da sala de aula ao ciberespaço: trabalhando por uma nova prática
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Da Sala de Aula Ao Ciberespaço: trabalhando por uma nova prática pedagógica
Andrea de Farias Castro
1. Introdução
A utilização de recursos de tecnologia de informação e comunicação (TICs)
em atividades educacionais já faz parte, há alguns anos, das ações da escola básica,
também como política pública. Desde então muito se tem feito no sentido de oferecer,
ainda nos cursos de formação de professores, conhecimentos sobre as diferentes
possibilidades de uso desses recursos. Por esse motivo, e para atingir a um número
maior do que apenas os alunos matriculados do curso de Pedagogia, foi oferecida a
disciplina Tecnologia e Prática Pedagógica, como Eletiva Universal, aos alunos da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Por sua natureza, uma disciplina Eletiva
Universal pode ser cursada por todos os alunos da Universidade, independente de ser
ou não exigência curricular. A disciplina, com carga horária de trinta horas, atendeu a
28 alunos de diferentes cursos, no primeiro semestre em que foi oferecida.
No processo de formação de professores para o uso das TICs, um dos
maiores desafios está na produção de sentido para o seu uso, relacionado ao conteúdo
que irão ministrar, desde os aspectos teóricos até os práticos, fazendo-os significar o
uso da tecnologia enquanto constroem seus conhecimentos. A perspectiva de que o
uso das TICs na educação vai além do apelo ao moderno fez com que fosse necessária
a disposição de conteúdos e experiências de aprendizagem pelo acesso a diferentes
mídias. Além disso, ao reconhecer que a cibercultura implica o compartilhamento de
informações e saberes entre os participantes, entendeu-se ser necessário, também,
praticar ações de formação no contexto do ciberespaço, a partir do interesse dos
próprios estudantes. O cumprimento dessa tarefa objetivava que os alunos fossem
reconhecendo ao longo do curso (1) aspectos essenciais relacionados ao sentido de
tecnologia na educação, (2) as possibilidades emergentes no contexto das TICs à
prática pedagógica, (3) além da noção de que o trabalho colaborativo constitui um
modo de desenvolvimento da aprendizagem e aquisição de conhecimentos.
Refletindo sobre uma necessária redefinição da profissão docente, Imbernón
(2009) aponta para a importância do reconhecimento do contexto em que se educa e,
por isto, indica o valor existente na adequação metodológica. Preocupado com uma
mudança efetiva na prática educacional do profissional em formação, o autor alude à
amplitude do processo de conhecer do professor, assinalando que tal processo nunca é
linear. E diz:
Ninguém muda de um dia para o outro. A pessoa precisa interiorizar, adaptar e
experimentar os aspectos novos que viveu em sua formação. A aquisição de
conhecimentos deve ocorrer da forma mais interativa possível, refletindo sobre
situações práticas reais. (IMBERNÓN, 2009:15)
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Ao considerarmos, por exemplo, a diversidade de mídias que faz circular a
informação no momento presente, não se pode mais imaginar que todo material
disponibilizado em qualquer curso fique restrito aos livros e capítulos de livros
indicados aos alunos, sobretudo porque a possibilidade de relacionar os conceitos
apresentados com acontecimentos emergentes potencializa a produção de sentidos no
processo de aprendizagem. Então, ainda que as aulas tenham sido ofertadas na
modalidade presencial, a utilização das TIC e da internet expandiam, na prática, a sala
de aula para além do campus universitário. Por esse motivo, no início das atividades
os alunos foram convidados a participar como membros ativos de um grupo criado
para a turma, no portal Yahoo.
2. Da sala de aula ao ciberespaço
A presença de alunos originários de diferentes cursos foi revelada aos
estudantes, que puderam se apresentar, já na primeira aula. O que poderia ser tratado
como diferença foi categorizado como “uma escola em potencial”, ou seja, ali
reunidos reconheceram poder configurar-se como parte do corpo docente de uma
escola onde há pedagogos, psicólogos, professores de Língua Portuguesa, Física,
Geografia, História, Matemática, tal eram os cursos de origem dos participantes.
