expor no Salão de Belas
Artes de São Paulo e colaborar na revista Klaxon, retornou a Paris, para onde também
seguiu Oswald de Andrade. Trabalhando em 1923 com André Lhote, Tarsila começou a
elaborar uma temática mais pessoal e brasileira e, através da amizade com Blaise Cendrars,
freqüentou o círculo intelectual e artístico de Paris (Brancusi, Jean Cocteau, Eric Satie,
etc). Nesse período, recebeu ainda os modernistas brasileiros na cidade (Vicente do Rego
Monteiro, Di Cavalcanti, Brecheret, entre outros).
Por se preocupar cada vez mais em ser uma pintora do seu país, após a convivência com
Léger e Gleizes, retornou ao Brasil em fins de 1923, firmando sua busca por uma
visualidade mais pura, baseada na recuperação de u ma estética popular.
O Porto, 1953
Óleo sobre Tela, 0,70x1,00m
Acervo do Banco Central
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Vicente do Rego Monteiro
Recife - PE, 1899 / Recife - PE, 1970
Vicente do Rego Monteiro iniciou precocemente seus estudos artísticos no Rio de Janeiro,
em 1908, acompanhando a irmã Fedora na Escola Nacional de Belas Artes. Durante viagem
com a família para a França, em 1911, freqüentou, em Paris, as academias Colarossi,
Julien e La Grande Chaumière. Dois anos depois, entrou em contato com Modigliani,
Léger, Braque, Miró, Gleizes, Metzinger e Marcoussis.
Voltou para o Rio de Janeiro em 1915, onde se interessou pela música e dança populares
e trabalhou como escultor, realizando bustos em gesso. Em 1918, realizou sua p rimeira
exposição individual no Teatro Santa Isabel, no Recife. Em 1920, expôs em São Paulo,
quando se aproximou de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Pedro Alexandrino e Victor Brecheret.
Naquele mesmo ano, começou a se interessar pela arte marajoara e, em 1921, após
realizar alguns figurinos teatrais no Rio de Janeiro, viajou novamente para a França,
deixando algumas pinturas e aquarelas para serem expostas na Semana de Arte Moderna
de 1922. Foi o ano em que viajou pela Bélgica e Alemanha na companhia de Gilberto
Freyre.
Vicente do Rego Monteiro, além de pintor, foi autêntica e multifacetada personalidade
cultural. Contaminado por certo fauvismo nos anos 20, incorpora em suas obras elementos
do expressionismo, do cubismo e da abstração geométrica. Excelente desenhista e artista
de alto apuro técnico, ele atingiu a maturidade de um estilo figurativo próprio, no qual se
constróem volumes de um geometrismo muito sensível, em pinturas de grande beleza e
sobriedade.
Mulher Sentada, Sem data
Óleo sobre Painel, 1,00x1,20m
Acervo do Banco Central
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38 39
Museu do Estado do ParáArtes Plásticas
Entre a Figura e a Abstração
Curadoria Jussara Derenji
Ruy Meira
Caixa d’água (detalhe da obra), 1958
Óleo sobre Tela, 0,94x0,73m
Acervo Secult
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Entre a Figura e a Abstração
Descobrir a própria pátria, reinterpretar o exotismo das paisagens tropicais e
examinar com novos olhos a arquitetura tradicional eram algumas das preocupações dos
intelectuais que, nos anos 20, começaram a delinear os rumos do modernismo brasileiro.
A partir de 1925, os modernistas se empenham em viagens pelo Norte e Nordeste do
Brasil buscando uma renovação das artes, a ser fundamentada em valores nacionais.
A arquitetura popular receberia uma nova valorização e, no Manifesto Pau-brasil
(1924), Oswald de Andrade declarava “... A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão
e de ocre, nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos”. A aceitação de
uma fase do passado comum como o genuinamente nacional implicava na condenação
da arquitetura mais recente, a do ecletismo, que dominava o centro das cidades nortistas,
como Belém, onde os raros vestígios coloniais seriam celebrados na viagem modernista
à cidade em 1927.
O mesmo Oswald de Andrade diria do ecletismo que não mais mereceria ser
chamado de moderno - “Veja as cores destas casas antigas: excelentes. Repare na pintura
destas casas modernas: horríveis. Horríveis para nós, para nosso ambiente.”
A arquitetura espontânea, as cores vivas das favelas, as singelas ruas de subú rbio,
os mercados e portos, com seu colorido peculiar, integram-se, nos anos seguintes, às
obras de nossos principais artistas. Contribui para a disseminação de temas populares e
para as alegorias do trabalho (que são constantes na produção artística dos anos 40 e50), o surgimento, nas principais cidades brasileiras, de grupos de artistas que teriam
papel decisivo na renovação das artes e num fenômeno característico do período, a
formação dos museus de arte moderna no país.
O Núcleo Bernardelli, no Rio de Janeiro, a Família Artística Paulista e o Grupo
Santa Helena, em São Paulo, agregariam os principais artistas do período, muitos deles
oriundos das classes operárias e de famílias de imigrantes italianos, enquanto o Grupo
15 e o Seibi reuniam os artistas de origem japonesa. As chaves temáticas que se impõem
nas décadas seguintes privilegiam, sob estas influências, o papel social dos imigrantes e
estrangeiros e uma representação inédita de tipos e motivos populares.
A nova composição das associações de artistas mantinha as influências da Europa,
em especial a de movimentos como o “Retorno à ordem” ou o “Novecento” italiano. No
Brasil, a vinculação a esses movimentos europeus amenizaria os pontos mais polêmicose reduziria a ousadia dos modernistas de primeira hora.
No Pará, forma-se, desde os anos 40, um grupo de artistas que se reúne nas
matas do Utinga, reserva de águas da cidade, para pintar ao ar livre. Do grupo de artistas
de Belém, informalmente chamado Grupo do Utinga, fariam parte Ruy Meira, Arthur Frazão,
Ângelus Nascimento, Irene Teixeira, Benedicto Mello, Joaquim e João Pinto, Leônidas
Monte e Roberto de La Rocque Soares, que se consolidariam como alguns dos mais
importantes artistas do período.
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As cenas da vida urbana, os subúrbios e casebres louvados pelos mestres
modernistas recebem tratamento fortemente pós-impressionista pela maioria desses
artistas nos anos 40, 50 e 60, por influência da atuação e dos ensinamentos de mestres
estrangeiros como Raul Devezza, Armando Balloni e Tadeshi Kaminagai.
É por meio de um integrante da Família Paulista, o paraense Waldemar da Costa,
que a cidade de Belém receberia, em 1937, a primeira exposição modernista. Montada
anteriormente em Fortaleza, a mostra era produto do I Salão Paulista de Pintura. Waldemar
da Costa estudou na Escola Nacional de Belas Artes de Lisboa e, em 1924, transferiu-se
para Paris, onte teve contato com artistas como De Chirico, Foujita e Portinari. De volta ao
Brasil em 1931, Waldemar da Costa seria um dos fundadores da Família Paulista em1937, junto com Paulo Rossi Ozir e Vittorio Gobbis. Em 1941, premiaria ao artista Augusto
Morbach, que apresentara um desenho a nanquim, técnica na qual se notabilizaria nas
décadas seguintes.
