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Relatório de Avaliação do Cumprimento do Código de Governo das Sociedades da CMVM
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1. Enquadramento
O governo societário das empresas nacionais cotadas foi, pela primeira vez, sujeito ao escrutínio de um Painel Consultivo da CMVM, constituído por personalidades independentes com reconhecido mérito na matéria. O trabalho desenvolvido pelo referido Painel centrou‐se, essencialmente, na avaliação da qualidade do governo societário vigente relativamente a três temas centrais: composição e funcionamento do órgão de administração, política remuneratória e fiscalização da sociedade.
As matérias constantes do segundo capítulo do Código de Governo das Sociedades da CMVM, abrangendo as recomendações relativas aos órgãos de administração e fiscalização e à temática da remuneração foram, pois, objecto de análise por aquele Painel. Ficaram assim fora do âmbito do trabalho do Painel as matérias respeitantes a dois capítulos de recomendações. O primeiro relativo ao funcionamento das assembleias gerais das sociedades e o segundo respeitante às práticas de informação, aos investidores e ao mercado em geral, que são adoptadas por essas sociedades.
No entanto, o cumprimento destas recomendações pelas empresas cotadas assume uma inegável relevância na promoção da qualidade do governo societário, designadamente pela criação de condições óptimas de participação dos accionistas na vida societária, e pela indução de práticas que respeitem o princípio da igualdade dos accionistas e previnam assimetrias no acesso à informação por parte dos investidores. Por isso, o Capítulo 2 do presente relatório reporta a avaliação da CMVM relativamente ao cumprimento dessas recomendações para todas as sociedades cotadas nacionais. 1
No capítulo seguinte, e relativamente às restantes recomendações (isto é, as recomendações relativas às matérias escrutinadas pelo Painel), é efectuada uma análise das situações de divergência de avaliação entre as entidades emitentes e a CMVM. Através deste exercício a CMVM visa dar conhecimento aos accionistas dessas empresas, quer das situações em que as empresas consideram cumprida uma recomendação sem que, na óptica da autoridade de supervisão, tal se verifique, quer das situações inversas.
Finalmente, no Capítulo 4 é apresentada a posição da CMVM sobre as explicações dadas pelas sociedades relativamente às recomendações não cumpridas (incluindo neste exercício quer as recomendações avaliadas na primeira parte do relatório quer as relativas às matérias escrutinadas pelo Painel). Note‐se que o princípio comply or explain obriga as sociedades a explicar as razões pelas quais não cumprem as recomendações que não adoptam. Os destinatários primordiais dessas explicações são, naturalmente, os accionistas. É a estes que incumbe julgar a bondade das opções das sociedades. O papel da autoridade de supervisão nesta matéria é, em primeiro lugar, verificar se é dada explicação e, em segundo lugar, verificar se a informação divulgada cumpre os requisitos de qualidade que a lei impõe e,
1 Com excepção das Sociedades Anónimas Desportivas (SAD) que não foram incluídas para garantir a harmonia quanto ao período temporal considerado, dado o exercício económico das SAD ser distinto do das demais cotadas. A EDP Renováveis, não sendo uma sociedade de direito nacional, também foi incluída na análise, dado estar sujeita à obrigação de cumprimento do Código de Governo das Sociedades da CMVM.
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consequentemente, permite que os accionistas possam entender as razões subjacentes à opção da sociedade e possam conhecer inequivocamente a solução alternativa adoptada.
É claro que uma situação em que a empresa classifica como cumprida uma recomendação que na realidade não adoptou não pode ser considerada em conformidade com o princípio comply or explain. Neste contexto, a sociedade não só não cumpre, como não dá qualquer explicação para o efeito. Naturalmente que também não poderão classificar‐se como consentâneas com o princípio comply or explain as situações em que as sociedades se limitam a reconhecer que não cumprem a recomendação, sem explicação adicional. Explicações de natureza geral em que a sociedade se limita a expressar desacordo com a recomendação sem identificar e explicar o que é que na sua situação específica torna tal recomendação desaconselhável, igualmente não são consentâneas com o referido princípio. De igual modo não são conformes com tal princípio as situações em que a sociedade não explica as razões para não cumprir o Código de Governo, e se limita a informar genericamente os procedimentos alternativos que adoptou sem proporcionar informação suficiente para que os seus accionistas possam não só perceber integralmente a solução adoptada, mas igualmente julgar conscientemente se essa solução é uma adequada solução para a sociedade em questão. O cumprimento pleno da obrigação de cumprir ou explicar no caso em que a recomendação não é seguida exige, pois, que a sociedade explique as razões pelas quais a sua situação específica torna a adopção de tal recomendação não aconselhável e informe os seus accionistas dos procedimentos alternativos por si adoptados.
Ao elaborar e apresentar este relatório a CMVM tem presentes as obrigações que sobre ela recaem, designadamente as que decorrem do facto de a Directiva 2006/46/CE ter imposto às sociedades cotadas obrigações informativas em matéria de governo societário, através do respectivo Relatório Anual, ao mesmo tempo que estabelece o dever de adoptar um Código de Governo, numa lógica de “comply or explain”. E é às autoridades de supervisão do mercado de capitais que cabe assegurar o adequado cumprimento de tais obrigações.
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2. Funcionamento das assembleias gerais e informação
Previamente a ser efectuada uma apreciação crítica do cumprimento das recomendações em causa, importa recordar o seu teor, tendo em vista uma delimitação objectiva do âmbito da análise que irá ser efectuada. Assim, o alvo da presente apreciação são as recomendações emitidas pela CMVM em 2007, as quais tiveram aplicação prática ao exercício económico de 2008.2 As recomendações então emitidas sobre as duas temáticas em causa constam da caixa que se segue.
Caixa 1 ‐ Teor das Recomendações sobre o Funcionamento das Assembleias Gerais e Informação
I. Assembleia Geral
I.1 Mesa da Assembleia Geral I.1.1 O presidente da mesa da assembleia geral deve dispor de recursos humanos e logísticos de apoio que sejam adequados às suas necessidades, considerada a situação económica da sociedade. I.1.2 A remuneração do presidente da mesa da assembleia geral deve ser divulgada no relatório anual sobre o governo da sociedade. I.2 Participação na Assembleia I.2.1 A antecedência do depósito ou bloqueio das acções para a participação em assembleia geral imposta pelos estatutos não deve ser superior a 5 dias úteis. I.2.2 Em caso de suspensão da reunião da assembleia geral, a sociedade não deve obrigar ao bloqueio durante todo o período até que a sessão seja retomada, devendo bastar‐se com a antecedência ordinária exigida na primeira sessão. I.3 Voto e Exercício do Direito de Voto I.3.1 As sociedades não devem prever qualquer restrição estatutária do voto por correspondência. I.3.2 O prazo estatutário de antecedência para a recepção da declaração de voto emitida por correspondência não deve ser superior a 3 dias úteis. I.3.3 As sociedades devem prever, nos seus estatutos, que corresponda um voto a cada acção. I.4 Quórum e Deliberações I.4.1 As sociedades não devem fixar um quórum constitutivo ou deliberativo superior ao previsto por lei. I.5 Actas e Informação sobre Deliberações Adoptadas I.5.1 As actas das reuniões da assembleia geral devem ser disponibilizadas aos accionistas no sítio de internet da sociedade no prazo de 5 dias, ainda que não constituam informação privilegiada, nos termos legais, e deve ser mantido neste sítio um acervo histórico das listas de presença, das ordens de trabalhos e das deliberações tomadas relativas às reuniões realizadas, pelo menos, nos 3 anos antecedentes.
2 Pelo que a comparação com as práticas adoptadas em exercícios anteriores, nomeadamente em 2007, não se afigura globalmente possível, em virtude do diferente teor das recomendações que em cada momento eram aplicáveis.
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I.6 Medidas Relativas ao Controlo das Sociedades I.6.1 As medidas que sejam adoptadas com vista a impedir o êxito de ofertas públicas de aquisição devem respeitar os interesses da sociedade e dos seus accionistas. I.6.2 Os estatutos das sociedades que, respeitando o princípio da alínea anterior, prevejam a limitação do número de votos que podem ser detidos ou exercidos por um único accionista, de forma individual ou em concertação com outros accionistas, devem prever igualmente que seja consignado que, pelo menos de cinco em cinco anos será sujeita a deliberação pela Assembleia Geral a manutenção ou não dessa disposição estatutária – sem requisitos de quórum agravado relativamente ao legal ‐ e que nessa deliberação se contam todos os votos emitidos sem que aquela limitação funcione. I.6.3 Não devem ser adoptadas medidas defensivas que tenham por efeito provocar automaticamente uma erosão grave no património da sociedade em caso de transição de controlo ou de mudança da composição do órgão de administração, prejudicando dessa forma a livre transmissibilidade das acções e a livre apreciação pelos accionistas do desempenho dos titulares do órgão de administração. III. INFORMAÇÃO E AUDITORIA
III.1 Deveres Gerais de Informação III.1.2 As sociedades devem assegurar a existência de um permanente contacto com o mercado, respeitando o princípio da igualdade dos accionistas e prevenindo as assimetrias no acesso à informação por parte dos investidores. Para tal deve a sociedade manter um gabinete de apoio ao investidor. III.1.3 A seguinte informação disponível no sítio da internet da sociedade deve ser divulgada em inglês: a) A firma, a qualidade de sociedade aberta, a sede e os demais elementos mencionados no artigo 171.º do Código das Sociedades Comerciais; b) Estatutos; c) Identidade dos titulares dos órgãos sociais e do representante para as relações com o mercado; d) Gabinete de Apoio ao Investidor, respectivas funções e meios de acesso; e) Documentos de prestação de contas; f) Calendário semestral de eventos societários; g) Propostas apresentadas para discussão e votação em assembleia geral; h) Convocatórias para a realização de assembleia geral.
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2.1. Análise de cumprimento 2.1.1. Apreciação Global
O Quadro 1 resume a apreciação da CMVM do cumprimento das recomendações em apreciação pelas diversas sociedades cotadas.
Em algumas situações, adiante genericamente descritas no ponto 2.1.3, apurou‐se existir divergência entre o exercício de auto‐avaliação efectuado pelas empresas e a avaliação crítica subsequentemente efectuada pela CMVM.
Quadro 1 ‐ Cumprimento das Recomendações sobre o Funcionamento das Assembleias Gerais e Informação
Empresas/Recomendações I.1.1 I.1.2 I.2.1 I.2.2 I.3.1 I.3.2 I.3.3 I.4.1 I.5.1 I.6.1 I.6.2 I.6.3 III.1.2 III.1.3Altri, SGPS, SA S S N N S N S S S S N/A S S SBanco BPI, SA S S S S S S N N S S N S S SBanco Comercial Português, SA S S S S S S N N S S N S S NBanco Espírito Santo, SA S S S S S S S N S S N/A S S SBanif ‐ SGPS, SA S S S S S S S S S S N/A S S SBrisa ‐ Auto Estradas de Portugal, SA S S S S S S S S S S N/A S S SCimpor ‐ Cimentos de Portugal, SGPS, SA S S S N S S S S S S N/A S S SCofina, SGPS, SA S S N N S N S S S S N/A S S SCompanhia Industrial Resinas Sintéticas ‐ Cires, SA S S S S S N S N N S N/A S S SCompta‐Equipamentos e Serviços de Informática, SA S S N N S S N S S S N S S NCorticeira Amorim, SGPS, SA S N S S S N S N N S N/A S S NEDP ‐ Energias de Portugal S S S S S S N S S S N S S SEDP Renováveis S S S S S S S N N/A S N/A S S SEstoril Sol ‐ SGPS, SA S S S S S N S N S S N/A S S NF. Ramada S S N S S N S S N/A S N/A S S NFinibanco ‐ Holding, SGPS S.A. S S S S S S S S S S N/A S S SFisipe ‐ Fibras Sintéticas de Portugal, SA S S N S S N S N N S N/A S S SGalp Energia S S S S S S N N N N N S S SGlintt, S.A. S S S S S S S S N S N/A S S NGrupo Media Capital, SGPS, SA S N S S S S S N N S N/A S S SGrupo Soares da Costa, SGPS, SA. S S S S S S S N S S N/A S S SIbersol ‐ SGPS, SA S S N N N S S N S S N/A S S NImobiliária Construtora Grão Pará, SA (Consolidada) S S N S S S S N N S N/A S S NImpresa ‐ SGPS, SA S S S N S S S S S S N/A S S SInapa ‐ Investimentos, Participações e Gestão, SA S S S S S S S N S S N/A S S NJerónimo Martins ‐ SGPS, SA S S S S S S S N S S N/A S S SLisgráfica ‐ Impressão e Artes Gráficas, SA S S S S S S S S N S N/A S S NMartifer ‐ SGPS, SA S S S S N S S S N S N/A S S NMota‐Engil, SGPS, SA S S S S N S S N S S N/A S S SNovabase ‐ SGPS, SA S S S S S S S S S N N/A S S SPapelaria Fernandes ‐ Indústria e Comércio, SA N S S N S S S N N S N/A S S NPortucel ‐ Empresa Produtora de Pasta e Papel, S.A. S S S S S S S N S S N/A S S NPortugal Telecom, SGPS, SA S S N S S S N S S S N S S SReditus ‐ SGPS, SA S S S S S S S S S S N/A S S SREN ‐ Redes Energéticas Nacionais, SGPS, SA S S S S S S S N S S N/A S S SSAG Gest ‐ Soluções Automóvel Globais, SGPS, SA S S S S S S S N S S N/A S S SSemapa ‐ Sociedade Investimento e Gestão, SGPS, SA S N N S S S S S N S N/A S S SSociedade Comercial Orey Antunes, SA S S S S S S S S S S N/A S S NSonae ‐ SGPS, SA S S S S N S S N S S N/A S S SSonae Capital S S S S N S S N S S N/A S S SSonae Indústria, SGPS, SA S S S S S S S N N S N/A S S SSONAECOM ‐ SGPS, SA S S S S S S S N N S N/A S S SSumol + Compal, S.A. S S S S S S S N N S N/A S S NTeixeira Duarte ‐ Engenharia e Construções, SA S S N S S S S N N S N/A S S SToyota Caetano Portugal, SA S S S S S N S N N S N/A S S NVAA ‐ Vista Alegre Atlantis, SGPS, SA N S N N S S S S N S N/A S S NZon Multimédia ‐ Serv. Tel. Multimédia, SGPS, SA S S N S S S N S S S N S S SGrau Médio de Cumprimento 96% 94% 74% 83% 89% 83% 85% 43% 62% 96% 0% 100% 100% 64%Observação: S ‐ Sim; N‐Não; N/A ‐ Não Apl icável .