Dessa forma contamos com uma diversidade de olhares para as formas de conhecer no
contexto contemporâneo, em cada ciência, pela participação de estudantes de
diferentes cursos. A heterogeneidade do grupo revelava-se também pela diferença de
faixas etárias, por estarem cursando períodos distintos em seus cursos de origem,
terem ou não experiência em atividade docente, assim como no uso dos recursos de
tecnologia informática.
Sendo um fenômeno social, a cibercultura afeta as práticas de comunicação e
compartilhamento de informações. Ela afeta, ainda, a produção de significados ao
envolver um grande número de recursos de comunicação e tecnologia que, ao colocar
em relação pessoas dos mais próximos aos mais longínquos pontos do planeta, cria
uma aventura dinâmica e rica de experiências de aprendizagem. Aproveitar essas
experiências no contexto de formação tanto implica em promover uma reflexão sobre
os significados que vêm sendo produzidos para o termo tecnologia quanto implica a
intervenção do homem no avanço da tecnologia.
Esclarecidos os objetivos da disciplina, suas atividades presenciais e sua
expansão para o ciberespaço, passamos a habitar, também, o grupo criado para a
turma, no portal Yahoo. Os grupos de mensagens, de acordo com Harassim (2005),
constituem-se em uma dinâmica que estimula e intensifica as trocas. Embora haja um
serviço que distribui mensagens diretamente à caixa de e-mail dos participantes,
muitos acabam optando por acessar o ambiente do grupo, pois ali se encontram outros
recursos de tecnologia que permitem tornar o ambiente mais rico de ferramentas para
a aprendizagem. Embora a mediação do grupo fosse feita pela docente, os estudantes
eram também cocriadores desse espaço virtual de aprendizagem, atuando além do
mero envio de mensagens, como veremos mais adiante.
Para Palloff e Pratt (2002:87), “o professor deve conhecer a tecnologia
utilizada e sentir-se à vontade com ela para que consiga ajudar na resolução de
problemas.” E essa foi a perspectiva adotada para levar os alunos a um laboratório de
informática. Depois que o grupo foi criado, passadas duas semanas, alguns alunos
revelaram ter tido dificuldade em se inscrever no grupo da turma dentro do serviço de
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Grupos oferecido pelo portal. Até então, apenas 14 alunos haviam se inscrito. Dessa
forma, todos os alunos foram conduzidos a um laboratório de informática, pertencente
a um grupo de pesquisa de outro professor da instituição, para que ingressassem no
grupo da turma criado na web. Nesse espaço, os alunos mais experientes colaboraram
com os que apresentavam maior dificuldade, facilitando seu acesso aos recursos de
tecnologia. Daquele momento em diante, o número de trocas de mensagens e
participação nas demais atividades do grupo foi crescendo, gradativamente.
No portal Yahoo as ferramentas disponibilizadas são definidas como
ferramentas de comunicação e comunidades, incluindo arquivo de mensagens, listas
de membros, salas de bate-papo e compartilhamento de arquivos e álbuns de fotos,
que permitem o envio ou exibição de informações pessoais identificáveis. No âmbito
educacional, a possibilidade de colocar os alunos conectados utilizando os serviços do
portal constitui-se como uma rede de aprendizagem em que a tecnologia propiciava a
comunicação mediada por computador (CMC). Para Harasim (2005),
rede é a palavra que descreve os espaços compartilhados formados por
computadores interligados (...). Com auxílio de redes, os educadores podem criar
ambientes de aprendizagem eficazes, nos quais professores (...) constroem juntos
o entendimento e as competências relacionadas a um assunto particular
(HARASIM, 2005:19).
Nessa perspectiva, o que se constrói é, ainda segundo a mesma autora, uma sala de
aula em rede.
