da escola pÚblica paranaense 2009 · anÁlise sobre os critÉrios que norteiam a escolha do livro...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
0
FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS D E
PARANAGUÁ
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
MÁRCIA GODOY LEPCA
ANÁLISE SOBRE OS CRITÉRIOS QUE NORTEIAM A ESCOLHA D O LIVRO
DIDÁTICO PÚBLICO, EM CURITIBA, SUA RELAÇÃO COM O CO NHECIMENTO E
A PRESENÇA DO MULTICULTURALISMO EM SALA DE AULA.
Curitiba
2011
1
RESUMO
O artigo propõe uma análise sobre os critérios que envolvem a escolha do
Livro Didático pelos professores, refletindo sobre sua prática profissional, sua
relação com o conhecimento que transmite e a presença do multiculturalismo em
sala de aula, por meio de reflexões teóricas abordadas no Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria de Estado da Educação do
Paraná – SEED, visando contribuir para a transformação de sua prática e a
efetivação da função da escola que é transmitir o conhecimento. Os pressupostos
teóricos que foram buscados, mais especificamente CHAUI, GILZ, CHARLOT,
GONÇALVES e ROJO, entre outros, tem em comum um único objetivo, conhecer,
debater e analisar o pensamento dos professores da escola de implementação e
que fizeram parte do Grupo de Trabalho em Rede – GTR por meio do ambiente
virtual Moodle e a consolidação de trabalhos que contribuam para a melhoria da
educação pública. Os resultados preliminares das reflexões apontam para o
educador, que deixa de ser um especialista e se transforma em facilitador, o aluno
que deixa de ser receptor para ser um colaborador, a educação que enfatiza o
pensamento crítico fornecendo acesso ilimitado ao conhecimento, sempre
valorizando as diferenças encontradas e muito presentes em nossa sociedade.
Palavras-chave : livro didático, multiculturalismo, reação com o saber
2
ABSTRACT
The article proposes an analysis of the criteria surrounding the choice of
Textbooks by teachers, reflecting on his practice, his relationship with the knowledge
it conveys and the presence of multiculturalism in the classroom, through theoretical
reflections addressed in the Development Program Education - PDE's Ministry of
Education of Parana - SEED, contributing towards the transformation of their practice
and the effective role that the school is to transmit knowledge. The theoretical
assumptions that had been searched, more specifically CHAUI, GILZ, CHARLOT,
GONÇALVES and ROJO, among others, have in common a single goal to meet,
discuss and analyze the thinking of teachers and implementation of the school who
participated in the Working Group Network - GTR through the virtual environment
Moodle and consolidation of work contributing to the improvement of public
education. Preliminary results indicate the reflections for the educator who ceases to
be an expert and becomes a facilitator, a student who ceases to be the receiver to be
a contributor to education that emphasizes critical thinking by providing unlimited
access to knowledge, always valuing differences and very present in our society.
Keywords : textbook, multiculturalism, reaction with knowledge
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ANÁLISE SOBRE OS CRITÉRIOS QUE NORTEIAM A ESCOLHA D O
LIVRO DIDÁTICO PÚBLICO, EM CURITIBA, SUA RELAÇÃO CO M O
CONHECIMENTO E A PRESENÇA DO MULTICULTURALISMO EM S ALA DE
AULA.
O professor que está em constante aperfeiçoamento passa por rotineiras
adequações de novas técnicas de ensino ou conjunto de conhecimentos
necessários e disponíveis para uma boa utilização dos recursos que esteja à
disposição e pelo domínio de novas perspectivas do processo ensino/aprendizagem.
Ao conhecer, debater e analisar sua prática define qual livro didático e o conteúdo
presente nesse material, está pautada em uma ideologia estabelecendo critérios a
partir de uma análise crítica de toda estrutura deste livro e não partir apenas do
“senso comum”
Ao descobrir o que mais motiva o professor ao realizar essa análise é
possível verificar como pode auxiliar na articulação entre escola e sociedade. Assim
contribui para efetivar sua função que é transmitir o conhecimento, lidando com a
diversidade cultural, humanizando-socializando-singularizando através do currículo e
seus diversos materiais de apoio e procedimentos de ensino, para atuar em uma
sociedade multicultural.
O livro didático como um instrumento auxiliador para a formação social,
cultural e política do educando, deve exercer sua função de socialização do saber e
o professor deve saber do que trata o material escolhido para subsidiar seu trabalho.
Diante das transformações mundiais, que impõe novos olhares frente ao
conhecimento, uma série de reformas educacionais evidenciou-se, elaborando
novos marcos legais para a educação junto as políticas públicas e da formação de
educadores. Esses esforços criaram novas discussões nas diversas áreas de
conhecimento, sobre a presença, ou não, das culturas presentes na sociedade.
A educação é o processo pelo qual o pequeno animal que é gerado por homens se
torna ele mesmo humano, apropriando-se de uma parte do patrimônio humano. Isso
quer dizer que o “filhote” do homem é educável, que nasce aberto aos “possíveis”
(tudo que ele pode vir a ser), que nasce disponível; a educabilidade é um postulado
4
de qualquer situação de educação. Isso quer dizer também que cada um se educa
por um movimento interno, o que só pode ser feito porque ele encontra um mundo
humano já aí, que o educa. Essa dialética da interioridade e da exterioridade é um
universal: quaisquer que sejam as sociedades e as épocas, não há educação senão
por e nessa dialética. (CHARLOT, 2008, p. 76)
Acredita-se que seja possível fazer o professor refletir, analisar, conhecer e
compreender a importância de escolher um livro, com um conteúdo que cuide do
desenvolvimento humano, das relações interpessoais e sociais. Encontrar senão a
solução, mas um caminho que conduza a minimizar ou remediar a qualidade dos
conteúdos abordados nos livros didáticos nas escolas, à luz das teorias e
fundamentos da educação disponíveis na atualidade.
