departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo nÚcleo de … · impedimento constitucional, mas...
Post on 17-Dec-2018
213 Views
Preview:
TRANSCRIPT
CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA DO JUDICIÁRIOEVENTO: Audiência Pública N°: 0945/03 DATA: 09/07/03INÍCIO: 14h56min TÉRMINO: 17h54min DURAÇÃO: 02h58minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h58min PÁGINAS: 62 QUARTOS: 36REVISÃO: Gilberto, Madalena, Odilon, WaldecíriaSUPERVISÃO: Cláudia Luiza, Daniel, Estela, MárciaCONCATENAÇÃO: J. Carlos
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃORubens Approbato Machado - Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil
SUMÁRIO: Posição da Ordem dos Advogados do Brasil — OAB sobre temas referentes à reforma doPoder Judiciário. Aprovação de requerimento de convocação, para exposição e debate na Comissão,do Procurador-Geral da República, Cláudio Lemos Fonteles. Eleição do Deputado Nelson Trad como2º Vice-Presidente da Comissão.
OBSERVAÇÕESUma ligeira intervenção não foi registrada porque feita fora do alcance do microfone.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
1
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Declaro abertos os
trabalhos da presente reunião da Comissão Especial da Reforma do Judiciário.
Tendo em vista a distribuição de cópias da ata da reunião anterior a todos os
membros presentes, indago aos Srs. Parlamentares se há necessidade de sua
leitura.
O SR. DEPUTADO ALOYSIO NUNES FERREIRA - Sr. Presidente, solicito a
dispensa da leitura da ata.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Dispensada a
leitura da ata.
Em discussão.
Não havendo quem queira discutir, em votação.
Os Srs. Deputados que aprovam a ata permaneçam como se encontram.
(Pausa.) Aprovada.
O SR. DEPUTADO IBRAHIM ABI-ACKEL - Sr. Presidente, pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Tem V.Exa. a
palavra.
O SR. DEPUTADO IBRAHIM ABI-ACKEL - Sr. Presidente, peço a V.Exa.
que acrescente na relação dos itens, objeto de nossas investigações, a súmula
vinculante que nos escapou na primeira reunião.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - V.Exa. propõe
como 8º módulo temático a súmula vinculante?
O SR. DEPUTADO IBRAHIM ABI-ACKEL - Exatamente, Sr. Presidente,
porque a matéria não me parece relacionada direta ou indiretamente com nenhum
dos itens já estabelecidos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Assiste razão a
V.Exa., mas como o cronograma foi aprovado pelo Plenário da Comissão, eu o
submeterei, sem maiores formalidades, à aprovação dos Srs. Deputados.
A proposta feita pelo Sr. Relator, Deputado Ibrahim Abi-Ackel, e endossada
de plano por esta Presidência, é a de que além dos 7 tópicos que integram o nosso
cronograma de trabalho, que declinarei a seguir, seja incluído o 8º: as súmulas
vinculantes.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
2
De acordo com a proposta, os tópicos ficariam assim definidos: 1) Estatuto da
Magistratura; 2) Acesso à Justiça; 3) Funções Essenciais à Justiça; 4) Agilização da
Prestação Jurisdicional; 5) Modernização da Estrutura do Poder Judiciário; 6)
Controle do Poder Judiciário; 7) Democratização do Poder Judiciário; 8) Súmulas
Vinculantes — se aceita a proposta.
Em votação a proposta do nobre Relator.
Os Srs. Deputados que concordam com a inclusão do tópico 8º, Súmulas
Vinculantes, permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovada.
Ordem do Dia. (O Sr. Presidente faz soar as campainhas.)
Sras. e Srs. Deputados, senhoras e senhores jornalistas, senhoras e
senhores presentes, peço, por gentileza, que evitem conversar nesta sala e que
fechem a porta, porque ouvimos vozes em tom elevado no corredor, o que prejudica
imensamente o desenvolvimento dos nossos trabalhos. Agradeço a todos
antecipadamente.
Sras. e Srs. Deputados, esta reunião foi convocada para a discussão de 3
pontos. No primeiro momento, em audiência pública, nos termos deliberados por
esta Comissão, ouviremos o Ilmo. Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil,
Dr. Rubens Approbato Machado; no segundo, haverá a eleição do 2º e do 3º Vice-
Presidentes; no terceiro, a deliberação de requerimentos.
Proponho aos Srs. Deputados que durante a audiência pública viabilizemos a
eleição, ou seja, informarei a V.Exas. o momento em que ela será possível, para não
prejudicarmos o andamento dos trabalhos. Como se trata de candidatos únicos e
não há controvérsia, os Srs. Deputados que forem chegando poderão votar. Assim
que tivermos número razoável de Deputados presentes, daremos início à votação.
Informarei no momento oportuno o nome dos que estão na disputa, de acordo com
as indicações partidárias.
Dando início à audiência pública, vou conceder a palavra ao Presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil, Dr. Rubens Approbato Machado, a quem
agradecemos pela grande amabilidade e cortesia com que aceitou o nosso convite.
Lembro aos Srs. Deputados que os procedimentos adotados nesta audiência
serão os seguintes: o tempo concedido ao Sr. Presidente da Ordem dos Advogados
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
3
do Brasil para fazer sua exposição será de 20 minutos, prorrogáveis a juízo da
Comissão. De antemão, já informei ao Dr. Approbato que, sabendo da relevância do
seu depoimento, a Mesa será extremamente condescendente com o tempo que
regimentalmente tem garantido. Cada Deputado inscrito terá o prazo de 3 minutos
para fazer suas indagações, dispondo o depoente de igual tempo para as respostas,
facultadas a réplica e a tréplica no mesmo prazo. Informo que, se houver um número
grande de inscrições, serei bastante rigoroso no tempo. Caso contrário, se tivermos
poucos inscritos, serei benevolente com os Srs. Deputados que queiram fazer uso
da palavra.
Passo a palavra ao nosso expositor, Dr. Rubens Approbato Machado.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Ao fazer os agradecimentos ao
estimado amigo e nobre Deputado José Eduardo Cardozo, aos componentes desta
Mesa, ao Relator, Deputado Ibrahim Abi-Ackel, ao Deputado João Alfredo e aos
demais presentes, permito-me homenagear a figura do Deputado Luiz Carlos
Santos, meu colega de turma da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco,
de 1956. É uma honra estar aqui presente.
Também quero homenagear os advogados, na pessoa de Hermann de Assis
Baeta, nosso bâtonnier, e agradecer aos magistrados, ao Presidente da Associação
dos Juízes Federais do Brasil — AJUFE, aos membros do Ministério Público,
advogados e advogadas a presença.
Falar da reforma em 20 minutos significaria, quando muito, declinar somente
o meu nome: Approbato. Mas tentarei condensar, para chegarmos ao entendimento.
Em primeiro lugar, sou um advogado formado em 1956 — portanto, quase
cinqüentenário. Entrei na família forense pelos idos de 1948 ou 1949, como fiel de
cartório. Depois passei a escrevente de cartório. Portanto, é uma vida inteira
dedicada à família forense e ao Judiciário.
Fico me perguntando: o que evoluiu no Poder Judiciário em mais de 50 anos?
Para minha constatação, outro dia, ao entrar num cartório, observei um menino que
costurava autos e me lembrei da minha fase de menino, pois também costurava
autos. Na verdade, o que mudou desde aquela época das cavernas foi a xérox.
Naquela ocasião, para fazermos um mandado de citação, tínhamos que copiar
datilograficamente toda a petição inicial; agora usamos a xérox. O mesmo ocorria
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
4
com o formal de partilha, quando tínhamos que copiar todas as peças do inventário;
agora usamos a xérox. Os litígios, o número de processos e a população
aumentaram, a cidadania se faz mais presente, mas o Poder Judiciário continua
como na época das cavernas.
A idéia da reforma nasceu da proposta do ex-Deputado Hélio Bicudo e data
mais de 13 anos. Esta Casa, na elaboração do projeto de reforma teve como
precursor o Deputado Jairo Carneiro, seguido pelo meu querido amigo que honra o
Estado de São Paulo — e hoje é feriado em São Paulo em comemoração à
Revolução de 1932 —, Deputado Aloysio Nunes Ferreira, e posteriormente pela
Deputada paulista Zulaiê Cobra.
