césares russos - guia do estudante
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Csares russosDe uma pequena frao de terra ao maior pas do mundo, os czares fizeram a Rssia.Opulentos, autoritrios e vingativos, eles criaram uma unidade nacional e governaram pormais de mil anos
Eduardo Szklarz | 10/09/2009 02h59
Eram 2 da manh quando Nicolau II foi despertado naquele 17 de julho de 1918. O ltimo "imperadorde todas as Rssias" agora era prisioneiro dos revolucionrios bolcheviques numa casa deEcaterimburgo, oeste do pas. Nicolau foi conduzido com a mulher, o filho, as quatro filhas, o mdicoe os empregados para um quartinho dos fundos, onde 12 homens os esperavam com armas na mo.Depois do fuzilamento, o peloto se assustou ao ver que as filhas continuavam vivas - as balasricochetearam nas jias costuradas em seus vestidos. O jeito foi terminar o "servio" com golpes debaioneta.
Era o fim dos 300 anos da dinastia Romanov. Era tambm o fim de quatro sculos de domnio dosczares - dspotas com autoridade ilimitada sobre cada um de seus sditos. Ao longo da Histria,lderes eslavos, srvios e trtaros tambm receberam o ttulo de czar (derivado dos "csares" deRoma), mas na Rssia ele adquiriu carter especial. Usando uma mescla de terror e nacionalismoreligioso, os czares russos transformaram um reino minsculo numa potncia mundial e expandiramseu territrio at ter o dobro do tamanho do Brasil.
Para alguns historiadores, porm, o czarismo no morreu com Nicolau II. Seus mtodos autoritriosprosseguiram na era sovitica e ainda fazem a cabea dos lderes do Kremlin.
Moscvia
A semente do czarismo foi plantada no sculo 9, quando o chefe viking Riurk fundou uma dinastia emNov-gorod, no noroeste da atual Rssia. Seus descendentes ampliaram o reino at Kiev (Ucrnia),converteram-se f ortodoxa - ramo do cristianismo que rompeu com o catolicismo romano no sculo11 e se espalhou nos domnios do Imprio Bizantino. Os descendentes de Riurk usaram o termo "Rus"para descrever seu povo e sua terra. No fim do sculo 12, o reino se fragmentou em principados rivaise as disputas favoreceram a invaso de Rus pelos trtaros - um povo turco muulmano que pertenciaao imprio mongol.
"Os trtaros queimaram cidades e mataram milhares. Naquela poca de intensa devoo, os russospensaram que era um castigo divino", diz o historiador Ronald Hingley, da Universidade de Oxford. Osinvasores pouparam o principado de Novgorod, com a condio de que seu prncipe, AlexandreNevsky, lhes pagasse altos tributos. Foi quando tudo comeou. Daniel, filho de Alexandre, tornou-seprncipe de um vilarejo chamado Moscou - e comeou a anexar terras. As conquistas tiveram sinalverde dos trtaros, mais preocupados em incentivar as brigas entre os principados fortes. Em troca,os moscovitas obedeciam e pagavam impostos. Resultado: em sete dcadas, o reino de Moscviacresceu oito vezes. Em 1326, desbancou Kiev como sede da Igreja Ortodoxa. Seus lderes adotaram ottulo de vseya Rusi ("de toda a Rus"), traduzido em geral como "de todas as Rssias". A essa altura,Moscou j fugia ao controle dos trtaros e criou um regime autoritrio cujo prncipe, chamado de czardesde meados do sculo 15, governava com o apoio de uma faco aristocrtica.
"A poltica de Moscvia se parecia com a de Al Capone: para vencer os outros reinos, seus lderestinham de ficar unidos e reconhecer o poder absoluto do prncipe. A crueldade e a unidade eramrecompensadas, e os principais cls se beneficiavam da expanso", diz Dominic Lieven, professor deHistria Russa na London School of Economics. "Sobre essa poltica de estilo gngster, a IgrejaOrtodoxa carimbou um selo de aprovao." O czar contava com autoridade ilimitada pois seu poder
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emanava de Deus. A igreja se beneficiava do aumento do poderio russo, pois crescia dentro docristianismo.
Nos 600 anos seguintes, o principado de Moscou cresceria at ocupar um sexto do planeta. E seushabitantes veriam na monarquia absoluta a nica forma de evitar o caos.
A saga dos Ivs
Talvez o czar moscovita mais eficiente tenha sido Iv III. Em 43 anos de governo, ele explorou asrivalidades dos trtaros do mesmo jeito que eles tinham feito com os russos. Insuflou o nacionalismoentre o povo e quadruplicou o tamanho do reino. Depois festejou a glria ampliando a construo doKremlin, a fortaleza que at hoje abriga o governo russo. No foi toa que ele ficou conhecido pelaalcunha de Iv, o Grande.
