da escola pÚblica paranaense 2009 · persuasivas de eva, a qual rompe a barreira da obediência,...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
QUESTÕES DE GÊNERO EM POEMAS DE CORA CORALINA
MARINGÁ – PARANÁ
2010
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CLAUDIA ROGERIA RAMALHO DA SILVA
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
Desenvolvido por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, na área de Língua Portuguesa, com o tema de intervenção: -Questões de gênero em poemas de Cora Coralina. Orientadora: Professora Dra. Lúcia Osana Zolin
MARINGÁ – PR
2010
1. IDENTIFICAÇÃO
1.1. Professor PDE: Cláudia Rogéria Ramalho da Silva
1.2. Área PDE: Língua Portuguesa
1.3. Professora Orientadora IES: Professora Doutora Lúcia Osana Zolin
1.4. IES: Universidade Estadual de Maringá/UEM – Maringá - Pr
1.5. Escola de Implementação: Colégio Estadual Bento Mossurunga
1.6. Público objeto da intervenção: Alunos da 6ª série do Ensino
Fundamental
2. APRESENTAÇÃO
A participação da mulher em todos os segmentos da sociedade tornou-se
recorrente nos dias atuais. Facilmente, constatamos mulheres destacando-se na
política, como, Dilma Roussef e Marina Silva, concorrendo a uma eleição para
ocupar o cargo mais importante do país; na cultura, com a cineasta Kathryn
Bigelow, que após oitenta anos, foi a primeira mulher a ganhar o Oscar de melhor
direção em Hollywood; nos esportes, com a jogadora de futebol Marta Vieira da
Silva, que recebeu o título de melhor jogadora em 2009, ou Patrícia Amorim,
dirigindo o clube do Flamengo, que possui a maior torcida do Brasil, enfim, nos
diversos setores profissionais. Difícil, porém, foi trilhar a trajetória de
discriminação e opressão a que as mulheres foram submetidas até tornarem-se,
efetivamente, parte da sociedade e, merecidamente, alcançarem o
reconhecimento de sua condição de cidadãs.
Apesar de a mulher já ter empreendido vitórias expressivas, como o direito
de votar, de escolher uma profissão, de cursar uma universidade, de escolher um
parceiro – conquistas, que se tornaram corriqueiras, mas que faziam parte de
uma inimaginável utopia durante muitos séculos e até há pouco tempo –, existem,
ainda, muitas barreiras a serem transpostas. A igualdade de acesso ao mercado
de trabalho, a ascensão e o aprimoramento profissional, a denúncia e o combate
à violência contra a mulher, seja ela explícita ou velada, por exemplo quando seu
corpo é usado como objeto de consumo, principalmente pelos meios de
comunicação de massa – todas essas situações ainda estão por ser
conquistadas.
Trata-se, de algumas das frentes de reivindicações voltadas à igualdade no
exercício dos direitos e na busca por identidades femininas próprias e legítimas,
capazes de combater a ideologia da dominação masculina e de alcançar a tão
desejada igualdade entre os sexos.
Tendo isso em vista, nosso objetivo, ao implementar esse Caderno
Temático, é promover, junto aos educandos, certa mudança de mentalidade e
atitudes relacionadas ao modo de pensar os papéis femininos na sociedade, bem
como o modo de representá-los na literatura.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A literatura de autoria feminina tem sido alvo de inúmeros estudos, tendo
em vista sua atualidade e importância. Essa temática veio à tona como
consequência das conquistas alcançadas pelo Movimento Feminista. O lugar de
destaque que, finalmente, a mulher passa a ocupar na sociedade, refletiu
diretamente na literatura. A produção literária, antes de domínio exclusivamente
masculino, passou a ser praticada por mulheres e estas, mais seguras, passaram
a escrever livres das amarras da rejeição e da opressão.
Cabe, aqui, uma breve retrospectiva do Movimento Feminista, que com
suas bandeiras, atravessou décadas, denunciando, desvendando e
transformando a construção social da imagem da mulher.
Nos primórdios da sociedade, o Patriarcado uniu-se ao Cristianismo na
construção de uma ideologia baseada na superioridade masculina. As passagens
bíblicas que submetem a mulher ao homem são inúmeras. Tudo se inicia com o
mito de Adão e Eva no Jardim do Éden, onde Deus fez o homem à sua imagem e
semelhança, mas a mulher foi feita do homem. A leitura que se tem feito dessa
parábola aponta para o fato de a mulher não provir do divino, constituindo-se,
assim, como um ser imperfeito, cuja subjugação ao homem é “natural”: "Teu
desejo te impelirá para o teu homem, e este te dominará" (GÊNESIS, 3, 16).
Segundo a Bíblia, Adão é conduzido ao pecado, através das palavras
persuasivas de Eva, a qual rompe a barreira da obediência, dividindo a
humanidade em lado "bom" e "mau". Daí a mulher carregar o fardo da culpa e a
consequente necessidade de expurgá-la por meio da objetificação e da
subordinação. Tendo isso em vista é que legisladores, sacerdotes, filósofos,
escritores e sábios empenharam-se em demonstrar que a condição de
subordinada da mulher era desejada no céu e proveitosa à terra (BEAUVOIR,
1980, p.16). A prática da exclusão da mulher tornou-se uma constante ao longo
dos séculos, fortalecida por uma série de elementos sociais e culturais que vão se
estruturando no intuito de manter a hegemonia patriarcal instituída.
As primeiras vozes de contestação feminina que a história registra dizem
respeito à educação e ao trabalho. Segundo Zolin (2009, p. 220), Mary
Wollstonecraft escreve um dos grandes clássicos da literatura feminina, A
Vindication of Rights of Woman (As reivindicações dos direitos da mulher),
retomando as reivindicações da Revolução Francesa serviço das mulheres.
Baseada no argumento do dano econômico e psicológico sofrido pelas mulheres
em decorrência de sua dependência forçada do homem e da exclusão da esfera
pública, ela defende uma educação mais efetiva para elas, capaz de aproveitar-
lhes o potencial humano e torná-las aptas para se libertarem da pecha da
submissão e da opressão, tornando-se, de fato, cidadãs, como lhes é de direito.
No século XIX, com o aumento da produção manufatureira, e,
consequentemente, da introdução cada vez mais significativa de máquinas nas
indústrias, aumenta enormemente o contingente feminino na mão-de-obra
operária, porém, as mulheres recebiam salários proporcionalmente menores em
relação ao salário dos homens. A explicação era de que elas tinham quem as
sustentassem, portanto, seus salários serviam apenas de complemento.