A intenção é pensar o livro didático de forma ampla e acompanhá-lo desde a
sua concepção até a sua utilização em sala de aula. Esta é uma reflexão sobre o
papel do livro didático na construção do saber escolar, que deve ser considerado em
um conjunto mais geral e em quais aspectos sociais, culturais, políticos e
econômicos se articulam, conferindo-lhe dimensão específica.
Dessa forma, a discussão sobre o conhecimento escolar pressupõe uma
tomada de posição em relação ao que se entende por contextualizar esse
conhecimento. Analisar e perceber se realmente a igualdade e a valorização da
diversidade cultural, étnica, de gênero, classe social, etc. vão além do ato discursivo,
efetivam-se na prática escolar, permeiam o projeto pedagógico e as práticas da
instituição escolar.
Valorizando senso comum ou ideologia
Em busca de superar o senso comum, deve-se compreender o que é
ideologia e como esta pautada a escolha do Livro Didático das escolas públicas de
Curitiba.
De acordo com José Manuel Girão e Rui Alexandre Gracio (2007) senso
comum é um conjunto de saberes que nascem através de nossas experiências
cotidianas e realidade que vivemos, um saber sobre hábitos, costumes, práticas,
tradições, regras, etc. É muito diferente do saber científico (formal), que requer muito
tempo de estudo, pesquisa e aprendizado. É um saber informal, adquirido de forma
espontânea e através de contatos com pessoas, objetos e situações que nos
cercam. Possui um caráter empírico, acrítico, assistemático, ilusório, coletivo,
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subjetivo, superficial, particular e prático. Varia de sociedade para sociedade, pois
carrega consigo suas tradições e crenças.
O senso comum por ser um conhecimento adquirido por tradição, herdado
dos antepassados, contendo crenças e preconceitos, ao qual acrescentamos todos
os resultados obtidos através da prática, não é crítico nem reflexivo, é conservador e
precisa ser transformado em bom senso, entendido como elaboração coerente do
saber, e por apresentar essas características, segue a importância de conhecer o
termo “ideologia”, para então compreender a partir de qual conceito se faz a escolha
do Livro Didático.
Chauí (1982) mostra ter uma preocupação em conceituar a palavra
ideologia, para que o leitor tenha claro que esta palavra se refere a um conjunto de
ideias sociais, históricas e políticas que tendem a ocultar a realidade, as explorações
econômicas e as dominações políticas existentes em cada sociedade. São ideias
sistematizadas que servem para direcionar e orientar uma ação. A autora também
afirma que toda ideologia pode ser destruída, a partir do momento que uma classe
social compreende sua realidade e ao organizar-se, transforma a realidade em que
vive.
“Por um lado a ideologia continua sendo aquela atividade filosófico-científica que
estuda a formação das ideias a partir da observação das relações entre corpo
humano e o meio ambiente, tomando como ponto de partida as sensações; por
outro lado, ideologia passa a significar também o conjunto de ideias de uma época,
tanto como “opinião geral” quanto no sentido de elaboração teórica dos pensadores
da época”. (Chauí, p. 25-26, 1982)
Essas ideias são o desejo da classe dominante, aparecendo no conjunto de
procedimentos institucionais, jurídicos, pedagógicos, morais, culturais, e outros,
usados por esta classe para manter a dominação.
A ideologia se apropria de ideias particulares e transforma-as em universais,
sendo válidas para toda a sociedade, tornando-se ilusão, ou seja, abstração e
inversão da realidade. Camufla os conflitos existentes na sociedade, apresentando-
os de forma única e harmônica, como se todos compartilhassem dos mesmos
interesses e ideais. No sentido amplo da palavra, ideologia é o conjunto de ideias,
concepções, opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão, uma doutrina ou corpo
sistemático de ideias e seu posicionamento interpretativo diante de certos fatos, que
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indicam e prescrevem aos membros de uma sociedade o que devem pensar, o que
devem valorizar e como devem valorizar.
A antiga concepção de escola e sala de aula, com alunos expectadores,
enfileirados, diante do professor, que detém a informação, não cabe dentro do
conceito atual de aprendizagem, que deve ser valorizado pela interatividade e novos
ambientes de ensino-aprendizagem. O Livro Didático como instrumento fornecedor
de conhecimento contribui para a efetivação do ensino.
Atualmente existem diversos livros e pesquisas que faz uso do pragmático
Livro Didático. Uma forma de conseguir entender sua escolha a partir do senso
comum ou de ideologia crítica e revelar sua verdadeira conotação seriam a partir
desses estudos verem qual segmento faz jus ao verdadeiro uso do Livro Didático e
quais seriam suas verdades.
Quem é esse professor que ensina e esse aluno que a prende
O professor não pode produzir o saber no aluno, mas realizar algo (uma boa
aula, um aumento de preceitos de aprendizagem, etc.), para que o aluno realize sua
parte que é o trabalho intelectual, usando como auxílio o material didático apropriado
e um livro contextualizado. Diante disso, conhecer o professor e sua história de
formação permite entender suas escolhas diante do universo educacional.
O trabalho escrito por Luiza Cortesã (2006) representa grande contribuição
ao pensamento pedagógico contemporâneo analisando o papel e o significado da
atuação do professor diante do contexto socioeconômico e cultural, considerando a
globalização e diversidade. Segundo a autora, os professores estão se tornando
cada vez mais “descartáveis e dispensáveis” e são substituídos por “atores
tecnológicos”, que não reivindicam seus direitos por melhores salários, melhor
condição de trabalho, não lutam pela formação continuada.
