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CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
Relatório de Estágio para candidatura ao grau de
Mestre em Enfermagem Oncológica
Submetida ao Instituto de
Ciências Biomédicas de Abel Salazar da
Universidade do Porto.
Orientador – Professor Doutor Carlos Lopes
Categoria – Professor catedrático
Afiliação – Instituto de Ciências
Biomédicas Abel Salazar da
Universidade do
Porto.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Ou o Sol gira ao redor da Terra, ou a Terra gira em torno do
Sol.
Os doentes podem estar em órbita dos seus prestadores de
cuidados ou estes em orbita dos seus doentes
(Steven Lewis)
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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Agradecimentos
Ao Professor Doutor Carlos Lopes que, desde o inicio, se disponibilizou para
orientar este relatório que, quanto sei, é o primeiro em enfermagem oncológica
no âmbito do mestrado em Oncologia ministrado pelo Instituto Ciências
Biomédicas Abel Salazar, e que mostrou as opções de caminho a seguir
estimulando a sua persecução;
Ao Sr. Enfermeiro Jorge Lima pelo apoio e disponibilidade que sempre
demonstrou para conversar comigo e com os responsáveis pelas clínicas onde
decorreu o estágio e pelas opiniões e sugestões com que me presenteou;
A todos os profissionais das clínicas e serviços por onde passei, principalmente
aos enfermeiros que, com paciência, me explicaram os objectivos e a dinâmica de
cada local e me ajudaram a compreender os procedimentos necessários;
Aos meus colegas da medicina oncológica (piso 3) e do Hospital de Dia, pela
disponibilidade demonstrada de modo a permitir-me poder cumprir as horas de
estágio e pelas chamadas de atenção a determinados focos de atenção deste
relatório;
Aos meus amigos, que me deram sempre alento nas horas de menor motivação;
Aos meus pais e aos meus sogros e que se disponibilizaram para colmatarem as
minhas ausências em casa, ficando com o meu filho e cuidando dele com o maior
carinho;
Ao meu marido, pelo tempo que lhe roubei, pela compreensão, paciência e amor
que me demonstrou durante todo o tempo que durou o estágio e a conclusão
deste relatório, estando sempre ao meu lado nos melhores e piores momentos
nunca reclamando das minhas ausências;
Ao meu filho, Miguel, que no seu primeiro ano de vida não usufruiu, como
merecia, do tempo de estar com a sua mãe.
A todos o meu MUITO OBRIGADA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Neste momento, os cuidados centrados no doente são uma preocupação das
instituições de saúde em geral como resposta ao documento “Requisitos para a
prestação de cuidados em oncologia” elaborado pela coordenação nacional para
as doenças oncológicas em Dezembro de 2009, dirigidos a toda a comunidade,
mas mais especificamente aos profissionais de saúde, numa perspectiva holística
de cuidados. A filosofia dos cuidados centrados no doente baseia-se num modelo
de prestação de cuidados em que o doente é participante activo do seu processo
de doença e cura e em que a sua dimensão é envolvida em todos os cuidados
prestados, adquirindo por isso um plano de cuidados único e individual.
A comunicação e a confiança nos profissionais de saúde são de vital importância
para que os doentes/família se sintam participantes activos na tomada de decisão
do seu processo de doença/ tratamento e espera-se que o resultado se traduza
num maior envolvimento do doente e família em todas as fases do processo e,
consequentemente, na melhoria significativa nos diferentes aspectos (físico,
psicológico, familiar e social).
O estágio decorreu no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Porto,
nas clínicas de patologia multidisciplinar da mama, digestiva, de cabeça e
pescoço, oncohematologia e no serviço de cuidados paliativos num total de 350
horas (70h por cada local).
No decorrer do estágio foi possível a percepção de que a maioria das práticas
exercidas, em algumas clínicas, vão de encontro à filosofia dos cuidados
centrados no doente, enquanto noutras existe um espaço para alteração de
práticas e comportamentos para que estejam de acordo com o conceito. A
dificuldade maior observada foi a falta de tempo e disponibilidade emocional dos
profissionais aliadas à resistência em alterar modelos de prestação de cuidados
bastante enraizados que não vão de encontro à filosofia dos cuidados centrados
no doente.
No final deste relatório apresenta-se um conjunto de sugestões na expectativa de
que alguns dos problemas identificados possam ser solucionados e para que se
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possa manter o nível de excelência que sempre caracterizou a instituição onde se
realizou o estágio.
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At this time, patient-centered care is a concern of health institutions in general as
a response to the document "Requirements for the provision of care in oncology"
prepared by the National Coordination for malignancy in December 2009, but
mainly for professionals in a perspective of holistic health care. The philosophy
of patient-centered care is based on a model of care where the patient is an active
participant in their disease and healing process and it is involved in his whole
dimension in care, so getting a plan unique and individual care.
Communication and trust in health professionals are vital to the patients/families
feel as active participants in decision-making process of their disease/treatment
and it is expected that the result will translate into a greater involvement of the
patient and family in all phases of the process and, consequently, substantial
improvement (physical or psychological).
The stage took place in the Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do
Porto, in the multidisciplinary clinical pathology of the breast, gastrointestinal,
head and neck, hemato-oncology and palliative care sticks for a total of 350
hours (70 hours in each place).
During the stage it was possible the perception that the majority of the practices
carried out in some clinics, goes in favor of the philosophy of patient- centered
care, while in others there is room for a change of practices and behaviour that
are consistent with the concept. The greatest difficulty found was the lack of
time and emotional availability from the professionals allied to the resistance in
changing the models of care very deeply rooted that are against the philosophy
of patient- centered care.
At the end of this report, some suggestions are made in order to try to solve
some of the problems witch were identified and to maintain the level of
excellency which always characterized the institution where the stage took place.
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CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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I 14
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MODELOS MÉDICOS – DOENTE 23
PAPEL DO ENFERMEIRO 25
- COMUNICAÇÃO 28
38
CLINICA MULTIDISCIPLINAR DE PATOLOGIA DA MAMA 45
ONCOHEMATOLOGIA 50
SERVIÇO DE CUIDADOS PALIATIVOS 54
CLINICA MULTIDISCIPLINAR DE PATOLOGIA DE CABEÇA E PESCOÇO
60
CLINICA MULTIDISCIPLINAR DE PATOLOGIA DIGESTIVA 64
- DISCUSSÃO 68
CONCLUSÕES 76
SUGESTÕES 80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 84
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Objectivos gerais 88
Objectivos de clínica multidisciplinar da mama 89
Objectivos de clínica de oncohematologia 90
Objectivos de Serviço de Cuidados Paliativos 91
Objectivos de clínica multidisciplinar de cabeça e pescoço 92
Objectivos de clínica multidisciplinar de patologia digestiva 93
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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INTRODUÇÃO
Para elaborar este relatório, que se pretende, sobretudo, de reflexão sobre a
enfermagem em oncologia, importa construir um fio condutor que ligue a
enfermagem oncológica às diversas patologias observadas.
Como tal, achou-se pertinente concentrar a atenção no modo como está a ser
aplicado no concreto o conceito dos cuidados centrados no doente.
Nos cuidados centrados no doente este e a sua família deverão ser considerados
de uma forma abrangente, com os seus valores, tradições e cultura e, por isso,
serem objecto dos cuidados integrados da parte de todos os profissionais do
local no qual o doente está a ser acompanhado. Estes cuidados centrados no
doente devem estar baseados na comunicação e envolver os doentes e familiares
nas opções de tratamento e nos potenciais resultados, envolver o doente em
todos os aspectos do seu tratamento e incentivar a procura da melhor solução na
gestão do tratamento.
Os cuidados centrados no paciente exigem que seja fornecida a todo o pessoal a
formação em relações interpessoais e na capacidade de exibirem por todos os
doentes e pessoas que com ele se relacionam o maior respeito sem, contudo
caírem na condescendência. (McKarens, 2007).
Esta ideia tem vindo a ser desenvolvida no IPO-Porto (instituto Português de
Oncologia do Porto), instituição onde decorreu o estágio, e que tem investido
recursos para a sua implementação generalizada, tal como se encontra descrito
no seu regulamento interno (artigo 9):
”O doente oncológico é o centro em torno do qual se deve construir toda a
actividade assistencial pelo que os meios humanos e técnicos devem ser
organizados de forma a proporcionar cuidados personalizados, homogéneos e
abrangentes.
O IPO Porto mantém a multidisciplinaridade como forma de abordagem da
doença neoplásica capaz de oferecer um tratamento integrado e sequencial, de
acordo com os mais elevados padrões científicos e humanos” (Instituto Português
de Oncologia Francisco Gentil do Porto, EPE, 2006, pagina 3)
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Pretende-se assim analisar de modo crítico a forma como este conceito está ser
aplicado pelos profissionais que operam dentro da esfera oncológica, no IPO –
Porto em confronto com as práticas observadas. Embora, em alguns momentos,
possa parecer demasiado severo o modo como se faz este confronto, a verdade é
que se reconhece que existem dificuldades e obstáculos a que os profissionais
são alheios, de diversas etiologias, cuja complexidade coloca dificuldades
acrescidas e que são escolhos para se alcançar a perfeição e a completa
excelência na prestação dos cuidados.
Sendo o cancro a segunda causa de morte em Portugal, segundo os dados de
2009 do instituto nacional de estatística, e o número de pessoas, de alguma
forma afectada por esta doença, cada vez maior, julgou-se relevante analisar este
tema pois o tipo de cuidados prestados foi evoluindo de forma significativa
colocando novos problemas e desafios aos profissionais de saúde que tiveram
que se adaptar muitas vezes sem apoio ou formação necessária obrigando-os a
romper com práticas estabelecidas e já rotinadas.
A sobrevivência, as recidivas, as alterações da imagem, os tipos e duração de
tratamentos, a forma como influencia as actividades de vida individuais e
familiares, fazem do cancro uma doença que exige o envolvimento de uma
equipa multidisciplinar que adapte cada vez mais os cuidados às necessidades
dos doentes. O tipo de cuidados em oncologia tem, necessariamente, que ser
diferente de outras patologias pois a doença tem muitas outras implicações, em
diferentes áreas tão diferentes como a genética, a psicologia, a economia, a vida
social e cultural e a vida familiar.
Os requisitos para a prestação de cuidados em oncologia, documento elaborado
pela coordenação nacional para as doenças oncológicas (CCDO) em 2009,
pretende estabelecer a “matriz” de avaliação das instituições e serviços que
prestam cuidados a doentes oncológicos. Este organismo define requisitos gerais
no que diz respeito à reunião de orientação multidisciplinar, protocolos
terapêuticos, continuidade de cuidados, diagnóstico anátomo-patológico,
comissão coordenação oncológica (CCO), integralidade dos tratamentos, registos
oncológicos e auto-avaliação anual de indicadores de qualidade. E define também
alguns requisitos específicos quanto aos tratamentos que são efectuados em
oncologia: cirurgia, radioterapia e oncologia médica.
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O IPO do Porto, sendo considerado um centro oncológico, de acordo com o plano
nacional de prevenção e controlo de doenças oncológica de 2009, segue as
recomendações, directrizes e requisitos propostos pela CCDO.
Alguns destes requisitos relevantes para o tema, não serão abordados neste
relatório pois não foram observados no curso do estágio (embora funcionem em
nível 1 – centro oncológico) mas outros serão amplamente referenciados dada a
sua importância vital e visível nos cuidados centrados no doente.
A experiência profissional deu o mote à verbalização do sentimento que se
mantinha latente há já algum tempo sobre as necessidades que os doentes
sentem na articulação dos cuidados dentro da sua equipa de saúde e na
segurança na forma como os cuidados lhes são prestados nomeadamente na
tomada de decisão e na relação com os profissionais de saúde e com a própria
instituição onde estes mesmos cuidados são prestados. A experiência como
enfermeira no serviço de medicina oncológica durante seis anos foi um factor
essencial na tomada de consciência desses sentimentos dos doentes e familiares.
Durante este tempo foi possível a percepção que alguns doentes e familiares se
sentem perdidos na imensidão de corredores, consultas, tratamentos, exames,
internamentos, especialidades, etc. sem referências a quem possam recorrer em
caso de necessidade.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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Os cuidados centrados no doente de acordo com a publicação do Institute for
Heathcare Improvement (IHI) consistem num tipo de cuidado que tem o doente
como o verdadeiro centro da sua acção e que considera as suas tradições
culturais, as suas preferências e valores pessoais, a situação familiar e seus
estilos de vida como elementos a ter em conta em todas as fases do processo.
Isso torna o doente e seus familiares, ou outros significantes, como parte
integrante da equipa de assistência que juntamente com os profissionais de
saúde colabora na tomada de decisões.
Os cuidados centrados no doente implicam a partilha da responsabilidade com os
doentes em aspectos tão importantes como o auto-cuidado e o acompanhamento
da terapêutica juntamente com as ferramentas e o suporte de que necessitam
para realizar essa responsabilidade e asseguram que as transições entre os
prestadores de cuidados, departamentos e instituições de saúde são respeitadas,
coordenadas e eficientes, conforme se pode observar na figura 1.
FIGURA 1 – REQUISITOS PARA MODELO DE CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE
Doentes e familiares
informados e
participantes activos
Sistema de
saúde/instituição
acessível, organizada e
responsável
Modelo clínico
centrado no doente
CUIDADOS
CENTRADOS NO
DOENTE
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Avançar com os cuidados centrados no doente é claramente um desafio
multifacetado e muitas organizações estão a trabalhar para identificar as
melhores práticas e mudanças necessárias no sistema em três áreas:
Envolvimento dos doentes e seus familiares no projecto de atendimento
Fiabilidade na satisfação das necessidades e preferências do doente
Informação e tomada de decisão compartilhada
A Change Foudantion, com sede em Ontário, tem desenvolvido algum trabalho na
área dos cuidados centrados no doente e, de acordo com os seus estudos
efectuados para um melhor entendimento da perspectiva da experiência dos
doentes (Junho, 2008), aponta alguns elementos que os doentes identificam
como importantes nos seus cuidados, nomeadamente:
O cuidado compreensivo – o cuidado às necessidades na sua globalidade e
não apenas em parte delas.
Coordenação dos cuidados – alguém identificado como referência a quem
recorrer e que o pode ajudar no sistema de saúde.
Oportunidade – os cuidados devem ser prestados quando os doentes deles
precisam e quando é necessário uma sequência de serviços, os intervalos
deverão ser curtos.
Informação em saúde – providenciar a informação e assegurar que a
informação está disponível para consulta.
Comunicação clara e fiável – ouvir, explicar, clarificar e assegurar que a
equipa de prestação de cuidados está em sintonia.
Conveniência – minimizar a necessidade de recorrer a diferentes locais
para os serviços, acessos amplos, agendamentos, etc.
Respeito – pelo tempo, pelas capacidades cognitivas de cada indivíduo,
pela veracidade das suas histórias, pelo retorno sobre qualidade e
efectividade, pelo ambiente do doente e seus familiares.
Empatia e compreensão – pelas circunstâncias, medos, esperanças, estado
psicológico,
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Tempo – para expressar as suas necessidades e ser efectivamente
escutado.
Justiça - quantidade e pontualidade do serviço compatível com a
necessidade.