Em 1940, tinha início o Salão Oficial de Belas Artes do Pará, que somente em 1947,
na sua oitava edição, finalmente estabeleceria uma seção moderna ao lado da tradicional
seção acadêmica. É também em 1947 que chega a Belém o jornalista e colecionador
Frederico Barata, com a tarefa de dirigir os órgãos dos Diários Associados na região: um
jornal, uma rádio e uma emissora de TV. A pinacoteca - de excepcional qualidade - que
Barata traz para a cidade contém: Portinari, Visconti, Pancetti, Oswaldo Goeldi, Quirino
Campofiorito, Roault, Balloni, Goeldi, Burle Marx e até cerâmicas de Picasso.
Frederico Barata seria uma influência importante na transformação do meio e
atualização de artistas locais. Num período no qual eram poucas as exposições e as
trocas de informação, a presença dele e do acervo que tornou disponível aos jovens
artistas foi decisiva para as trajetórias posteriores desses artistas.
Em 1951, acontece em São Paulo a primeira Bienal, num momento em que a
disputa conceitual mais acirrada procura delimitar os territórios entre figurativos e
abstratos. A Bienal paulista, nos moldes da Bienal de Veneza, surge como uma grande
exposição internacional para qual os países participantes mandavam sua representação
e disputavam prêmios.
Na disputa entre figurativos e abstratos, a Bienal, ao dar o prêmio a Max Bill em
1951, contribuiu para legitimar a posição teórica dos abstracionistas e, em especial, dos
concretistas, que tinham em Bill um de seus representantes mais ortodoxos. A Bienal de
São Paulo teve, dentre outros méritos, um inegável: o de agilizar a atualização dos artistasbrasileiros, que não mais dependeriam exclusivamente de viagens para examinar a
produção de outros centros.
Parece difícil admitir que a arte abstrata, hoje tranqüilamente aceita, era motivo
de brigas e disputas que chegavam a agressões físicas há apenas 50 anos. No ano de
1952, surge em São Paulo o Grupo Ruptura e, em 1953, o Grupo Frente, no Rio. Nos anos
de 1956, em São Paulo, e 1957, no Rio de Janeiro, acontece a I Exposição de Arte Concreta,
da qual participam os dois grupos, com divergências já perceptíveis e, em 1959, acontece
a cisão que dá origem ao neo-concretismo.
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Em Belém, se estrutura, à época, outro grupo, o Clube de Artistas Plásticos da
Amazônia e nele constam, quase sem mudanças, os nomes do Grupo do Utinga: Ruy
Meira, Benedicto Mello, Dionorte Drummond, Paolo Ricci, Concy Cutrin, Roberto de La
Rocque Soares e José Pires de Moraes Rego. Em 1960, cinco componentes desse clube
iriam participar da I Exposição Coletiva de Pintura Abstracionista do Pará, que aconteceria
na sede do Clube do Remo. Ruy Meira seria deles o que mais se identificaria com o
abstracionismo1. Ele participa, em 1967, da IX Bien al de São Paulo com uma tela abstrata
e seguiria, nas décadas de 70 a 90, na mesma direção. (1)
Na década de 60, a Universidade Federal do Pará começaria a ter participação
importante nas artes plásticas, promovendo salões universitários e trazendo artistas davanguarda nacional. O curso de arquitetura, criado em 1964, acolheria engenheiros como
Roberto de La Rocque Soares e formaria muitos arquitetos que seriam artistas importantes
da década de 1970 em diante.
As obras destacadas nesta exposição permitem a visualização de traços da arte
moderna que começam a ser impressos sobre a cidade de Belém durante a II Grande
Guerra Mundial e se espraiam até os anos 60 e 70. Ainda que distante das discussões
exaltadas de outros países e mesmo de outras regiões do Brasil, os artistas locais, alguns
com permanências no exterior, tentavam responder ao desafio de produzir uma arte
internacional com acento brasileiro.
Na maioria das trajetórias, a figura vence a abstração, mas em quase todas elas
há idas e vindas que não devem ser interpretadas como avanços e retrocessos. Apenas
como parte do caminho de sinuosas metamorfoses da arte moderna em nossa região. É
a pontuação dessa trajetória rica e complexa que procura oferecer esta exposição, ao
observar as diferentes interpretações de um tema recorrente: o do mercado do Ver-o-
peso, ou as cenas de cotidiano e trabalho, ou os tipos populares, e perceber que estas
pinturas convivem com a abstração, surpreendendo inusitadas convergências onde se
poderia supor distanciamentos.
Para percorrer esse caminho sinuoso e inusitado, privilegiamos o olhar de nove
artistas. Os paraenses Waldemar da Costa, Ruy Meira, Benedicto Mello, Roberto de La
Rocque Soares, João Pinto e Mário Pinto Guimarães; os que vieram e ficaram, como
Augusto Morbach e Yoshio Yamada; e uma curta e marcante presença, a de Tadeshi
Kaminagai. Esperamos que os visitantes desta mostra sintam a esperança e a poética
que permeia os trabalhos de um período de sereno equilíbrio, de um interlúdio de paz.
Jussara Derenji
Outubro de 2003
1 Mokarsel, Marisa. Panorama da Pintura do Pará, MEP, 2000
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Augusto Morbach
Santo Antônio da Cachoeira - GO, 1911 / Belém - PA, 1981
Augusto Bastos Morbach chegou ao Pará com oito anos de idade. Viveu com a família,
por muitos anos, em Marabá, interior do Pará. Parte de sua obra, que lança um olhar
sobre os modos de produção, especialmente da castanha, é oriundo dessa experiência.
Nessa fase, foi premiado em salões realizados em Belém. Transferindo-se para Belém
em 1961, trabalha com ilustrações de livros e revistas e convive com o Grupo do Utinga.
Participou, por escolha e rigor pessoal, de poucas exposições. Sua forma preferida de
expressão foi o nanquim, embora tenha feito incursões na pintura a óleo, por sugestão
de Armando Balloni. Essas obras revelam uma aproximação com temáticas do
modernismo, como as atividades cotidianas e cenas relacionadas com a produção. No
nanquim, produziu séries abordando mitos e lendas. “Morbach cria, expressa e traduz o
seu mundo - o da realidade e da ficção - através do desenho, que nele é beleza, graça,
ritmo, força e movimento...”, disse o crítico Machado Coelho em 1976.
Comércio do Cacau, 1961
Óleo sobre Tela, 1,20x0,90m
Acervo Museu da UFPA
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Benedicto Mello
Nascido em Belém - PA, 1926
Benedicto Antônio Soares de Mello é bacharel em Direito, mas dedicou-se às artes
plásticas e à restauração, com estágio no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de
Janeiro em 1983. Dirigiu a Pinacoteca Municipal, promovendo e ministrando cursos de
restauração e mostras do acervo. Talvez um de nossos artistas mais profícuos, Benedicto
Mello recebeu inúmeras premiações em pintura, cerâmica, escultura e caricatura. Suasobras encontram-se em museus e galerias, além de coleções particulares.