Cortesão (2006) em seu diálogo utiliza como base o pensamento de Paulo
Freire, onde a relação educativa deve se basear na “autonomia, no respeito mútuo
às identidades culturais específicas e no diálogo”.
No que se refere à educação, seu contexto vem se conduzindo a uma
diversidade de “apelos desencontrados”, oriundos de vários setores, os quais levam
a analisar e interpretar o papel do professor, face aos atuais desafios que a escola
enfrenta nos dias atuais.
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... é crucial que os professores se apercebam ao arbitrário cultural a que
constantemente recorrem (por vezes de forma não consciente) na imposição das
normas que aplicam, na escolha de conteúdos que desenvolvem e nas formas de
avaliação a que recorrem (CORTESÃO cita Borurdieu e Passeron, p. 16, 2006).
A escola hoje é frequentada por uma clientela que antes não fazia parte de
seu contexto, mas que agora estão presentes e não se sentem bem, e questionam
sobre a educação que lhes é ofertada, exigindo regulamentação adequada.
As questões relativas à diversidade cultural, no quadro da educação, as
mudanças históricas e ideológicas, os sentidos ocultos por detrás das práticas dos
professores, olhadas a partir do senso comum exigem dos professores que
desenvolvam uma atitude de vigilância crítica, questionando qual é seu papel nesta
escola, pois se veem trabalhando com uma população não mais homogênea, mas
caracterizada pela diversidade cultural, criando um espaço crescente entre aquilo
que professores e instituições escolares oferecem, e exigem características,
interesses e saberes dos alunos. Alunos que antes eram submissos e humildes
foram substituídos por alunos que não gostam da escola e encontram na sociedade
informações mais atraentes.
O professor foi formado e socializado para atender um grupo homogêneo e
por isso reproduzem em sua prática quotidiana necessidades que não respondem as
necessidades dos alunos, criando um mal-estar sentido tanto pelos professores
como pelos alunos. Ao transmitirem os saberes e trabalharem as lições de acordo
com um currículo cristalizado, mais se percebe que o “mal-estar” na escola tem
aumentado e está presente em todos os níveis de ensino.
Deverá haver uma mudança nos processos de organização social e
educativo que envolve fatores econômicos, responsáveis pelo desenvolvimento da
globalização, caso contrário a sensação de mal-estar tenderá ao agravamento.
Os professores terão de usar esse conhecimento para repensar formas (e até
conteúdos) de trabalho que possam ir ao encontro dos interesses, que valorizem os
saberes, que não desrespeitem os valores, que aproveitem as competências que os
alunos sempre tem, seja qual for sua origem social e étnica, mas que a sociedade e
a escola atuais nem aproveitam nem valorizam, e nem aceitam. (CORTESÃO, p. 69,
2006).
CORTESÃO (2006) apresenta o professor em duas realidades distintas: por
um lado o professor monocultural que tem por base uma formação teórica, tradutor
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da complexidade da ciência, transmissor de uma cultura erudita e nacional,
construindo o aluno tipo ideal para o marcado de trabalho, que reproduz o sistema e
considera as diferenças como obstáculo ao desenvolvimento da prática educativa; e
por outro lado o professor inter multicultural, que se apresenta como
interventor/educador e criador do processo educativo e social, valorizando atitudes
reflexivas e críticas quanto a atuações e orientações educativas vigentes, vulnerável
à dúvidas, analisando problemas de aprendizagem, e considera a diferença como
um recurso a ser explorado.
Atendendo as exigências de sobrevivência do professor no atual contexto, o
professor deve considerar o “que”, o “como” e o “onde”.
- O tipo de conhecimento e o modo como o professor tem acesso a esse
conhecimento (o “que” nas palavras de Bernstein).
- A forma como ele mobiliza e apresenta esse conhecimento aos alunos com que
trabalha (o “como” de Bernstein).
- Propõe-se ainda que se cruze este “que” e “como” com um “onde”. Por outras
palavras que considere também, nesta análise, o contexto e o nível de ensino em
que o professor esta a trabalhar. (CORTESÃO,p. 79 e 78, 2006).
Através de diversas conexões entre estes três eixos o professor pode
trabalhar em nove situações de atuações, onde transmite o conhecimento, atua em
uma escola reprodutora, ou até trabalha para atender as diferenças, respondendo de
forma diferenciada aos problemas de diversas naturezas, adequada a seu público, e
assim privilegia a investigação-ação, faz o aluno construir seu próprio saber, onde
participa do desenvolvimento global e fortalece sua cidadania, proposta essa que
contribuirá para dissolver o mal-estar presente nas escolas, impossibilitando que
aconteça a morte do professor, pois sua existência é fundamental no processo
educativo.
Ao conhecer o educador, que é responsável pela divulgação do saber e que
fará a escolha do Livro Didático, faz-se necessário, entender quem é este sujeito e
qual conhecimento ele necessita aprender.
As pessoas têm gostos e desejos e devemos considerar as diferenças de
cada sujeito e Bernard Charlot (2008) mostra que no cotidiano podemos encontrar o
desejo pelo saber, que é um processo interno e que se dá através da mobilização do
indivíduo interpretando o mundo. “A mobilização é um movimento interno do aluno, é
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a dinâmica interna do aluno que, evidentemente, se articula com o problema do
desejo”. (CHARLOT, 2008, p. 19).
Assim, devemos entender a relação do indivíduo com o que a escola
oferece e a leitura que ele faz do espaço escolar, e cabe a escola um olhar sobre os
conceitos trabalhados didaticamente, mostrando que aprendizagem tenha sentido,
que possa responder a um desejo, produzir prazer, e também, que a mobilização
intelectual induza a uma atividade intelectual eficaz.