Posso assegurar que a reforma proposta foi consolidada no relatório desta
Comissão. Com o trabalho dos Relatores das Comissões da Câmara, o relatório
tornou-se consensual, todas as partes interessadas — advogados, juízes,
promotores, defensores e advogados públicos — discutiram a matéria. Ainda que
existissem algumas pendências a respeito dos interesses próprios de cada
categoria, houve um consenso bem refletido no relatório final produzido pela
Deputada Zulaiê Cobra, advogada militante que foi minha colega na Ordem dos
Advogados do Brasil e que, portanto, mereceu os aplausos desta Casa, do mundo
jurídico e dos jurisdicionados.
Quando tudo se encaminhava para que chegássemos a esse início da
reforma do Judiciário, ela foi para o Senado. Lá houve uma transfiguração, e
realmente o resultado final foi catastrófico. O que se fez lá não podia ter sido
editado. E a Ordem se opôs a essa edição, até porque se dizia: “Queremos
homenagear o Relator do Senado, que não foi reeleito”. Nós dissemos: “Queremos
homenagear a cidadania brasileira, independentemente das pessoas. Se não
merece a aprovação, se não merece a edição, temos de ser contra”.
E vamos começar de novo, até porque houve uma eleição, até porque o povo
fez uma revolução pelo voto, mostrou que queria mudanças, inclusive no Judiciário.
Havia também uma nova Legislatura na Câmara e no Senado, e tínhamos de
discutir novamente o assunto, até porque pontos essenciais da reforma, com aquela
transfiguração que houve no Senado, foram passados para trás, deixados de lado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
5
Portanto, havia realmente necessidade de renovação da discussão. É o que
fazemos agora.
A Ordem aplaude essa rediscussão porque entende que devemos novamente
nos sentar, todos nós — advogados, juízes, promotores, advogados públicos,
defensores públicos e Parlamentares —, para buscar o melhor caminho e promover
um início positivo para a reforma. Se não houver esse início positivo, os comandos
constitucionais que vierem com a reforma vão prejudicar os demais, que são pontos
essenciais. Então, a batalha é realmente necessária.
Alguém perguntou, e hoje ouvi falar disso novamente, por que a reforma não
é aprovada em partes. Parece-me que essa promulgação fatiada — na qual não vejo
impedimento constitucional, mas de algumas ordens, inclusive política — pode criar
alguns equívocos, até por dar a impressão de que, editada determinada parte, tudo
já estaria pronto, de que não haveria mais necessidade de se discutir o tema, de que
se promulgaria peça acessória e postergar-se-ia a principal, que nunca mais seria
rediscutida, além de criar precedentes no Parlamento: quando não se pudesse
acertar algo, o todo seria fatiado, uma parte seria resolvida, e o resto ficaria para
depois. É por isso que a Ordem se posiciona contra esse fatiamento.
Qual é, na verdade, o grande problema da Justiça? O grande e grave
problema é a sua morosidade. É dessa morosidade que nascem os grandes
equívocos, as grandes injustiças, os atos de corrupção, a impunidade, toda a sorte
de problemas.
Aproveito para dar um exemplo do que pode acontecer por causa dessa
morosidade, dessa ausência de Justiça. Quem é da cidade de São Paulo sabe que
Guarulhos tem um aeroporto internacional. Esse aeroporto vem sendo fiscalizado
pela Polícia Federal, principalmente no combate ao tráfico internacional de
entorpecentes. A ação vem dando bons e eficientes resultados, tenho os dados aqui:
mais de 330 estrangeiros foram presos, alguns chamados mulas e alguns
traficantes. Houve prisão em flagrante. São mais de 300 presos na órbita federal,
mas, por não haver um presídio federal no País, eles estão nos presídios estaduais.
A maioria deles foi presa em flagrante, portanto, o prazo é bem determinado e curto
para a realização do inquérito e do processo. Em Guarulhos há apenas 2 juízes
federais, sem nenhuma condição de trabalho, portanto, vai ser absolutamente
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
6
impossível para eles inquirir mais de 300 integrantes da rede internacional de tráfico,
o que vai gerar impunidade, porque essas pessoas vão ser soltas, vão voltar ao
crime e ao tráfico. Aí vão dizer: “A Polícia prende e a Justiça solta”. Solta
exatamente porque não tem condições de trabalhar, porque a morosidade impede
que ela funcione, ficando a serviço da impunidade.
Este é um exemplo atual. Recebi ontem os dados da Presidência do Tribunal
Regional Federal de São Paulo, que coloco à disposição dos que se interessarem.
Temos de tomar providências urgentes para combater essa morosidade na Justiça.
Além dos problemas próprios da reforma, parece-me que há também as
causas exógenas, as quais precisam ser também analisadas, sem o que ela se torna
inútil. A primeira delas é a legislação: há um cipoal de normas, medidas provisórias,
leis, decretos, regulamentos disso e daquilo que estimulam a “litigiosidade”. Quando
as pessoas não se entendem porque há muitas normas, há uma “litigiosidade”,
inclusive do Poder Público, porque se discute muito a validade dessas normas em
razão da imposição deste último. Ou seja, há um número crescente de litígios,
tumultuados por uma legislação dessa natureza. Então, precisamos estar atentos a
esse tipo de trabalho.
O outro problema é o ensino jurídico. Podem perguntar: “Mas o que tem a ver
o ensino jurídico com a reforma?” Tem e muito a ver, porque os operadores do
Direito são os mesmos que saem das escolas de Direito. Se saem maus operadores,
a realização da Justiça fica absolutamente difícil, o que causa problemas sociais,
como o retardamento, exatamente pela ausência de conhecimento, de uma série de
atos que deveriam ser praticados. Então, o ensino jurídico é fundamental para a
relação processual adequada e limpa que faça a Justiça ser realmente justa.
Outro aspecto que me parece importante é a gestão. Não adianta fazermos
uma tremenda reforma constitucional e legislativa se não houver boa gestão da
Justiça. Vou dar um exemplo: para pegar o processo aqui e entregá-lo ao Relator ali,
eu gastei quantos segundos? Pois em São Paulo a demora para um recurso sair
daqui e chegar ali é de 3 a 4 anos. Essa é a negação da justiça.
Soube também — não obtive confirmação, mas se houver aqui algum
Deputado do Estado poderá confirmar ou não — que no Rio de Janeiro a situação
era mais ou menos essa quando se começou a fazer uma gestão profissional. Hoje
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
7
esse trabalho de distribuição e julgamento chega a ser feito no prazo de 3 a 6
meses. Se isso é verdade — e me parece que é porque as informações que tenho
são de pessoas sérias —, mostra que, independentemente de qualquer reforma, a
gestão funciona.
Outro exemplo: São Paulo tem mais de 40 Varas Cíveis e mais de 70 Varas
de Trabalho, todas com o mesmo número de processos, a mesma qualidade de
processo, o mesmo sistema. Se as compararmos, verificaremos que uma está
absolutamente em dia, mas outra tem uma pauta de 2 ou 3 anos. Ou seja: é
problema de gestão, e temos que analisá-lo.
Há algumas outras causas que poderíamos analisar, entre elas as
endógenas, ou seja, as leis processuais. Nossas normas processuais são
burocratizantes e burocratizadas. As escolas dos mestres em Direito Processual
deram muito mais valor às normas formais do que às materiais. Hoje, nos tribunais,
discute-se muito matéria formal. Se observamos as pautas de julgamento de
qualquer tribunal deste País, verificaremos que há grande número de agravos de
instrumento, ou seja, de matéria em cujo julgamento não se trata do mérito da
causa, no Direito Material. E isso é uma anomalia. O meu cliente, quando me
procura, quer saber do seu direito, se foi ou não restaurado. Não adianta explicar
que houve uma quizila processual, pois ele quer saber se a dívida cobrada será
paga ou não. Também não adianta dizer que terá que esperar 4, 5 ou até 6 anos,
que depois de um processo de conhecimento entra-se com outro processo igual, o
de execução. Então, realmente é um sistema burocratizado.