Segundo Lewis (2009), alcançar os cuidados centrados no doente requer um
ajustamento cultural e exige algumas atitudes e comportamentos por parte dos
profissionais/instituições de saúde que podem acelerar a eficácia dos cuidados
centrados no doente, entre os quais:
Vontade de participar em equipas não hierárquicas de modo a garantir
que os doentes usufruem de cuidados bem integrados e adequados;
Vontade de adoptar uma estrutura de incentivos que motiva
a disponibilizar o tempo adequado a doentes com necessidades
complexas;
Confiança e encorajamento aos doentes que desejam ser activamente
envolvidos na gestão da sua própria saúde;
Compromisso com a organização do sistema de prestação de cuidados em
tempo útil e adopção de ferramentas e técnicas que dão prioridade no
acesso do paciente em vez da conveniência do prestador de cuidados
fornecedor;
Vontade de corrigir as falhas em qualquer um dos principais indicadores
dos cuidados centrados no doente e suas dimensões e aplicar de
imediato soluções;
Acolher as tecnologias de informação em saúde e outras tecnologias que
aceleram a comunicação, fluxo e eficiência.
O autor refere também que todos esses atributos levam à conclusão de que essas
atitudes e comportamentos são essencialmente aspectos não técnicos do
trabalho. Muitos dos problemas dos cuidados centrados no doente visam
abordar uma resposta de natureza global e evitar a fragmentação - as partes do
sistema não funcionam por si.
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Ainda de acordo com o mesmo autor, alguma fragmentação decorre de uma
prática com mais de um século quando os profissionais colocaram a autonomia
clínica no centro de identidade profissional.
Enquanto o exercício de julgamento clínico é fundamental para a qualidade da
prestação dos cuidados de saúde, a autonomia clínica absoluta é, pelo seu lado,
um anátema para um sistema integrado que deseja oferecer os melhores
cuidados de saúde e centrados no doente. A saúde, enquanto tal, não pode nem
deve ser considerada como um mercado desde logo porque não há forças
"naturais" de mercado para conduzir os cuidados, a sua qualidade e eficiência.
Este domínio dos cuidados tem sido objecto de uma evolução constante, como se
pode encontrar na diversa literatura. Em 1999 foi criado, no Centro de Medicina
Integrada na Stanford University Medical Center e hospitais e clínicas de Stanford,
o Programa de Cuidados de Suporte no Cancro (PCSC), apoiado por fundos
privados, concessões e doações. (Ernest H. Rosenbaum, MD, Holly Gautier, RN,
BSN, Patricia Fobair, LCSW, MPh, and David Spiegel MD, 2005)
O PCSC complementa terapias padrão contra o cancro - cirurgia, radioterapia,
quimioterapia, terapia hormonal e imunoterapia - integrando todos os aspectos
não médicos da cura como: o fortalecimento do corpo, a educação da mente e a
incrementação da esperança e da coragem com a ajuda de vários profissionais
como fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, etc.
Os autores do programa (Ernest H. et al., 2005) referem também que médicos,
enfermeiros e outros profissionais de saúde que trabalharam com o modelo PCSC
concordaram que este programa melhorou os cuidados do paciente e seu bem-
estar. Os pacientes também apreciaram ter acesso a uma gama de serviços de
apoio bem como a possibilidade que lhes foi dada de poderem escolher aqueles
que melhor atendiam suas necessidades individuais.
O sucesso do programa piloto na Universidade de Stanford (1999-2002)
demonstrou que é um modelo (naturalmente adaptado ou modificado) a ser
utilizado por outros hospitais e / ou centros oncológicos.
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Os resultados demonstrados pelos autores concluem que a sua utilização
melhorou a qualidade de vida dos doentes nas seguintes áreas:
Bem-estar físico
Aumento do nível de energia (redução de fadiga)
Maior controlo, esperança;
Higiene do sono
Maior controlo e redução da dor
Redução do stress
Níveis de recuperação
Ao prestar assistência ao doente através da utilização de programas
complementares de cuidados de suporte, que podem ser adicionadas aos
programas existentes nos hospitais ou outros centros oncológicos procura-se
alcançar os seguintes objectivos:
Melhorar a qualidade de vida dos doentes com cancro bem como das suas
famílias;
Reduzir a gravidade dos efeitos colaterais relacionados com o cancro e
seus tratamentos;
Oferecer programas de apoio durante o tempo de diagnóstico, pré, peri e
pós tratamento, incluindo grupos de apoio, exercício e medicina
alternativa / complementar, aulas de nutrição, redução da fadiga, gestão
da dor, e actividades recreativas;
Oferecer aos pacientes e familiares / amigos informação e educação sobre
a doença através de palestras, aulas, literatura, vídeos etc.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Embora os doentes possam nem sempre ser capaz de avaliar com precisão a
qualidade clínica do atendimento, ou se as boas práticas estão a ser cumpridas, a
segurança dos doentes e a qualidade clínica são fundamentais para uma
abordagem centrada no doente.
Os cuidados centrados no doente não substituem a prática de uma medicina
excelente antes pelo contrário, complementa excelência clínica e contribui para
parcerias e comunicação eficazes. (Frampton, S., Guastello S., Brady C., Hale M.,
Horowitz, S., Bennett Smith, S., Stone, S., Outubro, 2008))
O modelo de intervenção dos cuidados centrados no doente sendo, ainda, um
modelo que se pode considerar recente implica alguma reflexão teórica a partir
dos dados recolhidos através da prática. Não é um modelo assente apenas na
prática clínica pois implica todo o ambiente hospitalar desde a gestão de
recursos, a formação de pessoal, a relação com os utentes do hospital até às
instalações e o relacionamento com outras instituições afins.
Ainda de acordo com os autores supracitados, importa realçar que este modelo
implica a sensibilização e adesão de todos os profissionais de saúde que, desse
modo, serão capazes de promover sinergias com outros intervenientes e, assim,
conseguir que a implementação do modelo não seja burocrática nem oficiosa,
mas reflicta a consciência de que este é um modelo que para lá da cura (ou alívio)
do doente que é sempre o objectivo dos cuidados médicos tem em consideração
o ser humano e a sua relação com o mundo em que se insere seja ele familiar,
social, político ou religioso.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Existem diversos modelos esquematizados em 1992 por Ezequiel e Linda
Emanuel, baseados nos modelos propostos pelo Prof. Robert Veatch, em 1972.
Ezequiel e Linda Emanuel propuseram os modelos paternalista, informativo,
interpretativo e deliberativo de acordo como grau de envolvimento do doente ao
longo de todo o processo, como pode ser observada no quadro 1
Quadro 1 – MODELOS DE RELAÇÃO MÉDICA
Valores do
doente
São objectivos e
partilhados com o
médico
Definidos e
fixados pelo
doente
Imperfeitos e
conflituosos que
requerem
elucidação
Abertos ao
desenvolvimento
e revisão sob
discussão moral
Obrigações do
médico
Promover o bem-
estar
independentemente
das preferências do
doente
Fornecer
informação e
factos e executar
a opção
seleccionada pelo
doente
Elucidar e
interpretar os
valores
importantes para
o doente e
implementar a
escolha do doente
Articular e
persuadir os
maiores valores
do doente,
informar o doente
e implementar a
opção
seleccionada
Autonomia do
doente
Assente em valores
objectivos
Escolha e controlo
sobre os actos
médicos
Auto
conhecimento
sobre os cuidados
médicos
Auto-
desenvolvimento
moral sobre os
cuidados médicos
Papel do
médico
Guardião Técnico
experiente e
competente
Conselheiro Amigo ou
professor
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Assim, segundo Emanuel (1992), no modelo paternalista o médico toma as
decisões pelo doente, sem levar em linha de conta os valores, crenças e vontade
do último. O médico usa as suas capacidades científicas para avaliar o doente e
decidir o melhor tratamento. Assume-se como o guardião e incita o doente a
permitir e aceitar a proposta por ele efectuada.
No modelo informativo o médico assume-se como um especialista no assunto a
tratar e dota o doente das informações para que este decida qual a atitude a
tomar. Neste modelo o médico mantém a sua autoridade, mas transfere para o
doente a responsabilidade da decisão.
No modelo interpretativo o médico interpreta as crenças, valores do doente e
propõe o tratamento que julga mais adequado para o doente e situação em
concreto. Aqui o médico actua como um conselheiro que mantém a obrigação de
informar, mas também a de aconselhar.
O modelo deliberativo é muito semelhante ao modelo interpretativo com a
diferença de o médico actuar como um amigo ou professor, persuadindo o
doente a aceitar a proposta efectuada com base nos seus valores e crenças, bem
como na situação da sua saúde.
Pretende-se que nos cuidados centrados no doente os modelos adoptados pelos
médicos e restante equipa de saúde se situem entre o modelo interpretativo e
deliberativo.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Visto que o presente relatório é sobre enfermagem oncológica achou-se
pertinente a referência ao papel do enfermeiro como profissional na relação com
o doente e como membro da equipa multidisciplinar. A ordem dos Enfermeiros
definiu em 2003 um conjunto de padrões de qualidade para os cuidados de
enfermagem tendo dois principais objectivos:
i) Melhoria dos cuidados prestados à população:
ii) Um instrumento de reflexão da prática do exercício profissional dos
enfermeiros.
Estes padrões de qualidade têm na sua base a saúde de uma forma geral, a
pessoa e, mais concretamente, o doente, o ambiente e os cuidados de
enfermagem. Daqui foram definidos seis enunciados descritivos que visam
explicitar a natureza e englobar os diferentes aspectos do mandato social da
profissão de enfermagem:
A satisfação do doente
A promoção da saúde,
A prevenção de complicações,
O bem-estar e o auto-cuidado dos clientes,
A readaptação funcional,
A organização dos serviços
Os enfermeiros têm um papel fundamental, pela proximidade que têm com o
utente e família, pelo que devem assumir o papel de interlocutor no contexto da
equipa. As intervenções de enfermagem são frequentemente optimizadas se toda
a unidade familiar for o alvo do processo de cuidados, nomeadamente quando
visam a alteração de comportamentos, tendo como objectivos a adopção de
estilos de vida compatíveis com a promoção da saúde.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Quando analisamos o foco de atenção da disciplina de enfermagem podemos
considerá-lo como estudo da resposta humana à doença e aos processos de vida.
O foco de atenção do enfermeiro no exercício da sua profissão é o diagnóstico
das respostas humanas à doença e aos processos de vida a partir do qual se
viabiliza uma produção de um processo de cuidados profissional em parceria
com o doente/família, sendo o processo baseado na inter-relação pessoal.
Os enfermeiros substituem, ajudam e complementam as competências de
funcionamento das pessoas em situação de dependência na realização das
actividades de vida. Mas também orientam, supervisionam e lideram os processos
de adaptação individual, o autocontrolo, o auto-cuidado, o stress, coping, a dor,
as perturbações da memória e da actividade psicomotora, a adesão ao regime
terapêutico, os processos de interacção com a família, os processos de luto, os
processos de aquisição e mudança de comportamentos para a aquisição de
estilos de vida saudáveis.
Nesta perspectiva, os enfermeiros devem providenciar que a sua acção seja
dirigida para:
A satisfação das necessidades humanas fundamentais;
A máxima independência na realização das actividades da vida;
Os processos de readaptação e adaptação funcional aos défices.
Os cuidados de enfermagem tomam por foco de atenção a promoção dos
projectos de saúde que cada pessoa entende livremente como seus.
Através de uma abordagem sistémica e sistemática, num processo de tomada de
decisão, o enfermeiro identifica as necessidades de cuidados de enfermagem da
pessoa individual ou do grupo (família e comunidade). Após efectuada a
identificação da problemática do doente, as intervenções de enfermagem são
prescritas de forma a evitar riscos, detectar precocemente problemas potenciais e
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
resolver ou minimizar os problemas reais identificados. No processo de tomada
de decisão em enfermagem e na fase de implementação das intervenções, os
enfermeiros devem incorporar os resultados da investigação na sua prática.
Do ponto de vista das atitudes que caracterizam o exercício profissional dos
enfermeiros, os princípios Humanistas dão forma á boa prática de enfermagem.
Sendo que, para diferentes pessoas existem diferentes cuidados, o exercício
profissional dos enfermeiros requer sensibilidade para lidar com as diferenças,
perseguindo-se os mais elevados níveis de satisfação dos doentes.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
28
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Avançar com os cuidados centrados no doente é claramente um desafio
multifacetado e muitas organizações estão a trabalhar para identificar as
melhores práticas e as mudanças necessárias no sistema em três áreas (Epstein
RM, Street RL Jr., 2007):
Envolvimento dos doentes e seus familiares no projecto de atendimento
Fiabilidade na satisfação das necessidades e preferências do doente
Informação e tomada de decisão compartilhada
Neste contexto, é possível perceber que a comunicação entre equipa
multidisciplinar e doente e/ou família é um elemento fundamental e que deve
estar sempre ao longo de todo o processo. Contudo, em oncologia, esta
comunicação ganha outra dimensão, visto que a doença afecta a pessoa e família
em todas as dimensões bio-psico-social -muitas das vezes por períodos de tempo
bastante prolongados e com fenómenos mais ou menos frequentes como
alterações da imagem corporal e incerteza quanto ao futuro,
A comunicação durante a prestação de cuidados ao doente oncológico é
caracterizada por um esforço efectivo por parte da equipa de saúde em elucidar
os doentes de modo a atenuar os naturais receios e preocupações e encorajar
uma participação mais activa. Segundo Epstein et al (2007) a comunicação
centrada no doente tem como consequência não só uma maior e melhor adesão
aos tratamentos e qualidade de vida nas populações com e sem cancro mas
também uma maior satisfação com a equipa de saúde responsável pelo
acompanhamento.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
29
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Tendo como objectivo principal de ajudar o doente, a comunicação tem particular
relevância:
Na recepção de más notícias
Na redução do impacto emocional ao conhecer que tem uma doença
potencialmente letal
Na percepção e aquisição de informação complexa
Na aprendizagem do modo como comunicar com diferentes profissionais
de saúde
No modo como lidar coma incerteza enquanto mantêm a esperança
Na construção da confiança que irá sustentar as longas relações com a
equipa de saúde
No tomar decisões conscientes e informadas sobre as possibilidades de
tratamento, incluindo a participação em ensaios clínicos
Na adopção de hábitos de vida saudáveis.
A comunicação centrada do doente, idealmente levará a uma melhoria do
bem-estar geral do doente, à redução do seu sofrimento e à promoção da
saúde de uma forma global. Epstein RM (2007) define alguns resultados
esperados, no que diz respeito:
1. À comunicação
a. Relação forte entre doente/família e médico que poderá traduzir-
se em maior confiança, respeito, respeito, envolvimento.
b. Troca de informação efectiva o que levará mais facilmente à
recordação da informação e ao sentir reconhecimento e
compreensão.
c. Validação de emoções
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
30
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
d. Reconhecimento, compreensão e tolerância acerca da incerteza
e. Participação do doente na tomada de decisão
f. Coordenação de cuidados
2. Aos intervenientes
a. Fortes alianças terapêuticas
b. Conhecimento e compreensão do doente
c. Auto-gestão de emoções
d. Decisões médicas de elevada qualidade (tomadas com evidência
clínica, de acordo com os valores do doente e aprovadas
mutuamente)
e. Apoio familiar
f. Adesão a hábitos de saúde e auto-cuidado
g. Acesso aos cuidados e o uso efectivo do sistema de saúde.