Dessa forma, colocar os alunos em rede permitiu que os participantes
pudessem: (A) identificar diferentes conceitos compreendidos através de práticas
colaborativas reflexivas; (B) reconhecer que cada sujeito toma o seu contexto sócio-
cultural como elemento significativo para seu processo de aprendizagem; (C)
distinguir no uso de diferentes mídias uma contribuição para os processos
educacionais contemporâneos. Cada um dos aspectos elencados poderá ser percebido
através do depoimento dos próprios alunos em outra seção do texto.
As primeiras discussões provocadas pelo mediador, no sentido de dar
continuidade a temas arrolados em sala de aula, resultaram em um certo “silêncio
virtual”. Azevedo (2000) atribui este comportamento como um problema do modelo
pedagógico no qual os alunos foram ambientados desde a educação infantil,
um ambiente em que o aluno é visto fundamentalmente como um receptor de
conteúdos, cuja tarefa é assimilar e reproduzir, mas quase nunca problematizar,
analisar, refletir, isto é, discutir (AZEVEDO, 2000).
Buscando então aproximar os participantes e apresentar-lhes outras
possibilidades do ambiente, iniciamos o trabalho com a leitura de imagens, tanto em
sala de aula quanto no Grupo. Este trabalho, de acordo com Fonseca (2007), permite
um diálogo com a linguagem escrita, cultura à qual a escola encontra-se ainda muito
ligada. O portal, dentro do serviço de Grupos, já faz algum tempo, oferece um
conjunto de aplicativos definido como Laboratório de Grupos. Os aplicativos
oferecidos, mesmo em versão beta, têm diferentes funcionalidades a serem
aproveitadas e que podem ser adaptadas. Um dos aplicativos possibilita o
compartilhamento de imagens, tornando a interação entre os participantes maior, mais
instigante e produtiva. Palloff e Pratt (2002) indicam que o conteúdo de um curso
deve estar inserido na vida cotidiana de alunos e professores a fim de envolvê-los na
construção de sentidos. E dizem ainda que tal estratégia confere “sensação de maior
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importância aos participantes e os valoriza como pessoas que têm o próprio
conhecimento e que podem aplicá-lo a outros contextos” (PALLOFF E PRATT,
2002:147).
Nesse sentido, as mudanças para a educação envolvem um repensar da prática
pedagógica, em que se considerem os objetivos educacionais; a postura do professor e
do aluno numa relação dialógica com os objetos do conhecimento que, de acordo com
cada contexto cultural, implicam a reorganização contínua das formas de ensinar,
pesquisar e aprender.
O uso de tecnologia em contexto educacional precisa, então, compreender uma
ação contextualizada, envolvendo o trabalho com diferentes linguagens e tecnologias.
De acordo com Moraes (1999:131), as diferentes realidades educacionais, que se
redesenham pelos processos de globalização, mostram-nos o quanto a escola está
“dissociada do mundo e da vida, o que vem exigindo significativas modificações nos
processos de ensino-aprendizagem e nos papéis até então desempenhados pelas
escolas.” E isto, diz Moraes, implica se considere não somente o uso de tecnologias,
mas “critérios, conceitos e valores decorrentes do novo paradigma científico que
coloca em xeque o atual modelo de construção do conhecimento.”
3. Das diferentes linguagens à prática pedagógica
Para Moran (1998), é fundamental questionar a relação que se estabelece entre
professores e alunos em face dos novos dispositivos midiáticos disponibilizados à
educação. Portanto, indo além da oralidade e da escrita, cabia, por exemplo,
reconhecer que as imagens, desde sua produção até os múltiplos sentidos produzidos
pela sua leitura, auxiliam a construção de sentidos entre os sujeitos ensinante e
aprendente.
Convidados a dialogar com imagens, os alunos utilizaram um dos aplicativos,
versão beta disponibilizado pelo Grupo, no portal Yahoo. Ali era possível a todos os
participantes, além do mediador, a publicação de imagens para uma reflexão. A
proposta era comentar sua relação com os textos lidos e as discussões realizadas em
sala de aula. Para a execução da tarefa uma mensagem foi encaminhada, através do
grupo, incluindo um anexo em que se oferecia um passo a passo orientador para a
localização da atividade no ambiente.