Um outro ponto é o anacronismo tecnológico. Estamos no século XXI. Na
minha casa, abro a Internet e me comunico com todo o mundo, falo até com o Papa
por e-mail. Mas para mandar uma petição de São Paulo para Brasília tenho que
pegar um avião. Alguém vai dizer: “Manda por fax”. Só que há um prazo para levar o
original. Então, não valeu nada. Poderíamos fazer isso pelo sistema de assinatura
digital, por intermédio da Justiça virtual, por meios capazes de dinamizar e acabar
com o trabalho do público nos cartórios. A tarefa desses servidores não é apenas
atender ao público, mas também encaminhar os processos ao Juiz. Então,
poderíamos fazer a Justiça funcionar em nossos escritórios, nas salas dos
advogados e em outros lugares por meio do avanço tecnológico.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
8
Não preciso me referir ao excesso de recurso, de graus de jurisdição, da
“litigiosidade” do Poder Público e de um aspecto que me parece importante: a
ausência de responsabilidade pelo não-cumprimento das funções. Dizem muito que
o advogado é quem emperra o Judiciário. Eu digo que é o único que tem prazo e o
cumpre. Não adianta vir depois com a história de acúmulo de serviço, pois quem tem
que resolver é o advogado. E os prazos são curtíssimos. O prazo máximo é de 15
dias. Se o advogado não cumprir o prazo, não adianta dizer que perdeu o ônibus,
que foi atropelado; se perder, perdeu. Nos demais casos, sempre há acúmulo de
serviço e uma crueldade. Mas tudo isso cria naqueles que querem desculpa a
possibilidade da desculpa.
Então, tem que haver responsabilidade pessoal, como existe em outros
países. É essencial. Ainda que o meu cliente ganhe a demanda, não basta. Ontem
conversei com um cliente. O seu direito foi extremamente violado, ele perfaz todas
as condições para ser ressarcido. Há 4 anos o processo tramita em primeiro grau e
não houve sentença. E quando a decisão for favorável? De que adiantaram esses 4
anos? Tem que haver responsabilidade dessa natureza.
Quanto à reforma, até o momento não soube de nada que se referisse ao
primeiro grau. Fala-se muito em concentração nos Tribunais Superiores. Estes
querem menos serviço e criam metodologia para que o recurso não suba. Há
contradição: de um lado, não querem; de outro, há concentração. Resolvendo um,
resolvem-se todos.
O que teria acontecido no caso dos Planos Collor e Cruzado se isso fosse
verdade? Naquele momento, apresentaram à população a seguinte equação: “Ou
fazemos isso, ou o País quebra, e quem não fizer isso é antipatriota”. Pergunto: Qual
Ministro do Supremo Tribunal Federal gostaria de receber a pecha de impatriótico,
se houvesse ação concentrada? Certamente, diria que aquele esbulho foi
constitucional. O juiz de primeiro grau é o que está próximo do jurisdicionado, da
gestação verdadeira dos fatos, que vai desenvolvendo até demonstrar que
realmente era uma heresia, uma violência, e portanto não podia permanecer. E não
aconteceu nada, o País não quebrou. Ou seja, há necessidade de se prestigie a
Justiça de primeiro grau, porque as decisões, na grande maioria, merecem elogios.
E, muitas vezes, há abuso de recursos porque a lei permite. E tem que usar mesmo,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
9
porque é uma forma de acesso ao Judiciário. O excesso de recursos, especialmente
no aspecto formal, atravanca esse tipo de trabalho.
Vou comentar sobre o controle externo do Poder Judiciário. Trata-se de luta
histórica da OAB. Entendemos que o Poder Judiciário deve contar com um órgão
nacional de planejamento que trace, no plano administrativo funcional, diretrizes
gerais a serem seguidas por todos os seus órgãos e que exerça o controle
disciplinar dos magistrados.
Quero fazer um reparo. O ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal elaborou
artigo em que sustenta que esse controle externo se destina a uma revisão das
decisões judiciais ou ao controle de contas. Não é nem uma coisa nem outra, até
porque o controle da prestação jurisdicional se faz pelo controle revisional, que é um
controle interno. E ninguém quer mexer nisso até para não tirar o que é essencial ao
Juiz, ou seja, o seu poder de convicção, a sua liberdade. Quanto às contas, para
isso é que há os Tribunais de Contas dos Estados e da União. Portanto, não há
nenhum tipo de intervenção.
Queremos um controle efetivo mediante o qual saibamos por que alguns
juízes não trabalham, não julgam; por que determinados atos administrativos não
funcionam, estão emperrados; por que determinados atos de corrupção não são
apurados devidamente nas corregedorias. Ou seja, há necessidade de controle
externo funcional e administrativo, e isso é próprio do regime democrático.
Este órgão, para ter independência e não ser contaminado pelo chamado
espírito de corpo, deve ser composto majoritariamente por pessoas estranhas ao
Poder Judiciário, mas a ele ligadas. Ele poderia punir com penas mais brandas, com
advertência e censura e, em casos graves, com disponibilidade e até mesmo
demissão do magistrado.
Quanto à PEC nº 29, de 2000, conhecida como a reforma do Poder Judiciário,
não merece elogios. O parecer da Câmara dos Deputados previa um conselho
composto por 15 membros, sendo 9 do Judiciário e 6 de fora: 2 advogados, 2
membros do Ministério Público e 2 cidadãos indicados pelo Congresso Nacional. A
proposta do Senado Federal, que teve parecer favorável da Comissão Especial, é no
sentido de a composição do conselho ser reduzida para 11 membros: 9 do Judiciário
e 2 advogados. Comuniquei ao Relator que, se essa proposta passasse, a Ordem
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
10
dos Advogados do Brasil não indicaria ninguém porque sempre seria goleada de 9 a
2. Não é sério, então, esse controle. Queremos um controle equilibrado. O conselho
seria formado por maioria de juízes, na hipótese daquele parecer, ou seja, ficaria
mais acentuada a maioria. E não parece razoável que isso aconteça.
Entendemos que devem fazer parte desse conselho não apenas advogados,
mas também membros do Ministério Público, defensores públicos, advogados
públicos e juristas indicados pelo Congresso Nacional. Portanto, queremos a
democratização sem a interferência no trabalho-fim do Poder Judiciário.
Um outro ponto diz respeito à quarentena, após a aposentadoria do
magistrado. Relembramos que a Lei nº 4.215, de 1963, no seu art. 86, determinava
que aqueles que tinham exercido atividade incompatível com a advocacia —
portanto, os membros do Judiciário — ficariam 2 anos sem advogar. Isso prevaleceu
durante muito tempo até que num determinado momento um Ministro do Supremo
Tribunal Federal se aposentou e quis voltar a advogar. Àquela altura foi declarada a
inconstitucionalidade do art. 86.
Se fizermos isso por lei, novamente o Supremo Tribunal Federal dirá que é
inconstitucional. Então, a única forma de fazê-lo é pela reforma constitucional. E a
proposta é a de que aqueles que exerceram atividade incompatível fiquem
impedidos de advogar por 2 anos, que se abra a discussão no local em que tiverem
jurisdição ou não. Para nós, exercendo atividade incompatível, é proibida a
advocacia, em geral, por 2 anos. Chegou-se a mencionar 3 anos, mas eu acho que
2 anos é um prazo extremamente razoável.
Na chamada quarentena de entrada, aqueles que exercem altos cargos no
Executivo, ou de Conselheiros e de Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil,
para serem nomeados para o Judiciário, em qualquer tribunal, ficam impedidos de
advogar por 2 ou 3 anos. Portanto, impedimos que determinadas pessoas tenham
qualquer tipo de conivência — boa ou má, não importa — com autoridade que tenha
interesse na sua presença dentro desses tribunais, justamente por ser do seu
agrado.
No que se refere ao quinto constitucional, à participação de advogados nos
tribunais, houve uma primeira proposta de indicação uninominal, ou seja, a Ordem
ou os membros do Ministério Público, em vez de fazerem lista sêxtupla ou tríplice,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
11
indicariam um nome. Verificou-se depois que esse, na verdade, não era o melhor
procedimento. O melhor, na nossa visão, é que se volte ao antigo regime em que
tanto a Ordem quanto o Ministério Público indicavam 3 nomes. Aí o Poder Executivo
nomeia um dos 3. Isso evitaria um certo entrosamento político, porque ao Judiciário
muitas vezes interessam determinados tipos de formulação. Parece-me que o ideal
realmente seriam 3 nomes.
Cito outro aspecto: os precatórios. Um dos grandes motivos de aborrecimento
nacional com o Judiciário é o não-cumprimento das ordens judiciais, sem que sejam
tomadas as devidas providências. Há centenas e centenas, para não dizer milhares,
de processos com pedido de intervenção, mas o Poder Executivo, desde o municipal
até o federal, não toma conhecimento deles. Ninguém paga, e fica o calote público
devidamente institucionalizado. E a Constituição o institucionaliza mais ainda porque
permite parcelamentos que não são cumpridos e, depois, novos parcelamentos que
também não são cumpridos.
Para resolver esse problema a idéia é de que na própria Constituição inclua-
se o caráter mandamental ou executivo da sentença, para que seja cumprida pelo
menos no exercício posterior e haja verba orçamentária nesse sentido.