Com a conquista de Constantinopla (Bizncio) pelos turcos, em 1453, Moscou se proclamou centro dacristandade e herdeira do Imprio Romano do Ocidente (Bizantino). "Moscou, a terceira Roma!",ouvia-se agora no Kremlin. Iv III tambm inaugurou a prtica de deportaes em massa, que seriamusadas pela Unio Sovitica. Sua crueldade seria mantida por seu filho Vassily III e passaria dos limitescom seu neto Iv IV - chamado tambm de "o Terrvel."
"Iv IV integra o grupo de superlderes russos ao lado de Pedro, o Grande, Catarina, a Grande, Lnin eStlin", diz Hingley. "Todos aplicaram o terror em defesa de si e do regime. Mas enquanto Pedro,Catarina e Lnin se limitaram a objetivos polticos, Iv IV e Stlin praticaram uma matanaextravagante que desafia qualquer compreenso."
O terrvel rebento tinha s 3 anos ao ser escolhido czar, e por isso sua me assumiu o trono. Com amorte dela (supostamente envenenada), o pas virou palco de lutas entre os boiardos, nobresproprietrios de terras. Eles supervisionaram a criao de Iv, maltratando-o a ponto de faz-lopassar fome, o que no explica completamente a brutalidade do futuro prncipe. Para muitospesquisadores, ele sofria surtos de paranoia.
Certo que Iv IV se casou com a princesa Anastcia em 1547, ano em que foi coroado oficialmentecom o ttulo de "Czar de Toda a Rssia" e ficou conhecido como "o primeiro czar". Seu reinadocomeou bem: ele derrotou os trtaros e expandiu seus domnios no leste at o mar Cspio e aSibria, transformando Moscvia num estado multitnico. Aps matar boa parte dos boiardos,vingando os maus-tratos que sofrera na infncia, ele deu espao poltico a pessoas comuns, comoartesos, professores e profissionais liberais, ao criar o Zemsky Sobor (Assembleia da Nao), quetambm reunia membros do clero e da nobreza. Mas a morte de Anastcia, tambm supostamenteenvenenada, em 1560, provocou um piripaque na cabea do monarca. Ele prendeu seus conselheiros eabriu fogo contra o povo. O terror ficou a cargo da Oprichnina, um esquadro de cavaleiros vestidosde preto e com carta-branca para matar quem quisessem. Ao contrrio dos outros czares, Iv IVpresenciava as execues e maquinava formas de morte. Em 1570, uma plateia em Moscou viu comoele e seus homens desmembravam e ferviam vtimas suspeitas de traio.
Iv IV casou com outras seis mulheres sem se firmar com nenhuma, e ainda se meteu numa guerrasuicida contra suecos, poloneses e lituanos. Queria obter acesso ao mar Bltico, mas acabouderrotado. Tanto deslize favoreceu outra invaso de Moscou pelos trtaros. Desavenas na famliatambm causaram uma tragdia pessoal: num de seus ataques de fria, o czar golpeou seu filho IvIvanovich na cabea com uma bengala de ferro, matando-o. Amargaria essa dor por toda a vida. Omaior mistrio em torno de Iv IV foi sua enorme popularidade. Embora tenha matado maiscamponeses que boiardos, ele seria lembrado na URSS como caador de nobres. No toa que Stlingostava de comparar a Oprichnina com a polcia secreta sovitica, a NKVD (depois KGB).
A era Romanov
Passado o furaco Iv, os boiardos voltaram a brigar pelo poder, provocando uma poca dedevastao e pilhagens conhecida como "Tempo dos Problemas". A dureza s terminou em 1613,quando a Assembleia da Nao escolheu o novo czar: Mikhail Romanov - o primeiro de uma dinastiaque duraria 300 anos.
Nenhuma dinastia dura tanto tempo sem intrigas. Foi assim com Pedro I e sua irm Sofia. Como eletinha s 9 anos ao ser coroado, em 1682, ela virou regente. Aos 17, Pedro viu que a irm queria tir-loda jogada e, com o apoio da nobreza, confinou-a num convento. Assumiu com um grande objetivo:transformar a Rssia num Estado europeu moderno.