“As qualidades perceptíveis do pintor, afinadas ao tempo em que viveu, fizeram dele um
universal, como universais foram seus amigos Ruy Meira e João Pinto, com os quais
formou uma trindade moderna, ex-modernista e ex-tudo que foi esta, exceto a forma
humanista, da qual jamais se afastaram...”, escreveu João Carlos Pereira na retrospectiva
“Benedicto Mello - Arte e Fatos” (1995).
Luz e Sombra, 1963
Óleo sobre Tela, 0,52x0,62m
Acervo Museu da UFPA
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João Pinto Martins
Belém - PA, 1911 / Belém - PA, 1992
Artista versátil, João Pinto dedicou-se à caricatura, pintura, murais e, principalmente, foi
um incansável escultor. Desenhava e esculpia sem orientação formal e só nos anos 30
teria aulas de desenho e modelagem com Lassance Cunha. Na década de 40, participava,
com seu irmão Joaquim, do Grupo do Utinga, fase de alguns de seus melhores óleos
sobre tela, que demonstram as experimentações que o grupo executava em suas reuniões
nas matas da periferia de Belém. Suas premiações, porém, incidem sobre a escultura ,
nos Salões Oficiais de Belas Artes, na década de 40, e nos Salões de Artes Plásticas da
UFPA, nos anos 60. Em 1977, sua obra foi exposta no Museu do Homem, em Paris, numa
exposição coletiva de artistas paraenses.
Trabalhou com mármore, madeira, alumínio, cobre, bronze e argila. Deixou vários e
importantes painéis, com temática do cotidiano local, pintados na técnica de afresco em
prédios públicos e particulares de Belém. Foi de sua autoria o busto do presidente
Kennedy, que ficava na praça de mesmo nome. A temática preferida de sua extensa e
diversificada obra sempre foi a figura da mulher.
Mulher, 1966
Escultura em Madeira, 2,10x0,48x0,48m
Acervo Banco Central
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Mário Pinto Guimarães
Santarém - PA,1930 / Belém - PA, 1997
No final dos anos 40, Mário Pinto Guimarães recebeu o 3° premio no 1º Salão de Artes
Plásticas do Estudante, em Belém. Participou, nos anos 60, dos salões e bienais da
Universidade Federal do Pará. Em 1963, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudaria
com Domenico Lazarini e Ivan Serpa. Em 1965, foi premiado no I Salão da UFPA, num
período em que a universidade assumia um papel importante no estímulo e divulgação
das artes no panorama local, e que tinha como pólo irradiador o recém-criado curso de
arquitetura (1964) .
No retorno ao Pará, sua obra expressaria não só uma visão sobre a cidade de Belém,
onde passa a viver, como retoma o imaginário amazônida e interiorano de sua adolescência
em Santarém. Em 1980, fundou a Debret Galeria de Arte, onde se reuniam artistas,
intelectuais e colecionadores. Suas últimas obras tomam grandes dimensões e as cores
de uma vibrante interpretação de mitos indígenas.
Canto de Rua, 1965
Óleo sobre Tela, 0,70x0,90m
Acervo Dióris Guimarães/Galeria Debret
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Roberto de La Rocque Soares
Belém - PA, 1924 / Belém - PA, 2001
Artista plástico que transita pelo desenho, pintura, escultura e gravura, Roberto de La
Rocque Soares teve formação universitária em engenharia, depois em arquitetura e ainda
em restauro e preservação de monumentos históricos e artísticos, sendo o responsável
pelo restauro (anos 70) e pela reforma (anos 90) do Palácio Lauro Sodré. Recebeu muitos
prêmios e realizou inúmeras exposições individuais e coletivas. Lecionou desenho na
escola de engenharia e no curso de arquitetura, iniciando vários de nossos maiores artistas
da atualidade. Participou ativamente das discussões sobre o ensino de artes plásticas e
foi premiado nas exposições mais significativas do início do período moderno no Pará,
dentre estas a I Coletiva de Arte Abstrata (1960) e os I e II Salão de Artes Plásticas da
UFPA (1963 e 1965).
Foi um incansável pesquisador da história da arquitetura e seu livro “Vivendas Rurais no
Pará” demonstra a perfeita fusão que fazia das disciplinas técnicas com as artes plásticas.
Profundo conhecedor do desenho, La Rocque destaca-se, dentro de uma obra irretocável,
como aquarelista.
Sem Título, 1962
Óleo sobre Tela, 0,80x0,47mAcervo Elza Lobo Soares
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Ruy Meira
Belém-PA, 1921 / Belém-PA, 1995
Desde o início da década de 40, estava se formando um grupo de artistas em Belém,
informalmente chamado Grupo do Utinga. Em 1942, o estudante de engenharia Ruy
Meira tinha conhecido, durante o Salão Oficial de Belas Artes, na Biblioteca Pública,
artistas como João Pinto, Arthur Frazão, Ângelus Nascimento e Irene Teixeira. Começaria,
incentivado por eles, a sua trajetória nas artes plásticas. Ruy Meira, Benedicto Mello,
Joaquim e João Pinto, Arthur Frazão, Leônidas Monte, Roberto de La Rocque Soares
estavam entre eles e se consolidariam como alguns dos mais importantes artistas do
período. Ruy Meira era engenheiro e começou a pintar sem ter estudos específicos.
Levado pela vontade de se aprimorar que nunca o abandonou, estudou no Rio de Janeiro
com Manuel Santiago e com Raul Devezza, e em Belém, com Tadashi Kaminagai e
Armando Balloni. Também fez parte do Clube de Artistas Plásticos da Amazônia, já no fim
dos anos 50, com vários outros nomes do Grupo do Utinga. Em 1960, cinco componentes
do clube participaram da I Exposição Coletiva de Pintura Abstracionista do Pará, no Clube
do Remo. Dentre eles, Ruy Meira, segundo Marisa Mokarsel, foi o que mais se identificou
com o abstracionismo. Participou da IX Bienal de São Paulo em 1967, com uma tela
abstrata e seguiu a mesma direção nas décadas de 70 a 90.
Caixa d’água, 1958Óleo sobre Tela, 0,94x0,73m
Acervo Secult
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Tadashi Kaminagai
Hiroshima - Japão, 1899 / Paris - França, 1982
O meio local receberia em 1953 e 1954 a presença do artista Tadashi Kaminagai, pintor
cujo trabalho oscila entre o pós-impressionismo e o expressionismo. Kaminagai fazia
parte do grupo Seibi, do qual Flavio Shiró ( Sapporo, Japão, 1928) participava também.
Shiró chegou ao Brasil pelo Pará, onde morou em Tomé-açu nos anos 30 e fez parte do
Grupo Santa Helena e dos grupos de japoneses Seibi e Grupo 15. Shiró e também
Fukushima foram alunos de Kaminagai no estúdio do artista em Santa Teresa, no Rio de
Janeiro.