A primeira imagem escolhida foi a propaganda de uma livraria. Abaixo é
possível ver a imagem apresentada. Sob o livro o que se lê é “livros não precisam de
fios. Livros nunca travam. Livros são anti-choque: não quebram se você deixar cair.
Livros têm tudo o que as novas tecnologias querem ter.”
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Imagem 1
Para Kellner (1995) é importante que se promova uma alfabetismo crítico em
relação à mídia para que se compreenda como os textos culturais funcionam.
Imbernón (2009:30) ratifica a importância deste alfabetismo crítico quando cita que
“o conhecimento pedagógico comum existe logicamente na estrutura social, integra o
patrimônio cultural de uma sociedade determinada e se transfere para as concepções
dos professores”. Portanto, a escolha da publicidade é significativa, uma vez que,
segundo Kellner (1995),
a publicidade é meramente uma parte das indústrias culturais que incluem o rádio
a televisão, o filme, a música, os desenhos animados, as revistas em quadrinhos e
outros artefatos da assim chamada cultura popular (KELLNER,1995:126).
No diálogo sobre os textos lidos e sua relação com a imagem oferecida os
participantes, cujos nomes foram propositalmente ocultados neste trabalho,
registravam seu acesso dizendo:
Conforme Almeida e Almeida (1999:73), embora não se saiba efetivamente
“todas as alterações que ocorrerão com a inserção das novas tecnologias na
educação”, podemos afirmar que a experiência foi enriquecedora para os participantes
que estiveram ainda mais atuantes quando outras imagens foram apresentadas.
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A segunda imagem apontava para uma reflexão sobre a prática pedagógica do
professor. Abaixo a imagem e alguns comentários dos alunos.
Imagem 2
Assim foi se ampliando o engajamento dos participantes, tanto no ambiente on
line quanto na sala de aula presencial. A possibilidade de compartilhar vivências, as
conversações promovidas sobre o ambiente educacional, seja ele on-line ou off-line,
convertem-se, segundo Passarelli (2007), em constate fonte de inovação ao mesmo
tempo em que resulta em um maior comprometimento dos seus integrantes.
A partir da perspectiva de Imbernón (2009) que afirma ser necessário formar o
profissional docente para a mudança e a incerteza, em livro com o mesmo título,
entende-se que seja necessário a inclusão de novas formas de leitura. A leitura
realizada em suportes que não o livro já não se dão linearmente ou arborescente como
já vinha sendo feito. Para tanto, é necessário atentar para a lógica do hipertexto, que é
um conjunto de nós que podem ser textos, imagens, gráficos, vídeos ligados por
conexões, a que chamamos de link. Esses itens de informação não são ligados de
forma linear, um após o outro, permitindo que o aluno crie seu percurso de navegação.
“Navegar em um hipertexto significa portanto desenhar um percurso em uma rede que
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pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter
uma rede inteira” (LÉVY, 1993:33). Nesse sentido, as idas e vindas da sala de aula
presencial ao ambiente do grupos, relacionado as associações construidas pelos
discentes, criava uma rede de conhecimento em prática hipertextual.
4. Do ciberespaço à sala de aula
Seraphina Alava, no livro “Ciberespaço e formações abertas” (2002), abre um
debate sobre o ciberespaço tomando-o como lugar de construção coletiva dos saberes
e considera a necessidade de um posicionamento que integre aspectos sociais e
filosóficos da interação entre tecnologias e sociedades. A discussão de Alava serve de
apoio para que não ocorra o que chama de panacéia ou reducionismo da tecnologia
apenas como mecanismo de controle social pela comunicação via satélite, sem
fronteiras, ou, ainda, a ideia de que apenas por incorporar novos meios, produções,
ferramentas e instrumentos nas escolas criamos inovações pedagógicas. Incorporar
inovações implica, de acordo Gallo (2001: 176), uma “nova atitude frente aos saberes,
tanto na sua produção quanto na sua comunicação e aprendizado”.
