departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo … · crime de falso testemunho assim descrito...
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CÂMARA DOS DEPUTADOS
P
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
CPI - TRÁFICO DE ORGÃOS HUMANOSEVENTO: Audiência Pública N°: 0889/04 DATA: 17/6/2004INÍCIO: 10h30min TÉRMINO: 13h51min DURAÇÃO: 03h21minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h20min PÁGINAS: 90 QUARTOS: 40
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOROLAND MONTENEGRO COSTA - Cirurgião de transplante hepático.LUCIO LUCAS PEREIRA - Cirurgião.
SUMÁRIO: Tomada de depoimento
OBSERVAÇÕESHá termos ininteligíveis.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da 21ª reunião ordinária da Comissão
Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a atuação de organizações atuantes
no tráfico de órgãos humanos. Informo aos Srs. Parlamentares que foram
distribuídas cópias das atas da 19ª e 20ª reuniões. Sendo assim, indago se há
necessidade de sua leitura.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Sr. Presidente, eu requeiro a dispensa da
leitura da ata.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Dispensada a leitura da
ata, coloco-a em discussão. Não havendo quem queira discuti-las, coloco as atas
em votação. Os Srs. Deputados que aprovam permaneçam como se acham.
(Pausa.) Aprovadas. Esta reunião foi convocada para realização de audiência
pública com a presença dos Srs. Drs. Lúcio Alcântara, Lucio Lucas Pereira,
cirurgião, e Roland Montenegro Costa, cirurgião de transplante hepático, ainda para
deliberação de requerimentos. Antes de convidar o Dr. Lucio Lucas Pereira, o
primeiro depoente a tomar assento à mesa. Solicito à Secretaria que conduza o
segundo depoente. (Pausa.) Por solicitação do autor do requerimento de
convocação, Deputado Pastor Pedro Ribeiro, e Relator desta Comissão, vamos
fazer uma inversão de pauta. E nós vamos convidar o Dr. Roland Montenegro Costa,
cirurgião de transplante hepático, para tomar assento a esta mesa. Quero solicitar à
Secretaria da Comissão que conduza o depoente Dr. Lucio Lucas Pereira para outro
recinto, para que nós possamos tomar depoimento neste momento do Dr. Roland
Montenegro Costa. (Pausa.) Queremos neste momento, de acordo com o art. 210 do
Código de Processo Penal, convidar o depoente, Dr. Roland Montenegro, a prestar
juramento a esta Comissão, conforme descrito à sua frente.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - “Faço, sob a palavra de honra, a
promessa de dizer a verdade do que souber e me for perguntado.”
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Em conformidade com o
art. 210 do Código de Processo Penal, advirto o depoente das penas cominadas ao
crime de falso testemunho assim descrito no Código Penal: “Art. 342 - Fazer
afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou
em juízo arbitral”. Vamos, neste momento, passar a palavra ao Sr. Roland
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Montenegro Costa, que era cirurgião de transplante hepático. V.Sa. terá o tempo de
até 20 minutos prorrogáveis, a juízo ou a pedido desta Comissão, pelo tempo que
entender necessário para que possa se manifestar sobre o motivo do requerimento.
O Dr. Roland era chefe da equipe, cirurgião de transplante do Hospital de Base de
Brasília e foi convocado por esta CPI, após ser citado aqui na Comissão sobre o
caso do garoto Marcos. Nós queríamos, neste momento, conceder a palavra para
que V.Sa. possa fazer a sua defesa e apresentar as suas explanações sobre o
assunto.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Esse é um paciente que foi vítima
de um acidente, acho que foi uma bicicleta contra um carro. E ele foi eleito, através
de parâmetros que o elegeu como morte cerebral. Então, após contatos com a
família — me lembro bem da Dra. Liliana —, ela doou o fígado, doou acho que os
olhos do paciente, os rins. Nós, cirurgiões, (temos o contato com...) evitamos o
contato com a família do paciente para evitar pressões. Isso é uma coisa que nós
aprendemos fora deste País. E esse fígado foi retirado pelo meu colega de equipe,
Dr. Lucio Lucas. Era um fígado perfeito, o fígado de uma criança de 14 anos de
idade, ele não tinha nenhuma doença, nenhuma virose, esteatose; parecia que não
tinha esteatose. O paciente, o receptor foi chamado para a cirurgia. E quando nós
chegamos lá nós sentimos a dificuldade de realizar o transplante — isso avaliado
por toda a equipe cirúrgica. Como a equipe de cirurgiões de transplantes é uma
equipe multidisciplinar, os colegas da anestesia não se sentiram seguros devido à
falta de alguns instrumentos, de monitores, de catéteres, visto que o Seu Ramon, o
paciente em questão, o paciente que recebeu o órgão do Marcos, ele se encontrava,
ela já tinha uma cicatriz prévia no abdome, o que faz com que o paciente sangre
muito. Os pacientes, os hepatopatas em final de doença hepática, que a gente
chama, eles sangram muito através de varizes que se criam no sistema porta. O
sistema porta é o sistema que — aqui tem alguns médicos — é o sistema que drena
todo o sangue do intestino para o fígado. Então essa veia, chamada veia porta;
então, devido a essa repressão, há uma grande quantidade de veias enormes com
varizes, que podem sangrar. E esses catéteres, esses monitores, esses
instrumentos, eles são de vital importância para que se proceda a um ato cirúrgico.
São pacientes que tomam um grande volume de sangue. Nós já participamos de
cirurgia em que o paciente chegou a tomar 200 frascos de sangue — não aqui neste
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País. Então, devido a isso, eu não me senti seguro em realizar o procedimento, visto
que o paciente podia ensanguinhar na sala se não tivesse esses parâmetros, esses
catéteres e esses aparelhos que se requer para realizar uma cirurgia desse tipo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Nós vamos conceder a
palavra ao Deputado Rubinelli primeiro. Depois nós vamos passar a palavra ao
Pastor Pedro Ribeiro.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Na realidade, eu ouvi alguns procedimentos
médicos que foram ditos pelo depoente, só que, com relação à história em si, eu
gostaria que o senhor explicasse um pouco melhor. Existe uma pessoa que ia
receber esse fígado?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Sim.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - O senhor optando em não fazer a cirurgia,
qual foi a desatinação para esse fígado?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Esse fígado foi encaminhado à
sala do nosso chefe da Coordenação de Transplantes, e, a partir daí, eu não tomei
conhecimento mais.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Qual era o nome do chefe, por gentileza, Sr.
Roland?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É o Dr. Lucio Lucas.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Dr. Lucio Lucas é o que está aqui também,
Presidente?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso, vai ser chamado.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Isso, nós vamos ouvi-lo daqui a pouco. O
senhor acha que não poderia ter uma outra pessoa recebido esse órgão na
impossibilidade desse paciente que o senhor falou ter recebido?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Nós chamamos a palavra backup,
sempre temos um paciente à espera. Mas na lista de espera às vezes não coincide
o grupo sangüíneo. No fígado, o que é mais importante é o grupo sangüíneo do
paciente — A,B,O. Nós não podemos dar um fígado de paciente de tipo sangüíneo A
para um paciente O. Então, nós não tínhamos na fila de espera um paciente...
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Num procedimento desses, eu entendo a
fila de espera. Num procedimento desses, você não trabalha com duas opções ou
três pelo menos. Vamos supor, se está com um paciente aqui para receber um
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órgão, aí a pressão dele teve uma queda monstruosa ou subiu, você não pode fazer
a cirurgia. Não tem uma segunda opção? Isso não existe? Ou é aquele ou não é
feito o transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É muito difícil tomar essa atitude,
entendeu?, a não ser que seja um serviço muito bem esquematizado com uma lista
imensa de pacientes para você ter isso aí.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Entendi. Quantos transplantes de fígado o
senhor já fez?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu fiz aqui 10 transplantes.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Dez?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Fiz, fora deste País, 15
transplantes nos Estados Unidos.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Sim, mas aqui no Brasil o senhor fez dez?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Sim.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - E fora do País o senhor fez quantos?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Quinze transplantes.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Em quais países o senhor fez?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Nos Estados Unidos.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Estados Unidos? Só nos Estados Unidos 15
transplantes?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Sim.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Mas teria sido, digamos assim, nessa fase
de treinamento que o senhor falou.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Treinamento.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Certo. E no Brasil dez. Todos eles aqui em
Brasília?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Todos eles em Brasília.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Certo. O senhor nunca fez nenhuma
cirurgia em um outro hospital que não fosse aqui em Brasília, no Distrito Federal?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Então, o senhor, no caso, o senhor se
exime de qualquer responsabilidade posterior à decisão de efetuar o transplante? No
caso, como o senhor explicou para nós, a partir do momento em que o senhor tomou
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a decisão de não fazer o transplante, o restante da responsabilidade seria do outro
médico que vai depor em seguida?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso, exatamente.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Então, o senhor só coube dizer, então, que
o senhor não iria fazer o transplante.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso, porque as condições não me
permitiam e eu ia fazer uma cirurgia com alto risco desse paciente ensanguinhar na
sala.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Sim, mas nessa decisão do senhor de não
fazer, o senhor chegou a tirar o fígado?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - O fígado foi tirado, foi tirado pelo
meu colega.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Mas se o senhor não ia fazer, porque que
tirou?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, deixa eu explicar, é melhor.
O material que se usa nesse hospital terciário, que se diz terciário, é um material
que se usa para transplante de fígado e se usa para uma cirurgia mais complexa,
entendeu? Então, é um material que não poderia ter faltado no hospital. Eu estou
crente que todo material estava organizado, porque nós começamos a operar. E
chegamos o dia em que nós fazemos três cirurgias de transplante no mesmo dia.
Fizemos dois rins e um fígado, o que me alegrou muito, porque o meu projeto de
vida é ser transplantador de fígado, entendeu? E isso me deixou bastante
aborrecido. Eu chamei a Dona Liliane no outro dia. Eu disse: eu queria que a
senhora se irmanasse a nós, porque as nossas lamentações não têm eco. Eu acho
que ela o fez muito bem.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - O senhor falou que fez 15 transplantes de
fígado no Brasil. Isso, 15?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Dez.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Dez. E outros tipos de transplantes, de rim
o senhor fez quantos?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu fiz acho que, talvez, uns três
transplantes só.
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O SR. DEPUTADO RUBINELLI - No total, quantos transplantes de órgãos o
senhor fez aqui?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Aqui talvez uns 13 transplantes
só. Três de rim e 10 de fígado.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - No total, de tudo, os 10 mais os três de
rins? Nesses transplantes o senhor foi o cirurgião responsável. É isso?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Cirurgião responsável.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Mas tiveram outros transplantes que o
senhor participou como membro da equipe?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, eu sempre fui o cirurgião
principal.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Certo. Agora uma dúvida. Nos outros casos
é o procedimento quando o doador não vai receber o órgão também, como foi nesse
caso, o procedimento é tirar o órgão mesmo assim?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não. Nós só tiramos o órgão
quando a família nos permite que seja tirado. Mesmo que nós tenhamos, eu tenho
uma carteira, tenho duas carteiras, uma carteira de motorista dos Estados Unidos
que diz: I Am a donor organ, organ donor. E tenho a daqui que sou doador de
órgãos neste País. Então, mas, mesmo assim, você tendo essa permissão na sua
carteira, aqui a família tem que confirmar a sua doação. Lá não. Lá não precisa doar.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Não, entendi, mas a pergunta é diferente. O
senhor descobriu que a pessoa que ia receber o órgão, não sei se o termo é
receptor. É receptor? É isso?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Receptor.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Ele não está apto, porque nos outros casos,
mesmo a pessoa não estando apta, se tem essa prática de tirar o órgão? Por
exemplo, um transplante de rim. Chegou lá, deu problema, vai tirar o rim mesmo
assim? É uma prática comum isso?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, mas se o órgão não for
usado não vai ter que tirar o rim.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Mas, então, mas veja o senhor, mas no
caso do fígado foi tirado?
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, mas o paciente estava na
sala esperando. Nós conseguimos fazer; a nossa cirurgia é feita quase
simultaneamente.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Concomitantemente.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Exato, porque nós temos que ter
um período de isquemia fria curto, quando se gela o órgão para se usar, ele tem que
ser curto. E quanto mais tempo ele ficar gelado, menos chances ele tem de pegar.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Mas quanto tempo demorou para ter a
decisão de que o receptor não ia receber o fígado? O senhor já tinha tirado quando
decidiram que ele não ia...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Já, já, as gente tira primeiro,
porque, às vezes, a retirada do fígado, pode haver algum acidente, entendeu? A
retirada do fígado ela demora, ela é mais rápida, depende da mão do cirurgião do
que, às vezes, a retirada do órgão do doador, porque nós temos que tirar um pedaço
do diafragma, um pedaço da aorta, um pedaço do pâncreas. Depois, na mesa, é que
nós vamos limpar esse órgão para tirar toda aquela gordura, entendeu, e as
alterações que ocorrem, aí é que nós vamos implantar o fígado.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Sei. Então, posterior, quando o senhor
descobriu que não ia fazer o transplante no outro, no receptor, então, aí o senhor
não tem mais conhecimento de qual foi o destino dado ao órgão retirado.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Honestamente não.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Não. O senhor não teve a curiosidade de
perguntar: E agora vai ter outro paciente?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Essa curiosidade não houve também por
parte do senhor?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - O senhor não acha que seria natural essa
curiosidade o senhor querer saber? Mas e agora? A gente vai perder esse órgão?
Não tem outro? O que a gente vai fazer com esse órgão?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Exatamente. Isso foi a coisa que
me irritou mais. É por isso que no outro dia eu chamei a D. Liliana e participei para
ela e falei das minhas decepções, entendeu?
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O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Sei, sei, entendi. Bom, Sr. Presidente, eu
particularmente vou continuar as perguntas depois com outro depoente. Mas eu
gostaria de solicitar a V.Exa. que, mesmo depois que o outro depoente, durante o
depoimento do próximo médico, o Dr. Roland aguardasse, porque se a gente tiver
alguma dúvida com relação ao depoimento do outro, a gente pode chamar
novamente o Dr. Roland. Que ele aguardasse numa sala separada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - A Mesa acata a
solicitação do nobre Deputado Rubinelli. Deputado Zico Bronzeado.
O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Sr. Presidente, na verdade, as
perguntas do Deputado Rubinelli me deixaram tranqüilo. Eu só queria, para não
deixar de ter, na verdade, todas as informações prestadas pelo Dr. Roland, eu
queria saber, doutor, esses transplantes que foram feitos aqui no Brasil por V.Sa.
eles todos tiveram sucesso? O senhor acompanhou a vida desses pacientes? Eles
estão vivos?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não. A sobrevida desses
pacientes, dependendo da patologia que você está lidando, por exemplo, nós temos
a cirrose por Hepatite “B”, a Hepatite “C”, a cirrose alcoólica. Então, de acordo com o
estágio em que nós recebemos esse paciente, existe uma classificação, pode ser A,
B, C. Então, se você transplanta um paciente com a classificação C, a chance dele
sobreviver um ano cai para 40 a 60%, porque o paciente já está muito deteriorado, já
tem ascite, a barriga-d’água, entendeu? A coagulação dele é muito pouca, a massa
muscular dele desaparece. Ele fica realmente horrível, o paciente fica muito, fica
numa situação caquética, entendeu? Então, se nós transplantarmos um paciente
desse, a chance dele morrer em sala e morrer no pós-operatório é muito grande,
porque, a partir do momento que nós muito suprimimos o paciente, nós diminuímos
sua defesa. Aí se assesta nele uma infecção por vírus, fungo ou bactéria. E, às
vezes, nós temos a chance de, quer dizer, o êxito é tal. Algumas patologias, como o
câncer, esse câncer pode se reativar nesse fígado transplantado. É uma doença que
nós não sabemos muito bem a biologia do tumor. Por que que eu boto um fígado de
um paciente que tem outra raça, entendeu, e o tumor volta naquele fígado que não
tem nada, que a genética é totalmente diferente? Então, nós temos os nossos
pacientes que, um paciente ensanguinhou na sala. Nós temos pacientes que
também, no pós-operatório, tiveram um AVC, um pico hipertensivo, deu AVC, o
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paciente faleceu. Teve um paciente que teve uma embolia pulmonar maciça no pós-
operatório e temos pacientes vivos. A sobrevida chega em termos de 30 a 40%.
O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Então, desses pacientes que foram
transplantados, a maioria faleceu?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Nesses 4 anos, temos agora 1
paciente que sobreviveu.
O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Desses 10 transplantes que o
senhor realizou só tem 1. Isso no decorrer de quantos anos?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Quatro anos.
O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Fazem 4 anos que o senhor iniciou
o processo de transplantes e tem 1 sobrevivente.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso.
O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Era isso, Sr. Presidente, que eu
queria concluir.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Com a palavra o
Deputado Pastor Frankembergen.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Sr. Presidente, demais
companheiros, Sr. Roland Montenegro, eu gostaria de fazer algumas perguntas.
Quanto tempo o senhor trabalha como médico cirurgião na área de transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu comecei a trabalhar em
transplantes na década de 80, quando estive na Alemanha, e voltei para o Brasil,
mas infelizmente não pude fazer nada porque a situação não permitia que fizesse.
Fui aos Estados Unidos, passei 3 anos e voltei em 1994 — trabalhando com
transplantes. De 1994 a 2000 nós tivemos um hiato. Não havia condições de fazer
transplante. Em 2000 conseguimos formar a equipe.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Por que não havia
condições de fazer transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Alegavam que o material era
muito caro, a aparelhagem muito cara e investir em transplante para poucas
pessoas é melhor investir na saúde básica: operar hérnia, operar vesícula, operar
estômago. Entendeu? Mas eu acho que nessa Constituição nossa, as pessoas têm
o direito de ter saúde, tanto ricos quanto pobres. E a medicina de ponta ela não
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pode ser descartada pensando-se só em medicina básica, senão a gente não evolui.
Então, em 2000 nós tivemos a condição e começamos a trabalhar.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Em 2000. Em 2000,
salvo engano, foi quando aconteceu o caso do...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Em 2002.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Dois mil e dois. Em 2002,
quando aconteceu o caso do Marcos, já havia condição?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Havia.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Já havia condição.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Depois de termos feito 9
transplantes, mas as coisas se deterioram muito rápido. Nós trabalhamos num
sistema em que nós vivemos de estertores. Um belo dia, nós temos uma condição
ideal. Depois de um mês acabam-se as coisas e vamos esperar uma licitação para
daqui a 2 anos. E aí nós temos a improvisação. A improvisação é uma inimiga
perfeita do transplante. Improvisar significa êxito letal. Significa morte, porque tudo já
foi estandardizado. A gente não pode improvisar nessas coisas. E o material é caro.
Quer dizer, eu uso o meu material cirúrgico para fazer essa cirurgia. Eu uso o meu
sapato para fazer a cirurgia.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - No caso específico do
Marcos, o senhor lembra daquele dia do ato cirúrgico no momento de fazer o
transplante, o senhor lembra o que ocorreu naquele dia?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Lembro. Do ato cirúrgico, da
retirada do fígado, eu não participei porque eu tenho uma pessoa que faz isso. Eu só
cheguei para...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Quem é a pessoa?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Dr. Lúcio. Eu não participei dessa
parte. Eu entro para operar. O estresse é muito grande. E a vida médica de um
cirurgião...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Esse operar que o
senhor fala, o senhor entre para operar.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É para implantar.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Para implantar. No caso
a retirada do órgão é feita por outra pessoa?
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Por outra pessoa. A vida média
de um cirurgião de transplante são 50 anos. Nós infartamos muitas vezes na sala,
porque o estresse é muito grande. São cirurgias que duram de 8 horas a 30 horas,
25 horas de cirurgia. Então, não tem coronária que agüente um negócio desse, se
você faz isso duas vezes por semana, 3 vezes por semana.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está bem. No caso, o
procedimento de infusão, quem é que faz esse procedimento?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Qual infusão?
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - No caso do órgão que foi
retirado. No caso o fígado. Vamos colocar aqui. No fígado.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - A perfusão que você está falando
para esfriar o órgão?
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Sim.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Você disseca, você abre o
cadáver, faz uma incisão de manúbrio esternal até o púbis, expõe todas as vísceras,
disseca a aorta, disseca a veia porta, disseca a mesentérica superior, canaliza esses
ductos, essas artérias e veia e, no momento “x”, você abre essa solução gelada a 4
graus e sangra o paciente ao nível da via cava superior. Esse sangue se esvai
rapidamente e o paciente passa de uma temperatura de 36 graus e meio, que é a
nossa aqui, para uma temperatura de 4 graus. Tem que haver essa passagem
brusca porque, se o paciente ficar muito tempo sem essa perfusão rápida, o órgão
se deteriora. Aí você perde o rim, perde o coração, perde o pulmão e assim
sucessivamente.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor chegou a ver o
fígado que foi retirado do Marcos?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu não me lembro que tenha
visto, mas o fígado eu sei que era um fígado perfeito, porque com uma idade de 14
anos... 14 anos o fígado era perfeito.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Mas o senhor não lembra
de ter visto o fígado?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não lembro de ter visto.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Nove anos, doutor.
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O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Ele está informando que
o garoto tinha 9 anos de idade.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, 14 anos.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O que consta nos autos?
