custas e fatores do desfecho de … batista vila-nova da silva custas e fatores do desfecho de...
Post on 28-Nov-2018
220 Views
Preview:
TRANSCRIPT
-
DIONE BATISTA VILA-NOVA DA SILVA
CUSTAS E FATORES DO DESFECHO DE
PROCESSOS JUDICIAIS EM CIRURGIA
PLSTICA NO RIO GRANDE DO SUL.
Dissertao apresentada Universidade
Federal de So Paulo Escola Paulista de
Medicina para obteno do Ttulo de
Mestre em Cincias pelo programa de
ps-graduao em Cirurgia Plstica.
SO PAULO
2011
-
DIONE BATISTA VILA-NOVA DA SILVA
CUSTAS E FATORES DO DESFECHO DE
PROCESSOS JUDICIAIS EM CIRURGIA
PLSTICA NO RIO GRANDE DO SUL.
Dissertao apresentada
Universidade Federal de So
Paulo Escola Paulista de
Medicina para obteno do
Ttulo de Mestre em Cincias
pelo programa de ps-graduao
em Cirurgia Plstica.
ORIENTADOR: Prof. Dr. FBIO XERFAN NAHAS
CO-ORIENTADOR: Prof. GAL MOREIRA DINI
CO-ORIENTADOR: Prof. RODOLPHO ALBERTO
BUSSOLARO
SO PAULO
2011
-
Vila-Nova da Silva, Dione Batista.
Custas e fatores do desfecho de processos judiciais em Cirurgia Plstica no Rio Grande do Sul. Dione Batista Vila-Nova da Silva. So Paulo, 2011.
XIV, 170f.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de So Paulo. Programa de Ps-Graduao em Cirurgia Plstica. Ttulo em ingls: The costs and the factors of outcomes in litigation against Plastic Surgery in Rio Grande do Sul.
1.Direito Civil. 2.Processo Legal. 3.Cirurgia Plstica. 4.Custos e Anlise de Custo. 5.Erros Mdicos.
-
III
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO PAULO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM
CIRURGIA PLSTICA
COORDENADOR: Prof. Dr. MIGUEL SABINO NETO
-
IV
DEDICATRIA
Ao Senhor meu DEUS.
As pessoas que acreditaram no meu trabalho e sempre me incentivaram no
intuito de sua finalizao. As dificuldades que fortaleceram a vontade de
vencer.
Homenagem pstuma: (Me) Antonia Vila-Nova da Silva, (Pai) Manoel
Batista Pereira da Silva, (Irm) Diva Vila-Nova Aniceto, (Me adotada)
Norma Severina Pompeu Pumar, (Irmo) Manoel Batista Vila-Nova da
Silva.
Professor Doutor Armando Fortuna, que sempre me ajudou neste estudo.
Antonio Lessa amigo e professor que esteve presente nos momentos de
trabalho.
Ademir Narciso e Anglica Bogatzky, queridos amigos que me apoiaram.
Aos amigos da ps-graduao que trilham pelos mesmos caminhos.
Ao Professor Doutor ngelo Sementilli, que nunca me deixou desistir.
A todos os meus amigos do Centro Esprita Chico Xavier.
A professora Jocelina Carpes da Silva Rodrigues, amiga e advogada de
todas as horas. Sempre pronta a ajudar nas dificuldades.
A professora Tania Vasques pela competncia e pacincia no Ingls.
A todas as pessoas que contriburam direta ou indiretamente para
finalizao deste trabalho.
-
V
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor MIGUEL SABINO NETO, COORDENADOR DO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CIRURGIA PLSTICA, pela
conduta tica e profissional no Programa de Ps-Graduao, dando
continuidade alta qualidade e propriedade das gestes anteriores,
possibilitou a realizao desta tese do seu incio ao fim.
Professora Doutora LYDIA MASAKO FERREIRA, PROFESSORA
TITULAR DA DISCIPLINA DE CIRURGIA PLSTICA DA UNIFESP.
Ao Professor Doutor FBIO XERFAN NAHAS, PROFESSOR
ORIENTADOR DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM
CIRURGIA PLSTICA, PROFESSOR AFILIADO DA DISCIPLINA DE
CIRURGIA PLSTICA DA UNIFESP, pelas correes realizadas nesta
tese, sem as quais no seriam ultimadas.
Ao Professor GAL MOREIRA DINI, PROFESSOR CO-ORIENTADOR
DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CIRURGIA PLSTICA,
PROFESSOR AFILIADO DA DISCIPLINA DE CIRURGIA PLSTICA
DA UNIFESP, pela co-orientao e correes realizadas nesta tese, sem as
quais no seriam ultimadas.
-
VI
Ao Professor e amigo RODOLPHO ALBERTO BUSSOLARO, CO-
ORIENTADOR e EX-ALUNO DE DOUTORADO DO PROGRAMA DE
PS-GRADUAO EM CIRURGIA PLSTICA DA UNIFESP, pela
colaborao na redao do texto desta dissertao e de artigos derivados
deste estudo.
amiga MARIA JOS AZEVEDO DE BRITO ROCHA, ALUNA DE
DOUTORADO DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM
CIRURGIA PLSTICA DA UNIFESP, pela colaborao na redao desta
dissertao e de artigos derivados deste estudo.
s secretrias: SANDRA DA SILVA, SILVANA APARECIDA DA
COSTA E MARTA REJANE DOS REIS SILVA, pela
inestimvel participao direta e indireta no desenvolvimento deste
trabalho.
Aos PS-GRADUANDOS DO PROGRAMA DE PS GRADUAO
EM CIRURGIA PLSTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO
PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA, pelo incentivo e
amizade.
-
VII
CONFIA SEMPRE
No percas a tua f entre as sombras do mundo.
Ainda que teus ps estejam sangrando, segue para frente, erguendo-a por
luz celeste acima de ti mesmo.
Cr e trabalha.
Esfora-te no bem e espera com pacincia.
Tudo passa e tudo se renova na terra, mas o que vem do cu permanecer.
De todos os infelizes, os mais desditosos so os que perderam a confiana
em Deus e em si mesmos, porque o maior infortnio sofrer a privao da
f e prosseguir vivendo.
Eleva, pois, o teu olhar e caminha.
Luta e serve.
Aprende e adianta-te.
Brilha a alvorada alm da noite.
Hoje, possvel que a tempestade te amarfanhe o corao e te atormente o
ideal, aguilhoando-te com a aflio ou ameaando-te com a morte ...
No te esqueas, porm, de que amanh ser outro dia.
Mei Mei & Xavier (1972)
-
VIII
SUMRIO
DEDICATRIA ........................................................................................IV
AGRADECIMENTOS ................................................................................V
EPGRAFE ...............................................................................................VII
LISTA DE FIGURAS ................................................................................IX
LISTA DE QUADROS E TABELAS .......................................................XI
LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS .......................................XIII
RESUMO ..................................................................................................XX
1. INTRODUO ......................................................................................01
2. OBJETIVO..............................................................................................05
3. LITERATURA........................................................................................07
4. MTODOS..............................................................................................15
5. RESULTADOS.......................................................................................26
6. DISCUSSO...........................................................................................41
7. CONCLUSO.........................................................................................61
8. REFERNCIAS......................................................................................63
9. ARTIGOS PUBLICADOS......................................................................72
10. NORMAS ADOTADAS.......................................................................77
11. ABSTRACT..........................................................................................79
12. APNDICES.........................................................................................81
13. ANEXOS.............................................................................................121
14. FONTES CONSULTADAS...............................................................169
-
IX
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localiza o cone
Jurisprudncia..........................................................................18
Figura 2- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localiza os campos de
pesquisa para preenchimento..................................................19
Figura 3- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localizam: 1. Inteiro
teor e 2. Nmero do processo..................................................20
Figura 4- Frequncia das aes contra mdicos que realizaram cirurgia
plstica no Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no
perodo de 01/01/ 2000 a 31/12/2008...................................28
Figura 5- Custas totais em Reais dos processos contra mdicos que
realizaram cirurgia plstica no Tribunal de Justia do Rio
Grande do Sul no perodo de 01/01/ 2000 a 31/12/2008........29
Figura 6- Valores mdios anuais em Reais das aes contra Cirurgia
Plstica no Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no
perodo de janeiro 2000 a dezembro de 2008 ........................30
Figura 7- Correlao entre o laudo pericial favorvel ao mdico (20) e ao
paciente (18) e o acatamento desse parecer pelo juiz. Em 30%
o juiz divergiu do laudo pericial favorvel ao mdico e houve
-
X
divergncia em 10% quando o laudo favorecia ao
paciente....................................................................................32
Figura 8- Correlao da condenao com o pronturio mdico e o termo
de consentimento informado...................................................33
Figura 9- Em mais de 50% das aes (22 de 39) o Juiz concedeu justia
gratuita.....................................................................................38
-
XI
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1 Custas de sentenas..................................................................25
Tabela 1 Critrios utilizados como incluso e no incluso...................18
Tabela 2 Medidas-resumo das custas anuais mdias, totais e nmero de
processos...................................................................................28
Tabela 3 Distribuio dos especialistas por quantidade de processos
2000-2008...............................................................................31
Tabela 4 Distribuio dos pacientes por laudo, pronturio e termo de
consentimento informado........................................................35
Tabela 5 Distribuio dos casos por nmero de condies desfavorveis
ao mdico segundo sentena ..................................................36
Tabela 6 Distribuio dos casos por nmero de condies desfavorveis
ao mdico segundo sentena, excluindo-se a situao do
pronturio ...............................................................................37
Tabela 7 Frequncia e percentual das operaes em cirurgia plstica
envolvidas nos processos contra mdicos do Rio Grande do
Sul entre 2000 e 2008 .............................................................39
-
XII
Tabela 8 Frequncia das queixas alegadas pelos pacientes, das cirurgias
plsticas realizadas .................................................................40
-
XIII
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS, SMBOLOS
E TERMOS JUDICIAIS UTILIZADOS
AJG Assistncia Judiciria Gratuita.
Art Artigos.
CDC Cdigo de Defesa do Consumidor.
CEM Cdigo de tica Mdica.
CF Constituio Federal.
CP Cdigo Penal.
CPC Cdigo de Processo Civil.
CREMESP Conselho Regional de Medicina do Estado
de So Paulo.
ECA Estatuto da Criana e do Adolescente.
GAASP Guia da Associao dos Advogados do
estado de So Paulo.
IGP-M ndice Geral de Preos Mercado.