É curioso saber que inicialmente muitos entendiam, a partir do título da
disciplina, que “tecnologia” implica tão somente o uso de computadores. Essa
impressão, bem como as reflexões resultantes das discussões em torno do tema podem
ser observadas a partir da fala da aluna Fernanda, em seu relatório de conclusão de
curso. Essa outra compreensão da tecnologia nos possibilita um olhar mais focado para
as diferentes realidades das salas de aula em todo o país, em especial nas escolas
públicas. Digo isso por minhas próprias experiências enquanto professora da rede
municipal de educação. De certo, se a abordagem sobre tecnologias fosse limitada
ao computador, muito pouco eu poderia ter aproveitado das aulas, leituras e
discussões em minha prática pedagógica. Mas esse olhar amplo das tecnologias
me permitiu repensar e desmistificar minha própria atuação docente. Dessa forma,
tenho fixa hoje a idéia de que múltiplos recursos podem (e devem) ser utilizados
em sala a fim de alcançar os objetivos de minhas aulas e torná-las mais claras,
dinâmicas e interessantes para os alunos (Fernanda, novembro, 2010).
Para tanto, a natureza do trabalho precisa, necessariamente, ser colaborativa.
Ainda de acordo com Passarelli (2007) a participação nesse tipo de atividade
vincula-se à satisfação de necessidades individuais, conteúdos específicos
precisam ser dominados pelo grupo, os participantes compartilham interesses e
objetivos comuns, os protocolos sociais são fundamentais para instituir rituais,
normas e leis próprias à interação no grupo e, finalmente, o modelo aberto da
internet constitui ferramenta ideal para ancorar e mediar a interação e o
compartilhamento de conhecimento (PASSARELLI, 2007:10)
Indagados as respeito de qual significado vem recebendo o computador na
prática docente, os alunos ganharam outra imagem para refletir. Alguns utilizaram
trechos de textos lidos, outros comentaram livremente. E, conforme foi dito, a
participação, a reflexão e compartilhamento de ideias aumentou ainda mais. Vejamos
os resultados.
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Imagem 3
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5. Concluindo com os participantes
Ao considerarmos a convivência em rede, é impossível não fazer que os
participantes sejam, também eles, avaliadores do processo de trabalho. Ao final do
curso, cada aluno apresentou um relatório individual em que apresentava suas
impressões sobre as atividades desenvolvidas, buscando estabelecer um diálogo com
os textos, vídeos, músicas e imagens oferecidas em aula e na web. Sobre isso deixo
abaixo depoimentos que demonstram como alguns resultados foram alcançados.
Fazendo observações sobre as atividades presenciais, a aluna Débora afirma
que a postura da professora, permitindo que os alunos mantivessem um diálogo aberto
sobre suas impressões, vivências e dúvidas, não somente era coerente com os
materiais apresentados como, diferente do que ainda vivenciam em outras disciplinas
no ambiente universitário. A aluna diz:
não se trata de educar apenas, mas educar de maneira que se obtenha o
máximo de aproveitamento no ensino/aprendizagem, (...) onde o professor
é apenas o mediador de conhecimento entre fontes e alunos, alunos e
alunos, ele e seus alunos, mas também está disposto a novas aprendizagens
(Débora, novembro, 2010).
O grupo, constituído no Yahoo, contou com o engajamento de todos. Cada um,
no entanto, teve suas impressões próprias sobre a experiência. Pedro, por exemplo,
“acha que na era da „instantaneidade‟ o grupo no Yahoo foi um recurso de muito bom
uso proporcionando acessibilidade e propiciando uma integração entre a turma”, mas
considera que “as aulas presenciais foram de fundamental importância.”