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Pelo que nos consta ele
tinha 9 anos, Doutor. Isso não vai ao caso, mas é 9 anos.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Era uma criança saudável.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Mas era uma criança
saudável.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - E a compatibilidade do tamanho
do fígado dele era compatível com a do recipiente.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está bem. Então,
significa que o senhor não participou do ato de retirada?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - E nesse momento o
senhor não fica próximo do paciente?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Como assim, do doador?
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Sim, do doador.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Às vezes você fica e às vezes
você não fica. Não me lembro, não.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor estava
preparado para fazer a cirurgia de implante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor estava
preparado. Significa que o senhor estava no hospital no momento em que estava
sendo retirado...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Porque se eu não estou
enganado, o receptor, ele se encontrava no mesmo hospital?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - No mesmo hospital. Já estava
internado na gastroenterologia. Então, esse paciente é internado previamente:
“Olha, tem um possível doador para você”. Aí interna. Depois que o contato de praxe
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é feito com a família e a família doa, aí é que se vai preparar o doente, para evitar
que não se ache o doente na hora, porque nós temos que obedecer uma lista.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Até o ato de quê? A
família autoriza a doação. O ato de retirada do órgão até o implante, no caso
estamos vendo aqui é que tanto doador como receptor se encontravam no mesmo
hospital.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Claro, claro.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Então, dá-se a entender
de que havia um sincronismo no tempo para o procedimento do transplante. Então,
significa que o senhor estava no hospital e certamente o paciente, o receptor, ele já
estava sendo preparado também para receber esse órgão.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, deixa eu lhe explicar. Eu não
me lembro de ter estado no hospital, porque eu tenho uma equipe muito disciplinar
em que eu confio e que pode fazer a retirada do órgão sem eu estar lá. Eu tenho
uma outra equipe de gastroenterologista...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor agora há
pouco estava falando que não lembrava de ter visto o fígado. Significa que o senhor
esteve no hospital.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Claro, eu fui lá para decidir a
cirurgia. Entendeu? Me chamaram: “Olha, vamos fazer a cirurgia. Está pronto o
órgão”. Eu fui, o paciente foi para a sala, o receptor, e: “Cadê o material?” “Ah, o
material está faltando isso, está faltando...” Não é possível uma coisa dessa!
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O material que faltou foi
justamente no ato do implante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - No ato não, o paciente não foi
aberto.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O aparelho é que estava
com problema?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isto.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Ele seria utilizado no
implante.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Exatamente. No receptor.
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O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - E isso só foi constatado
no momento...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - No momento em que o paciente já
foi para a mesa de cirurgia: “Cadê o material? Cadê os catéteres? Cadê o monitor?”
“Ah, não tem”. “Não tem o material?”
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - É muito estranho, não é,
doutor?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É muito estranho.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - A sua equipe é composta
de quantas pessoas?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu tenho cirurgiões, eu tenho...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Para ser mais preciso na
minha pergunta, a equipe que estaria participando daquele implante.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Ah, eu tinha 4 cirurgiões comigo.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Quatro cirurgiões. E mais
quantos auxiliares?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, os 4 cirurgiões no campo
cirúrgico são suficientes. Dois ocupam o espaço, se não a gente não pode trabalhar. O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Somente os...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Cirurgiões. Aí, tem o pessoal da
enfermagem, tenho 2 anestesistas...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Exatamente, quando eu
falo auxiliares, não estou falando os cirurgiões...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Ah, sim.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Estou falando, no caso,
os enfermeiros...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Enfermeiros, auxiliar de
enfermagem...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Auxiliar de enfermagem,
tem o anestesista...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Umas 8 ou 10 pessoas, eu acho.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Oito ou 10 pessoas
que...
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Envolvidas nisso.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Essas pessoas se
fizeram presentes nesse preparativo, ou seja, nessa preparação para fazer o
implante no receptor nesse dia? Eles estavam no hospital, eles...?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Estavam, eram pessoas que
estavam de plantão no hospital.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Eram pessoas que
estavam de plantão?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - De plantão no hospital.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor sabe, eu fiz
uma pergunta anteriormente, eu não sei se..., eu acho que por ser leigo na área...
Mas a palavra infusão, o que que ela significa? Infusão.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Infusão, você pode fazer uma
infusão de líqüidos, infusão medicamentosa... É instilar.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - É feita alguma infusão no
órgão que é retirado?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É, é feito. Depois que a gente tira
o órgão desse paciente, nós vamos colocar numa bacia, a gente aí infunde o litro de
uma solução para deixar bem lavado o órgão para não ter coágulos dentro do órgão
e para que eu não entupa o vaso depois.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Essa infusão no caso
aqui, vamos dizer assim, num conceito mais comum, é o ato de lavar o órgão...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - ... para limpá-lo, no
sentido de ele estar bem...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Lavar interiormente, a infusão é
interiormente.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Interiormente. Ah, tá
certo.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Nós canalizamos, deixamos uma
sonda que a gente conecta o soro, uma solução chamada solução...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Mas o fígado também,
ele é lavado interior... Eu não entendi.
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Interiormente, o fígado, o coração,
o pâncreas. Entendeu? Todos eles são lavados.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está bem. Mas é claro
que, quando você vai lavá-lo, dá para ver por fora como ele está também?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Dá para ver. Claro. Você tem que
abrir uma sacola. Existem 2 saquinhos estéreis, que nós, como cirurgiões,
compramos os sacos, porque o hospital não fornece. Então, eu comprava o saco
para poder botar esse órgão, que o saco é estéril. Entendeu? Então, eu boto com
gelo estéril e esta solução, porque ele não pode congelar o órgão, ele tem de ficar
gelado, mas não congelado, senão você perde função.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor lembra o nome
dos 4 médicos que iriam participar no implante, ou no transplante, no caso um
implante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu não me lembro, não. Eu pego
todo dia isso aí, imagina.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Mas essa equipe era
uma equipe de plantão, não era uma equipe que trabalha diretamente com o
senhor?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Porque o senhor falou
anteriormente que o senhor tem uma equipe.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Tenho uma equipe, uma equipe
de cirurgiões. Mas o pessoal da enfermagem é o pessoal que está ligado ao plantão,
e existia uma pessoa que estava ligada diretamente ao transplante.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Em que momento? Não
vou dar continuidade aqui, mas eu quero somente encerrar, o Relator e o Presidente
ainda têm algumas perguntas a fazer. Mas em que momento o senhor tomou
conhecimento de que não se poderia fazer o transplante ou o implante no paciente
que iria receber, no receptor no caso? Em que momento o senhor tomou
conhecimento de que não se poderia fazer o implante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Quando o paciente estava na sala
de cirurgia, na mesa cirúrgica, que as pessoas que estavam envolvidas com
anestesia perceberam que não tinham o material adequado para me dar suporte. Eu
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disse: “Isso aí é uma fria. Eu não vou poder fazer essa cirurgia.” Esse paciente já
tinha uma cirurgia prévia, o que ia sangrar bastante, e eu não tinha condições de
fazer isso aí.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Esse paciente veio a
falecer?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Faleceu 7 meses depois.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Sete meses depois.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Por falta de fígado. Quer dizer,
não foi transplantado, a mortalidade na lista de transplante deste País chega a
quase 50%. De 100 pacientes na lista, 50 morrem esperando por um fígado.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Bem, o senhor nunca
participou num ato de fazer a cirurgia, ou seja, retirar o órgão do doador? O senhor
já participou alguma vez?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, aqui não me lembro que
tenha participado. Mas o problema é que você vai fazer a retirada do órgão, e,
depois, você vai para a cirurgia. Você não tem capacidade física para isso.
Entendeu?
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Mas o senhor pelo seu
conhecimento médico...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu já tenho 50 anos, entendeu?
Para eu fazer duas cirurgias ao mesmo tempo! Retirar do doador, depois, eu tiro o
órgão, vou preparar aquele órgão para eu mesmo operar! É igual a eu chutar uma
bola, um corner, e correr para cabecear. Pode acreditar nisso.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor como médico
certamente o senhor tem conhecimento na área. Para se retirar o fígado, é
necessário se retirar o pâncreas também?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não. Deixa eu explicar por quê.
Quando nós temos uma retirada simultânea de fígado e pâncreas, nós não tiramos o
pâncreas, porque eles dividem vascularizações iguais. Eu tenho um livro aqui, e
quero mostrar para vocês, se vocês permitirem. Então, quando nós não vamos tirar
o pâncreas, quando nós não vamos usar o pâncreas para transplante, aí, nós
tiramos a cabeça dele, porque ali tem uma artéria que vai direto para o fígado, e, se
eu lesar essa artéria hepática, para eu corrigi-a posteriormente, é uma catástrofe.
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Ela vai trombosar, e o paciente vai ter que ser retransplantado. Então, a gente tira o
diafragma junto, tira a aorta inteira, a gordura toda em volta, porque eu já vi muito
dessas lesões. Meu chefe só faltava nos matar. Graças a Deus, eu não cometi esse
erro. Mas quando havia uma lesão dessas, era quase igual a botar o fígado fora,
porque consertar aquela artéria novamente, que já tem 4 milímetros, 6 milímetros de
diâmetro, é muito difícil. Mesmo com uma lupa, fica difícil fazer a anastomose. E
uma anastomose ali é uma anastomose fadada ao insucesso, uma lesão dessas.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está bem. Obrigado, Sr.
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Com a palavra o nobre
Deputado Pastor Pedro Ribeiro, Relator.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Dr. Montenegro. Presidente,
dê só um espaço para eu olhar para o rosto do doutor, e ele me olhar. Eu queria
pronunciar o seu nome corretamente. É Rolan, Rolandi ? Qual é a pronúncia correta
do seu nome, por favor?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Rolan, em brasileiro, Rolan.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Rolan. Muito bem, Dr.
Roland, antes que faça umas perguntas mais assim diretas ao caso, eu queria pedir
que o senhor me esclarecesse uma coisa. Em 2002, a cirurgia foi no dia 4 março de
2002, na época, qual era a sua função no Hospital de Base, além de um médico
transplantador?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu era o chefe da cirurgia-geral.
Chefe e responsável pelo transplante hepático.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito bem, era chefe da
cirurgia-geral, e responsável pelo transplante hepático. Muito bem. Na época, quem
era o coordenador da Central de Transplantes de Brasília?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu acho que é o Dr. Sérgio
Cavechia, parece.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Sérgio Raimundini, não é?
E tal.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso. Raimundini Cavechia.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito bem. É porque eu
penso que o ouvi afirmar, nesta manhã, que o senhor... Que nós já ouvimos o Dr.
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Sérgio aqui, já ouvimos o Dr. Sérgio. Eu creio que o senhor haja dito nesta manhã
que o Dr. Lucas, que nós vamos ouvir logo mais, seria o coordenador de transplante.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É, acho que se eu cometi isso aí,
desculpe, foi um erro meu.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito bem, então, ele não
era, na época, coordenador, era o Dr. Sérgio.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Me perdoe por isso.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito bem. O senhor já
disse, está bem claro em todos os assentamentos da Casa, na gravação e imagem,
que o senhor não participou da retirada dos órgãos.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não participei.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Não. Não. O senhor não
era, como o chefe da cirurgia, o responsável pela cirurgia? Ou era, em razão da sua
função responsável por toda a operação cirúrgica, da retirada e do implante de
órgãos?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu era responsável por todo o
procedimento, entendeu?
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Cirúrgico que houvesse?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Só que eu tenho que delegar
poderes para os meus assistentes...
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Sim, é.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - ... e eles têm (inaudível.).
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Assim é a sina dos líderes.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - A gente assume o cargo e o
encargo, colocamos pessoas para nos ajudarem. Uns fazem muito bem...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Exatamente.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - ...e limpam a vida da gente
até, e outros complicam. O senhor afirmou que o Dr. Lucas foi quem realizou a
retirada dos órgãos. Quem o auxiliou nisso? Ele não fez isso só. Quais eram os
médicos que o auxiliavam?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu não sei. Eu acho que ele vai
informar o senhor melhor, eu não tenho...
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O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - O senhor não lembra?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - ... condição. O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Certo. Muito bem. Havia...
o senhor afirmou, confirmando o que nós sabíamos, que a razão de tudo, de
estarmos aqui inclusive, foi a falta de estrutura do centro de recepção do órgão que
viria para o implante no cidadão, no Sr. Ramon, porque os Swan-Ganz estavam com
problema; o catéter; o senhor já explicou que era um paciente que já tinha uma
cirurgia anterior, que poderia haver muito sangramento. Então, seria fatal a operação
dele sem aquele aparelho. Quem era o responsável para manter esses instrumentos
prontos? Porque certamente o senhor teria um auxiliar também nesta área e, ao ser
chamado para um implante desse, teria que estar tudo pronto. Isso inclusive foi uma
decepção para o senhor chegar, encontrar e ver que não estava. Quem era o
responsável desta área?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Essa área, ela é restrita à
anestesia.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - À anestesia.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É a anestesia que fica
encarregada dessa área?
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Hum.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Porque eu não posso me
envolver, Deputado, com... em ver pacientes, em operar outros tipos de cirurgia,
cuidar de residência médica e ver uma coisa que não é da minha alçada, entendeu?
Como o senhor falou, cada um que tem estar envolvido.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Sei.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Mas essa é... é uma coisa que diz
respeito à anestesia, os catéteres que eles usam para...
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Eu presumo que na hora
que o senhor, como responsável pelo ato cirúrgico, chegou, que viu que não poderia
fazer, que havia um fígado saudável, pronto para ser transplantado, posto naquele
homem necessitado, e, de repente, o senhor com seus 4 auxiliares diretos, prontos
para o ato cirúrgico, e não poder, certamente o senhor foi direto à pessoa
responsável pelo local. É por isso que eu peço que o senhor lembre quem foi a
pessoa a quem o senhor se dirigiu para dizer: “Como pode isso aqui?”
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu acho que ele já depôs aqui.
Esse Dr. Renato foi atrás desse catéter, desses monitores, e não os achou.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Quem? Quem foi ele?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Dr. Renato Viscard. Acho que ele
já...
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito bem. Eu queria
confirmar exatamente isso. Ele realmente disse. Eu havia perguntado ao diretor da
época, que esteve aqui conosco, e ele disse: “É, lá tinha mais de um, doutor?” Ele
disse: “Tinha, tinha mais de um.” E por que a equipe não trouxe esse outro aparelho
para substituir? E o Dr. Renato disse que havia mais 2, mas um quebrado, e outro
estava sendo usado na UTI. Então eu perguntei ao Dr. Sérgio. Ele disse assim, até
achou meio agressivo, mas eu disse: Isso não é uma tremenda negligência? É uma
tremenda negligência um Hospital de Base... Como eu disse, eu sou do Ceará,
quando alguém diz que é trazido de lá para ser operado aqui, é até uma honra. E de
repente a gente descobre que uma criança, com órgãos perfeitos para doar, são
perdidos porque o aparelho, que eu diria, num ato desse até muito simples, simples,
não funcionava. Dr. Roland, isso me faz pensar. O senhor fez 15 transplantes no
exterior, entre a Alemanha e os Estados Unidos; fez 10 aqui; nos trouxe uma cifra
arrasadora que dos 10 feitos aqui, 1 sobreviveu. O senhor é um transplantador ainda
entusiasmado ou já está frustrado dessa área? Qual é o seu sentimento hoje quanto
a isso?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É, eu vou lhe confessar que eu
estou bastante decepcionado. Bastante decepcionado porque não foi isso... não era
isso que eu queria para minha vida, não.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Eu imagino.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - O investimento foi alto, eu fiquei 5
anos fora desse País, e o senhor sabe como é viver lá fora, não sei se o senhor já...
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Já, vivi 3 anos na Europa.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu já fui até chamado de esquimó
na Alemanha e confundido com um terrorista iraniano nos Estados Unidos. Então,
isso tudo me fortaleceu espiritualmente, entendeu?
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Hum.
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Porque a gente faz um trabalho
desse e chega aqui a gente não tem perspectiva nenhum. Quer dizer, no Ceará
hoje, seu Estado, aquele rapaz, eu não sei o nome dele, já o conheci pessoalmente,
já fez 50 transplantes no Ceará. Isto aqui...
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - É no Hospital de
Messejana, não é?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isto aqui é a Capital do País, onde
estão todas as embaixadas, Deputado.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - É verdade.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Entendeu? E nós não
conseguimos fazer naquele hospital a cirurgia de alta complexidade, porque nos
falta condição de fazer.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Eu notei, doutor, olhando,
vendo o senhor, homem de 50 anos, o senhor é militar?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Não, mas trabalhando,
tendo feito cursos fora e certamente investiu, e eu sei o que é morar lá fora, mesmo
que tenha condições. E quando se é estudante ou residente, eu não tive o privilégio
de ser residente na área médica, eu era missionário, talvez sofrido tanto quanto ou
mais, mas imagino o que é chegar ali, absorver cultura, absorver conhecimento,
preparar-se numa área como o senhor, vir para a Capital do País, onde, o senhor
disse, estão as embaixadas, estão os 3 Poderes, e o senhor hoje está aqui
respondendo em razão de ter participado de um ato cirúrgico frustrado,
decepcionante, que hoje é manchete nacional. Agora, doutor, eu vou ainda, me
permita, complicar mais a situação. Vê-se que a equipe, talvez de uma forma direta
e de ações imediatas, não tinha tanta culpa. Mas a gente nota que o todo do hospital
estava de perna para o ar. Veja bem: pode, eu queria pedir isso ao senhor, ser
enviado um órgão de um setor, de uma área do hospital para outra sem
acompanhamento documental, sem uma requisição, sem BO, sem BI, uma coisa
interna?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, Deputado.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Não pode.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não pode.
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O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - É verdade. O Diretor do
hospital, quando esteve, queria que alguém me lembrasse o nome do diretor do
hospital da época, eu esqueci. Dr. Oscar. Dr. Toscano. O Dr. Toscano disse: “Olhe,
Deputado, se for mandado um chumbinho retirado de um corpo de alguém para
outro setor, tem que acompanhar um BO, um BI”, eu não sei bem como é o nome do
documento. Isso eu tinha certeza, porque em qualquer organização tem isso, ainda
mais num hospital, que trata da vida humana, de órgãos humanos, de restaurar
vidas de algumas que estão indo e de outras que estão chegando ou, presume-se,
queriam chegar. O Dr. Sérgio Raimundini disse aqui, e essa informação está nos
nossos Anais, que ele, Sérgio Raimundini, participou com o senhor e com o Dr.
Lucas da retirada dos órgãos. Ele afirmou isso aqui, que retiraram juntos. Aí, na hora
da perfusão, ele estava. Aí eu perguntei: “Doutor... “ Que eu sou o responsável... Ele
disse: “Eu sou o responsável por essa tramitação”. Eu disse: “E daí, depois do
fígado, que ele não se lembra, mas o senhor já explicou e ele também, que às vezes
é preciso tirar a cabeça do pâncreas para que não danifique o fígado, um ato de
cuidado, de preservação. Mas ele não se lembra de ter visto nem a cabeça, nem o
tronco, nem o membro, nem as pernas, nada — desculpe a brincadeira — do
pâncreas”. E disse: “Eu não sei”. Eu disse: “E daí, doutor, o senhor retirou junto com
eles, ajudou a perfusão, e esses órgãos ficaram com quem?” Aí ele disse: “Os
órgãos ficaram com o Dr. Roland e com o Dr. Lucas”. Aí eu digo: “Ah, é a eles que
eu quero perguntar”. Então, eu fiz o requerimento pedindo que os senhores viessem,
porque eu queria, doutor, e esse Brasil necessita, e a saúde desta Nação, e esse
grande projeto de transplante da Nação precisa ouvir do senhor para onde foram o
fígado e o pâncreas desse garoto. Que caminhos eles traçaram, baseados,
alicerçados ou documentados através de quê? Porque nós temos relatório aqui, que
depois, quando começou essa busca, há informação de uma sindicância que foi feita
pela própria diretoria do hospital, o Dr. Toscano disse que providenciou, que havia
sido incinerado. Mas há uma outra informação, e eu até tenho aqui formalizada, mas
comecei a conversar mais diretamente, depois, se tiver alguma coisa, eu pergunto,
lembro, que tinha sido sepultado. Então, eu disse, aí o responsável pela patologia
também esteve, quem se lembrar do nome me diga, esteve aqui também e disse:
“Não, eu recebi, eu estive com ele na mão, fui eu que mandei incinerar com o
restante do material cirúrgico, mas eu não recebi papel nenhum”. Eu disse: “Pode,
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doutor?” Ele disse: “Não pode”. É aí, Dr. Roland, que me preocupo em olhar para o
senhor e ver um profissional experiente, com experiência internacional, um tanto
quanto já frustrado pelos transplantes nesta Nação, mas principalmente no Hospital
de Base. Como nós vamos encontrar, como nós vamos nos aquietar, sabendo que
não podem explicar documentalmente, que é o que é válido, para onde foi o fígado e
o pâncreas desse garoto? É essa a nossa pergunta.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu acho que a cabeça do
pâncreas vai junto com o fígado.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Certo. Mas vai sem
documento, vai sem prova?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Agora, quando esse fígado fosse
mandado para a patologia, devia ser dito por alguém que mandou: “fígado retirado
para transplante; não foi utilizado”, e identificar o nome do doador. É isso.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Exatamente. Aí, doutor, nós
precisamos encontrar, se não é o senhor o chefe da cirurgia geral do hospital da
época, se não é o senhor que o companheiro... Vamos ouvir isso também do Dr.