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Pode concluir‐se que existe um elevado grau de cumprimento das recomendações da CMVM nesta matéria, ainda que subsista margem para melhoria em particular nas recomendações I.4.1 (“As sociedades não devem fixar um quórum constitutivo ou deliberativo superior ao previsto por lei”) e I.5.1 (“As actas das reuniões da assembleia geral devem ser disponibilizadas aos accionistas no sítio de internet da sociedade no prazo de 5 dias, ainda que não constituam informação privilegiada, nos termos legais, e deve ser mantido neste sítio um acervo histórico das listas de presença, das ordens de trabalhos e das deliberações tomadas relativas às reuniões realizadas, pelo menos, nos 3 anos antecedentes”). Refira‐se, no entanto, que a recomendação I.3.3. (“As sociedades devem prever, nos seus estatutos, que corresponda um voto a cada acção”), em conformidade com a evolução verificada nas novas recomendações emitidas pela CMVM em 2010, foi considerada cumprida nos casos em que se revelava necessário deter mais do que uma acção para ter um direito de voto desde que esteja assegurado o designado critério de proporcionalidade entre acções detidas e direitos de voto emitidos, ou seja, desde que não exista limitação ao número máximo de direitos de voto que podem ser exercidos por cada accionista. Doutra forma, o grau de cumprimento teria sido manifestamente inferior. Todavia, na recomendação I.6.2. o incumprimento é generalizado. Tal deve‐se ao facto de a recomendação não ser aplicável na maioria das sociedades, em virtude de nestas não existirem limitações estatutárias aos direitos de voto. Nas restantes 7 sociedades a recomendação não é cumprida dada essa previsão estatutária estar presente ou existirem acordos parassociais também com sentido limitativo, sem que esteja prevista a sua sujeição ao escrutínio da assembleia geral ou exista o compromisso de revisão futura dessas limitações.
Gráfico 1 – Grau Médio de Cumprimento das Recomendações por Modelo Societário, Presença no PSI 20 e Sector de Actividade
72%
74%
76%
78%
80%
82%
84%
86%
88%
90%
Sector Financeiro
Sector Não Financeiro
Integrantes no PSI 20
Não Integrantes no PSI 20
Modelo Latino
Modelo Anglo
Saxónico
Modelo Dualista
Total
Grau médio de cumprimento
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Numa análise por tipo de modelo societário adoptado, constata‐se uma dissemelhança significativa em favor do maior grau médio de cumprimento das empresas que seguem o modelo anglo‐saxónico (87%, quando o grau médio de cumprimento global ronda os 81%). Atendendo à presença ou não no PSI 20 verifica‐se que o grau médio de cumprimento é superior em três pontos percentuais entre o conjunto das empresas que compõem o referido índice de acções. Finalmente, discriminando empresas financeiras e não financeiras, a disparidade sobe para sete pontos percentuais, registando as empresas do sector financeiro o grau de cumprimento mais elevado (88%).
2.1.2 Apreciação por grupos de recomendações
As recomendações em análise podem ser divididas em 5 grupos temáticos.
O primeiro diz respeito à mesa da assembleia geral (recomendações I.1.1 e I.1.2). O espírito subjacente a estas recomendações, e o seu cumprimento pelas sociedades, visa garantir que estão reunidas as condições logísticas e materiais que assegurem um regular funcionamento do órgão plenário da sociedade, necessário à condução eficiente dos trabalhos e à tomada de deliberações que afectem o funcionamento da empresa com respeito por princípios de legalidade. Acresce que a exigência de divulgação da remuneração do presidente da mesa é uma medida de transparência indispensável para que se conheçam os interesses e se avaliem as condições de independência de quem tem a responsabilidade de conduzir os trabalhos da assembleia geral.
Um segundo grupo (recomendações I.2.1 a I.3.3) revela‐se de fundamental importância para assegurar uma participação universal, e sob diversas formas de exercício do direito de voto, dos accionistas na assembleia geral, procurando‐se assim criar as condições para que as deliberações sejam tomadas com o maior quórum possível. A um mesmo tempo, procura‐se com estas recomendações evitar que sejam impostos expedientes que coarctem a livre transmissibilidade das acções por períodos excessivos que antecedam a data da realização da assembleia geral.
Um terceiro grupo engloba as recomendações I.4.1, I.6.1, 1.6.2 e I.6.3. Este conjunto, integrado por recomendações relativas ao controlo das sociedades, visa evitar a implementação de mecanismos de blindagem dos estatutos. Inclui‐se neste âmbito a ausência de escrutínio periódico pela assembleia geral relativamente à imposição de limites máximos aos direitos de voto que podem ser exercidos por um único accionista, bem como a adopção de medidas defensivas contra possíveis propostas de aquisição de que a empresa seja alvo, impedindo os accionistas de decidir livremente se aceitam ou rejeitam essas ofertas. Paralelamente, a estatuição de que não seja imposto um quórum constitutivo ou deliberativo acima do legalmente previsto tem por objectivo, entre outros, evitar a formação de minorias de bloqueio que sejam entrave à tomada de deliberações que possam ser do legítimo interesse dos demais accionistas.
O quarto grupo reúne as recomendações III.1.2 e III.1.3, às quais se adiciona a recomendação I.5.1 (ainda que esta seja relativa à temáticas das assembleias gerais, o seu objecto consiste em promover a divulgação de informação sobre as deliberações aí tomadas). Os fundamentos
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para a importância do cumprimento destas recomendações residem em assegurar que as empresas têm uma política de comunicação e de transparência perante os accionistas e o mercado em geral que permita que toda a informação relevante sobre a sociedade seja de acesso fácil e universal, por forma não só a evitar assimetrias de informação entre os investidores, mas também a garantir que todos os documentos legais, agentes e eventos da vida societária são objecto de divulgação e que sobre eles possa ser formulado juízo relativo ao seu impacto no valor da empresa.
Por fim, o último grupo, designado “participação e controlo”, recolhe dos grupos dois e três as recomendações 1.3.3 e 1.6.2 e ainda parte da recomendação I.4.1,3 as quais são um bloco estruturante de todo o conjunto de recomendações em análise. De facto, a conjugação de limites máximos ao exercício de direitos de voto (1.3.3), com a fixação de quóruns deliberativos agravados (1.4.1) e a ausência de submissão periódica dos limites aos direitos de voto ao controlo dos accionistas, sem que esses limites e os quóruns deliberativos se apliquem (1.6.2), cria um contexto particularmente propício para subtrair ao controlo dos accionistas a tomada de decisões relevantes e do interesse da generalidade dos accionistas.
3 Recorde‐se que a recomendação I.4.1 respeita à existência de quóruns constitutivos ou deliberativos agravados. Neste grupo “participação e controlo” atende‐se apenas à existência de quóruns deliberativos agravados, por se tratarem de situações mais graves que as demais.
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Quadro 2 ‐ Cumprimento das Recomendações por Grupos
O grupo de recomendações relativo à mesa da assembleia geral e ao seu presidente é aquele de entre os cinco definidos que gera, de forma destacada, a mais elevada taxa de cumprimento (95%), sendo significativo que 42 das 47 empresas às quais as recomendações são aplicáveis cumpram na íntegra as duas recomendações. De facto, apenas não cumprem a totalidade destas recomendações a Vista Alegre Atlantis e a Papelaria Fernandes, por incumprimento da recomendação que respeita aos recursos humanos e logísticos de apoio ao presidente da mesa da assembleia geral, a Corticeira Amorim, a Media Capital e a Semapa, por incumprimento da recomendação relativa à divulgação da remuneração do presidente da mesa da assembleia geral.
Quanto ao grupo de recomendações relativas à participação e votação na assembleia geral, congregando cinco recomendações distintas, atinge uma taxa média de cumprimento de 83%, verificando‐se que 20 das 47 empresas às quais as recomendações são aplicáveis as cumprem integralmente. Entre as justificações para este maior grau de cumprimento conta‐se, em particular, o cumprimento da recomendação que estabelece que a cada acção deve
Empresas/Recomendações
Mesa da Assembleia Geral
Participação na Assembleia
Geral
Controlo das Sociedades
Informação Participação e
Controlo
Altri, SGPS, SA 100% 40% 100% 100% 100%Banco BPI, SA 100% 80% 50% 100% 0%Banco Comercial Português, SA 100% 80% 50% 67% 0%Banco Espírito Santo, SA 100% 100% 67% 100% 50%Banif ‐ SGPS, SA 100% 100% 100% 100% 100%Brisa ‐ Auto Estradas de Portugal, SA 100% 100% 100% 100% 100%Cimpor ‐ Cimentos de Portugal, SGPS, SA 100% 80% 100% 100% 100%Cofina, SGPS, SA 100% 40% 100% 100% 100%Companhia Industrial Resinas Sintéticas ‐ Cires, SA 100% 80% 67% 67% 100%Compta‐Equipamentos e Serviços de Informática, SA 100% 40% 75% 67% 33%Corticeira Amorim, SGPS, SA 50% 80% 67% 33% 50%EDP ‐ Energias de Portugal 100% 80% 75% 100% 33%EDP Renováveis 100% 100% 67% 100% 100%Estoril Sol ‐ SGPS, SA 100% 80% 67% 67% 50%F. Ramada 100% 60% 100% 50% 100%Finibanco ‐ Holding, SGPS S.A. 100% 100% 100% 100% 100%Fisipe ‐ Fibras Sintéticas de Portugal, SA 100% 60% 67% 67% 100%Galp Energia 100% 80% 25% 67% 0%Glintt, S.A. 100% 100% 100% 33% 100%Grupo Media Capital, SGPS, SA 50% 100% 67% 67% 100%Grupo Soares da Costa, SGPS, SA. 100% 100% 67% 100% 100%Ibersol ‐ SGPS, SA 100% 40% 67% 67% 100%Imobiliária Construtora Grão Pará, SA (Consolidada) 100% 80% 67% 33% 50%Impresa ‐ SGPS, SA 100% 80% 100% 100% 100%Inapa ‐ Investimentos, Participações e Gestão, SA 100% 100% 67% 67% 100%Jerónimo Martins ‐ SGPS, SA 100% 100% 67% 100% 100%Lisgráfica ‐ Impressão e Artes Gráficas, SA 100% 100% 100% 33% 100%Martifer ‐ SGPS, SA 100% 80% 100% 33% 100%Mota‐Engil, SGPS, SA 100% 80% 67% 100% 100%Novabase ‐ SGPS, SA 100% 100% 67% 100% 100%Papelaria Fernandes ‐ Indústria e Comércio, SA 50% 80% 67% 33% 50%Portucel ‐ Empresa Produtora de Pasta e Papel, S.A. 100% 100% 67% 67% 100%Portugal Telecom, SGPS, SA 100% 60% 75% 100% 33%Reditus ‐ SGPS, SA 100% 100% 100% 100% 100%REN ‐ Redes Energéticas Nacionais, SGPS, SA 100% 100% 67% 100% 50%SAG Gest ‐ Soluções Automóvel Globais, SGPS, SA 100% 100% 67% 100% 50%Semapa ‐ Sociedade Investimento e Gestão, SGPS, SA 50% 80% 100% 67% 100%Sociedade Comercial Orey Antunes, SA 100% 100% 100% 67% 100%Sonae ‐ SGPS, SA 100% 80% 67% 100% 100%Sonae Capital 100% 80% 67% 100% 100%Sonae Indústria, SGPS, SA 100% 100% 67% 67% 100%SONAECOM ‐ SGPS, SA 100% 100% 67% 67% 100%Sumol + Compal, S.A. 100% 100% 67% 33% 100%Teixeira Duarte ‐ Engenharia e Construções, SA 100% 80% 67% 67% 100%Toyota Caetano Portugal, SA 100% 80% 67% 33% 50%VAA ‐ Vista Alegre Atlantis, SGPS, SA 50% 60% 100% 33% 100%Zon Multimédia ‐ Serv. Tel. Multimédia, SGPS, SA 100% 60% 75% 100% 33%Grau Médio de Cumprimento 95% 83% 76% 76% 75%
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corresponder um voto. Esta recomendação foi cumprida por 85% das empresas, valor que porém beneficiou de uma interpretação mais favorável da CMVM (que, como referido, atendeu essencialmente ao respeito pela proporcionalidade, podendo admitir‐se que este não seja posto em causa em situações em que não haja correspondência directa entre um voto e uma acção). Porém, continua a verificar‐se, com preocupação, que 6 sociedades (BPI, BCP, Compta, EDP, Portugal Telecom e Zon) não cumprem esta recomendação por terem instituído limites ao exercício dos direitos de voto. No caso da Galp a recomendação não é cumprida em virtude de, nos termos dos seus estatutos, a maioria de votos dos accionistas não ser suficiente para eleger o presidente do conselho de Administração, se não concorrerem a maioria dos votos das acções de categoria A. Esta situação (voting enhacement) não satisfaz o princípio uma acção um voto.