MP Ministrio Pblico
NCC Nascie
OAB Ordem dos Advogados do Brasil.
PMMA Poli-Metil-Meta-Acrilato.
RS Rio Grande do Sul.
SUS Sistema nico de Sade.
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justia
STJ/SP Superior Tribunal de Justia de So Paulo.
-
XIV
TCI Termo de Consentimento Informado.
TJ Tribunal de Justia.
TRF Tribunais Regionais Federais.
UFIR Unidades Fiscais de Referncia.
UNIFESP Universidade Federal de So Paulo.
Pargrafo
And e
Agravo de Instrumento um tipo de recurso previsto no cdigo de
processo civil. Pode ser utilizado em
decises que no so sentenas, que no
pem fim ao processo. usado, por
exemplo, quando o Juiz no concede um
pedido de antecipao de liminar e o
advogado de defesa tenta reverter deciso.
Apelao recurso que a parte prejudicada por sentena
definitiva ou que tenha a mesma fora
proferida por Juiz interior, interpe em
tempo hbil para a segunda instncia a fim
de que este a reexamine e julgue.
Acrdo a deciso judicial proferida em recurso nos
Tribunais.
Custa Judicial quando se ingressa com uma ao preciso
recolher um valor inicial para a justia.
-
XV
Citao ato, a requerimento do autor para que o Juiz
ordene e o oficial de justia execute o
chamamento a juzo do ru ou do
interessado, a fim de que defenda seus
direitos e interesses, se assim lhe aprouver.
Carta Precatria realizao de prova testemunhal ou pericial
em jurisdio alheia do Juiz que preside a
causa.
Demanda ao cvel judicial.
Diligncia custas para o oficial de justia citar ou
intimar a parte contrria. Emolumentos de
cartrio.
Deferido quando o Juiz concorda com um pedido, ele
deferido.
Deciso interlocutria os incidentes do processo so resolvidos pelo
prprio juzo ou tribunal, admitindo-se a
apreciao do merecimento das decises
interlocutrias (despacho deferido no
decurso de uma ao). Somente em recurso
da deciso definitiva.
-
XVI
Embargos execuo o tipo de ao parecido com a contestao.
Pode versar sobre a autenticidade de ttulo
extrajudicial, como uma nota promissria ou
um cheque, ou sobre valores de crdito
Edital ato escrito divulgado pela imprensa e afixado
em lugar pblico na sede do juzo ou aviso
emanado de autoridade competente.
Instncia o foro de que h apelao.
Inteiro teor transcrio integral, com todos os elementos
constantes de registro.
Improcedente quando o Juiz nega o pedido, ou seja,
considera que os autores do processo no
tm direito ao que pedem.
Jurisprudncia termo jurdico que significa conjunto de
decises e interpretaes das leis.
Juiz inferior Juiz que julga na 1 instncia.
Litgios pendncias pertinentes a uma ao. So as
discordncias entre as partes (autor/ru) que
compem um processo judicial.
-
XVII
Normalmente se discutem litgios nas reas
de direito do trabalho e civil.
Mandato judicirio aquele mandato especial com poderes
limitados, que a autoridade judiciria, no
interesse da justia, defere a algum para que
exera o cargo ou funo meramente
judicial.
Oficial de justia auxiliar da justia que, por mandado do Juiz
ou por fora de lei, efetua citaes e
intimaes e autos das diligncias que efetua
dentro da circunscrio judiciria em que
exerce as suas funes e de outras funes
explicitas em lei.
Procedente quando o Juiz decide algo positivamente.
reconhecer e conceder o direito de busca. s
vezes o Juiz julga que algo procedente em
parte do que foi pedido, negado o restante.
Porte de remessa e
retorno
pagamento das custas judiciais para
viabilizar o recurso.
Processo o movimento dos atos da ao em juzo.
-
XVIII
Pessoa jurdica aquela que, sendo incorprea,
compreendida por uma entidade coletiva ou
artificial, legalmente organizada, com fins
polticos, sociais, econmicos e outros, a que
se destine, com existncia autnoma,
independente dos membros que a integram.
sujeita, ativa ou passivamente, a direitos e
obrigaes.
Pecnia dinheiro.
Recurso um remdio jurdico, meio de demonstrar
ao Juiz o inconformismo em relao a uma
deciso por ele proferida, seja ela final
(sentena), ou no. uma oportunidade para
uma nova na analise do caso.
Recurso especial o recurso prprio do Superior Tribunal de
Justia, para conhecer as causas decididas
pelos Tribunais Regionais Federais ou
Tribunais do Estado.
Recurso extraordinrio o recurso de natureza constitucional, da
competncia do Supremo Tribunal Federal,
cabvel das causas decididas em nica
instncia ou ltima instncia por outros
tribunais.
-
XIX
Responsabilidade
objetiva
a responsabilidade sem culpa, para sofrer as
consequncias penais da conduta, no
necessrio caracterizar-se a culpabilidade.
Responsabilidade
subjetiva
a responsabilidade caracterizada pela
imprudncia, impercia ou negligncia de
quem causou.
Sucumbncia perda, derrota; s quem vencido em sua
pretenso debatida pode interpor recurso.
-
XX
RESUMO
Introduo: O nmero de processos contra mdicos aumentam no mundo,
especialmente contra cirurgies plsticos. Custas so despesas obrigatrias
do processo, o nus financeiro gerado mensurvel indiretamente pelo seu
valor. O desfecho do processo dado pela condenao ou absolvio do
mdico. No h, na literatura, estudo de clculo das custas em cirurgia
plstica. Objetivo: Quantificar as custas de demanda mdico/paciente e
avaliar suas caractersticas. Mtodos: Na pgina do Tribunal de Justia do
Rio Grande do Sul, verificou-se dados do inteiro teor de processos contra
Cirurgia Plstica entre 2000 e 2008. Compuseram os valores das custas:
honorrios advocatcios, percentual do valor da causa (1%), oficial de
justia, mandato judicial, edital, laudo pericial, agravo e apelao.
Anotaram-se as caractersticas de 39 processos e adotou-se nvel de
significncia estatstico (p) de 0,05. Resultados: As custas totais subiram
de 8.927,80 reais (um processo em 2000) para 65.834,60 (oito processos
em 2008), p=0,03; o valor mdio por processo (R$4.917,50 e R$12.779,40)
manteve-se estvel ao longo dos anos (p=0,97). Os fatores elencados pelo
juiz para a sentena e sua frequncia foram: pronturio mdico ruim em 22;
termo de consentimento ausente em 17; laudo pericial favorvel ao
paciente em 18. O mdico foi condenado em 22 processos. Concluso: O
nmero de processos anuais aumentou. As custas tiveram o valor mdio
constante que variou de R$4.917,50 e R$12.779,40. Os fatores que
influenciaram no desfecho foram: cirurgias estticas, pronturio mdico
ruim, termo de consentimento ausente e laudo pericial desfavorvel.
-
INTRODUO
-
Introduo
2
1. INTRODUO
O direito de questionar danos materiais e morais decorrentes de
procedimentos mdicos est assegurado juridicamente e citado no artigo
29 do Cdigo de tica Mdica (CDIGO DE TICA MDICA, 2009) e
no artigo 186 e 951 do Cdigo Civil (FIUZA et al, 2005). tambm
mencionado no terceiro e quarto pargrafos do artigo 121 e no artigo 129
do Cdigo Penal (DELMANTO, 1991) e no quarto pargrafo do artigo 14
do Cdigo de Defesa do Consumidor (GRINOVER et al, 2004).
Processos contra mdicos ocorrem em grande nmero de pases
(PATAN & PATAN, 1996), seu nmero cresce rapidamente (B-
LYNCH et al, 1996; MAVROFOROU et al, 2004) tomando grandes
propores devido s rpidas mudanas de valores da sociedade
(MACGREGOR, 1984).
O Conselho Regional de Medicina do Estado de So Paulo
(CREMESP) acolheu 1.874 denncias contra mdicos em 1998 e em
menos de uma dcada em 2007, foram 4.498 (aumento de 240%) e a
Cirurgia Plstica foi especialidade mais envolvida durante o ano de 2008
(CREMESP, 2008).
Parte dessas denncias transformou-se em processos de
responsabilidade civil. No Superior Tribunal de Justia do Estado de So
Paulo, em 2002 foram 120 processos protocolados no (STJ-SP) e em 2008
foram 398 (aumento de 332%). (TRIBUNAL JUSTIA, 2008)
Diante desse fenmeno social, a comunidade mdica transformou-se
e ocorreram mudanas para mdicos, pacientes e sistema de sade
(MELLO et al, 2005; STUDDERT et al, 2005). O prejuzo financeiro
-
Introduo
3
decorrente deste problema aumenta a insegurana de todos indistintamente
(ZULIANI, 2006).
Com o objetivo de diminuir o nmero de litgios, requerem-se
condutas conjuntas da sociedade (PATAN & PATAN, 1996), bem como
individuais da categoria mdica (BRANCHET, 2003; SHIFFMAN, 2005;
ROHRICH, 2007).
A complicao um evento inerente aos procedimentos mdicos
(FERRAZ, 2006). Todo mdico enfrenta, a cada cirurgia, o risco de ser
processado (PATAN & PATAN, 1996).
O conhecimento do sistema jurdico e seu funcionamento so
necessrios para auxiliar a todos na busca pela reduo dos processos
(MAVROFOROU et al, 2004) e consequentemente a reduo dos gastos
envolvidos.
O nus financeiro do dano moral pode ser estimado parcialmente
pelas custas processuais, valor calculado pela intensidade da culpa e do
dano e consequncia suportada pelo ofendido (GOUVA & SILVA, 2005).
O aprimoramento da legislao sistemtica constitucional vigente
faz-se necessria para os direitos e garantias fundamentais da Constituio
Federal (PINTO et al, 2005). As custas processuais e sua interferncia no
ordenamento jurdico permitem livre acesso justia pelo processo legal
garantindo a plena cidadania (PRUDENTE, 1994). O Estado prestar
assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia
de recursos (PINTO et al, 2005).
Custas so despesas judiciais relativas informao, propulso e
determinao do processo; taxas de lei, carregadas ao vencido
independentemente de condenao; so gastos das partes por qualquer
razo de procedimento, diferem da indenizao que a reparao de perdas
-
Introduo
4
e danos decorrentes da infrao penal (HORCAIO, 2006). Pode at no
haver indenizao, porm para a existncia de um processo, sempre haver
custas. Um por cento do valor da causa constitui o preo inicial das custas
que recai sobre as duas partes envolvidas e um valor que pode variar
bastante (NEGRO & GOUVA, 2007).