Kaminagai, assim como Waldemar da Costa, é considerado por Zanini como “ mestre-
professor”, em alusão não só ao trabalho dele em escolas, como a uma vocação de
transmitir conhecimentos e difundir técnicas. A passagem deste artista pelo Pará a convite
do governo do Estado (mas com participação e influência de Frederico Barata) é um
exemplo dessa disposição. Nos dois anos nos quais permaneceu em Belém, o pintor
privilegiou o trabalho fora do atelier e muitas vezes era acompanhado por artistas locais,
como Ruy Meira. Teve estreito contato, também, com o artista Yoshio Yamada, de quem
pintou um retrato.
Ver-o-Peso , 1953
Óleo sobre Tela, 0,72x0,49m
Acervo Lutfala de Castro Bitar
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Waldemar da Costa
Belém - PA, 1904 / Curitiba - PR, 1984
Levado pela família com seis anos de idade para viver em Lisboa, Waldemar da Costa
estudou na Escola Nacional de Belas Artes daquela cidade e transferiu-se, por discordar
da orientação acadêmica da mesma, para Paris em 1924. Foi onde teve contato com
artistas como De Chirico, Foujita e Portinari. De volta ao Brasil em 1931, seria um dos
fundadores da Família Paulista em 1937, junto com Paulo Rossi Ozir e Vittorio Gobbis. Foi
por meio dele que a cidade de Belém recebeu em 1937 sua primeira exposição modernista.Montada anteriormente em Fortaleza, a mostra era o produto do I Salão Paulista de Pintura.
Pouco se sabe, como registra a pesquisadora Mariza Mokarsel, da repercussão local
desta exposição, num ambiente marcadamente academicista como era o de artes
plásticas em Belém àquela época. Mas pode ser um indício revelador constatar que
Waldemar da Costa está representado em pelo menos dois museus de Belém, o Museu
do Estado do Pará e o Museu de Arte de Belém , com obras desse período.
Descanso, 1935
Óleo sobre Tela, 0,79x0,95m
Acervo do MEP
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Yoshio Yamada
Shizuoka - Japão, 1896 / Belém - PA, 1973
Nascido no Japão, veio ao Brasil pela primeira vez em 1928 e retornou definitivamente na
década de 30. Começou a desenhar no período de reclusão imposto a alguns membros
da colônia japonesa do Pará durante a II Grande Guerra Mundial, na cidade de Tomé-açu.
Sem ter tido acesso ao ensino formal e atraído pelos mestres do impressionismo, o
artista encontrou em Tadashi Kaminagai um interlocutor privilegiado. Trabalhou, porém,
com várias técnicas, fazendo desenhos em carvão e nanquim, nestes casos com
aproximações da arte tradicional japonesa; pastel e óleo sobre tela, técnica na qual executa
grandes panoramas do mercado de Belém, o Ver-o-Peso, que estão entre suas obras
mais expressivas.
Ver-o-Peso , Sem data
Óleo sobre Tela, 1,19x0,98m
Acervo da Família Yamada
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Salão Arte Pará 2003
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Mostra CompetitivaArtes Plásticas
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Salão Arte Pará 2003
Qual é o papel dos salões de arte no complexo contexto da arte contemporânea? Esta
pergunta vem perturbando instituições, críticos e jovens artistas há pelo menos duas
décadas, mas, alheios ao debate, os salões se multiplicam pelo país.
Inspirados em modelos franceses do século 19 e inseridos no contexto brasileiro a partir
da chegada da Missão Artística Francesa ao país, em 1816, os salões possuem um formato
básico que se mantém até hoje e que se divide basicamente nas fases de inscrição,
seleção, premiação e exibição.
Poucas iniciativas culturais apresentam uma longevidade tão grande quanto os salões de
arte e isto talvez se deva justamente ao fato de eles não terem se transformadosubstancialmente, ao sabor das modas.
Em 1984, em um artigo publicado no jornal “O Estado de S. Paulo”, a crítica e curadora
Sheila Leirner elencou problemas e virtudes desse tipo de iniciativa. “O salão é um lugar
de artistas jovens, talentos em progresso que ainda não atingiram o circuito comercial,
museológico ou universitário e ainda não possuem as prerrogativas necessárias para um
confronto com as estrelas internacionais de uma Bienal”, escreveu Leirner. “Um salãopode (e deve) oferecer prêmios de estímulo. Ser compreendido como um espaço coletivo
preliminar, prospectivo, de futuras ocupações culturais”, acrescentou.
No mesmo artigo, a curadora criticou: “O salão é uma instituição imposta de cima,
impensada, mal reformulada no decorrer dos anos e diante das modificações da arte.
Longe de orientar-se pelas estruturas que o próprio processo artístico sugere, é um evento
sem ideologia, num processo qu ase mecânico de repetição”, escreveu ainda a curadora.
O curador Marcus Lontra é um incansável defensor da permanência e crescimento dossalões. “O motivo real do sucesso permanente dos salões é ser um evento democrático,
comprometido com o caráter prospectivo da arte e com o pluralismo das vertentescontemporâneas. O salão é o espaço da inquietação e da incerteza e por isso toda
comissão julgadora deve ter a coragem de provocar o novo, de se abismar e de apostar
no que há de vir. O júri deve ser a expressão prática do axioma socrático ‘sei que nada
sei’ e, por isso mesmo, in corporar a dúvida e a coragem de garimpar o novo”, escreveu
Lontra no catálogo do 3° Salão Nacional de Arte de Goiás.
O Salão Arte Pará, organizado pela Fundação Romulo Maiorana, reflete as questões
colocadas por Sheila Leirner e Marcus Lontra, mas a cada edição trabalha para que asvirtudes se sobreponham aos problemas. Esta 22ª edição do Salão é um exemplo disso.
Os artistas selecionados e seus trabalhos representam um grande espectro da produçãocontemporânea paraense e nacional que, com o Salão, ganha atenção e visibilidade.
Ao júri, cabe sempre a ingrata tarefa de decidir quem entra e quem fica de fora, depreferência sempre seguindo o espírito democrático do Salão. Para isso, o júri deste
Salão, do qual fiz parte (assim como Marcus Lontra), se absteve por alguns momentos de
seu ímpeto de curador rigoroso e deixou que o evento se revelasse como um panorama
da diversidade de técnicas, estilos, aprendizados e desejos contemporâneos deste país.