Lucas, e já esteve aqui Sérgio Raimundini, que disse que o senhor participou do ato
cirúrgico com ele. E foi ao senhor e ao Dr. Lucas que ele entregou, que ele deixou,
confiou esses órgãos. Como os senhores vão se explicar, não tendo esse
documento? O documento teria que ser assinado pelo senhor, eu acho, porque era o
chefe da cirurgia...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - ...ou pelo Lucas.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não podia ser assinado por
mim; podia ser assinado por mim ou por qualquer outra pessoa da equipe que
tivesse participado.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Sim, mas, pelo menos... É,
como eu disse, então, do Dr. Lucas, que era um dos mais importantes na cirurgia. E
nós não temos documentos. É essa aí, doutor, a razão por que nós estamos
querendo os senhores aqui. Existe razão sobeja para nós os convidarmos, e o
senhor está sobre juramento para não ficar calado e dizer a verdade. O que foi feito
do fígado e do pâncreas do Marcos Henrique?
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Ah! Eu não sei lhe falar isso aí. Eu
não tenho conhecimento deste momento, a partir da decisão de não ser operado, e
do que foi feito com o fígado dele.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - O senhor entende que esta
CPI, tendo sido estabelecida — e nós estarmos trabalhando —, e tendo nos
chegado esse caso, nós vamos ter que ir fundo nisso aí, fundo. Eu já soube que há
um rebuliço no Hospital de Base em razão da vinda do Raimundini e do Toscano,
em razão de a gente ver que o hospital não funciona. Numa área tão grande, o povo
diz que quem não... sei o quê.. não mete mão em cumbuca, não sei o quê.... Lá no
Ceará, dizem: “Quem não pode com pote, não pega na rodilha”. Então, como é que
o Hospital de Base, com tanto nome — o senhor mesmo é réu confesso, não
diretamente — e, sem ter condições de transplantar... Atualmente, está
transplantando ou está suspenso?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não. Desde essa época, a
gente não transplanta mais.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Desde essa época que foi
suspenso. Acho que foi feito muito bem, não é?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu não me atrevi mais a fazer
qualquer coisa.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Certo. Então, Dr. Roland,
nós vamos ouvir o Dr. Lucas e nós vamos ter que ir muito a fundo para descobrir o
que foi feito, de fato, com o fígado e com o pâncreas. Ela não havia doado o
pâncreas. Tem que haver a expressão da mãe ou do pai do doador do pâncreas.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu sei.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Eu sei que poderia explicar
sobre a cabeça do pâncreas, explicar e tal. Mas, depois, quando ela recebeu o corpo
ou, se não me engano, acho que foi assim, é que estava lá o pâncreas. Aliás, o
pâncreas não estava e foi dado como sumido, como também sumiu junto com ele o
fígado. O que você acha disso?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu acho que o Dr. Lúcio vai
explicar melhor isso aí. Mas, quando se tira o pâncreas numa pessoa jovem, a cor
dele, o senhor sabe, é muito parecida com a gordura. Eu acho que, no momento em
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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que foi feita a autópsia, ele não deve ter observado que a cabeça... o corpo fica lá
por debaixo do estômago.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Sei.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Ele não deve ter observado isso.
Fez autópsia, talvez, uma coisa mais simples, entendeu?
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Sei.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - E não percebeu que era só a
cabeça que tinha saído junto com o órgão, com o fígado.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Estou ouvindo bem.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É o que a gente tira realmente. Se
houver uma lesão dessa, eu descarto o fígado, como eu vi algumas vezes lá. Se
houver uma lesão da artéria hepática, que passa por trás da cabeça do pâncreas...
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Sim.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - ...você não tem como implantar o
fígado, porque a artéria é muito fina. Não tem como fazer uma anastomose. E uma
anastomose entupida, dentro de um fígado, uma anastomose arterial é igual a
retransplante. O fígado necrosa.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Pode, pode.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Dr. Roland, o senhor já
falou 2 vezes, inclusive o senhor citou, anteriormente, ao dar informação
parlamentar, que, nesse caso, quando há lesão na retirada do fígado e da artéria, do
pâncreas, e for feito o transplante, é a mesma coisa que jogar o fígado fora. É isso?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É, na maioria das vezes, se você
não fizer uma anastomose bem feita...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Fale perto do microfone.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Na maioria das vezes, se se fizer
uma anastomose bem feita, com microscópio, pode ter sucesso. Pode ter certeza.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor já participou de
caso onde houve a lesão e, mesmo assim, foi feito o transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Já.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quem era o responsável
pelo transplante?
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Ah! Não foi aqui, não. Foi aqui
não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Foi onde?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Foi nos Estados Unidos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Ah! Nos Estados Unidos.
Aqui, não?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Aqui, não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Tudo bem.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Eu queria só ouvir do
senhor uma resposta. O senhor não acha que o cirurgião responsável pela
captação, bem como o médico responsável pela monitoração do receptor, no caso,
Dr. Renato Viscard, não deveriam previamente verificar as condições dos materiais e
equipamentos necessários ao procedimento?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Essa é uma boa pergunta. Deixa
eu lhe explicar: partindo do princípio de que aquele hospital que se diz terciário, que
opera, faz cirurgia cardíaca, ponte safena, ele tem Swan-Ganz constantemente, não
é necessário se preocupar com o material, sendo que o transplante é simplesmente
o comboio que entra neste trem andando. Entendeu? Para um hospital desse fazer
um transplante hepático, ele tem que funcionar a mil maravilhas. O que faltou? O
trem não estava bem pilotado, estava desgovernado. (Risos.)
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Quem era o timoneiro
desse trem? Tem que haver o responsável, o monitor, o timoneiro desse trem. É
timoneiro que a gente chama?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Maquinista.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - E eu não sei bem se,
quando se conduz trem, há o principal e o auxiliar. Eu presumo que tenham 2
grandes responsáveis, Dr. Toscano e Dr. Roland Montenegro.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É, se é assim...
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - E também o Dr. Sérgio
Ramundini, que era responsável pela captação de órgãos. Para fazer o hospital
funcionar, eram os chefes, os cabeças. Não é? Aí, doutor, que a gente fica
preocupado.
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu queria ter o poder realmente
para modificar alguma coisa ali.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Se o senhor tivesse
poder, o que o senhor modificava?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu procurava...
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Começava tudo de novo,
não é? (Risos.)
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu procuraria aparelhar o hospital
dos melhores instrumentos que existem atualmente, entendeu? Procuraria fazer
uma educação continuada que nós não temos. Se eu quiser participar de um
congresso, como eu estive agora, tenho que economizar durante 6 meses para
viajar, para ir ao congresso ficar em casa de amigos, dormindo num quartinho,
como fiz agora ao ir aos Estados Unidos. Foi um congresso sobre cirurgia de fígado.
E mudar a mentalidade... Que esse hospital, temos que considerar que é o maior
hospital...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mudar a mentalidade de
quem?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - A mentalidade do gerenciamento
dessa instituição.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Do gerenciamento, da
administração.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Nesse hospital, quer queira, quer
não queira, um dos nossos filhos ou um de nós, um dia, vai ter um acidente e vai
chegar àquela emergência e não há equipe de soro para aplicá-lo no paciente. Não
vai ter uma pilha para se colocar no laringoscópio para intubar o paciente. Não vai
ter instrumento adequado para se fazer a sutura. Isso já foi pedido há muito tempo,
mas agora parece que está se acordando para a coisa e está se tentando se fazer
alguma melhora, depois de tanto tempo. Uma licitação demora 2 anos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Doutor, quem solicitou o
credenciamento do hospital para realizar transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Acho que foi eu e o Lúcio.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor, conhecendo
todos esses problemas do hospital, até problemas pequenos que não são
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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resolvidos, e constantes como o senhor diz, não sabia que não podia ter
credenciamento — já sabemos que transplante é cirurgia de alto risco e exige
realmente hospital de alta complexidade —, que ele não estava apto para ser um
hospital de referência para transplante em Brasília?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É difícil lhe explicar isso, porque
aqui há médicos e médicos cirurgiões gostam muito de desafios. Aqui, eu faço mea-
culpa. Chega o paciente na segunda-feira para operar tumor hepático gigante, a
quem vou mandá-lo aqui em Brasília, se eu sou a pessoa que faço isso, que fui
treinado para isso? Eu vou correr risco. Entendeu?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Na verdade, o senhor não
corre risco; quem corre risco é o paciente.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Também.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Fica fácil, porque o
médico não corre risco, mas, sim, o paciente, a família.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu vou correr risco no ato
cirúrgico. Agora, ainda bem que vocês não viram meu nome na mídia a respeito de
complicações dessas cirurgias que são feitas lá, as cirurgias de alta complexidade,
senão, já teria meu nome há muito tempo aí, se eu tivesse alguma...
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Eu quero só um aparte, Sr. Presidente.
Parece-me — pelo que tenho percebido, muito embora não seja médico — que
ocorre o seguinte: não seria preciso grandes equipamentos como o Dr. Roland falou,
mas o básico. Parece-me que naquela cirurgia de fígado faltou o básico. Mas
precisa também, na minha opinião, haver consciência entre os médicos — e digo
não como crítica destrutiva, mas construtiva — de se começar a denunciar. Senão,
o que acontece? Ele acaba sendo co-responsável. Ele chega numa cirurgia dessas,
aí, um bando de picaretas muitas vezes não dá o equipamento adequado, não avisa
que não tem os equipamentos. O bando de picaretas que estou dizendo são as
pessoas que deveriam propiciar isso; ouviu, doutor, só para esclarecer.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Estou entendendo.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Na verdade, nós temos aí, ao que parece,
grandes arapucas. E os cirurgiões, quando chegam e constatam isso, fazem a
cirurgia, muitas vezes, com risco para eles, de responder a um processo — que
deveriam responder. Muito embora o senhor tenha que salvar aquela vida, o senhor
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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tem o papel também de denunciar o mau funcionamento do hospital, que está
expondo o senhor. Quando o senhor começa a aceitar isso, tal situação vira uma
prática. Aí, eles não vão melhorar, porque “está tudo certo, ninguém reclama,
nenhum médico reclama; então, vamos tocando como está.” E vai morrendo gente e
vai acontecendo tudo isso. O Ministério Público também não atua na área de forma
eficiente; deixa correr solto. Existe uma coisa interessante que eu não sei se há aqui
na Câmara dos Deputados também. Vou ser sincero, mas é muito maior na área
médica: o corporativismo. Muitas vezes, o médico vê que houve um erro ali e ele
não denuncia. E, aí, o que vai acontecer? Quando este Brasil acordar, os médicos
que não denunciam, inclusive, vão começar a responder judicialmente por essa
omissão, doutor. Então, a gente sabe que, quando o senhor chega lá, havendo uma
emergência, o senhor tem que fazer a cirurgia. Após a cirurgia, o senhor deveria
fazer constar num relatório, pegando uma cópia, a condição precária que o
submeteram para fazer aquela cirurgia. Isso até como salvaguarda para o senhor,
para que não responda a processo futuramente. Já se foi o tempo em que as
pessoas morriam e ficava por isso mesmo. Toda a classe médica agora, quando
constatar que existem arapucas ao invés de hospitais, tem de chegar lá e: “Tudo
bem. Vamos salvar a vida do paciente. Vou me submeter ao risco. Mas, terminou a
cirurgia, quero um relatório aqui dizendo que isso aqui está quebrado, que isso não
funciona, que não tinha anestesista no horário certo.” Para salvaguardar vocês.
Vejam que, nos Estados Unidos, hoje — o senhor sabe disso porque já trabalhou lá
—, os médicos fazem seguro contra erro médico, porque lá a população já está
conscientizada e vai atrás dos direitos dela. Agora aqui, no Brasil, infelizmente
estamos anos, décadas atrás dessa legislação americana. Espero que a CPI do
Tráfico de Órgãos desperte a classe médica, que são vocês, para esse problema,
não com o intuito de prejudicá-los, mas para que inclusive possam se proteger.
Quando perceberem que não existem essas condições, vocês mesmos devem ser
os primeiros a denunciar, sob pena de terem de responder processo por conta de
má administração hospitalar.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Dr. Roland, estava aqui
meditando. Ao ouvi-lo, ao ouvir o Dr. Sérgio, o Dr. Renato Viscard, todos os
senhores... Quero até dizer, Sr. Presidente, não sei se o senhor sabe que esta CPI
foi alvo de bombardeios até do Ministro da Saúde, de que estaria se levantando
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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contra os transplantes. Mas acredito que haverá uma história do passado, com boas
leis mas muita negligência, antes desta CPI, e outra após esta CPI. Nós temos dito,
reiteradas vezes, que somos a favor dos transplantes. Agora, fica muito claro, depois
de cada um que se ouve, que as leis são boas, mas não são observadas, talvez,
muitas vezes, pela necessidade de se fazer tudo às pressas, como também pela
falta de aparelhamento dos hospitais, que foram autorizados sem que tivéssemos
visto a razão do porquê. Vejo, Sr. Presidente, que vamos ter — nós ou quem quer
que seja, acho que nós — de pedir sindicância do Ministério da Saúde dentro do
Hospital de Base para ver se a coisa pode mudar, porque sabe-se que o médico tem
realmente que “operar com as unhas”. Sabemos de oftalmologistas que têm que
pagar do bolso o anestésico para operar. Então, não pode a população, que confia
no Hospital de Base, por exemplo, entregar o corpo do próprio filho - um menino de
nove anos - , e outros, para serem transplantados. Os médicos preparados para
fazê-lo não o fazem condignamente, dentro da lei, porque não há observância e não
há estruturação. Termina-se caindo num caso destes, complicado. Eu diria, doutor,
que a coisa está complicada para os senhores. Está complicada porque a coisa não
é simples. Não se pode explicar que um fígado e um pâncreas desapareçam sem
nenhum documento. Não tem. Só se sabe que existiu material recolhido e, depois,
não se sabe para onde foi. Evaporou-se. Isso é impossível. E, inclusive, já há duas
afirmativas que pioram a situação: um documento dizendo que foi incinerado e outro
dizendo que foi sepultado. Então, Dr. Roland, o senhor tem alguma coisa para nos
dizer acerca da destinação desse fígado e desse pâncreas? É minha última
pergunta.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não. Sinceramente falando, eu
não tenho o que lhe falar a respeito desse momento...a partir do momento em que
tomamos a decisão de não transplantar, para onde foi o fígado.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Só para concluir. O Dr.
Sérgio Raimundini, quando afirmou que participou da cirurgia com o senhor e o Dr.
Lucas, ele se equivocou? Ele estava errado?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Talvez ele tenha se equivocado.
Ele entrou em várias situações para olhar o fígado, para olhar o rim, porque ele é
nefrologista.
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O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Mas, nesse caso, ele não
estava?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Ah, eu não me lembro, não. Não
me lembro porque não estava lá.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - O senhor lembra que o
senhor não estava?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu não estava lá.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Está bom.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Sr. Roland, o primeiro
transplante do senhor realizado no Brasil foi em qual ano?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - No ano de 2000.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Foi o senhor que solicitou
o credenciamento do Hospital de Base para realizar o primeiro transplante ou lá já
realizavam outros tipos de transplantes?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não. Deixe eu explicar melhor,
porque tem um hiato aí. Foi feito um transplante antes, mas acho que as legislações
não estavam ainda...não tinha legislação. Só começaram a ser feitos por mim já com
a legislação pronta.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Antes de 2000, o hospital
já havia feito transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Já tinha havido um transplante lá.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Um?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Um.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor sabe quem fez o
transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Sei, sei.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Qual o nome do médico?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Mário Augusto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Ele era autorizado pelo
SUS para fazer transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu não sei dessa parte. Não
participei dessa parte.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mário Augusto foi o
médico que realizou o primeiro transplante no Hospital de Base de Brasília?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Em 2000, o senhor
chegou dos Estados Unidos ou já estava aqui há mais tempo?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, eu estava aqui em 94. Já
estava aqui, mas não fui chamado para participar disso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O que levou o senhor a
solicitar o credenciamento do SUS para realizar transplantes no Hospital de Base de
Brasília?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu tinha treinamento do melhor
centro de transplante do mundo; o Lúcio tinha feito um treinamento, acho que no Rio
de Janeiro e em Miami, e havia uma equipe de clínicos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Lúcio Lucas, não é?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Lúcio Lucas. Tinha uma equipe de
clínicos que me dava o suporte perfeito. Tinha o Renato, que tem estágio, acho que
na Escócia. Eu tinha um outro anestesista, que tinha ficado em Pittsburg uns dois ou
três meses. Eu tinha uma equipe maravilhosa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O José Tadeu fazia parte
dessa equipe?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - O Tadeu, exatamente, é
anestesista.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O Mauro Carvalho?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Mauro Birche?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Birche de Carvalho.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - O Mauro Birche é um
gastroenterologista, esteve na França, prestava excelente serviço...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Fazia parte da sua
equipe?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso. Todas essas pessoas faziam
parte.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - José Eduardo fazia parte
da sua equipe?
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - José Eduardo esteve em
Cincinatti.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Alexandre Miranda fazia
parte da sua equipe?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Alexandre, anestesista, era um
jovem médico que está em Paris, hoje, fazendo anestesia lá.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, essa era sua
equipe de transplante de fígado, que foi credenciada através da Portaria nº 129, do
Ministério da Saúde. Com essa equipe, o senhor poderia realizar transplantes?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Posso, se me derem condições.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Tudo bem. No caso da
falta de algum desses membros, o senhor poderia realizar o transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Se não faltar, para mim, um
cirurgião que me auxilie, eu posso fazer, sim.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Se faltar o anestesista, o
senhor pode?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não. Anestesista tem dois; se
faltar um, não tem problema.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Tudo bem. Quem estava
com o senhor no dia do transplante, que fazia parte da sua equipe, e estava dentro
da sala retirando os órgãos?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, eu não tirei os órgãos. Eu
cheguei com o órgão já tirado e o paciente estava na sala. Encontrei Renato,
encontrei Lúcio, encontrei o Tadeu e foi tomada essa decisão
de não...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quem retirou, então, os
órgãos do ...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Foi o Lúcio.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, quando o senhor
chegou na sala, ele já havia retirado os órgãos?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Já tinha retirado os órgãos. Disse
que órgãos prefeitos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - E quem estava com o
Lúcio na sala?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Devia ser um residente. Eu não
lembro, eu não estava lá, não posso afirmar alguma coisa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Segundo a legislação,
quem deveria estar com ele no momento dessa retirada dos órgãos? Não era essa
equipe?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, isso aí não é obrigado estar
lá, só essa equipe fazia parte disso. O residente em treinamento pode ter ajudado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Pode ter ajudado?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor conheceu o Dr.
Ricardo?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - O residente não pode é tomar
decisão. Havia uma pessoa, um cirurgião full-training , quer dizer, um cara formado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O Dr. Ricardo estava
presente?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso eu não estou lembrado não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O Dr. Wagner estava
presente?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Se está escrito aí, com certeza,
Deputado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O.k. O senhor disse que
realizou, a partir do credenciamento pelo SUS, no Hospital de Base de Brasília, 10
transplantes de fígado. Confirma só para a gente no microfone... não, no microfone,
porque eu preciso que o senhor responda no microfone.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Acho que foram uns 10
transplantes.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Dez transplantes. Desses
10 transplantes realizados, o senhor disse anteriormente que só um está vivo.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Só um está vivo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor acha que esse é
um índice aceitável?
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não é índice aceitável, não.
É índice aceitável para um serviço que está começando, um serviço com
dificuldades. Nós operamos pacientes com (Ininteligível.), pacientes no último
estágio de doença hepática. A mortalidade desses pacientes é alta. Eu não ia
rejeitar esse paciente por causa disso. Eu ia tirar a única chance dele de sobreviver.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - No seu entendimento, o
que levou ao óbito?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Ah, sim. O senhor nem imagina as
complicações que têm um paciente transplantado de fígado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quais são essas
complicações?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Dou exemplo, complicações
infecciosas: você pode ter desde citomegalovírus, você ter herpes, sífilis, herpes-
zoster, que são vírus CMV. Depois tem os fungos, cândida, que ocorre em qualquer
lugar do corpo do indivíduo, desde o cérebro, aspergillus flavus, aspergillus
fumigados, bactérias...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Qual a chance de um
paciente com essas doenças de fígado sobreviver, então?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - As chances dele? A média geral,
no primeiro ano, a gente faz assim: o de (ininteligível), sobrevive 80%.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - No primeiro ano,
sobrevivem 80%.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Oitenta por cento, o de
(ininteligível) . Existe a classificação em A, B e C.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - E no 5º ano em diante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - No 5º ano cai para 60, 45,
depende da patologia. Se for um câncer, você vai ter uma recidiva desse tumor.
Então, agora, existem outros protocolos com quimioterapia, para esses pacientes
que foram transplantados por tumor. Numa cirrose alcóolica, eles podem sobreviver
mais. A hepatite C é uma hepatite recidiva no fígado transplantado, e o doente vai
morrer. Aí a gente faz um tratamento adjuvante, faz ribavirina e interferon, caríssimo
o interferon que este País fornece a todos esses pacientes. Nas doenças auto-
imunes ocorre também uma sobrevida excelente.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, só resumindo, o
Hospital de Base de Brasília, desde o período de credenciamento até o fechamento,
foram feitos 10 transplantes de fígado? Dos 10 realizados, apenas um está vivo.
