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Ciência, tecnologia e
sociedade
Aula 5 _O surgimento de um sistema organizado de produção de tecnologia e
sua transformação
profa. Maria Caramez Carlotto
SCB 2° quadrimestre de 2016
A história das políticas de C&T
Embora o Estado moderno tenha financiado a atividade científica desde pelo
menos o século XVII, a ideia de que existe uma política nacional de ciência e
tecnologia só surgiu no começo dos anos 1950, quando alguns Estados nacionais,
reconhecendo o papel central desempenhado pela ciência no desenvolvimento de
novas tecnologias, sobretudo militares, passaram a coordenar ações de
financiamento, organização e rotinização da atividade científica.
aumento substancial do investimento público em ciência e tecnologia
particularmente em pesquisas ligadas à segurança nacional e à capacitação
militar
Paradigma das políticas de C&T no pós-
guerra (anos 1950)
Separação entre a produção e a comercialização do conhecimento científico:
Dicotomias como pesquisa básica/pesquisa aplicada, ciência/tecnologia, regime
público/regime privado, embora insuficientes, originam-se nessa separação e por
ela se justificam.
Marco histórico: relatório Bush: “uma nação que depende de outras para
obter conhecimento científico básico novo será lenta em seu progresso
industrial e fraca em sua situação competitiva no comércio mundial” (Bush,
1990, p. 19).
Paradigma das políticas de C&T no pós-
guerra (anos 1950)
O pressuposto implícito nessa justificativa era de que o
processo de desenvolvimento tecnológico seguia uma
trajetória linear que partia da pesquisa básica, passava
pela pesquisa aplicada e pelo desenvolvimento de novos
produtos e processos até introduzi-los no mercado.
MODELO LINEAR DE INOVAÇÃO
Paradigma das políticas de C&T no pós-
guerra (anos 1950)
A linearidade envolvia, antes de tudo, uma dimensão temporal: os diferentes
momentos do processo de inovação — cujos extremos eram a produção de
conhecimento científico e sua introdução no mercado enquanto novo produto
ou processo — estavam separados no tempo e sucediam-se segundo uma
ordem determinada na qual a ciência “impulsionava” o resto do processo.
Além disso, as diferentes etapas do processo de inovação eram consideradas
como esferas independentes, perpassadas por lógicas distintas de
funcionamento e apartadas por fronteiras institucionais bastante precisas.
Paradigma das políticas de C&T no pós-
guerra (anos 1950)
Essa política definia que o Estado deveria concentrar-se no financiamento da
pesquisa “básica” e na formação da “mão de obra” científica. Como tanto a
pesquisa “básica” quanto a formação de pesquisadores eram conduzidas pelas
universidades e institutos públicos de pesquisa, grande parte do financiamento
público era destinada para essas instituições, que seguiam critérios acadêmicos
de distribuição dos recursos e de avaliação dos resultados.
Paralelamente, a comercialização desse conhecimento era considerada
responsabilidade do setor privado, que se apropriava dos resultados da pesquisa
universitária de forma indireta:
por meio da contratação de pesquisadores formados no meio acadêmico
Através de canais propriamente acadêmicos de comunicação
Paradigma das políticas de C&T no pós-
guerra (anos 1950)
Richard Nelson:
[para essa visão] fora da indústria, o trabalho dos cientistas é, e deve ser, motivado pela busca do entendimento, e as aplicações práticas que normalmente derivam da pesquisa bem-sucedida são largamente imprevisíveis (...) O acaso [serendipity] é a razão do porquê a pesquisa científica tem aplicações práticas, e as chances que esse acaso aconteça são maiores quando brilhantes e dedicados cientistas estão livres para atacar o que eles consideram como os problemas científicos os mais desafiadores da forma que eles entendem como sendo a mais promissora. Por essa razão, decisões sobre quais questões e a avaliação do desempenho dos cientistas individuais e dos grandes programas de pesquisa deveriam preferencialmente estar nas mãos dos cientistas que trabalham na área (Nelson, 2004, p. 456; grifo meu)
Políticas não-intervencionistas
Garantia de uma certa autonomia para a ciência.
MAS... Dizer que as políticas científicas correspondentes à
definição diferenciacionista da ciência pressupunham um
certo grau de “não intervenção” não implica afirmar que a
ciência realizada nesse período era isenta de interferência
social, portanto, alheia aos interesses econômicos e
políticos que orbitavam em torno dos seus resultados, ou
mesmo sugerir que não existiam formas externas de
controle do trabalho científico.