Com a expansão do Capitalismo, surgem os partidos de esquerda, em que
as mulheres encontram espaços para suas manifestações. Os partidos
precisavam de mais colaboradores e as mulheres precisavam manifestar suas
reivindicações, como por exemplo, o direito ao voto. O Movimento Feminista
passou então a ficar intimamente ligado aos movimentos políticos. Como
resultado da participação das mulheres na Revolução Francesa, registra-se, por
exemplo, a instauração do casamento civil e a legislação do divórcio.
Jeanne Deroin, (1848), líder operária, elabora um projeto que criava a
União das Associações de Trabalhadores, precursora da ideia das futuras
federações e centrais sindicais.
Em 8 de março de 1857, as operárias da indústria têxtil de Nova York,
empreendem uma marcha pela cidade, protestando contra os baixos salários e
reivindicando jornada de trabalho de 12 horas. Violentamente oprimidas pela
polícia, muitas foram presas e feridas. Na mesma data, cinquenta e um anos
depois, operárias novamente saem às ruas, denunciando condições degradantes
de trabalho e acrescentando às suas reivindicações o direito ao voto e,
consequentemente, participação nas decisões públicas.
A Convenção dos Direitos da Mulher (1848), foi um dos marcos iniciais do
Movimento Sufragista americano. Foi aprovada, nesta convenção, uma moção
que afirmava ser o dever de toda mulher americana, a luta pelo sufrágio. Desde
então, por longos setenta e dois anos, sucederam convenções, debates, abaixo-
assinados e finalmente, em setembro de 1920, foi ratificada a 19ª Emenda
Constitucional, concedendo às mulheres, o direito ao voto. Termina aqui,
finalmente, com vitória, a 1ª onda do feminismo nos Estados Unidos.
A 2ª onda do Movimento Feminista americano caracteriza-se por uma
maior abrangência, pois incorpora outras frentes de luta. Além das reivindicações
voltadas para a desigualdade no exercício de direitos, questiona também, as
raízes culturais destas desigualdades.
Segundo Bonnici (2007), Simone de Beauvoir é, talvez, a teórica e crítica
feminista que mais influenciou esta onda. Escreveu O Segundo Sexo, publicado
em 1949, provocando, parcialmente, o surgimento da Crítica Feminista. A teórica
analisa a fundo o desenvolvimento psicológico da mulher, condicionamentos que
ela sofre durante o período de socialização e que ao invés de integrá-la a seu
sexo, tornam-na alienada, posto que é treinada para ser um mero apêndice do
homem.
Betty Friedan, apoiando-se nos estudos de Beauvoir, publica em 1963, A
Mística Feminina, um estudo em que salienta como a mulher está sujeita a formas
sutis de discriminação, vítima de um sistema onipresente de desilusões e falsos
valores sob os quais elas são incentivadas a descobrir a sua satisfação e
identidade total através da dedicação ao marido e aos filhos. Atente-se para a
ironia no termo "mística" no título (BONNICI, 2007, p.125).
No final dos anos 1970, Kate Millet instaura definitivamente a crítica
feminista, quando publica o livro Política Sexual. É neste momento histórico de
contestação e de luta que o feminismo ressurge como um movimento de massas,
que passa a se constituir em inegável força política, com enorme potencial de
transformação da sociedade.
O começo dos anos 90 marca o início da 3ª onda do Movimento Feminista
nos Estados Unidos. As ativistas desta onda, partindo do pressuposto de que a
igualdade sexual não foi totalmente atingida e de que o Feminismo continuará
ativo até alcançar tal meta, problematizam e expandem os conceitos referentes ao
gênero e à sexualidade. O trabalho escravo feminino nas indústrias de países de
terceiro mundo, direitos humanos na China, “apartheid” pela produção de
diamantes na África do Sul, compõem uma parte da gama de reivindicações das
feministas desta onda. Enfim, a voz feminista continua se articulando numa
multiplicidade de maneiras ao salientar sua importância na política, educação e
cultura.
Sabemos que o Movimento Feminista, tanto internacional, como o nacional,
é dividido por períodos, chamadas ondas, de acordo com a inclusão de novas
bandeiras ou pelo reforço de alguns desafios. Sobre este assunto, há
controvérsias entre os estudiosos de tal temática. Alguns acreditam que haja
apenas duas fases: a 1ª onda, no início do século passado, tendo como principal
meta, o acesso à educação e a 2ª onda, do Movimento Sufragista. No entanto, há
quem defina a 3ª onda feminista, como sendo a resistência das mulheres contra a
ditadura e pela redemocratização do país. A 4ª onda seria a fase atual, em que se
discutem temas como a violência contra a mulher, a democratização da vivência
da sexualidade e a igualdade racial, entre outras bandeiras.
Segundo Duarte (2008), o início do século XIX, no Brasil, colocava as
mulheres, em sua grande maioria, numa posição de total exclusão cultural. A 1ª
onda do Movimento Feminista brasileiro, não podia ser outra, senão o direito
básico de ler e escrever, pois, por longas décadas, mulheres bem preparadas
eram àquelas que sabiam costurar, bordar, cozinhar. Mesmo àquelas de classes
superiores, eram raras às que podiam deixar o pais para estudar, ao passo que
para os filhos, não havia nenhum impedimento, pelo contrário, eram incentivados
à isso.
Conforme Saffioti (1969), a educação jesuística brasileira, que vigorou até
metade do século XVIII, apenas catequizava as mulheres, ensinando, em primeiro
lugar, a submissão aos ensinamentos da Igreja e em segundo lugar, a obediência
cega ao marido. Esta é a única forma do saber "oficial", que ensinava a ler e
escrever, basicamente.
A primeira legislação relativa à educação feminina surgiu em 1827 e
permitia a criação de escolas elementares exclusivamente para meninas.