Charlot vê a educação com triplo processo: o de humanizar, apropriando-se
da cultura; de socializar, apropriando-se da cultura; de singularizar, na qual todos
são diferentes, social e politicamente. É por sua história, construídas por
experiências e pelo sentido que o sujeito dá ao mundo, que se deve estudar sua
relação com o saber.
A relação com o saber é o conjunto das relações que um sujeito estabelece com um
objeto, um “conteúdo de pensamento”, uma atividade, uma relação interpessoal, um
lugar, uma pessoa, uma situação, uma ocasião, uma obrigação, etc., relacionados
de alguma forma ao aprender e ao saber – consequentemente, é também relação
com a linguagem, relação com o tempo, relação com a atividade no mundo e sobre
o mundo, relação com os outros e relação consigo mesmo capaz de aprender tal
coisa, em tal situação. ”(CHARLOT, 2008, p.45).
Diante das situações abordadas o profissional que se dispõe a atuar com
um propósito de valorização do conhecimento deve também valorizar as culturas
existentes e trazer ao seu aluno conhecimentos múltiplos. Com essa visão é
necessário entender o multiculturalismo e qual sua participação no contexto
educacional.
Entendendo o multiculturalismo
O Multiculturalismo pode ser entendido como um movimento de idéias
coletivas que tem como linha representativa as diferenças culturais como crenças,
comportamentos e ações que moldam as interações sociais, ou como uma proposta
política ingênua, pois estimula a fragmentação social, que leva a desintegração
nacional, considerando o contexto sócio histórico que esses sujeitos agem.
Esse processo é refletido nas instituições educacionais, pois todos os
profissionais envolvidos na construção do conhecimento, pais, alunos, professores,
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etc., estão diretamente expostos a mídia e meios de comunicação, que refletem os
conflitos existentes e influenciam na construção dos currículos escolares.
Gonçalves (2000) aborda em seu livro sobre o significado do
multiculturalismo, as contribuições e transformações alavancadas por ele na
sociedade em geral. Trata também sobre o movimento multicultural na América
Latina, no sentido do Estado precisar ser re-significado pelos agentes multiculturais,
tal como os currículos escolares das instituições de ensino.
Falar de multiculturalismo é falar do jogo das diferenças, cujas regras são bem
definidas nas lutas sociais por atores que, por uma razão ou outra, experimentam o
gosto amargo da discriminação e do preconceito no interior das sociedades em que
vivem. (GONÇALVES E BATISTA, 2000, p. 09).
A partir da ideia de jogo das diferenças, que reflete as regras das lutas
sociais, que se engajam na luta pelo respeito à diversidade cultural, trata de
conceitos como discriminação, preconceito e politicamente correto e constatam que
as regras desse jogo das diferenças estão em constante mudança.
O Multiculturalismo não tem sua origem nas instituições escolares, mas sim
nos movimentos culturais que lutavam para preservar sua história, raízes, e
características, contrários a um sistema autoritário que impunha uma cultura superior
a toda sociedade. Assim o multiculturalismo acaba interessando a um grupo que se
considera excluído das decisões econômicas e, principalmente das questões
culturais. Com isto percebem-se através de estudos que os mais antigos defensores
do multiculturalismo foram o afro descendente, que enfrentaram conflitos étnicos,
religiosos, linguísticos.
Tanto nos Estados Unidos como no Brasil, o multiculturalismo nasce de
iniciativas de jovens negros que tinham como objetivo a mudança nos sistemas de
ensino, apesar de seguirem caminhos diferenciados.
Com o passar do tempo foram aparecendo diversos tipos de movimentos:
feministas, dos deficientes, homossexuais, que através do apoio de universidades
foram despertando o interesse de trabalhos acadêmicos chamados de Black
Studies.
... funciona como crítica e correção aos tradicionais “estudos brancos” e “conduzem
à produção de ideias geradoras e encorajadoras de novas formas de pensar
problemas práticos, assim como de abordá-los teoricamente.
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... formam uma espécie de filosofia social, política e econômica sobre a qual muitos
têm perguntado em que ela pode “mudar as condições dos afro-americanos. (
GONÇALVES E SILVA, 2000, p.43).
Nos Estados Unidos como o Estado é menos interventor, o desenvolvimento
de uma educação multiculturalista se transforma em movimento de afirmações
étnicas, através de muitos conflitos. O desenrolar deste processo contribuiu para
uma reflexão e tomadas de decisões no Brasil. Para Banks (citado por GONÇALVES
E SILVA, 2000, p. 50), ao deixar clara a meta principal de uma educação
multiculturalista:
...ajudar todos os estudantes na aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades
necessárias para um agir efetivo em uma sociedade democrática plural, bem como
no interagir, negociar e comunicar-se com pessoas de diferentes grupos, a fim de
criar uma comunidade cívica e moral que trabalhe pelo bem comum.
No Brasil o desenvolvimento do multiculturalismo acontece de forma
diferenciada dos Estados Unidos, predominando a mediação de um Estado
interventor, abrindo espaço para enfatizar o racismo, disseminando suas ideias,
fazendo com que só recentemente os segmentos sociais se mobilizassem, e através
de orientações e reformulações que vem passando o ensino fundamental, que
reflete a inclusão de um currículo escolar que leve em consideração o caráter pluri-
étnico, que traduz um povo mestiço, misturado, aberto a contatos inter-raciais, e
pluricultural de nossa sociedade.