Celso Fioravante
Jornalista e crítico de arteJúri do Arte Pará 2003
Marcone Moreira
Sem Título (detalhe da obra)
Mista, 0,76x0,51m
GRANDE PRÊMIO ARTES PLÁSTICAS SEGUNDO PRÊMIO ARTES PLÁSTICAS
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GRANDE PRÊMIO ARTES PLÁSTICAS
Sem Título (0,76x0,51m), Urucu (0,57x1,33m), Esteio (1,02x0,67m), MistaMarabá/PA, 2003
Marcone Moreira
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SEGUNDO PRÊMIO ARTES PLÁSTICAS
Tempo, InstalaçãoBelém/PA, 2003
Lúcia Gomes
AQUISIÇÃO ARTES PLÁSTICAS AQUISIÇÃO ARTES PLÁSTICAS
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AQUISIÇÃO ARTES PLÁSTICAS
Jse-ren-de, MistaRio de Janeiro/RJ, 2003
Alexandre Monteiro
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AQUISIÇÃO ARTES PLÁSTICAS
Casa (0,60x0,60m), MistaBelém/PA, 2003
Danielle Fonseca
ARTISTAS SELECIONADOS ARTISTAS SELECIONADOS
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Acácio SobralInstalação; DespojosAvenida Gov. José Malcher, 2845, casa 04São Braz – Belém/PATel.: (91) 2262216/ 99953041
Afonso Falcão OliveiraEscultura; Cabo I, II e IIITravessa Teófilo Conduru, 718Canudos – Belém/PATel.: (91) 2741419
Alberto Bitar e Leo BitarVídeo; Paisagem urbana em três atosAvenida Serzedelo Corrêa, 322, apto. 301Nazaré – Belém/PATel.: (91) 2420726
Alexandre MonteiroMista; Jose re-nd-, Jse-ren-de, Jose resend-eRua Corrêa Dutra, 47, apto. 801Flamengo - Rio de Janeiro/RJTel.: (21) 25122098
Bettina Vaz GuimarãesPintura; Sem TítuloRua Bandeirante Sampaio Soares, 601Morumbi - São Paulo/SP
Tel.: (11) 37592122
Cláudio Lima AssunçãoMista; Trânsito I, II e IIIPassagem Santo Antônio, Quadra 30, casa 61Cabanagem – Belém/ParáTel.: (91) 81140914
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Daniel DiasInstalação: Reciclar e criar criar e reciclar, Criar e
reciclar reciclar e criar, Reciclar e criar criar e reciclarPassagem Beira Mar, 42
Guamá - Belém/PATel.: (91) 2499732
Danielle FonsecaMista; Poema-cimento, Cabana-box, Casa
Travessa 14 de Março, 663Umarizal – Belém/PA
Tel.: (91) 2221182/ 91637050
Elieni TenórioMista; Pedaços de mim, Espelhos da alma, Toma... Não
diga nada a ninguémConjunto Ipuan, rua A, casa 38
Marambaia –Belém/PATel.: (91) 2315515
Fabrício MeloDesenho; 2, 4, 5
Travessa 14 de Março, 222Umarizal – Belém/PA
Tel.: (91) 2252722
Geraldo TeixeiraObjeto; Náufragos - devoção,
Náufragos - viagemAvenida Alcindo Cacela, 1924, apto. 902
Nazaré – Belém/PATel.: (91) 2498808/ 2294349
Glauce Patrícia da Silva SantosGravura; Biombos I, II e III
Conjunto Cidade Nova 8, Rua WE 40-A, casa 271Coqueiro – Ananindeua/PA
Tel.: (91) 88017585
ARTISTAS SELECIONADOS ARTISTAS SELECIONADOS
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Jair Jr.Objeto; De Pablo a Long Dong todo mundo tem umapomba entre as pernas, Com os dedos e as pombas...te segura!, Cabeças vão rolar... ainda bem!Avenida Assis de Vasconcelos, 213Reduto – Belém/PATel.: (91) 2241504/ 81122098
JocatosGravura; SB-10, G. C, S. K.Travessa Dr. Liberato de Castro, 405Guamá – Belém/PATel.: (91) 2299078
Jorge MargalhoInstalação; Raízes do mundoRua José de Alencar, 45Marambaia – Belém/PATel.: (91) 96250925
Keyla SobralDesenho; Sem TítuloAvenida Gov. José Malcher, 2845, casa 07São Braz – Belém/PATel.: (91) 2595422
Lúcia GomesInstalação; Banquete das águas, TempoTravessa São Francisco, apto. 101Batista Campos – Belém/PATel.: (91) 2426589
Luzia VellosoMista; Bubu, Planeta Utopia, Limite I - cuboRua Leila Diniz, 365São Francisco – Niterói/RJTel.: (21) 27103136
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Manoel VeigaPintura; Sem Título
Rua Benjamin Egas, 66, apto. 3Pinheiros - São Paulo/SP
Tel.: (11) 30889685
Marcone MoreiraMista; Sem Título, Urucu, Esteio
Rua Santo Antônio, 250Amapá – Marabá/PA
Tel.: (94) 3945258
Marinaldo SantosMista; Caixa prego, Caixa do agiota,
Caixa do fura-dedoAvenida Visconde de Souza Franco, 1395
Nazaré – Belém/PATel.: (91) 2121962/ 81124228
MuriloPintura; De tempo, Era, Memorial
Rua Coronel José do Ó, Alameda Ceci, 2Mosqueiro – Belém/PA
Tel.: (91) 37715498
Marcos CostaObjeto; Objeto desusado I, II e III
Rua Santana, 160Casa Forte – Recife/PETel.: (81) 34424374
ARTISTAS SELECIONADOS ARTISTAS SELECIONADOS
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Nina MatosMista; Mantendo-se bela na longa espera, Perder seuscabelos já é envelhecer,Rio - Paris sem escalasTravessa Arcipreste Manoel Teodoro, 329, apto. 1304Batista Campos – Belém/PATel.: (91) 2232978/ 2198252
NioMista; Sem TítuloTravessa Joaquim Távora, 275Cidade Velha – Belém/PATel.: (91) 224-5695
Raimundo Calandrino B Júnior
Mista; Sem TítuloRua Nova, 451Pedreira – Belém/PATel.: (91) 2547536
Reginaldo Braga MoraesMista; Mangue I, II e IIIBelém/PA
RumaMista; Raio = lado, Raio infinitoTravessa Padre Eutíquio, 2527, apto. 301Batista Campos – Belém/PATel.: (91) 2723329
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Saint Clair DiasObjeto; A vida por um fio III
Travessa Rui Barbosa, 237Reduto – Belém/PATel.: (91) 99611083
SanchrisInstalação; Imaculados filhos de Eva
Travessa Vileta, 688, apto. 107Pedreira – Belém/PA
Tel.: (91) 2331875
Telma SaraivaMista; Chuva preciosa
Travessa Capitão Pedro Albuquerque, 432Cidade Velha – Belém/PA
Tel.: (91) 2220986
Tetê RaiolInstalação; As janeleiras
Travessa Lomas Valentinas, 1412, apto. 302Marco - Belém/PA
Tel.: (91) 2772292/ 2430384
Vera BellatoInstalação; Toucas para pensamentos aéreos
Avenida Guararapes, 86, sala 802Santo Antônio – Recife/PE
Tel.: (81) 34246077
Foto Luiz Braga
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Galeria da ResidênciaFotografia
Caixa de Luz
Luiz Braga
Curadoria Marcus de Lontra Costa
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Mundo Vasto Mundo
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“O destino poético do homem é o de ser o espelho da imensidão, ou mais exatamente
ainda, a imensidão vem tomar consciência de si mesma no homem. Para Baudelaire, o
homem é um ser vasto”.
G.Bachelard, “A Poética do Espaço”
Todo fotógrafo é um prisioneiro da paisagem. Enamorado, projeta sobre ela a ânsia de sua paixão.