Outro aspecto que nos parece importante é o da chamada repercussão geral,
da possibilidade de a lei rescindir o cabimento dos recursos extraordinário ou
especial. A exemplo de um incidente de inconstitucionalidade e de outras naturezas,
essas ações coletivas concentradas têm por objetivo — torno a repetir — destinar
para os Tribunais Superiores processos que se desenvolvem em grau de jurisdição
inferior. Quanto a isso, eles dizem que só aceitam os recursos que tiverem
repercussão. Trata-se da chamada argüição de relevância ou, como diz o Tribunal
Superior do Trabalho, em algumas propostas, da transcendência. Eu já disse que
transcendência me lembra caráter divino e não quero que nenhuma Justiça tenha
caráter divino. Divino é o caráter do Juízo Final. Aqui na terra não temos
transcendência, temos de ter certeza de que será feita a justiça.
A tradição mostra que a argüição de relevância — à qual se dá outro nome
hoje —, de repercussão ou de inconstitucionalidade foi um desastre na Justiça
brasileira. Ficava a critério do Supremo julgar se havia ou não essa relevância, ou
seja, criavam-se obstáculos para que a Justiça fosse realmente ampla, para que
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
12
fosse exemplo e transmitisse efeitos educacionais no comportamento do cidadão.
Mas os membros dos Tribunais Superiores disseram: “Nós temos 1 milhão de
processos. Não some mais nada, porque não tem repercussão. Se há repercussão
quem vai dizer sou eu, e como eu é que vou julgar, e não quero julgar, eu digo que
não tem repercussão”.
Eu escrevi um artigo chamado A Destruidora Repercussão, que mostra
exatamente que esta chamada repercussão, ou argüição de inconstitucionalidade,
ou coisa que o valha não tem relevância.
Ouvi falar aqui da súmula vinculante e não posso encerrar minha intervenção
sem falar sobre o assunto. Em 1995, escrevi num artigo que estavam querendo
criminalizar o poder de julgar do juiz. Ou seja, não posso mais ter idéia própria.
Tenho que ir ao botãozinho, sobre o qual se diz: “Olha, está tudo aqui”. Aperto o
botãozinho e vejo aquilo que tenho de julgar, porque se não julgar, estou
prevaricando ou coisa semelhante. Então, achei melhor sugerir, se isso fosse aceito,
que criássemos o computador de toga. Pegamos uma toga e a vestimos no
computador. Em seguida, chamamos um internauta qualquer, um cibernético
qualquer, e dizemos: “Olha, quando acontecer caso semelhante, aperta o botão, vê
se tem caso semelhante e decide”. Não precisaríamos mais de juiz, já que não
precisaríamos mais de convicção.
Acabamos com a inteligência, com a criatividade, com a evolução de algo que
é vivo e que se chama Direito. As grandes inovações científicas e jurídicas neste
País nasceram da criatividade e do inconformismo de decisões repetitivas que nem
sempre são as mais justas. Portanto, criar esse tipo de engessamento da idéia não
seria ideal, porque engessa não só o juiz, mas também a todos nós. Nós advogados
é que criamos a jurisprudência, por meio da nossa criatividade, da nossa
inteligência. Estudamos o fato em relação ao conteúdo jurídico e casamos essas
duas coisas para apresentar de uma maneira, às vezes, nova, mostrando que não
pode ser aquilo que tem sido feito.
Discutia um dia desses com um ex-Presidente do Supremo. S.Exa. me dizia:
“Não, mas é muita repetição”. Perguntei: quem repete? Ele respondeu: “O poder
público”. Indaguei: qual a percentagem do poder público? Ele respondeu: “Mais de
80% dos recursos repetitivos”. Então, argumentei: mas não há no Código de
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
13
Processo o art. 17, que disciplina a litigância de má-fé? Ora, se é o mesmo litigante,
com os mesmos fatos, com a mesma forma, e ele sempre é derrotado, mas continua
agindo da mesma maneira, por que não aplicar o art. 17?. Aí, o Ministro disse: “Mas
eu vou aplicar multa ao poder público?” Então eu disse: mas esse é o exemplo.
Aplicando-se multa ao poder público, ele vai pensar duas vezes antes de repetir
esse tipo de comportamento. Então, para que a súmula vinculante, se já temos o
remédio próprio? O que estamos examinando é exatamente isso.
Já que estamos em um Governo novo, termino lembrando que no dia 27 de
junho de 1998, o atual Presidente, quando candidato, fez uma carta compromisso
com a Ordem dos Advogados do Brasil. Eu gostaria de ler alguns pontos dessa
carta, se V.Exa. me permitir, Sr. Presidente.
Determinado trecho da carta diz o seguinte:
“(...) Assumo o compromisso de contribuir para a
independência e fortalecimento do Poder Judiciário. Por
essa razão, o meu governo interromperá toda e qualquer
iniciativa para a adoção da Súmula Vinculante, por
considerá-la fator de debilitamento e até mesmo de
esterilização do Poder Judiciário. (...)
Assumo o compromisso de tomar todas as medidas
que estiverem ao alcance do Executivo — respeitada
escrupulosamente a independência do Judiciário — para
tornar a Justiça mais ágil, rápida e acessível ao conjunto
dos brasileiros. Multiplicaremos iniciativas legislativas
para modernizar nossos códigos e leis e esperamos
contar com a Ordem dos Advogados do Brasil como um
interlocutor privilegiado na definição de nossas propostas.
Assumo o compromisso de propor iniciativas para
estabelecer controle externo do Poder Judiciário. A
criação de um Conselho Nacional de Justiça permitirá que
o Judiciário seja controlado do ponto de vista funcional,
financeiro e orçamentário. A adoção desse controle não
representará qualquer interferência na atividade
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
14
jurisdicional. Manterá intacta a autonomia e
independência dos juízes. (...)”
Outros compromissos foram assumidos naquela ocasião, mostrando que o
próprio Presidente da República, hoje, certamente manterá esses compromissos, no
sentido de não só abrir a caixa preta do Judiciário, mas fazer com que esse
Judiciário se torne forte, ágil, eficiente. Este País só será realmente civilizado na
medida em que tiver uma Justiça ágil, que dê respostas ao cidadão e na qual o
cidadão confie, sem o que ficaremos sempre no regime da barbárie.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Em nome dos Srs.
Deputados desta Comissão, agradeço ao Dr. Rubens Approbato Machado,
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, as palavras.
Srs. Deputados, conforme informamos no início desta sessão, já temos
condições de iniciar o processo de votação que havíamos deixado em pauta para
hoje. Apenas vou tomar uma posição de ofício, porque havíamos anunciado que
teríamos hoje a eleição do 2º e do 3º Vice-Presidentes. Mas aconteceu um problema
na combinação das indicações partidárias que me leva a não realizar hoje a eleição
para a 3ª Vice-Presidência. Resolveremos o problema para que possamos, então,
sem nenhuma polêmica, ter a indicação que foi acertada com o Presidente da Casa.
A idéia é realizar, durante o debate, com calma — um Deputado por vez —, a
votação para a 2ª Vice-Presidência. Portanto, fica adiada a eleição para a 3º
Vice-Presidência. Faremos apenas a eleição para o 2º Vice-Presidente.
De acordo com o estipulado pelas Lideranças, a vaga caberia ao PMDB. O
indicado pela bancada do partido é o nobre Deputado Nelson Trad. Portanto, a partir
de agora, os Srs. Deputados que quiserem votar, com a devida tranqüilidade e sem
a perturbação dos nossos trabalhos, se dirijam à Secretaria, a fim de depositar o seu
voto na urna.
Até agora, temos 8 Srs. Deputados inscritos para o debate. Vamos seguir a
ordem de inscrição, lembrando aos Srs. Deputados que cada um terá 3 minutos para
sua exposição, que serão rigidamente controlados pela Mesa, com direito a réplica e
a tréplica.
A partir de agora, passo a coletar as inscrições dos Srs. Deputados.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
15
Concedo a palavra ao primeiro inscrito, o nobre Deputado João Alfredo.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, Sr. Relator,
Sr. Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, também sou advogado no
Estado do Ceará. Inicialmente, quero fazer aqui a entrega ao expositor de uma
separata por uma Justiça cidadã, democrática, moralizada e acessível ao povo, em
que relatamos uma experiência do observatório do Judiciário, que considero original,
uma rede informal da sociedade civil cearense que se propõe a lutar justamente por
esses princípios, uma Justiça democrática, moralizada e acessível ao povo.