Somente em meados do século XIX, a sociedade brasileira reconheceu que a
população feminina merecia uma educação de qualidade. Ainda assim, as
escolas e universidades que foram criadas, restringiam cursos e áreas de
atuação. Basicamente, elas eram matriculadas para aprender tarefas relativas aos
cuidados e às tarefas domésticas. (Saffiotti, 1969)
Neste cenário, o nome mais expressivo é de Nísia Floresta Brasileira
Augusta (1810 - 1885). Seu primeiro livro, intitulado Direitos das mulheres e
injustiça dos homens, de 1832, inspirado na obra de Mary Wollstonecraft Defesa
dos direitos da mulher, contesta a situação em que as mulheres viviam em seu
tempo: alheias ao direito de instrução e trabalho e lutando pelo reconhecimento à
inteligência e o respeito de seu papel na sociedade. De acordo com ela:
Se cada homem em particular, obrigado a declarar o que sente a respeito de nosso sexo, encontraríamos todos de acordo em dizer que nós nascemos para o seu uso, que não somos próprias, se não, para procriar e nutrir nossos filhos na infância, reger uma casa, servir, obedecer e aprazer aos nossos amos, isto é, a eles homens. E ela tinha uma meta: formar e mudar consciências. (Apud DUARTE, 1991)
A 2ª onda surge por volta de 1870. Nesse período surgem os primeiros
periódicos feministas no Brasil: "O Sexo Feminino" fundado em 1873, pela
professora mineira Francisca Senhorinha da Motta Diniz que levantava a bandeira
da educação feminina, alertando às mulheres que seus verdadeiros inimigos eram
a ignorância sobre seus direitos e sobre a importância de sua participação na
sociedade e o "Jornal das Senhoras", chefiado por Joana Paula M. Noronha, foi o
primeiro jornal editado exclusivamente por mulheres. Datam, desta época, (1870
- 1899), as primeiras formaturas de brasileiras em cursos universitários no exterior
e no Brasil.
Portanto, a imprensa masculina, no intuito de ridicularizar estas novas
profissionais, desafiava-as a dar conta de suas carreiras e de seus casamentos
concomitantemente. Somente as moças pobres tinham consentimento para
trabalhar nas fábricas e na prestação de serviços domésticos.
A partir do século XX, com a crescente industrialização do país, as
mulheres passaram a ocupar funções como operárias, enfermeiras, secretárias e
professoras. Além da inferioridade sentida na diferença de salário, são sujeitas a
constante assédio sexual, na maioria das vezes, os agressores, ficando impunes.
Para enveredar pelo espaço literário, considerado inapropriado para as
mulheres, elas lançaram mão de estratégias como organização de jornais e o uso
de pseudônimos. A intenção de Luísa Amélia de Queiroz com a criação do jornal
"Borboleta" (1904 - 1906) foi a de criar um espaço que permitiria às mulheres
pertencentes a um estrato social privilegiado, defender o acesso feminino à
educação, como ilustra Alaíde Burlamaqui (1905, p.1)
A mulher, como todos sabem, deve ser instruída, não só porque a
instrução lhe dá realce, como também, porque a habilita para todos os
misteres da vida, para o bom desempenho dos deveres que lhe são
inerentes
O Jornal Borboleta assegurava às mulheres, espaços para a publicação de
seus textos, opiniões e reivindicações. E dessa forma, atuava no deslocamento
das fronteiras que delimitavam os territórios prescritos para a vida feminina,
ampliando-os lentamente pela construção de alternativas que as levassem a
protagonizar no cenário literário e questionar os papéis sociais que as mulheres
ocupavam, de forma a traçar, novos rumos.
Neste cenário, as mulheres ansiavam por uma igualdade entre os gêneros
e por reconhecimento intelectual. Elas percebiam que a instrução era um dos
caminhos a ser trilhado para atingir seus objetivos, libertando-as da relação de
dependência financeira do homem, da mesma forma que ganhariam autonomia
social para realizar escolhas e empreendê-las, conforme seu interesse e vontade.
Portanto, as décadas de 1910 e 1920, marcam o início da 2ª onda
feminista, que tem como bandeira principal o estabelecimento de igualdade de
direitos entre homens e mulheres, trazendo à tona, questões como, o acesso
feminino à instrução, a crítica ao casamento enquanto instituição de opressão, a
ampliação das possibilidades femininas ao mercado de trabalho, à reivindicação
do sufrágio feminino. Neste período, surgem as anarco-feministas, que
propunham, além das bandeiras acima citadas, a emancipação da mulher seja na
sociedade, seja no lar, pois defendiam que as mulheres eram o principal veículo
na construção de uma nova sociedade. Todavia, a sociedade, em geral, não
acreditava na representatividade da mulher e ainda repeliam o seu direito ao voto.
Nas décadas seguintes, surgiram novas questões e reivindicações que
marcaram a 3ª onda do Movimento Feminista Brasileiro.
Bertha Lutz foi a principal líder feminista da 3ª onda. Por meio de sua
Federação Brasileira para o Progresso Feminino, o Feminismo brasileiro tornou-
se respeitado e cada vez mais, mulheres reivindicaram o direito ao voto. A luta
pelo sufrágio tornou-se elegante na elite. Nessa época, a literatura passou a
publicar textos para mulheres com maior frequência, e fortes exigências pela
emancipação eram substituídos por expressões mais moderadas, para não
confrontar com a opinião masculina.
Finalmente, em 1934, com o direito ao voto concedido, as feministas
frearam suas atividades políticas, e o que se presencia é um grande marasmo
que durará até meados da década de 60.
Com o golpe de 1964, uma quantidade significativa de mulheres deixam o
país em busca de exílio político para livrar-se das perseguições, da repressão do
AI-5 (Ato Institucional n º5) e consequentemente das torturas.
Inicia-se, neste panorama, a 4ª onda. As brasileiras exiladas na Europa
entram em contato com o Novo Feminismo. Logo, diversos grupos brasileiros
foram criados no exílio. Organizações como estas, tiveram um papel fundamental
na divulgação das atrocidades do regime militar, na articulação do feminismo
brasileiro com o feminismo internacional.
Em meados dos anos 70, o país começa a entrar em processo de abertura
política. Ampliava-se o repúdio popular contra o governo militar. As feministas
também buscavam construir novas formas de articulação entre si e com os
setores populares, que permitissem definir novos rumos para o movimento e
estabelecer novas pautas de reivindicações e lutas. A anistia permitiu a volta das
exiladas e com elas, o Movimento ganhou fôlego novo, na medida em que traziam
a influência de um movimento feminista mais atuante, sobretudo, na Europa.
(SARTI, 2001, p.41)
O ano de 1975 foi decisivo para o Movimento Feminista brasileiro. Com o
apoio das Nações Unidas, que havia instituído o Ano Internacional da Mulher e a I
Conferência Mundial da Mulher, no México, um grupo de feministas, organizou, no
Rio de Janeiro, a "Semana sobre o papel e o comportamento da mulher na
sociedade brasileira".
Em plena ditadura militar, o encontro realizado na sede da Associação
Brasileira de Imprensa, gerou frutos como a criação do Centro da Mulher
Brasileira, no Rio de Janeiro, e o surgimento de uma imprensa militante, em São
Paulo, com os jornais: Nós, mulheres e Brasil-Mulher, a partir daí, o feminismo
entrou, em definitivo, na agenda política do país.