3. Aos resultados de saúde
a. Sobrevivência e tempo livre de doença
i. Prevenção e detecção precoce de cancro
ii. Diagnósticos precisos
iii. Manutenção da remissão
b. Qualidade de vida relacionada com a saúde
i. Funcionamento dos papéis cognitivo, físico, mental e
social
ii. Bem-estar físico e emocional
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
31
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
iii. Percepções de saúde
4. Às consequências sociais
a. Custo efectivo da utilização dos serviços de saúde
b. Redução das disparidades na saúde e nos cuidados de saúde
c. Prática ética
Na perspectiva dos cuidados centrados no doente, segundo os mesmos autores a
comunicação entre equipa de saúde e doente deve contribuir positivamente para,
pelo menos, um de três conjuntos de resultados supra citados.
De acordo com a fase da doença em que o doente se encontra os
comportamentos de comunicação da equipa de saúde também se deverão
adaptar de modo a melhorar a sobrevivência e aumentar a qualidade de vida
durante cada fase da doença oncológica.
Conforme se pode observar no quadro nº 2, nas duas primeiras fases os doentes
estão em contacto principalmente com os cuidados de saúde primários, visto que
a doença oncológica também uma responsabilidade não só dos centros
oncológicos mas de toda a comunidade. Nas fases de diagnóstico, tratamento e
sobrevivência o doente contacta com vários profissionais de uma forma mais
assídua, consistente e duradoura, o que muitas vezes se traduz numa relação
mais forte e de mais proximidade.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
32
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Quadro nº 2 – Intervenções de comunicação dos profissionais de saúde
Incentivar a comportamentos saudáveis e
promover intervenções de prevenção
Promover triagens oncológicas eficientes e
follow-up
Providenciar informação e suporte emocional
Discutir áreas de incerteza e prognósticos
Encorajar a participação do doente nos cuidados
Prestar apoio emocional, fornecer informação
relacionada com os tratamentos propostos,
fomentar a adesão aos regimes terapêuticos,
melhorar o apoio social
Ajudar a lidar com a incerteza; vigiar sinais de
recidivas, ajudar os doentes a aderir a
recomendações de vigilância, prevenção e
tratamento
Ajudar os doentes a tomar decisões de acordo
com os seus valores, promover cuidados
paliativos óptimos para melhorar a qualidade de
vida
De acordo com Epstein e tal (2007), a comunicação nos cuidados centrados no
doente baseia-se em seis pontos fundamentais:
Fomentar as relações de cura
Proporcionar a troca de informações
Responder a emoções
Fazer a gestão da incerteza
Ajudar na tomada de decisões
Capacitar a gestão auto-suficiente do doente
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
33
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Estas funções de comunicação não têm entre si hierarquia nem independência,
como é possível identificar na figura nº 2. São antes funções que em conjunto
podem produzir uma comunicação capaz de potenciar e afectar resultados de
saúde importantes.
Figura nº2 – Relação entre funções de comunicação
Destas funções achou-se pertinente efectuar uma chamada de atenção em
particular à troca de informações, à tomada de decisões e à resposta a emoções
por serem os elementos em que os interlocutores ocupam grande parte do seu
tempo.
Capacitar a gestão
auto-suficiente do
doente
Tomada de
decisões
Gestão da incerteza
Responder a
emoções
Troca de
informações
Fomentar as
relações de cura
RESULTADOS
ESPERADOS
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
34
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
2.4.1 Troca de informações
Os doentes oncológicos procuram informação acerca da causa, diagnóstico,
tratamentos, prognósticos e aspectos psicossociais da sua doença. Mas estas
necessidades variam consoante os pacientes e muda ao longo do tempo. A
informação fornecida ao doente deve estar de acordo com o tipo e o estádio da
doença, e deve ter em consideração os factores individuais como a idade, o sexo
e identificação cultural.
Em geral, os benefícios em fornecer aos doentes informação incluem o aumento
da satisfação, a diminuição da ansiedade e o aumento da capacidade de coping
(Arraras JI, wrigth S, Greimel E, et al, 2010). Os doentes com cancro procuram
informação não apenas para conhecerem a sua doença, mas também para
encontrar alguma esperança.
Na altura do diagnóstico, segundo os autores citados, os doentes procuram
esclarecimento, mas necessitam de tempo para entender e absorver os detalhes e
as implicações. Na fase entre o diagnóstico e tratamento procuram informação
detalhada sobre prognósticos, opções de tratamento, efeitos secundários e
mudanças nas actividades de vida diária. Depois do tratamento a quantidade de
informação procurada é menor e prende-se com factores psicossociais, de
reabilitação, recuperação e recorrência.
O objectivo da troca de informações é o doente entender e ser entendido. Muitas
vezes a equipa de saúde não entende as necessidades de informação dos doentes
e consequentemente não fornece a informação necessária ou aquela que o
doente acha útil. Na partilha de informação os profissionais utilizam, muitas
vezes, termos médicos que os doentes não entendem pelo que não ficam
esclarecidos.
No caso específico da comunicação de más notícias têm sido objecto de estudo
de alguma investigação na área oncológica. Frequentemente, embora não esteja
em causa a capacidade de os clínicos saberem como comunicar más notícias, o
modo como o fazem causa no doente desconforto, medo ou ansiedade em
demasia. Daí não ser de estranhar que os doentes refiram que as notícias são
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
35
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
transmitidas de forma “fria”, distante, impessoal, evasiva, indirecta, etc. A
comunicação de más notícias está frequentemente ligada à discussão do
prognóstico e o modo como esta informação é dada permite ao doente efectuar
boas escolhas quanto aos tratamentos, planear a sua vida e receber os melhores
cuidados paliativos óptimos. A comunicação do prognóstico depende da
habilidade do médico estimar o tempo esperado de vida, o desejo ou não do
doente saber o prognóstico e a vontade do médico de querer ou não divulgar
toda a verdade do diagnóstico.
2.4.2 Tomada de decisões
Segundo Epstein e tal (2007), no tratamento do cancro existem três fases
decisivas para a tomada de decisão por parte dos doentes.
A primeira diz respeito ao rastreio e à vontade ou não de o efectuar; a segunda
diz respeito às opções de tratamento propostas, por exemplo quimioterapia; e,
por último, quanto à decisão de fim de vida.
Na fase de tratamento, as decisões mais difíceis são as que envolvem o balanço
entre quantidade e qualidade de vida e aquelas que dizem respeito aos
resultados com pequenos mas significantes valores estatísticos. Estudos indicam
que alguns doentes preferem ter um papel activo e de colaboração na tomada de
decisão enquanto outros preferem que seja o médico a fazer a escolha final. Na
doença oncológica um dos factores chave que afecta a tomada da decisão é a
gravidade da doença. Quanto mais grave o estado do doente mais este prefere
delegar nos médicos as decisões. Outro factor prende-se com a idade e nível de
educação. Os doentes mais idosos e com menos literacia preferem o modelo
paternalista, enquanto os mais novos e com nível de instrução mais elevado
preferem ter um papel mais activo na tomada de decisão.
Nos cuidados ao doente oncológico os recursos para apoiar os doentes na
tomada de decisão (folhetos informativos, documentação sobre os tratamentos,
testemunhos de outras pessoas) devem levar em conta não só os valores dos
doentes, mas também a capacidade que estes têm de absorver a quantidade de
informação que é fornecida bem como a complexidade da mesma. Estes
auxiliares de decisão podem ajudar na comunicação entre médico e doente, no
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
36
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
que diz respeito às preferências de tratamento, o que por sua vez melhora a
satisfação do doente.
Ainda segundo o mesmo autor, no que diz respeito ao fim de vida, considera-se
de extrema importância o envolvimento do doente na tomada de decisões que a
ele se referem. Contudo existem vários estudos sugerem que as discussões sobre
as decisões que dizem respeito ao fim de vida são muitas vezes inadequadas e
que, por vezes, os médicos subvalorizam a vontade dos doentes em participaram
nestas decisões. As decisões que dizem respeito ao fim de vida podem dividir-se
em três áreas fundamentais: a descontinuidade de terapias curativas, as
directrizes para os cuidados no fim de vida (cuidados em casa/ hospital, etc.),
directrizes avançadas (níveis de incapacidade, reanimação, etc.). Em todas estas
áreas deve ser envolvido o doente e família – não só porque esta é parte
integrante e fundamental do doente, mas também para que possa defender,
compreender ou aceitar as atitudes tomadas pelo doente no fim de vida.
2.4.3 Resposta às emoções
Uma das principais características no tratamento do cancro é a comunicação
afectiva entre médico e doente. Esta doença ganha particular dimensão para os
doentes pois apresenta-se com um diagnóstico que é ameaçador de vida, com
tratamentos de alguma incerteza na sua eficácia, com potenciais efeitos
debilitantes e com um futuro incerto.
De acordo com a bibliografia consultada, a gestão das emoções nos cuidados aos
doentes com cancro baseia-se em três grandes áreas:
Os benefícios psicológicos da expressão das emoções durante a consulta.
Os doentes que partilham emoções na consulta médica apresentam, em
geral, maiores benefícios do que aqueles que as escondem. O uso do
humor foi considerado como um factor que diminui a ansiedade e o stress
e aumenta os níveis de conforto. As narrativas sobre as suas experiências
durante a doença ajudam a diminuir o stress emocional. No entanto há que
ser prudente neste capítulo pois se o humor pode trazer benefícios para a
maioria dos doentes, outros doentes podem considerar o humor como
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
37
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
desrespeitoso ou até falta de reconhecimento do médico pelo seu estado
de saúde. Como em tudo há que conhecer bem o doente e as suas
idiossincrasias para saber como agir no concreto.
Resposta da equipa de saúde ao estado emocional do doente.
A maioria dos doentes gosta que a sua equipa de saúde se interesse pelo
seu bem-estar emocional. Como o cancro é uma doença com grande
impacto emocional em todos os membros da família nuclear, a equipa de
saúde deve incentivar que os familiares façam a libertação do stress
emocional e de experiências. Muitas vezes as equipas não estão
preparadas para dar este apoio aos doentes/ familiares por falta de tempo,
de condições físicas do local e capacidade de auto gestão de emoções. A
expressão de emoções fica facilitada se o médico usar técnicas como as
questões abertas, focar ou clarificar aspectos psicológicos, e usar
declarações empáticas.
Bem-estar do doente como resultado da comunicação entre médico e
doente.
Os estilos de comunicação do médico do doente podem influenciar o bem-
estar emocional em particular se o doente se apercebe que os cuidados
que lhe são prestados estão efectivamente centrados nele em oposição ao
modelo paternalista. Uma comunicação que reduz ansiedade é aquela que
prepara o doente para o diagnóstico, que fornece ao doente a informação
necessária para que possa tomar decisões, que discute opções de
tratamento e sentimentos e que transmite uma sensação de conforto ao
doente.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
38
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Este estágio em enfermagem oncológica iniciou-se em Novembro de 2009, com
paragem entre Março a Outubro de 2010, tempo de licença de maternidade e
reinicio em Dezembro de 2010 até Abril de 2011.
No Instituto Português de Oncologia, instituição onde decorreu este estágio, os
doentes fazem um percurso que se inicia mesmo antes da primeira consulta. Por
isso é pertinente enquadrar todo esse percurso de modo a que a compreensão
deste relatório seja mais abrangente.
O conceito de clínicas multidisciplinares tem vindo a ser introduzido no IPO,
desde há alguns anos. A organização dos cuidados com base em Clínicas
Multidisciplinares de Patologia pretende criar um ambiente que favoreça o
estabelecimento de ligações individuais e estáveis para os doentes, reunindo os
recursos necessários e adequados para proporcionar cuidados especializados,
homogéneos e personalizados, dando, deste modo, um especial relevo à
necessidade do doente oncológico ser reconhecido como o centro em torno do
qual se deve organizar a actividade dos profissionais,
O regulamento interno do IPO porto no seu artigo nº 38, no que diz respeito às
clínicas de patologia refere:
1. “O tratamento ao doente oncológico em ambulatório (consulta externa) está
organizado em clínicas de patologia dispondo de enfermagem, pessoal
administrativo e auxiliares próprios, assim como espaço físico
individualizado e devidamente identificado;
2. São objectivos das clínicas de patologia:
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
39
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
a. Assegurar a vertente multidisciplinar, elaborar normas de actuação
para cada patologia no que concerne ao diagnóstico, tratamento e
seguimento;
b. Assegurar a administração atempada dos cuidados e executar a
auditoria clínica permanente;
c. Incentivar a diferenciação profissional para obtenção das melhores
prestações” (Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, EPE,
2006)
Em todo o processo, a comunicação da equipa de saúde é efectuada,
naturalmente, tendo em vista o interesse do doente mas também em consonância
com este proporcionando, assim, a sua participação activa. O doente é visto não
só como um objecto de intervenção médica mas como um sujeito activo que
participa em todas as fases da evolução da doença.
Todas as clínicas onde decorreu o estágio estão dotadas de um regulamento
interno próprio que visa homogeneizar procedimentos técnico-científicos.
O estágio de enfermagem oncológica esteve dividido da seguinte forma:
a. Clínica de patologia de mama (70 horas na consulta externa)
b. Clínica de OncoHematologia (35 horas na consulta externa e 35 horas no
internamento)
c. Serviço de Cuidados Paliativos (42h no internamento, 14 horas na equipa
intra hospitalar e 21 horas na consulta externa)
d. Clínica de patologia Cabeça e Pescoço (70 horas, divididas entre a consulta
externa de cabeça e pescoço e de otorrinolaringologia)
e. Clínica de patologia digestiva (70 horas na consulta externa)
A observação foi feita em diversos momentos da actuação
Consultas oncologia médica
Consultas de oncologia cirúrgica
Consultas de enfermagem
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Consultas de grupo
Planeamento cirúrgico
Tratamentos
Outros
Pelo que se seguirá o método, sobre cada um desses momentos e para cada uma
das clínicas, se fazer uma breve explicitação.
Antes da 1ª consulta, o pedido de admissão, feito pelo médico assistente do
doente, é observado pelo médico responsável pela admissão do doente na
instituição. Se cumprir critérios de admissão, o doente é, então, enviado a uma
primeira consulta. Seguem-se a primeiras consultas médica e de enfermagem, a
consulta de grupo multidisciplinar, os exames necessários (TAC, ressonâncias
magnéticas, ecografias, etc.) e tratamentos a efectuar (cirurgia, quimioterapia,
radioterapia, hormonoterapia, ou outros), consultas de reavaliação, e por fim de
follow-up. Durante este período existe muitas outras consultas que são
efectuadas de acordo com as necessidades dos doentes, como por exemplo:
psicologia, nutrição, genética, imuno-hemoterapia, etc.
PRIMEIRA CONSULTA MÉDICA
A primeira consulta médica constitui um marco importante no percurso do
doente. Nela o doente vai encontrar-se pela primeira vez com a sua equipa de
referência (médico e enfermeiro). Os objectivos das consultas médicas, para além
do exame físico, centram-se na apresentação, discussão e esclarecimento dos
tratamentos propostos pela consulta de grupo, tentando respeitar os ritmos,
valores e vontades dos doentes. É também na consulta médica que é elaborado
em conjunto com os doentes um plano terapêutico, de modo a que os doentes
saibam quais os passos a seguir no seu processo, respeitando as directrizes da
clínica.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
41
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Muitas vezes, é nesta primeira consulta que nasce a empatia, a referenciação e o
depósito de confiança na equipa com quem o doente vai ter de lidar, bem como
são expressos os medos, as frustrações e as angústias de quem sabe que não
depende dele o êxito ou o fracasso da cura.