Destaca‐se ainda que é ao nível da admissão do voto por correspondência sem restrições (recomendação I.3.1) que se atinge o maior valor de cumprimento (89%) neste grupo de recomendações. As restantes três recomendações do grupo registam valores de cumprimento que oscilam entre os 74% e os 83%.
Uma abordagem diferente por parte das sociedades emitentes aos prazos para a recepção de votos por correspondência e das notificações de depósito e bloqueio de acções – designadamente aceitando o bloqueio das acções com 5 dias ou menos em vez de exigirem como muitos actualmente fazem que a prova do bloqueio das acções lhes seja entregue com pelo menos 5 dias de antecedência ‐, juntamente com uma maior agilidade no tratamento da informação relativa aos accionistas que permita eliminar a manutenção do bloqueio de acções caso ocorra a suspensão das assembleias gerais, poderá conduzir a um incremento significativo no cumprimento das recomendações.4 Destaca‐se neste particular a Compta que, além de ter uma das taxas de cumprimento mais baixas, não cumpre com o núcleo central das recomendações deste grupo, isto é, não adopta o princípio uma acção/um voto e exige o bloqueio das acções durante toda a assembleia geral.
O terceiro grupo de recomendações, relativo a medidas de controlo das sociedades, engloba quatro recomendações e registou uma taxa média de cumprimento de 76%, sendo integralmente cumprido por apenas 15 empresas. Neste grupo registou‐se uma forte disparidade quanto ao cumprimento das recomendações. A recomendação I.6.3, referente à não existência de medidas defensivas de erosão do património da sociedade em caso de transmissão do controlo, é cumprida por todas as empresas. A recomendação I.4.1, que estabelece que as sociedades não devem fixar um quórum constitutivo ou deliberativo superior ao previsto por lei, apenas é cumprida por 43% das sociedades. O impacto desta recomendação na avaliação global deste grupo torna‐se ainda mais evidente quando se constata que o número de empresas que cumpre integralmente as restantes recomendações mais do que duplica face ao número geral: são 39 as empresas nesta situação. À já elevada concentração accionista e baixo nível de free float junta‐se um cenário de blindagem (por via da exigência de quórum constitutivo ou deliberativo reforçado) que se traduz numa maior
4 Previsível evolução legislativa consagrando que poderão votar os titulares das acções 5 dias antes da assembleia geral (dia de registo) mesmo que ulteriormente e anteriormente à assembleia procedam à alienação dessas acções, igualmente resolverá o actual constrangimento à participação na assembleia geral decorrente do incumprimento desta recomendação.
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facilidade de bloqueio, o que prefigura a existência, em diversas sociedades, de dificuldades na tomada de medidas que sejam do interesse da globalidade dos accionistas, mas contrárias aos interesses de uma minoria de accionistas com especial influência na vida da empresa. Há empresas que não cumprem esta recomendação por fixarem um quórum constitutivo superior ao fixado por lei (situação menos grave), empresas que não cumprem por exigirem um quórum deliberativo superior ao fixado por lei (situação mais grave) e empresas que não cumprem por ambas as razões (o menos consentâneo com as regras de bom governo dos três cenários). Do primeiro grupo constam a Cires, a EDP Renováveis, a Ibersol, a Fisipe, a Media Capital, a Soares da Costa, a Inapa, a Jerónimo Martins, a Mota Engil, a Portucel, a Sonae SGPS, a Sonae Capital, a Sonae Indústria, a Sonaecom, a Sumol+Compal e a Teixeira Duarte. Do segundo grupo constam o BPI, a Grão Pará, a Papelaria Fernandes e a Toyota Caetano. Finalmente, incumprem a recomendação por ambos os motivos o BCP, o BES, a Corticeira Amorim, a Estoril Sol, a Galp, a REN e a SAG.
Nesta matéria parece inequívoco que há ainda caminho a percorrer para que se atinjam os patamares consentâneos com os mais exigentes padrões de governo das sociedades. São certamente os casos de empresas como o BPI, o BCP e a Galp que, não só não cumprem as recomendações 1.3.3 e 1.6.2 como têm instituído situações de quórum deliberativo agravado face ao imposto por lei, não cumprindo estas empresas as recomendações incluídas no grupo 5. Não obstante, o grau de cumprimento médio deste grupo é de 75%, ao que acresce o facto de 32 sociedades, ou seja, dois terços das que estão sob escrutínio, respeitarem integralmente este bloco de recomendações.
Finalmente, o quarto grupo de recomendações relativo à difusão de informação é composto por três recomendações, todas com um grau de cumprimento médio acima dos 60%. A taxa global de cumprimento médio foi de 76%. Há 22 empresas que cumprem na íntegra as recomendações sobre este tema, sendo a questão relativa à divulgação integral das actas das assembleias gerais no sítio da internet no prazo de 5 dias após a sua realização a que tem revelado maiores dificuldades de cumprimento (62%). Por outro lado, a prática de estabelecer um gabinete de apoio ao investidor está generalizada, sendo cumprida por todas as sociedades. Em relação à recomendação relativa à divulgação em inglês de um vasto conjunto de informação sobre a sociedade, o grau de cumprimento de 64% subvaloriza o cumprimento parcial da maioria das alíneas em que se desdobra, cumprimento parcial esse que se traduziu sempre por incumprimento seguindo os parâmetros habitualmente utilizados.
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Gráfico 2 ‐ Cumprimento das Recomendações por Grupos e por Modelo Societário, Presença no PSI 20 e Sector de Actividade
Combinando a análise por grupos com a análise categórica já anteriormente abordada, verifica‐se que as empresas financeiras registam sistematicamente melhores níveis de cumprimento médio, com excepção no que se refere aos grupos relativos ao controlo das sociedades e, concomitantemente, no que respeita à participação e controlo. Estas excepções são, porém, muito relevantes, dada a importância dos grupos de recomendações em causa.
Comparando as empresas por dimensão e liquidez, verifica‐se que as sociedades integrantes do índice PSI 20 são geralmente mais cumpridoras que as demais em três dos 5 grupos considerados, sendo apenas superadas pelas empresas não integrantes no PSI 20 no que respeita, uma vez mais, ao grupo de recomendações relativo ao controlo das sociedades e, tal
50%
55%
60%
65%
70%
75%
80%
85%
90%
95%
100%
Sector Financeiro
Sector Não Financeiro
Integrantes no PSI 20
Não Integrantes no PSI 20
Modelo Latino
Modelo Anglo
Saxónico
Modelo Dualista
Mesa da Assembleia Geral
50%
55%
60%
65%
70%
75%
80%
85%
90%
95%
100%
Sector Financeiro
Sector Não Financeiro
Integrantes no PSI 20
Não Integrantes no PSI 20
Modelo Latino
Modelo Anglo
Saxónico
Modelo Dualista
Participação na Assembleia Geral
50%
55%
60%
65%
70%
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80%
85%
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100%
Sector Financeiro
Sector Não Financeiro
Integrantes no PSI 20
Não Integrantes no PSI 20
Modelo Latino
Modelo Anglo
Saxónico
Modelo Dualista
Controlo das Sociedades
50%
55%
60%
65%
70%
75%
80%
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90%
95%
100%
Sector Financeiro
Sector Não Financeiro
Integrantes no PSI 20
Não Integrantes no PSI 20
Modelo Latino
Modelo Anglo
Saxónico
Modelo Dualista
Informação
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Sector Financeiro
Sector Não Financeiro
Integrantes no PSI 20
Não Integrantes no PSI 20
Modelo Latino
Modelo Anglo
Saxónico
Modelo Dualista
Participação e Controlo
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como nas empresas financeiras, no grupo participação e controlo. Esta situação não pode deixar de ser assinalada em virtude de serem as empresas que integram o principal índice do mercado nacional aquelas que menos cumprem o bloco 5 de recomendações (o grau de cumprimento médio das empresas do PSI 20 é de apenas 63%, inferior à média deste grupo ‐ 75%), o qual é considerado como estruturante.
Finalmente, em relação aos diferentes modelos societários, as empresas que optaram pelo modelo anglo‐saxónico são as que registam melhor desempenho nos grupos relativos à participação na assembleia geral e prestação de informação, sendo que as empresas que seguem o modelo dualista e latino são as que apresentam um maior nível de cumprimento nos grupos relativos ao funcionamento da mesa da assembleia geral e ao controlo das sociedades (e no grupo participação e controlo), respectivamente.
Em suma, as grandes empresas e as empresas do sector financeiro tendem a ser mais cumpridoras que as demais, excepto no que se refere à temática do controlo das sociedades. Saliente‐se neste contexto, a situação que resulta da conjugação das recomendações I.3.3, I.4.1 e I.6.2 (grupo Participação e Controlo) onde, como se viu, as três empresas que não cumprem qualquer destas recomendações são todas grandes empresas e duas são também do sector financeiro.
2.1.3. Apreciação das divergências de avaliação
Na presente secção efectua‐se uma análise crítica, por recomendação, das principais situações de divergência com a auto‐avaliação efectuada pelas sociedades, as quais ascenderam no total a 82. O Quadro 3 identifica as sociedades e as recomendações onde se verificaram divergências, nele estando assinaladas a azul as situações em que a CMVM considera a recomendação não adoptada mas que a sociedade considera adoptada e a verde os casos em que a empresa considera que não adopta a recomendação mas a CMVM considera que esta é adoptada. Os demais casos de divergência estão assinalados a amarelo.
O Quadro 3 permite constatar que são diversas ‐ ocorrendo em várias recomendações ‐ as situações em que a CMVM, contrariando o entendimento das sociedades, considerou como não adoptadas as recomendações. Ao invés, os casos em que sucedeu o inverso concentram‐se exclusivamente na recomendação I.3.3, pelas razões já anteriormente descritas.
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Quadro 3 – Divergências de Avaliação nas Recomendações Relativas às Assembleias Gerais e Informação
Apresentam‐se seguidamente, de modo sucinto, as razões subjacentes às divergências constantes do Quadro 3.
i) Recomendação I.1.1 (recursos humanos e logísticos de apoio)
Identificaram‐se duas discordâncias na apreciação de cumprimento entre as empresas consideradas na análise e a apreciação da CMVM. Neste caso, as entidades emitentes (Vista Alegre Atlantis e Papelaria Fernandes) não divulgaram qualquer informação que permita considerar a recomendação como adoptada.