Nos anos seguintes, os movimentos sociais de resistência ao regime militar se
uniram às feministas para proclamar seus direitos específicos dentro da luta geral,
a exemplo dos negros e dos homossexuais. Muitos grupos populares de mulheres
vinculadas às associações de moradores, clube de mães, começaram a enfocar
temas ligados a especificidades de gênero, tais como creches, trabalhos
domésticos e sexualidade.
O Movimento Feminista proliferou através de novos grupos em todas as
grandes cidades brasileiras e assumiu novas bandeiras como: o direito à
reprodução, à sexualidade e o combate à violência contra a mulher. Em linhas
gerais, poderíamos caracterizar o Movimento Feminista dos anos 70, como
fazendo parte de um amplo e heterogêneo movimento que articulava as lutas
contra as formas de opressão das mulheres, com a luta pela redemocratização do
país. (COSTA, 2005 p.15)
O Feminismo brasileiro mudou e, na verdade, vem mudando
cotidianamente, a cada enfrentamento, a cada conquista. Atualmente, tem como
bandeira principal, o combate à violência doméstica - que atinge índices
altíssimos no país - e o combate à discriminação no trabalho. Também se dá
importância ao estudo de gênero e da contribuição, até hoje, um tanto esquecida,
das mulheres nos diversos movimentos históricos e culturais do país.
Porém, é inegável a contribuição do Movimento Feminista na luta pela
extinção da desigualdade entre os seres e na busca por uma sociedade menos
discriminatória e, consequentemente, mais justa.
Através de atividades de pesquisa, leitura e debates, este Caderno
Temático procurará traçar um panorama sobre o que pensam as mulheres de
gerações diferentes, para finalmente, os alunos poderem comparar as mudanças
que ocorreram sobre a visão da mulher, em uma sociedade essencialmente e
culturalmente machista.
Atividade I
Pesquisa e Debate
Mulheres de ontem X Mulheres de hoje
O que mudou realmente?
As pessoas têm seus próprios interesses, gostos e também certo tipo de atitude
que as caracterizam. Isso costuma variar conforme o passar dos anos, em virtude
do contexto histórico e cultural de determinada época.
O que pensam as mulheres de hoje? Do que gostam? Quais suas ansiedades? E
as mulheres de ontem? Afinal, o que mudou? O que gerações diferentes de
mulheres têm a dizer sobre isso?
Tendo em vista essas preocupações, propor a realização de uma pesquisa
junto a mulheres mais velhas (avós, bisavós, tias, madrinhas, etc.), bem como
junto mulheres mais jovens (mãe, irmãs, amigas, etc.), perscrutando-lhes as
opiniões acerca dessas questões, bem como acerca de seus principais
interesses. Os dados coletados deverão ser compartilhados com todo o grupo,
juntamente com as conclusões a que chegarem.
Esta atividade exige planejamento para a coleta de dados e,
posteriormente, organização das informações.
Treinar recursos verbais que servirão de apoio para a exposição oral:
leitura, entonação adequada, boa dicção. E recursos não-verbais postura
corporal, expressão facial e gestual, a fim de assegurar a boa comunicação com
os demais alunos da sala. O roteiro será o seguinte:
1) Reunir-se em grupo de quatro a cinco alunos e propor que
conversem sobre o assunto. O que pensam a respeito? Que
diferenças acham marcantes em relação às mulheres da geração
atual?
2) Ler os itens a seguir e definir, junto com o professor, qual assunto
será pesquisado pelo respectivo grupo.
Grupo1: Relacionamento
Grupo 2: Cotidiano
Grupo 3: Ídolos
Grupo 4: Educação: regras e limites
Grupo 5: Formação cultural
GRUPO 1: RELACIONAMENTOS
MULHERES DE ONTEM
a) Como era o namoro na época de sua adolescência? O que era proibido? O que
era permitido?
b) Como era a relação entre pais e filhos?
c) O que havia de bom naquele tempo que não há mais?
MULHERES DE HOJE
a) O que é proibido e o que é permitido na relação com o sexo oposto? Qual é
sua preferência em relação a namorar sério ou “ficar”?
b) Como é a relação com os seus pais? Existe abertura para o diálogo?
c) Que atitudes e costumes precisam ser melhorados nas relações?
GRUPO 2: COTIDIANO
MULHERES DE ONTEM
a) Qual era o cotidiano das mulheres na época? Quais eram seus hábitos de lazer
e de consumo?
b) Como os jovens trocavam mensagens entre si ou se comunicavam?
c) O que havia de bom naquele tempo e que não há mais?
MULHERES DE HOJE
a) Como é o seu cotidiano? Quais os hábitos de lazer e de consumo?
b) Qual é a forma de comunicação mais comum entre os jovens?
c) Que atitudes, obrigações, costumes gostaria que fossem diferentes em relação
ao cotidiano?
GRUPO 3: ÍDOLOS
MULHERES DE ONTEM
a) Quais eram os ídolos de sua geração? E qual era o seu ídolo, em
particular?Por quê? Que atividades esses ídolos desenvolviam?
b) Como as pessoas mais velhas daquela época reagiam a esses ídolos? Por
quê?
c) Há algum ídolo da nova geração de que você gosta? Por quê?
d) O que mudou nesse tipo de atividade (artística, esportiva, etc..) em relação à
época de sua adolescência?
e) O que havia de bom naquele tempo que não há mais?
MULHERES DE HOJE
a) Quais são os ídolos das mulheres de hoje? Que atividades desenvolvem? Que
qualidades consideram mais interessantes nesses ídolos
b) As mulheres mais velhas também costumem gostar deles?
c) Que atitudes as mulheres de hoje deveriam mudar em relação a seus ídolos?
d) Outras atividades deveriam merecer sua atenção também?
e) O que há de bom hoje em relação aos ídolos que não havia há algum tempo
atrás?
GRUPO 4: EDUCAÇÃO
MULHERES DE ONTEM
a) Que regras e limites eram colocados pelos pais? O que era proibido? O que
era permitido?
b) Como era a escola em relação aos limites? Como era a relação com os
professores?
c) O que havia de bom naquele tempo que não há mais?
MULHERES DE HOJE
a) Como as mulheres lidam com os limites colocados pelos pais ou maridos? O
que é permitido? O que é proibido?
b) O que é ser educado para a mulher de hoje? Quais comportamentos da mulher
atual refletem isso?
c) Que atitudes, obrigações, costumes gostariam que fossem diferentes em
relação à educação?
GRUPo 5: FORMAÇÃO CULTURAL
MULHERES DE ONTEM
a) Que programas de TV ou filmes faziam sucesso entre as mulheres da época?
b) Que tipo de literatura as mulheres gostavam de ler? Quais eram os
personagens de ficção preferidos pelas mulheres?
c) O que havia de bom naquele tempo que não há mais?
d) O que gostaria que tivesse sido diferente na formação cultural das mulheres de
sua época?