Farei algumas perguntas a partir das preocupações citadas por V.Sa. no que
se refere à porta de entrada do cidadão, o juiz de primeiro grau, e também no que
diz respeito às Justiças estaduais, onde se concentra grande parte dos problemas.
Primeiro, compreendo que a forma de organização do Judiciário tolhe um dos
princípios constitucionais, o da independência do magistrado. O magistrado de
primeiro grau está completamente preso aos Tribunais de Justiça, pois esses
tribunais concentram ao mesmo tempo as atividades meio e fim, fazendo com que
os juízes de primeiro grau fiquem muito presos — repito — até a pedidos dos
próprios desembargadores.
Nesse sentido, 3 aspectos poderiam ser abordados. Quero saber a opinião de
V.Sa. sobre a chamada eleição direta, a cidadania para o juiz de primeiro grau poder
votar nos dirigentes dos órgãos superiores. Tivemos essa batalha no Estado. Sei
que o Estado de São Paulo aprovou essa proposta de emenda constitucional, que,
depois, foi questionada. Lá no Estado do Ceará, também travamos essa luta,
inclusive alguns juízes sofreram represálias porque compareceram a uma audiência
pública na Assembléia Legislativa. Eu era então Deputado Estadual.
Um outro aspecto que considero importante neste debate, Dr. Approbato, é a
promoção por merecimento. A forma como ela está hoje disciplinada na Constituição
e na LOMAN acaba dando ao desembargadores critérios de natureza bastante
subjetivos e não objetivos. Ora, se um dos critérios é a antigüidade e o outro o
merecimento, acaba sendo uma decisão mais de natureza política do próprio corpo
do tribunal.
O terceiro aspecto seria sobre o controle externo nos Estados. Inclusive
travamos esse debate com os companheiros da AJUFE presentes, porque sabemos
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
16
que todo debate trata de um órgão de controle externo e de autogoverno — para
usar a expressão de Flávio Dino — do Judiciário nacional, mas não trata dessa
questão nos Estados. E nos Estados, por exemplo, nos tribunais estaduais, temos
os Conselhos Estaduais de Magistratura, compostos unicamente por
desembargadores. Então, estamos pensando em tratar de inserir, por meio de
proposta de emenda constitucional, nos Conselhos Estaduais de Magistratura, além
de desembargadores, representantes dos juízes de primeiro grau, da OAB, do
Ministério Público e da sociedade. Sobre isso quero saber a opinião de V.Sa.
Um último tema, muito ligado ao problema da Justiça, é a Defensoria Pública.
Somos um País pobre. Alguns Estados, como o Ceará, são muito pobres, inclusive
alguns nem Defensoria Pública têm. O meu Estado tem, mas é absolutamente
ineficiente. A Defensoria Pública é a forma que o cidadão pobre tem de ser atendido
pela Justiça. Como, nessa reforma do Judiciário, poderíamos tratar do fortalecimento
das Defensorias Públicas estaduais e também da federal?
São essas as perguntas que faço a V.Sa. neste momento.
O SR. PRESIDENTE(Deputado José Eduardo Cardozo) - Peço aos
presentes, Sras. e Srs. Deputados, jornalistas e demais pessoas que acompanham
a reunião, que, por gentileza, colaborem com o andamento dos trabalhos, evitando
conversar nesta sala. Agradeço-lhes a compreensão.
Dr. Rubens Approbato, V.Sa. deseja responder individualmente ou de 2 em
2?
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - V.Exa. decide.
O SR. PRESIDENTE(Deputado José Eduardo Cardozo) - Então, V.Exa.
responde de imediato; depois, se houver atraso, acumularemos as perguntas.
Concedo a palavra ao Dr. Rubens Approbato Machado.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Entendo que estamos num
Estado Democrático de Direito, e o nome já diz: “democrático”. Quanto mais se
democratizar o poder público, melhor para a cidadania brasileira. No que se refere à
chamada eleição direta nos tribunais — isso foi matéria já muito discutida, inclusive
em São Paulo, com a proposta do ex-Deputado Régis Fernandes —, há um aspecto
que precisa ser analisado. Temos que olhar os prós e os contras, para ver o que é
melhor, para que não se transforme em política, no sentido menor da palavra, a
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
17
disputa para cargos do Poder Judiciário. Se o desembargador, para ser Presidente,
começar a assumir compromissos com juízes dos mais longínquos rincões, de
promoções, de uma série de coisas, vai prejudicar o próprio Judiciário. Então,
precisamos ter cuidado. Não sou contra a eleição direta, mas temos que elaborar um
sistema que impeça que isso se transforme numa política menor. Isso parece ser
importante.
No que se refere à promoção por merecimento, o nome já está dizendo, tem
que ser promoção por merecimento. E há algumas situações que realmente nos
causam preocupações. Uma delas seria fazer uma análise, na própria Escola da
Magistratura, dos trabalhos efetuados pelos magistrados. Mas aí corremos alguns
riscos — tudo na vida tem risco —, como o de se formar uma ideologia por meio de
uma escola, como já aconteceu na Escola Superior de Guerra. Acaba-se criando
ideologias, tirando do magistrado sua autonomia. Precisamos procurar critérios
objetivos, como já foi dito, de merecimento, até com as repercussões das decisões
judiciais nos tribunais, para verificar exatamente aquele que tem uma produção
qualitativa e quantitativa, porque não basta também ter somente qualidade. Conheço
magistrados que escrevem verdadeiros tratados nas suas decisões, são juristas de
primeira linha, mas dão uma sentença por ano, porque cada sentença é um tratado.
São péssimos juízes, apesar de o conteúdo ser o melhor possível. Então,
precisamos tomar cuidado com isso.
Quanto à Defensoria Pública, a Constituição Federal determina que ela exista
em todos os Estados. Alguns Estados se estruturaram; outros têm Defensoria
Pública sem estrutura, portanto, é a negação da própria Defensoria; e outros nem
têm Defensoria. Quero dar o exemplo de São Paulo, que tem uma solução. É um
Estado onde o número de carentes é enorme, portanto, uma Defensoria Pública,
para atendê-los, deveria ter um número enorme de defensores. O Estado de São
Paulo não quer criar um novo corpo dentro de seu organismo, um corpo com um
número enorme de funcionários, procuradores e encargos administrativos. Para isso,
saiu com aquilo que se chama de sistema judicare. O que é o sistema judicare?
Aquele em que o carente não paga pela prestação jurisdicional, tem a assistência
judiciária que a Constituição determina que tenha e que o Estado tem que lhe dar,
mas por intermédio de defensor particular, que recebe do poder público. Isso por um
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
18
convênio que a Ordem de Advogados do Brasil, seção São Paulo, fez com a
Procuradoria-Geral do Estado. Hoje, para V.Exas. terem idéia, há mais de 30 mil
advogados atendendo carentes, com fiscalização da Ordem e da PGE, e com o
trabalho da Escola Nacional de Advocacia da Ordem específica para os defensores,
para criar, dentro desses defensores dativos, o melhor que se posa dar ao carente,
porque é ele quem mais precisa de Justiça, pois não tem sequer orientação.
Então, criou-se esse sistema. E não há nenhum tipo de problema na
remuneração. Alguém pode dizer: “Não, mas aí pode haver um conluio de juízes
para nomear o defensor, ou o problema de o Estado não pagar”. É feito um controle
rigoroso. Há números anuais de processos para os defensores, os processos são
certificados, com essa certidão vai-se à Procuradoria do Estado, que tem verba
própria, e ele recebe pelos atos praticados. Inclusive, o Deputado Aloysio é
Procurador do Estado e sabe como funciona. E funciona bem. Então, em São Paulo
ninguém quer a Defensoria Pública, apesar de estar prevista na Constituição. O
carente não a quer porque dispõe de um sistema eficiente; o Poder Público não quer
para não criar um novo organismo; a Ordem não quer porque tem 30 mil advogados
trabalhando, enfim, acabou atendendo à necessidade de todos.
Essa é uma solução para Estados que têm grande volume de processos.
Quem tem um volume menor pode fazer, como já vi em alguns Estados, que fazem
bem feito, uma boa Defensoria Pública. Então, cada Estado é um Estado, cada
situação é uma situação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - O Deputado João
Alfredo se inscreve para a tréplica. É isso, Deputado?