Caber s partes prover as despesas dos atos que realizam ou
requerem, antecipando-lhes o pagamento desde o incio at ao final e na
execuo, at a plena satisfao do direito declarado pela sentena. O
pagamento ser por ocasio de cada ato processual. Compete ao autor
adiantar as despesas relativas a atos, cuja realizao o juiz determinar de
ofcio ou a requerimento do Ministrio Pblico. A parte perdedora sempre
arcar com este nus, mas a parte vencedora no ser restituda deste valor
nos casos de justia gratuita (NEGRO & GOUVA, 2007).
O nus financeiro, gerado pelas aes contra a cirurgia plstica,
mensurvel indireta e parcialmente pelo valor das custas citado nas
sentenas definitivas publicadas pelo sistema judicirio. E so acessveis no
endereo eletrnico do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul. Essa
informao til e imprescindvel para a Cirurgia Plstica e para a
sociedade brasileira que vivenciam o fenmeno do crescimento de aes
bem como o conhecimento das caractersticas das aes judiciais.
-
OBJETIVO
-
Objetivo
6
2. OBJETIVO
Quantificar custas processuais e analisar os fatores que
influenciaram no desfecho de demanda mdico/paciente em
Cirurgia Plstica.
-
LITERATURA
-
Literatura
8
3. LITERATURA
PRUDENTE (1994) analisou o conceito de custas processuais.
Segundo o autor, este conceito era fundamental para o exerccio do direito
e acesso justia mediante garantia do processo legal e plenitude da
cidadania. Custas processuais seriam as despesas ou gastos necessrios
para se iniciar, desenvolver e terminar um processo, nos termos legais. Elas
eram regidas pelo princpio do adiantamento das despesas e da
responsabilidade objetiva do vencido, que deveria arcar com todo nus da
sucumbncia. Os honorrios advocatcios eram custas processuais e seriam
pagas pelo vencido. A exceo legal favorecia os beneficirios da justia
gratuita, no se incluindo as entidades da Fazenda Pblica. A
responsabilidade pelo pagamento das custas seria individual, nos termos do
artigo 5 da Constituio Federal em seu inciso LXXIV.
B-LYNCH et al (1996) analisaram, de forma prospectiva 500
processos contra mdicos atuantes em Ginecologia e Obstetrcia entre 1984
e 1994 no Reino Unido, Irlanda e Hong Kong, com o objetivo de identificar
as principais causas de litgio. Os autores consideraram o teor das queixas
dbio em 46% dos casos. As causas apontadas foram: m qualidade no
atendimento, a falta de comunicao e compreenso tanto em relao ao
atendimento como s intercorrencias clnicas e ao funcionamento
hospitalar, e ainda a influncia de terceiros na deciso de mover um
processo. Concluram que, as falhas na comunicao entre mdico e
paciente representaram a causa principal dos litgios e sugeriram que, a
melhora deste aspecto poderia prevenir e evitar este tipo de transtorno.
-
Literatura
9
MAVROFOROU et al (2004) avaliaram o alto ndice de problemas
que envolviam a cirurgia plstica com a lei, e o valor do Termo de
Consentimento Informado como medida de proteo profissional. Os
autores afirmaram que a demanda por cirurgia cosmtica parecia
concentrar-se numa classe de nvel socioeconmico elevado. Entretanto, a
cirurgia plstica cosmtica estava exposta a um nmero alto de demandas
judiciais. A maior parte das reclamaes no era consequncia de falhas
tcnicas, mas da falta de triagem na seleo dos pacientes e da dificuldade
em estabelecer uma comunicao apropriada. Os autores sugeriram que, a
adoo do Termo de Consentimento Informado, com os devidos
esclarecimentos ao paciente, era de fundamental e necessria importncia,
sobretudo, no caso de litigncia jurdica.
SHIFFMAN (2005) investigou a responsabilidade civil em um
quadro social especfico: disputas de mercado entre especialidades, que
resultavam no incentivo a processos judiciais de pacientes contra mdicos.
O autor salientou nos procedimentos cosmticos falhas na qualidade do
relacionamento mdico/paciente, no Termo de Consentimento Informado,
nas informaes da histria pregressa (anamnese), com os procedimentos
cirrgicos, no diagnstico e no tratamento de complicaes, bem como na
falta de um laudo pericial adequado. As queixas, que expressaram as
principais demandas, permitiram analisar o grau de responsabilidade da
cirurgia plstica (esttica), tendo como principal objetivo a preveno e
soluo dos problemas apresentados. As recomendaes foram as
seguintes: 1 O mdico deveria explicar os riscos possveis e complicaes
referentes cirurgia, 2 As explicaes e recomendaes dadas ao paciente,
deveriam ser documentadas por escrito; 3 A assinatura do consentimento
mdico informado deveria ser seguida da seguinte frase: O paciente
-
Literatura
10
afirmou ter lido e entendido todo o material e assinou. Todas as questes
foram respondidas., 4 No dia da operao, o profissional deveria
conversar com o paciente e fortalecer um vinculo de confiana.
MALLARDI (2005) relacionou a origem do Termo de
Consentimento Informado ao aspecto moral, religioso e avano da
biotecnologia. Segundo o autor, Hipcrates se preocupava que o paciente
nunca fosse negligenciado do dever profissional de se fazer o melhor. Na
civilizao egpcia, gregos e romanos apresentavam os princpios
fundamentais em relao doena: cuidar para melhorar e no para causar
danos. O Termo de Consentimento Informado teve origem nos EUA, ainda
no sculo 18, que estabelecia o foco no direito do paciente informao.
Assim, no incio do sculo 19, uma srie de aes legais em
responsabilidade mdica induziu magistrados italianos a adotar postura
rgida. Todavia, foi em 19 de dezembro de 1946 os juzes americanos
definiram o Cdigo de Nuremberg: a cincia nunca deveria transformar ou
considerar o ser humano como instrumento para propsitos cientficos. O
cdigo de Nuremberg foi revisado no artigo 32 da Constituio. Entretanto,
documentos mostraram evidncias anteriores a este cdigo, onde o uso do
consentimento j era usado em cirurgias.
FERRAZ (2006) relatou quando um tratamento mdico no
apresenta bons resultados frequente a duvida se o insucesso foi um mal
resultado ou um erro mdico. O tratamento mdico no isento de risco. A
cirurgia esttica tem o agravante de ser realizada em pessoa sadia.
Recentemente representantes do judicirio tm considerado que a ausncia
do termo de responsabilidade poderia ser considerada como negligncia
mdica. Dentre as figuras dos Cdigos Civil e Penal a impercia
teoricamente mais fcil de ser imputada, sendo muito importante
-
Literatura
11
considerar a experincia e os resultados prvios do cirurgio no tipo de
procedimento realizado. A complicao um evento inerente aos
procedimentos mdicos e deve ser cuidadosamente separados dos casos em
que ocorre negligncia, impercia ou imprudncia que caracterizam o erro
mdico.
ROHRICH (2007) analisou o valor da culpa, frente a um erro mdico
em cirurgia plstica, com o objetivo de reduzir custos financeiros para os
profissionais. Desta forma, implantou um programa de reeducao mdica,
aplicado ao quadro clnico profissional do hospital da Universidade de
Michigan (EUA). Os litgios sofreram uma reduo de 61,5%, aps a
implementao destas medidas (www.sorryworks.net). O autor afirmou que
o reconhecimento do erro por parte do mdico, ou mesmo o
reconhecimento de uma complicao teve efeito benfico no vnculo de
confiana e afetou de forma positiva a relao mdico-paciente.
AMODEO (2007) relacionou o papel central do nariz na face e seu
aspecto psicolgico. Na Sociedade Americana de Cirurgies Plsticos em
2006, a rinoplastia foi a maior incidncia aps as cirurgias estticas na
adolescncia. tambm a cirurgia mais requisitada por pacientes com
transtorno dismrfico corporal. No banco de dados (Medline, Pubmed)
foram selecionados 30 estudos. A reviso analisou o aspecto psicolgico na
rinoplastia no sculo passado, considerando sua influncia. critico para o
cirurgio a responsabilidade no fsico e psquico. Reconheceu-se a
importncia dessa implicao e o cuidado da histria na seleo dos
pacientes no pr-operatrio.
ALDERMAN et al (2009) analisaram o uso do banco de dados
nacional para avaliar as complicaes de abdominoplastias e colocao de
prtese. De acordo com a Sociedade Americana de Cirurgies Plsticos,
-
Literatura
12
mais de 148.000 abdominoplastias e 347.500 de prtese mamria so
realizadas anualmente. A pesquisa foi de 2003 a 2007. As complicaes em
abdominoplastias foram: 0,5% com hematoma, 0,7% de infeco e 0,1%
com trombose venosa profunda/tromboembolismo. As complicaes em
colocao de prtese foram: 0,7% de hematomas, 0,1% de infeco e
menos de 0,01 de trombose venosa profunda/embolia pulmonar
respectivamente. Chegaram concluso de que as complicaes para
abdmen e prtese foram semelhantes. O baixo ndice se deve a segurana
dos procedimentos feitos por cirurgies plsticos.
Para FUJITA & SANTOS (2009) a cidadania refora os
instrumentos de defesa dos direitos individuais. Os atuais modelos da sade
diminuem a comunicao entre mdicos e pacientes. Cresce o nmero de
queixas contra as atitudes mdicas, e o impacto social grande. Foi um
estudo descritivo, retrospectivo, sobre as denncias formalizadas em Gois,
entre 2000 e 2006. Leitura interpretativa da evoluo processual das
queixas ajuizadas no Conselho e clculo da eficcia das aes dali
decorrentes. No foi grande a flutuao na frequncia de reclamaes entre
2000 e 2006; 62% das queixas alegaram incompetncia do profissional e
inadequada relao mdico/paciente. O nmero de queixas em cirurgia
plstica e ortopedia so iguais a 50% dos especialistas. Houve 73 denncias
contra quatro profissionais da cirurgia plstica e um mdico foi denunciado
49 vezes. Em 60% dos casos a denncia foi feita por pessoa fsica. Foram
consideradas improcedentes 17% das denncias e 35% das restantes se
transformaram em processos ticos (10% arquivados). O julgamento levou
advertncia e censura em alguns casos e suspenso (5%) e cassao do
direito (3%). Mais de 90% dos casos anuais foram resolvidos. O problema
-
Literatura
13
tem sido abordado com eficcia e eficincia, apesar de graves imperfeies
na gesto do banco de dados, que impedem anlises qualitativas da questo.