MULHERES DE HOJE
a) Que programas de TV ou filmes fazem sucesso entre as mulheres de hoje?
b) Que tipo de literatura as mulheres atuais gostam de ler? Quais são os
personagens de ficção preferidos por elas?
c) Qual a influência da internet na formação cultural da mulher?
d) Que atividades culturais deveriam fazer parte da vida das mulheres de hoje
e) O que gostaria que fosse diferente na formação cultural da mulher de hoje?
Que outras perguntas os alunos gostariam de acrescentar? Solicitar a eles que
formulem mais algumas perguntas sobre o assunto que coube ao grupo.
Naturalmente, novas questões surgirão no decorrer das entrevistas.
Conversar e decidir no grupo:
1) Quem serão as mulheres entrevistadas;
2) quem fará as entrevistas com as mulheres de ontem e com as mulheres
de hoje;
3) quem ficará responsável pela pesquisa de fotos e imagens que ilustrem o
modo de vida, os costumes, a moda, etc... da época a respeito da qual fala
cada uma das entrevistadas;
Combinar com os alunos o dia em que ocorrerá a discussão acerca das
informações recolhidas.
Atividade 2
Leitura
Proposta a leitura: Menino brinca de boneca?, do escritor e psicólogo Marcos
Ribeiro, texto literário no qual o autor convida o\a leitor\a a refletir acerca das
relações de gênero, sobre o que é ser homem ou mulher, nos dias de hoje.
Refletindo sobre a leitura
a) Por que menino não pode brincar com bonecas, mas pode brincar com
bonecos de guerra como o Max Steel?
b) Por que o azul é uma cor usada para os meninos e o rosa para as
meninas?
c) O que os alunos acham do fato de se rotular uma menina de “esquisita”
porque ela prefere subir em árvores a brincar de casinha? O fato de ela
subir em árvores vai prejudicá-la em alguma coisa em sua vida?
d) No livro, as pessoas dizem que os meninos não podem chorar. Que
outras expressões são usadas para rotular o comportamento de
meninos ou meninas? Verificar, através de diálogos, se os alunos
costumam usar essas expressões diariamente. Em quais ocasiões?
e) Levantar a questão do preconceito: se os alunos, em geral, já foram
vítimas de preconceito. Em caso afirmativo, quais tipos de preconceitos
e o que eles sentiram com essa situação.
f) Falar sobre estereótipos.
g) Identificar os estereótipos existentes no texto.
Com essas atividades, espera-se que o aluno reflita e conclua que cada ser
humano possui diferenças entre si, porém cada um tem seus próprios interesses,
limitações e, consequentemente, é único em sua maneira de existir e se
comportar perante o mundo.
Atividade 3
Pesquisa sobre o Dia Internacional da Mulher.
Quando é o Dia Internacional da Mulher?
Por que esse dia foi criado?
Quais foram os primeiros direitos civis que as mulheres conquistaram?
De que maneira as mulheres conquistaram o mercado de trabalho?
Quais foram as precursoras do Movimento Feminista no Brasil?
De que forma cada uma contribuiu para com as conquistas feministas?
Atividade 4
Leitura complementar
Missão é equilibrar carreira e família (Maura Campanili)
O dilema feminino deixou de ser a clássica escolha entre dedicação à
carreira ou à família. O objetivo agora é encontrar a fórmula de se organizar para
dar conta, e bem, das duas funções. Esse é o resultado de uma pesquisa
realizada pela SEC, Secretary Search & Training, empresa especializada no
recrutamento de profissionais de secretariado, com 270 executivas e secretárias
de todo o país.
Realizada via Internet, durante o mês de fevereiro, a pesquisa mostrou que
71% das entrevistadas tentariam organizar melhor o seu tempo se a vida pessoal
interferisse e causasse prejuízos a sua ascensão profissional; 19% se
preocupariam somente com a carreira; e apenas 1% jogaria tudo para o alto e
apostaria na família, casamento e filhos. Nove por cento não saberiam o que fazer
ou buscariam outras soluções.
A pesquisa mostrou também que 59% das mulheres acreditam ter
possibilidade de administrar quase sempre as jornadas de trabalho na empresa e
em casa, enquanto 35% admitem não conseguir. A maior parte das entrevistadas,
67%, diz receber em todas as ocasiões o apoio de sua família (marido, filhos,
pais), estimulando novas conquistas profissionais.
E os filhos? __ A última pergunta propõe uma opção com apelo emocional:
entre ir à tradicional apresentação de final de ano do filho na escola e comparecer
a uma reunião na empresa, 71% responderam que iriam à reunião, 23% iriam à
apresentação e 6% não responderam.
“Não há como recuar diante das imposições que o mercado de trabalho
apresenta e das exigências que a própria carreira tem estabelecido à mulher
executiva nestas últimas décadas”, diz Stefi Maerker, coordenadora da pesquisa.
“Os resultados apresentados pela nossa enquete demonstram que as mulheres
chegaram a um ponto em que precisam mudar rotinas e se adaptar àqueles que
convivem ao seu lado se não quiserem abrir mão de suas conquistas”.
[...]
Para Stefi, na nova estrutura a mãe não pode ser a única responsável pelas
tarefas familiares. “Sem a divisão de responsabilidades, a mulher não consegue
trabalhar”.
Disponível em www.scribd.com/.../Coleção-Cadernos-EJA-08-Mulher-e-
Trabalho-acesso 20/05/2010.
COMPREENDENDO O TEXTO
1. Durante muito tempo, em muitos setores profissionais, o salário entre homens e
mulheres que desempenhavam uma mesma atividade profissional era diferente.
O salário delas era muito menor. O que você pensa sobre isso? Faça uma
enquete com algumas pessoas questionando se alguém já passou por isso, e em
caso afirmativo, como se sentia com essa situação.
2. Podemos dizer que as respostas dadas pelas pessoas entrevistadas nessa
pesquisa representam o pensamento de todas as mulheres brasileiras?
3. Na sua família, existem mulheres que trabalham fora e também são responsáveis
por cuidar da casa e dos filhos? Elas contam com a ajuda dos demais
componentes da família para conciliar as duas ocupações? Na sua opinião, as
empresas e o governo oferecem a infra-estrutura necessária para que as
mulheres com filhos possam trabalhar fora como creches, horários flexíveis, etc.?
4. No texto, afirma-se que 71% das mulheres entrevistadas procuram equilíbrio entre
o trabalho e a família e 1% abandona a tentativa de equilíbrio e fica com a família.
Qual grupo você apóia? Justifique a sua resposta.