Surge, assim, uma ideia de repensar a educação em uma perspectiva
multiculturalista e de reconhecer e valorizar a importância da diversidade étnica e
cultural da sociedade, dando acesso a todos de oportunidades educacionais. O
movimento multicultural no Brasil ao mesmo tempo foi um trabalho de conservação,
de inovação e valorização do patrimônio cultural afro-brasileiro, por transformar uma
linguagem que era puramente oral em linguagem escrita, mantendo uma cultura e
práticas profundamente tradicionalistas.
Considerando as políticas multiculturais existentes e as parcerias entre as
universidades, os autores definem o multiculturalismo no Brasil como algo que está
com o alicerce posto. Porém, a construção de uma sociedade multicultural
democrática continuará dependendo da ação de movimentos sociais.
... buscar compreender o multiculturalismo e suas repercussões na educação implica
destrinchar referências ideológicas, elucidar encaminhamentos teóricos, descobrir
práticas pedagógicas, posicionar-se politicamente e situar-se socialmente. Vê-se,
12
também, que essa intrincada rede de significados se contextualiza num território,
numa sociedade e nas relações que a mantém, pode ser útil para elucidar,
contrapor, ampliar o conhecimento da diversidade humana, em uma região, em uma
nação, enfim no mundo. (GONÇALVES E SILVA, 2000, p.65).
Peter McLaren (2000) destaca em seu livro as possibilidades para uma
educação multicultural pós-moderna a partir de uma concepção crítica identificando
qual papel o multiculturalismo crítico poderá desempenhar na construção das
políticas educacionais nos próximos anos. O multiculturalismo visto como movimento
social que desafia a ordem capitalista globalizada e propõe aos educadores
brasileiros uma discussão de uma abordagem curricular pouco acostumada a ser
debatida em seu cotidiano, ou seja, revelar interesses comuns que se estabelece
entre a escola e o mundo.
Fez-se necessário relatar sobre a prática do educador, entender qual sua
relação com o conhecimento e se mantém viva as diferenças multiculturais em sala
de aula.
Cabe então conhecer qual é o papel que o livro didático desempenha no
desenrolar desse processo, e assim auxiliar o professor em uma análise correta e
consciente do material utilizado em suas aulas.
Livro didático: na formação do professor e do aluno
O livro didático é um auxílio que continua ser utilizado nas propostas
pedagógicas de ensino e aprendizagem e contribui na formação de docentes,
desenvolvendo-se em um espaço específico que é a educação. Educação não só no
aspecto intelectivo do indivíduo, mas em sua totalidade física, intelectual, afetiva e
social. Social, pois o indivíduo não se forma sozinho, mas através da troca de
experiências, e convívio social. Sendo assim, cabe ao professor uma prática que
possibilite ao aluno, através do convívio e troca de experiência, formar sua própria
identidade.
Para CIRIGIANO(citado por GILZ 2009, p.13) Devemos considerar a
educação desprovida de qualquer preconceito, por duas razões:
“ 1º - Pensar e analisar o ser da educação como fenômeno, sabendo que para esse
propósito não há em si um método, mas o postulado de uma atitude capaz de
apreender o que se revela por si mesmo tal como é, seu sentido e fundamento,
aspectos esses comumente menos aparentes dos fenômenos, mas que na verdade
são a sua condição de possibilidade.
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2º - Corrigir o hiato existente entre teoria e realidade concreta por meio de uma
atitude de indagação. O diferencial estaria, segundo o autor, em agregar, ao trabalho
de interpretar, as especificidades do fenômeno educacional, tais como: categorias de
sentido, estruturas organizacionais e suas implicações, fatores ligados ao caráter e a
cultura das pessoas envolvidas.”
Segundo GILZ (2009), o livro didático é uma enorme fonte de pesquisa
conduzindo a interessantes análises científicas, ideias, saberes, debates, pesquisas,
ações, reunindo registros de concepções pedagógicas e refletindo a educação
presente em cada momento histórico, sujeito a constantes complementações. Tem
por finalidade o processo ensino-aprendizagem, destinado ao professor e ao aluno,
proporcionando diferentes leituras da realidade, possibilitando contestar ou não seus
conhecimentos atuais, fornecendo ao aluno uma forma diversificada de leitura das
relações sociais existentes, responsável pela formação humana, acadêmica e
profissional do indivíduo, devendo ser utilizado de forma crítica e criativa pelo
docente, caso contrário, se torna mecânico, rígido e sem critério, reproduzindo
apenas um conhecimento pré-estabelecido.
A expressão livro didático define e aponta uma finalidade específica: o processo de
ensino-aprendizagem escolar. Destina-se a instaurar interações entre dois leitores
também específicos: o professor e o aluno. Elaborado para proporcionar diferentes
leituras da realidade e dos fenômenos, não raro é alvo de análises curiosas de quem
o investiga enquanto tema de pesquisa (SILVA 1996; ROJO& BATISTA, 2003)
Por apresentar concepções pedagógicas e práticas apropriadas a um
momento histórico, o livro didático apresenta e desvenda conteúdos com força ativa
que estabelece e conserva a ordem natural de tudo que existe na sociedade.
O livro didático é um material auxiliador do ensino-aprendizagem e
proporciona ao aluno uma forma diversificada de leitura das relações sociais
existentes, responsável pela formação humana, acadêmica e profissional do
indivíduo, devendo ser utilizado de forma crítica e criativa pelo docente, caso
contrário se torna mecânico, rígido e sem critério, reproduzindo apenas um
conhecimento pré estabelecido.
Em seu livro Rojo e Batista (2008) focar a questão dos livros didáticos de
Língua Portuguesa oferecidos e avaliados pelo Programa Nacional do Livro didático
(PNLD) e as contradições teóricas e metodológicas encontradas ali.