Ainda sobre o grupo na web a aluna Luana afirma que foi um recurso que
permitiu não esgotar um assunto de aula, na aula, podendo inclusive “linká-lo” com
outro assunto. Ela escreve em seu relatório:
Pude observar que a professora sempre estabelecia elos entre os assuntos
nos conduzindo para um debate virtual utilizando as flexibilidades das
comunicações disponíveis no ambientes, como imagens, e artigos que
foram disponibilizados (Luana, novembro, 2010).
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É na linguagem que Levy (1993) identifica uma das primeiras formas de
gestão da memória social ou, algo mais do que mera comunicação prática humana.
Mas o contexto cultural contemporâneo ainda guarda, sobretudo nas práticas
educacionais, a oralidade e a escrita como forma primeira de transmissão de
conhecimento. No entanto, o cenário sócio-técnico atual, marcado pelas tecnologias
digitais de informação e comunicação, conceituado como cibercultura (LEMOS,
2008; LÉVY, 1998), traz ambientes alternativos para a docência e aprendizagem. O
rápido desenvolvimento dos recursos de tecnologia, e seu avanço sobre diferentes
setores da sociedade, têm trazido muitas implicações para as práticas educacionais,
sejam elas na modalidade presencial ou a distância. Apesar disso, o uso dessas
tecnologias digitais, por si só, não implicam em práticas pedagógicas inovadoras e
nem concebem transformações nas concepções de conhecimento, ensino e
aprendizagem ou nos papéis tanto do aluno quanto do professor. Por isso, foi
importante construir com os alunos os sentidos para a tecnologia, promover
discussões e experiências com o uso de TIC refletindo diretamente sobre a prática
pedagógica.
Na experiência aqui apresentada a utilização dos recursos de TIC mostrou ter
ampliado, para os alunos em formação, a oportunidade de uso de recursos
diversificados, condição dificultada, algumas vezes, pelas instalações da sala de aula.
A vivência também permitiu aos alunos uma formação prática, factível com seu futuro
campo de atuação, através de ações inovadoras com uso de TICs.
Iniciada no segundo semestre do ano de 2010, a disciplina Tecnologia e
Prática Pedagógica (TPP) teve por objetivo refletir sobre as ações requeridas pela
sociedade contemporânea, no âmbito de novas práticas pedagógicas, que incluísse em
suas ações o uso das TICs, para além da condição de diversificação na forma de
distribuição de material para a aprendizagem.
Andrea de Farias Castro UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO &
COLÉGIO PEDRO II
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Resumo
Esse artigo apresenta o desenvolvimento de uma disciplina para alunos de diferentes cursos
de graduação, reunidos em uma eletiva universal. O conteúdo, voltado ao estudo da
tecnologia educacional e da prática pedagógica foi apresentado com o uso de diferentes
recursos de tecnologia, mas, sobretudo apoiado na expansão da sala de aula ao ciberespaço. A
dinâmica propunha que os alunos se associassem a um grupo no portal Yahoo onde, para que
ampliassem suas interações, foram utilizados recursos que iam além da troca de mensagens.
Neste caso foram as imagens, como linguagens que impregnam o contexto social que
habitamos, que serviram de fator motivacional para elevar as reflexões sobre o conteúdo
estudado, além de fomentar as interações entre os participantes. A experiência, cujo objetivo
era proporcionar uma vivência coerente com a teoria, apresentou resultados satisfatórios ao
final do processo. Os dados apresentados basearam-se em registros feitos pelos alunos na sua
participação no grupo e nos relatórios finais de conclusão de curso.
Palavras-chave: educação, tecnologia, prática pedagógica.
Abstract
This article presents the development of a course program for students from different
university courses attending a single universal elective class. The content, focused on the
study of educational technology and pedagogical practice, was supported by expanding the
classroom to cyberspace. In a discussion group in Yahoo Services, the use of
images increased interaction among students and made them go beyond the
exchange of messages. By providing a practical experience consistent with the theoretical
principles, the process achieved satisfactory results. The data presented were based on notes
made by students during their interactions in the Yahoo group and on the final reports
required for the completion of the course.
Key-words: education, technology, pedagogical practice.
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