Segundo MARCHESI et al (2011) os procedimentos de cirurgia
esttica esto aumentando em todo o mundo, e assim relacionados com
questes mdico-legais e os casos de litgio. As mamoplastias estticas so
frequentes e muitos casos de erro ocorrem. A maioria leva a processos
judiciais onde os cirurgies plsticos raramente so exonerados. Cada caso
baseado na avaliao de ambas as documentaes utilizadas pelo juiz e
por dois especialistas envolvidos na avaliao do erro presumido. Os casos
estudados (N = 50) foram divididos em 34 casos de mamoplastia de
aumento, 11 casos de mamoplastia redutora, e cinco casos de mastopexia.
A maioria dos problemas de queixa pelo pacientes estavam em fase pr-
operatria e intra-operatria. Em apenas 10% dos casos, o consentimento
informado foi contestado e uma expectativa de reduo dos danos foi
individualizada em menos de metade dos casos. A avaliao do dano
esttico uma questo complicada, devido a diferentes aspectos, tais como
o componente psicolgico ou a frequente falta de documentao fotogrfica
adequada do paciente antes da operao. Alm disso, sempre que possvel a
reduo dos danos proposta, a vontade do paciente se submeter outra
operao, com todos os seus custos e benefcios.
Para SABOYE (2011) a cirurgia plstica o direito assistncia
tambm se tornou jurisprudncia. Este direito obriga o cirurgio a tomar
parte ativa na tomada de deciso de seu paciente. O contrato mdico
obsoleto, pois a lei de 4 de maro de 2002. Assim, equipes mdicas so
apenas responsveis se eles esto em falta. Por outro lado, a obrigao legal
de estabelecer uma estimativa antes de operar e dar uma data de
restabelecimento a constitui um contrato de consumo, entre o cirurgio e
-
Literatura
14
seu paciente. Talvez esta seja a razo pela qual o direito assistncia, que
prtica comum em contratos comerciais ou de servios, agora tambm
importante para o cirurgio plstico.
LYU et al (2011) objetivando investigar os fatores-chave nas
disputas mdica entre pacientes do sexo feminino aps a cirurgia cosmtica
em Taiwan e para explorar as correlaes de litgio mdico. Um total de
6.888 pacientes (3.210 pacientes de dois hospitais e 3.678 pacientes de
duas clnicas) se submeteu a cirurgia esttica de janeiro de 2001 a
dezembro de 2009. Dos 43 pacientes que tiveram uma disputa mdica
(hospitais, 0,53%; clnicas, 0,73%), 9 demandantes entraram com uma ao
contra os seus cirurgies plsticos. Tal resultado apresentou uma tendncia
decrescente anual. Os hospitais e clnicas no diferiram significativamente
em termos de perfis de pacientes. A maioria das pacientes com uma
disputa mdica tinham mais de 30 anos, se divorciaram ou casaram, tinham
realisado operaes sob anestesia geral, no tinham estresse econmico,
tinham um histrico de litgios mdicos e, eventualmente, no processaram
os cirurgies. Os resultados tambm mostraram que idade e experincia do
mdico influenciaram na possibilidade de disputa mdica e no ao legal.
As pacientes que decidiram entrar em litgio tiveram fatores relacionados:
estresse marital e escolaridade sem nvel superior. Os resultados do estudo
sugerem que as principais caractersticas dos pacientes e dos cirurgies
devem ser consideradas no apenas na busca para melhorar a comunicao
pr e ps-operatria, mas tambm como informao til para depoimento
de um especialista no sistema de direito.
-
MTODOS
-
Mtodos
16
4. MTODOS
4.1 DESENHO DE PESQUISA
Este foi um estudo primrio, observacional, retrospectivo, analtico e
no controlado. Foi realizado de forma consecutiva (no aleatria), sem
mascaramento (aberto), a partir do endereo eletrnico do Tribunal de
Justia do Rio Grande do Sul.
O estudo foi realizado atravs do Programa de Ps-Graduao em
Cirurgia Plstica da Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP) e
aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da UNIFESP sob o parecer:
CEP 0619/07 em quatro de maio de 2007 (Apndice 1).
4.2 CRITRIO DE INCLUSO E NO INCLUSO
-
Mtodos
17
Como critrio de incluso e no incluso foram considerados os
seguintes itens. (Tabela 1).
Critrios
Incluso: No incluso:
- processos de demanda
mdico/paciente,
- processos contra Cirurgia Plstica,
- em primeira (1) e segunda (2)
instncia,
- da sentena definitiva da ltima
instncia publicada,
- processos em segredo de justia
(sigilo em determinadas causas),
- em andamento (sem sentena
definitiva),
- contra empresas de convnio
mdico,
- contra hospitais,
- contra o Estado,
Tabela 1 - Critrios utilizados como incluso e no incluso
4.3 AMOSTRAGEM
Foram selecionadas noventa e oito aes disponveis no endereo
eletrnico: www.tjrs.jus.br no perodo de 01/01/2000 a 31/12/2008, que
envolveram Cirurgia Plstica, publicadas no Dirio Oficial pelo Tribunal
de Justia do Estado do Rio Grande do Sul. Foram estudadas com foco nas
trinta e nove aes de demanda mdico/paciente.
4.4 PROCEDIMENTOS
http://www.tjrs.jus.br/
-
Mtodos
18
4.4.1 BUSCA DA AMOSTRA
No endereo eletrnico do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul
(www.tjrs.jus.br) seguiu-se pelo cone Jurisprudncia (Figura 1) que
abriu o menu de pesquisa em: www.tjrs.jus.br/site_php/jprud2 /index.php.
.
No campo Pesquisa livre digitaram-se as palavras Cirurgia
Plstica e jurisprudncia. No campo Tribunal selecionou-se a opo
Tribunal de Justia do R/S. Digitaram-se as datas 01/01/2000 at
31/12/2008 no campo Data de Julgamento. (Figura 2).
FIGURA 1- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localiza o cone Jurisprudncia.
http://www.tjrs.jus.br/site_php/jprud2%20/index.php
-
Mtodos
19
4.4.2 COLETA DE DADOS
No campo do resumo onde estava escrito Inteiro Teor (Figura 3)
foram encontrados os processos de 2 instncia e deles buscou-se o resumo
das sentenas. Por meio do nmero do processo foram verificados os dados
das custas na 1 instncia.
FIGURA 2- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localizam os campos de pesquisa para preenchimento.
-
Mtodos
20
No nmero do processo, foram coletados os dados:
- taxas cobradas no processo e resumo na 1 instncia.
Por meio do inteiro teor de 2 instncia, foram obtidos os dados:
- resumo de todas as sentenas que continham, nmero dos processos
includos na demanda mdico/paciente,
- data do julgamento,
- procedimento(s) cirrgico(s) contemplando cirurgias combinadas ou no
no mesmo paciente, frequncia das queixas relacionadas; 1. Cicatriz e
forma. 2. Complicao. 3. Insatisfao do resultado. 4. Outros,
- caractersticas das amostras; quantos mdicos foram demandados uma vez
e quantos foram demandados mais de uma vez e desses quantos eram
especialistas, e no especialistas,
- laudo pericial, se era a favor do mdico ou a favor do paciente,
- presena de termo de consentimento informado,
- qualidade do pronturio mdico,
FIGURA 3- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localizam:1. Inteiro teor e 2. Nmero do processo.
-
Mtodos
21
- tipos de cirurgias que mais frequentemente levaram ao litgio,
- sentena definitiva como procedente ou improcedente,
- justia gratuita, se foi concedida ou no,
- valores das custas em moeda corrente na sentena definitiva
compreendendo a todas as instncias,
Atravs do Inteiro teor do processo, foram coletadas todas as
informaes acima citadas de forma escrita ou de maneira tcita no resumo
da sentena do Juiz. Os dados de cada processo foram anotados em
protocolo de coleta de dados, para se concretizar a pesquisa (Apndice 2).
4.4.3 CLCULO DE CUSTAS DO ESTADO:
Para efeito de clculo das custas foi considerado 1% do valor da
causa, (taxa fixada pelo tribunal, e calculada mediante o preo total da ao
inserida no contexto e presente no Inteiro teor encontrado no endereo
eletrnico) como determinado pelo cdigo 230-6 do Guia da Associao
dos Advogados do estado de So Paulo (GAASP, 2008) fundamentado pelo
Cdigo de Processo Civil. (NEGRO & GOUVA, 2007).
Tambm compuseram s custas, as taxas de selo e registro (relativas
aos atos processuais) e os valores:
- emolumentos de cartrio e dos oficiais de justia,
- honorrios dos advogados (nos casos que houve condenao os
honorrios advocatcios foram fixados nos termos, citado no Artigo 20
Pargrafo terceiro do Cdigo de Processo Civil de NEGRO &
GOUVA, 2007). Os honorrios foram fixados entre o mnimo de 10% e
o mximo de 20% sobre o valor da condenao (o Juiz determina a
-
Mtodos
22
percentagem sobre o total da sentena e das custas), atendidos: o grau de
zelo do profissional, o lugar de prestao do servio, a natureza e
importncia da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo
exigido para o seu servio.
- despesas com testemunhas, peritos e diligncias.
As despesas acima citada esto fundamentadas conforme as taxas
legais referentes aos atos de que se trate. Ou conforme a quantia efetiva da
despesa considerada ou, ainda, conforme a avaliao do juiz (PRUDENTE,
1994).
O valor pago ao oficial de justia (emolumento), foi estipulado pelo
tribunal em R$ 11,84. O valor estipulado pelo tribunal para o mandato
judicial foi de R$ 8,30 conforme o cdigo 304/9. So taxas fixadas pelo
tribunal segundo as tabelas. Todos os valores foram calculados mediante os
nmeros das sentenas presentes em cada resumo de inteiro teor.
4.4.2.2 CUSTAS RELATIVAS S PROVAS:
Nos casos onde exigiram prova pericial, o valor dos honorrios do
perito ficou a critrio do Juiz. Este valor variou de R$ 1.000,00 a R$
3.000,00. Os Artigos 145 a 147 do Cdigo de Processo Civil mencionam
que: quando a prova do fato depender de conhecimento tcnico ou
cientfico, o Juiz ser assistido por perito, segundo o disposto no artigo
421- (NEGRO & GOUVA, 2007).