Nas primeiras consultas os doentes mostram-se bastante inseguros quanto ao
seu futuro e, sobretudo, quanto à evolução da doença, muito estigmatizada do
ponto de vista da possibilidade de cura, quanto ao tipo de tratamentos e os
efeitos que podem produzir na alteração da imagem corporal (amputações,
alopécia, etc.,) quanto ao seu futuro profissional e sustentabilidade da família,
quanto ao funcionamento da instituição e dos apoios que podem vir a necessitar
e a obter
PRIMEIRA CONSULTA DE ENFERMAGEM
Esta consulta tem lugar logo após a consulta do doente com o médico. A partir
desta consulta o doente/família identificam o membro da equipa de enfermagem
como o enfermeiro de referência. Os objectivos desta consulta são:
Acolhimento na instituição e na clínica (entrega do guia do utente)
Recolha de dados biográficos, socioeconómicos, familiares e outros
Identificação do cuidador principal;
Avaliação das necessidades
o Sociais;
o Nutricionais
o Psicológicas/emocionais
E encaminhamento para as respectivas especialidades.
Explicação de procedimentos pedidos pelo médico e de etapas a seguir.
Com estas primeiras consultas pretende-se não só avaliar a situação clínica do
doente e decidir os procedimentos necessários a seguir, mas também reduzir os
níveis de ansiedade do doente e familiares ao mesmo tempo conseguir a adesão
do doente se modo a que este se veja como participante activo do processo de
cura e, como tal, colabore com a equipa de saúde.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
42
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
CONSULTA DE GRUPO MULTIDISCIPLINAR
Após as primeiras consultas, médica e de enfermagem, o doente enfrenta uma
nova consulta: a consulta do grupo disciplinar. Embora o esforço realizado no
sentido de reduzir os níveis de ansiedade do doente possa ter sido coroado de
êxito, a verdade é que esta consulta provoca, de um modo geral, um elevado
grau de stress, uma vez que é percepcionada como decisiva para o seu futuro
mais imediato.
A consulta de grupo é constituída por vários profissionais com áreas de
intervenção distintas:
Médico oncologista
Cirurgião
Radioterapeuta
Enfermeiro
Outros profissionais relevantes
Ainda sem a presença do doente é apresentado e discutido entre todos o caso
clínico a analisar e decidido, em conjunto, a melhor opção terapêutica a
apresentar ao doente seja o tratamento primário, adjuvante ou paliativo. Para a
decisão terapêutica devem estar presentes exames imagiológicos, laboratoriais,
relatório anátomo-patológico e os dados da história clínica.
Já com a presença do doente são-lhe explicados os resultados dos exames
efectuados e feita a apresentação da opção terapêutica escolhida ou a
necessidade de mais exames complementares. Sempre que solicitado pelo doente
devem ser apresentadas outras alternativas bem como a evolução esperada por
cada uma delas.
São, então, marcadas novas consultas médicas e de enfermagem onde serão
explicados, com mais pormenor, os passos seguintes decididos nesta consulta,
tais como:
i) Planeamento cirúrgico (se for o caso)
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
o Explicação detalhada da cirurgia
o Pedido de outras consultas ou exames, se for necessário (por
exemplo: medicina interna, cardiologia, angiocardiografias, etc.)
o Consentimento informado
ii) Consulta com oncologista médico
o Medicação de suporte
o Explicação de toxicidades, efeitos secundários indesejáveis e
efectuados ensinos sobre os cuidados.
o Consentimento informado
A consulta de grupo pode ser repetida em qualquer altura do percurso do doente
desde que o médico assistente o solicite.
CONSULTAS DE SEGUIMENTO
São consultas intermédias que têm como objectivo avaliar os tratamentos a que
os doentes foram ou estão a ser submetidos, tais como: suturas cirúrgicas,
avaliação de toxicidades provocadas pelos tratamentos, e avaliação do estado
geral do doente, de discussão com o doente da actual situação e do plano
terapêutico e, onde são tomadas diversas acções, tais como a redução de doses,
alterações de esquema terapêutico, suspensão de tratamento, etc., bem como a
avaliação da resposta da doença ao tratamento.
As preocupações dos doentes começam a ficar mais focalizadas na doença
propriamente dita e na terapêutica proposta, isto é incidem mais nos efeitos
secundários e eficácia dos tratamentos, no plano terapêutico a seguir e na forma
como estão a lidar com a situação. É nas consultas subsequentes que o doente
começa a lidar melhor com a doença e é capaz de verbalizar junto da equipa de
saúde que o acompanha o seu relacionamento familiar e social após o
diagnóstico da doença
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
CONSULTAS DE FOLLOW-UP
São consultas onde os doentes são avaliados pós tratamento e onde é efectuada a
vigilância da doença de acordo com os protocolos terapêuticos instituídos por
cada clínica e onde após um período definido por cada clínica é dada alta ao
doente.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
45
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
70h)
No sexo feminino, mais de um quarto dos tumores diagnosticados correspondeu
ao cancro da mama (26.8%), taxa de incidência de 89.5/100000. Na região Norte
houve cerca de 1500 novos doentes por ano sendo que destes, 1240 são do tipo
histológico carcinoma ductal invasor, com uma razão de mortalidade/incidência
de 20% (RORENO 2006, 2010).
A clínica de mama foi criada com base no artigo 38 do regulamento interno do
IPO – Porto em 2006. A estrutura física da clínica é recente e foi concebida de
modo a que os doentes possam fluir de forma objectiva e prática. De referir que
todos os espaços fomentam a privacidade e individualidade do doente. Os
profissionais que prestam assistência aos doentes estão particularmente
sensibilizados para que os doentes se sintam protegidos e seguros dentro da
clínica de modo que respeitam a privacidade em todas as consultas não só dos
doentes como de todos os profissionais que nela trabalham.
O regulamento da clínica inclui um capitulo intitulado “A actividade centrada no
doente” onde se pode ler:
“Em todo o momento, deve existir um membro da equipa responsável pelo
doente: o cirurgião nos estádios iniciais da doença; o oncologista durante o
tratamento adjuvante; e o médico de cuidados paliativos nos estádios finais da
doença. O diagnóstico das doentes com suspeita de cancro da mama, deve estar
baseado na abordagem tripla – exame clínico, avaliação imagiológica e biopsia” e
ainda “O diagnóstico e opções terapêuticas devem ser comunicadas pessoalmente
pelo cirurgião, no prazo máximo de 5 dias úteis após a primeira consulta, e com
o tempo adequado para discussão com a doente.” (p.9)
Pela leitura deste parágrafo pode-se verificar a preocupação da clínica em que
todos os cuidados sejam, o mais possível, centrados no doente de modo a que
este se sinta sempre apoiado e, ao mesmo tempo, confiante no seu percurso.
Os doentes desta clínica têm um tempo médio de espera desde que são aceites
na instituição e o primeiro acto terapêutico de 62 dias.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
46
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Nesta clínica seguem-se os procedimentos descritos anteriormente no
enquadramento prático e os objectivos específicos descritos no regulamento
interno da clínica de mama.
Consultas médicas (cirurgia e oncologia médica)
Durante o tempo em que decorreu o estágio foi possível observar entre 15
a 20 consultas médicas - oncologia médica e cirúrgica.
As consultas de cirurgia são geralmente as primeiras para onde os doentes
são encaminhados quando a doença é localizada; já para o caso da doença
avançada os doentes são encaminhados para as consultas de oncologia
médica.
Os doentes do sexo feminino, em particular as mulheres entre os 40 e 70
anos, que representam a maioria (RORENO 2006, 2010) dos doentes desta
clínica, demonstram durante a consulta médica, bastante preocupação com
a família e como a doença a irá afectar no seu funcionamento normal.
A equipa médica esforça-se para incutir nos doentes a ideia de os
problemas se devem resolver paulatinamente, um de cada vez, procurando
ganhar com isso a confiança do doente no tratamento proposto e na
ultrapassagem de fases sucessivas, mas a verdade é que os doentes,
particularmente na primeira fase não conseguem desligar da multiplicidade
de dúvidas e preocupações que os assaltam e que, na maior parte das
vezes não conseguem sequer verbalizar
Consultas de enfermagem;
Esta consulta tem lugar após a consulta médica. Foi possível à mestranda
estar presente e contactar de forma activa com os doentes em cerca de 40
consultas de enfermagem.
São objectivos da consulta de enfermagem, a avaliação geral do doente e
das suas necessidades, o apoio e encaminhamento do doente para os
diversos serviços, o fornecimento da informação, mais detalhada possível,
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
sobre os tratamentos propostos pela consulta médica, as estratégias mais
eficazes para ultrapassar as diferentes dificuldades inerentes ao próprio
tratamento.
Nas consultas subsequentes, os enfermeiros da clínica, focalizam mais a
sua atenção os tratamentos, em particular quando estes incluem
quimioterapia e radioterapia com a entrega de um guia de orientação
“mantenha-se bonita” que fornece informação mais detalhada sobre as
melhores estratégias para lidar com as alterações da imagem corporal
decorrentes dos tratamentos e fornecem outros suportes de informação
sobre o modo como se deve lidar com as alterações alimentares e os
cuidados a ter higiene corporal, bem como as formas de lidar com o
aparecimento dos efeitos secundários visíveis dos tratamentos como a
alopécia (o uso de lenços ou turbantes, próteses capilares, etc.) e a emese
(estratégias para diminuir os seus efeitos), entre outros.
Nesta consulta observou-se também que os doentes colocam questões
muitas questões que omitiram na consulta médica, muitas vezes por medo
da resposta ou por possuírem uma visão paternalista da relação com o seu
médico assistente e, quando questionados por que razão não o fizeram
junto do médico que os acompanha, a resposta mais frequente que se
ouve é de que “não quis incomodar o Sr. Dr. com estas perguntas”. Cabe,
então, aos enfermeiros tentar desmistificar muitos destes conceitos
errados e aproximar o doente do médico.
Consultas de grupo multidisciplinar;
A estrutura física da clínica de mama, pelas dimensões e organização
espacial, permite uma gestão eficaz desta consulta multidisciplinar. Existe
uma sala específica onde são discutidos os casos clínicos sem presença do
doente e onde são observados os respectivos exames e, contiguamente,
existe uma sala mais pequena onde o doente pode aguardar a decisão e,
se tal for necessário, com condições que permitem que seja observado.
Durante o período de estágio a mestranda pode estar presente estar um
dia em cada local onde decorre esta consulta – uma manhã na sala de
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
48
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
discussão entre a equipa multidisciplinar e outra manhã junto ao doente –
permitindo assim observar as diferentes perspectivas desta consulta.
Após a decisão do melhor plano terapêutico para o doente, esta é
comunicada e explicada, pelo médico, ao doente na presença de
familiar/pessoa significativa e do enfermeiro.
A presença do enfermeiro tem como objectivo ajudar o doente no
processamento da informação fornecida. Nesta altura, é explicado ao
doente que terá uma outra consulta médica onde serão explicados melhor
os procedimentos propostos, reiterando que tem tempo para pensar e
colocar as dúvidas existentes.
Foi possível observar que alguns doentes não conseguem absorver a
informação que lhes é transmitida tanto pelos médicos como pelos
enfermeiros, agindo por impulsos ou por mecanismo de defesa como o
distanciamento da situação em causa, como se existisse uma dissociação
do doente e da pessoa em discussão. Resulta desta observação que o
tempo dispendido pelos profissionais com os doentes é curto pelo que
seria conveniente que o volume de doentes a ser observado pela equipa
multidisciplinar não fosse tão grande – durante o mês de Março de 2010
(mês em que decorreu o estágio), o grupo multidisciplinar mama teve em
média 20 doentes por consulta. Entre as necessidades de resposta exigida
pelo volume de doentes a necessitarem de cuidados e os cuidados a
dispensar aos doentes que são vistos na consulta privilegia-se a necessária
quantidade.
Tratamentos;
Na sala de tratamentos da clínica de mama desenvolvem-se diferentes
actividades como biópsias mamárias, biópsias eco-guiadas, tratamentos
a feridas cirúrgicas de mama, drenagens de seromas mamários, etc.
Nesta valência da clínica predomina a avaliação dos doentes e execução
de técnica pelos profissionais de saúde.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
49
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Em caso de dúvidas ou alterações significativas nas feridas de mama, o
médico assistente do doente (ou substituto) é chamado para a
observação e tomada de atitudes.
Outras actividades desenvolvidas pela clínica
Aqui desenvolvem-se algumas outras actividades como sendo a
avaliação do stress emocional do doente pelo enfermeiro (termómetro
de ansiedade), que, mediante o resultado, pode resultar no
encaminhamento para o psicólogo existente na clínica;
A reunião do grupo de apoio quinzenal em que participam várias
doentes, um psicólogo e um enfermeiro e que tem como objectivo o
esclarecimento de dúvidas, relativas aos tratamentos e seus efeitos
indesejados, na tentativa de diminuição de ansiedade pela partilha de
experiências e sentimentos;
O gabinete de apoio promovido pela Liga Portuguesa Contra o Cancro
onde voluntárias (alguma destas também com história de doença
oncológica de mama) mostram formas estéticas alternativas para fazer
face ao efeitos provocados pelos tratamentos, nomeadamente o uso de
lenços e turbantes, maquilhagem, adaptação a próteses mamárias onde
as doentes se podem dirigir para obter aconselhamento.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
50
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
35h na consulta externa
35h no internamento
Nesta clínica são atendidos os doentes portadores de leucemias, linfomas,
síndromes mielodisplásicos e mielomas. O total de doentes portadores de doença
na região norte é de 158 e representa uma taxa de incidência de cerca de
5,5/100000 do total de doentes com cancro (Roreno 2006, 2010). Segundo os
dados de 2010, os doentes desta clínica têm um tempo médio de espera desde
que são aceites na instituição e o primeiro acto terapêutico de 52 dias.
Durante o período em que decorreu este estágio foi possível constatar que a
equipa desta clínica envolve os profissionais de ambulatório e do internamento
(enfermeiros, assistentes operacionais, assistente social) o que permite, desde o
início, um funcionamento em equipa de que resulta uma eficiente articulação e
comunicação entre as partes.
CONSULTA EXTERNA
A consulta externa de oncohematologia funciona em instalações antigas e, ao
contrário da clínica de mama, consiste num espaço reduzido apenas com um
gabinete de enfermagem, uma sala de tratamentos e três gabinetes de consulta
médica. A maioria dos médicos que exercem nesta consulta são especialistas em
hematologia (apenas um em oncologia médica) sem a presença contínua da
especialidade de cirurgia ou radioterapia, pelo que não faz sentido dividir as
consultas entre oncologia médica e cirurgia. Durante o tempo de estágio nesta
clínica foi possível assistir a 5 consultas médicas. A identificação do médico com
o doente é muito clara, pois o médico que assiste ao doente é sempre o mesmo,
salvo raras excepções, pelo que a ligação que é estabelecida entre as partes é
muito estreita. A título de exemplo refira-se que os doentes que se encontram a
efectuar tratamentos de quimioterapia têm sempre consulta com o médico
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
51
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
assistente antes do inicio de cada ciclo ou, em alguns casos, nos vários dias do
ciclo – situação observada no desempenho profissional da mestranda.
Nesta clínica são também atendidos, em horário diurno (das 9hás 16h) os
doentes de oncohematologia que recorrem ao IPO em situação não programada,
por diversos motivos relacionados com efeitos indesejáveis dos tratamentos ou
qualquer outra situação que necessite de intervenção urgente que é bastante
recorrente nos doentes com doença oncohematológica. Fora deste horário são
atendidos pelo serviço de atendimento não programado (SANP) do IPO.