Empresas/Recomendações I.1.1 I.1.2 I.2.1 I.2.2 I.3.1 I.3.2 I.3.3 I.4.1 I.5.1 I.6.1 I.6.2 I.6.3 III.1.2 III.1.3Altri, SGPS, SABanco BPI, SABanco Comercial Português, SABanco Espírito Santo, SABanif ‐ SGPS, SABrisa ‐ Auto Estradas de Portugal, SACimpor ‐ Cimentos de Portugal, SGPS, SACofina, SGPS, SACompanhia Industrial Resinas Sintéticas ‐ Cires, SACompta‐Equipamentos e Serviços de Informática, SA Corticeira Amorim, SGPS, SAEDP ‐ Energias de Portugal, SGPS, SAEDP Renováveis, SAEstoril Sol ‐ SGPS, SAF. Ramada ‐ Investimentos, SGPS, SAFinibanco ‐ Holding, SGPS S.A.Fisipe ‐ Fibras Sintéticas de Portugal, SA Galp Energia, SGPS, SAGlintt, S.A.Grupo Media Capital, SGPS, SA Grupo Soares da Costa, SGPS, SA.Ibersol ‐ SGPS, SAImobiliária Construtora Grão Pará, SA (Consolidada)Impresa ‐ SGPS, SAInapa ‐ Investimentos, Participações e Gestão, SA Jerónimo Martins ‐ SGPS, SALisgráfica ‐ Impressão e Artes Gráficas, SAMartifer ‐ SGPS, SAMota‐Engil, SGPS, SANovabase ‐ SGPS, SAPapelaria Fernandes ‐ Indústria e Comércio, SA Portucel ‐ Empresa Produtora de Pasta e Papel, S.A. Portugal Telecom, SGPS, SAReditus ‐ SGPS, SA REN ‐ Redes Energéticas Nacionais, SGPS, SASAG Gest ‐ Soluções Automóvel Globais, SGPS, SASemapa ‐ Sociedade Investimento e Gestão, SGPS, SASociedade Comercial Orey Antunes, SASonae ‐ SGPS, SASonae Capital ‐ SGPS, SASonae Indústria, SGPS, SA SONAECOM ‐ SGPS, SASumol + Compal, S.A.Teixeira Duarte ‐ Engenharia e Construções, SAToyota Caetano Portugal, SAVAA ‐ Vista Alegre Atlantis, SGPS, SAZon Multimédia ‐ Serv. Tel. Multimédia, SGPS, SA
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ii) Recomendação I.1.2 (remuneração do presidente da mesa)
Há divergências em relação à Media Capital, que não divulgou a remuneração do presidente da mesa da assembleia geral.
iii) Recomendação I.2.1 (depósito ou bloqueio das acções)
Existe divergência em relação a oito sociedades. Nos casos da Altri, Cofina, F. Ramada, Grão Pará e Teixeira Duarte, ao ser exigido que a declaração de bloqueio das acções seja recebida até 5 dias antes da realização da assembleia geral, tal poderá impedir, na prática, que o período de bloqueio efectivo (record date) das acções seja igual ou inferior a 5 dias face à data de realização da assembleia geral.5 Já relativamente à Portugal Telecom, Zon Multimedia e Semapa, a divergência reside no facto dos estatutos das sociedades exigirem a comprovação do bloqueio até 5 dias antes da realização da assembleia geral e não a inscrição em registo até 5 dias.
iv) Recomendação I.2.2 (suspensão da assembleia geral)
Em duas sociedades (Altri e Cofina), a prática relatada nos respectivos relatórios de governo (onde se refere a manutenção do bloqueio das acções no decurso da possível suspensão das assembleias gerais) contradiz a apreciação feita pelas emitentes sobre esta recomendação. Na Vista Alegre Atlantis, a divergência ocorre em virtude de não existir previsão estatutária nesta matéria. Noutra situação, a CMVM considera a recomendação adoptada, resolvendo uma omissão da sociedade (Orey Antunes) que não se havia pronunciado sobre o cumprimento ou não cumprimento desta recomendação. Em sentido inverso, isto é, em que a CMVM avalia a recomendação como não cumprida, é também resolvida uma omissão de avaliação no caso da Papelaria Fernandes.
v) Recomendação I.3.1 (voto por correspondência)
Apenas numa situação (Sonae SGPS) se regista divergência, em virtude de a CMVM identificar matérias em que o voto por correspondência não podia ser considerado, traduzindo‐se assim num não cumprimento da recomendação.
vi) Recomendação I.3.3 (uma acção um voto)
A CMVM considerou o critério mais lato quanto ao cumprimento permitido pelas recomendações mais recentemente aprovadas, resultando desta forma um conjunto de divergências em favor do cumprimento. Assim, a CMVM considera a recomendação cumprida em vinte situações (BES, Cires, Corticeira Amorim, Estoril Sol, Finibanco, Fisipe, Grão Pará, Ibersol, Impresa, Lisgráfica, Media Capital, Martifer, Mota Engil, Orey Antunes, Portucel, Reditus, Semapa, Soares da Costa, Toyota Caetano e Vista Alegre Atlantis) que haviam tido declaração de não cumprimento, ou em que as empresas haviam sido omissas.6 Apesar de, nestes casos, as sociedades não respeitarem o princípio de que a cada acção deve
5 Devido ao hiato temporal entre a necessária inscrição em registo do bloqueio das acções e aos procedimentos necessários à sua posterior comunicação. 6 Neste caso, atendendo ao critério usado, considerou‐se que as divergências eram todas do mesmo tipo, estando deste modo sombreadas da mesma forma no Quadro 3.
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corresponder um voto, tal facto não coloca em causa de forma significativa a proporcionalidade entre os direitos de voto e a participação accionista porquanto não existiam limitações ao número máximo de direitos de voto, pelo que a recomendação foi considerada cumprida. Num outro caso, apesar de haver correspondência entre uma acção e um voto, a empresa (EDP) foi considerada não cumpridora por estarem estabelecidos limites ao exercício de voto para uma das categorias de acções da empresa.
vii) Recomendação I.4.1 (quórum constitutivo ou deliberativo)
Registam‐se cinco situações de divergência, predominando a exigência de quórum deliberativo (Estoril Sol e Galp) e constitutivo (Cires, Estoril Sol, Fisipe, Galp e Sonae SGPS) superiores aos previstos na lei como razões para as apreciações de não cumprimento por parte da CMVM.
viii) Recomendação I.5.1 (actas da assembleia geral)
Esta recomendação produziu sete situações de divergência entre a auto‐avaliação das emitentes e a avaliação da CMVM. As primeiras cinco situações (Cires, Galp, Grão Pará, Papelaria Fernandes e Vista Alegre Atlantis) justificam‐se pela não divulgação completa de toda a informação enunciada na referida recomendação. A lacuna mais comum prende‐se com a ausência de divulgação das actas das assembleias gerais nos respectivos sítios na internet. As restantes duas situações respeitam à EDP Renováveis e à F. Ramada, nas quais a CMVM considerou a recomendação como não aplicável em virtude destas sociedades, na qualidade de empresas cotadas, não terem realizado assembleias gerais em 2008.
ix) Recomendação I.6.1 (medidas anti‐OPA)
Verificam‐se divergências em 4 situações (Fisipe, Glintt, Orey Antunes e Sonae Indústria), tendo a CMVM considerado a recomendação adoptada. Com efeito, em virtude destas sociedades não terem medidas defensivas, considerou‐se preenchido o espírito desta recomendação e concluiu‐se pela sua adopção (em conformidade, aliás, com a auto‐avaliação realizada pela maioria das demais sociedades).
x) Recomendação I.6.2 (revisão da limitação do número de votos)
Identificaram‐se dezoito sociedades (Altri, Banif, Cimpor, Cofina, Cires, Estoril Sol, F. Ramada, Media Capital, Grão Pará, Inapa, Jerónimo Martins, Lisgráfica, Reditus, Soares da Costa, Sonae SGPS, Sonaecom, Teixeira Duarte e Vista Alegre Atlantis) em que as respectivas apreciações (que foram desde a adopção à omissão sobre o cumprimento da recomendação) resultaram em divergências com a CMVM no sentido em que esta considerou a recomendação não aplicável sempre que os estatutos das sociedades não previam limitações ao número de votos. Adicionalmente, verificam‐se divergências em relação a duas outras sociedades (BCP e Galp), advogando a CMVM que não se encontra cumprida a referida recomendação devido a, entre outros motivos, as limitações existentes no respectivo processo de voto (que são de natureza distinta no caso de uma e de outra das sociedades) não serem ou poderem ser sistematicamente confirmadas pela assembleia geral nos termos prescritos pela recomendação.
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xi) Recomendação I.6.3 (transmissibilidade das acções)
A CMVM considera que a inexistência de medidas defensivas em três sociedades (Fisipe, Orey Antunes e Sonae Capital) justifica que se considere que a recomendação é adoptada.
xii) Recomendação III.1.3 (informação em inglês)
Cinco sociedades (BCP, Grão Pará, Inapa, Orey Antunes e Vista Alegre Atlantis) consideram a recomendação adoptada mas a ausência da prestação (integral) de informação em inglês foi a razão isolada mais comum para justificar, na avaliação da CMVM, o não cumprimento desta recomendação.
3. Análise de divergências de avaliação das demais recomendações
Nos pontos seguintes é efectuada uma análise das situações de divergência de avaliação entre as emitentes e a CMVM no que se refere às recomendações relativas às matérias escrutinadas pelo Painel (Capítulo II do Código de Governo das Sociedades), designadamente para que os accionistas possam conhecer as situações em que as sociedades consideram cumprir as recomendações da CMVM, e esta entidade entende que tal não se verifica, e as situações em que as posições se invertem. Previamente a esse exercício, importa recordar o teor dessas recomendações.
Caixa 2 ‐ Teor das Recomendações sobre Composição e Funcionamento do Órgão de Administração, Política Remuneratória e Fiscalização da Sociedade
II. ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO II.1. Temas Gerais II.1.1. Estrutura e Competência II.1.1.1 O órgão de administração deve avaliar no seu relatório de governo o modelo adoptado, identificando eventuais constrangimentos ao seu funcionamento e propondo medidas de actuação que, no seu juízo, sejam idóneas para os superar. II.1.1.2 As sociedades devem criar sistemas internos de controlo, para a detecção eficaz de riscos ligados à actividade da empresa, em salvaguarda do seu património e em benefício da transparência do seu governo societário. II.1.1.3 Os órgãos de administração e fiscalização devem ter regulamentos de funcionamento os quais devem ser divulgados no sítio na Internet da sociedade. II.1.2 Incompatibilidades e Independência II.1.2.1 O conselho de administração deve incluir um número de membros não executivos que garanta efectiva capacidade de supervisão, fiscalização e avaliação da actividade dos membros executivos. II.1.2.2 De entre os administradores não executivos deve contar‐se um número adequado de administradores independentes, tendo em conta a dimensão da sociedade e a sua estrutura accionista, que não pode em caso algum ser inferior a um quarto do número total de administradores. II.1.3 Elegibilidade e Nomeação II.1.3.1 Consoante o modelo aplicável, o presidente do conselho fiscal, da comissão de auditoria ou da comissão para as matérias financeiras deve ser independente e possuir as competências adequadas ao exercício das respectivas funções.
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II.1.4 Política de Comunicação de Irregularidades II.1.4.1 A sociedade deve adoptar uma política de comunicação de irregularidades alegadamente ocorridas no seu seio, com os seguintes elementos: i) indicação dos meios através dos quais as comunicações de práticas irregulares podem ser feitas internamente, incluindo as pessoas com legitimidade para receber comunicações; ii) indicação do tratamento a ser dado às comunicações, incluindo tratamento confidencial, caso assim seja pretendido pelo declarante. II.1.4.2 As linhas gerais desta política devem ser divulgadas no relatório sobre o governo das sociedades. II.1.5 Remuneração II.1.5.1 A remuneração dos membros do órgão de administração deve ser estruturada de forma a permitir o alinhamento dos interesses daqueles com os interesses da sociedade. Neste contexto: i) a remuneração dos administradores que exerçam funções executivas deve integrar uma componente baseada no desempenho, devendo tomar por isso em consideração a avaliação de desempenho realizada periodicamente pelo órgão ou comissão competentes; ii) a componente variável deve ser consistente com a maximização do desempenho de longo prazo da empresa e dependente da sustentabilidade das variáveis de desempenho adoptadas; iii) quando tal não resulte directamente de imposição legal, a remuneração dos membros não executivos do órgão de administração deve ser exclusivamente constituída por uma quantia fixa. II.1.5.2 A comissão de remunerações e o órgão de administração devem submeter à apreciação pela assembleia geral anual de accionistas de uma declaração sobre a política de remunerações, respectivamente, dos órgãos de administração e fiscalização e dos demais dirigentes na acepção do n.º 3 do artigo 248.º‐B do Código dos Valores Mobiliários. Neste contexto, devem, nomeadamente, ser explicitados aos accionistas os critérios e os principais parâmetros propostos para a avaliação do desempenho para determinação da componente variável, quer se trate de prémios em acções, opções de aquisição de acções, bónus anuais ou de outras componentes. II.1.5.3 Pelo menos um representante da comissão de remunerações deve estar presente nas assembleias gerais anuais de accionistas. II.1.5.4 Deve ser submetida à assembleia geral a proposta relativa à aprovação de planos de atribuição de acções, e/ou de opções de aquisição de acções ou com base nas variações do preço das acções, a membros dos órgãos de administração, fiscalização e demais dirigentes, na acepção do n.º 3 do artigo 248.º‐B do Código dos Valores Mobiliários. A proposta deve conter todos os elementos necessários para uma avaliação correcta do plano. A proposta deve ser acompanhada do regulamento do plano ou, caso o mesmo ainda não tenha sido elaborado, das condições gerais a que o mesmo deverá obedecer. Da mesma forma devem ser aprovadas em assembleia geral as principais características do sistema de benefícios de reforma de que beneficiem os membros dos órgãos de administração, fiscalização e demais dirigentes, na acepção do n.º 3 do artigo 248.º‐B do Código dos Valores Mobiliários II.1.5.5 A remuneração dos membros dos órgãos de administração e fiscalização deve ser objecto de divulgação anual em termos individuais, distinguindo‐se, sempre que for caso disso, as diferentes componentes recebidas em termos de remuneração fixa e de remuneração variável, bem como a remuneração recebida em outras empresas do grupo ou em empresas controladas por accionistas titulares de participações qualificadas. II.2. Conselho de Administração II.2.1 Dentro dos limites estabelecidos por lei para cada estrutura de administração e fiscalização, e salvo por força da reduzida dimensão da sociedade, o conselho de administração deve delegar a administração quotidiana da sociedade, devendo as competências delegadas ser identificadas no relatório anual sobre o Governo da Sociedade.