4.4.2.3 CUSTAS DOS RECURSOS:
-
Mtodos
23
O agravo um recurso que se interpe, para a instncia superior, de
deciso interlocutria e nos casos especificados na lei, de sentenas
definitivas a fim de que ali seja modificado ou reformado o veredicto do
Juiz inferior. (Lei 5.869/73, Cdigo de Processo Civil de NEGRO &
GOUVA, 2007). Segundo o GAASP no Cdigo 110-4, o porte de remessa
deste recurso foi de R$ 10,48.
A apelao o recurso que a parte prejudicada por sentena
definitiva ou que tenha a mesma fora proferida por Juiz inferior, interpe
em tempo hbil para a 2 instncia, a fim de reexamin-la e julg-la.
(HORCAIO, 2006). O seu valor de 2% do valor da causa (GAASP,
Cdigo 230-6) com o porte de Remessa no valor de R$ 20,96.
Todos os valores citados anteriormente neste estudo so atualizados
anualmente pela tabela da Ordem dos Advogados de So Paulo. E tambm
no endereo eletrnico de Custas do Rio Grande do Sul. A fundamentao
das Leis est no Cdigo de Processo Civil (NEGRO & GOUVA, 2007).
O quadro 1 (abaixo) mostra a forma como se calculou o valor das
custas. O termo procedente referiu-se ao processo julgado como
fundamentado e o termo improcedente, referiu-se ao processo julgado
como no fundamentado. Honorrios advocatcios foi o termo usado para
definir a remunerao dos profissionais liberais. O termo custas fez
referencia as despesas de processos judiciais. O termo laudo pericial
referiu-se ao parecer tcnico em concluso percia. Recurso o termo
que designou meio para resolver uma dificuldade. Derrota ou perda foi
referida como sucumbncia. (AULETE, 2004).
-
Mtodos
24
QUADRO 1 Custas de Sentenas
SENTENA Improcedente Procedente
HONORRIOS ADVOCATCIOS
10% a 20% 10% a 20%
CUSTAS 1% valor da causa
Oficial de justia = R$
Mandato judicial = R$
Carta precatria = R$
Edital = R$
1% valor da causa
Oficial de justia = R$
Mandato judicial = R$
Carta precatria = R$
Edital = R$
LAUDO PERICIAL
R$ R$
RECURSOS Agravo = R$
2% Apelao = R$
Agravo = R$
2% Apelao = R$
HONORRIOS ADVOCATCIOS CONTRRIO
10% a 20%
SUCUMBNICA
NO SIM
TOTAL DAS CUSTAS EM REAIS (R$)
R$ + 1% do valor da causa + 2% Apelao
R$ + 1% do valor da causa + 2% Apelao + 10% a 20% causa em Honorrios advocatcios do autor + ru.
Os dados para efeito de clculo das custas, dos processos, esto no
(Apndice 3).
-
Mtodos
25
Os valores foram anotados em moeda nacional vigente no perodo
(Reais) e receberam atualizao monetria disponvel no endereo
eletrnico: http://drcalc.net/correcao.asp para a data de dezembro de 2008.
4.4.2.4. AVALIAO ESTATSTICA.
Sobre a anlise estatstica aplicada a todos os resultados gerados:
A- Inicialmente os dados encontrados no estudo foram avaliados
descritivamente. Desta forma so apresentadas as mdias, mnimos,
quartis, mximos e desvios padres das variveis do perodo.
B- A avaliao das evolues foram realizadas pelo teste Qui-quadrado e a
quantificao desta associao foi mensurada via coeficiente V de
Cramr. O V de Cramr para tabelas 2x2 varia de zero a um, sendo que
quanto mais prxima de 1 maior a associao. Foi utilizado tambm o
Teste exato de Fisher (pelo fato da amostra ser pequena).
C- O teste de Cochran Armitage foi utilizado para verificar presena de
tendncia entre nmero de condies desfavorveis aos mdicos e
sentena; laudo favorvel a paciente, ausncia de termo de
consentimento e pronturio ruim, que apresentou uma variao de zero
a trs.
O nvel de significncia menor ou igual a 5% foi adotado para as
anlises.
http://drcalc.net/correcao.asp
-
RESULTADOS
-
Resultados
27
5. RESULTADOS
5. 1 AMOSTRAGEM
Noventa e oito processos foram encontrados no perodo de janeiro de
2000 a dezembro de 2008. Foram selecionadas 45 demandas que
envolviam diretamente mdicos e pacientes. Deste total seis foram
excludas pelas seguintes razes: em trs casos houve omisso de sentena
final; e outros trs eram procedimentos de um mesmo processo
Desta forma, foram includos no estudo trinta e nove processos
(Apndice 4: no 01, 02, 06, 10, 11, 12, 14, 16, 18, 19, 21, 25, 27, 29, 30, 33,
34, 35, 39, 40, 41, 45, 47, 49, 51, 53, 54, 60, 63, 67, 71, 72, 77, 80, 83, 88,
90, 91, 96).
A frequncia anual dos processos variou de um a oito e aumentou ao
longo do perodo estudado, com relevncia estatstica (p=0,03). Houve um
aumento mais perceptvel do nmero de processos aps 2004 (Figura 4).
De acordo com a Tabela 1, pode-se observar que a mdia anual das
custas mdias, totais e nmero de processos entre 2000 e 2008 foram
respectivamente de R$38.252,55, R$8.616,13 e 4,3 processos. Os valores
medianos (R$ 37.950,60, R$ 8.927,80 e 4,0, respectivamente para custas
mdias, totais e nmero de processos) neste mesmo perodo permaneceram
muito prximos mdia, indicando ausncia de valores muito destoantes.
-
Resultados
28
Tabela 2 Medidas-resumo das custas anuais mdias, totais e nmero de processos
Custas anuais mdias
Custas anuais totais
Processos
Mdia 8.616,13 38.252,55 4,3
Desvio Padro 2.212,04 23.515,82 2,3
Mnimo 4.917,50 8.927,80 1,0
1o. Quartil 7.175,14 16.499,22 2,5
2o. Quartil (Mediana) 8.927,80 37.950,60 4,0
3o. Quartil 9.451,35 61.854,14 6,5
Mximo 12.779,38 65.834, 63 8,0
n 9 9 9
A frequncia das aes aumentou no perodo (p=0,03 avaliado por teste
no-paramtrico). Figura 4.
FIGURA 4 - Frequncia das aes contra mdicos que realizaram cirurgias plsticas. Dados do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no perodo de 01/01/ 2000 a 31/12/2008.
-
Resultados
29
As custas totais, apresentadas em reais, tambm cresceram durante o
perodo (p=0,03 avaliado por teste no-paramtrico). Figura 5.
FIGURA 5 - Custas totais em Reais dos processos contra mdicos que realizaram cirurgias plsticas. Dados obtidos do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no perodo de 01/01/ 2000 a 31/12/2008.
-
Resultados
30
O valor mdio por ao variou de R$ 4.919,50 a R$ 12.779,40 e
permaneceu estvel ao longo do perodo estudado (p=0,97 avaliado por
teste no-paramtrico). Figura 6.
.
5. 2 CARACTERSTICAS DAS AMOSTRAS OU PROCESSOS
Dos 39 processos contra mdicos em cirurgia plstica: 27 mdicos
sofreram uma nica ao enquanto cinco sofreram duas ou mais aes por
pacientes diferentes.
5. 3 CARACTERSTICAS DOS MDICOS PROCESSADOS
FIGURA 6 - Valores mdios anuais em Reais das aes contra mdicos que realizaram cirurgias plsticas. Dados obtidos do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no perodo de janeiro 2000 a dezembro 2008.
-
Resultados
31
Trinta e dois mdicos diferentes foram processados (Apndice 5).
Destes 16 eram especialistas e 16 no eram especialistas. Quatro
especialistas sofreram mais de uma ao. 1 mdico; (no16, 40, 90, uma
condenao); 2 mdico: (no14, 33, duas condenaes); 3 mdico: (no45,
60, 8, trs condenaes); 4 mdico: (no72, 77, duas absolvies) e um no
especialista sofreu mais de uma ao (no54, 71, duas condenaes).
(Apndice 6). Vinte e dois mdicos foram condenados (12 no eram
especialista e 10 eram especialista).
Teste exato de Fisher: p=0,3326
5. 4 PERCIA MDICA
O mdico perito foi contratado nos 39 casos e em apenas um, ele no
emitiu relatrio.
Dos 38 laudos periciais, 20(53%) laudos favoreciam o mdico e 18
(47%) no. O Juiz condenou o ru (mdico) em 22(56%) e inocentou-o em
TABELA 3 - Distribuio dos especialistas por quantidade de processos 2000-2008.
Processo
Especialidade Total
Cirurgio plstico No cirurgio plstico N % N % N %
Total 16 100,00% 16 100,00% 32 100,00% 1 processo 12 75,00% 15 93,75% 27 84,38% 2 ou mais
processos 4 25,00% 1 6,25% 5 15,63% Teste exato de Fisher: p = 0,3326.
-
Resultados
32
17(44%), (um caso teve o laudo prejudicado pois a paciente foi reoperada
antes da percia, inocentando o mdico).
Dos 20 processos com laudo pericial favorvel ao mdico, o Juiz
acatou o laudo inocentando-o em 14. Dos 18 laudos favorveis ao paciente,
o Juiz condenou o mdico em 16.
Portanto o mdico foi inocentado em 16 casos dos 38 com laudo
pericial, sendo que destes o laudo favorecia o mdico em 14 e o
prejudicava em dois. Por outro lado quando o laudo favoreceu o paciente
(18 casos) o paciente ganhou a causa em 16. (Figura 7).
FIGURA 7 - Correlao entre o laudo pericial favorvel ao mdico
(20) e ao paciente (18) e o acatamento desse parecer pelo juiz. Em 30% o juiz divergiu do laudo pericial favorvel ao mdico e houve divergncia em 10% quando o laudo favorecia ao paciente.
5. 5 TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
Laudo No Acatado
Laudo Favorvel Paciente
Laudo Acatado
Laudo Favorvel ao Mdico
-
Resultados
33
O termo de consentimento informado foi assinado pelo paciente
antes da cirurgia ou entendido pela descrio do resumo do processo pelo
Juiz de maneira tcita em 18(46%) e ausente em 21(54%) casos dos 39
processos. (Figura 8).
5. 6 QUALIDADE DO PRONTURIO MDICO
A condenao estava presente em 22 casos e a absolvio em 17
casos. O pronturio mdico estava bem descritivo em 17 e ruim em 22 dos
39 processos. O consentimento informado estava presente em 22 e ausente
em 17. (Figura 8).