O trabalho desenvolvido pelos enfermeiros nesta clínica prende-se muito com o
auxílio nos procedimentos aí efectuados, no ensino sobre os procedimentos/
tratamentos e funcionam, essencialmente, como interlocutores entre toda a
equipa e doente. De notar que os profissionais reconhecem e tratam a maioria
dos doentes pelo nome e conhecem a história de vida de cada um.
Na clínica de oncohematologia a consulta de grupo é constituída pelo conjunto
dos médicos da clínica, não sendo por isso multidisciplinar às quais a mestranda
não assistiu por dificuldade de compatibilidade de horário.
Tratamentos;
Além de efectuar o atendimento aos doentes não programados, como
colheitas de sangue para análises, oxigenoterapia, administração de
medicação, aqui os procedimentos mais específicos que foram observados
foram a execução de mielogramas, biopsia óssea, a maioria dos casos
efectuados pelo próprio médico do doente. Surgiu a oportunidade de estar
presente em cerca de 10 destes procedimentos.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
52
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
INTERNAMENTO
O serviço de oncohematologia foi completamente renovado há muito pouco
tempo para dar resposta às necessidades dos doentes durante o seu
internamento. As condições físicas do serviço encontram-se, pois, num patamar
muito mais elevado do que a consulta externa proporcionando aos doentes e
familiares uma atmosfera de maior conforto e segurança. Por ser justa a
referência, diga-se que esta remodelação se deve em grande parte ao esforço da
equipa do internamento e antigos doentes.
No internamento são acolhidos todos os doentes que dele necessitam e são
motivados por diversas razões das quais se podem salientar a realização de
tratamentos de quimioterapia, o surgimento de toxicidades durante os
tratamentos (neutropenias, pancitopenias, mucosites graves etc.) e que requerem
cuidados hospitalares, o controlo sintomático e, por último, quando o estado
geral do doente se agrava. A partir do momento que o doente e família são
acolhidos pela equipa, fica a sensação de que entraram para uma família que está
preparada para eles não só tecnicamente mas também do ponto de vista
emocional o que confere uma dimensão superior na relação entre o doente e a
equipa que o acompanha.
No internamento essa relação acaba ainda por ser mais visível pois o contacto é
mais prolongado no tempo.
Os doentes da clínica de oncohematologia têm, pela natureza da própria
patologia, internamentos bastante prolongados o que faz com que muitas vezes
acabem por passar mais tempo com os profissionais da instituição do que com a
família, o que acaba por aproximar muito as pessoas envolvidas.
Os internamentos oncohematológicos pelo facto de serem, em geral, bastante
prolongados resultam em grande ansiedade para os doentes que temem pelo seu
futuro, que duvidam da eficácia dos tratamentos a que estão sujeitos, que trazem
muitas vezes consigo o desespero da sombra da morte.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
A proximidade entre doentes e profissionais é tão grande que estes acabam por
conhecer tão bem os doentes que o esforço para perceber os valores de quem
está do outro lado é quase nulo uma vez que essa percepção se torna natural. Os
cuidados centrados no doente adquirem nesta clínica uma dimensão muito
elevada.
De salientar a estreita colaboração/comunicação entre todos os profissionais
(nomeadamente enfermeiros e médicos) e entre a consulta e internamento. Sente-
se que o doente entende a equipa que o atende como uma só, que existe a
partilha de informação (formal e não formal) e que a relação uma vez
estabelecida com um membro da equipa ela é, desde logo estendida à restante,
não havendo, por isso, necessidade de repetir informação, contar histórias de
vida, etc.
Durante o tempo de estágio no internamento de oncohematologia foi possível à
mestranda observar a introdução de um cateter venoso central tipo Hickman e
colaborar com a equipa de enfermagem na prestação de cuidados directos ao
doente.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
35h no internamento
21h na consulta externa e visita domiciliária
14h na equipa intra hospitalar
Este serviço tem a sua filosofia baseada na definição que a Organização Mundial
de Saúde estabeleceu em 2002:
“Os Cuidados Paliativos visam melhorar a qualidade de vida dos doentes com
doenças graves e/ou incuráveis, avançadas e progressivas - e das suas famílias
prevenindo e aliviando o sofrimento através da detecção precoce, avaliação
adequada e tratamento rigoroso dos sintomas físicos, psicossociais e espirituais".
Este serviço tem bem definidas quais as sua directrizes1
:
Defender a vida e aceitar a morte como um processo normal que
não antecipam nem atrasam
Melhorar o bem-estar e a qualidade de vida dos doentes;
Promover uma abordagem holística do sofrimento (físico,
psicossocial e espiritual);
Ajudar a família /cuidadores a superar a doença e a morte (consulta
no luto)
Quando os doentes chegam a este serviço, percorreram um caminho que os levou
por passar pela clínica de patologia multidisciplinar a que pertenciam, pelos
tratamentos exaustivos, por inúmeros exames complementares de diagnóstico,
etc. O processo de admissão a este serviço inicia-se com um pedido formal do
médico assistente ou da consulta de grupo (após discussão com o doente e/ou
família), tendo em conta os critérios de admissão do serviço:
1
http://www.ipoporto.min-saude.pt/Servicos/Servicos_Clinicos/c/Servi%C3%A7o+de+Cuidados+Paliativos.htm
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Idade igual ou superior a 16 anos, portadores de
sintomas/problemas intensos ou incapacitantes resultantes de
doença oncológica incurável, avançada e progressiva sem resposta
aceitável à terapêutica anti-neoplásica ou,
Que recusaram esta terapêutica após explicação por parte do seu
médico assistente dos seus benefícios e riscos.
Dentro do serviço de cuidados paliativos do IPO porto existem três grandes
valências nos cuidados ao doente.
1) EQUIPA INTRA HOSPITALAR
Esta equipa, composta por um médico e um enfermeiro faz a primeira visita ao
internamento e representa muitas das vezes o primeiro contacto que os doentes
têm com a equipa e com a filosofia do serviço. Avaliam o doente não só quanto
ao seu estado biológico, mas também no seu estado emocional, social e familiar.
Na primeira conversa que é tida com doente, após a apresentação, é pedido aos
doentes que expliquem o que sabem da sua doença e da evolução da mesma, se
conhecem o conceito de cuidados paliativos e se sabem para o que servem. O
que foi constatado foi que os doentes devolvem as perguntas aos profissionais
esperando sempre respostas diferentes daquelas que, na maioria dos casos,
sabem estar correctas.
De seguida são avaliadas as questões bio-psico-sociais e familiares dos doentes e
questionadas as suas necessidades de conforto. Constatada a necessidade de
internamento o doente passa a ser seguido pela equipa dos cuidados paliativos
em contexto hospitalar. Se não se justificar o internamento é preparada a alta do
internamento para que os doentes possam ir para o domicílio passando, então, a
ser seguidos pela consulta externa. Durante o período de estágio a mestranda
acompanhou esta equipa durante duas manhãs, observando um total de 10
doentes (cerca de 6 novos doentes e acompanhamento de 4 outros doentes que
ainda tinham decidido optar pelos cuidados paliativos)
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
2) CONSULTA EXTERNA E ASSISTÊNCIA DOMICILIÁRIA
2.1) Consulta externa
O serviço da consulta externa e o gabinete da visita domiciliária situam-se
no piso imediatamente superior ao piso de internamento, o que faz com
que a comunicação entre estas três valências esteja, naturalmente,
facilitada.
Os doentes, não internados, são chamados à consulta onde entram em
contacto, pela primeira vez, com o serviço e equipa e onde são efectuados
os mesmos procedimentos dos já realizados pela equipa intra hospitalar.
Aí conhecem o médico que o vai assistir até ao fim da vida e espera-se que
se inicie uma nova relação de empatia e confiança. A consulta de
enfermagem funciona como uma continuação da consulta médica em que
é efectuado o encaminhamento global ao doente e família. Nesta altura é
possível pedir a colaboração imediata do serviço social para que possam
informar/intervir no doente e família. Durante o tempo de estágio foi
possível assistir a cerca de 10 consultas médicas e de enfermagem em
duas manhãs.
2.2) Assistência domiciliária
Outra valência onde decorreu o estágio foi a visita domiciliária de um
enfermeiro do serviço. Aqui o trabalho é desenvolvido por um enfermeiro,
que por vezes é acompanhada por um voluntário da Liga Portuguesa
Contra o Cancro. Esta valência, que abrange unicamente a área do
concelho do Porto, revelou-se de extrema importância para os doentes e
família. A mestranda acompanhou a enfermeira durante 3 manhãs,
visitando cerca de 15 doentes e suas famílias.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
A visita domiciliária permite que os doentes estejam em suas casas a
serem cuidados pelas suas famílias/entes queridos e que sintam a
segurança da ligação à instituição e à equipa que os seguem.
Esta visita consiste não só num acompanhamento regular da situação do
doente e onde o enfermeiro funciona como elo de ligação entre o doente e
família, mas também como forma de avaliação das necessidades dos
doentes e execução de tratamento de feridas que outras técnicas de
enfermagem que se revelem necessárias e possam ser efectuadas em casa.
Ao visitar o doente no seu ambiente natural foi possível ter com mais rigor
a percepção das dimensões social e familiar da doença o que, muitas
vezes, em contexto hospitalar, não é tão evidente nem tão lembradas
como deveriam.
Pensa-se que será relevante partilhar uma das experiências vivenciadas pela
mestranda na passagem por esta valência do serviço de cuidados paliativos que a
marcou de uma forma especial, uma vez que pode acompanhar o referido caso
durante algum tempo, que permitiu experimentar mais de perto o espírito que é
vivido nos cuidados paliativos do IPO - Porto.
Uma doente, de 60 anos, chega ao serviço de cuidados paliativos para uma
primeira consulta acompanhada pelo marido. Com algumas limitações físicas
utiliza uma cadeira de rodas e parece perceber o ambiente envolvente. Não
possui uma articulação muito eficaz das palavras, mas aparenta estar consciente
e orientada.
A consulta inicia-se na presença do médico especialista, do médico interno de
especialidade, do marido e da mestranda. O marido mostra-se bastante ansioso
com a consulta. Após os cumprimentos iniciais, o médico interroga a doente
sobre o seu estado de saúde. Quem responde é o marido que se queixa de não
ter sossego nem de dia nem de noite. Quando o médico questiona sobre o
serviço de cuidados paliativos é novamente o marido quem intervém não só
dando uma definição estereotipada do serviço (“é para onde vão os doentes que
já não têm cura”) como criando a expectativa de que a doente pudesse ficar
internada desde logo. Nesta altura o médico corrige o marido e explica não só, o
que são os cuidados como sugere que para o doente é sempre melhor estar no
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
58
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
conforto da sua casa. Mais uma vez o marido interrompe o médico queixando-se
que não conseguia descansar nem tinha quem o ajudasse nas tarefas de casa
apesar de ter uma filha que habitava perto deles. É então que o médico propõe
uma terapia de estabilização do sono e a sinalização deste caso junto da
assistência social. Só nesta altura a doente se pronuncia pelo seu desejo de ficar
em casa e o marido, ainda que não totalmente convencido, aceita.
Ficou acordado entre todos que a doente iria para casa com medicação
apropriada para descansar durante a noite e foi pedido que, se possível, a filha
que mora com o casal pudesse entrar em contacto com o médico para esclarecer
a situação. No próprio dia, antes de sair do IPO tiveram um encontro com a
assistente social que identificou a situação, providenciou recursos para que
doente estivesse mais confortável na sua casa (cadeira de rodas e cama
articulada) e referenciou a situação para um centro de dia perto da residência.
Passados alguns dias, já na assistência domiciliária a mestranda teve
oportunidade de acompanhar a enfermeira ao domicílio da desta doente, uma vez
que a situação tinha sido referenciada para vigilância dos cuidados prestados à
doente e avaliação do estado geral da doente relativamente ao ajuste de
medicação.
Foi possível observar que o marido estava mais calmo, no que diz respeito aos
cuidados com a esposa, visto que a filha, após contacto com o médico, pode
proporcionar ajuda nos cuidados com a casa e à doente. A doente mostrou-se
mais activa, com melhor disposição e mais colaborante na comunicação.
Este episódio é significativo da importância de prestar uma atenção particular à
dinâmica familiar que, neste caso, era de difícil gestão entre pai e filha. É também
significativo de como uma intervenção adequada da equipa pode funcionar como
um elemento facilitador da comunicação em prol do melhor bem-estar da doente.
3) INTERNAMENTO
A estrutura física do serviço consiste em quartos individuais com a possibilidade
da presença permanente de alguém significativo para o doente. Durante as 35
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
59
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
horas de estágio foi possível colaborar com a equipa de enfermagem no apoio
emocional ao doente e família e na prestação de cuidados directa de cuidados.
A central de enfermagem é visível à saída de cada quarto de modo a que os
doentes sintam sempre a presença de alguém. O serviço possui também as
condições necessárias para hidromassagem ou outras terapias alternativas para o
alívio sintomático. Existe uma sala dedicada à transmissão das más notícias em
que os doentes/familiares podem expressar o seu sofrimento no imediato sem
receios de estarem a expor as suas emoções.
Existe uma reunião diária entre médicos e equipa de enfermagem onde são
efectuados resumos da situação de cada doente internado (física, psicológica,
social e familiar) e uma reunião semanal que congrega todos os profissionais da
equipa, o que faz com que todos estejam a par da situação de todos os doentes
internados.
A relação que os profissionais estabelecem com a família do doente não se inicia,
apenas aquando do internamento uma vez que ela vem, em geral, desde o
acolhimento do doente na consulta externa, prolongou-se durante a visita
domiciliária e por vezes em internamentos anteriores. Desta forma é possível
perceber que esta relação, quando pré existente, já é sólida e coesa. A relação de
ajuda existente entre as pessoas (profissionais, doentes e familiares) tem como o
objectivo principal o bem-estar holístico do doente, pelo que lhe é inteiramente
dedicada.
No serviço de cuidados paliativos é de realçar a excelente articulação entre toda a
equipa em prol da melhor assistência possível ao doente e família. Os
profissionais trabalham efectivamente no serviço e são destacados para as
diferentes valências o que se traduz num conhecimento profundo das mesmas,
dos doentes e familiares.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
A patologia de cabeça e pescoço na região do Norte têm uma taxa de incidência
de 13,7/100.000 da doença oncológica do Norte (RORENO 2006, 2010) sendo o
cancro da laringe o oitavo mais frequente atingindo, maioritariamente, a
população masculina. Esta clínica encontra-se dividida entre a consulta de
otorrinolaringologia (ORL) e a consulta de cabeça e pescoço.
Na primeira são observados os doentes com patologia até ao terço posterior da
língua por médicos de ORL e na segunda são observados por oncologia
(oncologista médica e cirúrgica). Durante o tempo de estágio a mestranda teve
oportunidade de estar presente em ambas, mas passando a maioria do tempo na
consulta de cabeça e pescoço.
Os doentes da consulta de cabeça e pescoço, têm um tempo médio de espera
desde que são aceites na instituição e o primeiro acto terapêutico de 64 dias e de
os da consulta de ORL de 69 dias, de acordo com os dados de 2010.