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II.2.2 O conselho de administração deve assegurar que a sociedade actua de forma consentânea com os seus objectivos, não devendo delegar a sua competência, designadamente, no que respeita a: i) definir a estratégia e as políticas gerais da sociedade; ii) definir a estrutura empresarial do grupo; iii) decisões que devam ser consideradas estratégicas devido ao seu montante, risco ou às suas características especiais II.2.3 Caso o presidente do conselho de administração exerça funções executivas, o conselho de administração deve encontrar mecanismos eficientes de coordenação dos trabalhos dos membros não executivos, que designadamente assegurem que estes possam decidir de forma independente e informada, e deve proceder‐se à devida explicitação desses mecanismos aos accionistas no âmbito do relatório sobre o governo da sociedade. II.2.4 O relatório anual de gestão deve incluir uma descrição sobre a actividade desenvolvida pelos administradores não executivos referindo, nomeadamente, eventuais constrangimentos deparados. II.2.5. O órgão de administração deve promover uma rotação do membro com o pelouro financeiro, pelo menos no fim de cada dois mandatos. II.3 Administrador Delegado, Comissão Executiva e Conselho de Administração Executivo II.3.1 Os administradores que exerçam funções executivas, quando solicitados por outros membros dos órgãos sociais, devem prestar, em tempo útil e de forma adequada ao pedido, as informações por aqueles requeridas. II.3.2 O presidente da comissão executiva deve remeter, respectivamente, ao presidente do conselho de administração e, conforme aplicável, ao presidente da conselho fiscal ou da comissão de auditoria, as convocatórias e as actas das respectivas reuniões. II.3.3 O presidente do conselho de administração executivo deve remeter ao presidente do conselho geral e de supervisão e ao presidente da comissão para as matérias financeiras, as convocatórias e as actas das respectivas reuniões. II.4. Conselho Geral e de Supervisão, Comissão para as Matérias Financeiras, Comissão de Auditoria e Conselho Fiscal II.4.1 O conselho geral e de supervisão, além do cumprimento das competências de fiscalização que lhes estão cometidas, deve desempenhar um papel de aconselhamento, acompanhamento e avaliação contínua da gestão da sociedade por parte do conselho de administração executivo. Entre as matérias sobre as quais o conselho geral e de supervisão deve pronunciar‐se incluem‐se: i) o definir a estratégia e as políticas gerais da sociedade; ii) a estrutura empresarial do grupo; e iii) decisões que devam ser consideradas estratégicas devido ao seu montante, risco ou às suas características especiais. II.4.2 Os relatórios anuais sobre a actividade desenvolvida pelo conselho geral e de supervisão, a comissão para as matérias financeiras, a comissão de auditoria e o conselho fiscal devem ser objecto de divulgação no sítio da Internet da sociedade, em conjunto com os documentos de prestação de contas. II.4.3 Os relatórios anuais sobre a actividade desenvolvida pelo conselho geral e de supervisão, a comissão para as matérias financeiras, a comissão de auditoria e o conselho fiscal devem incluir a descrição sobre a actividade de fiscalização desenvolvida referindo, nomeadamente, eventuais constrangimentos deparados. II.4.4 A comissão para as matérias financeiras, a comissão de auditoria e o conselho fiscal, consoante o modelo aplicável, devem representar a sociedade, para todos os efeitos, junto do auditor externo, competindo‐lhe, designadamente, propor o prestador destes serviços, a respectiva remuneração, zelar para que sejam asseguradas, dentro da empresa, as condições adequadas à prestação dos serviços, bem assim como ser o interlocutor da empresa e o primeiro destinatário dos respectivos relatórios.
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II.4.5 A comissão para as matérias financeiras, comissão de auditoria e o conselho fiscal, consoante o modelo aplicável, devem anualmente avaliar o auditor externo e propor à assembleia geral a sua destituição sempre que se verifique justa causa para o efeito. II.5. Comissões Especializadas II.5.1 Salvo por força da reduzida dimensão da sociedade, o conselho de administração e o conselho geral e de supervisão, consoante o modelo adoptado, devem criar as comissões que se mostrem necessárias para: i) assegurar uma competente e independente avaliação do desempenho dos administradores executivos e para a avaliação do seu próprio desempenho global, bem assim como das diversas comissões existentes; ii) reflectir sobre o sistema de governo adoptado, verificar a sua eficácia e propor aos órgãos competentes as medidas a executar tendo em vista a sua melhoria. II.5.2 Os membros da comissão de remunerações ou equivalente devem ser independentes relativamente aos membros do órgão de administração. II.5.3 Todas as comissões devem elaborar actas das reuniões que realizem. Foram apuradas no total 155 situações de divergência neste bloco de recomendações, conforme seguidamente se descreve. De modo semelhante ao descrito no Quadro 3, nos Quadros 4 e 5 estão assinaladas a azul, verde e amarelo, respectivamente, as situações em que a CMVM considera a recomendação não adoptada mas que a sociedade considera adoptada, os casos em que a empresa considera que não adopta a recomendação mas a CMVM considera que esta é adoptada, e os demais casos de divergência. No Quadro 3 são apresentadas as 64 divergências relativas ao bloco de recomendações “Órgão de Administração e Fiscalização: Temas Gerais”. Destacam‐se de modo notório os casos em que a CMVM contrariou a auto‐avaliação de cumprimento da sociedade, em particular nas recomendações II.1.5.1 e II.1.5.2. Ao invés, apenas numa situação a CMVM entendeu que a recomendação era adoptada, quando uma determinada sociedade a considerava não adoptada.
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Quadro 4 – Divergências de Avaliação nas Recomendações Relativas à Composição e Funcionamento do Órgão de Administração, Política Remuneratória e Fiscalização da
Sociedade: Temas Gerais
No ponto seguinte são descritas as razões subjacente às divergências apresentadas no Quadro 4.
A. Órgãos de Administração e Fiscalização – Temas Gerais
i) Recomendação II.1.1.1 (avaliação interna do governo societário)
Existem 7 divergências (Altri, Cofina, Cires, F. Ramada, Lisgráfica, Papelaria Fernandes e Vista Alegre Atlantis). Em todos os casos os emitentes referem adoptar a recomendação mas os respectivos relatórios de governo não evidenciam qualquer avaliação do modelo organizativo da sociedade, pelo que a recomendação não pode ser considerada adoptada.
Empresas/Recomendações II.1.1.1 II.1.1.2 II.1.1.3 II.1.2.1 II.1.2.2 II.1.3.1 II.1.4.1 II.1.4.2 II.1.5.1 II.1.5.2 II.1.5.3 II.1.5.4 II.1.5.5Altri, SGPS, SABanco BPI, SABanco Comercial Português, SABanco Espírito Santo, SABanif ‐ SGPS, SABrisa ‐ Auto Estradas de Portugal, SACimpor ‐ Cimentos de Portugal, SGPS, SACofina, SGPS, SACompanhia Industrial Resinas Sintéticas ‐ Cires, SACompta‐Equipamentos e Serviços de Informática, SA Corticeira Amorim, SGPS, SAEDP ‐ Energias de Portugal, SGPS, SAEDP Renováveis, SAEstoril Sol ‐ SGPS, SAF. Ramada ‐ Investimentos, SGPS, SAFinibanco ‐ Holding, SGPS S.A.Fisipe ‐ Fibras Sintéticas de Portugal, SA Galp Energia, SGPS, SAGlintt, S.A.Grupo Media Capital, SGPS, SA Grupo Soares da Costa, SGPS, SA.Ibersol ‐ SGPS, SAImobiliária Construtora Grão Pará, SA (Consolidada)Impresa ‐ SGPS, SAInapa ‐ Investimentos, Participações e Gestão, SA Jerónimo Martins ‐ SGPS, SALisgráfica ‐ Impressão e Artes Gráficas, SAMartifer ‐ SGPS, SAMota‐Engil, SGPS, SANovabase ‐ SGPS, SAPapelaria Fernandes ‐ Indústria e Comércio, SA Portucel ‐ Empresa Produtora de Pasta e Papel, S.A. Portugal Telecom, SGPS, SAReditus ‐ SGPS, SA REN ‐ Redes Energéticas Nacionais, SGPS, SASAG Gest ‐ Soluções Automóvel Globais, SGPS, SASemapa ‐ Sociedade Investimento e Gestão, SGPS, SASociedade Comercial Orey Antunes, SASonae ‐ SGPS, SASonae Capital ‐ SGPS, SASonae Indústria, SGPS, SA SONAECOM ‐ SGPS, SASumol + Compal, S.A.Teixeira Duarte ‐ Engenharia e Construções, SAToyota Caetano Portugal, SAVAA ‐ Vista Alegre Atlantis, SGPS, SAZon Multimédia ‐ Serv. Tel. Multimédia, SGPS, SA
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ii) Recomendação II.1.1.2 (controlo interno)
Foram apuradas 6 divergências (Cires, Fisipe, Media Capital, Reditus, REN e Teixeira Duarte), ora porque inexiste informação no relatório de governo que permita atestar do cumprimento da recomendação, ora porque não é apresentada pelas sociedades uma efectiva política de gestão do risco (ou seja, não são mencionados os procedimentos existentes na sociedade para a identificação e prioritização dos riscos, as medidas adoptadas para a sua gestão e os limites de exposição da sociedade ao risco).
iii) Recomendação II.1.1.3 (regulamentos de funcionamento)
Apenas existe uma situação de divergência (Grão Pará), a qual emergiu de informação contraditória apresentada no relatório de governo da sociedade. Assim, no relatório de governo é referido que a sociedade não tem regulamentos internos relativos ao funcionamento dos seus órgãos, apesar da sociedade considerar como adoptada esta recomendação.
iv) Recomendação II.1.2.1 (equilíbrio executivos/não executivos)
Existem três casos de divergência na avaliação da recomendação II.1.2.1 (Compta, Estoril Sol e Grão Pará), motivados essencialmente pela inexistência ou insuficiência de administradores não executivos nas empresas em causa.
v) Recomendação II.1.2.2 (administradores independentes)
São cinco as divergências relativas à recomendação II.1.2.2 (Altri, Cofina, F. Ramada, Estoril Sol e Galp) e prendem‐se com um número não adequado de administradores independentes no órgão de administração.
vi) Recomendação II.1.3.1 (independência do órgão de fiscalização)
Foram identificadas duas situações de divergência (Fisipe e Papelaria Fernandes) em virtude de não existir informação suficiente no relatório de governo das sociedades que permita evidenciar a independência do presidente do órgão de fiscalização.
vii) Recomendação II.1.4.1 (comunicação de irregularidades)
Existem três divergências, duas delas (Fisipe e Sumol+Compal) motivadas por insuficiência de informação no relatório de governo quanto à adopção concreta de uma política de comunicação de irregularidades, e a remanescente porque só em 2009 foi implementada uma política de comunicação de irregularidades (Orey Antunes).
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viii) Recomendação II.1.4.2 (divulgação da política de comunicação de irregularidades)
São 7 os casos de divergência. A Fisipe e a Cires não divulgam informação suficiente no relatório.7 A Glintt, a Media Capital e a Grão Pará não cumprem a recomendação anterior (II.1.4.1) e como tal também não cumprem a presente. A Orey Antunes apenas implementou uma política de comunicação de irregularidades em 2009 e o Banif não foi considerado dispensado da avaliação desta recomendação uma vez que deveria indicar a existência (e respectiva descrição) da política de comunicação de irregularidades das suas participadas.
ix) Recomendação II.1.5.1 (remuneração dos administradores)
Foram apurados 12 casos de divergência (Altri, BPI, Banif, Cimpor, Cofina, F. Ramada, Fisipe, Media Capital, Impresa, Martifer, Papelaria Fernandes e Soares da Costa). Estes prendem‐se, em geral, com a não existência de um adequado alinhamento das políticas remuneratórias do órgão de administração com a respectiva avaliação de desempenho da empresa. Por outro lado, estão também identificadas situações em que a componente variável do desempenho não é consistente com a maximização do desempenho de longo prazo da empresa.
x) Recomendação II.1.5.2 (aprovação da política de remunerações)
Existem 9 situações de divergência em virtude da política de remuneração (no seu todo ou em parte) do órgão de administração não ser submetida à apreciação da assembleia geral (casos do BPI, BCP, EDP, Galp, REN e Fisipe) ou da circunstância dos critérios para a avaliação do desempenho daquele órgão não serem suficientemente claros (casos da Ibersol, Martifer e Grão Pará).
xi) Recomendação II.1.5.4 (atribuição de acções ou opções)
As divergências são 7. Seis delas (Cires, Corticeira Amorim, Grão Pará, Jerónimo Martins, Soares da Costa e Sonae Capital) devem‐se ao facto dos emitentes afirmarem como cumprida a recomendação embora não tenham instituído quaisquer planos de atribuição de acções e/ou opções de aquisição de acções. Nestas situações a CMVM considerou a recomendação como não aplicável. O outro caso é relativo a uma empresa (BPI) em que os referidos planos foram submetidos à assembleia geral mas não foram por esta aprovados.
xii) Recomendação II.1.5.5 (divulgação individualizada das remunerações)
Existem apenas dois casos divergentes entre a avaliação da CMVM e a das empresas. O primeiro (BCP), em que a CMVM considera a recomendação como não cumprida, motivado pelo facto de não ser divulgada a remuneração individual dos membros do órgão de administração. O segundo (Sonaecom), que a CMVM avalia no sentido de a recomendação ser
7 Note‐se que o teor da recomendação é, precisamente, que sejam divulgadas no relatório as linhas gerais da política de comunicação de irregularidades.