5. O texto apresenta diversos dados estatísticos. Qual foi, provavelmente, o objetivo
das autoras em empregar esse recurso?
Após análise e discussão sobre o tema, sugere-se a confecção de cartazes. O
objetivo desses cartazes, que serão espalhados pela escola, é alertar os demais
alunos contra os preconceitos e discriminações sofridas pelas mulheres.
A turma pode ser dividida em grupos compostos, propositalmente de meninos
e meninas, já para instigar uma discussão saudável entre os integrantes.
Cada grupo vai produzir um cartaz:
O cartaz vai focalizar profissões ditas masculinas exercidas por mulheres.
Escolher as imagens que ilustrarão o cartaz: desenhos, recortes de jornais ou
revistas, fotos, etc.
Acrescentar frases ou pequeno texto escrito pelo grupo.
Escolher o suporte em que será feito o cartaz __ cartolina, papel craft, etc e definir
como os elementos (as frases, o texto, as ilustrações) serão distribuídos no
suporte, que letras e cores devem ser usados.
Combinar quem vai fazer o quê para montar o cartaz
Organizar uma exposição dos cartazes em diferentes lugares da escola
para que os alunos de outras turmas possam vê-los. Observar a reação
que provocam. Também poderão ser entrevistados esses alunos para
saber o que eles acharam dos cartazes e do tema proposto, em seguida,
discutir o resultado, em sala de aula.
Atividade 5
Introdução ao tema “A mulher na literatura: Cora Coralina”
Partindo do pressuposto que todo discurso possui uma determinada
intencionalidade, ou seja, não existe discurso neutro, o presente Caderno
Temático evidencia a ótica feminina na literatura, tentando, sempre que possível,
fazer uma ligação com o movimento feminista e suas conquistas.
É de extrema importância que o aluno compreenda que a produção de toda
obra está associada a um determinado contexto social, histórico e ideológico, por
isso é indispensável que ele se habitue a realizar uma leitura crítica, aprenda a
questionar as verdadeiras intenções de seus autores e que tente perceber as
circunstâncias em que foi escrita a obra.
O enfoque sobre a literatura de autoria feminina contribuirá imensamente
para a reflexão sobre a diversidade de gêneros, ao mesmo tempo em que procura
destacar a diversidade e repúdio aos preconceitos.
Nossa opção por Cora Coralina está norteada pelo fato de que ela foi
discriminada e oprimida desde o nascimento pelo simples fato de ser mulher, já
que seus pais ansiavam por um menino. No entanto, construiu uma obra literária
reconhecida pela crítica, em que merece relevo o modo como pensa e representa
o papel da mulher. Sua poesia é baseada especificamente no cotidiano feminino,
destacando o convívio familiar, no qual foi sempre excluída. Por isso, em suas
obras, Cora Coralina explora o universo da minoria, das pessoas simples, que
lutam pela sobrevivência, desprotegidas, como donas de casa, lavadeiras,
prostitutas, permitindo perceber assim, seu apelo contra as injustiças sociais.
ATIVIDADE 6
Pesquisa sobre a trajetória da escritora goiana Cora Coralina e
análise de poemas
1) Sugestão de vídeos:
Saber viver – Cora Coralina Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=kDfTiHl89Fk
120 anos de Cora Coralina – Repórter Assembleia 24/08/2009. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=kDfTiHl89Fk
Cântico da Terra: Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=YwRDVSwPTm4
2) Analise dos poemas da escritora goiana Cora Coralina: “Minha Infância”,
“Mulher da vida”, “Todas as vidas” e “Cora Coralina, quem é você?”
MINHA INFÂNCIA
Éramos quatro as filhas de minha mãe.
Entre elas ocupei sempre o pior lugar.
Duas me precederam – eram lindas, mimadas.
Devia ser a última, no entanto,
veio outra que ficou sendo a caçula.
Quando nasci, meu velho pai agonizava,
logo após morria.
Cresci filha sem pai,
secundária na turma das irmãs.
Eu era triste, nervosa e feia.
Amarela, de rosto empalamado.
De pernas moles, caindo à toa.
Os que assim me viam – diziam:
“ - Essa menina é o retrato vivo
do velho pai doente”.
Tinha medo das estórias
que ouvia, então, contar:
assombração, lobisomem, mula-sem-cabeça.
Almas penadas do outro mundo e do capeta.
Tinha as pernas moles
e os joelhos sempre machucados,
feridos, esfolados.
De tanto que caía.
Caía à toa.
Caía nos degraus.
Caía no lajedo do terreiro.
Chorava, importunava.
De dentro a casa comandava:
“- Levanta, moleirona”.
Minhas pernas moles desajudavam.
Gritava, gemia.
De dentro a casa respondia:
“- Levanta, pandorga”.
Caía à toa...
nos degraus da escada,
no lajedo do terreiro.
Chorava. Chamava. Reclamava.
De dentro a casa se impacientava:
“- Levanta, perna-mole...”
E a moleirona, pandorga, perna-mole
se levantava com seu próprio esforço.
Meus brinquedos...
Coquilhos de palmeira.
Bonecas de pano.
Caquinhos de louça.
Cavalinhos de forquilha.
Viagens infindáveis...
Meu mundo imaginário
mesclado à realidade.
E a casa me cortava: “menina inzoneira!”
Companhia indesejável – sempre pronta
a sair com minhas irmãs,
era de ver as arrelias
e as tramas que faziam
para saírem juntas
e me deixarem sozinha,
sempre em casa.
A rua... a rua!...
(Atração lúdica, anseio vivo da criança,
mundo sugestivo de maravilhosas descoberta
-proibida às meninas do meu tempo.
Rígidos preconceitos familiares,
normas abusivas de educação
emparedavam.
A rua. A ponte. Gente que passava,
o rio mesmo, correndo debaixo da janela,
eu via por um vidro quebrado, da vidraça
empanada.
Na quietude sepucral da casa,
era proibida, incomodava, a fala alta,
a risada franca, o grito espontâneo,
a turbulência ativa das crianças.
Contenção...motivação...Comportamento estreito,
limitando, estreitando exuberâncias,
pisando sensibilidades.
A gesta dentro de mim...
Um mundo heróico, sublimado,
superposto, insuspeitado,
misturado à realidade.
E a casa alheada, sem pressentir a gestação,
acrimoniosa repisava:
“- Menina inzoneira!”
O sinapismo do ablativo
queimava.
Intimidada, diminuída. Incompreendida.
Atitudes impostas, falsas, contrafeitas.
Repreensões ferinas, humilhantes.
E o medo de falar...
E a certeza de estar sempre errando...
Aprender a ficar calada.