De todos os locais onde se realizou este estágio, a clínica de cabeça e pescoço -
consulta de cabeça e pescoço e ORL - é aquele que, a nível de espaço físico,
apresenta condições mais deficientes tanto para os profissionais que lá exercem
as suas funções como para os doentes que as utilizam. Em cada local, existem
três gabinetes médicos, uma sala de reuniões, uma sala de tratamentos e um
muito pequeno gabinete onde se encontram os processos clínicos dos doentes
que irão ter consultas nesse dia e onde se efectuam muitas vezes as consultas de
enfermagem quando não existe nenhum gabinete médico disponível para o
efeito.
A patologia da cabeça e pescoço é uma patologia bastante visível uma vez que se
pode revelar bastante incapacitante e mutilante.
Além da doença propriamente dita o doente enfrenta, na maioria dos casos,
diversos problemas associados como sejam:
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Deglutição, o que leva a um emagrecimento rápido e incapacitante
que se traduz na necessidade de colocar gastrotomias ou sondas
nasogástricas para alimentação;
Dificuldades respiratórias, o que pode levar a ostomias de urgência
(laringectomia/ traqueostomia);
Imagem corporal e comunicação verbal alteradas (glossectomias
totais e parciais; madibulectomias, etc.); lesões exsudativas,
sialorreia, etc.
O doente “tipo” desta clínica apresenta antecedentes de hábitos tabágicos e/ou
alcoólicos mais ou menos acentuados, com baixo nível de literacia,
desempregados ou com trabalho precário. A maioria mostra-se renitente em
abandonar esses hábitos aquando do diagnóstico e durante os tratamentos e
muitas vezes traduz-se na dificuldade e falta de vontade em adesão ao
tratamento proposto.
Nesta clínica, seguem-se os procedimentos já explicados no enquadramento
prático deste relatório.
CONSULTAS MÉDICAS (ONCOLOGIA MÉDICA E CIRÚRGICA)
Nas consultas médicas é apresentada, o mais detalhadamente e
compreensível possível, a doença. O médico investiga hábitos de risco que
o doente possa possuir o e tenta motivar ao abandono desses mesmos
hábitos. É feita a tentativa de concentrar o doente no seu processo de cura,
de modo a obter uma adesão terapêutica eficaz. Foi facultado à mestranda
estar presente em 5 consultas de oncologia médica e de oncologia
cirúrgica.
É também objectivo das consultas médicas fazer a avaliação da resposta da
doença aos tratamentos em curso, bem como das toxicidades/ efeitos
indesejáveis por eles provocadas. A consulta de radioterapia, componente
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
essencial no tratamento ao doente de cabeça e pescoço, funciona num
serviço próprio, onde os doentes efectuam todos os procedimentos ligados
à radioterapia
CONSULTAS DE ENFERMAGEM;
A consulta de enfermagem, a par da consulta médica, tenta perceber as
necessidades dos doentes e procura dar-lhes uma resposta adequada,
fornecendo a motivação e ferramentas para que os doentes adoptem
estilos de vida mais saudáveis. O encaminhamento para outras áreas de
conhecimento é efectuado na perspectiva de melhoria de cuidados.
O trabalho da consulta de enfermagem é dificultado pela ausência de um
espaço próprio e adequado às necessidades dos enfermeiros no cuidado
doentes. A falta de privacidade torna-se num obstáculo na comunicação
entre o enfermeiro e o doente. Foi possível estar presente e colaborando
com a equipa e contactando directamente com o doente em cerca de 20
consultas de enfermagem.
CONSULTAS DE GRUPO;
Nas consultas de grupo que foram observadas encontravam-se presentes
as especialidades médicas de cirurgia, oncologia médica e radioterapia e
um enfermeiro. Foi possível estar presente em duas consultas de grupo na
consulta de cabeça e pescoço com uma média de 14 doentes por consulta
multidisciplinar e numa na consulta de ORL na presença de 12 doentes.
Após a discussão do caso e observação do doente a melhor opção
terapêutica (escolhida pelo grupo) era comunicada ao doente e familiar
presente dando a opção de aceitar ou não.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
TRATAMENTOS;
Nesta clínica foram observados procedimentos como biopsias da cavidade
oral, treinos de deglutição, ensinos relativos à adaptação a ostomias,
adaptação a próteses fonatórias com a ajuda de um terapeuta da fala,
tratamento de feridas.
Encontra-se também, em fase de experimentação, um gabinete onde é efectuada
a avaliação da qualidade de vida de forma quantitativa, pelo próprio doente, em
ecrã táctil e na presença de um enfermeiro, em que a mestranda teve
oportunidade de observar o seu funcionamento com 5 doentes.
Nesta clínica funcionam também os planeamentos cirúrgico, de bloco operatório
e de unidades de cirurgia ambulatório, uma consulta semanal de medicina interna
e uma consulta semanal de cirurgia plástica, o que inevitavelmente não deixa
espaço para a identificação dos profissionais com o serviço de cabeça e pescoço.
Apesar das dificuldades com que os profissionais se debatem é de realçar a
preocupação com os doentes, no que diz respeito à sua evolução/ involução na
resposta aos tratamentos, prognósticos, recuperações ou perdas de função e
adaptação aos novos hábitos de vida adoptadas ou não pelos doentes
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
A patologia oncológica digestiva representa cerca de 31% dos cancros da zona
Norte de Portugal com uma taxa de incidência de 124.3/100000. Dentro deste
grupo, o cancro colon-rectal foi o de maior incidência, com 1333 novos casos em
2006 (taxa de incidência de 40,5/100000). (Roreno 2006, 2010).
Os doentes da patologia digestiva têm, segundo os dados de 2010, um tempo
médio de espera desde que são aceites na instituição e o primeiro acto
terapêutico de 67 dias.
A actividade, nesta clínica, segue o ritmo normal com excepção do
funcionamento do gabinete de ostomias e da fase experimental de um projecto
de um “call-center” coordenado pela equipa de enfermagem.
CONSULTAS MÉDICAS (ONCOLOGIA MÉDICA E CIRURGIA)
São directrizes da clínica de patologia digestiva que as primeiras consultas
devem realizar-se no prazo máximo de uma semana (seis dias) após a
admissão do doente na instituição, segundo algumas linhas orientadoras:
a) Em doentes cujo tratamento de tumor é cirúrgico (doentes sem
doença metastática) ou em doentes com metastização hepática a
consulta será realizada pelo serviço de oncologia cirúrgica;
b) Em doentes com doença metastática ou que o tumor primário
tenha sido já tratado cirurgicamente a consulta será realizada
pelo serviço de oncologia médica.
À semelhança de todas as outras clínicas, os objectivos das consultas
médicas, para além do exame físico, centram-se na apresentação,
discussão e esclarecimento dos tratamentos propostos pela consulta de
grupo, tentando respeitar os ritmos, valores e vontades dos doentes. É
também nestas consultas que são elaborados em conjunto com os doentes
um plano terapêutico, de modo a que saibam quais os passos a seguir,
respeitando as directrizes da clínica.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Foi possível à mestranda estar presente em algumas destas consultas.
À semelhança da clínica de mama, a clínica de patologia digestiva tem
reuniões de grupo de oncologia cirurgia e oncologia médica e são
submetidos a estas consultas de grupo de especialidade os doentes cujo
primeiro tratamento, segundo as recomendações da Clínica de Patologia
Digestiva, está relacionado apenas com uma especialidade.
CONSULTA DE ENFERMAGEM
Na consulta de enfermagem da clínica de patologia digestiva é feita com
mais pormenor a avaliação do estado nutricional (com calculo de índice de
massa corporal e peso perdido) e o respectivo encaminhamento para a
consulta de nutrição, também presente na clínica.
A consulta de enfermagem segue-se à consulta médica e nela são
novamente explicados os procedimentos que foram discutidos na consulta
médica bem como os tratamentos de quimioterapia, radioterapia e cirurgia
a que os doentes irão ser submetidos e estratégias para utilizar nas
actividades de vida diária para adaptação às alterações que os mesmos
poderão provocar. Foram observadas cerca de 30mconsultas de
enfermagem em que a mestranda teve oportunidade de contactar
directamente com os doentes e familiares.
Para os doentes com patologia de cólon-rectal a efectuar quimioterapia
endovenosa e oral, encontra-se em funcionamento experimental (com o
apoio de um laboratório farmacêutico) um call-center, que tem como
objectivo contactar o doente na primeira semana após o inicio de cada
ciclo de quimioterapia para o questionar acerca dos efeitos secundários e
sintomáticos e fazer o respectivo aconselhamento, fornecer estratégias
concretas para a sua resolução e seguimento telefónico até melhoria
sintomática ou encaminhamento para o médico assistente ou serviço de
atendimento não programado (SANP).
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
66
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
A mestranda teve oportunidade de observar durante uma tarde, tendo sido
efectuados 6 contactos com os doentes, a dois dos quais foi dado o
encaminhamento para o SANP (por mucosite e rectorragias).
Este apoio é prestado pelos enfermeiros da clínica de patologia digestiva
fora do horário normal de trabalho.
Outra das valências bastante importante da clínica de patologia digestiva é o
gabinete de ostomias. No gabinete de ostomias são explicados os
procedimentos a efectuar, fazem-se a marcação do local da ostomia
programada (ileostomias e colostomias), são desmistificados alguns
conceitos relacionados com ostomias, efectuados ensinos sobre
alimentação, higiene e adaptação das actividades de vida diária à ostomia.
Aqui é de salientar a presença de uma enfermeira especializada em
ostomias - única na instituição, que transmite, de uma forma única,
segurança e tranquilidade aos doentes e familiares, no que diz respeito à
continuidade da vida após a ostomia.
CONSULTA GRUPO MULTIDISCIPLINAR
A consulta de grupo multidisciplinar desenvolve-se da mesma forma que nas
restantes clínicas. Devido ao elevado número de doentes por consulta de
grupo surgiu a necessidade de estarem duas equipas (cirurgião, oncologista
médico, Radioterapeuta e enfermeiro) em simultâneo a efectuarem a
consulta de grupo.
Após a discussão do caso clínico, o médico responsável pelo tratamento
proposto comunicava ao doente a opção terapêutica escolhida e informava
de que iria existir uma outra consulta onde tudo seria explicado mais
pormenorizadamente. Foi possível à mestranda estar presente em duas
destas consultas onde foram observados uma média de 26 doentes.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
67
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
PLANEAMENTO CIRÚRGICO
A mestranda teve oportunidade de estar presente em duas consultas de
planeamento cirúrgico. Nesta consulta os procedimentos cirúrgicos são
explicados pormenorizadamente ao doente e, após a assinatura do
consentimento informado, são agendadas as datas da cirurgia e as
consultas e procedimentos pré - operatórios. Não raramente constatou-se
que os doentes só se apercebiam dos procedimentos cirúrgicos propostos
nesta consulta e sentiam grande dificuldade em compreender/ aceitar os
procedimentos propostos, nomeadamente as que implicavam colostomias
definitivas. Aqui, os enfermeiros informam os doentes das marcações e do
tempo de internamento previsto, entre outras informações de ordem mais
prática.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
68
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Nesta discussão pretende-se analisar de forma crítica o modo como a
implementação das mudanças observadas foram efectuadas relacionando-as com
os cuidados centrados nos doentes e experiência profissional da mestranda à luz
do enquadramento teórico anteriormente mencionado, identificando as boas
práticas e obstáculos/dificuldades que se colocam aos profissionais de saúde em
oncologia.
O Instituto Português de Oncologia – Porto, instituição onde foi realizado o
estágio, tem vindo a desenvolver esforços para ir de encontro à filosofia dos
cuidados centrados no doente quer através da gestão dos serviços, da
remodelação das estruturas físicas de atendimento ao doente, da construção de
equipas multidisciplinares quer através da formação dada aos diferentes
profissionais. Naturalmente ainda é necessário um investimento maior para que
todos possam assimilar por completo o conceito, mas podemos afirmar que o
esforço para a sua implementação está, a dar os seus frutos.
Os cuidados centrados no doente, não tratam apenas da cura ou paliação da
doença oncológica: tratam do doente nas suas múltiplas dimensões: as
patologias associadas (relevantes para a doença oncológica ou não), a situação
social e familiar e as suas crenças e valores, ou seja, focam a sua atenção para
aquilo que é importante para o doente. A estrutura para que se possam efectuar
este tipo de cuidados está hoje montada, necessitando apenas de alguns ajustes
no que diz respeito a tempo, recursos e disponibilidade.
Na generalidade das clínicas e serviços da instituição nota-se que existe a
preocupação com o doente e com o seu bem-estar. Nota-se também que os
profissionais se sentem muitas vezes assoberbados de trabalho, principalmente a
equipa médica, uma vez que têm de dar resposta aos doentes em ambulatório e
aos doentes internados durante o tempo efectivo de serviço e por isso focalizam-
se nos assuntos considerados mais importantes - o nível de importância varia de
acordo com os olhos de quem a vê, profissional ou doente - optando, por vezes,
inconscientemente pelo modelo paternalista em vez do modelo deliberativo,
modelo este preconizado pelo conceito dos cuidados centrados no doente.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Sendo a cura da doença oncológica uma corrida contra o tempo, este torna-se um
factor essencial para a equipa de saúde e doente. Os espaços de tempo que
decorrem entre as diversas etapas (entre a aceitação do doente na instituição e
primeira consulta, esta e a tomada de decisão e desta ultima ao primeiro acto
terapêutico) pelas quais o doente passa para atingir os objectivos propostos pelo
plano terapêutico estão enquadrados nos padrões da instituição, no entanto para
o doente que vive a incerteza do futuro, a vontade de ficar curado e de não
morrer, qualquer tempo de espera é quase insuportável. Assim como se torna
difícil para os doentes aproveitar o tempo que lhes é dado para tomar decisões
relativas ao seu processo de doença, visto que muitas das vezes têm que lidar em
primeiro lugar com o processamento da informação que lhes é fornecida. Todos
estes compassos de espera traduzem-se num sentimento de insegurança.
Nas consultas que foram observadas, pode assistir-se ao esforço efectuado pelos
profissionais para que o doente possa transmitir a quem o atende, as suas
preocupações, medos, frustrações, crenças e valores, e também para que estes
sentimentos sejam retribuídos pelo reconhecimento do interlocutor.
Mas por vezes, o doente por falta tempo, de empatia, por não se lembrar ou por
não se sentir à vontade para o dizer acaba por não expor os seus sentimentos e
consequentemente as dúvidas, comprometendo assim o sentimento de segurança
que deveria estar presente.
Em algumas clínicas, particularmente naquelas cujo elevado número de consultas
diárias como a clínica de mama – em que o número de consultas por dia chega
em média às 100 - ou a da patologia digestiva – em que ascende em média as 70
consultas, a tarefa de escutar com tempo e dedicação tudo o que preocupa e
angustia o doente torna-se numa quase impossibilidade: o tempo necessário para
tratar os assuntos essenciais como avaliação geral, o exame físico, a explicação
de diagnóstico, o pedido de exames, etc. é já de si tão curto que pouco mais
sobra que um sorriso de chegada ou de despedida.