Noventa por cento, então, morreu.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso, mas não morreram assim,
no outro dia, morreram 2 anos depois, um morreu em 2 anos, teve embolia, outro
morreu 6 meses depois.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Não, mas olha só, nós
estamos em 2004. O credenciamento foi em 2000, em 20/04/2000. Então, dentro de
3 anos morreu todo mundo.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - A sobrevida em 4 anos foi10%.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Em 3 anos morreram
todos, 90% em 3 anos. Nós estamos em junho de 2004, foi em abril de 2000, não é?
Mesmo com todas essas dificuldades que o senhor apresentou do hospital, da
dificuldade do equipamento, o senhor acredita hoje que o sistema de transplantes do
Brasil funciona 100%?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não. Nós precisamos dar
mais condição aos hospitais que são credenciados, treiná-los melhor, pagá-los
melhor, porque essa instituição tem que receber esse valor. São acima de 50 mil
reais, uma coisa assim, esse transplante, e você adota esse paciente, Deputado.
Qualquer febre que ele tem, qualquer tosse, ele volta para o hospital, porque pode
ter uma CMV, pode ter uma infecção, uma trombose da artéria hepática, entendeu?
Então, acho que precisamos melhorar mais o sistema de transplante no hospital, no
Brasil como um todo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O Ministro da Saúde
insiste em dizer que, no Brasil, o sistema funciona sem problemas, 100%.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não. Olha, vou parar onde eu
estudei. Nós tínhamos um avião cedido nesse tempo pela ALCOA, um jato, porque
surgia um órgão em Manaus. “Olha, tem um possível doador aqui em Manaus”. Aí
uma equipe multidisciplinar assumia aquele paciente traumatizado, fazia-se os
testes e rapidamente uma equipe se deslocava daqui para lá — cirurgião cardíaco,
cirurgião do rim, cirurgião do fígado — e tirava-se esse órgão lá e esse avião vinha.
Quando esse avião pousava no aeroporto, nós iniciávamos a abertura do receptor,
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porque, às vezes, o avião podia cair, como aconteceu na Inglaterra, aconteceu no
Rio Grande do Sul, entendeu? Então, só quando o avião estava em terra é que por
telefone dizia: “Olha, nós estamos chegando aí. O fígado é um fígado bom, de
tamanho x, pesa 1kg e meio, é compatível com o nosso recipiente”. E aí se iniciava.
Mesmo assim, nós tínhamos que transplantar um fígado que alguém fez um
(Ininteligível.) diferente, ele cruzou, quer dizer, o tamanho do paciente com o
receptor. O paciente ficou sem fechar o abdome. Depois de alguns dias, depois de 2
semanas, como o fígado é um órgão fantástico, ele pode crescer e diminuir, esse
fígado diminuiu e nós pudemos fechar o abdome desse paciente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, o senhor acha que
o sistema poderia aproveitar melhor se fosse mais eficiente.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - É, nós tínhamos que aproveitar
melhor os aviões de carreira, melhorar as equipes de retirada de órgãos, melhorar
as equipes que dão suporte ao paciente que está em morte cerebral. Uma vez que
ele morre no hospital, ele é abandonado. Ah, é um cadáver, eu vou cuidar desse
paciente? Quer dizer, esse paciente, em outros centros mais desenvolvidos, tem que
ir para uma UTI e alguém vai cuidar dele como se fosse um paciente vivo, que esse
paciente vai salvar vidas. Ele vai doar 2 olhos, vai doar 2 pulmões, vai doar um
coração, 2 rins, articulações, o joelho, pele. O paciente é usado como um todo,
entendeu? Nós estamos longe disso aí, mas eu acho que esta CPI realmente vai
melhorar muito, pelo menos vai saber que nós temos que dar satisfação para a
sociedade, entendeu? Eu imploro a vocês que vocês fossem no Hospital de Base ou
em outros hospitais deste País a cada 2 meses e ouvissem a reclamação do médico
que está no front, que está em cima do paciente. O paciente chega em você
agredindo, chega armado para você porque tem um problema social, tem um
problema psicológico, as condições são péssimas para se trabalhar. Eu posso falar
isso e afirmo e vou continuar afirmando: as condições são péssimas para se
trabalhar nessas instituições. Eu fico envergonhado de estar lá num pronto-socorro
daqueles, porque os pacientes são tratados como animais, entendeu? E nós
também, nós estamos juntos nisso aí.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Atualmente o senhor faz
parte de alguma outra equipe de transplante aqui em Brasília ou fora, em outro
Estado?
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O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, não faço, não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, o senhor não está
realizando mais transplante de fígado?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, por enquanto o nosso
serviço foi suspenso pelo Ministério da Saúde, pela ANVISA, pelas condições lá do
hospital. Nós vamos esperar que, após essa reforma e após a compra dos aparelhos
que estão pedidos há alguns anos, nós possamos tentar novamente implementar o
serviço de transplante. Talvez não seja para mim, mas eu quero participar e abrir
essa clareira aqui em Brasília, que foi essa cidade que me recebeu — para cá que
eu migrei —, de abrir essa porta para outras pessoas que vão vir atrás de mim,
outras pessoas mais jovens que estão pensando nisso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, o senhor acredita
que houve, na verdade, além vamos dizer da negligência por parte de alguns
membros da equipe que deveriam estar cientes de que não tinha equipamento
necessário para realizar uma cirurgia de alta complexidade, que é o caso de um
transplante, também houve por falta do Ministério da Saúde ou pela Secretaria de
Saúde do DF, vamos dizer também uma negligência de credenciar o hospital que
estava com tanta dificuldade, com tantos problemas administrativos e mesmo assim
tinha o credenciamento para fazer o transplante?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, Deputado não é negligência
por parte da equipe, eu já coloquei para o senhor...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Não, veja só: tinha um
cidadão responsável para ver se os aparelhos estavam aptos, se tudo estava o.k.
para realizar o transplante. O receptor foi chamado no hospital, o órgão foi retirado
e, na hora de realizar o transplante, fazer ali a cirurgia de implante do fígado: “Ah,
está faltando Swan-Ganz, está faltando um catéter”. Então não houve ali uma... não
tinha uma pessoa que era responsável para ver se todos os equipamentos e
procedimentos necessários para o ato cirúrgico estavam o.k.? Não foi feito isso?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - O serviço que tem uma rotina... eu
acho que isso não tem que ver. Talvez, como não era uma rotina o transplante, não
é, pode ser que houvesse... que alguém chegasse e checasse isso previamente.
Nisso aí o senhor tem até razão.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Porque até quando nós
vamos viajar, o Conselho Nacional de Trânsito diz que a gente tem que olhar o
estepe, tem que ver o extintor, nós temos que olhar o freio, tem que fazer uma
revisão para viajar no carro, para não ser surpreendido na estrada. Eu entendo que,
também, no procedimento cirúrgico, antes de realizar a cirurgia, o médico tem que
saber se o anestesista está no hospital, se tem UTI disponível, quanto tempo pode
ficar disponível aquela UTI ali, caso o paciente tenha uma complicação. Todos esses
procedimentos são adotados para realizar uma cirurgia comum. Agora, uma cirurgia
de alta complexidade, como no caso do transplante, eu acredito que esses
procedimentos são dobrados, tinha que ser essa a preocupação.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Eu concordo 100% com o senhor
nisso aí.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O.k. Com a palavra o
Deputado Geraldo Thadeu.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Sr. Presidente, primeiro, eu
gostaria de parabenizar o Dr. Roland pelo trabalho.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Obrigado.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - O transplante, no nosso País, é
recente, principalmente do fígado. E nós temos que ver os profissionais, como esses
profissionais que o senhor citou, que foram, cada um, em busca de conhecimento,
de preparo para se tornarem aptos a realizar uma cirurgia de alta complexidade,
como é o transplante de fígado. Nós sabemos que os transplantes vêm de uma
longa data, iniciou com o coração lá na África do Sul...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso, Dr. Barnard.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Não é isso? Dr. Barnard. E foi
evoluindo, até que hoje os transplantes de coração estão numa evolução bem maior,
e o fígado é mais recente. Nós temos aí a questão do rim, que também já está mais
evoluído. E hoje eu vejo que o Brasil tinha, inicialmente — há pouco tempo, até
pouco tempo mesmo —, uma equipe em São Paulo. Começou lá, no Hospital das
Clínicas, e daí outras equipes iniciaram, foram irradiando no País. Hoje, Brasília já
tem, Curitiba, eu acho que já tem. Então em algumas Capitais do Brasil já existem
equipes preparadas para o serviço de transplante. Eu vejo, também, que é bom, e
acho que essa CPI vai dar uma contribuição muito grande, mas não é só no
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transplante, não. Eu acho que não é só no transplante, não. Porque, quando se
chama atenção para o transplante, chama-se atenção para o tratamento de alta
complexidade. Mas, se nós formos avaliar, e como o senhor disse, fazer uma
inspetoria nos hospitais do País, praticamente poderia fechar 98% dos hospitais, se
as regras totais e absolutas fossem respeitadas. Eu vejo, por exemplo, que um
médico do SUS, ele recebe, por um consulta, 2 reais, 2 reais e 50, não é isso? Por
uma cirurgia de cesariana, eu não sei quanto é, parece 40, 50 reais. E acho que a
CPI pode dar uma contribuição nesse sentido também, porque o profissional que
trabalha, que luta — como o senhor foi para o exterior, os seus colegas foram,
investiram... E, depois, eu acho até... Eu tenho conhecimento de alguns médicos
que se negam hoje a fazer transplante, porque eles estão sujeitos a fazer um
transplante... mesmo respeitando aqui o nobre Deputado que me antecedeu, que
colocou que faria um transplante nessas condições, mas que, depois, faria uma
justificativa. Eu acho, nobre Deputado, que até isso aí para eles é complicado, que
mesmo esse transplante, em que eles fariam depois uma justificativa, eles podem
ser responsabilizados por uma imperícia, por uma questão de óbito, e eles estariam
acabando com a vida deles. Quer dizer, tentando salvar a vida de um, mas
acabando com a sua própria vida. Eu sou da área da Saúde, fui portador de hepatite
C 27 anos e com esses medicamentos que o senhor citou aí eu estou livre do vírus.
E estamos levantado a bandeira aqui a respeito da... Hoje, graças a Deus, o
Interferon Peguilado já está aí à disposição dos pacientes, com a luta que nós
estamos empreendendo, e acho que isso é um grande avanço, mas os transplantes
também precisam avançar. Eu acho que é uma oportunidade que tem de o senhor
dar uma grande contribuição com esse depoimento do senhor para que essa CPI
possa contribuir, sem dúvida nenhuma. Porque, na realidade, se nós formos levar
em cima da letra as condições em que os profissionais trabalham, hoje alguns
hospitais do País poderiam realizar transplantes, talvez o Sírio-Libanês, talvez o
Albert Einstein e um ou outro hospital de referência nesse País poderia, e 98% dos
outros fechariam todos os transplantes. E aí nós estaríamos impedindo de salvar
vidas no País todo. Então eu vejo, realmente, que essa condição... que nós temos
que ver... o senhor, que foi preparado, a sua equipe, que está preparada, apta, é
uma pena, é triste ver, depois de tanto esforço, de tanta luta, e uma equipe aí
completamente desativada, e pessoas morrendo quando tinham uma esperança de
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viver, não é isso? É claro que têm erros, fraudes, abusos. Se existe tráfico de
órgãos, se existe algum erro proposital que possa ocorrer, que as pessoas sejam
punidas, mas não pode ser generalizado. Eu acho que nós temos que separar muito
bem essa questão das condições em que se trabalha, as condições que se oferece,
que as equipes possam trabalhar, que os pacientes tenham de tentar ser salvos, não
é, de ter esperança de viver mais. E vejo também que, embora sendo dentista —
não sei se o nobre Deputado é médico —, quem teve um problema de 27 anos, que
acompanha isso profundamente. Eu vejo que, quando o senhor disse, respondeu ao
Deputado, Presidente Neucimar Fraga, as condições de um paciente numa fase final
de transplante de fígado são terríveis, não é isso?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Terríveis, terríveis.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Então eu vejo que, realmente, às
vezes, se assusta num trabalho desses que de 10, 9 faleceram, que é perfeitamente
normal que isso aconteça. E tudo é uma evolução. E ninguém nasce sabendo e
ninguém forma uma equipe absolutamente... quando vê, está altamente preparado.
Eu só gostaria de perguntar para o senhor: o senhor se preparou, a sua equipe se
preparou, vocês receberam alguma ajuda de alguém para ir para o exterior, para
estudar, para se preparar?
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Não, Deputado, a única coisa que
eu recebi daqui, da minha instituição, foi o salário, entendeu? E eu tive que
sobreviver lá com esse salário só. Porque eu não tinha como ganhar dinheiro nos
Estados Unidos, eu não tinha licença, não é?
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Tá. E os seus colegas receberam
ajuda, assim, para...
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Uma pessoa, talvez, o Lúcio, acho
que vendeu tudo que tinha, as economias dele, as coisas, e foi para lá. Só. Ele não
estava empregado ainda.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Eu vejo que o nosso País, tanto na
Medicina, como na Odontologia, como nas outras áreas de pesquisa, tudo, avança.
Avança, mas sem praticamente nenhuma ajuda institucional.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Eu vejo que são pessoas que, com
o esforço próprio, com a luta própria, vão vendendo bens, para que esse País possa
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evoluir, mas sem ajuda institucional. Então eu vejo que essa CPI também pode
contribuir no transplante, pode contribuir no atendimento médico, na qualificação dos
hospitais, na melhoria do atendimento, na remuneração dos profissionais, não só de
médicos, de enfermeiros, de estrutura hospitalar. Que realmente, quando tivermos
uma fase aguda ou de uma emergência, nós possamos chegar num hospital e ter
confiança de ser atendido. Porque, às vezes, se nós formos olhar realmente têm, às
vezes, alguns casos pontuais de denúncias que são focalizados um ou outro
hospital, às vezes até de bom nível, mas que sejam até fechados os serviços, como
esses que foram fechados. Aqueles que não são focos, às vezes estão em pior
situação, terrível situação. Noventa e oito por cento eu acho que se fizerem uma
norma de vistoria, de hospitais, de postos de saúde, de pronto atendimento,
veremos a questão crítica, triste que é o atendimento prestado à população, o nível
de atendimento prestado à população. Vejo que é muito importante que a CPI vá
atingindo esse objetivo -- não somente um, mas vários -- e que possa dar uma
contribuição para que o País possa melhorar o atendimento médico, possa valorizar
mais os profissionais, possa dar mais tranqüilidade e oferecer mais avanços na luta
pela vida. E o transplante é a última escala, a última chance que às vezes uma
pessoa tem de sobreviver, como no transplante de coração, de fígado, de rim. É
claro que entendo perfeitamente esses índices que os senhores colocaram, as
complicações. Quando o senhor colocou essas complicações até fiquei imaginando
coisas que nem imaginava que havia, a baixa imunidade em que o paciente se
encontra, que ele fica sujeito a se contaminar, a adquirir algo e ir a óbito. Mas quero
dizer-lhe que admiro muito os profissionais brasileiros, que, por força própria, por
esforço próprio, vão, preparam-se e lutam. Acho que essa CPI tem condições de
ajudar muito no sentido de melhoria, de atendimento, de estrutura, dando condições
para que os transplantes no País possam melhorar, possam ser feitos com mais
garantia, que as filas sejam respeitadas, que não haja tráfico de órgão. Tudo isso
acho que essa CPI tem condições de realizar, sim. Acredito que o senhor está
dando uma grande contribuição com o seu depoimento, a fim de que as coisas
sejam esclarecidas. Nobre Deputado, como profissional de saúde. eu digo que não
iria nessa de fazer um procedimento, sabendo que estaria colocando a minha vida e
também da minha família, tudo que fiz na vida, em risco. Salvando talvez uma vida,
mas destruindo outros lares completamente. Acho que isso que é importante.
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O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Sr. Presidente, peço a palavra para referir-
me à minha posição. Na realidade, como a minha formação profissional é advogado,
temos aí uma discussão jurídica apaixonante. Se o profissional chegar e verificar
que algo não está de acordo com o que ele acha que é o correto, na opinião dele, e
ele não fizer uma cirurgia de emergência, primeiro ele pode ser responsabilizado por
omissão e pode responder a um processo do mesmo jeito. Veja o senhor, se ele
fizer e der errado, ele responde ao processo porque as condições não eram
adequadas. Se ele não fizer, com certeza também ele responde por omissão,
porque a pessoa morreu e ele ficou inerte. Juridicamente, vão questionar o seguinte:
mesmo com os recursos que o senhor tinha, o senhor tinha obrigação, como
médico, de tentar salvar aquela vida. É uma discussão jurídica interminável e
apaixonante. Qual o nosso papel? Quando digo que o médico tem o dom de salvar
vidas, é muito difícil, primeiro, porque ele pode responder por omissão de socorro.
Segundo, porque é natural do médico não querer ficar assistindo alguém morrer.
Então, ele quer intervir mesmo se faltar algum equipamento, algum aparelho. Onde
que entramos nessa história? Entramos na legislação, eu acho. Acho que temos de
futuramente fazer aprimoramentos na legislação brasileira, no sentido de que se o
limite para um médico salvar uma vida, se numa dada situação... Aliás, isso até já
existe, mas não na lei. Seria na interpretação dos Tribunais. Não haveria crime, mas
haveria uma excludente se se provasse que realmente o médico agiu para salvar
aquela vida, mesmo sabendo que corria o risco, porque os equipamentos não eram
adequados. Então, ele estaria agindo com uma excludente. Mas isso não está na
legislação. A rigor, se ele não fizer, como o senhor disse, ele responde por omissão.
Pode ser processado e pode até, dependendo do promotor, oferecer uma denúncia
de dolo, homicídio culposo. Viajar na maionese, como dizem. O que podemos fazer?
Mudar a legislação. Dizer, por exemplo, que o profissional da área médica, quando
agir em casos de emergência -- claro que isso teria de ser aprimorado -- estaria
isento de pena quando constatasse, através da denúncia do próprio profissional,
após a cirurgia, que não tinha as condições adequadas que deveria ser fornecida
pelo hospital. Precisamos ver mecanismos para que o médico possa realizar aquela
cirurgia, salvar uma vida, e, em seguida, se denunciar, estaria isento de
responsabilidade. Quer dizer, você o isenta da responsabilidade se em seguida
daquele procedimento médico ele, pela livre iniciativa, fizer a denúncia. Por exemplo,
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você é médico, chegou lá e tem de fazer uma cirurgia. Faltou uma série de coisas,
inclusive medicamentos, você pode responder. Mas se após aquela cirurgia você,
espontaneamente, fizer uma denúncia dizendo que tinha de ter sido assim, assim e
assim, o médico estaria, em tese, isento de pena. Essa é uma idéia. Há uma dúvida,
quer dizer, se ele não fizer a cirurgia ele pode responder por omissão; e se fizer,
com equipamentos precários, ele também pode responder a um processo. Dessa
forma, não há muita alternativa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Tem a palavra o
Deputado Geraldo Thadeu.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Concordo. Por isso é interessante
o debate. O que tem acontecido? As condições colocadas aos profissionais são
muito aquém daquelas ideais e desejadas para os procedimentos serem realizados.
Seria uma omissão, aí se teria que responder a um crime de omissão. Talvez tenha
feito isso para provocar mesmo. Agora, as coisas têm acontecido tanto que
infelizmente acontece um caso de transplante, uma cirurgia de alta complexidade e
que, por uma falha nesse sentido, o Ministério Público cruelmente parte para cima
do profissional, dizendo que ele é assassino, acabando com a sua vida. Sabe o que
acontecendo com isso? Muitos profissionais altamente preparados para realizar
cirurgias de alta complexidade não podem nem ouvir falar em cirurgia de alta
complexidade. Estão mudando, não fazem mais, pois já passaram por isso.
Acredito, nobre Deputado, numa mudança de legislatura, num estudo profundo. Por
isso estou dizendo que essa CPI pode contribuir muito. Não estou dizendo que ele
não deve... Jamais. Acho que a obrigação do médico, pelo juramento que fez, é de
salvar vidas. Ele foi preparado para isso e a sua profissão é de tentar salvar vidas.
Por exemplo, é muito cômodo às vezes para o Ministério Público dizer que é
obrigado a fazer, tem que atender. Então, o Ministério Público deveria dar condições
para que o profissional atendesse. O Ministério Público tinha de dar condições para
que o hospital seja bem adequado, tenha condição. Por que vai ao profissional? Há
o Ministério da Saúde, o Governo Estadual, Federal, que têm de fornecer os
recursos. Acho que seria até uma questão de responsabilidade do Ministério Público
de procurar adequar esses hospitais de acordo com isso, mas não vejo nenhum
movimento nesse sentido.
O SR DEPUTADO RUBINELLI - Sr. Presidente, uma questão de ordem.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Deputado Geraldo
Thadeu e Deputado Rubinelli... Esse debate é importante e poderíamos até fazê-lo
num outro momento, com a presença de outros profissionais, mas temos outro
depoimento a ser tomado. O médico, Dr. Lúcio Lucas, está aguardando. Quero
contar com a colaboração de V.Exas. Faço uma sugestão de pauta para que
pudéssemos fazer um outro debate sobre esse assunto nesta Comissão. Como
temos o depoimento, temos de nos prender aos depoimentos.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Vou concluir, mas acho que este
debate é altamente salutar. Não sou dono da verdade, porque acho que ninguém é
dono da verdade, mas podemos contribuir. É isto o que nós queremos: contribuir.