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cumprida, tem a ver com o facto da empresa, apesar de não divulgar as remunerações individualizadas do órgão executivo, divulgar a remuneração individual do presidente deste órgão e a remuneração agregada dos restantes membros. Tal pode considerar‐se como uma aproximação razoável a esta recomendação porquanto em geral a diferenciação salarial mais relevante é a existente entre o presidente do órgão executivo e a dos demais membros desse órgão. O Quadro 5 descreve as 91 divergências relativas às restantes recomendações relacionadas com o “Órgão de Administração e Fiscalização”. Mais uma vez se destacam os casos em que a CMVM contrariou a auto‐avaliação de cumprimento da sociedade, em particular nas recomendações II.4.5 e II.5.1 Por outro lado, também apenas em uma situação a CMVM entendeu que a recomendação era adoptada quando uma dada sociedade a considerava não adoptada.
Quadro 5 – Divergências de Avaliação nas Recomendações Relativas à Composição e Funcionamento do Órgão de Administração, Política Remuneratória e Fiscalização da
Sociedade: Restantes Recomendações
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Apresenta‐se seguidamente o detalhe das divergências constantes do Quadro 5.
B. Conselho de Administração i) Recomendação II.2.2 (delegação de competências)
Existe uma divergência relativa à Orey Antunes que resulta do facto de o conselho de administração da sociedade concentrar em si as decisões relevantes (o relatório de governo refere as competências do conselho de administração, onde se incluem as constantes da recomendação), pelo que a CMVM considera a recomendação adoptada.
ii) Recomendação II.2.3 (coordenação dos não executivos)
As divergências ascendem a 10, tendo na maioria dos casos (Cires, Fisipe, Impresa, Orey Antunes, REN, Sonae Capital e Vista Alegre Atlantis) a CMVM contrariado a avaliação da sociedade em virtude de não existir informação suficiente no relatório de governo que permita evidenciar a implementação de mecanismos eficientes de coordenação dos trabalhos dos
Empresas/Recomendações II.2.1 II.2.2 II.2.3 II.2.4 II.2.5 II.3.1 II.3.2 II.3.3 II.4.1 II.4.2 II.4.3 II.4.4 II.4.5 II.5.1 II.5.2 II.5.3Altri, SGPS, SABanco BPI, SABanco Comercial Português, SABanco Espírito Santo, SABanif ‐ SGPS, SABrisa ‐ Auto Estradas de Portugal, SACimpor ‐ Cimentos de Portugal, SGPS, SACofina, SGPS, SACompanhia Industrial Resinas Sintéticas ‐ Cires, SACompta‐Equipamentos e Serviços de Informática, SA Corticeira Amorim, SGPS, SAEDP ‐ Energias de Portugal, SGPS, SAEDP Renováveis, SAEstoril Sol ‐ SGPS, SAF. Ramada ‐ Investimentos, SGPS, SAFinibanco ‐ Holding, SGPS S.A.Fisipe ‐ Fibras Sintéticas de Portugal, SA Galp Energia, SGPS, SAGlintt, S.A.Grupo Media Capital, SGPS, SA Grupo Soares da Costa, SGPS, SA.Ibersol ‐ SGPS, SAImobiliária Construtora Grão Pará, SA (Consolidada)Impresa ‐ SGPS, SAInapa ‐ Investimentos, Participações e Gestão, SA Jerónimo Martins ‐ SGPS, SALisgráfica ‐ Impressão e Artes Gráficas, SAMartifer ‐ SGPS, SAMota‐Engil, SGPS, SANovabase ‐ SGPS, SAPapelaria Fernandes ‐ Indústria e Comércio, SA Portucel ‐ Empresa Produtora de Pasta e Papel, S.A. Portugal Telecom, SGPS, SAReditus ‐ SGPS, SA REN ‐ Redes Energéticas Nacionais, SGPS, SASAG Gest ‐ Soluções Automóvel Globais, SGPS, SASemapa ‐ Sociedade Investimento e Gestão, SGPS, SASociedade Comercial Orey Antunes, SASonae ‐ SGPS, SASonae Capital ‐ SGPS, SASonae Indústria, SGPS, SA SONAECOM ‐ SGPS, SASumol + Compal, S.A.Teixeira Duarte ‐ Engenharia e Construções, SAToyota Caetano Portugal, SAVAA ‐ Vista Alegre Atlantis, SGPS, SAZon Multimédia ‐ Serv. Tel. Multimédia, SGPS, SA
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membros não executivos nos casos em que o presidente do conselho de administração exerce simultaneamente funções executivas. Na Compta existe apenas um membro não executivo no órgão de administração; ainda assim, a CMVM considera que tal facto não é motivo para a inexistência de mecanismos que assegurem que a sua acção pode decorrer com independência face ao Presidente e CEO, assegurando por exemplo que o administrador não depende dos executivos para acesso à informação. Na Soares da Costa e na Sonae Indústria a recomendação foi considerada não aplicável em virtude do presidente do conselho de administração não exercer funções executivas.
iii) Recomendação II.2.4 (actividade dos não executivos)
Foram apuradas 8 divergências de avaliação (Cires, Compta, Fisipe, Media Capital, Orey Antunes, Papelaria Fernandes, Sonae Indústria e Vista Alegre Atlantis), essencialmente devidas ao facto do relatório de governo não possuir informação sobre a actividade desenvolvida pelos administradores não executivos.
iv) Recomendação II.2.5 (rotação do membro com pelouro financeiro)
Emergiram 9 divergências que se devem ora a falta de informação nos relatórios de governo (Cires e F. Ramada), ora a situações em que não se verifica a rotação do membro do órgão de administração com o pelouro financeiro nos termos prescritos pela recomendação (BPI). Algumas situações de divergência resultaram também do facto de não ter havido delegação do pelouro financeiro a nenhum membro do Conselho de Administração (Glintt), ou do mesmo ser exercido de forma conjunta por mais de um membro (Media Capital). Identificaram‐se ainda divergências face às apreciações da EDP, EDP Renováveis, Portugal Telecom e Sonae SGPS, mas nestes casos a divergência resulta de diferente interpretação quanto à forma como classificar as situações em que o administrador não se encontra em funções há tempo suficiente para que a rotação se devesse ter verificado.
C. Administrador Delegado, Comissão Executiva e Conselho de Administração Executivo
i) Recomendação II.3.1 (informação aos membros dos órgãos sociais)
Estão identificadas 6 divergências. Em 5 destes 6 casos (Cires, Fisipe, Grão Pará, Papelaria Fernandes e Vista Alegre Atlantis) não é claro no relatório de governo das empresas que os administradores com funções executivas, quando solicitados por outros membros dos órgãos sociais, prestem, em tempo útil e de forma adequada ao pedido, as informações requeridas. Numa outra situação (Compta) a emitente considera a recomendação não aplicável mas a interpretação da CMVM é divergente uma vez que a sociedade tem um Conselho Fiscal.
ii) Recomendação II.3.2 (convocatórias e actas)
Há 3 sociedades (Cires, Grão Pará e Vista Alegre Atlantis) cujos relatórios de governo não evidenciam o cumprimento desta recomendação, ou seja, o envio aos órgãos de administração e fiscalização das convocatórias e actas das reuniões do órgão executivo. Há ainda duas
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sociedades (Compta e Estoril Sol) que advogam a não aplicabilidade, o que não é aceite dada a existência de Conselho Fiscal.
iii) Recomendação II.3.3 (convocatórias e actas)
As 4 situações de divergência (Cires, Lisgráfica, Jerónimo Martins e Soares da Costa) estão relacionadas com o facto desta recomendação ser exclusivamente aplicável às empresas que seguem o modelo dualista, tendo a CMVM considerando a recomendação como não aplicável no caso em que as empresas estão organizadas de acordo com outros modelos de governo.
D. Conselho Geral e de Supervisão, Comissão para as Matérias Financeiras, Comissão de Auditoria e Conselho Fiscal
i) Recomendação II.4.2 (divulgação da actividade de fiscalização)
Foi identificada uma divergência (Fisipe), relacionada com a circunstância dos relatórios do órgão de fiscalização da empresa não serem objecto de divulgação no sítio de internet da sociedade.
ii) Recomendação II.4.3 (descrição da actividade de fiscalização)
Foi também identificada uma divergência (Grão Pará), relacionada com a circunstância do relatório do órgão de fiscalização da empresa não conter informação considerada suficiente para descrever a sua actividade e os constrangimentos deparados no seu exercício.
iii) Recomendação II.4.4 (auditor externo)
Estão identificadas 8 divergências de avaliação. As principais razões para tais divergências assentam no facto de, ou não existir informação esclarecedora sobre o papel assumido pelo órgão de fiscalização das empresas perante o seu auditor externo (Fisipe, Impresa, Lisgráfica, Papelaria Fernandes e Sonae SGPS), ou, quando tal sucede (Altri, EDP Renováveis e Estoril Sol), as funções que devem estar cometidas ao órgão de fiscalização relativamente à intervenção do auditor externo não serem integralmente desempenhadas (e.g. o órgão de fiscalização não propõe a nomeação do auditor externo e/ou a sua remuneração e não se constitui como o primeiro interlocutor junto deste último).
iv) Recomendação II.4.5 (avaliação do auditor externo)
São 14 as divergências de avaliação face ao exercício realizado pelas emitentes. Treze delas (BCP, Cires, Compta, Estoril Sol, Fisipe, Grão Pará, Impresa, Papelaria Fernandes, Reditus, Soares da Costa, Sonae SGPS, Sonae Capital e Vista Alegre Atlantis) são situações em que não existe informação que comprove que o órgão de fiscalização da empresa procede à avaliação do desempenho do auditor externo ou em que a informação constante dos relatórios de governo societário permite concluir por uma não cabal avaliação do auditor externo. Noutro caso (Finibanco), a CMVM entende que a recomendação é cumprida em virtude de existir informação clara sobre a avaliação do auditor externo.
E. Comissões Especializadas
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i) Recomendação II.5.1 (existência de comissões)
Em 11 situações (Altri, Cofina, F. Ramada, Glintt, Grão Pará, Inapa, Media Capital, Portugal Telecom, Soares da Costa, Semapa e Vista Alegre Atlantis) a CMVM entende que a recomendação não é cumprida em virtude da insuficiência, da inexistência ou da falta de independência das comissões criadas no seio das empresas para avaliar o desempenho dos administradores executivos, da própria empresa e do modelo de governo societário implementado.
ii) Recomendação II.5.2 (independência das comissões de vencimentos)
Em 8 sociedades (Lisgráfica, Portucel, Semapa, Soares da Costa, Sonae SGPS, Sonae Capital, Sonaecom e Vista Alegre Atlantis), alguns membros da Comissão de Remunerações não preenchem o critério de independência prescrito na recomendação, razão pela qual se considera que esta não é adoptada. Numa outra (EDP Renováveis), a recomendação é considerada não cumprida em virtude de os vencimentos do órgão de administração serem fixados por administradores não executivos, nos termos da legislação espanhola.
iii) Recomendação II.5.3 (actas das reuniões)
Foram apuradas 4 divergências. Numa (Compta) a CMVM considera a recomendação como não aplicável em virtude da sociedade não ter instituído qualquer comissão. Nas outras três (Inapa, Sumol+Compal e Vista Alegre Atlantis), a CMVM avalia a recomendação como não adoptada uma vez que o relatório de governo da empresa em causa é omisso quanto à elaboração de actas pelas comissões (nas quais estão incluídas as comissões de vencimentos). Em suma, foram diversas as situações de divergência de avaliação entre a CMVM e as sociedades. Destacam‐se neste particular a Fisipe (12 casos), a Cires (11 casos), a Grão Pará (10 casos) e a Vista Alegre Atlantis (9 casos) como sendo as sociedades em que a CMVM mais diverge na avaliação do cumprimento das recomendações sobre governo societário. Ao invés, devem ser destacados pela positiva o BES, Brisa, a Mota Engil, a Novabase, a SAG e a Toyota Caetano, sociedades relativamente às quais a CMVM não regista qualquer divergência de avaliação (quer nas recomendações neste ponto analisadas, quer nas relativas às assembleias gerais e informação8).