FIGURA 8 - Correlao da condenao com o pronturio
mdico e consentimento informado.
-
Resultados
34
De acordo com a Tabela 3, observou-se associao entre Laudo e
Sentena (p< 0,0001). Comparando-se as propores de sentenas
favorveis a pacientes, quando o laudo era favorvel a pacientes (94,4% -
IC95%=[83,9 ; 100,0]) e sentenas favorveis a mdicos, quando o laudo
era favorvel ao mdico (75,0% - IC95%=[ 56,0;94,0]), no se verificou
diferena entre essas duas propores (p=0,1007).
Pode-se notar tambm nessa mesma tabela que a situao do
pronturio determina nesta amostra 100% das sentenas. Assim, se o
pronturio ruim, a sentena de condenao do mdico e vice-versa, caso
o pronturio seja bom. Observa-se tambm associao entre termo de
consentimento e sentena (p
-
Resultados
35
Tabela 4 - Distribuio dos pacientes por laudo, pronturio e termo de consentimento
Sentena
Total Condenado Inocente
N % N % N %
Laudo 22 57,9 16 42,1 38 100,0
Paciente 17 94,4 1 5,6 18 100,0
Mdico 5 25,0 15 75,0 20 100,0 2=18,74 (p
-
Resultados
36
Foi avaliado o nmero de condies desfavorveis ao mdico (laudo
favorvel a paciente, ausncia de termo de consentimento e pronturio
ruim) que apresentou uma variao de zero a trs. De acordo com a Tabela
4, observou-se associao entre o nmero de condies e sentena
(p
-
Resultados
37
maior o nmero de condies desfavorveis, maior a proporo de
condenados (p< 0,001).
Tabela 6 Distribuio dos casos por nmero de condies desfavorveis
ao mdico segundo sentena, excluindo-se a situao do pronturio.
Condies
Resultado
Total Condenado Inocente
N % N % N %
Total 22 57,9 16 42,1 38 100,0
0 2 11,8 15 88,2 17 100,0
1 6 85,7 1 14,3 7 100,0
2 14 100,0 0 0,0 14 100,0
Teste exato de Fisher = 29,30
(p< 0,0001)
Teste Cochran Armitage para tendncia =5,01(p< 0,0001)
5. 7 JUSTIA GRATUITA
A liberao do pagamento de custas por meio da justia gratuita a
pedido do interessado (paciente) foi acolhido pelo Juiz em 22(56%) dos 39
processos.
-
Resultados
38
5. 8 TIPOS DE CIRURGIAS
As cirurgias plsticas que mais frequentemente levaram a litgio
foram a Abdominoplastias (dez), Rinoplastia e lipoaspirao (nove casos
cada). J a cirurgia de mama (quando computadas: mastopexia, implante
mamrio e mamaplastia redutora) estavam envolvidas em 13 casos. (Tabela
6).
Em 14 dos casos foram realizadas cirurgias associadas.
FIGURA 9 - Em mais de 50% das aes (22 de 39) o Juiz concedeu justia gratuita.
-
Resultados
39
5.9 QUEIXA ALEGADA
Queixa sobre a cicatriz e/ou forma foi alegada em 23 processos
(48,9%). A segunda queixa mais freqente referiu-se s complicaes ps-
TABELA 7 - Frequncia e percentual das operaes em cirurgia plstica envolvidas nos processos contra mdicos do Rio Grande do Sul entre 2000 e 2008.
CIRURGIA FREQUNCIA PERCENTUAL
Abdominoplastia 10 16,39%
Rinoplastia 09 14,75%
Lipoaspirao 09 14,75%
Face lifting 06 9,84%
Blefaroplastia 06 9.84%
Mastopexia 03 4,92%
Implante mamrio 03 4,92%
Reduo mamria 07 11,48%
Procedimentos ancilares 03 4,92%
Implante capilar 01 1,64%
Sequela queimadura 01 1,64%
Contratura Dupuytren 01 1,64%
Prtese gltea 01 1,64%
Orelha 01 1,64%
-
Resultados
40
operatrias (que foram: infeco, necrose e seroma) e que ocorreram em
doze casos (25,5%).
A insatisfao ou resultado proposto no atingido, foi alegado em
oito processos (17,1%). Outras quatro queixas perfizeram 8,5% e foram:
um caso de hipertenso arterial iniciada aps correo cirrgica de
contratura palmar de Dupuytren, uma queixa com percia prejudicada
porque a paciente fez outra operao antes da concluso do processo, e
duas queixas foram em cirurgias combinadas onde uma delas no estava no
acordo pr-operatrio. (Tabela 7).
TABELA 8- Frequncia das queixas alegadas pelos pacientes nas cirurgias plsticas realizadas.
QUEIXA FREQUNCIA PERCENTUAL
Cicatriz e Forma 23 48,9%
Complicao 12 25,5%
Insatisfao 08 17,1%
Outros 04 8,5%
-
DISCUSSO
-
Discusso
42
6. DISCUSSO
A sociedade sofre com o aumento dos litgios contra mdicos,
prejuzos como o tempo de trabalho das duas partes durante as diversas
sesses e instncias do prprio sistema judicirio; conforme o artigo 5
LXXVIII da Constituio Federal (PINTO et al, 2005).
Fenmenos econmicos e sociais influem nos custos financeiros j
que o Juiz sempre considera a intensidade da culpa e do dano gerado, bem
como o status social/econmico do paciente e do mdico (VILA-NOVA
DA SILVA et al, 2010). Esse fenmeno tambm ocorreu nos Estados
Unidos, onde o fato dos cirurgies disporem de seguro para proteo
profissional com cobertura monetria alta, foi um dos fatores que propiciou
a escalada dos valores financeiros (B-LYNCH et al, 1996; MELLO et al,
2003). Medidas defensivas dos mdicos e cirurgies plsticos contra esse
fenmeno social por meio do uso de seguros, no parece ser uma soluo
sensata. Este tipo de fenmeno gera transformaes negativas da boa
prtica mdica como: excesso de exames e documentos no sentido de evitar
possveis demandas (MELLO et al, 2005; STUDERT et al, 2005).
As transformaes fsicas so importantes pelo impacto que
produzem e o funcionamento psicolgico do paciente (a imagem corporal,
autoestima e sade mental) no deve ser afetado negativamente no ps-
operatrio de at um ms (BRUNER & JONG, 2001). Mas, deve-se
ressaltar o aspecto emocional tpico do ps-operatrio que frgil e
quando o paciente d muita importncia ao aspecto da rea operada. Este
um momento passageiro do processo que requer o preparo e ateno de
todos os membros da equipe cirrgica (BORAH et al,1999).
-
Discusso
43
Possivelmente o que ocorreu no cenrio estudado tenha sido
motivado por fatores que vo alm da qualificao/certificao
profissional. Muitos procedimentos estticos no invasivos (procedimentos
como: peeling) so praticados atualmente por no cirurgies plsticos, os
quais tem melhor qualificao para tal (DAMICO et al, 2008).
Possivelmente os cirurgies plsticos brasileiros persistam realizando
procedimentos mais invasivos do que o no cirurgio plstico, afinal, os
resultados mostraram que 79% das cirurgias realizadas (excluindo
rinoplastias e procedimentos ancilares) podem ser consideradas de grande
porte.
Dentre os fatores que motivaram os litgios, obviamente a relao
mdico e paciente estava ruim em todas; possivelmente porque houve a
deteriorao da relao no perodo ps-operatrio, o momento do incio das
aes. A qualidade de relao e do vnculo estabelecido, entre mdico e
paciente, que ir definir a adeso e o comprometimento do paciente ao
processo cirrgico que escolheu realizar (COADY, 1997; CHAHRAOUI et
al, 2006). Portanto, ateno ao perodo ps-operatrio crucial para a
manuteno da boa relao mdico/paciente.
O envolvimento das sociedades de especialistas motivando seus
integrantes a se aperfeioarem em percias mdico judiciais uma boa
proposio para que os cirurgies plsticos que sofrerem aes
injustamente sejam defendidos com um laudo pericial corretamente
elaborado por um especialista da rea (PATAN & PATAN, 1996).
A natureza do vnculo estabelecido entre mdico e paciente que
determinar o desenrolar dos acontecimentos. O erro mdico e a fatalidade
fazem parte do imperfeito universo humano. Este resultado, embora no
desejado, pode ser atenuado quando o vnculo mdico/paciente efetivo.
-
Discusso
44
Os nveis de satisfao indicam a qualidade desta relao. (MARTELLO &
BAILEY, 1999).
Atitudes psicolgicas defensivas como a negligncia e o abandono
por parte de um profissional da rea da sade, so condutas pouco ticas.
Por outro lado, a atitude de vtima do paciente colocado em um sistema
exageradamente assistencialista pode mascarar comportamentos de
carter perverso, como estelionato. Essas duas possibilidades so premissas
fundamentais na prtica do Direito (GOUVA & SILVA, 2005).
A atitude afirmativa, solcita e amorosa na assistncia imediata
vulnerabilidade deste paciente, em todos os momentos exigidos, vem sendo
adotada em universidades com resultados interessantes. Notou-se uma
reduo do nmero de pacientes que processam mdicos e/ou hospitais
quando os mdicos concordaram em reconhecer falhas e prestar reparao
(ROHRICH, 2007).
Quando o Juiz recebe o processo, ele poder determinar se
procedente (conformidade com o Direito, contendo fundamento legal; que
atende aos requisitos da ao; acolhimento, deferimento), ou no quando
improcedente (qualidade do pedido, da reclamao, da denncia ou do
recurso falta fundamento na prova dos autos) (HORCAIO, 2006).
No ocorreram recursos especiais e extraordinrio nos casos
estudados.
Trinta e dois mdicos que realizaram cirurgias plsticas sofreram 39
aes (cinco mdicos sofreram aes duas ou mais vezes) naquele Estado
no perodo de nove anos. Metade deles no era especialista.
Esta amostragem pode ser considerada pequena, porm o nmero
representa a sua totalidade do perodo 2000 a 2008 no Rio Grande do Sul.