Mais uma vez quero parabenizar o Dr. Roland pelo seu depoimento.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Obrigado.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - E pelo esforço também, não só do
senhor, da sua equipe, de se preparar, de trazer melhorias científicas para a nossa
Medicina e para a nossa população. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Com a palavra o
Deputado Dr. Francisco Gonçalves.
O SR. DEPUTADO DR. FRANCISCO GONÇALVES - Sr. Presidente, caros
colegas componentes da Mesa, primeiramente eu queria me desculpar, porque
estava presidindo a Mesa da Comissão de Seguridade Social e Família sobre
infecções de prótese mamária. Terminou nesse exato momento. E queria dizer para
vocês, como médico que sou, obstetra, ginecologista e mastologista, até dando
minhas especialidades aqui, da importância do Conselho Federal de Medicina. O
Conselho Federal de Medicina é o órgão que julga o médico, que julga a ética
médica, a conduta do médico. Então, muitas vezes o que a gente observa são
debates na área judicial e ninguém está preparado para entender da Medicina como
o próprio médico, e o médico às vezes ainda é deficiente, porque são várias
especialidades. Por exemplo, eu, sendo ginecologista, não vou entender do fígado.
É muito grande, muito perfeito o corpo humano. Está aqui o Pastor, que sabe que
Deus, na sua sabedoria... você olha que a complexidade do corpo humano não tem
um médico sequer no mundo que entenda de todo o corpo humano, neurologia,
cardiologia, gastroenterologia, de maneira nenhuma. Então, o julgamento do médico
é uma coisa assim, porque a Medicina não é uma ciência exata, a Medicina é uma
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ciência variável, é uma ciência biológica. E muitas vezes o médico, no seu trabalho,
em relação a salvar vidas, toma atitudes drásticas, porque sabe que se não agir
naquele momento ele vai perder aquela vida. Nós tivemos aí recentemente um
episódio dentro do avião, que o Dr. Roland deve estar ciente dele, que foi um
paciente que teve um pneumotórax espontâneo, tinham 2 cirurgiões dentro do avião
e eles passaram um catéter no pulmão, esvaziando aquele ar que estava ali
causando pneumotórax e salvaram uma vida. Tinha condições, naquele avião, de ter
um hospital ambulante ali dentro? Não tinha nada, eles passaram um catéter, num
heroísmo, e salvaram uma vida. Se desse errado talvez eles fossem julgados.
Então, a gente tem que avaliar muito esses aspectos do momento. Eu participei do
Conselho Regional de Medicina durante 8 anos, e no julgamento que não é
corporativista, digo a vocês que nós sempre olhávamos o momento e adequadas
condições de trabalho, como o nobre Deputado Geraldo Thadeu acabou de falar. Às
vezes um médico, no interior, sozinho, era obrigado a passar um fórceps para salvar
uma vida, a vida da mãe ou do filho, e a gente não pode fazer um julgamento do
colega naquele estado, sem um anestesista ao lado, sem um equipamento
adequado. É ele e a paciente, e a solução cabe a ele. Então, era isso que eu queria
deixar claro aqui para você. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Deputado Adelor Vieira.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Sr. Presidente, nobre Deputado
Relator, demais Deputados, quero cumprimentar o Dr. Roland também, respeitado
na sua profissão e até pelo relato que faz. Creio que o assunto é de tão alta
complexidade que faz jus esta CPI, como foi dito aqui pelos colegas Parlamentares.
Mas creio até, nobre Presidente, que divagamos muito em relação ao objeto da CPI,
e isso pode até contribuir no contexto geral, mas no objeto da CPI pode não trazer o
benefício no prazo que se espera, mas não a invalida também; de igual forma,
também não invalida a discussão. Talvez pudéssemos ter como um caminho a ser
adotado depois, na seqüência da CPI, essa questão da atualização da nossa
legislação nesse campo da saúde, nesse campo da Medicina, principalmente na
questão das cirurgias de alta complexibilidade. A ciência tem avançado de forma
significativa, e creio que nós, Legisladores, não temos atuado no mesmo ritmo, e,
por essa razão, necessária se faz a atualização da nossa legislação. Temos aqui na
Casa muitas leis que dizem respeito a esse assunto, mas elas estão paradas nas
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comissões. Quem sabe seria objeto desta CPI tentar depois, no final, resgatar todos
esses projetos que têm na Casa e constituir uma comissão específica para estudar
essa questão, porque é muito séria. É difícil de a gente poder saber quem é o mais
responsável ou o mais irresponsável, se é o nosso sistema de fiscalização - estou
fazendo a minha avaliação -, se é o Poder Público, impotente, inoperante, ineficaz
na sua fiscalização. Por outro lado também se não fiscaliza porque se sente culpado
por não dar as condições necessárias para que os nossos hospitais tenham as
condições e os nossos profissionais tenham o ambiente propício para fazer essas
cirurgias tão complexas, mas tão necessárias. Então, creio que fica aqui...quero
concordar com os Parlamentares, colegas que me antecederam de que não
podemos perder este foco de trabalharmos com a atualização da nossa legislação,
no campo da fiscalização e também na responsabilidade que tem o Governo por ser
a saúde pública um direito do cidadão, mas nos atermos um pouco mais - eu me
atrevo até porque, na condição de suplente, nesta Comissão, tenho sido um dos
mais faltosos aqui, mas sei que o titular tem estado sempre presente, mas me atrevo
a dizer que nós deveríamos fazer todo o possível, até porque já participei de outras
CPIs, já fui relator de CPI, para que a gente não divague e nos atermos realmente
na questão principal, que é, nesse caso específico, aonde está o órgão que nós
estamos à procura dele e quem são essas pessoas responsáveis, buscar essa
verdade. Então, essa a contribuição que queria dar neste primeiro momento, Sr.
Presidente. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Agradecemos. Vamos
encerrar a participação do Dr. Roland. Doutor, eu só queria fazer a última pergunta
ao senhor: o senhor disse para a Comissão que o senhor não participou da captação
dos órgãos. No boletim do Hospital de Base de Brasília, pedido de internação e
marcação de cirurgia, diz que a cirurgia seria uma cirurgia de captação de órgãos, e
diz que o cirurgião responsável é o Dr. Roland. Está aqui no boletim. Se existe
erro...está no boletim aqui, diz que o senhor é o responsável, e o Dr. Lucas nem
aparece no boletim como o cirurgião responsável, caso o senhor não estivesse
presente.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Isso. Eu queria que o senhor
olhasse bem em cima do cabeçalho e visse o que está escrito aí?
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Pedido de internação de
marcação de cirurgia.
O SR. ROLAND MONTENEGRO COSTA - Esse é o pedido da marcação da
cirurgia, mas não tem aí o relatório cirúrgico, onde tem o nome do cirurgião. No
relatório cirúrgico é que nós vamos ver quem fez a cirurgia. Minha assinatura não
está aí.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Aqui não tem assinatura
de ninguém. Na verdade, quase todos os boletins que nós temos em mãos aqui as
informações nunca estão preenchidas de forma regular, como prevê a legislação,
pelo Hospital de Base de Brasília. Nós temos, por exemplo, no boletim cirúrgico, a
cirurgia não tem hora que iniciou, não tem hora que terminou e não tem o tempo de
duração. O.k., mas nós vamos registrar. Agradecemos a presença do senhor, já
pedimos ao senhor para aguardar, nós vamos ouvir um outro médico agora e, se
necessário, vamos depois ainda tomar um outro depoimento. Está encerrado, neste
momento, esse depoimento. (Pausa.) Enquanto aguardamos a condução do próximo
depoente, solicito a anuência do Plenário para votarmos os requerimentos
constantes da pauta. Se todos os Parlamentares concordarem, passo à apreciação
dos requerimentos. Quero convidar o Vice-Presidente da Comissão, o Deputado
Pastor Frankembergen, então, para que possa tomar assento à Mesa e dirigir essa
parte da sessão. (Pausa.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Passamos, então,
à deliberação dos requerimentos constantes da pauta. Item 1 - Requerimento nº
52/04, do Sr. Neucimar Fraga, que requer a quebra do sigilo bancário e fiscal do Sr.
Antonio Aurélio Carvalho Monteiro, médico legista. Para encaminhar a matéria,
concedo a palavra ao Deputado Neucimar Fraga, autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, essa solicitação se
faz necessária. O Dr. Antonio Aurélio Monteiro de Carvalho foi o médico ouvido em
depoimento pela Comissão Parlamentar de Inquérito, na cidade de São Paulo, foi
preso na cidade de Franco da Rocha e responde a processo, lá, por retirada de
órgãos e venda de órgãos e cadáveres para as Faculdades particulares. Em
inquérito policial feito pelo Delegado, achamos necessária a quebra do sigilo fiscal e
bancário do médico para que possamos ter a contraprova já do inquérito feito pelo
Delegado da Polícia Civil de Franco da Rocha.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Em discussão o
requerimento. Com a palavra o Deputado Geraldo Thadeu.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Durante a realização do inquérito
lá, pelo Delegado e tudo, não foi solicitado quebra de sigilo bancário?
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Não.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - E não tem nenhuma justificativa
para isso?
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Não, o Delegado não pediu. Nós
entendemos que é necessário.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Sim, mas o Delegado não foi
argüido por que ele não pediu ou não?
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Não, o Delegado não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Encerrada a
discussão. Em votação o requerimento. Os Deputados que o aprovam permaneçam
como se encontram. (Pausa.) Aprovado. Item nº 2 - Requerimento nº 53/04, do Sr.
Neucimar Fraga, que requer a quebra do sigilo bancário e fiscal do Sr. Nivaldo
Pereira, representante do Laboratório de Anatomia Patológica Restrito. Para
encaminhar a matéria, concedo a palavra ao Deputado Neucimar Fraga, autor do
requerimento.
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, o Sr. Nivaldo
Pereira foi citado no inquérito policial feito pelo Delegado da Polícia Civil de Franco
da Rocha. Ele se apresentava como representante das Faculdades particulares de
algumas regiões do Brasil e é ele quem intermediava a venda dos órgãos e dos
cadáveres para as Faculdades. O inquérito apresentado pelo Delegado apontava o
Sr. Nivaldo como responsável até pelo transporte dos órgãos e dos cadáveres
retirados do Instituto Médico Legal de Franco da Rocha para essas localidades.
Entendemos que seria necessária a quebra do sigilo bancário e fiscal dele, porque,
segundo o próprio inquérito, ele recebia de 15 a 30 mil reais por cada cadáver
vendido para as Faculdades.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Em discussão o
requerimento.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Sr. Presidente...
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Deputado Adelor
Vieira.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Gostaria de saber desta Presidência
se a CPI já tem a cópia do inquérito ou ao menos do depoimento do cidadão Nivaldo
Pereira. (Pausa.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Sim, esta
Presidência informa que esta Comissão já tem cópia dos autos, já foi requerida a
cópia dos autos do inquérito policial.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Já foi requerida?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Já foi requerida.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Já está de posse, já está de posse?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Já está em mãos
da Comissão.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - E aí eu faria a mesma pergunta do
colega Deputado se, nesse processo, já não consta o requerimento de quebra de
sigilo fiscal e...?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Não, não consta.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Não consta.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Não foi
apresentado, ou seja, não foi requerido pelo Delegado de nenhuma das pessoas
envolvidas.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Estou satisfeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Encerrada a
discussão. Em votação o requerimento. Os Deputados que o aprovam permaneçam
como se encontram. (Pausa.) Aprovado. Requerimento nº 54/04 do Sr. Neucimar
Fraga, que solicita aos hospitais Oswaldo Cruz, Sírio-Libanês e Beneficiência
Portuguesa relação de todos os transplantes realizados nos últimos quatro anos
contendo nome dos pacientes transplantados, inclusive estrangeiros, com endereço,
CPF e equipe que efetuou os transplantes. Para encaminhar a matéria, concedo a
palavra ao Deputado Neucimar Fraga, autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, em depoimento
tomado por esta Comissão, na Assembléia Legislativa de São Paulo, onde o médico
do Hospital Sírio-Libanês foi citado pelo depoente como o médico que ofereceu a ele
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um rim por 100 mil dólares naquele hospital, em depoimento tomado aqui, ontem
também, pela Presidenta da Federação Nacional dos Pacientes Renais Crônicos do
País, entendemos que as informações sobre os transplantes realizados nesses
hospitais são importantíssimos para os trabalhos que estão sendo desenvolvidos por
esta Comissão. Portanto, solicitamos a cópia dos transplantados com endereço, com
CPF, porque, com esses dados, poderemos estar fazendo levantamento e
acompanhamento sobre os transplantes realizados e as pessoas que estavam na
fila, no Estado de São Paulo, aguardando por esses transplantes.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Com a palavra o
Deputado Geraldo Thadeu.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Sr. Presidente, considero que,
mesmo sendo a denúncia, lá, em São Paulo, e ontem, aqui, sugeriria que fossem
apresentadas aqui as justificativas por escrito, justificando, juntamente com esse
requerimento, acompanhando o requerimento, para saber especificamente quais são
essas denúncias. Parece-me que foi feito, lá, do Sírio-Libanês e do hospital Oswaldo
Cruz, mas o da Beneficiência Portuguesa parece que não foi citado. Então, gostaria
de sugerir que fosse acompanhadas, nesse requerimento, as denúncias, para saber
realmente se justificariam quatro anos de investigação tanto em qualquer um desses
hospitais.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Com a palavra o
Deputado Neucimar Fraga.
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - O Sírio-Libanês, o Oswaldo Cruz e
a Beneficiência Portuguesa são os hospitais que realizam o maior número de
transplantes no Estado de São Paulo. Ontem, tivemos a presença aqui da
Presidenta da Federação e ela, em depoimento reservado a esta Comissão, nos deu
informações que justificam a solicitação do número de pessoas transplantadas.
Como o Sistema Único de Saúde e as informações deveriam ser até públicas, já
que, segundo a legislação, todos os transplantes realizados têm de ser notificados
ao Sistema Nacional de Transplante, as informações são de praxe e todos nós
temos direito, inclusive, mesmo sem fazer parte e ser membro de uma CPI,
poderemos solicitar, enquanto Parlamentares, a informação, tendo em vista que
todas essas informações deveriam ter sido prestadas ao Sistema Nacional de
Transplante, que é um órgão do Ministério da Saúde. Mas, enquanto membro da
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Comissão Parlamentar de Inquérito, entendemos ser importante colocar sob
apreciação desta Comissão para que essas informações façam parte dos
documentos que serão incluídos nos Anais desta CPI.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Compreendo perfeitamente a
preocupação e o interesse do Deputado Neucimar Fraga nessa questão, mas vejo
que as ponderações são vagas. Precisaríamos de mais dados concretos para
justificar esse pedido, porque esse pedido poderia ser até estendido, por exemplo, à
Central de Captação de Órgãos que faria o cruzamento de todos os órgãos que
foram registrados, porque, primeiro, vai para a Central para, depois, o hospital
realizar o transplante, tanto em qualquer um desses hospitais. Então, vejo que, por
exemplo, estamos aqui, hoje, fazemos parte, claro, de atividade Parlamentar muito
intensa, estamos em outras CPIs, em outros trabalhos, e, às vezes, a gente não tem
condições físicas até de participar de todas as audiências aqui. Por exemplo, eu
gostaria de ver as denúncias concretas, item por item, como o nobre Deputado
disse, há pouco tempo, para não ficarmos vagando e generalizar a questão.
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Mas não estamos generalizando,
Deputado. Veja só. Estamos pedindo informação. Isso é papel de qualquer
Parlamentar. Informações nós precisamos ter. E, quando estamos investigando
qualquer caso, queríamos já abranger esses 3 hospitais que são hospitais que
realizam o maior número de transplantes. Não estamos acusando ninguém de nada,
estamos apenas solicitando informações porque nós queremos ter a lista das
pessoas que foram transplantadas e acredito que os hospitais não terão dificuldade
nenhuma em mandar, já que os transplantes foram realizados, foram pagos pelo
SUS, já deveriam estar no Ministério da Saúde, mas estamos solicitando ao hospital
que mande. Não vejo dificuldade nenhuma, não está havendo acusação nenhuma
sobre o Hospital da Beneficiência Portuguesa, apenas estamos querendo solicitação
que deveria ser pública e achamos que seja importante para o trabalho desta
Comissão, até para que, a partir dessas informações, a gente possa traçar um novo
trabalho dentro da Comissão.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Compreendo perfeitamente.
Entendendo o que o Deputado Neucimar Fraga coloca, então, não seria necessário
diretamente aos hospitais e, sim, ao Ministério da Saúde, que tem todos esses
dados. Deve ter, por obrigação. Acho que a CPI precisa contribuir com o sistema,
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com o sistema de doação, o sistema de transplante, e, quando parte de uma CPI
uma solicitação de informações desses hospitais, eu acho que já, para nós, é
importante, é livre e tudo, mas, se temos o Ministério da Saúde... Por outro lado, o
hospital fica sendo questionado nessa questão. Ele tem de saber por que está sendo
questionado. Acho que temos de ter uma denúncia concreta, por escrito, que
justifica, que se faça o requerimento que essas solicitações de informações sejam
feitas, embora o Ministério aqui tenha de ter essas informações. Qualquer recurso
que é pago de transplante, qualquer recurso que sai daqui, que vai, tem de ser
justificado aqui, no Ministério da Saúde.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Eu queria também, Sr.
Presidente, dar minha opinião.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Pois não, nobre
Deputado Pedro.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Quero registrar o quanto o
Deputado Thadeu tem participado e se esforçado, feito tudo para estar conosco
nesta CPI, contribuindo, questionando, trazendo suas opiniões, mas o que abunda
não prejudica, meu irmão. Precisamos das informações e esta CPI, lógico, é uma
Comissão Parlamentar de Inquérito. Queremos inquirir, queremos descobrir,
queremos checar, bater dados e informações para que possamos descobrir os furos,
as irresponsabilidades, até o tráfico que possa existir na Nação, o uso também do
dinheiro público indevidamente. Então, se temos a relação também dos hospitais e a
relação do Ministério, teremos muito mais condições de checar, de saber, e nada
nos impede e nos é livre fazer essa solicitação. Se vem enriquecer, é bom que
tenhamos. Se constatarmos que está tudo bem e tudo bate corretamente, muito
melhor. Então, não há por que nos restringirmos, a meu ver, de aprovarmos esse
requerimento, pois será muito útil para nossa Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - O Deputado Adelor
gostaria de usar da palavra?
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Gostaria, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Deputado.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Não sei, porque sou leigo nesse
assunto, mas se essa informação não poderia ser enriquecida ainda com os dados
do doador? Se estamos querendo buscar alguma coisa em relação a isso, também
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não sei como isso funciona, se é através de código. Talvez, o Dr. Thadeu possa nos
ajudar nisso aí.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Eu creio que cada hospital deve
ter o registro, porque o que entendemos pelo requerimento do Deputado Neucimar
Fraga...
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Não, apenas quem recebe.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - ... é que ele está solicitando os
dados dos transplantados, inclusive, estrangeiros, ou seja, todos os transplantados
com endereço, CPF e a equipe médica, porque certamente todos esses hospitais
têm o registro, nesses quatro anos, quantas pessoas foram transplantadas e quem
são essas pessoas.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Por isso que eu digo: eu sou leigo.
Quando se refere a transplantado, você fala quem recebeu e quem doou o órgão?
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Exatamente. E deve haver o
registro.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Sim, mas essa expressão é feita?
Nessa relação, vem quem é o doador e o receptor? Essa relação é completa?
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sim, sim. Transplantados.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Nesse
pedido, entende-se isso? Entende-se isso? Eu sou leigo nisso aí.
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sim, sim, Deputado Pastor Adelor
Vieira. É uma informação apenas necessária para que a gente possa acompanhar
responsavelmente.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Não, a minha dúvida é se vem. Eu
creio que deve vir. Acho que a informação teria de ser completa, não só quem
recebeu, o receptador, mas também o doador.
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Inclusive, acatamos a sugestão
dele, se quiser especificar, que seja incluída no requerimento.
O SR. DEPUTADO ADELOR VIEIRA - Fosse acrescido, então, no
requerimento para que se possa...
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - O.k. Acatamos a sugestão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Quem recebeu de
quem, não é?
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O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - De quem, exatamente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Pois não.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Só completando. É uma sugestão
também, então, que se faça junto à Central de Captação de Órgãos, para que sejam
cruzados todos os dados. Correto? Como o Pastor Pedro coloca, acho que não
estamos aqui para impedir a investigação, estamos aqui para ajudar, estamos aqui
para contribuir. Então, vejam que, talvez, num segundo momento, que todos os
hospitais que fazem transplante em todos os Estados sejam fornecidos esses dados.
De Minas, de São Paulo, de Santa Catarina, do Espírito Santo, de Pernambuco...
O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Acatamos, Deputado Geraldo
Thadeu. Acatamos a sugestão do Deputado e, como autor do requerimento, peço
que inclua a outra solicitação de informação que, além desses hospitais, sejam
solicitadas também às Centrais de Transplante e ao Sistema Nacional de
Transplante.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - É, de todos os hospitais que
realizam transplante no País.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Colocamos em
votação o requerimento com o adendo do Deputado Geraldo Thadeu e também do
Deputado Adelor Vieira. Os Deputados que concordam, que estão de acordo e
aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado. Devolvo a
Presidência desta Comissão ao Deputado Neucimar Fraga. (Pausa.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Queremos convidar para
tomar assento à Mesa o Sr. Lúcio Lucas Pereira. (Pausa.) Quero convidar o Dr.