4. Análise da fundamentação das recomendações não adoptadas
O sistema europeu de governo societário assenta num rigoroso princípio de cumprimento ou explicação (comply‐or‐explain).
8 Apesar de nos casos do BES, Mota Engil e Toyota Caetano existir uma divergência de avaliação da CMVM relativamente à recomendação I.1.3.3, tal resulta de uma interpretação mais favorável que a CMVM decidiu efectuar do cumprimento dessa recomendação (à luz do novo regime), pelo que as sociedades em causa não poderiam saber, no seu exercício de auto‐avaliação, que tal interpretação lhes iria ser aplicável.
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Não é obrigatório que as sociedades adoptem as boas práticas ínsitas nos Códigos de Governo Societário, mas é um dever jurídico explicar as razões de divergência em relação a essas boas práticas.
Em Portugal, esse princípio tem assento regulamentar. Nos termos do ponto 0.3. do Anexo ao Regulamento 1/2007 da CMVM, aplicável ao ano de 2008, “quando a estrutura ou as práticas de governo da sociedade divirjam das recomendações da CMVM ou de outros códigos a que a sociedade se sujeite ou tenha voluntariamente aderido, devem ser explicitadas as partes de cada código que não são cumpridas e as razões dessa divergência”.
A existência de uma explicação adequada, transparente e coerente por parte das sociedades cotadas das razões porque não adoptam as recomendações dos códigos de governo a que estão sujeitas é essencial para que os seus accionistas possam avaliar da qualidade do governo societário e possam propor ou decidir as mudanças que se lhes afigurem necessárias. Nesta perspectiva, costuma dizer‐se que é tão importante o cumprimento como a explicação para o não cumprimento e a demonstração da adequação da solução alternativa adoptada.
A CMVM inclui, por isso, pela primeira vez num seu relatório de avaliação do governo societário, um capítulo dedicado às explicações dadas pelas empresas para a não adopção de recomendações.
Se bem que se reconheça que a qualidade das explicações dadas, em geral, pelas sociedades ainda é susceptível de melhorar substancialmente, a função desta análise não é a de discutir ou tomar posição sobre a justeza dessas explicações apresentadas pelas sociedades cotadas. Este texto não se destina a apreciar o mérito das explicações para a não adopção nem da adequação das soluções alternativas adoptadas, mas a evidenciar o grau de observância da regra do cumprimento ou explicação.
O papel das autoridades reguladoras nesta matéria é, antes de mais, o de verificar se as sociedades dão cumprimento efectivo ao dever de explicar a não adopção das recomendações.
Como é reconhecido internacionalmente, nomeadamente pelo European Corporate Governance Forum, as explicações têm de ser coerentes e claras, traduzindo‐se em razões para a não adopção das boas práticas recomendadas perceptíveis pelos accionistas.
Qualquer declaração que seja manifestamente incoerente, que não corresponda à lógica da recomendação ou que represente de modo claramente errado os factos não pode considerar‐se uma explicação ou uma justificação que cumpra o princípio do comply or explain.
Foi nesta perspectiva que foi conduzido o trabalho: identificar não apenas as situações em que a sociedade não apresenta qualquer justificação, mas também aquelas declarações que não podem ser consideradas como explicação para a não adopção.
Inicialmente, a CMVM procedeu a um levantamento das recomendações não cumpridas e das explicações dadas. Os resultados globais quantitativos foram objecto de tratamento e apresentação gráficas, abrangendo globalmente todas as recomendações.
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33
A análise seguinte destaca os três diferentes capítulos do Código de Governo da CMVM de recomendações, agrupados em Deveres Gerais de Informação (recomendações III.1), Administração e Fiscalização e Remunerações (recomendações II.1 a II.5) e Assembleia Geral (recomendações I.1 a I.6), e procura evidenciar as sociedades cotadas que mais e menos cumprem o princípio do cumprimento ou explicação.
4.2. Assembleia Geral (recomendações I.1 a I.6)
As empresas que explicam todos os casos de recomendações que não adoptam, são as seguintes: BPI, BES, Cimpor, EDP Renováveis, Glintt, Inapa, Jerónimo Martins, Novabase, Portucel, REN, SAG, Sonae Capital e Sonae Indústria.
Por seu turno, as sociedades que não seguiram três ou mais recomendações nesta matéria e que não apresentam qualquer explicação efectiva para a não adopção são a Cires, a Fisipe, a Ibersol, a Papelaria Fernandes, a Toyota‐Caetano e a Vista Alegre Atlantis.
No que respeita a este bloco, a recomendação que reuniu um grau de adopção mais baixo (43%) foi a que estabelece que as sociedades não devem fixar um quórum constitutivo ou deliberativo superior ao previsto na lei (I.4.1).
As empresas que fornecem uma explicação efectiva para a não adopção desta recomendação são as seguintes: BPI, BCP, BES, Corticeira Amorim, EDP renováveis, Media Capital, Grão Pará, Inapa, Jerónimo Martins, Portucel, REN, Sonae SGPS, Sonae Capital, Sonae Indústria e Teixeira Duarte.
É nesta recomendação do grupo que se encontra, além disso, o maior número de explicações dadas (15) mas que correspondem apenas a 56% do total de situações de não adopção desta recomendação.
As explicações invocadas pelas sociedades para a adopção de quórum constitutivo agravado têm sobretudo a ver com o que consideram ser a protecção dos accionistas e a necessidade de assegurar a sua representatividade na assembleia geral. É o caso, por exemplo, entre outras sociedades, do BCP, do BES, da EDP Renováveis, da REN e da Sonae SGPS. A SAG Gest reconhece que o não cumprimento se deve ao interesse em assegurar que a assembleia não reúne sem que esteja presente o accionista de referência detentor de 75,94% do capital social.
Tipo de explicação/Recomendações I.1.1
I.1.2
I.2.1
I.2.2
I.3.1
I.3.2
I.3.3
I.4.1
I.5.1
I.6.1
I.6.2
I.6.3
II.1.1.1
II.1.1.2
II.1.1.3
II.1.2.1
II.1.2.2
II.1.3.1
II.1.4.1
II.1.4.2
II.1.5.1
II.1.5.2
Existe uma explicação para a não adopção 0 1 2 1 1 3 5 16 6 2 4 0 0 4 9 6 8 1 7 3 15 13A sociedade nada diz 2 1 3 5 3 5 1 8 10 0 1 0 4 2 10 4 11 1 8 8 9 10A sociedade dá uma razão que não constitui explicação 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 3 0 1 0 1 2A sociedade não reconhece a não adopção 0 1 7 2 0 0 1 2 1 0 2 0 3 5 0 2 5 1 3 4 6 5Total 2 3 12 8 5 8 7 27 17 2 7 0 7 11 20 12 27 3 19 15 31 30
Tipo de explicação/Recomendações
II.1.5.3
II.1.5.4
II.1.5.5
II.2.1
II.2.2
II.2.3
II.2.4
II.2.5
II.3.1
II.3.2
II.3.3
II.4.1
II.4.2
II.4.3
II.4.4
II.4.5
II.5.1
II.5.2
II.5.3
III.1.2
III.1.3
Total
Existe uma explicação para a não adopção 3 1 25 4 2 0 1 9 0 3 0 0 2 0 5 0 10 10 1 0 2 185A sociedade nada diz 7 0 7 4 0 3 2 4 3 4 0 0 0 1 5 6 8 7 1 0 13 181A sociedade dá uma razão que não constitui explicação 0 0 3 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 15A sociedade não reconhece a não adopção 0 1 1 0 3 7 5 4 3 3 0 0 0 0 7 8 8 5 2 0 2 109Total 10 2 36 8 5 10 8 18 6 10 0 0 2 1 17 15 26 22 4 0 17 490
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Já a Jerónimo Martins considera que a sua estrutura accionista retira qualquer impacto ao quórum agravado imposto pelos seus estatutos.
Quanto ao quórum deliberativo, as justificações dadas pelas empresas assentam, as mais das vezes, na especial relevância das decisões em relação às quais se exige quórum deliberativo agravado. Como exemplos, refira‐se o caso do BPI, que justifica a não adopção sublinhando igualmente a necessidade de reunir a vontade inequívoca e largamente maioritária dos accionistas. Por seu turno, o BCP invoca a potencial irreversibilidade destas decisões relevantes submetidas a quórum agravado.
Outra recomendação que deve ser salientada neste bloco é a I.6.2. sobre a consagração nos estatutos das sociedades da revisão de medidas defensivas de cinco em cinco anos, sem requisitos de quórum agravado. Esta recomendação não se aplica à maioria das sociedades (pois a maioria não prevê medidas defensivas) mas apresenta uma taxa de não adopção de 100% naquelas a que se aplica.
As sociedades que explicam a não adopção são o BPI, a EDP, a Portugal Telecom e a Zon. A este propósito, saliente‐se que o BPI diz não consagrar a revisão das cláusulas de limite de voto de cinco em cinco anos nos estatutos, sem exigência de maioria agravada, porque entende ser sempre possível aos accionistas que pretendam alterar ou suprimir a referida regra estatutária, propor, a qualquer momento, e respeitados que sejam os requisitos para o efeito previstos na lei, submeter à assembleia geral uma proposta no sentido dessa alteração ou supressão; por outro lado, porque entende que os limites de voto estabelecidos nos estatutos são uma opção muito relevante para a vida da sociedade, considera que a sua modificação só deve ter lugar quando exista uma vontade inequívoca e largamente maioritária nesse sentido.
Por seu turno, a Portugal Telecom considera que a assembleia geral realizada a 2 de Março de 2007 para se pronunciar sobre a eliminação de disposições respeitante a limites de voto, no contexto da oferta pública lançada pela Sonaecom, rejeitou pela maioria dos votos emitidos e com a não oposição das acções da categoria A a proposta de “desblindagem” apresentada. Assim, a sociedade entende que a situação permaneceu inalterada, o que comprova que as limitações estatutariamente previstas contribuem para uma dispersão do capital social e maior transparência do governo da sociedade.
Não apresentam justificação para a não adopção desta recomendação o BCP, a Compta e a Galp. A inexistência de explicação do BCP para o incumprimento radica na divergência com a CMVM quanto à adopção da recomendação.
4.3. Administração e fiscalização e remunerações (Recomendações II.1. a II.5)
Neste bloco de recomendações, as sociedades que se destacam pela positiva, cumprindo na totalidade o dever de explicar as recomendações que não cumprem, são as seguintes: BES, Brisa, Jerónimo Martins, Martifer, Sonaecom e Zon.
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Já as sociedades que apresentam quatro ou mais recomendações não adoptadas neste grupo e que menos explicações dão para o efeito, são as seguintes: Cires, Corticeira Amorim, Estoril Sol, Finibanco, Media Capital, Lisgráfica, Mota Engil, SAG e Toyota Caetano.
Neste grupo de recomendações cumpre destacar, em primeiro lugar, a recomendação de que a sociedade deve ter um número adequado de administradores independentes, tendo em conta a estrutura accionista e a dimensão da sociedade, que não pode ser inferior a ¼ do total de administradores (recomendação II.1.2.2).
As sociedades que, não cumprindo a recomendação, dão explicações para a sua não adopção são as seguintes: Banco BPI, Soares da Costa, Martifer, Semapa, Sumol+Compal, Teixeira Duarte e Fisipe.
O Banco BPI considera que, apesar de não cumprir a recomendação, nunca sentiu que as circunstâncias legais que levam à falta de independência tenham afectado a isenção de análise ou decisão dos seus administradores considerados não independentes.
O Grupo Soares da Costa entende que os independentes no Conselho Fiscal e os administradores não executivos que representam os accionistas desempenham adequadamente o papel de fiscalização da gestão da sociedade. Posição semelhante parece ter a Sumol+Compal, defendendo que, face à estrutura accionista actual, são os administradores não executivos aqueles que melhor prosseguem os interesses dos accionistas.
A Teixeira Duarte, tendo em conta a sua estrutura social, parece satisfazer‐se com o carácter independente do Conselho Fiscal para assegurar o cumprimento das funções de fiscalização que competem normalmente aos administradores não executivos e independentes.
A Semapa considera que a equipa actual de gestão, pelas diferentes origens e relações com a empresa e suas dominadas e pelas suas características pessoais, assegura de forma eficaz uma complementaridade e uma independência de carácter e juízo semelhantes às que a recomendação pretende atingir. Por outro lado, não deixa de invocar como justificação a sua natureza simplificada de sociedade gestora de participações sociais.
A Martifer considera, igualmente, que, tendo eleito quatro administradores não executivos e delegado a gestão corrente numa comissão executiva composta por cinco elementos, o papel de fiscalização dessa gestão corrente é adequadamente desempenhado por esses administradores não executivos.
Finalmente, a Fisipe invoca os custos de contratação de mais administradores para justificar a inexistência de independentes.