Menina abobada, ouvindo sem responder.
Daí, no fim da minha vida,
esta cinza que me cobre...
Este desejo obscuro, amargo, anárquico
de me esconder,
mudar o ser, não ser,
sumir, desaparecer,
e reaparecer
numa anônima criatura
sem compromisso de classe, de família.
Eu era triste, nervosa e feia.
Chorona.
Amarela de rosto empalamado,
de pernas moles, caindo à toa.
Um velho tio que assim me via
dizia:
“- Esta filha de minha sobrinha é idiota.
Melhor fora não ter nascido!”
Melhor fora não ter nascido...
Feia, medrosa e triste.
Criada à moda antiga,
- ralhos e castigos.
Espezinhada, domada.
Que trabalho imenso dei à casa
para me torcer, retorcer,
medir e desmedir.
E me fazer tão outra,
diferente,
do que eu deveria ser.
Triste, nervosa e feia.
Amarela de rosto empapuçado.
De pernas moles, caindo à toa.
Retrato vivo de um velho doente.
Indesejável entre as irmãs.
Sem carinho de Mãe.
Sem proteção de Pai...
-melhor fora não ter nascido.
E nunca realizei nada na vida.
Sempre a inferioridade me tolheu.
E foi assim, sem luta, que me acomodei
na mediocridade de meu destino.
Extraído do livro: Poema dos becos de Goiás e estórias mais de Cora Coralina,
(p. 168-173)
ANÁLISE DO POEMA
1) Procurar no dicionário as palavras as quais tiver dúvida quanto ao
significado.
2) Identificar quantas estrofes tem o poema, quantos versos tem cada estrofe
e quantos versos tem o poema ao todo.
3) Reler o poema prestando atenção nas rimas, em seguida, transcrever no
caderno alguns pares dessas rimas.
4) No poema, há várias palavras que estão em desuso hoje em dia. Localizar
e tentar interpretar seus significados.
5) Por várias vezes,o eu-lírico se define como triste, nervosa e feia. Que efeito
ela pretende provocar com essa repetição?
6) Transcrever versos do poema que transmitam ao leitor a ideia de que o eu-
lírico foi alvo de preconceito familiar.
7) No poema, são citados alguns brinquedos improvisados. Conversar com os
alunos se já utilizaram objetos improvisados como brinquedos. Em caso
afirmativo, pedir que registrem algumas linhas sobre isso.
8) Que imagens de mulher são veiculadas no poema?
9) A mulher veiculada representa uma ideologia patriarcal ou feminista?
Justifique sua resposta.
MULHER DA VIDA
Contribuição para o Ano Internacional da Mulher, 1975.
Mulher da Vida,
Minha irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades
e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à toa.
Mulher da Vida,
Minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre
por aqueles que um dia
as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas.
Escorchadas. Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como a erva cativa
dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria,
da pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes
da Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens
que a tinham maculado. Aflita, ouvindo
o tropel dos perseguidores e o sibilo
das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa
e lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.
As pedras caíram
e os cobradores deram as costas.
O Justo falou então a palavra
de equidade:
“Ninguém te condenou, mulher... nem
eu te condeno”.
A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios
detém as urgências brutais do homem
para que na sociedade
possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.
Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.
Mulher da Vida
Minha irmã.
No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça
do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.
E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco
em novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrutível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.
Mulher da vida
Minha irmã.
Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos
e meretrizes vos precedem no Reino de Deus.
Evangelho de São Mateus 21, 31.
Extraído do livro: Poema dos becos de Goiás e estórias mais de Cora Coralina, (p.
201-204)
Análise do poema:
1) Procurar no dicionário as palavras as quais tiver dúvida quanto ao
significado.
2) Identificar quantas estrofes tem o poema, quantos versos tem cada
estrofes e quantos versos o poema tem ao todo.
3) Reler o poema prestando atenção nas rimas e em seguida, transcrever no
caderno, dois versos cujas sílabas finais rimem.
4) Logo nos primeiros versos do poema, o eu-lírico se compadece com a vida
das prostitutas. De que maneira ela tenta fundamentar a idéia de vida difícil
dessas mulheres, nos versos seguintes?
5) Que outras denominações recebe a prostituta no poema?
6) O trecho do poema “Aquele que estiver sem pecado, atire a primeira
pedra”, faz referência a uma mulher citada na Bíblia. Quem é essa
mulher? Pesquisar sobre ela e depois discutir com a classe o resultado da
pesquisa.
7) Que imagens de mulher são veiculadas no poema?
8) A mulher veiculada representa uma ideologia patriarcal ou feminista?
Justifique sua resposta.
TODAS AS VIDAS
Vive dentro de mim
Uma cabocla velha
de um mal-olhado,
acocorada ao pé do trabalho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira
Pimenta e cebola.
Quitute bem-feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga.
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
A mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
Desabusada, sem preconceitos,
De casca-grossa,
De chinelinha,
E filharada.
Vive dentro de mim
A mulher roceira.
Enxerto da terra, meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
A mulher da vida.
Minha irmãzinha...
Tão desprezada,
Tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
A vida mera das obscuras.
Extraído do livro: Poema dos becos de Goiás e estórias mais de Cora Coralina,
(p. 31-33)
ANÁLISE DO POEMA
1) Procurar no dicionário as palavras as quais tiver dúvida quanto ao significado.
2) Identificar quantas estrofes tem o poema, quantos versos tem cada estrofe e
quantos versos tem o poema ao todo.
3) Reler o poema prestando atenção nas rimas. Transcrever dois versos cujas
sílabas finais rimam.
4) Que tipos de mulheres o eu-lírico afirma ter dentro de si?
5) Que tipo de mulher citada no poema é mais discriminada pela sociedade? Por
quê?
6) Que imagens de mulher são veiculadas no poema?
7) A mulher veiculada representa uma ideologia patriarcal ou feminista? Justifique
sua resposta.
CORA CORALINA, QUEM É VOCÊ?
Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
E trago comigo todas as idades.
Nasci numa rebaixa de serra
Entre serras e morros.
``Longe de todos os lugares``.
Numa cidade de onde levaram
O ouro e deixaram as pedras.
Junto a estas decorreram
A minha infância e adolescência.
Aos meus anseios respondiam
As escarpas agrestes.
E eu fechada dentro
Da imensa serrania
Que se azulava na distancia
Longínqua.
Numa ânsia de vida eu abria
O vôo nas asas impossíveis
Do sonho.
Venho do século passado.
Pertenço a uma geração
Ponte, entre a libertação
Dos escravos e o trabalhador livre.
Entre a monarquia
Caída e a republica
Que se instalava.