O mesmo acontece no internamento (de acordo com experiência profissional da
mestranda de seis anos no internamento de oncologia médica). A consulta rápida
que é efectuada no internamento pode ser atribuída à falta de tempo, que é real,
mas também à falta de disponibilidade emocional, seguramente, inconsciente,
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
70
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
para ouvir os doentes. Assim como, os enfermeiros que prestam cuidados
directos ao doente, muitas das vezes procuram o distanciamento do doente no
que diz respeito à sua disposição de espírito ou preocupações. Não é fácil
encontrar as razões mais profundas para esta situação. O tempo, ou a sua falta,
podem, com certeza, ajudar a justificar, mas pode também acontecer que, por
estarem demasiado próximos dos doentes criem alguma distância como forma de
evitar a sensação da sua própria impotência ou a existência de perguntas
incómodas. E isto provoca muitas vezes no doente a sensação de desamparo e de
não saber a quem recorrer. Uma das questões que mais perturba os doentes é o
facto de as consultas médicas não serem sempre efectuadas pelo mesmo médico,
pois os médicos internos (que se encontram a efectuar a especialidade) também
têm consultas, mas a maior parte sem o acompanhamento presencial do
especialista responsável dada a falta de especialistas. Assim, o doente tem que
interagir com alguém que não é o seu médico o que leva a um maior sentimento
de insegurança.
Outra das situações que deixa o doente com a sensação de desamparo acontece
quando chega a outros serviços (como o hospital de Dia, ou para a realização de
exames) à procura de respostas às suas dúvidas, com queixas relacionadas com a
doença ou até sobre outros aspectos mais particulares e que o preocupam na
evolução do seu processo clínico e não obtém resposta da parte do médico ou do
enfermeiro que o remetem para o médico assistente.
Naturalmente que este procedimento por parte destes profissionais é, do ponto
de vista ético, correcto, mas não tem em conta que, provavelmente, que o doente
já tinha estas dúvidas na altura da consulta e que as quis colocar ao
médico/enfermeiro, mas não houve tempo ou confiança suficiente para o fazer.
Importava, aqui, mais uma palavra de estímulo e de confiança ao doente de modo
a ele ser capaz de colocar todas as questões no momento da sua consulta ou,
até, uma nota a colocar no processo clínico do doente como alerta para o médico
ou enfermeiro que o assiste. É importante que os profissionais de saúde sejam
capazes de distinguir os doentes que se encontram dispostos a apresentar todas
as questões (às vezes até as mais impertinentes) daqueles outros que por
diferentes motivos (educação, iliteracia, pudor, sentimento de culpa, etc.) se
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
71
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
sentem mais retraídos perante quem julgam ter o dom de decidir bem ou mal
sobre a sua situação.
O serviço de oncohematologia, pelo volume de doentes que atende por dia –
cerca de 20 - consegue dar a resposta mais adequada e completa aos seus
doentes. Nesta, há espaço e tempo para colocar questões, prestar
esclarecimentos e fornecer explicações detalhadas dos tratamentos e seus efeitos
secundários. Nesta clínica, antes de cada tratamento de quimioterapia os doentes
têm uma consulta com o seu médico assistente, onde é feita a avaliação do
estado geral e das condições físicas do doente para a realização do tratamento.
No internamento, em geral, o médico senta-se junto do doente e conversa
demoradamente com ele não só sobre a doença, mas sobre a vida em geral. Os
enfermeiros conhecem a vida familiar do doente, sabem quantos filhos tem,
quando é o seu aniversário e organizam-lhe uma pequena festa, encomendando
um bolo à cozinha e juntando-se para lhe cantar os parabéns e apagar as velas.
São estes “pequenos detalhes” que transmitem a sensação de segurança e
confiança ao doente e aliviam o stress.
Outro serviço que pareceu bastante eficaz na gestão do tempo dedicado aos
doentes foi o serviço de cuidados paliativos que, apesar dos poucos recursos
humanos de que dispõe, consegue mobilizar-se para ultrapassar essas limitações
e disponibilizar-se de forma total de modo a que os doentes e seus familiares
sintam confiança na equipa que os acompanha. Este nível de confiança e de
segurança é transmitido à família mesmo após a morte do doente.
A relação de confiança nos profissionais e na sua dedicação ao doente inicia-se
na equipa intra hospitalar ou na consulta e estende-se a todas outras valências
(internamento, assistência domiciliária).
Na equipa intra hospitalar, na consulta, na visita domiciliária ou nos cuidados ao
doente não foi possível percepcionar nenhuma pressa com o tempo que é
dispendido no doente: permanece-se junto dele o tempo que ele precisa para se
sentir reconfortado. Tal é realizado sem preocupação pela vida pessoal dos
profissionais que, muitas vezes, pode ser prejudicada.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Na clínica de cabeça e pescoço a grande preocupação prende-se com a melhoria
da gestão do tempo disponibilizado, uma vez que não sendo uma das clínicas
onde existe maior número de doentes – cerca de 17 consulta médicas diárias em
média, considera-se que com algumas adaptações e melhoria das condições da
estrutura física, seria possível uma organização e estruturação do plano das
consultas mais eficaz. Os doentes portadores desta patologia têm uma panóplia
de riscos e problemas associados que beneficiariam de um acompanhamento
mais regular e constante por parte dos profissionais que os acompanham.
Nas clínicas de mama e patologia digestiva verificou-se que têm uma estrutura
física adequada, profissionais disponíveis e sensibilizados para os melhores
cuidados possíveis aos doentes, mas de alguma forma insuficientes para que o
acompanhamento seja efectuado da forma como os doentes desejariam.
O tempo que é dado ao doente para pensar na opção pelo tratamento proposto é
escasso apesar das consequências futuras que acarreta para a vida do doente
(por exemplo: quimioterapia com náuseas e alopécia; cirurgia com traqueotomia).
Normalmente comunica-se ao doente na consulta de grupo multidisciplinar ou de
especialidade qual a opção terapêutica escolhida pelo grupo e esta deverá ser
debatida com o médico que assiste o doente, na consulta seguinte. O que
acontece algumas vezes é que o doente selecciona e processa apenas parte da
informação fornecida o que leva muitas vezes a que, principalmente na consulta
de planeamento cirúrgico, a explicação do procedimento e consequências seja
uma “novidade” para o doente.
De seguida relata-se uma situação observada, seguramente não representativa da
maioria, mas que pode ajudar a ilustrar este mesmo momento, em que os
doentes, pela situação de “alienação” em que se encontram não compreendem as
dimensões do que lhes é transmitido.
Numa consulta de planeamento cirúrgico da clínica de cabeça e pescoço, o
médico explica novamente qual o procedimento cirúrgico previsto e as
consequências que o mesmo vai produzir na vida do doente. O doente começa
por perguntar quando seria feita a intervenção cirúrgica para corrigir as sequelas
desta e, quando lhe é referido que não vai poder utilizar a voz como antes o
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
73
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
fazia, tem uma reacção negacionista prontamente corrigida pela esposa que
confirma que todas estas indicações já tinham sido apresentadas.
Dada a situação, o médico recapitula tudo o que já tinha sido dito na consulta
anterior e questiona o doente se desta vez tinha compreendido tudo. É então que
o doente pergunta quando tem que dar uma resposta ao que o médico lhe
responde que esta é a consulta da resposta, isto é, que a resposta tem que ser
dada neste momento e propôs-lhe uns minutos de reflexão.
Após 15 minutos o doente acaba por assinar o consentimento informado e a
proposta cirúrgica.
A partir deste diálogo, é possível perceber que:
O doente não assimilou, na consulta de grupo, que a laringectomia
era de carácter definitivo, que sabemos que foi dito, pois a esposa e
médico confirmaram, e, por isso, na óptica do doente, a opção pela
cirurgia naquela altura pareceu-lhe de fácil aceitação.
A pressão do tempo a que estão sujeitos os profissionais acaba por
ser demonstrada também na relação com os doentes.
O tempo que foi dado para o doente pensar numa decisão que
afectaria o resto da sua vida foi, de facto, de 15 minutos.
Na tomada de decisão pensa-se que seria possível chegar a um acordo
satisfatório para as partes se fosse dada a oportunidade de uma segunda
discussão, ainda que apenas com um profissional da equipa e, sobretudo,
quando existem dúvidas relativamente ao procedimento a efectuar. Tal permitiria
dar mais tempo para assimilar melhor a informação (o que não aconteceu após a
consulta de grupo), discutir no seio familiar e a possibilidade de colocar outras
dúvidas que pudessem surgir após a reflexão. Não poderia ser um tempo longo
nem que ocupasse toda a equipa, mas um encontro de informação com um dos
elementos mais disponíveis.
Outra das situações que foi observada pela mestranda durante o estágio e que é
passível de melhorias consiste na articulação entre os enfermeiros das clínicas
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
multidisciplinares de patologia e o respectivo internamento, visto que os médicos
que atendem o doente em ambulatório e no internamento são os mesmos.
O exemplo onde esta articulação foi mais visível e bastante bem sucedida, foi na
oncohematologia onde os médicos são os mesmos e os enfermeiros da consulta
e internamento comunicam diariamente entre si sobre a clínica e os doentes,
fazendo breves actualizações dos processos.
A articulação entre internamento e consulta também funciona muito bem no
serviço de cuidados paliativos se bem que em moldes diferentes pois os
enfermeiros que estão na consulta também prestam algumas vezes cuidados no
internamento e vice-versa, o que não sucede na oncohematologia.
Percebe-se que o doente/família, nas clínicas onde não existe uma comunicação
eficaz na equipa nem uma articulação completa com todos os serviços, se sentem
mais “perdidos”, pois não têm uma referência de equipa e são obrigados a repetir
as mesmas histórias e situações (história clínica, situações ocorridas durante
tratamentos, sentimentos, valores, etc.) na consulta e no internamento. Esta
articulação quando é feita de forma eficaz permite aos enfermeiros poupar tempo
nos cuidados ao doente uma vez que conhecendo as situações se poderá actuar
directamente na área pretendida, levando a uma continuidade dos cuidados
efectiva e eficaz.
Percebeu-se que a folha de colheita de dados que os enfermeiros preenchem na
primeira consulta se torna pouco útil na continuidade de cuidados, pois muita
informação que o doente fornece fica perdida não sendo por isso transmitida aos
outros profissionais de enfermagem que cuidam do doente. Essa mesma folha é
preenchida por outro enfermeiro de cada vez que o doente tem um internamento.
Notou-se que os profissionais, no preenchimento, têm a tendência para enfatizar
algumas áreas em detrimento de outras de acordo com o interesse e experiência
individual, não sendo por isso um instrumento isento e que dê resposta a todos
enfermeiros que cuidam do doente.
Como já foi anteriormente referido a comunicação eficaz é um pilar dos cuidados
centrados no doente e nesta categoria engloba-se também a comunicação intra
equipa. Por definição, equipa é:
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
75
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
”Grupo de homens que trabalham na mesma tarefa, ou que unem os esforços
com um mesmo propósito (…) Espírito de equipa, espírito de solidariedade que
anima os membros de um mesmo grupo”.2
E, visto que numa equipa de saúde o objectivo comum é o doente pensa-se que
será lógico deduzir que quanto maior for o espírito de equipa que une os
enfermeiros dos diferentes serviços que cuidam do doente, maiores e melhores
serão os resultados para o mesmo.
Muitos enfermeiros não sabem que tipo de actividades é desenvolvido pelos
diferentes serviços pelo que, por vezes, não conseguem estabelecer uma
comunicação eficaz com os doentes visto que não conhecem a realidade. Por
exemplo: a maioria dos enfermeiros da medicina oncológica digestivos não tem
presente que na clínica de patologia é avaliado o estado nutricional dos doentes
ou de que forma é feita esta avaliação.
Durante a discussão deste relatório de estágio de mestrado foram identificadas
algumas dificuldades e/ou obstáculos existentes aos cuidados centrados no
doente e à forma como o doente os identifica como centrados em si.
Desta forma, esta discussão com a identificação de dificuldades ou obstáculos
percepcionados não faria qualquer sentido, se com ela não fosse possível deixar
algumas sugestões na tentativa de ajudar a resolver algumas das dificuldades
identificadas.
2
http://www.dicionariodeportugues.com/significado/equipe-18752.html
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
76
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Os cuidados centrados no doente são hoje uma preocupação quer para a
instituição onde decorreu o estágio quer para os profissionais de saúde em
oncologia que lá trabalham, pois toda e envolvência do doente, a comunicação e
forma como doente enfrenta o binómio de doença-cura são de vital importância
da adesão ao tratamento por parte do doente e família.
Este relatório tem como principal finalidade, além de ser um instrumento de
avaliação para conclusão do mestrado em enfermagem oncológica, relatar com a
maior isenção possível a forma como os cuidados centrados no doente estão a
ser implementados no IPO do Porto e de que forma estes se traduzem numa
melhoria de cuidados aos doentes oncológicos.
Da observação efectuada em 350 horas de estágio pelos diferentes serviços foi
possível chegar a algumas conclusões.
O investimento que está a ser feito a nível da instituição é grande no que diz
respeito à melhoria dos espaços físicos, das condições arquitectónicas que são
dadas aos doentes, na aquisição de novos meios auxiliares para diagnósticos
mais rápidos, precisos e fiáveis.
Os profissionais de saúde sabem e reconhecem que os cuidados centrados no
doente são a forma que a instituição escolheu para que os cuidados fossem aí
prestados e na sua maioria estão de acordo que será a melhor forma de o fazer,
mas alguns ainda não encontraram, na sua prática diária, a forma mais eficaz de
alterar modelos de relação com o doente bastante enraizados e que não
correspondem à forma como os cuidados centrados no doente deverão ser
prestados.
O tempo que, em alguns casos, é dado ao médico/enfermeiro para prestar
cuidados, solidificar a relação terapêutica, criar empatia ou apenas para
transmitir a informação é escasso e, consequentemente, leva a que o doente não
consiga expressar os seus pensamentos, valores ou emoções de modo a que o
interlocutor os possa compreender na sua dimensão ou, até, adaptar o discurso.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
A informação que é transmitida ao doente, por vezes, não está adequada ao
doente/situação, quer de acordo com o seu nível de literacia, sociocultural ou
estado emocional do momento. Por exemplo, no caso de uma consulta de grupo
em que a informação é transmitida verbalmente e não fornecida em outros
suportes, corre-se o risco de conduzir a interpretações diferentes consoante o
nível de capacidades do doente em questão.
Percepcionou-se que alguns profissionais têm receio de lidar com a sua
frustração junto dos doentes adoptando por vezes a atitude de “fuga emocional”,
deixando amiúde o doente e família perdidos na imensidão de informação ou
falta dela, muitas das vezes sem consciência do caminho a seguir.
Também foi possível verificar (tanto nas unidades em que foi efectuado o estágio,
como nos locais onde a mestranda exerce a sua profissão) que os profissionais
incidem a sua relação/comunicação no que mais lhes interessa enquanto
responsáveis pela terapêutica decidida, em detrimento do que o doente considera
ser mais importante para si, dominando assim a relação, sem envolvimento activo
de ambas as partes. Esta atitude transmite ao doente sentimentos como a
insegurança no conhecimento relativamente a outras áreas, a falta de
preocupação com a pessoa no seu todo ou ainda a falta de disponibilidade para
falar daquilo que não lhe interessa.
Há serviços, como o caso de Oncohematologia e dos cuidados paliativos, que
pelo tipo de condições em que trabalham levam a cabo uma prática de cuidados
que está mais de acordo com o conceito dos cuidados centrados no doente. Em
outros, julga-se existir espaço para uma melhor integração dos cuidados
centrados no doente no quotidiano dos profissionais apostando numa motivação
adequada.
No caso das clínicas de mama e de patologia digestiva a motivação dos
profissionais vai esmorecendo devido ao elevado número de doentes que
atendem por dia, o que deixa pouco espaço para que se possa criar uma relação
de confiança com cada doente e familiares.