Para entender melhor, o PNLD é uma iniciativa do MEC, e tem como
objetivo básico inicial a aquisição e distribuição do Livro Didático para alunos das
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escolas públicas do ensino fundamental. Definido pelo Decreto-Lei nº91542, de
1985,que fixou como característica do PNLD a adoção de livros reutilizáveis (com
exceção da 1ª série), a escolha dos livros pelos professores, sua distribuição gratuita
aos estabelecimentos escolares e disponibilidade de recursos do Governo Federal.
O MEC, responsável pela avaliação contínua do livro didático percebe que
os livros avaliados apresentavam muitos problemas como falta de qualidade, um
caráter ideológico e discriminatório, desatualização, incorreções conceituais e
insuficiências metodológicas, e em 1993 a comissão de avaliação elaborou os
primeiros critérios de eliminação aos livros que contemplavam a existência de
preconceitos e erros graves na área a qual foi destinado.
A partir de 1999, com a inclusão dos livros de 5ª a 8ª séries no processo de
avaliação cria-se novos critérios para a aprovação ou reprovação dos livros no
PNLD.
A situação econômica de cada época influenciou no desenvolvimento do
PNLD e após 1997, se regularizou com parcerias com os Correios, o SENAI, e
Secretarias de Educação Estaduais e Municipais.
O programa do PNLD apresentou muitos indicadores positivos como: melhor
qualidade nos padrões dos livros didáticos, a avaliação pedagógica dos livros
engajou uma ampla renovação da produção didática brasileira com a inscrição de
novos títulos e nova geração de autores e a preocupação das editoras com a
adequação dos livros didáticos.
Tendo em vista o contexto educacional contemporâneo e as transições entre
diferentes paradigmas educacionais, encontramos na LDB (Lei de Diretrizes e Bases
da Educação) e nas Diretrizes Curriculares Nacional para o Ensino Fundamental,
instituídas pelo Conselho Nacional de Educação por meio da Resolução CEB nº 2,
de sete de abril, de 1998, as adequações às realidades locais.
Criando instrumentos para que a escola possa ter maior valor para o
cotidiano do aluno, a LDB faz aumentar importância à dimensão social dos
conteúdos, estende a possibilidade de aprendizagem do aluno, define algumas
alterações quanto ao ensino fundamental enfatizando: a aquisição do conhecimento,
a formação de valores e atitudes e possibilitando o enfrentamento aos altos índices
de retenção e valoriza a ligação entre conteúdo e prática sociais.
Obedecendo a demanda escolar, o livro didático aparece como um
instrumento beneficiador da aprendizagem do aluno, sendo detentor do
15
conhecimento escolar e direciona o uso desse conhecimento para a compreensão
da realidade, pensado, criticando, reformulando a solução de problemas atuais.
“Isso significa, colocar o livro didático como subsídio da escola para a consecução do
objetivo de promover o exercício da cidadania, vale dizer, a serviço de um proposta
pedagógica que é, em última instância, o projeto coletivo necessário à constituição
da identidade da unidade escolar.”( ROJO & BATISTA, 2008, p. 44).
Os Livros Didáticos poderiam ajudar muito mais o país se não fosse visto
apenas como um manual de conteúdos, mas como a prática para trabalhar esses
conteúdos. Apesar de o PNLD oferecer livros de ótima qualidade para que os
professores escolham seu material de trabalho, os livros por eles escolhidos estão
entre os não recomendados ou recomendados com ressalva, criando assim um
descompasso entre o PNLD e os professores.
O livro didático buscando atender a função estruturadora do trabalho
pedagógico em sala de aula deve apresentar o desenvolvimento dos conteúdos
trabalhados, deve se caracterizar como um caderno de atividades para expor,
desenvolver, fixar e avaliar o aprendizado, deixando de ser um material de apoio do
ensino-aprendizagem, mas um material que condiciona, orienta e organiza a ação
docente na seleção, abordagem, forma e metodologia de ensino. Para isto deve se
organizar em torno de:
• “da apresentação não apenas dos conteúdos curriculares, mas também de um
conjunto de atividades para um ensino-aprendizagem desses conteúdos;
• da distribuição desses conteúdos e atividades de ensino de acordo com a
progressão do tempo escolar, particularmente de acordo com as séries e unidades
de ensino. ”(ROJO & BATISTA, 2008, p. 47)
As exigências de um contexto educacional contemporâneo nos impõem um
livro didático diversificado e flexível, sensível as diversas formas de organização das
escolas e dos projetos pedagógicos, e também corresponder as variadas
expectativas e interesses sociais e regionais. Existem vários fatores que interferem
no uso efetivo do livro didático e dentre elas encontramos a formação e atuação
docente como um fator relevante, as necessidades e dificuldades de condições de
trabalho a qual o professor se submete, incluindo o padrão de qualidade do livro
didático, que deve adequar-se as exigências do sistema escolar.
O PNLD trouxe mudanças importantes nas avaliações dos livros didáticos
como o aprimoramento e socialização na realização da avaliação pedagógica por
16
universidades públicas, incentivando pesquisas sobre o assunto, também
possibilitou um trabalho mais integrado e coerente na escola com o livro didático,
contribuiu para o desenvolvimento curricular, permitiu a obras anteriormente
excluídas sua revisão e acompanhamento dos problemas apresentados, possibilitou
a autores e editoras acompanhar o movimento de transformação que sua demanda
exige.
Aos educadores e intelectuais fica a função de promover a mudança dos
livros didáticos possibilitando a interação com o mundo que o aluno trás para a sala
de aula e ao aluno realizar movimentos que permita em toda diversidade social e
educacional, expandir seu conhecimento.