Todo o ranço do passado era presente.
A brutalidade, a incompreensão, a ignorância e o carrancismo.
Os castigos corporais.
Nas casas. Nas escolas.
Nos quartéis e nas roças.
A criança não tinha vez,
Os adultos eram sádicos
Aplicavam castigos humilhantes.
Tive uma velha mestra que já
Havia ensinado uma geração
Antes da minha.
Os métodos de ensino eram
Antiquados e aprendi as letras
Em livros superados de que
Ninguém mais fala.
Nunca os algarismos me
Entraram no entendimento.
De certo pela pobreza que marcaria
Para Sempre minha vida.
Precisei pouco de números
Sendo eu mais doméstica do
que intelectual,
não escrevo jamais de forma
consciente e racionada,e sim
impelida por um impulso incontrolável.
Sendo assim, tenho a
Consciência autêntica.
Nasci para escrever,mas,o meio,
O tempo,as criaturas e fatores
Outros,contramarcaram minha vida.
Sou mais doceira e cozinheira
do que escritora, sendo a culinária
a mais nobre de todas as artes:
objetiva,concreta,jamais abstrata
a que está ligada à vida e
à saúde humana.
Nunca recebi estímulos familiares para ser literata
Sempre houve na família,senão uma
Hostilidade, pelo menos uma reserva determinada
A essa tendência inata.
Talvez, por tudo isso e muito mais,
Sinta dentro de min, no fundo dos meus
Reservatórios secretos,um vago desejo de
Analfabetismo.
Sobrevivi, me recompondo aos
Bocados,à dura compreensão dos
Rígidos preconceitos do passado.
Preconceitos de classe
Preconceitos de cor e de família
Preconceitos econômicos.
Férreos preconceitos sociais.
A escola da vida me suplementou
As deficiências da escola primária
Que outras o destino não me deu.
Foi assim que cheguei a este livro
Sem referência a mencionar.
Nenhum primeiro prêmio.
Nenhum segundo lugar.
Nem menção honrosa
Nenhuma Láurea.
Apenas a autêntica da minha
Poesia arrancada aos pedaços
Do fundo da minha sensibilidade,
E este anseio:
Procuro superar todos os dias.
Minha própria personalidade
Renovada
Despedaçando dentro de mim
Tudo que é velho e morto.
Luta,a palavra vibrante
Que levanta os fracos
E determina os fatores.
Quem sentirá a Vida
Destas páginas...
Gerações que hão de vir
de gerações que vão nascer.
Extraído do livro: Meu livro de cordel, de Cora Coralina, (p. 81-85
INTERPRETAÇÃO DO POEMA
1) Pesquise a biografia de Cora Coralina.
2) Procure no dicionário as palavras as quais tiver dúvida quanto ao significado.
3) Identificar quantas estrofes tem o poema, quantos versos tem cada estrofe e quantos
versos tem o poema ao todo.
4) Reler o poema prestando atenção nas rimas. Transcrever no caderno, dois versos cujas
sílabas finais rimem.
5) Identificar, no poema, os versos onde o eu-lírico indica a sequência de preconceitos que
sofreu.
6) O eu-lírico afirma que nasceu para escrever, porém enfrentou alguns obstáculos. Citar
alguns deles.
7) No poema há várias palavras que estão em desuso hoje em dia. Localizar e tentar
interpretar seus significados.
8) Que tipo de sentimento o eu-lírico guarda de sua infância?
9) Que imagem de mulher é veiculada no poema?
10) A mulher veiculada pertence a uma ideologia patriarcal ou feminista? Justifique sua
resposta.
REFERÊNCIAS
FAZER UMA BOA REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA \ PADRONIZAR!!!!
A BIBLIA DE JERUSALÉM. Trad. Euclides Martins Balancin. São Paulo. Paulínias
ALVES, Branca M. PITANGUY, Jaqueline. O que é feminismo? São Paulo: Abril Cultural, 1985. (Coleção Primeiros Passos, 20) BELTRÃO, S. Eliana. Novo diálogo.1 ed. São Paulo.FTD, 2006.
BONNICI, Thomas. A Teoria e crítica literária feminista: conceitos e tendências. 1. ed. Maringá. Eduem, 2007. BONNICI, Thomas, org, II. ZOLIN, Lúcia Osana, org.: Teoria literária. Abordagens históricas e tendências contemporâneas. ed. Rev. e ampliada. Maringá: Eduem, 2009 BEAUVOIR S. O segundo sexo. Trad. Sérgio Milliet. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1980. CORALINA, Cora Meu Livro de Cordel 17 ed. Gaudi Editorial,2003
CORALINA, Cora. Poema dos becos de Goiás e estórias mais/ 23 ed.Gaudi
Editorial,2008 ] COSTA, Ana Alice Alcântara. O movimento feminista no Brasil: dinâmicas de uma intervenção política. Revista Gênero. V5, n 2. Niterói: NVFEG/Eduff. 1 sem. 2005. p. 9 -35. DUARTE, Constância Lima. Nísia: Floresta, vida e obra. 2. ed. Natal: Editora da UFRN, 2008. ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado.
Tradução: Leandro Konder. 11. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987.
FIGUEIREDO, Regina. VIEIRA, Maria das Graças. Ler, entender, criar. 1 ed. São Paulo. Editora Ática, 2004. IZUMINO, Wânia Pasinato. Justiça e violência contra a mulher: o papel do sistema judiciário na solução de conflitos de gênero, São Paulo: Anna Blume, FAPESP, 1988.
PAOLI, M. C. 1984. “Mulheres, imagem e movimento” In, Perspectivas antropológicas da mulher. Sobre mulher e violência, n 4. Rio de Janeiro: Zahar. SAFFIOTI, H.I.B. 1992. “Rearticulando Gênero e classe social”. In.: A de º
Costa e C. Bruschini (org). Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos/FCC, p. 183 – 215. RIBEIRO, Marcos, Menino brinca de boneca? Conversando sobre o que é ser menino e menina. Editora Salamanca.Rio de Janeiro 1990.
_____.1988. “Movimentos sociais: a face feminina”. In. N.V.Carvalho (org). A
condição feminina. São Paulo: Vértice/Revistas dos Tribunais. SARTI, Shynthia. Feminismo e contexto: lições do caso brasileiro. Cadernos Pagu. Campinas. 2001, n 16.
SCOTT, Joan W. Gênero: Uma categoria útil para a análise histórica. Trad. SOS Corpo e Cidadania. Recife, 1990.
ZOLIN, Lúcia Osana: Desconstruindo a opressão: a imagem feminina em A
república dos sonhos de Nélida Piñon. - Maringá: Eduem, 2003.
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