As sociedades que não cumprem esta recomendação e não dão justificação efectiva são as seguintes: Altri, Cofina, Cires, Compta, Corticeira Amorim, Estoril Sol, F. Ramada, Finibanco, Galp, Glintt, Ibersol, Grão Pará, Lisgráfica, Mota Engil, Portucel, Reditus, SAG, Toyota Caetano e Vista Alegre Atlantis.
De entre as sociedades que não apresentam justificação, podem encontrar‐se situações diversas. Cumpre destacar algumas.
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Desde logo, refira‐se a Reditus que, não apresentando qualquer declaração de justificação para a não adopção em 2008, afirma cumprir já em 2009.
O Finibanco afirma justificar a razão para a não adopção no ponto seguinte àquele em que faz a sua avaliação, mas a verdade é que não se encontra a explicitação prometida no relatório de governo societário.
Outra recomendação que regista uma elevada taxa de não adopção é a II.1.5.5, sobre a divulgação individualizada das remunerações dos órgãos de administração e fiscalização.
As sociedades que não dão explicação para o não cumprimento desta recomendação são as seguintes: Cofina, Cires, Corticeira Amorim, Estoril Sol, Glintt, Lisgráfica, Mota Engil, SAG, Toyota Caetano e Vista Alegre Atlantis.
As restantes empresas que não adoptam a recomendação dão justificações para o não cumprimento.
Saliente‐se, antes de mais, o caso do BCP, que considera a recomendação cumprida, assumindo uma posição divergente da CMVM. O BCP considera que a divulgação global da remuneração auferida pelo conselho de administração executivo, bem como a divulgação da política de remuneração dos administradores, é meio adequado e suficiente para dar integral satisfação ao objectivo que se pretende alcançar com a presente recomendação, sobretudo em anos em que, como o de 2008 e na sequência de proposta do próprio conselho de administração executivo, este não recebeu remuneração anual variável relativa aquele exercício. No que respeita à remuneração dos membros do conselho geral e de supervisão, ela é fixa e foi aprovada, para cada função, pela assembleia geral de 28 de Maio de 2007.
As restantes sociedades explicam a não adopção desta informação com base no entendimento de que a informação que divulgam é suficiente para os accionistas. São os argumentos avançados pela Altri, BPI, BES, F. Ramada, Orey Antunes, Martifer, Portugal Telecom e Zon.
A Brisa, a Inapa, a REN e a Soares da Costa, além disso, invocam a natureza colegial dos órgãos para justificar a não adopção.
A Cimpor invoca que os accionistas, ao optarem, nos termos do n.º 1 do artigo 399.º do Código das Sociedades Comerciais e do n.º 2 do artigo 16.º dos estatutos, por nomear uma comissão destinada à fixação das remunerações dos administradores, em alternativa à sua definição pela assembleia geral, o fizeram com um objectivo que, implicando, por natureza, alguma reserva, se afigura incompatível com uma eventual divulgação pública, em termos individuais, das referidas remunerações.
A Media Capital e a Semapa invocam como justificação o interesse na protecção da privacidade de cada administrador.
A Jerónimo Martins considera suficiente a divulgação da remuneração dos executivos, por um lado, considerando a remuneração dos não executivos, por outro, suficiente para assegurar a relação entre o desempenho de cada sector da sociedade e o nível de remuneração dos
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membros do órgão de administração responsáveis pelo respectivo acompanhamento. Posição muito similar é a da Teixeira Duarte.
A Portugal Telecom acrescenta que a avaliação do desempenho por parte dos accionistas deve ser feita em termos globais, pelo que entende não ser necessária a divulgação de informação individualizada.
4.4. Deveres Gerais de Informação (Recomendações III.1.2 e III.1.3)
A recomendação III.1.2. foi objecto de cumprimento generalizado, pelo que a análise se limita à recomendação III.1.3, sobre a divulgação no sítio da internet de informação em inglês.
A informação a publicar é composta por um conjunto vasto de documentos pelo que muitas vezes a adopção da recomendação é meramente parcelar, sendo tratada como não cumprida para efeitos de avaliação das recomendações nos termos do supracitado Regulamento da CMVM.
Deve assinalar‐se o facto de muitas sociedades que não adoptaram a recomendação em 2008 terem manifestado intenção de o vir a fazer no futuro, uma vez alertadas pela CMVM para a sua situação de incumprimento, durante o processo de avaliação, que decorreu em 2009.
Esta postura positiva e a existência de cumprimentos parcelares não é compatível com a invocação de argumentos substanciados que justifiquem a não adopção integral perante os accionistas. Por isso, várias sociedades limitam‐se a constatar o incumprimento e a afirmar que pretendem cumprir em 2009, ou estarem já a cumprir nessa altura, facto que será objecto de avaliação no decurso do presente ano, mas que em alguns casos já foi comprovado.
Ainda assim refira‐se que, por exemplo, a Sumol+Compal e a Lisgráfica providenciam explicações para o não cumprimento, invocando razões relacionadas com custos.
5. Sumário Conclusivo
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O presente relatório, conjuntamente com uma avaliação realizada por um Painel Consultivo da CMVM, composto por especialistas independentes, constitui o exercício de avaliação do governo das sociedades cotadas à luz do Código de Governo das Sociedades da CMVM, aplicável em 2008. Trata‐se, pois, de um exercício realizado em moldes distintos de acções similares efectuadas em anos antecedentes, onde apenas a CMVM se pronunciava sobre o governo das empresas cotadas, avaliando o grau de cumprimento das suas recomendações.
Atendendo a que as matérias objecto de análise pelo referido Painel abrangem as recomendações relativas aos órgãos de administração e fiscalização e à temática da remuneração, foi analisado neste documento, para todas as sociedades cotadas a que era aplicável, o cumprimento das recomendações da CMVM relativas às matérias relacionadas com o funcionamento das assembleias gerais e com a prestação de informação ao mercado, em geral, e aos investidores, em particular.
O grau de cumprimento do subconjunto das recomendações analisadas é elevado, sendo em média de 81%. Numa análise por grupos de recomendações ressalta, em particular, o bom nível de cumprimento em matérias afectas à Mesa da Assembleia Geral (95%). Nos grupos 2, 3 e 4, a taxa média de cumprimento registou níveis relativamente próximos: 83% (Participação na Assembleia Geral), 76% (Informação), 76% (Controlo das Sociedades) e 75% (Participação e Controlo).
Uma análise mais detalhada deixa patente que existe uma significativa margem de progressão, quando se abordam as questões relativas ao controlo das sociedades (proliferam formas de blindagem estatutária com reflexo nos mecanismos de controlo e governação) e aos mecanismos de participação dos accionistas na vida das sociedades (tendo como ponto de referência o acesso e o exercício do direito de voto nas assembleias gerais). De facto, permanecem em vigor normas que mitigam a participação universal, proporcional e fácil de todos os accionistas nas decisões das empresas.
Em particular, deve destacar‐se negativamente o reduzido grau de cumprimento (43%) da recomendação de que as sociedades não devem fixar um quórum constitutivo ou deliberativo superior ao previsto na lei. Por outro lado, na recomendação I.6.2. (segundo a qual, os estatutos das sociedades que prevejam a limitação do número de votos que podem ser detidos ou exercidos, devem prever que seja consignado que, pelo menos de cinco em cinco anos será sujeita a deliberação pela assembleia geral a manutenção ou não dessa disposição estatutária – sem requisitos de quórum agravado relativamente ao legal ‐ e que nessa deliberação se contam todos os votos emitidos sem que aquela limitação funcione) a não adopção é generalizada entre as 7 sociedades a quem a recomendação é aplicável (por terem instituídas tais limitações). A conjugação do não cumprimento das medidas I.3.3 (uma acção um voto), I.4.1 (quórum constitutivo ou deliberativo agravado) e I.6.2 é particularmente gravosa, dado que se conjugam limitações ao direito de voto, com quórum deliberativo e/ou constitutivo agravado e não se encontram estabelecidos mecanismos de revisão periódica dessas limitações sem que se apliquem as regras de quórum agravado e os limites aos direitos de voto. Há três sociedades em que tal conjugação se verifica, tratando‐se em todos os casos de grandes empresas, duas delas do sector financeiro.
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Além da avaliação do grau de cumprimento das recomendações relativas às matérias não analisadas pelo Painel Consultivo, o presente relatório analisou ainda as divergências de avaliação entre a CMVM e as sociedades, quer no contexto das recomendações aqui analisadas, quer no contexto das recomendações escrutinadas pelo Painel, tendo sido nesse âmbito concluído que no caso das recomendações relativas ao funcionamento das assembleias gerais e informação o grau de divergência apurado se situou perto dos 9,4%9, e que nas demais o grau de divergência representou cerca de 11,4% dos casos, o que equivale por dizer que na globalidade a CMVM apreciou de modo distinto dos emitentes o cumprimento de cerca de 10,7% das recomendações. Estas divergências deveram‐se em 62% dos casos ao facto de a CMVM entender como não cumprida a recomendação, considerando os emitentes a recomendação como cumprida e em 9% dos casos verificou‐se o cenário inverso. Nos restantes 29% dos casos as divergências resultaram de diversas situações, designadamente em que (i) a emitente considerou a recomendação não aplicável sendo outra a classificação atribuída pela outra parte; (ii) a emitente considerou a recomendação adoptada ou não adoptada e a CMVM considerou‐a não aplicável; e (iii) o emitente foi omisso quanto à avaliação da recomendação, tendo a CMVM de proceder ao seu enquadramento avaliativo (adoptada, não adoptada ou não aplicável).
Entre outras, são dignas de maior realce as situações de divergência (12) que, na maioria dos casos, derivam de um inadequado alinhamento das políticas remuneratórias do órgão de administração (incluindo a componente variável da remuneração) com a respectiva avaliação de desempenho da empresa no longo prazo, decorrente do facto de as entidades emitentes considerarem cumprida a recomendação, entendendo a CMVM que tal não se verifica.
Também merecedores de relevo são os casos de divergência relacionados, ora com a inexistência ou insuficiência de administradores executivos nas empresas (três casos), ora com um reduzido número de administradores independentes (5 casos).
Por último, não podem deixar também de ser destacadas as 11 situações de divergência, em que a CMVM contrariou a avaliação positiva efectuada pelas sociedades, que resultaram da inexistência ou da falta de independência das comissões criadas no seio das empresas para avaliar o desempenho dos administradores executivos, da própria empresa e do modelo de governo societário implementado.
Aspecto igualmente inovador na apreciação feita pela CMVM neste relatório respeita à apreciação da fundamentação das sociedades para o não cumprimento de algumas recomendações.
As sociedades estão obrigadas a cumprir as recomendações do Código de Governo que adoptem ou a explicar as razões para o seu não cumprimento. Em particular, é sua obrigação, se for esse o caso, explicar porque é que a recomendação não se ajusta à sua realidade concreta e em que consiste a solução alternativa adoptada e em que medida esta se ajusta melhor às suas características. Os destinatários destas explicações são evidentemente os
9 Não foram aqui contabilizadas as divergências resultantes da avaliação da CMVM à recomendação I.3.3, dado que a CMVM aplicou, em conformidade com o teor das novas recomendações emitidas em 2010, um critério que razoavelmente não poderia ser do conhecimento dos emitentes.
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accionistas e o mercado em geral. À CMVM compete verificar se essas explicações existem e se são explicações efectivas e perceptíveis pelos accionistas.
É deste exercício que se dá conta, pela primeira vez, num relatório público. Os resultados levam a constatar que apenas em 185 (38%) das 490 recomendações não adoptadas (para a globalidade das recomendações e das sociedades cotadas), é dada uma justificação que se pode considerar em conformidade com o princípio «comply or explain». Quer isto dizer que em 63% dos casos não há uma justificação que se possa considerar efectiva e perceptível para o não cumprimento da recomendação. Destes casos, em 59% das situações a sociedade nada diz, em 36% das ocasiões a sociedade não reconhece a não adopção (e, por isso, não fundamenta o não cumprimento) e em 5% dos casos a sociedade tenta justificar essa não adopção, mas fá‐lo em termos que não permitem que se considere tal uma explicação. Com efeito, não podem classificar‐se como consentâneas com o princípio comply or explain as explicações de natureza geral em que a sociedade se limita a expressar desacordo com a recomendação sem identificar e explicar o que é que na sua situação específica torna tal recomendação desaconselhável. De igual modo não são conformes com tal princípio as situações em que a sociedade não explica as razões para não cumprir o Código de Governo e se limita a informar os procedimentos alternativos que adoptou ou dá apenas informação muito genérica sem que os seus accionistas possam perceber a solução adoptada e julgar se essa solução pode conduzir a uma adequada solução de governo para a sociedade em questão.
Note‐se que a obrigação de cumprir as recomendações do Código de Governo das Sociedades Cotadas ou explicar o seu não cumprimento tem natureza regulamentar. Como tal, a sua não observação tem consequências de natureza contra‐ordenacional. No entanto, a CMVM decidiu, nesta fase, ter uma acção essencialmente pedagógica e de persuasão de que este relatório é parte. Esta terá de ser encarada como situação transitória que, num futuro próximo, dará lugar à efectiva penalização do não cumprimento de obrigações que visam em exclusivo a defesa do interesse dos investidores.
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