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Arq. Ilídio Daio

Luanda – Angola

Arquiteto (FA-UTL 1999), pós-graduado em Habitação de baixo custo (Inst. Polit. de Madrid

2005) e em Planeamento Urbano Sustentável (Banco Mundial 2012)

NOVO CONCEITO DE URBANIZAÇÃO – “KIMBÓPOLIS”

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

ÍNDICE

1- O conceito

2- Pesquisas e Reflexões

3- O Projecto

4- Conclusões

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Palavras-chave: Kimbo, Polis, transição, aculturação, sustentabilidade

1- Conceito

Em algumas zonas periféricas dos centros urbanos e nas regiões do interior de Angola de forte influência rural a expressão “Kimbópolis” neologismo criado para caracterizar uma nova abordagem urbanística nestas regiões rurais, sem romper com os seus hábitos e costumes, técnicas construtivas e ambiente, mas antes organizando, modernizando e sistematizando-os para a constituição de um embrião de cidade (polis), tendo como referência na organização sócio-espacial das

comunidades rurais (kimbo), onde a convivência e solidariedade são as características mais marcantes.

Deverá dar-se particular importância a herança tradicional dos aglomerados rurais típicos , para que de um ponto de vista crítico identificarem-se os modelos e sistemas espaciais característicos da nossa realidade sócio/cultural onde se verifica

um complexo sistema hierárquico de centralidades (o chefe da família, o avô ou ancião, a autoridade comunal, o soba), a forte presença da natureza ou áreas verdes.É possível compatibilizar o modelo “Cardus Decomanus” da herança grega usada no urbanismo convencional usado dois eixos formando uma malha ortogonal, com o sistema vernacular antropocêntrico dos aglomerados típicos.

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Kimbo Pólis

Kimbópolis

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

2- Pesquisas e Reflexões

O KimboNormalmente circulares, são aglomerados rurais funcionando como um espaço de reunião da família alargada, tenho o chefe de família ao centro com sua esposas

de um lado e os filhos do outro.Estruturalmente compostos por uma diversidade de sub espaços dentro da paliçada circular á designar:

• O lugar do fogo• As habitações individuais

• Os currais e armazéns de cereais• A cozinha exterior aberta e coberta

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Evolução tipológica da habitação vernacular em AngolaPor José Redinha, Etnólogo

Evolução Tipológica

A evolução tipológica da habitação tradicional angolana, derivou da paulatinamudança dos hábitos socio-económicos:

• Caçadores e pastores nómadas• Agricultores semi-sedentários• Operário suburbano• Alguns outros fatores culturais influenciaram a forma da habitação:• Lugares de culto

• A casa do soba normalmente circular• Rituais de puberdade

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Evolução tipológica da habitação vernacular em Angola

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Cubata Cuvale - Cunene

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Cubata Ambuíla - Moxico

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Habitação quioca - Lundas

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Observações e denominadores comuns

• Verifica-se o uso predominante de formas circulares, sendo o uso das formasrectangulares resultante do processo de aculturação• As tipologias habitacionais variam em função de: materiais locais, condições

climáticas e das actividades socio-económicas (pastores nómadas)• Verifica-se uma forte ligação a terra daí a preferência do uso do quintal ou pátioem detrimento de espaços fechados e em altura• A habitação é praticamente um abrigo das pessoas durante a noite• O espaço de confecção de alimentos normalmente localizado em espaçosexteriores cobertos (o uso das Marquises ou Pátio)

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

O Lugar, identidade “Genius Loci”

A carga simbólica que estes sítios carregam, pontualizados com uma forte presença

natural fig. 6 (uma árvore, gruta, lagos, etc.) ou histórica, remetem-nos para amemória e culto dos antepassados tornando eterna a presença do homem.

Um caso concreto é o da Mulemba Waxangola (A Mulemga que o Rei NgolaKiluange plantou) que hoje é património classificado e lugar de peregrinação.Por baixo das suas sombras descansou a Rainha Ginga á caminho de Luanda…

É extremamente importante, na abordagem urbanística do “kimbópolis” considerarestas realidades nos lugares de socialização como Largos, Praças, Pracetas e Pátios.

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Do habitat e hábitos rurais à habitação urbana no “kimbópolis”

É sabido que uma das características mais marcantes na habitação angolana,mesmo com a toda a diversidade étnica e climática é a propensão para estar forada moradia de preferência à sombra de uma árvore, alpendre, galeria, etc.

Nisto o “habitat”, assume maior protagonismo que a própria habitação que apenasserve de abrigo para pernoitar. Neste habitat desenvolve-se diversas atividadesdiurnas e noturnas, onde mulheres desempenham um grande papel nas atividadesdiurnas e os homens nas noturnas.