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, primeiro quero dizer,
que, mesmo considerando que possa haver esse perigo de politização — entre
aspas — “minúscula”, acho que o sistema atual de acesso aos tribunais favorece,
volto a dizer, essa oligarquização do Poder Judiciário. Ademais, se temos critérios
claros e definidos para a promoção por antigüidade ou por merecimento, essas
promessas não poderiam ser cumpridas. Insisto nisto: se criarmos nos Estados
órgãos de controle semelhantes ao nacional, que possam corrigir isso, podemos
quebrar um pouco dessa estrutura que tolhe, no meu entendimento, a
independência do juiz. Dou exemplo claro: uma audiência pública, que seria
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
19
absolutamente tranqüila, na Assembléia Legislativa, para debater uma proposta
nossa, de eleições diretas, foi completamente esvaziada, porque o então Presidente
do Tribunal de Justiça ameaçou os juízes, que, se lá comparecessem, responderiam
a processo administrativo. Isso mostra, portanto, que temos de fazer mudanças.
Sei que há essa preocupação justa, mas, se avançarmos na reforma do
Judiciário, mantendo a concentração de poderes na cúpula, vamos tirar do juiz a
independência que V.Sa. disse, com muita propriedade, ser o ponto de preocupação
inicial, porque é a porta de entrada da cidadania, dos que buscam justiça.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Concedo a palavra
ao segundo inscrito, Deputado Carlos Willian, que dispõe de 3 minutos.
O SR. DEPUTADO CARLOS WILLIAN - Sr. Presidente, caros colegas, não
vou fazer indagações. Minhas palavras serão somente para parabenizar o
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, meu Presidente, pois sou advogado
militante. Quero dizer a S.Sa que da maneira como fez suas afirmações, se hoje isso
fosse uma ação contra o Governo, com certeza, ela chegaria ao final com vitória; e,
se tivéssemos que cumpri-la, estaríamos com 90% dos problemas jurídicos do Brasil
resolvidos.
Eu ia fazer um requerimento, não para contestar, mas para que se
manifestassem, diante desse seu posicionamento, os Presidentes do Superior
Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal. Porém, ambos já foram
convidados, não havendo necessidade de outro requerimento.
Pude observar, porque estou mais perto, que suas palavras foram bem
preparadas; estão uniformizadas e contidas numa folha. Gostaria de ser premiado,
depois, com a exposição de seu trabalho preparatório, inclusive com a carta de
compromisso do Presidente da República, em campanha, para que eu pudesse,
realmente, fazer uso desse material.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Com a palavra o
nobre Deputado Roberto Magalhães, que dispõe de 3 minutos.
O SR. DEPUTADO ROBERTO MAGALHÃES - Sr. Presidente da OAB,
Rubens Approbato Machado, V.Sa. fez aqui uma observação da maior importância.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
20
Disse que não há uma palavra sobre o primeiro grau em todas essas tentativas de
reforma.
Vou lembra-lhe, já que tem mais de 40 anos de atividade, que, quando o
ex-Presidente Geisel decretou recesso do Congresso Nacional para fazer uma
reforma do Judiciário, foi o parto da montanha, porque só tratou dos tribunais, não
tratou do primeiro grau, onde havia um grande problema, um entrave na tramitação
de processos, uma demora nas decisões, e criou o Conselho Nacional da Justiça,
que nunca funcionou, até porque era de controle interno, só havia magistrados em
sua composição.
A Ordem dos Advogados poderia, neste momento, oferecer à Secretaria de
Reforma do Judiciário, criada no Ministério da Justiça, uma proposta de reforma do
primeiro grau. Ninguém está mais qualificado para fazer esta proposta, até porque
tenho visto e ouvido V.Sa na televisão e, pessoalmente, pela segunda vez, falando
com muita autoridade, segurança e com respaldo em sua experiência.
Quanto ao problema da litigância de má-fé, acredito que não resolva, mas
quero dar um depoimento aqui: ouvi de um desembargador federal, de um tribunal
regional federal, que dos processos que tramitam em seu tribunal, dois terços são
originários do INSS e da Caixa Econômica Federal. Ele dizia: “Olha, Roberto, se
fosse possível eliminar Caixa Econômica e INSS, iríamos viver num céu de
brigadeiro”. E o que é pior: esse tribunal tem 15 desembargadores e estão pedindo
para ampliar para 35. Ora, 35 só por causa de 2 órgãos federais? Acho que é hora
de se fazer um esforço junto ao Governo e procurar ir à fonte estancar essa fábrica
de processos judicias que são o INSS e a Caixa Econômica Federal.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Dr. Approbato.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Sinto-me extremamente
lisonjeado pelos 2 Deputados que já falaram, Carlos Willian e meu querido mestre, o
Prof. Roberto Magalhães. Aceito a proposta e vamos analisá-la. Considero muito
importante esta reforma do primeiro grau, sem a qual não estaremos fazendo a
reforma do Judiciário.
No que se refere à litigância do poder estatal, ela é realmente algo
assombroso neste País. Precisamos achar caminhos. Alguém já falou até em criar a
súmula vinculante só em relação ao poder público. É uma questão de se analisar.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
21
Como sou frontalmente contra a súmula vinculante, seria, talvez, uma forma de se
solucionar o problema. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Deputado Roberto
Magalhães, V.Exa. quer fazer uso da palavra mais uma vez?
O SR. DEPUTADO ROBERTO MAGALHÃES - Não, estou plenamente
satisfeito, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Srs. Deputados,
quero apenas informar que o problema ocorrido para a eleição da 3ª
Vice-Presidência já foi equacionado.
O SR. DEPUTADO ALOYSIO NUNES FERREIRA - Estamos na maior
angústia para saber quem será nosso 3º Vice-Presidente. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Como a eleição
para a 2ª Vice-Presidência já foi iniciada e alguns Deputados votaram e se
ausentaram, seria indevido que eu fizesse a eleição ainda hoje, Deputado Aloysio.
Então, fica para o próximo capítulo da novela a eleição do nosso 3º Vice-Presidente.
O SR. DEPUTADO ALOYSIO NUNES FERREIRA - Vamos continuar com
esse vazio de poder, Sr. Presidente? (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Mas rapidamente
será solucionado.
Com a palavra o Deputado Rubinelli, que dispõe de 3 minutos.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI - Sr. Presidente da Ordem dos Advogados do
Brasil, Dr. Rubens Approbato, é uma satisfação muito grande para nós, da
Comissão, podermos contar com sua presença aqui. Acredito até que vamos
precisar dela não só nesta reunião, mas também em várias outras, pelo diagnóstico
preciso que V.Sa. faz do problema e pelo conhecimento que tem a respeito das
questões forenses.
Quero apenas abrir um parêntese para falar sobre a súmula vinculante. Acho
que a sua opinião é a mesma de todos aqueles que defendem o direito à cidadania e
a Justiça. Sou contrário também à súmula vinculante.
Além do exemplo que V.Sa citou, o do Plano Collor, há vários outros casos. E
nós, desta Comissão da Reforma do Judiciário, temos também de rediscutir o critério
de nomeação dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Por mais competência,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
22
formação, saber e reputação ilibada que existam hoje no STF, o sistema que temos
acaba por ter uma Corte politizada, porque há uma escolha política. Seria
interessante existirem mecanismos diferentes para escolhermos os Ministros do
Supremo Tribunal Federal.
Cito um exemplo que ocorreu quanto ao posicionamento jurídico dessa Corte
em relação ao racionamento de energia, quando a decisão, em si, não foi jurídica,
mas política. Aí é questionável, inclusive, se a solução encontrada na ocasião foi
acertada ou não.
Concordo também com o diagnóstico de V.Sa. em relação às formas
obsoletas que ainda existem no Judiciário, o que é óbvio. Se temos hoje tecnologia,
informática, mecanismos modernos, a pergunta que nos fazemos é: por que isso
não é aplicado, por exemplo, nos tribunais e no Judiciário como um todo? O que
acontece, já que os outros Poderes conseguem investir, modernizar-se e
equipar-se? Seria falta de recursos, de repasse de verbas em valores suficientes
para que essa modernidade pudesse se fazer presente? Mas se isso está
ocorrendo, por que não ocorre na mesma proporção com os outros Poderes, que
estão se modernizando, informatizando-se e dando um passo à frente?
Assim, entramos na questão do gerenciamento. Como vem sendo feito esse
gerenciamento no Judiciário? Será que temos escassez de recursos repassados
para o Judiciário ou será que está havendo mau gerenciamento? Acho importante
abordarmos essa questão, muito embora possa ser delicada.
Para finalizar, solicito a V.Sa. que fale a respeito do seguinte: para
promovermos acompanhamento permanente e fazermos, de fato, o Judiciário sair
dessa estagnação e conseguir ir para frente, modernizar-se, não seria necessário
estabelecermos seu controle externo? Caso V.Sa. concorde com essa proposta,
quero saber como poderia ser feito esse controle externo.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Dr. Approbato.