O mundo, compreendido e sentido pelo Ser em seu estado de Totalidade, é seccionado pelo
registro da ação artística, enquadrado pelo olhar e esquartejado como um corpo que se fragmentaem estilhaços, destroços, resíduos, lembranças. Dessa paisagem destruída, uma nova ordem
renasce, uma linguagem, uma experiência de interpretar o mundo: essência da arte.
Luiz Braga insere-se numa espécie de tradição romântica da fotografia brasileira, oriunda da
pesquisa formal, da documentação temática e dos compromissos com a clareza e a elegância da
composição. A partir daí, o artista constrói a sua linguagem utilizando-se da cor como um
instrumento ativo, elemento substantivo da obra, articulando uma poética particular e sensível. A
partir dela, o mundo se refaz e relações se articulam, descobertas são reveladas. O olhar vê o que
vê e enxerga além, invade a vastidão, o território dos mistérios, a profundeza que transcende os
limites da fotografia e viaja na construção de um novo cenário, uma nova paisagem, uma nova
realidade. Todo o trabalho de Luiz Braga é prenhe dessa metafísica, desse véu, dessa visão que
nos mostra um mundo real e hipotético, concreto e abstrato, palpável e misterioso.
Se em Miguel Rio Branco, outro mestre da fotografia, a cor é compreendida pelo viés expressionista,
com predominância dos vermelhos e carmins, em Luiz Braga a cor é elemento estrutural, base
dessa nova ordem criada pelo artista. Se Rio Branco dialoga com Goya, Luiz Braga identifica em
Cézanne alguns pontos essenciais de contato no tocante à elaboração de uma ordem e de um
método construtivo. Por isso, é sugestivo que, na entrada dessa mostra, o espectador se defronte
com uma enorme e extraordinária fotografia que repete, em seqüência, algumas maçãs, tema tão
caro e identificável no grande mestre francês, e na qual a reprodutibilidade da imagem evidencia
a revolução provocada pelo advento da fotografia na percepção humana.
A reunião desse conjunto de fotos revela um artista com pleno domínio de seus meios
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técnicos, criando uma linguagem artística determinada pela clareza da composição e uma estrutura
definida pela cor. Trata-se de um clássico, no sentido modernista da palavra, para o qual a ação
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perpétua da arte é organizar e refazer o mundo. Diante das fotografias de Luiz Braga, o espectador
é instado a descobrir um mundo poético e possível, regido pela Ordem, no âmbito da construção
artesanal, e pela Utopia, no campo da estruturação conceitual.
Por isso, aqui não há espaço para sobressaltos e estrondos. Estamos no território das palavras
sussurradas e da simplicidade. E a contemplação silenciosa desse universo faz brotar um afeto
romântico povoado de nostalgia, uma beleza austera e emocionada que povoa o nosso ser de
encantamento e mistério. E como nos lembra ainda – e sempre – G. Bachelard: “Na alma relaxada
que medita e sonha, uma imensidão parece esperar as imagens da imensidão. O espírito vê e revê
objetos. A alma encontra no objeto o ninho de uma imensidão”.
Marcus de Lontra CostaBelém/Rio, setembro de 2003.
Luiz Braga, 46 anos, nasceu em Belém. Teve o primeiro contato com a fotografia aos 11 anos. Em
1975, abraçou a fotografia como profissão, ao mesmo tempo em que ingressava na Escola de
Arquitetura, onde se graduou em 1983. Realizou mais de 70 exposições, entre individuais e coletivas,
tanto no Brasil, como no exterior. Sua obra está presente em coleções importantes como a Pirelli,
do Museu de Arte de São Paulo (Masp), a Fundação Cultural de Curitiba e o Museu de Arte Moderna
de São Paulo, entre outras. Participou da primeira versão do Salão Arte Pará, foi premiado no anos
de 1985, 1987 e 1988 e também já atuou como jurado por duas vezes.
Até 1981, seu trabalho era desenvolvido apenas em preto e branco e suas primeiras exposições
eram esboços multifacetados de um autor em formação. Após essa fase inicial, descobre a cor
vibrante da visualidade popular amazônica e inicia o que considera seu primeiro ensaio, exibido na
mostra “No Olho da Rua”, composto por recortes da geometria colorida de barcos, brinquedos e
casas da região ribeirinha de Belém.
Em “A Margem do Olhar” (1985 a 1987), retorna ao preto e branco dos primeiros tempos, retratando
a dignidade do caboclo amazônico em seu ambiente nativo. Exibido nacionalmente, o ensaio
rendeu-lhe o Prêmio Marc Ferrez de 1988, conferido pelo Instituto Nacional de Fotografia da Funarte.
O encantamento pela cor da sua região e as possibilidades de confronto entre a luz natural e as
múltiplas fontes de luz dos bares, parques e barcos populares resultaram na mostra “Anos Luz”
(1986 a 1991), premiada em 1991 com o “Leopold Godowsky Color Photography Awards” da
Boston University. As fotografias desse ensaio são as mais conhecidas e exibidas pelo autor.
Excertos de “Anos Luz” foram exibidos na Alemanha, Inglaterra, Suíça, México, Estados Unidos e
publicados em diversas revistas e livros. Sua mais recente individual, intitulada “Desenhos do
Olhar”, foi mostrada durante a III Bienal Internacional de Fotografia de Curitiba em outubro de
2000.
Trabalhando como fotógrafo independente a partir de Belém, Luiz Braga tem dado continuidade
à busca de uma Amazônia profunda, com inúmeras incursões em cidades da região. Este ano, sua
obra foi agraciada com o Prêmio Porto Seguro Brasil de Fotografia.
A exposição exibida no 22º Salão Arte Pará é fruto de mais de uma década de trabalho e traz, em
sua grande maioria, imagens inéditas ao público paraense. Como diz Braga: “Certamente, não é
preciso nascer na Amazônia para fotografá-la. Entretanto, é preciso cumplicidade com a paisagem
e seus personagens. Há que se envolver com ela, compreendê-la no sentido literal de fazer parte.
Mais que fotografar na Amazônia, fotografar a Amazônia é um exercício de desenvolvimento do
olhar, algo que não se aprende em expedições isoladas”.
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Algumas Imagens no Mundo
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Mostra Competitiva
Fotografia
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Vimos configurando processos de vinculação, através da produção de imagens, desde o
início da humanidade. Estes sistemas de elaboração sígnica ficam mais extensos com o
tempo, o que faz com que vivamos, no cenário contemporâneo, em campos mediados
por imagens de naturezas as mais distintas, onde relações, conceitos e decisões estão
sob o seu poder de fogo.
Um novo paradigma passa a se constituir nos processos de conhecimento do mundo e
nos sistemas de vinculação entre o homem e a cultura, a partir do surgimento da fotografia,
ainda no século XIX. Essa nova maneira de mediação entre o homem e seus diversosterritórios foi se tornando cada vez mais complexa e, no cenário da arte, encontra espaço
para alguns de seus exercícios mais fecundos.