Assim, Pedro I organizou o Exrcito e a Marinha, estabeleceu relaes com outros pases e traduziulivros para o russo. Tambm derrotou os suecos em 1709 na batalha de Poltova.Ela marcou aconquista da supremacia russa no nordeste da Europa e a entrada do pas no clube das grandespotncias. Mais: Pedro I conquistou parte da Estnia e chegou sonhada costa do Bltico - no extremomais prximo ao restante da Europa. L fundou So Petersburgo e fez dela a capital da Rssia,deixando claro que o reino de Moscvia era coisa do passado. Assim levava adiante seu projeto deaproximao da cultura europeia, que se refletiu na arquitetura da cidade. Ele acreditava que aformao da Rssia moderna deveria se guiar no modelo das naes europeias, o que causou umagrande ciso cultural no pas. De um lado estavam os "ocidentalistas", que apoiavam Pedro; de outro,os "eslavfilos", que rejeitavam as reformas liberais e queriam resgatar o passado idlico, rural eautctone russo. Alm disso, a mudana da capital para So Petersburgo mergulhou a aristocracia emexcessos palacianos nos moldes de Versalhes. Tudo isso contribuiu para o enfraquecimento da cortena Revoluo de 1917.
Ao botar uma p de cal em Moscvia, Pedro proclamou o Imprio Russo e assim ganhou trs ttulos:imperador de toda a Rssia, grande pai da terra e Pedro, o Grande. Por trs de toda essa pompa,estava o aparato brutal de sua guarda militar, a Preobrazhensky. "A longa histria da Rssia como umaburocracia terrorista comeou de fato com o imperador", diz Hingley.
Ao contrrio de Iv IV, Pedro I era frio, racional. Foi assim que lidou com o rebelde mais famoso doreino: seu filho Alexis, que no aguentou as cobranas do pai e fugiu da Rssia, mas foi caado. "Seupai o matou a sangue-frio, ao contrrio do surto que levou Iv a matar o filho dele", afirma Hingley.
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No fim das contas, o grande "modernizador" no se importou com os camponeses. Ao contrrio:manteve-os na servido, como meros objetos pertencentes ao Estado e aos nobres. Enquanto a eliterussa se parecia cada vez mais com a europeia, a massa ainda vivia na Idade Mdia.
Catarina, a Grande
Frederica Sofia era uma princesinha sem grandes chances de subir na vida. Seu pai era um dos tantosnobres decadentes da Prssia do sculo 18. Mas, aos 15 anos, a czarina Isabel a convidou paraconhecer seu sobrinho, o prncipe herdeiro Pedro III, neto de Pedro, o Grande. Isabel achava que elaseria mais dcil que uma nobre de alta linhagem para se casar com o futuro czar. Ledo engano!
Para realizar a boda, Sofia se converteu f ortodoxa e passou a se chamar Catarina. Mas ocasamento logo azedou. Alm de obcecado pela disciplina prussiana, Pedro era imaturo e impotente.Ou estril, como diziam os fofoqueiros da corte. Seja como for, os dois no se bicavam - e ela decidiudisputar o trono sozinha. "Catarina sabia que s seria aceita se parecesse russa. Passava noitesaprendendo o novo idioma", diz Henri Troyat na biografia Catarina, a Grande.
Quando Pedro III assumiu o trono, Catarina sentiu o perigo: o marido a deixaria para se casar comoutra. Mandou ento seu amante Grigori Orlov, membro da guarda imperial, dar cabo do czar. O cleroe a nobreza apoiaram o golpe e aclamaram a nova imperadora: Catarina II. Ela estabilizou o reino econquistou prestgio entre os europeus. Tambm abocanhou terras da Turquia, coisa que nem Pedro,o Grande, havia feito.
Mas ai de quem criticasse seu governo. O escritor Alexandre Radishchev foi exilado na Sibria. JYemelyan Pugachov, lder de uma rebelio dos cossacos, terminou esquartejado. E, quanto maispoderosa Catarina ficava, mais amantes ela tinha (leia quadro na pg. 30). "Em 1796, seu filho Paulo Ia sucedeu disposto a reverter tudo o que a me havia feito. Os dois se odiavam", diz Troyat. De fato,Paulo anistiou Radishchev, prestou homenagens ao pai (Pedro III) e baixou regras prussianas. Porexemplo, proibiu o uso de chapus redondos e ternos francesa. At hoje ningum sabe quemmandou mat-lo, ou quem foi seu pai biolgico. S se sabe que seu filho Alexandre I, o neto querido eprotegido da czarina Catarina, no perseguiu seus assassinos ao assumir o trono.
Gigante de papel
A Rssia entrou no sculo 19 cheia de contradies. Seus canhes causavam medo, mas seus 14milhes de habitantes continuavam na misria. Somariam 60 milhes em 1835, graas anexao deterras - 95% deles viviam no campo. Era preciso modernizar o pas, mas isso ameaava o poder dosczares. Como dar liberdade ao povo sem perder o controle da nao?