RUBENS APPROBATO MACHADO - O Deputado Rubinelli faz algumas
ponderações que desejo comentar. No que se refere à súmula vinculante, além dos
aspectos que abordei, quero também lembrar que, no fundo, a súmula vinculante
acaba tendo efeitos normativos, é como se fosse lei. Assim sendo, todos nós temos
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
23
de seguir. Se tem efeito de lei, começo a me preocupar como ela será revogada. Há
uma espécie de projeto dizendo como ela seria reformada. Mas, de qualquer modo,
o Judiciário estará também, de certa forma, legislando. E quando essa súmula
atingir normas constitucionais, ela terá efeitos de norma constitucional, e, ao que me
consta, a Constituição Federal só pode ser alterada por intermédio de emenda, não
de súmula. Criaremos uma maneira de reformar a Constituição por meio de súmula.
Parece-me que essa realmente não é a finalidade do Supremo Tribunal Federal.
No que se refere à composição do Supremo, a Ordem também entende que
todos aqueles que estão ligados à administração da Justiça teriam que ter
oportunidade de se manifestar no que se refere à nomeação de seus Ministros,
inclusive a proposta da quarentena de saída, ou seja, para que não fique
exatamente um aspecto meramente político-partidário ou sectário. Agora, na minha
visão, o Supremo Tribunal Federal, órgão supremo do Poder Judiciário, também tem
função política, não é estritamente um órgão técnico para resolver problemas
judiciais; ele tem, dentro das suas características de tribunal guardião da
Constituição, aspecto político, porque envolve a própria nacionalidade, a própria
cidadania. Existem também determinados momentos em que, no sentido aristotélico
do termo e não partidário, tem que usar a política. O Poder Judiciário não pode ser
isolado, meramente técnico, e o Supremo Tribunal Federal, por maior razão, tem
que ter essa condição política de, num determinado momento, decidir em favor da
Nação e não em favor de determinado assunto. Parece-me que nesse aspecto
teremos também que analisar o Supremo.
No que se refere aos recursos orçamentários, não tenho os dados, mas me
lembro que estive, numa ocasião, numa conferência em que foi o Corregedor-Geral
da Justiça Federal, que mostrou por quadros que a Casa Civil da Presidência da
República tinha orçamento maior do que toda a Justiça Federal do Brasil. Ou seja,
um Poder inteiro tinha menos do que um setor do Poder Executivo. Então, é hora
realmente de reexaminarmos os aspectos orçamentários. Não tenho dados, não sei,
estou me louvando numa informação que ouvi de um membro do Poder Judiciário.
Quanto ao controle externo, a posição da Ordem é muito clara: não quer
interferir na decisão do juiz, não quer ter essas decisões realmente sob qualquer tipo
de interferência. O juiz tem que ter a liberdade de julgar como é da sua convicção. A
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
24
OAB não quer entrar também nos aspectos da administração orçamentária dos
recursos do Poder Judiciário, porque não é função daqueles que estão junto à
administração da Justiça. Queremos a eficiência do Poder Judiciário — no âmbito
administrativo, de trabalho, de idoneidade, todas faces necessárias. É preciso ter
controle. Não uma mera corregedoria. A corregedoria tem outra finalidade,
realmente excelsa. Queremos mostrar que o Poder Judiciário não pode ficar parado,
sem agilidade. E essa agilidade muitas vezes depende — acredito que em muitos
casos depende — de saber que existe algo fora da corporação que a está
observando e que, portanto, poderá resolver o problema. Acredito até que se tivesse
havido esse controle externo não teríamos tido o escândalo do Fórum Judicial da
Barra Funda, em São Paulo. Estou absolutamente convencido disso, porque no
momento em que houve participação da sociedade na apuração — antes mesmo da
CPI na Câmara houve manifestação da sociedade —, chegou-se à conclusão de
que aquilo não poderia ter acontecido. Portanto, poder-se-ia prevenir por meio do
controle externo do Judiciário.
O SR. DEPUTADO VICENTE ARRUDA - Sr. Presidente, desejo saber o meu
lugar na lista de inscrição, porque vou ter que me retirar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Há 2 Deputados na
frente de V.Exa.
O SR. DEPUTADO VICENTE ARRUDA - Então, vou ter que me retirar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Se V.Exa. pedir a
inversão e nenhum dos Srs. Deputados se opuser, de imediato V.Exa. terá a
palavra. (Pausa.)
Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO VICENTE ARRUDA - Sr. Presidente, assisti com muita
satisfação à exposição do Presidente da Ordem dos Advogados e discordo em
alguns pontos.
Muitas das matérias focadas já foram longamente discutidas: a quarentena, o
precatório, a súmula vinculante. Sou inteiramente favorável à súmula vinculante,
porque num país de dimensão continental como o nosso, em que a jurisdição difusa
se repete a cada instante e contraditoriamente, surge um verdadeiro caos judiciário.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
25
Já temos na nossa Constituição a súmula vinculante. A ADIN nada mais é do
que uma súmula vinculante. O controle da constitucionalidade é uma súmula
vinculante, embora apenas alguns privilegiados podem a ela recorrer. Nos Estados
Unidos a Suprema Corte tem a jurisprudência concentrada. Nós não, temos a difusa.
E a súmula vinculante não impede que os juízes continuem a exercer o controle
difuso da constitucionalidade. Apenas vamos acabar com o caos jurídico que causa
a dispersão das decisões com liminares e as ações incidentes de
inconstitucionalidade. E devemos acreditar na seriedade do Supremo Tribunal
Federal.
Por outro lado, o fato de ter caráter normativo não quer dizer nada, porque o
juiz não fica vinculado à súmula. Como diz a lei, não se aplica ao caso concreto. Ele
não perde o poder discricionário de decidir de acordo com sua consciência. Ele tem
um preceito normativo, e diz: “Não, esse preceito não se ajusta ao caso concreto”.
Por conseguinte, as objeções, não me convencem.
Ademais, na questão da justiça de primeira instância, a que se referiu o
Deputado Roberto Magalhães, houve grande modificação com juizados especiais, o
que, inclusive, tirou da Justiça Federal o grande obstáculo que tinha para
aceleramento dos processos na questão do INSS. Para o sujeito receber uma
pensão levava 15 anos, agora ficou muito mais rápido. Noventa por cento das
questões do INSS dizem respeito a aposentadoria e pedido de auxílio doença.
Há outro ponto que sugeri na reforma do Judiciário e que não foi apreciado,
infelizmente. Acho que devíamos criar tribunais de primeira instância com 3 juízes.
Assim, acabava-se com a decisão solitária do juiz, com a influência. E poderíamos
criar um recurso só com efeito devolutivo para o tribunal, porque o julgamento seria
em público, haveria divergência, discussão e maior independência na produção da
prova e na decisão do triunvirato. Não é difícil conseguir isso. Podemos criar centros
nas cidades vizinhas. Seria uma maneira de se acabar com a repetição dos recursos
devolutivos para o tribunal.
Finalmente, a questão do controle externo do Judiciário. Não acredito que a
presença de um advogado ou de um promotor vá melhorar a qualidade do controle.
Pode até prejudicar, porque cada um vai levar os seus preconceitos para o
julgamento. O Poder Judiciário foi estruturado como Poder autônomo. Nos Estados
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
26
Unidos há o Judicial Committee, organizado com juízes da Suprema Corte e de
tribunais provincianos, tribunais regionais. Temos hoje acesso à Internet, podemos
fazer o controle e qualquer pessoa pode acessar. Há uma secretaria executiva para
receber as reclamações e divulgar na Internet. Não há necessidade de se fazer um
bicho de 7 cabeças. Acho que estamos querendo culpar o Poder Judiciário pela
demora nas decisões. A demora é de natureza processual, orçamentária, de falta de
juiz, de preparo. É uma questão cultural do Brasil. Podemos resolver muitas
questões no plano infraconstitucional. E esta Comissão já esta procurando corrigir
esse grande defeito de mudar a Constituição a cada passo, a cada instante, criando
o Estatuto da Magistratura, que resolverá todos esses problemas. Já há um projeto
no Congresso. Devíamos debruçar-nos sobre ele, sem cogitar em mudar o texto
constitucional e fazer da Constituição uma colcha de retalhos.