Se a fotografia nasce como fruto do desejo da apreensão do “real” e de nos projetarmos
para além da morte, constituindo um gigantesco repertório de duplos congelados em
papel, ela vem perfazendo, ao longo de toda a sua história, um percurso errático, com os
mais diversos empregos, em que um de seus caminhos perpassa pelo campo da arte.
É nesse território, um dos mais intrincados da humanidade - por encontrar suas raízes
fincadas no assentar de nossa cultura -, qu e a fotografia tem a chance de se manifestar
como potência de criação.
Longe de se apresentar como técnica aplicada a uma necessidade formal de uso, na
arte, a fotografia amplia seu campo de articulação, de empreendimento, de linguagem e,
por fim, de subjetivação. Ao se reconfigurar, expande sua possibilidade enquanto sentido,
nos dando algo além da mera representação imagética.
É dessa natureza de imagem que tratamos aqui. Ela cria fissuras, desestabiliza a percepção,
estabelece conexões instigantes e articula poéticas vigorosas. Estas relações operam
num território hiper-inflacionado por imagens que é o da cultura. Entretanto, propiciam
outro tipo de mediação, ao acenar com uma capacidade de amplificação da imagem para
além da mera objetividade técnica. A imagem, no campo da arte, afeta nossos sentidos
e constitui novas experiências para aquele que a vê. Aí está a sua razão de ser, a
complexidade que ela nos propõe ao ser vista e ao nos devolver este olhar.
Orlando Maneschy1
1 Artista, é pesquisador em linguagem visual, mestre e doutorando em Comunicação e Semiótica na PUC-SP. Coordenador
do Caixa de Pandora – Núcleo de Imagens. Tem participado de exposições, publicações e projetos no Brasil e no exterior.
Eduardo Kalif
Bonequinhas de Cheiro (detalhe da obra)
GRANDE PRÊMIO FOTOGRAFIA SEGUNDO PRÊMIO FOTOGRAFIA
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Bonequinhas de cheiro I, II e IIIBelém/PA, 2003
Eduardo Kalif
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Hagakure 37, Hagakure 11, Hagakure 15ABelém/PA, 2003
Miguel Chikaoka
AQUISIÇÃO FOTOGRAFIA AQUISIÇÃO FOTOGRAFIA
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Identidade calcinada I e IIIBelém/PA, 2003
Alexandre Sequeira
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Peixeiro e Mercado de ferroBelém/PA, 2003
Dirceu Maués
AQUISIÇÃO FOTOGRAFIA FOTOGRAFOS SELECIONADOS
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Ponha-se no meu lugarRio de Janeiro/RJ, 2003
Frederico Dalton
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Alan SoaresAh! Se ela pensasse, Ah! Se ela soubesse, Ah! Se ela
falasseAvenida Senador Lemos, 26
Umarizal – Belém/PATel.: (91) 2234109
Adriana FerlaSCSQ5 I e II
Rua Dr. Carlos Norberto Souza Aranha, 145Alto de Pinheiros – São Paulo/SP
Tel.: (11) 30216528
Alexandre SequeiraIdentidade calcinada I, II e III
Avenida Gov. José Malcher, 1631Nazaré – Belém/PATel.: (91) 2237391
Cláudia TavaresPaisagens privadas
Rua Alice, 1658, apto. 301Laranjeiras - Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 25571341
Dirceu MauésPeixeiro, Gurijuba, Mercado de ferro
Travessa Mariz e Barros, 3066, apto. 302/AMarco – Belém/PA
Tel.: (91) 2468162/ 81127731
FOTOGRAFOS SELECIONADOS FOTOGRAFOS SELECIONADOS
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Eduardo KalifBonequinhas de cheiro I, II e IIITravessa São Francisco, 550, apto. 101Batista Campos - Belém/PATel.: (91) 2426589/ 99832447
Fagner Monteiro Silva e Simone de OliveiraIn Uterus I, II e IIITravessa Lomas Valentinas, 1897, apto. 1802Marco – Belém/PATel.: (91) 2282735/ 99623625
Frederico DaltonMemento Mori, Ponha-se no meu lugar,O curso de tatoRua Cândido Mendes, 98, apto. 1203Glória - Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 22335414
Jair LanesBrasília: O silêncio das formas,Brasília: O silêncio das formas,Brasília: O silêncio das formasRua Francisco Pernoti, 638Jardim Ademar - São Paulo/SPTel.:(11) 37224217/ 91357841
João CastilhoSem TítuloRua Lavras, 935, apto. 502São Pedro - Belo Horizonte/MGTel.: (31) 96153291
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Kátia AbreuPolvo de luz, Lua na cabeça, Três coroas e a lua
SQN 416, Bloco Q, apto. 202Asa Norte – Brasília/DF
Tel.: (61) 3496994
Leopoldo PlentzSem título
Travessa Azevedo, 115, apto. 03Floresta - Porto Alegre/RS
Tel.: (51) 33468254/ 99633954
Marcelo ReisRitus II e III
Rua Anfilófio Reis, 3Itapuã – Salvador/BA
Tel.: (71) 2489797
Miguel ChikaokaHagakure 37, Hagakure 11, Hagakure 15A
Travessa Frutuoso Guimarães, 611Campina – Belém/PA
Tel.: (91) 2614240/ 99833185
Nailana ThielyE o amor resultou inútil I, II e III
Avenida Pedro Miranda, 1712, Casa 23Pedreira – Belém/PA
Tel.: (91) 2447974
FOTOGRAFOS SELECIONADOS
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Patrícia GouvêaSem títuloRua Cândido Gafrée, 18, apto. 504Urca - Rio de Janeiro/RJTel.: (21) 22950184
Polescena MarcoEternidade I, II e IIITravessa 14 de Março, 205Umarizal – Belém/PATel.: (91) 2244006
Roberto MenezesSem Título
Avenida Almirante Tamandaré, 814, apto. 603Campina – Belém/PATel.: (91) 2251337/ 91140400
Rogério AssisSonho I, II e IIIRua Ernest Friedrich Jost, 38Pinheiros - São Paulo/SPTel.: (11) 30310233/92172224
Wagner SantanaIlusões I, II e IIIRodovia BR-316, Passagem Haidê, 208Souza – Belém/PATel.: (91) 2103039/ 99942479
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Lucidéa MaioranaPresidente
Roberta MaioranaDiretora
Daniela OliveiraAssessora de Projetos
Ana Cristina PrataAssistente Executiva
Jorge MartinsGerente de Exposições
Fundação Romulo MaioranaAv. 25 de Setembro, 2473 - Marco - CEP: 66093-000Fones: (91) 2161142 / 2161125 - Fax: 2161125E-mail: fundrm@oliberal.com.brTelegramas: Jornal O LIBERAL, Cx. Postal 487 - Belém-Pará-Brasil
Website: www.frmaiorana.org.br
A Fundação Romulo Maiorana agradece
5/12/2018 Catálogo Arte Pará 2003 - slidepdf.com
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Catálogo
Design GráficoLuciano e Daniela Oliveira
Coordenação EditorialAline Monteiro
Biografias dos ConvidadosFabrício de Paula Gomes
Edição e Execução das FotosRaimundo Paccó
Editoração EletrônicaNonato Moreira
Tratamento de ImagensFabrício Pereira