Não é objectivo deste relatório fazer algum tipo de crítica a qualquer profissional
de nenhuma área, apenas relatar comportamentos e atitudes observados e de
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
que forma estes se coadunavam com a filosofia dos cuidados centrados no
doente. Compreende-se que as atitudes que estão menos de acordo com os
cuidados centrados no doente são, naturalmente, inconscientes. Muitas vezes, a
aplicação destas atitudes é vista como um factor complicador da relação de ajuda
inviabilizando, assim, qualquer possibilidade de estabelecimento de uma relação
terapêutica eficaz com os doentes. Torna-se, por isso, importante apostar na
formação dos profissionais no sentido da compreensão de que a relação de ajuda
e a comunicação eficaz da terapêutica são componentes que se forem
melhoradas serão uma mais-valia no modo de funcionamento das unidades onde
se prestam esses cuidados bem como contribuirão para aumentar o prestígio das
mesmas e o grau de satisfação dos profissionais que nela trabalham.
Se este relatório contribuir para a reflexão sob o modo como cada um de nós,
profissionais da área de oncologia, presta cuidados aos doentes e de que forma
estes são centrados naqueles que mais deles precisam, os doentes, e se essa
reflexão conduzir ao desenvolvimento e promoção de momentos de introspecção
e formação pessoal, a sua autora considera ter realizado parte do seu objectivo
quando se decidiu pela realização deste mestrado.
Cabe a cada profissional de saúde promover o seu crescimento pessoal e
profissional, apostando no desenvolvimento de competências e perícias de
comunicação pois estes são factores determinantes no processo de
comunicação/interacção.
Segundo o estudo efectuado por Little et al (2001), a maioria dos doentes
pretende uma abordagem centrada em si, pelo menos em três domínios
importantes de acordo com a sua perspectiva: parceria, comunicação e promoção
da saúde. Os autores concluíram que os médicos devem ser particularmente
sensíveis aos indivíduos que se encontram vulneráveis ao nível psico-social ou
que não se sentem particularmente bem. E, neste caso, as observações
efectuadas durante o estágio e que constam deste relatório estão de acordo com
esta perspectiva.
Acredita-se que as mudanças comportamentais e a adopção de melhores
estratégias comunicacionais promoverão a melhoria dos cuidados e, ao conhecer
melhor a realidade vivida na relação enfermeiro/doente oncológico pensa-se que
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
enfermeiros estarão mais bem posicionados para encorajar, desenvolver e
implementar as estratégias necessárias para que os cuidados centrados no
doente sejam eficazes e tragam maior satisfação a todos os intervenientes,
através da colaboração na construção de modelos de intervenção adaptados às
necessidades dos doentes e das suas famílias na doença oncológica, mas de
acordo com Frampton, S.,Guastello S., Brady C., Hale M., Horowitz, S., Bennett
Smith,S., Stone, S.(October 2008) os cuidados centrados no doente não dizem
respeito apenas aos enfermeiros, antes pelo contrário é uma função de cada
membro da equipa multidisciplinar.
A implementação deste modelo de cuidados equivale a uma completa
transformação da cultura organizacional e seu sucesso exige um envolvimento de
cada departamento, clínico e não clínico, e a todos os níveis da organização, a
partir do pessoal técnico para o pessoal médico e de administração.
Cada membro da equipa deverá ser considerado um cuidador, e,
consequentemente, deverá estar preparado para estar sensível às necessidades
dos doentes e familiares.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
Dado que um dos problemas mais importantes identificado tem a ver com o facto
de o doente não absorver toda a informação ou de compreender de forma
incorrecta a informação dada na consulta de grupo, julga-se que seria pertinente
fornecer logo após a consulta de grupo folhetos informativos sobre os
tratamentos específicos propostos, o que permitiria ao doente confiar não apenas
no que lhe diz a sua memória mas ler atentamente e com o tempo necessário, em
particular durante o período que decorre entre a consulta de grupo e a consulta
médica de preparação para o tratamento proposto, toda a informação pertinente
para que, posteriormente, possa expressar com razão e compreensão do que é
proposto, a sua vontade.
Os folhetos, que actualmente são entregues na consulta médica, conteriam, em
particular, informação sobre os tratamentos propostos, o que se esperava
alcançar com os mesmos, mas também sobre os possíveis efeitos colaterais e
secundários. A vantagem de serem entregues logo após a consulta de grupo
resultaria numa informação mais consistente e permitiria ao doente poder
discutir com o seu médico na consulta seguinte.
Visto que outra das dificuldades identificadas foi o distanciamento emocional dos
profissionais em relação com doentes, pensa-se que seria benéfico a realização
de reuniões periódicas entre toda a equipa (com a presença ou não de um
psicólogo), tendo em vista a discussão da situação clínica e não clínica do doente,
o extravasamento das emoções, a discussão dos sentimentos entre todos para a
compreensão generalizada dos sentimentos de alegria, de satisfação, de tristeza,
de perda, de frustração e impotência à semelhança do que acontece no serviço de
cuidados paliativos. Esta reunião, não sendo identificada como tal, acaba por unir
a equipa numa perspectiva pluridimensional.
No IPO-Porto existem vários cursos de gestão emocional que são dirigidos aos
profissionais e que os ajudam a lidar com as emoções o que, na perspectiva da
mestranda, é de valor acrescentado. Contudo, pensa-se que o tipo de reunião que
é proposto traria mais vantagens para equipa se fosse tratado no seu seio, visto a
discussão ser mais concreta e concisa.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
No que diz respeito ao desamparo e insegurança dos doentes e à sua capacidade
para exprimir as suas dúvidas, julga-se que seria vantajoso e traria com certeza,
mais tranquilidade aos doentes, se nas clínicas onde tal fosse possível existissem
consultas mais regulares (dias de início de ciclo de Quimioterapia ou de semanas
de Radioterapia), tal como já acontece no serviço de oncohematologia.
Queremos aqui enfatizar, mais uma vez, a necessidade de cada membro da
equipa dever ser considerado um cuidador, e, consequentemente, dever estar
sensibilizado e preparado para responder às necessidades dos doentes e seus
familiares.
Neste sentido, um verdadeiro funcionamento em equipa, com uma interligação
total entre todos, muito em especial entre o médico e o enfermeiro responsável
pelo acompanhamento do doente, permitiria dar um passo muito firme na
direcção de cuidados mais personalizados e humanizados.
No nosso entendimento, esta interligação só traria benefícios ao doente uma vez
que para este a a existência de um binómio médico/enfermeiro, que o
conhecesse nas diferentes dimensões e realidades seria um factor de
tranquilidade a que o doente poderia recorrer com mais facilidade. Quantas
respostas a questões simples e muitas vezes apenas resultantes de um
permanente estado de angústia poderiam sossegar quem vive o pânico de uma
doença tão estigmatizada se tivesse à mão uma ajuda que, nessa altura, o doente
entendesse como a mais apropriada.
Naturalmente que esta interligação pressupõe o real conhecimento das funções e
responsabilidades de cada um através o dever individual em contribuir na sua
área para o bem-estar do doente, traduzindo-se numa complementaridade e
harmonia de cuidados.
Embora o número de médicos seja muito maior na clínica de hemato-oncologia
do que na clínica de cabeça e pescoço (por exemplo) pensa-se que seria possível
uma reorganização desta última, de modo a que dos doentes fossem
acompanhados mais de perto pelos profissionais que os seguem, para que
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
pudessem ser reavaliados, colocar dúvidas e receios, fazer actualizações do plano
terapêutico, etc.
Em resposta à falta de conhecimentos dos enfermeiros relativamente à realidade
de outros serviços, o que leva muitas vezes a que, inadvertidamente, seja dada
informação incorrecta aos doentes e familiares e consequentemente que estes se
sintam inseguros dentro da instituição julga-se, de acordo com a experiência
profissional e as sensibilidades apreendidas durante este estágio de mestrado,
que seria de maior interesse para o doente que cada enfermeiro conhecesse a
realidade dos locais que os doentes percorrem durante o seu percurso, pelo
menos durante o tempo de integração à clínica, para que, perante as perguntas
concretas dos doentes possa ser dada uma resposta com conhecimento pessoal
do assunto em causa.
Durante o exercício profissional a mestranda pode observar que o internamento
de medicina oncológica (piso 4) envia os enfermeiros em integração uma semana
em observação ao Hospital de Dia para que conheçam a dinâmica do serviço, os
procedimentos, os tratamentos a que os doentes são submetidos, etc.).
A título de exemplo: um enfermeiro em integração na clínica de digestivos
deveria passar algum tempo (a designar pelos próprios serviços):
No internamento onde ficam internados os doentes de patologia digestiva
que foram submetidos a cirurgia;
No internamento de medicina oncológica dedicado aos doentes de
patologia digestiva;
No hospital de dia e radioterapia, para se poder aperceber da realidade e
dinâmica dos serviços;
No serviço de gastroenterologia;
No serviço de TAC, medicina nuclear, etc.
Este intercâmbio, além de permitir aos enfermeiros conhecer as diferentes
realidades permitiria também aplicar alguns dos conhecimentos apreendidos na
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
83
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
sua prática diária nos cuidados ao doente e também compreender as situações
pelas quais os doentes passam.
Esta articulação entre enfermeiros poderia atingir patamares superiores se fosse
estendida aos locais de tratamento, de exames, etc. e incluísse a criação de
grupos de trabalho nas clínicas de patologia onde seria possível conhecer outras
realidades e estar a par das actualizações que ocorrem em cada serviço,
concertar esforços, descobrir, discutir e implementar procedimentos uniformes
num esforço permanente de bem estar do doente e família. Está claro que iria
implicar um esforço de algumas proporções para a Instituição e profissionais,
mas pensa-se que traria grandes benefícios para o doente.
No que diz respeito aos cuidados directos ao doente e no que respeita à
enfermagem, pensa-se que seria importante repensar a forma como são
efectuadas as notas de enfermagem que se fazem sobre o doente, e como foi
dito anteriormente, a colheita de dados é efectuada várias vezes, por pessoas
diferentes, que naturalmente enfatizam o que mais os sensibilizam e não
verificam as notas anteriores para dar continuidade. Julga-se que este sistema
poderia ser melhorado, quer com a criação dos grupos de trabalho por clínicas
(supra citados), que por sua vez elaborariam um instrumento que servisse a
todos de modo a que não houvesse informação repetida e sobretudo que não se
perdesse informação que diz respeito à continuação de cuidados ao doente.
Por exemplo: na consulta de enfermagem são identificadas necessidades e
elaborado um plano de cuidados a efectuar. Quando o doente é admitido ao
internamento essa informação, se não estiver acessível e clarificada, é perdida e é
efectuado novo plano no internamento, que após a alta deixa de ser
monitorizado. Isto leva a uma perda de tempo substancial nos cuidados ao
doente ao mesmo tempo que impede a realização de um plano de cuidados
completo.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
84
ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
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CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
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Oncologia Francisco Gentil do Porto, EPE.
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Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Porto, EPE.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
ANEXOS
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ANEXO I
OBJECTIVOS PARA O ESTÁGIO DE MESTRADO EM
ENFERMAGEM ONCOLÓGICA
De acordo com a regulamentação do curso de mestrado em Oncologia situado no
manual, página 3, ponto 4.2.1:
“Na opção profissionalizante, realizar-se-ão estágios tutelados e especializados de
aquisição e aprofundamento de competências profissionais, científicas e humanas
na área de oncologia, através da aprendizagem de novas tecnologias e formas
inovadoras de trabalho profissional que levem á aquisição de uma nova
competência e ao desenvolvimento de actuações integradas, inter e
multidisciplinares.”
Observando-se os objectivos gerais do estágio do mestrado em oncologia que
decorrem da opção profissionalizante, a saber:
Desenvolvimento de competências para cuidar da pessoa com cancro e sua
família, nos diversos contextos da prática de cuidados;
Desenvolvimento de competências que permitam assumir um papel activo
na equipa multidisciplinar tendo em vista a maximização da qualidade dos
cuidados à pessoa com cancro e sua família;
E, tendo em conta a minha experiência de 6 anos como enfermeira do IPO, em
internamento de medicina oncológica, apresentam-se, a seguir, os objectivos
específicos do estágio para cada uma das (clínicas) onde o mesmo se desenvolve.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
ANEXO II
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DA CLINICA MULTIDISCIPLINAR DA MAMA
Conhecer o funcionamento da clínica de mama;
Conhecer os procedimentos efectuados pela equipa de enfermagem;
Colaborar com a equipa nas actividades desenvolvidas;
Aprofundar os meus conhecimentos teóricos e práticos sobre a patologia de
mama e cuidados de enfermagem a ela associados;
Ter uma participação activa na relação com as doentes e suas preocupações;
Acompanhar as doentes nas diferentes fases da sua passagem pela clínica de
mama (Consulta de Grupo, Consultas de Oncologia Médica e Cirúrgica,
Planeamento Cirúrgico, Consulta de Enfermagem e Ensinos de
Quimioterapia, Radioterapia, Hormonoterapia).
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
ANEXO III
OBJECTIVOS ONCOHEMATOLOGIA
Aprofundar competências na avaliação inicial na 1ª consulta de
enfermagem e consultas subsequentes nas diferentes fases da doença e
tratamentos;
Aprofundar competências nos diagnósticos de enfermagem,
nomeadamente na adesão e gestão do regime terapêutico instituído;
Aprofundar competências de intervenção na promoção de uma gestão e
conhecer novas técnicas e procedimentos inovadores a ser utilizados, bem
como investigação em curso nesta área de cuidados.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
ANEXO IV
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO SERVIÇO DE CUIDADOS PALIATIVOS
Aprofundar competências na avaliação inicial na 1ª consulta de
enfermagem do doente admitido no Serviço de Cuidados Paliativos;
Aprofundar competências de diagnóstico e de intervenção no controlo de
sintomas, nomeadamente no controlo da dor;
Aprofundar competências no sentido reconhecer e de lidar com as
estratégias de coping adoptadas pelo doente e familiares.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ICBAS PORTO - Relatório de estágio de mestrado em enfermagem oncológica
ANEXO V
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DA CLINICA MULTIDISCIPLINAR DE CABEÇA E PESCOÇO
Aprofundar competências na avaliação inicial na 1ª consulta de
enfermagem e consultas subsequentes nas diferentes fases da doença e
tratamentos;
Treinar competências instrumentais na área de tratamento de feridas e
ostomias de ventilação;
Aprofundar competências de intervenção na reconstrução da autonomia do
doente de cabeça e pescoço (estomaterapia, alimentação, higiene, etc.)
e/ou capacitação do prestador de cuidados para o exercício do seu papel;
Conhecer projectos de investigação em curso assim como a avaliação por
rotina da qualidade de vida relacionada com a saúde nos doentes de
cabeça e pescoço.
CUIDADOS CENTRADOS NO DOENTE EM ONCOLOGIA
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ANEXO VI
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DA CLINICA MULTIDISCIPLINAR DE PATOLOGIA
DIGESTIVA
Aprofundar competências na avaliação inicial na 1ª consulta de
enfermagem e consultas subsequentes nas diferentes fases da doença e
tratamentos;
Treinar competências instrumentais na área de tratamento de feridas e
ostomias de eliminação;
Aprofundar competências de intervenção na reconstrução da autonomia do
doente com patologia digestiva (estomaterapia, alimentação, higiene, etc.)
e/ou capacitação do prestador de cuidados para o exercício do seu papel;
Conhecer projectos de investigação em curso e procedimentos inovadores,
como call-center na gestão dos efeitos adversos em doentes a fazer QT
oral e consulta de follow-up no cancro colo rectal de baixo risco.
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