O livro didático público estabeleceu como objetivo principal, reinventar o
pensamento crítico e criativo nas aulas, a partir de um conceito diferente de livro e
de material didático, contribuindo para a alteração gradativa do perfil da educação
pública neste estado. Apesar do empenho dos setores responsáveis por sua
divulgação e distribuição, o livro não teve boa aceitação entre professores e alunos
da rede pública.
Em seu livro SAVIANI (2009) enfatiza que o cuidado que o autor dos livros
didáticos devem ter é não permitir que o livro percas sua ação educativa, ou seja
que o objetivo do livro é selecionar, expor e ordenar as conclusões científicas de
modo que promova o homem, isto é o educando, tornando-se um estimulador da
capacidade criadora do professor e do aluno.
Com efeito, o bom livro didático será, em suma, aquele que, reconhecendo-se um
dentre os diversos recursos que ocorrem para o êxito do ensino, for capaz de reunir
o maior número de estímulos que permitam a professores e alunos dinamizar o dia a
dia do processo ensino-aprendizagem na direção do objetivo fundamental da
educação: a promoção do homem.( SAVIANI, 2009, p.139)
Podemos concluir que o livro didático disponível no mercado ainda tem um
longo caminho a percorrer para então ser considerado como instrumento de
implementação do currículo, mas está encontrando esse caminho quando já permite
uma reflexão da prática pedagógica.
17
O livro didático na vida escolar: o que pensam os p rofessores do GTR e da
escola de implementação
Ao direcionar uma discussão com professores pedagogos da rede pública
de ensino algumas considerações foram feitas revelando informações que
incentivem a reflexão sobre a real responsabilidade do professor enquanto
formadores de opiniões, e traduzindo através de suas abordagens qual o papel do
livro didático em sala de aula e o respeito à presença do multiculturalismo no
contexto educacional.
Algumas proposições foram elencadas para facilitar as discussões com os
professores e a equipe pedagógica na instituição escolar, destacando-se: a análise
dos textos sugeridos, avaliação do plano de trabalho, da proposta curricular do
Projeto Político Pedagógico da escola, o livro(s) didático(s), a bibliografia utilizada
para refletir sobre até que ponto o trabalho dos professores e estes documentos
contemplam um ensino e uma prática que vise de fato uma educação multicultural, e
uma análise específica, pelos professores de diversas áreas quanto aos livros
didáticos adotados pela escola que articulam a abordagem da temática e os
conteúdos aos quais está relacionada. Os educadores concluíram que:
O multiculturalismo é um tema desafiador e intrigante aos olhos do professor
que reluta em discutir tal assunto, mas que trazem sua contribuição e apresentam
maneiras de abordagem do assunto.
A escola tem a função de transmitir o conhecimento. Esse conhecimento
presente nos livros didáticos reflete em sua essência a presença ou não do
multiculturalismo. O professor ao utilizar o livro didático por ele escolhido deve
mesclar suas atividades com outras formas de trabalho que desperte no aluno o
senso crítico, social e reflexivo. A tarefa de conhecer, diagnosticar e reconhecer as
diferenças existentes em nossa sociedade não é tarefa fácil, mas possibilita a
elaboração de um currículo que contemple e avalie todas as formas de diversidades.
A partir do momento que houver a participação efetiva da escola e seu colegiado
poderá se estabelecer uma linguagem comum, possibilitando conhecer a pluralidade
cultural e étnico-racial que compõe as salas de aula, aproveitando então, para
trabalhar conceitos, diferenças, compreensão, consciência, tolerância, enfim a
cidadania, não apenas em momentos ou datas pré- determinadas, mas
cotidianamente.
18
O acesso de movimentos sociais às escolas permitirá ao aluno ser um
disseminador de ideias e histórias na sociedade ajudando a sensibilizar e
transformar diversos conceitos.
“Como a transmissão do conhecimento nas sociedades modernas conta com o
poderoso suporte dos sistemas educacionais (sistemas esses que consomem
grande parte da vida do indivíduo) e, como a educação, qualquer que seja ela, está
integralmente centrada na cultura, pode-se entender porque os multiculturalistas
fizeram da instituição escolar sue campo privilegiado de
atuação.”(Gonçalves,p.14,2000).
O livro didático representa um objeto de intervenção; auxilia o trabalho do
professor, que deve ser complementado com outras fontes de pesquisa; orienta o
professor a estabelecer critérios metodológicos que possam clarear ao aluno uma
visão do conteúdo que será ministrado, porém não define os conteúdos e muito
menos podem ser trabalhados de forma única.
Destacaram como tendo maior importância na escolha de um livro a
contextualização dos conteúdos abordados, o autor e que os conteúdos devam estar
previstos nas Diretrizes Curriculares.
Os professores traduziram em sua fala a necessidade do livro didático ser
utilizado como eixo norteador, facilitando o trabalho em sala de aula possibilitando a
prática de trabalho interdisciplinar e multidisciplinar.
Apesar de alguns professores verem seus alunos como curiosos, em sua
maioria são apáticos, desinteressados, descompromissados, preguiçosos, e
preocupados apenas com a nota e a aprovação, repassam para a escola a
responsabilidade em motivá-los.
Ao escolherem o livro didático os professores não conhecem os alunos que
irão utilizá-los e em vários momentos assumem aulas para substituir outros
professores por tempo limitado, dificultado, pela escassez de tempo, uma análise
mais investigativa da realidade escolar.