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Selecção do milho para produção da farinha de milho

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Produção da farinha de milhão no pilão

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Preparação de funge de milho

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Preparação de leite azedo (espécie de iogurte)

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

A dança do círculo, onde cada dançarino vem ao centro

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

A dança da massemba e a famosa umbigada

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Neste processo de urbanização pretende-se uma gradual mudança de alguns

hábitos e realidades rurais como por exemplo o uso de latrinas. O conceito de

hortas urbanas foi criado para evitar a rotura abrupta da relação com a terra, e

também para garantir algum sustento alimentar. As actividades domésticas

podem perfeitamente ajustar-se ao modelo urbano da “casa pátio”, onde a

cozinha interior/exterior em relação directa com o pátio assume grande

importância

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

3 . O Projeto

A habitação económica no kimbópolis é considerada no seu conjunto, potenciando o convívio e solidariedade dos seus moradores. A tipologia em pátio resulta eficiente para este objectivo por socialmente ajustar-se melhor aos hábitos e costumes da população nestas regiões rurais, onde estes pátios, podem eventualmente serem fundidos em casos de uma família alargada ou fortes laços de vizinhança muito característicos nas regiões rurais.

Por questões económicas as moradias são geminadas partilhando as redes técnicas, e evolutivas com a melhoria progressiva dos materiais de acabamento, ampliação dos compartimentos ou criação de novos espaços, como quarto ou uma área comercial

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Casa pátio

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Moradias geminadas

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Futuro quarto

Área comercial

Alpendre

Planta da moradia evolutiva de 100 m2

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Nova abordagem urbanística: “Kimbópolis”

O programa habitacional de construção de 1 milhão de fogos e 4 anos,

lançado pelo executivo angolano em Outubro de 2008, abrangeu também

algumas localidades de forte influência rural.

Participei neste projeto na localidade rural do Waco-Kungo, Província do

Kwanza-Sul, numa reserva fundiária de 68 hectares, para a construção de 1000

moradias económicas.

Moradias geminadas e evolutivas em lotes estreitos e profundos (12m x 30m)

beneficiados por uma infraestruturação progressiva (vias em solo compactado,

pontos de água, etc.), a criação de uma unidade modular urbana fig.19,

constituída por 10 lotes (9 para moradias e 1 para o pátio comunitário)

reinterpretando a configuração de um kimbo fig.18, foram as estratégias

adotadas para a gradual e sustentável urbanização desta localidade,

considerando também zonas para equipamentos públicos. Os edifícios

habitacionais mistos em altura foram previstos numa fase posterior.

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Unidade modular urbana com o pátio comunitário

Organização de um kimbo com o jango

ao centro

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

A replicação desta unidade modular urbana, com pelos menos 3 tipologias

habitacionais e loteamentos diversificados para evitar monotonia, irão produzir

um tecido urbano que traduza a especificidade social, económica e cultural

local, tendendo para constituição de um embrião de cidade.

Mega quarteirão com praceta central

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

O plano

Após os levantamentos demográficos, socioeconómicos, das condicionantes

físicas e naturais da reserva fundiária de 68 hectares, o plano de urbanização

foi elaborado numa lógica de enquadramento com a vila da Cela existente,

perspetivando a sua evolução e expansão ao longo das duas vias existente em

direção ao rio

Plano de enquadramento Plano de expansão

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Na elaboração do plano, as duas vias paralelas existentes, a topografia quase

plana com 1% de inclinação, a delimitaçao rectangular da reserva

fundiárias, propiciaram a criação de um traçado em malha cartesiana que

permitisse não só uma fácil orientação e referenciação com as pré-

existências, como também uma implementação faseada em módulos de

unidades de vizinhança

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

Sistema Construtivo

O uso de blocos de abobe é muito frequente nesta região do Waco-Kungo,

não só pela abundância de argila, como também pela inércia térmica que

este material garante nas grandes amplitudes térmicas desta (dias muito

quentes e noite muito frias), mas por uma questão de economia é necessária a

sua industrialização, usando a mesma matéria-prima e adicionando uma

pequena percentagem de cimento para a criação de blocos de terra

compactados B.T.C

Blocos de adobe Blocos de BTC

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

4- Conclusões

Neste frenético e acelerado processo de urbanização das cidades africanas

e de Angola em particular, é imperativo criarem-se abordagens urbanísticas

de transição, um meio-termo entre o rural e urbano, nas periferias dos

principais centros urbanos e nas vilas do interior.

O conceito “Kimbópolis” surge da adequação e reinterpretação dos hábitos

e habitat rurais, num contexto urbano de rápido crescimento, e também

como estratégia de descentralizar os principais centros urbanos como

Luanda, motivando o regresso as terras de origem de grande parte

população suburbana destes centros como também dissuadindo quem este

esteja no interior migrar para as grandes cidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] REDINHA, José - Habitação tradicional angolana : aspectos da sua

evolução, Luanda 1963

“KIMBÓPOLIS” Arqtº Ilídio Daio

MUITO OBRIGADO

Ilidio daio@gmail.com

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