Lúcio Lucas Pereira a prestar juramento, conforme o art. 203 do Código de Processo
Penal, descrito à sua frente.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - “Faço, sob a palavra de honra, a promessa
de dizer a verdade do que souber e me for perguntado”.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Em conformidade com o
art. 210 do Código de Processo Penal, advirto o depoente das penas cominadas ao
crime de falso testemunho, assim descrito no Código de Processo Penal. “Art. 342 -
Fazer afirmação falsa ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito,
tradutor e intérprete no processo judicial, policial, administrativo ou em juízo arbitral”.
Dr. Lucio Lucas Pereira, convocado à CPI através de requerimento apresentado pelo
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Deputado Relator Pastor Pedro Ribeiro, tendo em vista que foi citado aqui em
depoimento prestado nesta Comissão como sendo um dos cirurgiões e também
coordenador do sistema de transplante do Hospital de Base de Brasília. Nós
estamos tratando do caso do garoto Marcos, V.Sa. já deve conhecer o assunto. Nós
vamos conceder a V.Sa. o tempo de 20 minutos, prorrogáveis pelo tempo
necessário, a pedido da Comissão, para que possa se manifestar sobre o assunto e
durante esse período não poderá ser aparteado, e logo em seguida os
Parlamentares estarão fazendo interpelação ao depoente. Com a palavra Lucio
Lucas Pereira.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Primeiramente, eu gostaria de agradecer a
V.Exa. o convite, como testemunho, para vir a esta audiência pública no intuito de
esclarecer os fatos ocorridos, principalmente com o menor Marcos Henrique
Cardoso. A participação da... Minha participação no sistema de transplantes aqui em
Brasília se deu a partir do ano de 2000, onde nós tentamos implementar o início dos
transplantes hepáticos que aqui então ainda não se estabeleciam. Eu sou oriundo da
cidade do Rio de Janeiro, onde lá participava já, anteriormente, dos procedimentos
de transplantes e, por opção pessoal, fiz minha mudança de domicílio para Brasília.
Foi feito... Foram feitas algumas tentativas, não em termos de realização de
transplante, mas em termos de se estabelecer as normas para o transplante de
fígado, com algumas reuniões prévias antes de que fossem realizados o primeiro
procedimento, no intuito de verificar as condições em que se encontrava o hospital,
para que esses procedimentos considerados de alta complexidade pudessem ser
realizados. Nós identificamos as condições mínimas à realização dos
procedimentos, isso foi corroborado pela autorização do Ministério da Saúde, que
verificou a legislação pertinente que regimenta o caso, e nós então começamos a
realizar os procedimentos de transplante de fígado aqui em Brasília, dentro do
ambiente cirúrgico, com alguma...com uma segurança que nós consideramos
satisfatória. Nesse mesmo período, de 2000, 2001, e se agravando em 2002, houve
— e isso é público porque os meios de imprensa divulgaram de maneira exaustiva
— um desabastecimento em termos de material e medicação dos serviços de... dos
serviços hospitalares do Distrito Federal, e, sem dúvida, esse embrião de início de
transplante de fígado não ficaria fora dessa conseqüência do desabastecimento. O
último transplante que foi tentado e não foi realizado foi o transplante no paciente
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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Ramon, onde houve a tentativa da utilização do fígado doado pela mãe do menor
Marcos Henrique. E minha participação dentro desse cenário se dá mais ou menos
dentro desse histórico. Esse transplante não aconteceu porque nós não
identificamos as condições mínimas de segurança para que o procedimento fosse
realizado. Os procedimentos de captação de órgãos normalmente acontecem no
final da tarde ou início da noite, muitas das vezes de madrugada, pelo fato de você
precisar fechar o protocolo de morte cerebral e esse protocolo de morte cerebral
muitas das vezes levar mais de 6 horas. Então, na prática, só para nós entendermos
o porquê do horário noturno, muitas das vezes o médico passa a visita de manhã,
identifica um paciente em glasgow 3 e a partir daí abre-se a possibilidade no
protocolo de morte cerebral a ser fechado. Durante o dia, esse protocolo é fechado,
paralelo a isso há necessidade de testes sorológicos no paciente que, portanto, seria
um potencial doador e até então não doador, e esse processo todo de verificação de
sorologia, verificação de morte cerebral e outros exames quaisquer que se façam
necessários normalmente tomam toda a parte do dia, ficando então muitas das
vezes a abordagem familiar, como é hoje a obrigação, ao final do processo. Muitas
das vezes isso faz com que as retiradas dos órgãos ocorram no período noturno,
como foi o caso o paciente aqui por nós a ser discutido. Essa retirada então foi
realizada, alguns problemas pontuais, específicos para os transplantes foram
resolvidos de maneira pessoal pela própria equipe, inclusive com compra de
pequenos materiais, que a gente achou que fosse mais fácil realizar isso, apesar de
os pedidos já estarem em andamento, mas como o hospital é público e não possui
associação ou fundação que o ampare, isso precisa de um processo licitatório, o que
demanda tempo. Então, os materiais de menor custo e que nós achávamos que era
imprescindível nós mesmos adquirimos, e o restante do material, como nós já
tínhamos anteriormente verificado, era possível realizar os procedimentos, tanto
assim que o realizamos. Foram em quantitativo de dez até tentarmos fazer o décimo
primeiro, que é esse que a gente está descrevendo. Após a retirada do enxerto,
como nós denominamos o fígado agora doado para transplante, esse enxerto tem
um tempo máximo de implante de 15 horas — algumas equipes têm uma
flexibilização maior ou menor em cima desse valor, isso pode ser variável. O ideal é
que não passe de 12 e 15 já começa a não ter um resultado tão satisfatório e acima
de 15 a maior parte das equipes não mais aceitam esse enxerto para transplante.
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Como essa retirada aconteceu? Se eu não me engano, em final da noite para o
início da madrugada, e nós verificamos por volta de 2 ou 3 da manhã que realmente
não haveria maneira alguma de se resolver o problema na falta do catéter de
monitoração hemodinâmica — como anteriormente já foi colocado provavelmente
por outros colegas —, nós decidimos suspender, porque nós consideramos que
naquele momento esse catéter era imprescindível à realização do transplante. E
devido ao adiantado da hora e pelo fato de ser madrugada e os primeiros vôos que
saem de Brasília só partirem a partir das 7 da manhã, esse fígado já se encontraria
com tempo avançado de isquemia fria de conservação em solução gelada, o que
impediria a utilização dele nos procedimentos de transplante de órgãos ou tecidos
humanos. Então suspenso... O transplante foi suspenso e o fígado foi enviado à
anatomia patológica para fins de análise de peça. Eu estou à disposição para
esclarecer o que se fizer necessário.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Doutor, o senhor é mais
tratado como Lucio ou Lucas?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Fique à vontade, Excelência.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Dr. Lucas, quem participou
da cirurgia da retirada dos órgãos? Quais foram os médicos?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - A cirurgia da retirada dos órgãos ela varia
de acordo com os órgãos a serem retirados. Quando num Estado — a explicação
ainda não é aqui de Brasília —... Quando num Estado você tem tradicionalmente
muitos transplantes em andamento, é comum que exista uma equipe única de
retirada de múltiplos órgãos, principalmente quando essas equipes de transplante
diferentes já estão atuando de maneira conjunta. Como aqui em Brasília a gente
ainda estava num processo de implementação dos procedimentos de transplantes, a
gente entrava em conjunto para realizar a retirada dos órgãos com a equipe da
urologia. Então, entrava a equipe da urologia para fazer a retirada da parte renal, e
eu, em representação da equipe de transplante de fígado, para fazer retirada do
fígado propriamente dito.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Do fígado, quem
participou?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Só o senhor?
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O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Como cirurgião responsável.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Eu quero a equipe, por
favor. Quais foram os médicos, por nome.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - A equipe eu não me lembro porque os
outros membros eram da urologia e eu não lembro sinceramente quais eram os
outros membros que compunham o grupo cirúrgico no momento.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - O Dr. Roland não participou
dessa cirurgia da retirada?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não. Dentro do transplante de fígado
existem, vamos dizer assim, de uma maneira informal, dois cirurgiões que estão
mais à frente, um no caso, o Dr. Roland, o outro, eu. Como o procedimento de
transplante, até pela exiguidade do tempo que foi colocado, precisa quase que
acontecer como simultâneo, ou seja, houve a retirada, você já tem que providenciar
que o receptor esteja internado para providenciar o implante.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Manda subir o som dele,
por favor.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - De praxe, é que normalmente o Dr. Roland
ficava responsável por tentar viabilizar e dar andamento aos procedimentos de
cirurgia do transplante, propriamente dito, e eu às cirurgias de retirada do órgão para
enxerto, porque nesse caso não houve participação do Roland com uma equipe
cirúrgica no momento da retirada dos órgãos.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Eu gostaria de receber
aquele relatório do hospital. Estava aqui nesse instante. Porque, doutor, nós
ouvimos aqui o Dr. Sérgio Raimundini, que era na época o coordenador, que é o
lugar que o senhor ocupa hoje.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Exato.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Coordenador dos
Transplantes no Distrito Federal. Só um instantinho, por favor. Então, ele disse aqui,
está registrado, que três médicos participaram da retirada: Dr. Lúcio Lucas, Dr.
Roland Montenegro e ele. Que ele participou do procedimento até à hora da
perfusão ou infusão — é perfusão, que lava, perfusão — e depois disso os órgãos
teriam ficado com os senhores, no caso do fígado e o pâncreas, que ele não
identificou, e que depois disso ele não sabe o que houve com os órgãos. Aqui, no
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boletim — permitam-me o material que o nosso Presidente tem em mãos -, quando
da internação e da marcação da cirurgia, ficou exarado — está aqui o papel — que a
captação seria captação de órgãos seriam Dr. Roland, Dr. Vinícius, Dr. Ricardo e Dr.
Wagner. O relatório da cirurgia, que está preenchido por Ricardo Gomes, está
dizendo que a captação do fígado foi realizado por Roland Costa e Lúcio Lucas e Dr.
Vinícius...
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Brava de Oliveira, provavelmente.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Exatamente. Então, esses
3. Mas o senhor está dizendo que só o senhor participou da captação e outros, mas
não o Dr. Roland. Como é que se explica isso aí?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - São duas fichas que o senhor tem em
mãos, e, senão me engano, daqui eu as reconheço: uma é o pedido de sala. O
pedido de sala, muitas das vezes... O pedido de sala é feito antes do ato cirúrgico, o
que não significa que muitas das vezes o nome do cirurgião que consta no pedido é
aquele que, em prática, às vezes, acaba realizando o procedimento. Por isso que se
repete, a equipe cirúrgica, ao final, o preenchimento do relato operatório. À exceção
do meu nome e do nome do Dr. Roland, os outros colegas, que o senhor citou, eram
residentes do hospital, estagiários à época. E, normalmente, fica por competência
deles, até por conta de treinamento, o preenchimento desses relatos cirúrgicos. No
transplante de fígado, da retirada, do enxerto não houve participação do Dr. Roland.
Ele não entrou em campo. Não me recordo se em algum momento ele entrou à sala
do centro cirúrgico, onde eu realizava o procedimento, para olhar algum aspecto
técnico do procedimento retirado. Não me recordo se houve a presença dele. Mas,
certamente, não houve participação no ato cirúrgico do Dr. Roland. Se, por acaso,
ele veio entrar em sala e, de repente, o residente assim entendeu que o nome dele
deveria constar, talvez por isso esteja aí.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - O Dr. Sérgio Raimundini
não esteve na cirurgia?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - O Dr. Sérgio Raimundini não é cirurgião,
ele é nefrologista. E como coordenador, a participação dele era, na sala do centro
cirúrgico, organizar, observar e primar pela perfusão dos órgãos.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - E ele estava?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Estava.
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O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito bem. Mas, doutor,
aqui, o relatório não é o da solicitação de sala. É cirurgia geral, relatório de
operação.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Exato.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Aqui, no verso desse
documento, está dizendo inclusive tudo o que aconteceu. Não dá para ler direito,
assim, mas secção dos ligamentos, cateterização, vem sendo aberta a cava
hepática, vem dizendo tudo, seccionado os pâncreas, colédoco, diafragma, tudo
aqui, o procedimento da operação. Este é o relatório da operação. Se existe um
outro relatório, certamente, o hospital nos forneceria.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Claro, sem dúvida.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Não é? Então, eu presuma
que não exista, doutor. Este aqui é o relatório da operação.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu não só presumo, como tenho certeza.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Pois é. Então aqui diz que o
Dr. Roland Costa participou, o senhor e o Dr. Vinícius.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Se o residente que preencheu essa ficha
de relato operatório entendeu que o nome do Dr. Roland deveria constar, porque em
algum momento ele entrou na sala de cirurgia para verificar alguma coisa e, por isso,
merecia ter o nome como um dos responsáveis do procedimento, eu só vejo desta
maneira o nome dele constar. Do procedimento cirúrgico participo eu.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Per...
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Desculpe eu interromper V.Exa.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Conclua.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Até para entender. Eu sou mais jovem que
o Dr. Roland. E como nós temos um quantitativo diminuído de cirurgiões e como —
comentei antes com V.Sa. — fica à frente do transplante principalmente eu e o Dr.
Roland, a cirurgia da retirada, como é de maneira lógica, começa muito antes da
cirurgia do implante. E eu participo da cirurgia da retirada, participo depois do
preparo do enxerto para implante e do transplante propriamente dito, o que dá uma
jornada de trabalho praticamente de 20 horas ininterruptas, do início ao fim. Até por
esse motivo, eu sempre tentei eximir e tirar qualquer tipo de necessidade da
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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presença do Dr. Roland nesse processo inicial, para que ele ficasse mais
resguardado, inclusive de maneira física, para o transplante propriamente dito.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito bem. Agora, vamos
ser bem precisos. Eu pergunto, bem peremptório, e o senhor responde também,
certo, para a gente andar, porque têm outros companheiros que querem perguntar.
Nesse relatório de operação, estando um médico, como o senhor, que tem
especialização na área, até no exterior, e já tem experiência anterior a 2000, quando
os senhores implantaram aqui no Hospital de Base a retirada de órgãos humanos.
Ter, em suas mãos, um corpo, certamente, por trás daquele corpo tem entes
queridos que estão esperando, estão ansiosos para ver o corpo de volta, de uma
forma ou de outra, os senhores realizam a cirurgia dessa sem assinar nenhum
documento? No relatório do hospital, não exige a assinatura dos senhores? É um
residente que preenche?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - O residente é médico, Excelência.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Sim. O residente é médico.
Mas, eu pergunto, os senhores não assinam?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não. Não é de praxe, em relatório cirúrgico
algum, independente de ser transplante ou não, a necessidade ou o hábito de haver
a assinatura, em conjunto, com a do residente.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Certo. Agora, o senhor
acha que poderia o residente, sendo um médico, preencher um relatório de
operação, de ato cirúrgico, colocar o nome do operador, cujo operador não esteve
na operação? Ele pode aventar a possibilidade de ser o titular da operação o
cidadão que só entrou lá ou até aqui a gente vê a desorganização no Hospital de
Base?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Ele pode. Excluindo o exemplo do
transplante para ficar mais prático; uma cirurgia de hérnia, que é uma cirurgia,
teoricamente, mais simples. Via de regra, normalmente num hospital onde possui
treinamento de cirurgia, um cirurgião, vamos dizer assim, responsável pelo
procedimento, muitas das vezes, fica de fora do ato cirúrgico, presente à sala, ao
ombro dos dois residentes, mas não participa do ato operatório. Porém, no final do
relato, o médico responsável, por exemplo, seria eu; meu nome consta, sim, no
relato cirúrgico, apesar de eu não estar no procedimento cirúrgico propriamente dito.
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O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Certo. Agora, outra coisa: o
Dr. Raimundini que disse que participou, eu disse: “Doutor...” Porque, aqui, a
questão, Dr. Lucas, é sabermos o que foi feito com o fígado e o pâncreas do garoto.
Porque o documento, doutor — Chico Buarque de Holanda escreveu que a gente
tem que ter a certidão para existir. Eu não sou quem sou se eu não provar, por
documento, quem sou, e de igual modo V.Sa. O documento é que prova o que foi
feito. O Dr. Sérgio Raimundini disse que entregou nas mãos dos senhores,
respondendo uma pergunta minha, os órgãos retirados, após o ato cirúrgico. A meu
ver, e como Relator desta CPI, eu responsabilizo e quero saber a resposta do Dr.
Roland — porque ele admite que participou — e do Dr. Lucas o destino, o paradeiro
do fígado e do pâncreas do garoto. Porque não há, Dr. Lucas, um só documento
direcionando, endereçando, enviando, transferindo o fígado e o pâncreas para
qualquer departamento do hospital. E esse hospital, além de o relatório — de uma
sindicância interna que foi feita — afirmar que foi incinerado, há um outro relatório
exterior, que foi realizado, dizendo que, por essa mesma afirmativa, ele foi
sepultado. O chefe da patologia — nós o chamamos aqui, e ele esteve — ele disse:
“Eu estive; eu vi; eu peguei; eu apalpei o fígado e mandei incinerar com o restante
do material cirúrgico”. Eu disse: “Doutor, e documento?” “Não, não recebi nenhum”.
Pode isso acontecer?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não deve. Não deve e não é o mecanismo
que estamos acostumados e habituados a ver a acontecer.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Certo. O que foi que o
senhor fez com o fígado e o pâncreas, quando ficaram em suas mãos?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Terminada a retirada dos órgãos, esses
órgãos permaneceram no próprio centro cirúrgico onde iria acontecer o
procedimento do transplante, como é de praxe. E, a partir desse momento, eu fui
tentar resolver, em conjunto, com os colegas a questão do material que, até então,
se fazia impossibilitado de uso. Isso se deu... se findou... A finalização de que o
procedimento de transplante não poderia acontecer ocorreu em algum momento da
madrugada que eu não me recordo se por volta de 1 ou 2 ou 3 ou 4.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Desculpe, doutor, o relatório
disse que concluiu... o término às 22h30min.
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O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Às 22h30min eu terminei a retirada; depois,
peguei esses órgãos que permaneceram no centro cirúrgico e fui tentar resolver o
problema do material que estava impossibilitado de uso.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Mas o senhor afirmou, há
pouco, que a cirurgia terminou de madrugada, doutor, às 2 e tanto da manhã. Foi às
22h30min.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Às 22h30min a gente tinha o órgão na
mão. Nós decidimos encerrar, em definitivo, qualquer tipo de esforço para realizar o
transplante no avançado da hora da madrugada. Eu estou adiantando essa
colocação para já dar a lógica da impossibilidade inclusive do envio desse enxerto
para outra unidade da Federação.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Então, vamos analisar
juntos, vamos pensar juntos. O senhor afirmou que o tempo mínimo ideal para que
um receptor receba um fígado é de 12 horas, precariamente, até 15.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Perfeito.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Veja, bem. Já havia sido
acionada a equipe, inclusive tendo à frente o Dr. Roland, para fazer a operação do
implante no Ramon. Muito bem. Não seria o procedimento legal, racional, normal
que, após ter, às 22h30min, o fígado na mão, já ter sido levado para transplante. Por
que a permanência desse fígado fora, sem fazer o transplante, já que o senhor
estava seguindo, dizendo que continuaram os procedimentos até constatar que não
podia ser feito o transplante. Não houve, aí, perda de tempo para a morte desse...
porque o fígado teria sido incinerado ou sepultado, porque demorou muito o
processo, e não tinha mais serventia, ele estava deteriorado, sem vida. E por que,
às 22h30min, ele não foi logo transplantado?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA- Não foi porque nós identificamos que o
aparelho de monitorização hemodinâmica estava impossibilitado de uso.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - E esse interregno de 22h às
2h30min que o senhor estava explicando sobre a cirurgia, o órgão fora?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA- Desculpa, Excelência, mas não estou
entendendo a pergunta.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - O senhor afirmou, antes,
que a operação terminou às 2 da manhã.
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O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu afirmei ao senhor que os esforços para
se continuar com esse transplante se encerraram às 2 da manhã. Até às 2 da
manhã, a nossa idéia era utilizar esse fígado dentro do Distrito Federal. A partir das
2 da manhã, nos ficou clara a impotência da instituição em realizar o procedimento
e, portanto, esse fígado, teoricamente, poderia ser disponibilizado. Pelo avançado
da hora, e pelo horário da retirada, então, não foi possível. Foi isso o que eu disse a
V.Sa.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito bem. Obrigado pelo
reparo. Então, feito isso, onde estava o fígado e para onde foi?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - A retirada se deu dentro do centro cirúrgico
do Hospital de Base. Lá ele permaneceu, na sala da chefia de enfermagem,
enquanto esses procedimentos com relação à tentativa de se vencer os esforços,
em se conseguir um outro aparelho de monitorização hemodinâmica fossem
realizados. Por volta desse avançado do horário, que comentei com V.Exa, 2 da
manhã, quando nós encerramos e vimos, realmente, da impossibilidade e
impotência do hospital em realizar o procedimento, esse fígado permaneceu ainda
no centro cirúrgico para, de manhã, ser encaminhado à Anatomia Patológica.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Certo. E aí quem
encaminhou no dia seguinte?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Esse encaminhamento foi feito pelo
enfermeiro do centro cirúrgico.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Qual é o nome do
enfermeiro?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Está na sindicância, Excelência. Eu, de
cabeça, não me recordo.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Eu não.. é o primeiro roteiro
que nós temos desse fígado para ser enviado para lá.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu tive acesso... Eu não depus nessa
sindicância, porque não fui convidado, na sindicância interna do Hospital de Base,
mas tive acesso ao relatório; e, no relatório da sindicância, consta o roteiro de mãos
em mãos por onde esse enxerto passou até chegar às mãos do Dr. Miziara.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Esse é um fato novo; nós
vamos ter que descobrir.