FotolitosNikkei Design
ImpressãoGráfica Supercores
Salão Arte Pará 2003
Coordenação GeralRoberta MaioranaDaniela Oliveira
CuradoriaMarcus de Lontra Costa
Curadoria Sala“Entre a abstração e a figura”Jussara Derenji
Assistente de CoordenaçãoAna Cristina Prata
Projeto de MontagemMarcus de Lontra CostaJussara DerenjiRoberta Maiorana
Coordenação de MontagemJuba MelloAntônio Sérgio de Oliveira RodriguesJorge Martins
Museologia/DossiêAntônio Visco Bruno
Assessor de Comunicação e PesquisaFabrício de Paula Gomes
ApoioAureliano Ferreira Lins
Design GráficoRicardo Harada
PlotagensCanvas DigitalRM Graphics
LogomarcaJosé Fernandes Fonseca Neto
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Luciano Oliveira • Oswaldo e Rose Mendes • Ronaldo Salame
Banco CentralHenrique Meireles • Inês do Rosário Palmeira • Joéton Gomes de Ornelas • Roberto Reis
Secretaria Executiva de Cultura
Paulo Chaves Fernandes • Rosângela Britto • Tadeu Lobato • Equipe do MEP
Secretaria Executiva de Obras PúblicasJoaquim Passarinho • Sérgio Massoud • Benedito Melo de Moura • Gilberto Massoud
Setrans-BelMário Martins • Luiz e Carmem Peixoto
Fábio Andrade • Silvana Scorcini • Flávia Gama • Marie Claire Carmona • Afonso Gallindo
Evandro Teixeira • Celso Fioravante • Orlando Maneschy • Jussara Derenji • Daniela NameEmanuel Franco • Marcos Lontra
Maria Angélica Meira • Elizabeth Meira • Milton Nobre • Roberto Reis • Gileno Müller ChavesElza Lobo Soares • Henrique Bernardo Lobo • Dióris Pinto Guimarães • Lutfala Bitar • Maria LúciaKoury • Benedito Nunes • Neuza Yamada • Museu de Arte de Belém • Museu do Estado do Pará• Museu da UFPA
Exposição Caixa de LuzLuiz Braga • Antônio Pires (Fuji/São Paulo) • Bolsa Vitae de Artes (1996) • Camila Souza Neto(Colégio Antônio Lemos) • Carla Abreu • Comunidade da Passagem Pedreirinha • Dorvalino Braga• Elza Lima (Caraparu) • Família Bruno de Menezes • Florentina Sales Cardias - In Memorian •Gildo Sarmento e Família (Vigia) • Irmã Otávia/ Filhas de Santana (Colégio Antônio Lemos) • JoãoLucas Braga • Jussara Derenji • Kátia Abreu • Laurene da Costa Ataíde - Pássaro Colibri (Outeiro)• Lília Helena Braga, Lu Guedes e Luciana Vasconcelos (Seleção de Imagens) • Loriene AtaídeMoraes • Marcos e Simone Silva (Manaus) • Maria Helena Braga • Maria Lúcia Medeiros (Bragança)• Michele Farias (Manaus) • Nélio Palheta (Vigia) • Paola Watrin • Rosa Lourenço Maneschy(Barcarena) • Rosely Nakagawa (São Paulo) • Rubens Fernandes Jr. (São Paulo) • Sávio Mileo(Oriximiná) • Simone Pureza • Tainá Godinho • Toniele Malcher (Barcarena) • Ulli Braga • Uyandara(Mosqueiro)
A todos que colaboraram para que fosse possível a realização deste salão.
Patrocinadores Apoio
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Rede Celpa
A REDE Celpa tem se destacado como uma das empresas que mais investe nodesenvolvimento cultural do Pará. Então, patrocinar o maior salão de arte doNorte é uma satisfação e a prova do nosso comprometimento com toda asociedade paraense. Assim como fez o jornalista Romulo Maiorana, idealizadordo salão, a REDE Celpa acredita e investe na produção cultural local. O Arte Paráé hoje um instrumento facilitador da cultura como bem de consumo e de
produção, é um exemplo claro de que em nosso Estado a arte se materializa emações concretas de incentivo e apoio cultural.
Unimed Belém
Cultura é vida, movimento, criação. É progresso, desenvolvimento. Para a UnimedBelém, apoiar o Arte Pará 2003 é uma forma natural de valorizar tudo o que acultura traz de benefício para o homem e para a sociedade. Como investimento, acultura gera bem-estar e resulta no aprimoramento de valores e instituições. Ficaclaro para um plano de saúde como a Unimed Belém que investir na cultura éinvestir no ser humano. É transformar arte em ação, para o bem de todos.
Supermercados Nazaré
Os valores sobre os quais se constrói uma sociedade se expressaminequivocamente na sua cultura e na sua arte. O Arte Pará se constituiu ao longodos anos como a mais privilegiada vitrine da arte paraense, destacando-se nocenário nacional. Não é tarefa fácil. É preciso renovar e inovar o tempo todo, adespeito das dificuldades. O sucesso do Salão é, portanto, resultado de umarebeldia constante de seus organizadores. Como o foi o movimento modernista,tema escolhido para a mostra deste ano. Tais valores inspiram também nossaorganização, sendo uma das razões pelas quais o Grupo Nazaré se une àFundação Romulo Maiorana neste evento.
Construtora Villa Del Rey
Falar da importância do Arte Pará é uma tarefa extremamente grata para nós.Evento consagrado no cenário nacional, tem revelado novos talentos das artesplásticas numa contribuição inestimável aos artistas de nossa terra.Neste ano, decidimos que o Sistema Del Rey Casaprópria, uma iniciativaplenamente vitoriosa de nossa empresa, emprestaria seu apoio ao evento. Afinal,engenharia e arquitetura também são manifestações de arte, daí acharmos que aligação com o Arte Pará 2003 é mais do que pertinente.
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Secretaria Executiva de Cultura
O Arte Pará vem incentivando os novos artistas e investindo na inserção social. OArte Pará virou tradição, nessas duas décadas de compromisso assumido com obem fazer.
Secretaria Executiva de Obras Públicas
Desde sua criação, o Salão Arte Pará cumpre com a sua função maior de revelartalentos e proporcionar um encontro significativo e prazeroso com a arte. ASecretaria Executiva de Obras Públicas sente-se honrada em apoiar o 22 o ArtePará, um agente de vanguarda que congrega as mais diversas manifestaçõesartísticas.
Sindicato das Empresas de Transpote de Passageiros de Belém
Há anos o Arte Pará vem ampliando o olhar do povo paraense a partir da arte,como um elemento de educação. Para nós, apoiar este evento é uma grataparceria em favor da cidadania.
Mendes Publicidade
A agência do Arte Pará.
Imagem Produções
Produzindo os filmes publicitários para o Arte Pará, ajudamos a apresentar paraum grande público a cultura através de imagens, o conhecimento através do some o saber através da emoção.
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