Esses foram os dilemas de Alexandre I, o czar que botou para correr as tropas do general francsNapoleo Bonaparte e desfilou triunfante em Paris. A vitria aumentou a autoestima russa, mascolocou as tropas em contato com as ideias da Revoluo Francesa. Os oficiais voltaram para casaquerendo um sistema constitucional. E os soldados, emancipao. Alexandre I at falou em reformasliberais, mas era tudo fachada. Sua maior preocupao foi consolidar a Rssia como pea-chave doCongresso de Viena - o pacto celebrado pelas potncias europeias em 1815 para restaurar amonarquia aps a derrota de Napoleo. Ao lado da Prssia e da ustria, ele fundou a Santa Alianapara reprimir as revolues no continente em nome da f crist.
A tarefa continuou com seu irmo Nicolau I, outro czar que sonhava transformar a Rssia em co deguarda da Europa. Mas ficou s no sonho: vrias revolues surgiram em 1848 e puseram fim SantaAliana. Nicolau I foi derrotado por ingleses, franceses e turcos na Guerra da Crimeia - prova dafraqueza russa. Faltava tudo, de locomotivas a munio. E faltava acabar com a servido. Foi o quefez Alexandre II, filho de Nicolau I. "Ele libertou mais escravos que o presidente americano AbrahamLincoln, e sem guerra civil no meio", diz Hingley. Mas as mudanas s jogaram mais gua no caldeirorevolucionrio. Os socialistas diziam que os libertos viraram escravos da burguesia. Alexandre IIescapou de vrios atentados at que, em 1881, foi dilacerado por uma granada caseira.
O fim
No era fcil ser czar no sculo 20. Alexandre III sabia que no repetiria as faanhas de seusantepassados. Ele bem que tentou reviver a trilogia "autocracia, ortodoxia e nacionalismo", mas emvo. Pouca gente ainda aceitava que a vontade do czar era a vontade de Deus. E outra: insuflar onacionalismo num imprio multitnico, onde apenas 46% dos habitantes eram russos, apenas acionouuma bomba-relgio. Enquanto o movimento revolucionrio crescia, os monarcas culpavam os judeuspela crise e matavam milhares nos pogroms, massacres em pequenos vilarejos de israelitas. Entre1880 e 1920, cerca de 2 milhes de judeus russos emigraram para as Amricas fugindo dessasperseguies.
A hora da imploso estava perto. Em 1904, a Rssia cambaleou numa guerra contra o Japo. Em 1905,centenas de manifestantes morreram ao exigir liberdade em So Petersburgo - num dia lembradocomo Domingo Sangrento. Em 1917 no teve jeito: Nicolau II abdicou. Foi fuzilado por ordem deVladimir Lnin, lder dos bolcheviques. Era a vez deles de derramar sangue. A URSS imps uma novaideologia, mas manteve a velha lgica: quanto mais inocentes matasse, menores as deseres e maiora certeza de que todos marchariam rumo vitria final. Durou 70 anos. Hoje, especialistas veem aresde czar no ex-KGB, ex-presidente e atual primeiro-ministro russo Vladimir Putin. "A Rssia abraououtra vez o czarismo por vrias razes. O pas tem longa tradio de um poder indivisvel e quasesagrado. A democracia um conceito negativo no imaginrio popular, sinnimo de um pode-tudoonde s os ladres prosperam. Alm disso, a maioria das pessoas associa estabilidade com um lderforte", diz Dmitri Trenin, ex-oficial do Exrcito russo e diretor do Centro Carnegie de Moscou.O Kremlin exerce controle cada vez maior sobre as TVs e o Parlamento, enquanto jornais esto sendocomprados por empresrios amigos do governo. Coisas de czar...