Como critérios elencados pelos professores estabelecem que:
a) o livro de ser escolhido em equipe;
b) os conteúdos devem estar de acordo com as Diretrizes Curriculares,
contextualizadas e que possibilitem o conhecer, aceitar e valorizar outras culturas;
c) o livro deve conter informações verídicas;
d) ser um objeto de fácil aquisição;
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e) ser usado como referencial na elaboração de atividades;
f) ser fonte de pesquisa para o aluno;
g) material auxiliador do processo ensino-aprendizagem;
h) facilitar a interação entre professor e aluno;
i) estabelecer conexões entre o conteúdo e o mundo;
j) estimular o senso crítico e a criatividade;
k) ultrapassar o senso comum estimulando o aluno a adentrar no ambiente
científico;
m) possibilitar a integração dos diversos grupos sociais;
n) linguagem adequada a faixa etária a que se destina;
o) respeitar as diferenças regionais;
p) traze textos atuais, ilustrações adequadas e bons exercícios de fixação do
conteúdo.
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CONCLUSÃO
Portanto no contexto da escola pública há muito que se fazer para
concretizar uma ação competente e responsável na escolha do livro didático, pois
este instrumento em harmonia com o currículo pode ser eficaz, no entanto, para
construir uma nova visão de mundo é necessária também formação teórica afinada
às mudanças no contexto econômico e sociocultural.
Nossas escolas estão pautadas em uma concepção moderna e nossos
alunos vivem em uma sociedade pós-moderna, para tanto o livro didático deve
adaptar-se aos “novos tempos”, como também sua escolha. Temos que acompanhar
o motor da história do desenvolvimento intelectual e físico dos alunos, reciclarem os
métodos de ensino, criar uma linguagem que venha ao encontro das necessidades
apresentadas e entender a realidade posta.
Os educadores não podem desconsiderar que o ritmo de cada geração é
diferente e que nossos alunos vivenciam deferentes conflitos e que mudam de forma
acelerada. Portanto a criatividade, comprometida com a formação do aluno de forma
reflexiva e acolhedora combinada com diferentes formas de levar o conhecimento à
sala de aula, ajudará o professor a entender seu aluno, que muitas vezes é visto
como aquele que não tem comprometimento e nem responsabilidade com o
conhecimento.
A realidade que se impõe às escolas públicas, com uma enorme rotatividade
de professores que desconhecem a natureza de seus alunos, seus interesse, suas
angústias e perspectivas, também são fatores negativos para um efetivo
compromisso com o saber e o conhecimento que vá ao encontro do que nosso aluno
necessita. Também no que se refere à escola estadual de ensino fundamental, na
qual se privilegiou a abordagem sobre o livro didático, recomenda-se pensar a
organização pedagógica e suas ações decorrentes, constituindo elemento
fundamental para o desenvolvimento de um ensino de qualidade, a fim de se chegar
a estratégias e ações diretas no Projeto Político Pedagógico e no currículo da
instituição escolar.
Muitos alunos questionam o tipo de ensino que lhes é ofertado, mas por
outro lado demonstram pouco interesse em adquirir os conhecimentos ministrados a
eles. É preciso repensar a educação como prioridade, investir na valorização do
profissional de ensino, reduzir o número de alunos em sala de aula para que seu
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atendimento seja apropriado, elaborar um currículo que permita um trabalho
interdisciplinar, respeitando as diferenças e individualidades que se apresentam no
cotidiano escolar.
Deparamo-nos com turmas grandes e heterogêneas, necessitando de livros
atuais, atraentes, questionadores, que levem o aluno a refletir sobre sua realidade e
não apenas reproduzir um conhecimento pronto e estagnado.
O livro didático deve ir além de conteúdos sistematizados, pois contribui
para a organização do professor, deve sugerir atividades que possibilitem ações
concretas, permitindo ao aluno entender “seu mundo” buscando formas de modificá-
lo a partir de um conhecimento historicamente construído.
Como a escola tem a função de transmitir conhecimentos, estes devem
estar presentes no livro didático, refletindo em sua essência a presença de ideias
coletivas que tenham como eixo as diferenças sócias. Os conteúdos apresentados
pelos professores devem manter uma relação estreita com a prática vivida pelos
alunos.
As reflexões sobre as questões multiculturais no Brasil, difundidas neste
texto estão alicerçadas, porém a construção de uma sociedade multicultural
democrática continuará dependendo da ação de movimentos sociais visto que
nossos educadores precisam aprender a valorizar e identificar em sala as diferentes
culturas existentes. Compreender o diferente como diverso e não como contrário.
Gonçalves (2000) cita Banks, que apresenta uma reforma de currículo
multiculturalista no processo de construção do conhecimento, partindo da análises
da literatura sobre esse assunto, separando-o em quatro níveis: primeiro a
contribuição dos professores na apresentação de grupos étnicos apontando heróis e
heroínas, datas comemorativas, comidas e algum dado cultural fundamental;
segundo adiciona conteúdos, temas relativos a um determinado grupo; terceiro uma
mudança da estrutura curricular com o objetivo com o objetivo de que os alunos
aprendam conceitos, analisem fatos, temas na perspectiva de diferentes grupos
sociais; e por último o currículo é construído permitindo ao aluno a refletir e tomar
decisões referentes a problemas sociais. Através desta construção o
multiculturalismo em educação deve ser visto com menos preconceito e o trabalho
dos professores se dá através de técnicas e métodos que garantam o sucesso de
todos os alunos, sem considerar sua classe social ou grupos étnicos a que pertença.
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A escola que segue esta forma de organização deve-se reestruturar,
relembrando seu currículo escolar, reavaliando as expectativas dos professores e
funcionários sobre os estudantes, dando possibilidade aos alunos pertencentes de
diferentes grupos étnicos e sociais, participem de forma igualitária de todas as
experiências educativas.
Com essa proposta entende-se que uma educação multiculturalista se
constitui um corpo único de ideias e práticas, decorrentes de múltiplas concepções,
partindo de referências étnico-racias, políticas, de gênero e de classe.
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Coleção educação contemporânea).
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