-
Discusso
45
Cinco (31%) dos 16 cirurgies plsticos foram julgados culpados e
sete (44%) dos 16 no cirurgies plsticos tambm foram condenados. H
pouca discordncia, sobre o grau de qualificao de profissionais que
executam cirurgia cosmtica, e h unanimidade em se exigir grau de
instruo, treinamento e educao continuada para profissionais que atuam
na rea (ORTON, 2002). As sociedades de especialidades podem executar
essa tarefa de educao continuada para a comunidade (PATAN &
PATAN, 1996). Quase 50% dos pacientes litigantes realizaram cirurgias
combinadas. Embora essa opo aumente o tempo cirrgico e aumente o
risco de complicaes, no h correlao entre cirurgias plsticas
combinadas e maior nmero de complicaes ps-operatrias de acordo
com a literatura. (YOHO et al, 2005; STEVENS et al, 2009).
A distribuio dos processos no perodo estudado (2000 a 2008), foi
capaz de mostrar o aumento na frequncia com relevncia (p=0,0333). Isto
condizente com o observado em outras reas da medicina no mundo. Este
fenmeno tomou grandes propores devido s rpidas mudanas de
atitudes e de valores sociais (MacGREGOR, 1984; MELLO et al, 2003;
FITOUSSI, 2003).
O valor mdio dos processos foi constante ao longo dos anos
(diviso dos gastos em cada caso, pelo nmero de processos por ano). A
presena de gastos representa uma ameaa aos cirurgies plsticos
condenados e inocentados, porque mesmo nos casos em que o mdico
sofreu ao injustamente, ele arcar pessoalmente com as custas das taxas
legais obrigatrias do curso do processo e com danos pessoais outros no
mensurveis (VILA-NOVA DA SILVA et al,2008). J o valor financeiro
mdio de cada processo estvel oscilando entre R$ 4.917,50 e R$ 9.487,7
de 2000 a 2008. Apenas um processo (caso 54) em 2004 elevou o custo a
-
Discusso
46
R$12.779,4 (o mdico, por no ter fornecido recibo, levou o Juiz a
considerar o preo fornecido pelo autor).
O laudo do perito judicial, quando a infrao deixar vestgios, ser
indispensvel ao exame de corpo de delito, direto ou indireto, no podendo
supri-lo a confisso do acusado (JESUS, 1996). Atestando que o equvoco
praticado na conduta do cirurgio foi decisivo no julgamento do juiz,
apenas trs (15%) dos 20 laudos favorveis ao mdico foram incapazes de
inocent-lo.
O acordo entre mdico e paciente deve ser transformado num
contrato, com o nome de termo de consentimento informado (TCI). A
cirurgia plstica ameniza deformidades fsicas e, consequentemente
psquicas, sendo que, a falta de esclarecimento prvio uma das razes da
insatisfao. A ausncia do TCI apresentado ao paciente antes da realizao
de cirurgias plsticas ocorreu em 21 dos 39 processos (53,8%), todos os
mdicos condenados no tinham o TCI do paciente. O TCI considerado
parte integrante do pronturio mdico em vrios pases, nem sempre ele,
significa que o paciente compreendeu o seu contedo. Por essa razo a
ateno do cirurgio e o dilogo com o paciente devem estar sempre
presentes na medida exigida. Em muitas aes o paciente afirma que no
recebeu assistncia e informao pelo mdico logo aps a operao.
(MAVROFOROU et al, 2004).
A alta frequncia desta falha de conduta acusa a possibilidade de
uma qualidade precria na comunicao entre os mdicos e os pacientes
litigantes. Pode-se supor a existncia de desinformao do paciente quanto
ao tratamento que lhe era proposto e at a no percepo de falsas
expectativas de resultado.
-
Discusso
47
Trs dos casos (5%) eram de procedimentos ancilares e compuseram
a amostra estudada. Uma equipe de assistentes treinados fundamental
para prevenir incidentes bem como a normatizao sistemtica das rotinas
do consultrio e dos tratamentos oferecidos pelo mdico e medies do
grau de satisfao dos pacientes atendidos ao longo de curtos perodos de
tempo (ANDERSON, 2000), tpicos dos processos ancilares. Essas so
condutas melhores do que a simples prtica da medicina defensiva, porque
podem prevenir aes que sempre oneram o mdico.
6.1 OS LITGIOS CONTRA MDICOS
O mdico no o nico a figurar como ru nas aes propostas por
pacientes insatisfeitos; os hospitais, operadoras de sade, clnicas,
laboratrios e o Poder Pblico podem ser chamados a responder aes
indenizatrias decorrentes dos alegados erros mdicos (CREMESP, 2008).
O comportamento e o perfil profissional do mdico mais processado
so identificveis por falta de dilogo e ausncia de TCI (ADAMSON et al,
1997). Seu conhecimento til e necessrio quando se pensa em fazer
alguma anlise pormenorizada com objetivo de descrever para depois
propor intervenes no problema.
Todos os cirurgies plsticos convivem com a possibilidade de
serem processados (PATAN & PATAN, 1996). Portanto, o mdico deve
ter algum grau de conhecimento de leis.
A cirurgia plstica no precisa se amedrontar diante da epidemia
de aes porque ela pode e deve estudar os fatos de forma analtica. Pode-
se continuar planejando e executando boas estratgias preventivas e
-
Discusso
48
modificar esse panorama geral. A participao ativa de colegiados e
sociedades de especialistas e a boa compreenso da linguagem jurdica e do
funcionamento do sistema judicial pelos cirurgies plsticos so
fundamentais para que se atinja o sucesso nessa misso (MAVROFOROU
et al, 2004).
Para o incio de um trabalho preventivo sobre algo desta natureza
necessrio que se tenha um diagnstico quantitativo deste panorama. Este
estudo foi capaz de provar o aumento do nmero de processos contra
cirurgia plstica ao longo da ltima dcada, desde 2000 a 2008. Tanto
mdicos quanto pacientes, planos de sade e instituies hospitalares so
prejudicados pelo crescimento de litgios. Todas as esferas do sistema de
sade esto envolvidas neste fenmeno social.
6.2 O SISTEMA JURDICO E O MDICO
Para se responsabilizar civil ou penalmente necessrio que o
mdico conhea as leis e suas exigncias legais (ULDELSMANN, 2002).
Por isso discorreu-se sobre a fundamentao do sistema jurdico
diretamente ligado ao resultado produzido nos casos do presente estudo.
Neste estudo todos os 39 casos eram da esfera civil.
6.3 O CDIGO DE TICA MDICA
-
Discusso
49
Este estatuto no apenas a codificao da tica, mas um
compromisso dos mdicos em favor da sociedade e do ser humano, que
assume uma dvida no interesse superior da comunidade (FRANA, 2000).
Este Cdigo contm as normas que devem ser seguidas pelos
mdicos no exerccio de sua profisso, bem como quaisquer outras
atividades em que se utilize o conhecimento advindo do estudo da
medicina. Mesmo as organizaes de prestao de servios mdicos esto
sujeitas s normas deste Cdigo.
6.4 A CONSTITUO FEDERAL
A Constituio definida como: 1) lei fundamental da organizao
poltica de uma nao soberana que determina a sua forma de governo. Ela
institui os poderes pblicos, regula as suas funes e estabelece os direitos
e deveres essenciais do cidado. 2) ato de estabelecer alguma coisa, em
favor de algum (HORCAIO, 2006).
Desde 1988 impera a Constituio Federal. Ela regula modernizando
e proporcionando o equilbrio nos diversos setores conferindo o Poder da
Nao (PINTO et al, 2005).
As pessoas que vivem sob esta Constituio tm assegurados seus
direitos fundamentais. No artigo 5 do Ttulo II, Captulo I da CF 2005,
termos de I a XX, apresentam aspectos relevantes para o estudo dos litgios
entre mdico e paciente. O termo III afirma que ningum pode ser
submetido tortura nem tratamento desumano ou degradante. Existem
situaes cotidianas na medicina em que isso pode acontecer; quando a
relao mdico paciente fica desgastada e o paciente devido a sua
-
Discusso
50
fragilidade pode sentir-se em tratamento desumano. Essa foi uma alegao
presente em todos os casos aqui estudados.
No caso de uma cirurgia em paciente que trabalhe valendo-se de sua
imagem (por exemplo: modelos, artistas, pessoas do ramo de comunicao
social), os termos V e X do art. 5 so de notada relevncia. Eles afirmam
serem inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurando o direito de indenizao pelo dano material ou moral
decorrente de sua violao. Pacientes com esse perfil, obviamente nos
casos de complicao com leso permanente, podem requerer indenizao
por danos moral, como ocorrem nos casos deste estudo.
O termo XIII do art. 5 afirma que o profissional deve estar
qualificado ao que se dispe a fazer. Portanto a qualificao do profissional
mdico processado foi objeto de investigao deste estudo.
O termo XIV do art. 5 assegura o sigilo profissional em relao ao
paciente. No se observou nenhum caso de publicidade indevida usando
imagem do paciente ou quebra do sigilo.
No Capitulo VII, art. 37, 6 da CF 2005 mostra o direito de
regresso dos Hospitais que, se acionados por erro mdico, tero
responsabilidade objetiva. O Hospital dever pagar indenizao
independente de sua prpria culpa; assim, o Hospital que se sentir lesado
pelo mdico culpado, poder mover ao contra o mesmo para ser
ressarcido de seu prejuzo. Neste estudo no se observou essa ocorrncia.
Titulo VIII, Capitulo II, da ordem social da sade; art. 196 e 199
afirmam que tanto o Estado quanto a iniciativa privada tm direitos e
deveres com a populao de promover a sade. Pacientes de ambos os
sistemas moveram ao contra mdicos (PINTO et al, 2005).
-
Discusso
51
6.5 O CDIGO CIVIL E A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS
MDICOS
Em 11 de janeiro de 2003, com a entrada em vigor no pas do novo
Cdigo Civil (CC), o regime geral da responsabilidade civil no se alterou,
mantendo-se a necessidade de comprovao da culpa do agressor, inclusive
quando decorrente de erro mdico, como se verifica no disposto dos
artigos: 186, 187, 188, 927, 943, 944, 945, 946, 947, 948, 949, 950, 951.
A responsabilidade objetiva foi limitada s atividades que implicam,
por sua natureza, risco para os direitos de outros (artigo 927, 1 do CC).
Essa responsabilidade recai sobre a instituio hospitalar e basta a
existncia de um dano e da prova da ligao do mesmo, gerando nexo
causal, para que surja o dever de indenizar. Cabe ao ru provar a existncia
do dano somado ao nexo causal gerando a comprovao da
responsabilidade objetiva.