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O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu acredito que se o senhor já tivesse a
cópia da sindicância em mãos, consta lá; eu não me recordo do nome para lhe dizer,
mas sei que existe, porque foi lá que eu li.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Para esclarecer, o senhor
pode dizer quem era o chefe da enfermagem onde ficou o fígado?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Houve diversas mudanças na chefia de
enfermagem onde ficou o fígado.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Então, mas naquela
época?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu não me recordo, não me recordo. Na
sindicância, tem o nome; mais do que o chefe da enfermagem, tem o nome do
enfermeiro que encaminhou o órgão para a Anatomia Patológica. Tem esse
depoimento do enfermeiro que diz que recebeu, do funcionário que disse que
recebeu e de que foi encaminhado para a incineração. Há essa passagem nominal
com a afirmativa de cada um desses que realmente recebeu e que assim o
encaminhou.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Quer dizer que, pela sua
mão, não foi encaminhado, ficou lá. Foi esse enfermeiro que fez esse
encaminhamento no dia seguinte para a anatomia patológica?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Para a anatomia patológica, como é de
praxe todas as peças cirúrgicas serem enviadas à anatomia patológica.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - E o nome do enfermeiro o
senhor não lembra? Não sabe?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Mas lhe garanto que está na cópia da
sindicância, que acredito que V.Exa. tem em mãos.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Está bom, depois eu volto.
O senhor ia fazer a pergunta, né? Depois eu volto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Deputado Geraldo
Thadeu.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Dr. Lucas, quando foi determinada
a retirada do órgão — uma pergunta só para o senhor —, o Dr. Roland disse que às
vezes quando vem um órgão de outra localidade, vem de avião e tudo, só quando
pousa o avião é que se determina o processo de preparo da cirurgia, porque o avião
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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pode cair e perder tal e tal. E no caso de retirada do órgão? Não já deveria estar
todos os equipamentos para transplante checados, preparados para que pudesse
ser feito o transplante?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Sem dúvida, eu agradeço a pergunta de
V.Exa. que vai me dar a oportunidade de discorrer um pouquinho sobre isso. Não
há dúvida nenhuma que esses aparelhos deveriam constar do quantitativo do
hospital como constaram em todos os outros procedimentos anteriores. Esse
aparelho não é de uso exclusivo de transplante de fígado, inclusive é um aparelho
que se usa de maneira rotineira e freqüente dentro dos serviços de terapia intensiva.
O Serviço de Terapia Intensiva do Hospital de Base é um serviço de referência da
rede pública do Distrito Federal, portanto deveria, sim, ter a disponibilidade desse
catéter de maneira ininterrupta. E nós fomos, sim, pegos de surpresa pela ausência
de material, que nós sequer imaginaríamos que isso fosse possível. É como — o
senhor me desculpe a comparação —... mas é como eu chegasse hoje no pronto
socorro e não houvesse gazes e eu não posso, por exemplo fazer suturas em
pequenos cortes por falta de material de gaze, por exemplo, e ter que aguardar a
chegada de novo material. O raciocínio é idêntico, à exceção de que nós tínhamos
agora na mão um fígado cujo tempo exíguo e cada vez menor para a excelência
desse resultado, e um procedimento completamente inadiável. Outros
procedimentos eletivos podem até ser adiados quando você é pego de surpresa por
uma falta de material, como, por exemplo, se eu tiver marcado amanhã para eu
realizar um procedimento de hepatectomia, ou seja uma retirada de parte do fígado
por tumor e ao chegar ao centro cirúrgico eu verificar que não há, por exemplo,
reserva de sangue, eu posso muito bem suspender essa cirurgia e remarcá-la para
um dia, onde eu vou ter então a reserva. No caso do transplante isso não é possível,
principalmente a partir do momento em que o senhor está com o órgão na mão. É
completamente inadmissível, no nosso ponto de vista, não existir esse material
dentro do hospital, é um material de uso freqüente e nós sequer imaginaríamos a
possibilidade disso. Nós até encontramos alguns monitores disponíveis, porém os
fabricantes desse monitores requerem um catéter também compatível do mesmo
fabricante. E o que nós tínhamos no momento era o mesmo monitor de um
fabricante, com o catéter de outro fabricante, e o procedimento não foi possível.
Sem dúvida, o senhor tem razão. Isso deveria acontecer e faz parte do material
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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permanente do Hospital de Base, e nos surpreende também, como também nos
assustou à época, inclusive nós preferimos suspender o transplante e não mais
realizar nenhum, independente da interdição ou não do Ministério da Saúde, já havia
essa decisão anterior da própria equipe de só voltar a realizar esses procedimentos
com um nível mínimo de segurança, que foi como nós começamos durante os 10
primeiros transplantes realizados.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Nesse caso, a conferência desse
equipamento seria da equipe ou da... De quem que seria?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Como eu comentei um pouco
anteriormente Excelência, o material específico ao transplante de fígado, por
exemplo, a solução de preservação, que ela só tem em um hospital, cujo hospital
faça transplante, senão não há necessidade; um saco estéril, onde possa ser
armazenado o órgão, só que tem em hospitais que realiza transplantes. Esses
materiais eu fiz questão de durante todos esses e tempos eu mesmo fazer a
conferência, já que eram itens que eu sei que o hospital não tinha tradicionalmente
o histórico de utilizar. Então, eu sempre me preocupei pessoalmente em zelar pela
existência desse material, até para que nós pudéssemos realizar o transplante, mas
eu jamais imaginaria que precisaria também zelar por outros materiais que não são
exclusivos do transplante e que deveriam fazer parte do armamentário geral e
normal do Hospital de Base.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Bom, a questão do... Vocês
realizaram 10 transplantes.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Exato.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Alguma vez aconteceu o mesmo
fato de não ser aproveitado um órgão e outro de retirada?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não. aconteceu de ser retirado, de nós
identificarmos em tempo hábil ainda que houvesse possibilidade de horário de vôo e
esse órgão foi enviado para outros Estados. Não me recordo se foi retirado e não
aproveitado. Acredito que não. Houve, sim, nesse intervalo entre esses 10, algumas
vezes em que nós realizamos a cirurgia de retirada do enxerto, já sabendo
previamente que o transplante não poderia ser feito no Distrito Federal pela
ausência, por exemplo, do líquido de preservação, que — como comentei com
senhor — é uma preocupação que eu pessoalmente fazia questão de tomar conta.
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Então, em havendo doador, e eu previamente já sabendo que não poderia ser feito o
transplante pela ausência do líquido, essa retirada era realizada e o enxerto enviado
para outro Estado. Isso aconteceu, mas não houve desperdício do órgão.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - A retirada foi feita pelo senhor ?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Foi feita por mim.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Dos dois órgãos? Do pâncreas e
do fígado?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - A retirada do fígado ela se faz necessária.
Desculpa. A retirada do pâncreas, mesmo assim de parte do pâncreas ela se faz
necessária quando você não deseja... você deseja fazer uma retirada mais rápida,
quando o doador está com os seus níveis pressóricos baixos o suficiente para não
garantirem uma perfusão adequada a esse órgão e esse órgão já começar a entrar
num estado de sofrimento muito antes de a gente começar a perfundi-lo. Então,
essa retirada cirúrgica de maneira rápida é feita com uma margem de segurança e
essa margem de segurança de retirada cirúrgica do fígado inclui a cabeça do
pâncreas. Então, na verdade, numa retirada de fígado com vistas a um transplante,
onde foi realizado um procedimento cirúrgico, pelo o que a gente chama de técnica
rápida, a cabeça do pâncreas faz parte da peça cirúrgica.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Retirado o transplante, a intenção
foi viabilizar para vez a viabilidade para ver a possibilidade do transplante.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Exato. Perfeitamente.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Como não houve, esse órgão
então foi encaminhado à patologia?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Encaminhado à patologia, como é de
praxe para todas as peças cirúrgicas, independente transplante ou não.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - E o patologista, como disse o
Deputado Pastor Pedro, o próprio patologista declarou que estava com os órgãos na
mão e que os mesmos foram para incineração?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Isso...
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Pelo o que o senhor conheceu da
sindicância.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Pelo o que eu conheci da sindicância é
exatamente isso que consta lá.
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O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - E passo por passo têm os nomes
todos na própria sindicância.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - As pessoas que constaram e que disseram
que “sim, eu recebi.”; “sim, eu entreguei.”; “sim, eu recebi.”; “sim, eu entreguei”, até
que chega o Dr. Miziara que confirma que recebeu e providenciou a incineração.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Está, muito obrigado.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Dr. Lucas, o Dr. Renato
Viscard, quando esteve aqui, disse que além daquele monitor existiam mais dois no
hospital; o outro estava também quebrado e o terceiro estaria sendo usado na UTI,
por isso que não houve condições de os senhores pegarem esses outros aparelhos
para resolver o problema do transplante. O senhor pode me informar... Hoje o
senhor é o Coordenador da Captação de Órgãos do Distrito Federal.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Do Distrito Federal.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Eu sei que o Hospital de Base,
no momento, está com a sua licença suspensa, não está fazendo mais transplante,
mas o senhor ficou ainda um tempo lá, antes que isso acontecesse, o senhor
lembra o que foi feito com os dois monitores quebrados, se eles foram doados ou
consertados? O senhor tem algum roteiro? Alguma informação sobre isso?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não sei lhe responder, porque esses
monitores não ficam sob carga da central de transplante. A responsabilidade da
carga desses monitores, dos que estão no centro cirúrgico é da chefia do centro
cirúrgico; dos que estão na UTI, é da chefia da UTI. Mormente, eu sei que alguns
desse monitores têm sido utilizados na terapia intensiva, sem poder lhe dar a
resposta com certeza, mas presumindo, acredito que esses monitores tenham sido
encaminhados para conserto.
O SR. DEPUTADO GERALDO THADEU - Certo. Muito bem. No momento, é
o que eu tenho, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Logo em seguida o Pastor
Frankembergen estará com a palavra. Dr. Lucas, o primeiro transplante realizado foi
em qual Estado?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Primeiro transplante de quê tecido?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Qualquer tecido.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - No Brasil?
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - No Brasil.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Foi um transplante de córnea, eu não me
recordo em que Estado, ainda nos idos de 1950.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quando?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Em 1950.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Não, você eu estou
falando.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - A o senhor perguntou primeiro transplante.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Que você realizou.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Ah, sim, foi no Estado do Rio de Janeiro,
em 1997.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Foi transplante de quê?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Transplante de fígado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - De?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Fígado, que e a minha área de atuação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, em 1997 o senhor
realizou o primeiro transplante de fígado.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Em 24 de abril de 1997.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Qual hospital?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Hospital São Vicente, da Gávea.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Hospital São Vicente?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Hospital São Vicente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Há quanto tempo o
senhor é médico transplantista?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Estou envolvido com transplante desde a
data de 97.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Antes, fora do Brasil, o
senhor já realizou algum transplante?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Fora do Brasil eu tive a oportunidade de
participar de cirurgias de transplante, mas nenhuma conduzida propriamente por
mim. Mas tive, sim, tive a oportunidade de participar de 42 procedimentos cirúrgicos
nos Estados Unidos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quantos?
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O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Quarenta e dois.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quarenta e dois nos
Estados Unidos?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Nos Estados Unidos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor se formou
quando?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Em 1992.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Em 1992. E depois de
formado foi para os Estados Unidos e ficou lá quanto tempo?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não, não fui para os Estados Unidos
depois de formado eu fiz residência, eu fiz pós-graduação em terapia intensiva 2
anos, depois eu fiz residência de cirurgia geral mais 3 anos, depois eu fiz o mestrado
e durante o mestrado eu fui para os Estados Unidos e fiquei 4 meses, voltei após a
conclusão desse tempo e me mudei, então, para Brasília.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quando o senhor realizou
o primeiro transplante de rim o senhor tinha o credenciamento do Sistema Nacional
de Transplante para fazer?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Em 1997 a lei regulamenta...a lei dos
transplante saiu em fevereiro de 1997 e a portaria que regulamenta o
credenciamento, que é a 3.407, é de 98. Portanto, o primeiro transplante realizado,
em 1997, não foi ainda cadastrado via Portaria 3.407, porque ela foi anterior à
publicação da portaria.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor já conhecia o
Dr. Roland?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Aqui em Brasília não, conheci depois que
eu mudei o meu domicílio para esta cidade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor não conhecia?
Quando o senhor conheceu o Dr. Roland?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu cheguei em Brasília no dia 11 de junho
de 99.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Já o conhecia?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não, não o conhecia.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quando o senhor o
conheceu?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu o conheci, porque quando eu fiz prova
de concurso público para a Secretaria de Saúde, a prova oral me foi aplicada pelo
Dr. Roland.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quando?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu entrei na Secretaria de Saúde em
fevereiro ou março de 2000. Então, eu acredito que tenha sido nessa época.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Qual foi o entendimento
entre vocês para que vocês fizessem parte de uma mesma equipe de transplante ?
Como se deu isso?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Na verdade, não houve muito
entendimento, porque quando nós começamos a ter algum tipo de conversa,
principalmente quando ele soube da minha formação especificamente em
transplante de fígado, ele me disse que aqui em Brasília... que ele tinha formação
realmente a formação muito boa nesse procedimento, com uma vasta experiência
no exterior, e ele me disse que já tinha aqui montado alguns profissionais da área de
anestesia, alguns profissionais da área de gastroenterologia e patologia e que
estava com alguma dificuldade na equipe cirúrgica e, portanto, se eu não me
habilitaria a ajudá-lo na realização dos procedimentos de transplante. Então, na
verdade, eu entendo a minha chegada à equipe muito mais como uma contribuição
de um desejo que já existia do que como um mentor, vamos dizer assim, de se
iniciar o procedimento de propriamente dito. Já existia vontade de alguns
profissionais em realizar o procedimento e eu fui mais um que compus essa equipe
e resolvi com eles tocar isso para frente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor participou de
quantos transplante de fígado no Hospital de Base de Brasília?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - De todos que nós realizamos, os 10
transplantes.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Você sabe quantos
pacientes ainda sobrevivem dos transplante que o senhor e o Dr. Roland realizou?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu acho que um paciente.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - É um índice aceitável
dentro das normas da saúde?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - É um índice aceitável dentro da curva de
aprendizado mundial para transplante.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, é um número
tolerável 90%, por exemplo, de morte?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não, de maneira nenhuma Excelência, de
maneira nenhuma.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - É aceitável?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Há necessidade de se analisar caso a
caso, por vários aspectos. A etiologia que leva paciente ao transplante pode ser por
si só de uma estatística de sobrevida menor, como, por exemplo, o vírus C positivo.
A nossa maior casuística de transplante foi de fazer vírus portadores de hepatite do
tipo C. Então, há essa diferenciação. Certamente, os números em equipes já
preestabelecidas onde existe um suporte hospitalar adequado a sobrevida é maior.
Não há dentro dessa estatística, dos 10 transplantes realizados, nenhuma morte
operatória.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor participou de 46
procedimentos de transplante nos Estados Unidos?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Perfeitamente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quando o senhor chegou
no Hospital de Base de Brasília, o senhor percebeu que as instalações ofereciam as
mesmas condições, por exemplo, dos hospitais onde o senhor participou dos
procedimentos?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Quisera eu.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Oi?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Quisera eu que sim, mas não era.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas não era. Era inferior?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Era inferior.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Bem inferior?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - É bem inferior.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Ao fazer essa constatação
vocês não imaginaram que essas deficiência já vistas a olho nu poderiam ser
obstáculos para o sucesso na cirurgia de transplante realizadas por vocês?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não, porque quando o senhor me pergunta
com relação a condições inferiores, eu acredito que V.Exa. esteja se referindo à
parte de material.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Instalação, estrutura.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não, a estrutura física é semelhante. Os
equipamentos que são vendidos lá também são os adquiridos aqui. A grande
diferença é na administração hospitalar e no comprometimento dos colegas de
saúde envolvidos, principalmente daqueles fora do transplante, como, por exemplo,
UTI, emergência, distribuição de medicamentos, realização de tomografias em
tempo hábil e etc. Então, a condição de funcionabilidade hospitalar é, sem dúvida, o
diferencial.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas durante o período
que vocês trabalharam, durante 2 anos, realizando transplante juntos, vocês
enfrentaram dificuldades constantemente ou esse foi o primeiro caso?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não, nós enfrentamos dificuldades em
todos os casos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Em todos os casos
enfrentaram dificuldades para realizar transplantes?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Enfrentamos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - E vocês chegaram a
notificar, comunicar isso à direção do hospital? Eles tomaram alguma providência?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Essas decepções que, muitas das vezes,
não levaram à interrupção do procedimento de transplante, mas existiram, sem
dúvida, foram frutos de alguns relatórios enviados à direção e à Secretaria de
Saúde. Um dos motivos de que, inclusive, hoje, nós não realizamos mais
transplantes é porque essas solicitações não foram atendidas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Você faz parte de alguma
outra equipe de transplante fora de Brasília?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Não?
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O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - É, como profissional
transplantista, especializado na área de transplante de fígado, você tem
entendimento que o sistema de transplante do Brasil funciona a contento ou não
precisa de melhorias?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Excelência, precisa de melhorias. Eu
enxergo de uma maneira muito otimista. E, como eu acredito que eu tenha um
conhecimento razoável sobre o sistema de transplante no âmbito nacional, eu tenho
também várias críticas. Quanto mais a gente conhece, mais o nosso poder de
criticar, mas, de uma maneira geral, eu...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Qual o tipo de crítica que
você acha que está sendo feito e que você acha que vai ser para contribuir para a
melhoria do sistema?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Depende da área.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Não, da sua área.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - De transplante de fígado propriamente
dito?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Isso.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Existem diversas discussões que precisam
ser feitas com relação principalmente ao transplante de fígado, principalmente com
relação aos critérios de inclusão em lista, que é uma discussão nacional. Isso não é
um pensamento meu. Aliás, eu estou mais reproduzindo o que a própria sociedade...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Qual é a crítica que se
faz em relação à inclusão em lista?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Como critério de lista de inclusão de
distribuição do fígado, enxerto fígado, é por tempo de lista, exclusivamente por
tempo de lista — tem dois casos só que atendem critérios de emergência —, houve
muita crítica de alguns outros serviços que viram essas listas serem inchadas com
pacientes que, naquele momento, não tinham indicação, pois, como, muitas das
vezes, você tinha um paciente mais grave, porém ele era inscrito posteriormente,
esse paciente falecia na fila, já que não é possível flexibilizar e ele passar à frente
por estar mais grave. Então, alguns serviços — isso é o que se divulga, porém
nunca se conseguiu, de fato, documentar um ou outro caso, pelo menos ao meu
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: CPI - Tráfico de Órgãos HumanosNúmero: 0889/04 Data: 17/6/2004
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conhecimento — de que alguns hepatologistas inscreviam pacientes na fila ainda
numa fase em que ele não tinha indicação, para que, em havendo evolução da
doença dele, em ele estando na lista de espera, ele não fosse prejudicado pelo
enorme tempo de lista e assim ele viesse a falecer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, você acha que,
nesse caso, por exemplo, há uma falha?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Há uma falha.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Não é respeitada a
questão da gravidade, da situação de emergência. No caso do fígado, o que vale é o
tempo de espera?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - É um ponto a ser discutido. Não se
conseguiu ainda provar que isso seja bom ou ruim e qual seria o impacto na fila, na
mortalidade ou na sobrevida em outros modelos utilizados no restante do mundo,
mas a discussão existe. É extremamente salutar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Qual a sugestão que você
daria para melhorar o sistema de transplante no Brasil?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Isso dá um relatório enorme.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas cita pelo menos três.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu acho que precisaríamos rever os
critérios de distribuição do enxerto fígado; eu acho que haveria necessidade de
maior conscientização dos profissionais de saúde principalmente com relação à
doação de tecidos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Você acha que falta
conscientização, ou falta vontade dos...
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Eu acho que falta, desculpe interromper,
Excelência. Eu acho que falta, sim, falta conscientização e falta de hábito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Dos profissionais da
saúde?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Dos profissionais da saúde.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, você acha que em
vez de o Governo ficar gastando dinheiro para incentivar o povo a doar órgão, se ele
incentivasse os médicos a se conscientizar sobre a necessidade de doação, ajudaria
também muito?
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O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Como a doação não existe se não houver
autorização familiar, sempre vai haver a necessidade da publicidade para a
sociedade. Mas, segundo números de São Paulo, divulgados pela própria
Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, de cada sete óbitos por,
teoricamente, morte cerebral que acontece numa unidade de terapia intensiva, o
próprio colega só notifica a Central 1.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, você acha que...
você concorda, então, que o processo de doação no Brasil está sendo prejudicado
não pela falta de órgãos, mas, sim, por falta de consciência principalmente dos
profissionais da saúde dos hospitais?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - É um pouco complexa essa resposta. Em
princípio, eu concordo, sim, com V.Exa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - É porque de cada sete
pessoas com diagnóstico de morte cerebral, não é verdade...