Os amantes de CatarinaA czarina era ninfomanaca e no podia viver nem uma hora sem amor
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Ter amantes era uma prtica comum na corte imperial russa. Mas Catarina II foi insupervel. Aos 23anos, depois de oito sem dividir a cama com o marido, Pedro III, ela conheceu os prazeres da carnecom o jovem Sergei Saltikov. "Ele era lindo como o dia", escreveu Catarina em suas memrias, dandoa entender que o mancebo era o pai de seu filho, Paulo I. Saltikov se cansou da imperadora, masmuitos outros viriam. "Minha desgraa que meu corao no pode se contentar nem uma hora se notem amor", ela confessou em seu dirio. Sorte de Estanislao Poniatowski, um virgem de 23 anosenviado pelo embaixador ingls. Foi o brinquedinho de Catarina, que passou a gastar fortunas comseus amantes. De todos, o mais poderoso foi o tenente Grigori Potiomkin. Ele influa nas decises daczarina, e talvez tenha sido o nico que ela amou. "Potiomkin vivia no palcio. S precisava dar doispassos, subir uma escada e j estava no aposento real. Chegava desnudo por baixo da bata", diz obigrafo russo Henri Troyat. Quando o sexo esfriou, Potiomkin passou a selecionar os novos"favoritos".Ser "favorito", alis, era uma profisso. O sujeito recebia salrio, e quando deixava de agradar eraindenizado com terras, rublos e escravos. "Em seguida, abandonava discretamente seus aposentos,enquanto Potiomkin escolhia o substituto", diz Troyat. "O novo candidato era examinado por ummdico e depois submetido a uma prova ntima com uma condessa, que passava um relatrio aCatarina. S ento ela tomava a deciso."
Revolta dezembristaMal-entendido provocou levante popular com consequncias trgicas
O imprio russo viveu uma bela trapalhada em 1825, e tudo por causa de um mal-entendido. Naqueleano, o czar Alexandre I morreu sem deixar herdeiro direto. Quem devia ento assumir o trono era seuirmo Constantino I, vice-rei da Polnia. Mas Constantino no queria saber de ser rei. Havia firmadoum manifesto no qual transferia esse direito ao irmo mais novo, o belicoso Nicolau I. O problema que ningum sabia do documento, cujas cpias ficaram mantidas em segredo no Senado e no SantoSnodo (cpula ortodoxa). "Nicolau ignorava o manifesto e jurou fidelidade a Constantino. S umarenncia oficial do irmo poderia faz-lo assumir", diz o bigrafo russo Henri Troyat. Assim, enquantoConstantino demorava para se pronunciar, Nicolau ficava sem ao, sabendo que era mais impopularque o irmo. Quando Nicolau finalmente assumiu, as tropas do Exrcito j tinham jurado lealdade aConstantino.
Foi no meio dessa sinuca que eclodiu uma revolta em So Petersburgo. Os lderes eram oficiais quequeriam instaurar uma monarquia constitucional nos moldes europeus, e achavam que era seu deverdefender Constantino contra o irmo. Em 14 de dezembro, milhares de revoltosos se uniram aolevante e invadiram a praa do Senado. Com armas na mo e vodca na cabea, eles gritavam a favorde Constantino e da Constituio. "Alguns achavam que a Constituio era mulher de Constantino",afirma Troyat. Mal liderados, os rebeldes no avanaram para tomar o poder. Tampouco obedeceramas ordens de Nicolau de cair fora da praa. O czar ordenou que se abrisse fogo contra a multido,resultando em dezenas de mortos (talvez mais), 3 mil presos, cinco enforcamentos e centenas deexilados na Sibria. Tudo por culpa de um mal-entendido.
Ovos FabergJoia personalizada era ofertada na Pscoa no lugar do ovo tradicional
Entre os objetos que simbolizam a opulncia dos czares russos, nenhum to rico em detalhes esurpresas quanto os ovos de Faberg. Fabricados pelo ourives que deu nome s peas, eramverdadeiras joias em formato ovalado. A histria comea quando o czar Alexandre III quis surpreendersua esposa, a czarina Maria Feodorovna, na Pscoa de 1885. Um dos rituais dos seguidores da IgrejaOrtodoxa era trocar ovos na celebrao da reencarnao de Cristo, como se faz em todo o mundocatlico, nos dias de hoje. Mas antigamente os ovos eram de galinha mesmo, e no de chocolate. Odetalhe era adorn-los com pinturas. Quando o czar encomendou um ovo de ouro, a Pscoa dadinastia Romanov nunca mais foi a mesma. A cada ano, Faberg fabricava um ovo mais caprichado,elaborado com esmalte, metais e pedras preciosas. Os ovos sempre continham surpresas em seuinterior, que s vezes recontavam episdios da histria russa e conquistas do exrcito ou reproduziamgrandes obras arquitnicas. Em 2007, um exemplar foi leiloado por 18,7 milhes de dlares.
Saiba mais
LIVROS
Russia, a Concise History, Ronald Hingley, Thames and Hudson, 1972O professor de Oxford relaciona o czarismo com outros perodos da histria russa.
Catalina, la Grande, Henri Troyat, Ediciones B, 2005Biografia com detalhes sobre a vida pblica e privada da imperadora.
Nicols II, Dominic Lieven, El Ateneo, 2006Um livro sobre o ltimo czar que acaba sendo uma bela anlise de toda a era czarista.
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