O artigo 186 CC fala sobre o mdico que cometeu omisso
voluntria. Por exemplo: uma paciente deste estudo moveu ao de danos
morais por este motivo contra o mdico que suspendeu sua cirurgia
algumas horas antes do momento agendado, por compreender que a
paciente era portadora de transtorno do humor depressivo e poderia
apresentar problemas posteriores. Este profissional foi inocentado, porm
este caso poderia ser evitado por uma melhor abordagem psicolgica na
histria inicial da paciente.
Negligncia a palavra que designa a falta de ateno ou cuidado,
inobservncia de deveres e obrigaes (HORCAIO, 2006). Neste contexto:
uma paciente submetida a uma lipoaspirao (caso 30), associada
-
Discusso
52
abdominoplastia, recebeu alta hospitalar no mesmo dia. A paciente
desenvolveu seroma no ps operatrio. Posteriormente foi submetida a
abdominoplastia com o mesmo mdico, mas dessa vez o profissional
manteve a internao por dois dias e no desenvolveu seroma. A paciente,
aps a segunda interveno, moveu ao contra o seu mdico. E o Juiz
entendeu que a alta no mesmo dia da operao foi precoce e considerou
uma negligncia na primeira cirurgia, condenando o ru. O caso dois deste
estudo, se refere a um peeling qumico em que a mdica, ao invs de
executar o procedimento, delegou esteticista. A paciente, que tinha
dvidas sobre a evoluo de sua terapia aps muita reclamao e
insistncia, conseguiu conversar pessoalmente com a profissional. O juiz
classificou o caso como negligncia mdica e condenou a r.
Imprudncia um ato impensado e irresponsvel (HORCAIO, 2006).
Neste estudo, uma paciente foi submetida rinosseptoplastia (caso n 53),
com um cirurgio plstico e um otorrinolaringologista no mesmo tempo
cirrgico. O otorrinolaringologista, aps operar o septo, retirou-se da sala
operatria, mas surgiu uma hemorragia de difcil correo que foi coibida
pelo cirurgio plstico com um tamponamento intranasal, o qual gerou
comprometimento do resultado esttico final. Como o
otorrinolaringologista foi indicado pelo cirurgio e aps sua sada no foi
encontrado, o caso foi considerado como imprudncia e o cirurgio plstico
foi condenado pelo ato imprudente de permitir a sada do
otorrinolaringologista antes do trmino da operao causando dano ao
paciente que contratou apenas o cirurgio plstico.
A obrigao de indenizar um princpio tico (Captulo III da
responsabilidade profissional no seu artigo 1), bem como nos artigos 186,
-
Discusso
53
187, 927, do CC. Nestes casos, de acordo com o princpio da boa
convivncia e justia, paga-se pelo que fez de errado.
necessrio tambm que haja um nexo causal do resultado alegado e
do ocorrido. Os 22 casos apresentaram condenaes mdicas por danos
materiais, morais e ou estticos obrigaram os rus a indenizar os
reclamantes.
6.6 AS ESPCIES DE INDENIZAO
O dano nada mais do que a leso a um bem protegido
juridicamente como: a sade, a vida, a integridade fsica, moral e esttica.
De acordo com a legislao, o dano pode ser moral, material e/ou esttico,
ensejando cada qual indenizaes especficas (CREMESP, 2008).
Indenizao por dano material: o artigo 402 do CC trata do dano
material, compostos pelos chamados danos emergentes (efetiva perda de
patrimnio) e pelos lucros cessantes (o que a vtima deixou de ganhar em
funo do evento danoso). Porm, h uma ressalva no novo Cdigo Civil
(art. 944, nico e art. 945, do CC). O gasto envolvendo a cirurgia tambm
considerado dano material, toda amostra contempla este tipo de dano.
6.7 O CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Indenizao por dano moral: no se questiona o seu reconhecimento,
j que est expresso na CF (art. 5, incisos V e X), no CDC (art. 6, V) e no
novo CC (art. 186).
-
Discusso
54
Indenizao por dano esttico: assim como a indenizao por dano
moral, a reparao do dano esttico tem finalidade compensatria. A
cumulao do dano moral e esttico admitida pela Justia. (Art. 5, V)
O Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC): Agora comea a verdadeira
vida da Lei. Ela se encarregar de mostrar os seus acertos e suas
imperfeies. A jurisprudncia exercer o papel de acrisolar textos, em
confronto com a realidade social. A doutrina cumprir o ofcio de
esclarecer e apurar conceitos e preceitos (GRINOVER et al. 2004).
GRINOVER et al. (2004) afirmam que com a promulgao do CDC
(Lei n. 8.078/90), vigente desde 11 de maro de 1991, as relaes de
consumo passaram a ser regidas pelo sistema da responsabilidade objetiva,
consultvel nesta tese.
Os mdicos e os demais profissionais liberais so exceo regra da
responsabilidade objetiva. No CDC a categoria dos profissionais liberais
manteve-se em responsabilidade subjetiva, como se pode observar do
artigo 14, 4, do CDC.
A natureza da atividade mdica , em regra, de meio, e no de
resultado, no se justifica a imposio da responsabilidade objetiva
(independentemente da apurao de culpa). Os profissionais liberais
continuam a responder perante seus clientes apenas quando demonstrada
sua culpa (negligncia, imprudncia ou impercia) GRINOVER et al.,
2004.
O CDC prev, em seu artigo 6, inciso VIII, como direito bsico do
consumidor, a facilitao da defesa de seus direitos; inclusive com a
inverso do nus da prova a seu favor no processo civil, quando, a critrio
do juiz, ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinrias da
experincia (GRINOVER et a,, 2004).
-
Discusso
55
No caso 35 desta amostra, a paciente moveu ao contra o mdico
que realizou a retirada de trs lipomas no abdome em regime ambulatorial.
Ela alegou que a cirurgia tinha sido uma abdominoplastia, e gerou um
resultado insatisfatrio com cicatrizes. O juiz considerou a paciente
hipossuficiente por ter reconhecido o fato de ser incapaz de compreender a
diferena entre Retirada de Lipoma em abdome e abdominoplastia no
esttica e coube ao mdico provar que era inocente da acusao e explicar
a diferena entre as duas operaes. O mdico foi, ao final, inocentado.
Nenhum mdico desta amostra foi processado com alegao de leso
corporal.
6.7 A INFORMATIZAO DO SISTEMA JURDICO
O problema mais grave do Judicirio brasileiro a morosidade. Uma
ao judicial demanda muito tempo e recursos para ser concluda.
Esse fator gera uma descrena no sistema Judicirio brasileiro,
conforme apurado em estudo do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada,
realizado em 2000 e 2003. (LESSA & NETO, 2007)
Como tentativa de tornar o sistema mais clere criou-se a Lei
n11.419, de 19.12.2006 que entrou em vigor em 21/12/2006 (NEGRO &
GOUVA, 2007). Esta lei determina diretrizes de informatizao do
sistema judicirio, o que ser de grande valia para estudos similares.
6.8 A INFORMATIZAO DO SISTEMA JURDICO DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL
-
Discusso
56
Vale destacar que a lei um passo importante para modernizar o
Poder Judicirio Brasileiro e torn-lo mais rpido e eficiente, em
obedincia ao preceito constitucional de que assegurado a todos a
razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitao (art. 5 LXXVIII da CF).
A lei convalida experincias realizadas por alguns tribunais, como os
Juizados Especiais Federais da regio Sul, que j adotam a intimao por
meio de acesso a um portal eletrnico, tornado o trmite processual mais
rpido e eficiente, o que fez o tempo mdio entre a distribuio da ao e a
prolao da sentena diminuir de 765 dias para menos de 50 dias nesses
Juizados Especiais. Todavia, a falta de recursos e as dificuldades tcnicas
de algumas regies do pas tendem a fazer com que o processo eletrnico
demore a ocorrer ou se d sem padronizao dos sistemas pelos diversos
tribunais brasileiros, o que poderia comprometer a efetividade da Lei.
(LESSA & NETO, 2007).
6.9 OS DADOS SOBRE O PRONTURIO
Um protocolo de pronturio mdico padronizado pelo CFM junto
com a SBCP foi estruturado em 2010. Nele foram definidos todos os itens
que devem constar no documento. (CFM, 2010).
Entretanto este estudo analisou o perodo de tempo no qual tanto a
informatizao de pronturios quanto a cobrana e normatizao do
contedo obrigatrio eram debatidos e ainda no estavam constitudos.
-
Discusso
57
6.10 OS DADOS SOBRE O TERMO DE CONSENTIMENTO
INFORMADO
Anotou-se a presena ou ausncia do TCI nas aes, essa informao
estava em todos os inteiros teores. Mesmo de maneira tcita comentada
pelo Juiz.
O TCI pr-impresso considerado item de pr-operatrio por
PATAN & PATAN (1996) e sua ausncia tem sido considerada por
representantes do judicirio como negligncia mdica (FERRAZ, 2006). A
qualidade do termo de consentimento deve ser buscada. Recomenda-se:
reviso do texto por um advogado e um autor que fale a linguagem clara
(PATAN & PATAN, 1996). Ainda que as explicaes constem no
pronturio, dever do mdico garantir que o paciente tenha sido informado
e tenha compreendido todos os aspectos prs e contras - limitaes da
operao (GORNEY & MARTELLO, 1999).
Uma paciente apresentou quelide (caso 41) abdominal no ps-
operatrio. A grande complexidade etiolgica do quelide (HOCHMAN,
2008) demonstra que a ocorrncia desta complicao independe da ao do
mdico. Apesar de no ser culpa do mdico, a sentena foi desfavorvel
por falta de informao ao paciente (o Juiz fundamentou a sentena com
essas palavras).
Se o mdico no obteve o consentimento informado por escrito ou
verbal, o risco de problemas legais por uma complicao ou resultado
adverso ser grande, mesmo se o problema no for causado por
negligncia. No consentimento informado alguns elementos so
fundamentais como: o diagnstico ou a suspeita da leso ou deformidade, a
natureza e o propsito do tratamento com seus benefcios; os riscos;
-
Discusso
58
possveis complicaes e efeitos colaterais; a probabilidade de sucesso nas
condies individuais do paciente; tratamento alternativos e finalmente as
possveis consequncias, se as advertncias medicas no forem seguidas.
GORNEY & MARTELLO, 1999.
Em pacientes de cirurgia plstica com transtornos psiquitricos
relacionados aparncia, a insatisfao pode concentrar-se
simultaneamente em diversas partes do corpo. (EDDY et al, 2008; PAVAN
et al., 2008; VINEIS, 2004). Aspectos neurocognitivos gerados por uma
grande insatisfao, podem estar presentes em pacientes que querem
m
top related