Em resumo:
As políticas científicas “não intervencionistas” baseavam-se, portanto, em
três pressupostos:
i) que a melhor forma de garantir o avanço da ciência era permitir que ela
funcionasse de acordo com as suas próprias regras;
ii) que era basicamente o avanço da ciência que impulsionava o
desenvolvimento da tecnologia;
iii) e, por fim, que esse desenvolvimento tecnológico não podia ser objeto de
controle e administração por se tratar de um processo social complexo e
marcado fundamentalmente pelo acaso.
A emergência da inovação como foco de
ação do Estado
É essa compreensão sobre o funcionamento da ciência e do seu processo
de aplicação comercial, bem como o modelo de política científica e
tecnológica a ela correspondente, que entram em crise no final da década
de 1970:
1) A primeira dessas mudanças é a transferência da ênfase do apoio à ciência
para a promoção da inovação, considerada, mais do que nunca, como fator
crítico da promoção do crescimento econômico e da competitividade das
empresas.
2) Outra mudança importante é que o processo de inovação — a
transformação de conhecimento em bens comercializáveis — passa a ser, aos
poucos, considerado um processo econômico como outro qualquer, de modo
que o Estado deve empenhar-se, progressivamente, na gestão do “acaso”
A emergência da inovação como foco de
ação do Estado
Nas últimas três décadas, o problema da inovação assumiu
progressivamente duas dimensões centrais:
i) a ideia de que o processo de inovação é um processo econômico
como outro qualquer, podendo ser medido segundo critérios de
eficiência econômica;
e ii) a percepção de que a gestão eficiente da inovação — o
aumento da eficiência do processo de comercialização do
conhecimento — torna-se não só possível como necessária.
Brasil: Nova Política Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação (2002)
A Nova Política Nacional de Ciência, Tecnologia
e Inovação incorpora, praticamente sem
mediações, a ideia de “Política de inovação” tal
como implementada nos países centrais a partir
dos anos 1980.
Nova Política Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação (2002)
O discurso oficial que fundamenta e justifica a nova
política ressalta a importância de seguir o exemplo
das nações “bem-sucedidas”, que implantaram
políticas de inovação e incentivaram a
comercialização do conhecimento científico,
especialmente daquele produzido por universidades
e laboratórios governamentais e financiado com
recursos públicos.
O discurso oficial
“A análise da sociedade e da economia internacionais indica que as
nações mais bem-sucedidas são as que investem, de forma sistemática,
em Ciência e Tecnologia e são capazes de transformar os frutos desses
esforços em inovações. (...) A via para o crescimento e o
desenvolvimento sustentado passa necessariamente pelas políticas de
promoção da competitividade, como estratégia de inserção. (...) Não
basta, porém, promover o desenvolvimento científico. Deve-se
reconhecer que é limitada a capacidade, até agora demonstrada no País,
em transformar os avanços do conhecimento em inovações traduzidas em
efetivas conquistas econômicas e sociais. É necessário, portanto,
difundir esse conhecimento e transformá-lo em fonte efetiva de
desenvolvimento. É por intermédio da inovação que o avanço do
conhecimento se socializa, e se materializa em bens e serviços para as
pessoas” (Brasil, 2002a, p. 26).
Livro branco de C&T&I (2002)
O que foi feito?
O que foi feito?
O que foi feito?
O que foi feito?
O que foi feito?
O que foi feito?
O que foi feito?
PINTEC
19 165 20 599
21 966
32 836
36 506
5 000
10 000
15 000
20 000
25 000
30 000
35 000
40 000
2000 2003 2005 2008 2011
Número de empresas com atividades de inovação
PINTEC
10 000 000
20 000 000
30 000 000
40 000 000
50 000 000
60 000 000
70 000 000
2000 2003 2005 2008 2011
Valor investido em atividades de inovação
Valor(1 000 R$)
PINTEC
7 412
4 941
6 168
4 701
7 447
1 000
2 000
3 000
4 000
5 000
6 000
7 000
8 000
2000 2003 2005 2008 2011
Número de
empresas com atividades de P&D
PINTEC
38,68%
23,99% 28,08%
14,32% 20,40%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
2000 2003 2005 2008 2011
Percentual das empresas que investem em p&d em relação ao total de empresas que implementaram inovação de produto ou
processo
PINTEC
PINTEC
10,29% 5,86% 6,47%
4,40% 5,79%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
2000 2003 2005 2008 2011
Percentual em relação ao total de empresas
PINTEC
31,52% 33,27%
34,41%
38,61%
35,70%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
1998-2000 2000-2003 2003-2005 2006-2008 2009-2011
Tít
ulo
do E
ixo
Percentual de empresas que implementaram inovações segundo a PINTEC
INPI
INPI
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