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Nós recebemos a comunicação apenas de
uma.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O hospital, que deveria
comunicar a todos... A lei diz que o hospital tem que comunicar todos os
diagnósticos de morte encefálica para a central de captação.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Perfeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Se de sete, ele só notifica
um, ele está tirando a possibilidade de que, pelo menos, e segundo dados
estatísticos do próprio sistema, de 60 a 70% das famílias autorizam a doação. Isso é
dado estatístico do sistema e do Ministério e da própria ABTO. Então, se de sete, ele
só notifica um, ele está tirando a possibilidade aí de mais cinco pessoas.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Sem dúvida, concordo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Cinco pessoas, cinco
famílias autorizar a doação. Então, o sistema, se existe falta de órgãos no Brasil, se
o sistema de transplante não funciona 100% não é por falta de órgãos, nem de
doadores. Nós temos órgãos disponíveis que, se bem trabalhados, poderiam
acelerar o processo de transplante, dar mais oportunidade às pessoas que estão na
fila. Mas nós não conseguimos atingir esse alvo por falta de consciência de alguns
profissionais da saúde.
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O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Perfeito, Excelência. Falta consciência
para os profissionais da saúde, falta a obrigatoriedade da notificação dos pacientes
de coração parado, que gerariam, por exemplo, os doadores de córnea, ou seja, não
existe essa obrigatoriedade. Se a família não quiser, ou se o banco de olhos ou a
central não estiver em cima, nós não ficamos sabendo que esse óbito aconteceu,
para que nós possamos abordar a família. Existe alguns Estados que não realizam
todos os transplantes e quando a família doa, obviamente, a família doa todos os
órgãos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Tudo.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - E a gente sabe que nesses Estados,
muitas das vezes, falta equipe que possa retirar esses órgãos e mandar para outros
Estados. Então, existe ainda, mesmo assim, uma subutilização dos órgãos de
pacientes que já doaram, existe uma subnotificação dos próprios colegas da área da
saúde, que, sem dúvida, tem que ser trabalhada em conjunto com a população, para
que a população entenda o que é doação. Paralelo a isso, já para concluir,
Excelência, tendo em vista que principalmente os pacientes que se tornam
potenciais doadores, esses pacientes são oriundos do serviço de emergência, há
que haver uma melhoria dos serviços de atendimento de emergência principalmente
no sistema público. Porque em esse paciente sendo maltratado, não no ponto de
vista técnico, mas no ponto de vista de instalação, de má comunicação com o
profissional que está atendendo, de falta de acesso ao paciente, porque a visita
ocorre uma hora só uma vez por semana, isso traz para a família uma indignação
tamanha que, muitas das vezes, quando ela precisa contribuir com o sistema, no
caso da captação, nós vemos, então, a negativa acontecer. Então, a gente precisa
também trabalhar, sim, o bom atendimento do paciente do pronto-socorro, porque
isso é fundamental.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas seria importantíssimo
que o Ministério, então, pudesse direcionar as campanhas de doação de órgãos
para os próprios profissionais de saúde e os hospitais, porque nós estamos
percebendo, então, que a maior negligência, a maior falha e a maior negativa não é
da família em autorizar a doação, mas é, sim, dos profissionais da saúde e do
hospital de notificar as mortes.
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O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Se V.Exa. me perguntar, em curto prazo, o
que pode ser feito, sim, a resposta é: eu concordo e o profissional de saúde tem que
ser melhor trabalhado com campanhas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Ok.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Dr. Lucas, nós temos
conversado aqui sobre a suspensão da permissão do Hospital de Base em realizar
transplantes. Na verdade, pela Portaria 306, de 3 de maio, foi suspenso tanto o de
rins quanto o de fígado. É realidade, está valendo a Portaria 364, que restabeleceu a
condição de transplantar rins? Estão sendo feitos transplantes de rins no Hospital de
Base?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Estão sendo feitos. Nós temos... existem
dois tipos de transplante renal: o transplante do doador vivo e o transplante do
doador cadáver. Os transplantes com doador vivo têm sido realizados ora de
maneira regular, ora de maneira irregular e o que pauta isso é a segurança que a
equipe sente na infra-estrutura. E os transplantes com doador cadáver praticamente
deixaram de existir. Este ano, no Distrito Federal, nós tivemos apenas um doador.
Então, hoje, nós passamos do Estado que mais tinha doadores para o Estado que
menos tem doadores nas Unidades Federativas.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - E depois desse caso do
Marcos Henrique que, certamente, causou bastante mal-estar ou reboliço ou
levantamento de sindicância interna e tal, o senhor que é exatamente ligado a essa
história, é o responsável hoje por captação, melhorou a estrutura, a parte da cirurgia,
tanto de captação quanto de implantação de transplantes lá no hospital? A
aparelhagem está sendo mais monitorada, mais acompanhada? A manutenção está
sendo mais cuidadosa ou o senhor não tem informação a esse respeito?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Em termos de aparelhagem, não. As
aparelhagens são praticamente as mesmas e elas oferecem, em termos de
aparelhagem, alguma segurança ao procedimento a ser feito, tanto que, ora são
realizados, ora não são. Então, não é a aparelhagem que hoje pauta a interrupção
dos procedimentos, por exemplo, do transplante renal. Mas, principalmente, a falta
do material de consumo, que nos chamamos assim. E nesse material de consumo a
gente denomina equipos e catéteres, por exemplo, e medicação. Então, muitas das
vezes, esse material de consumo, se estão em falta, impedem a realização do
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transplantes, se estão presentes, permitem a realização do transplante. Tem havido
o esforço da Secretaria de Saúde no intuito de melhorar esse tipo de ausência
desses materiais de consumo, mas não houve melhoria em termos de equipamentos
de material permanente. Houve, sim, alguma melhoria, mesmo que ainda não
satisfatória, de uma ou outra ala física do hospital.
O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Com a palavra o
Deputado Pastor Frankembergen.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Sr. Presidente, nobres
colegas, Dr. Lúcio Lucas, gostaria de fazer algumas perguntas. A princípio, já foi
perguntado há quanto tempo o senhor exerce a função de médico na área de
transplante?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Desde 1997.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Desde 19...
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Noventa e sete.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Desde 1997. Quanto
tempo, ou seja, quanto anos o senhor tem de idade?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Trinta e quatro.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Trinta e quatro anos. Em
97 o senhor estava com quantos anos?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Vinte e sete.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Vinte e sete. O senhor
lembra do caso do Marcos, no transplante... do doador Marcos, com relação ao
fígado que foi tirado e, eu creio que foi retirada a córnea? O senhor lembra?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Me recordo do caso.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Recorda do caso? Em
primeiro lugar, eu gostaria de fazer uma pergunta. No momento da captação do
fígado do Marcos, o Dr. Roland estava junto também? Ele fazia parte da equipe? Ele
estava junto?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - O Dr. Roland faz parte da equipe de
transplante de fígado, mas o procedimento cirúrgico da retirada do enxerto fígado foi
realizado por mim com a ajuda de... Participando do campo pelo esclarecimento,
inclusive, do nobre Deputado que compõe a Mesa, Pastor Pedro Ribeiro, em cima
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de outros relatórios cirúrgicos de outros colegas residentes e a equipe da urologia.
Mas em momento algum houve participação do ato cirúrgico do Dr. Roland
juntamente comigo.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está bem. E o Dr. Sérgio,
que, na época, era chefe da...?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - O Dr. Sérgio, quando ele esteve à frente
da Central de Captação, ele participou, praticamente, de todos os procedimentos de
retirada de órgãos, só que a participação dele não é uma participação cirúrgica. Ele
fica dentro da sala do centro cirúrgico, dando um apoio logístico, principalmente com
vistas a fazer a perfusão dos órgãos. Ele não entra em campo cirúrgico para realizar
o que está sendo...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Em que consiste a
perfusão?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - A perfusão, quando a gente tem um órgão
sólido para transplante, que a gente divide inclusive os órgãos sólidos e não sólidos,
esse órgão sólido possui sangue no seu interior e esse sangue tem um tempo curto
fora do organismo. Então, nós substituímos esse sangue — mesmo que ele não
fique completamente exangue —... nós substituímos eles por algumas soluções
específicas que permitem com que essas células tenham uma sobrevivência um
pouco maior, principalmente quando esse líquido é associado a um resfriamento em
torno de 4 graus. E aí, cada tecido tem a sua durabilidade. A perfusão, então,
consiste em primar pela boa realização dessa tentativa de exanguinar o órgão. Ou
seja, a participação do Sérgio, na prática — para tentar esclarecer o senhor —, ele
ficava responsável por verificar se os líquidos estavam na sala, se o constativo de
líquidos atendia à necessidade perfusional do momento. Se não atendesse, ele
precisava providenciar novos líquidos de perfusão. Alguns desses líquidos precisam
ser misturados apenas na hora, para não desestabilizar algumas moléculas de
reagentes bioquímicos que acontecem. Então, o Dr. Sérgio, além de ficar como
coordenador da sala cirúrgica, para primar pelo bom andamento do transplante, ele
também ficava com a supervisão da parte perfusional.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Sendo retirado, captado
o órgão, mais especificamente aqui o fígado, ao ser retirado do corpo, ele é levado,
a principio, para onde? Foi captado, ele é levado para uma bancada? Ele é levado
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um lugar aonde tem que ser preparado? Como é que é esse procedimento? Tem
alguma coisa a ver... Porque eu acho que ouvi sobre o procedimento de infusão. Do
que se trata? O que é isso?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não sei bem infusão, Excelência, mas
deixe eu lhe esclarecer...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Perfusão, no caso foi...
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - A perfusão ocorre ainda no cadáver.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - No cadáver, certo.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Antes do momento da parada cardíaca...
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Isso.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - ... porque a gente precisa do sangue
circulando. A partir do momento em que nós viabilizamos a perfusão, esse órgão é
retirado e ele é levado para uma outra mesa cirúrgica, onde ele será preparado para
o implante. É praticamente uma nova cirurgia, com uma duração inclusive
semelhante. Eu levo hoje uma média de uma hora e meia para preparar um enxerto
após ele já ter sido retirado do corpo. Então, eu preciso de uma outra bancada, com
outro preparo, ainda com mais um líquido de perfusão para estar circulando
enquanto eu estou operando apenas um enxerto agora, para que depois ele seja
implantado.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está bem. Nesse ato de
preparação do órgão, no caso especifico aqui, do fígado, quem acompanhou o
senhor nesse caso específico do Marcos?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Não houve a preparação do enxerto nessa
bancada. Esse órgão foi retirado, foi colocado num saco. Desse saco, ele vai para
bancada. Eu não levei à bancada porque eu preferi ir tentar resolver o problema da
falta do material, já que isso seria impeditivo ao transplante. Como eu preparo esse
enxerto, em média, em torno de uma hora a uma hora e meia, eu tinha tempo
suficiente para fazer isso depois. Então, eu preferi não fazer a cirurgia no enxerto
separado e já deixar ele pronto para o transplante, para utilizar esse tempo na
tentativa de resolver o problema da falta do material que foi verificada no momento.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Então foi constatada a
falta de material somente após a conclusão da captação do órgão?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Foi quando eu tive conhecimento.
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O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Quer dizer que o senhor
também saiu com a intenção de procurar resolver a situação da falta desse
aparelho, ou seja, desse equipamento que estava faltando?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Sem dúvida e, pelo adiantado da hora, eu
já imaginaria que esse fígado certamente iria acabar sem uso terapêutico, porque,
se nós não conseguíssemos resolver o problema do catéter em Brasília, esse fígado
não teria condições de ser enviado a outro Estado. Então, a minha preocupação foi,
sim, não só para realizar o transplante, mas até para evitar que nós perdêssemos
um órgão doado.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - No ato de captar o
fígado, o senhor lembra se foi retirado o pâncreas completo?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Lembro. Completo, não. Ele é retirado
principalmente com a cabeça pancreática. De antemão, eu sei que o laudo do IML
mostra que...pâncreas ausente. Posso tentar... não sei, já estou inferindo que o
senhor vai questionar, vou me antecipar. Numa criança, o pâncreas tem um
tamanho diminuído. O Marcos Henrique, se não me falha a memória, tinha 8 ou 9
anos. O transplante de pâncreas nessa idade, a doação do pâncreas, melhor
dizendo, nessa idade é contra-indicada. Teoricamente os protocolos de transplante
de pâncreas aceitam pâncreas de doadores entre 12 e 45 anos. Portanto, o Marcos
Henrique estava fora do protocolo de doação de pâncreas. Nesses casos, então, a
gente se sente muito confortável em fazer a retirada da cabeça pancreática junto
com a peça cirúrgica do fígado, já que o pâncreas não será utilizado por outra
equipe para transplante. Então, parte dele vem com a gente. Em terminada a
retirado do fígado para transplante, a cavidade abdominal está praticamente sem
sangue, os tecidos têm a coloração muito parecida, porque, muitas das vezes, o que
dá a coloração a esses tecidos é a presença do sangue no seu interior, e o pâncreas
tem por si só uma coloração amarelada muito parecida com a da gordura, o que não
me espantaria de maneira nenhuma tendo uma desorganização completa da
anatomia dentro da cavidade abdominal, após a retirada dos órgãos, o legista
perante a sua perícia, passar os olhos e realmente não identificar que ali, apesar de
não ter grande parte do pâncreas, existia ainda, sim, restos pancreáticos.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está bem. O senhor falou
também que havia alguns equipamentos, ou equipamento, que impossibilitava ou
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estava impossibilitado de uso no momento do transplante, ou seja, para se realizar o
transplante. O senhor poderia dizer quais eram os equipamentos ou os aparelhos
que estavam impossibilitados de uso?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Esses equipamentos quem citou, se não
me engano, foi o Dr. Renato Viscard, ele falou em termos dos monitores.
Especificamente para esse transplante, eu sei que a inexistência, a impossibilidade
de usar a monitorização hemodinâmica impediria o transplante. Então, nem tomei
conhecimento de outras falhas enquanto essa não fosse resolvida, se é que
existiriam outras. Então, até onde eu sei, respondendo a pergunta de V.Exa., havia a
impossibilidade da monitorização hemodinâmica, porque nós tínhamos um aparelho
de hemodinâmica, um monitor de monitorização hemodinâmica disponível diferente
do fabricante do catéter que nós tínhamos disponível. E esse catéter não encaixa,
na prática, ele não conversa com o monitor que não seja do mesmo fabricante. Nós
tentamos viabilizar algum tipo de troca e aí foi completamente impossível de vencer
essa dificuldade. Então, eu não sei se o aparelho estava quebrado. O que eu posso
lhe dizer é que nós não tínhamos como utilizar o material disponível, porque eles
eram de fabricantes diferentes e, por isso, não era possível utilizar aquele
equipamento. Há necessidade de um catéter específico para cada monitor. O
hospital, pelo que eu sei, parece que tem três monitores de fabricantes diferentes, o
que caracteriza uma falta de padronização e talvez, por isso, infiro eu, uma
dificuldade no controle de almoxarifado. De qualquer jeito, isso não exime a
responsabilidade da existência desses catéteres no hospital.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está bem. A quem cabe
o procedimento de encaminhar o órgão, no caso específico aqui, estamos falando
sobre o fígado, para a Patologia? Quem que faz o encaminhamento? O senhor, na
captação, foi o senhor que fez o procedimento de retirada.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Perfeito.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor disse que
colocou dentro de uma...
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - De um saco para transplante.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - ... de um saco, e que ele
poderia ficar ali durante algumas horas...
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Perfeito.
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O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - ... ou uma hora e meia,
vamos supor, que seria o momento de depois voltar e trabalhar nos outros
procedimentos. Quem foi o médico? Ou se foi o senhor que fez o encaminhamento
para a Patologia?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Essa parte de documentação normalmente
fica, independente de a cirurgia ser de transplante ou de hérnia, ou complexa ou
não, a cargo dos residentes. Não sei qual deles preencheu a ficha, assim como eles
também preencheram o relato cirúrgico. Não sei qual deles preencheu ou deixou de
preencher essa ficha. Normalmente, esse documento é colocado junto com a peça
cirúrgica, e o centro cirúrgico se responsabiliza em fazer o encaminhamento físico
dessa peça do centro cirúrgico para a anatomia patológica.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Tá. Mas quem assina?
Certamente, para fazer o encaminhamento, alguém tem que assinar.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Perfeito.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Quem seria a pessoa
responsável para assinar? Tem um chefe do centro cirúrgico? Quem seria a pessoa
que...
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Isso deveria ter sido preenchido no final do
ato operatório. Assim como foi preenchido também o relato cirúrgico, deveria ter sido
preenchido também o pedido de peça. Não posso lhe dizer por que motivo ele não
foi preenchido pelos mesmos médicos que preencheram o relato cirúrgico. No dia
seguinte — saí do hospital de madrugada —, no dia seguinte de manhã, voltei ao
centro cirúrgico para saber da peça, exatamente para fazer esse encaminhamento,
caso ele não tivesse sido feito. E a informação que me foi dada é que a peça já tinha
sido encaminhada. E eu, de maneira nenhuma, já que a peça foi encaminhada,
imaginei que ela tinha ido sem algum pedido médico protocolado, já que não é de
praxe da anatomia patológica aceitar a entrada de peças cirúrgicas sem o devido
registro.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Muito bem. Somente
concluindo, Sr. Presidente — eu sei que a hora já está bastante avançada —, mas
eu gostaria somente de fazer um comentário aqui e ao mesmo tempo também fazer
uma pergunta. Nós temos constatado que houve negligência quanto à questão da
operacionalidade no centro cirúrgico, pelo menos nesse caso aí, porque havia esse
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defeito, havia esse problema, e somente no momento da cirurgia é que se
constatou, se verificou que havia um problema no equipamento que não seria
possível realizar a cirurgia. Então, acredito que, conforme as suas declarações, com
relação à deficiência de equipamento para que se possa executar um transplante
com mais eficácia, isso tem trazido complicação. Nós, desta Comissão, acreditamos
que esta Comissão há de chegar a uma conclusão com o relatório que vai subsidiar
o Governo Federal e as pessoas envolvidas, em relação a esse caso, para que nós
possamos melhorar a questão do transplante no Brasil. Eu pergunto: o senhor
acredita que houve negligência realmente ou era natural acontecer fatos dessa
natureza, não somente no caso de transplante?
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Excelência, eu sou servidor público. Eu
vejo falhas administrativas e falta de material todo dia, nem por isso acho que elas
são normais e que devam existir. Ou seja, a habitualidade de presenciar a falta
desse material não me faz concordar com que a falta seja rotineira e normal.
Completamente, discordo desse tipo de comportamento, muitas das vezes
simplesmente se admite isso. Eu sou contra. Houve, sim, falhas, como existem ainda
falhas. É extremamente simplista a gente imaginar que houve falha no transplante
do paciente Ramon na utilização do fígado do Marcos Henrique e que, de lá para cá,
o Hospital de Base vive às mil maravilhas. De maneira nenhuma, isso não acontece.
Com relação ao transplante, não voltaremos a fazer procedimento independente de
autorização, ou não, do Ministério da Saúde enquanto não sentirmos completa
segurança no sistema hospitalar.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Ok. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Nós queremos agradecer
a presença do Dr. Lúcio Lucas, as informações prestadas são importantes para que
nós possamos, no desenrolar deste trabalho desta Comissão, formar juízo no
relatório e dizer que o objetivo desta Comissão realmente é trabalhar para que onde
houver denúncias de atuação por má-fé de profissionais no sistema de transplantes
que elas sejam investigadas e os envolvidos sejam punidos. E onde houver falhas
do sistema que elas sejam corrigidas para que os transplantes funcionem a bem da
população brasileira. Queremos agradecer a presença de V.Sa. aqui pelas
informações prestadas, que, com certeza, vão estar subsidiando o relatório que será
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apresentado pelo Deputado Pastor Pedro Ribeiro. Muito obrigado. Está encerrado
neste momento este depoimento.
O SR. LÚCIO LUCAS PEREIRA - Gostaria de agradecer a presença de estar
aqui e estou à disposição para quantas vezes mais se fizerem necessárias para
qualquer tipo de esclarecimento. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Obrigado, Sr. Lúcio Lucas
Pereira. Conforme o art. 35 do Regimento Interno, a Comissão poderá atuar também
durante o recesso parlamentar, terá prazo de 120 dias, prorrogáveis por até a
metade, caso julgue necessário mediante deliberação do plenário ou para conclusão
dos seus trabalhos. Assim, em tese, qualquer Parlamentar da Casa poderá solicitar
prorrogação. A decisão caberá ao plenário da Câmara dos Deputados. Estou
encaminhando ofício ao Presidente da Casa, solicitando a prorrogação desta CPI
para que seja ato democrático. Como é de costume deste órgão, submeto à
apreciação de V.Exas. o pedido de prorrogação do prazo de continuação desta CPI
por mais 60 dias, a contar do término efetivo do trabalho. Os Deputados que
aprovam esta solicitação permaneçam como se encontram. (Pausa.)
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Sr. Presidente, quando
encerra o prazo regimental?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O prazo regimental 28 de
julho, contando via CPI.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Vinte e oito de...?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Julho.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Julho?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Julho. Então, temos de
pedir a prorrogação a partir deste momento. Então, estamos submetendo ao
plenário desta Comissão, este requerimento está sendo enviado ao Presidente da
Câmara pedindo prorrogação dos trabalhos desta Comissão por mais 60 dias, a
contar do término do efetivo trabalho.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Concordo plenamente,
desde que no mês de julho nós não sejamos convocados aqui extraordinariamente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Os Deputados que
aprovam a solicitação permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado.
Está encerrado este trabalho. Agradecemos a presença de todos.
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