Era o que tinha a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Dr. Rubens
Approbato Machado.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - O bom da democracia é a
discordância. Se não houver discordância, nunca chegaremos a nada. Se todos
falarmos sempre a mesma coisa, vamos errar juntos. Temos de discordar para
acharmos o caminho, a luz.
Quero agradecer ao Deputado Vicente Arruda a intervenção. Evidentemente,
depois de minha manifestação, ainda vamos continuar divergindo, mas, quem sabe,
um dia chegaremos a um entendimento a um consenso, porque nossas finalidades
são as mesmas, fazer este País civilizado através de uma Justiça eficiente e ágil.
No que se refere ao problema da súmula vinculante, já dissemos que já existe
a ADIN. Na verdade, o que traz o efeito erga omnes é a Ação Direta de
Constitucionalidade, que sempre, na minha modesta visão de um idoso advogado,
contraria o próprio espírito da norma. Quer dizer, se o Congresso elabora uma lei,
passa pela Comissão de Constituição e Justiça, há o pressuposto natural de que
essa norma é constitucional. Se é constitucional ou não vamos saber na sua
efetividade, na sua execução.
Agora, o Congresso elabora a lei, a lei é editada, aí o Poder Executivo diz:
“Não, para poder executar, quero primeiro saber se é constitucional, como se fosse
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
27
uma consulta constitucional”. Isso, na minha visão, é a negação da própria atividade
parlamentar legislativa. Vai contra.
Entendo, portanto, que esse tipo de decisão com caráter vinculante
concentrado retira o mais importante, a gestação do direito na prática. A prática é
que vai dizer, ao longo do tempo, se aquela norma era do interesse social ou não, se
viola ou não um preceito constitucional.
Continuo entendendo que a sumula vinculante vai servir só para uma coisa:
para bater o carimbão e dizer: está tudo igual e não vou mais julgar. Perdoe-me
dizer isso, mas quem tem experiência de vida sabe que se procura acomodar, e a
acomodação terá essa característica do desvirtuamento. Daqui a pouco não vai
precisar mais de juiz, vai precisar de computador. Para que Justiça, para que
inteligência humana? Vamos deixar a inteligência cibernética funcionar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Para réplica,
concedo a palavra ao Deputado Vicente Arruda.
O SR. DEPUTADO VICENTE ARRUDA - V.Sa. se esquece de que a questão
constitucional é uma inserção na grande maioria dos processos. O juiz não vai ser
um mero carimbador, ele vai continuar exercendo o seu direito de julgar
incidentalmente a constitucionalidade ou não. Como na análise de qualquer norma,
o juiz não perde o seu tirocínio, sua independência de julgar. Ele pode julgar que
essa norma, no caso concreto, não se aplica, como muitos juízes fazem: “Não, essa
lei não adianta invocar porque ela não se aplica ao caso concreto”. Não vai
complicar muito. Agora, acho que facilitaria muita coisa.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Na verdade não é o juiz. Na
hora de recorrer, é o tribunal que vai dizer que já existe decisão e que, portanto, não
há mais o que julgar e aplica a sanção.
Se levássemos em consideração que realmente a matéria constitucional pode
ser argüida, em uma constitucionalística como a nossa, tudo que se refira a qualquer
tipo de discussão pode ir ao Supremo, até o direito à vida. Posso levar até um
inventário, porque morreu. Eu tenho direito à vida e morreu. Eu posso levar até ao
Supremo. Quer dizer, são umas maluquices da nossa inteligência que podem levar a
esse tipo de coisa. Então precisamos tomar um certo cuidado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
28
No que se refere à primeira instância, vamos falar dos juizados especiais, que
também considero importantes. Quero dar um testemunho de São Paulo. Há
processos nos juizados especiais que levam mais de 2 anos para serem colocados
em pauta. Vejam o que estou dizendo: o juizado especial, que deveria ser ágil, está
levando mais de 2 anos para colocar um processo em pauta e com alguns
problemas, como a afirmação de que “o advogado atrapalha, não precisa de
advogado no juizado especial”.
A relação jurídica não se mede pela grandeza econômica, mas, sim, pelo
direito que está sendo lesionado. E quem tem condições para dizer isso é uma
assessoria jurídica, seja ela do Estado, seja ela particular. Deixar o carente sem
assessoria jurídica é propiciar ao poderoso economicamente, que vai lutar contra ele
numa causa de um juizado, o desequilíbrio em uma relação processual, e não se
faz justiça, mas o caos social.
Precisamos tomar cuidado em alguns aspectos, inclusive nesse do juizado
especial. Precisamos traçar algumas normas para que ele seja realmente eficiente,
dê as respostas e não se quebre o princípio do devido processo legal e da
obrigatoriedade constitucional da assistência judiciária ao carente. Quer dizer, isso
me parece fundamental.
No que se refere aos tribunais de primeira instância, fiz uma proposta no meu
Estado ao Presidente do Tribunal, porque se falou muito também em tribunais
regionais. Em vez de tribunal regional, seria muito mais simples. Para não ter o
encarecimento administrativo de criar tribunais disso e daquilo, por que não fazer
câmaras regionais? O mesmo tribunal desloca as câmaras para São José do Rio
Preto, cidade belíssima do meu querido Aloysio, e vai julgar lá. Vamos ser mais
ágeis, mais rápidos. Parece-me que essa é uma solução que podemos estudar —
quando digo “nós”, digo que todos podemos estudar.
No controle externo, vamos ter divergência profunda, porque entendemos que
o controle externo é absolutamente necessário. Pode-se dizer o que quiser, mas o
que encontramos de mazelas em alguns lugares deste País no que se refere ao
Poder Judiciário só um poder externo é que vai dizer, porque o próprio Superior
Tribunal de Justiça, a quem compete isso...
O SR. DEPUTADO VICENTE ARRUDA - V.Sa. me permite?
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
29
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Deputado Vicente
Arruda.
O SR. DEPUTADO VICENTE ARRUDA - É só a composição...
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Mas eu não posso
lhe dar, regimentalmente, a palavra, Deputado. Se V.Exa. quiser se inscrever, tenho
o máximo prazer de poder inscrevê-lo.
O SR. DEPUTADO VICENTE ARRUDA - Não, é só sobre a composição,
porque ele disse que...
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Srs. Deputados, eu
tenho de seguir a ordem regimental, e, portanto, há uma lista de inscritos.
Peço ao Presidente Approbato que conclua. Já concluiu?
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Podemos discordar quanto à
composição, mas não vamos discordar nos pontos essenciais.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Deputado João
Paulo, é questão de ordem?
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Exatamente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Pode fazê-la.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente,
considerando que o nosso convidado é Presidente de uma entidade de peso e que
tem voz privilegiada no Brasil, eu quero saber se essas posições que S.Sa. acaba
de declinar são pessoais ou se são da entidade. Isso é importante para mim.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Deputado, não é
bem uma questão de ordem, mas é uma questão de esclarecimento que o
Presidente Approbato responderá se assim entender...
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Posso responder já.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Pode fazê-lo.
Então, em deferência especial.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Eu falo em nome da Ordem,
sim. Eu sou o Presidente da Ordem, falo em nome da Ordem, portanto, falo em
nome dos advogados brasileiros.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
30
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente,
minha pergunta foi no sentido de saber se foi feito algum debate interno na Ordem
dos Advogados com os Presidentes Regionais, para se chegar a uma posição.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Deputado, essa
não é uma questão de ordem.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Obrigado. Eu me
sinto contemplado, só queria justificar minha pergunta. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - O esclarecimento
foi prestado, portanto, sigamos com as manifestações.
Com a palavra o Deputado Aloysio Nunes Ferreira. Tem o Deputado 3
minutos.
O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES - Sr. Presidente, uma questão de
ordem, e é questão de ordem mesmo, sobre a lista de inscrições.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Questão de ordem.
O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES - V.Exa. poderia declinar a lista?
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Vou declinar os
inscritos. Falará agora o Deputado Aloysio Nunes Ferreira, depois os Deputados
Carlos Mota, Paes Landim, Coriolano Sales, Dimas Ramalho, Darci Coelho, João
Paulo Gomes da Silva e Dra. Clair.
Com a palavra o Deputado Aloysio Nunes.
O SR. DEPUTADO ALOYSIO NUNES FERREIRA - Considero um privilégio
para nós advogados e para nós brasileiros termos na Presidência da Ordem um
homem da lucidez, da cultura jurídica, da experiência prática, da longa vivência e da
correção do Dr. Rubens Approbato Machado. Creio que seria para nós, para esta
Comissão, extremamente oportuno e relevante que estabelecêssemos com S.Sa.
uma relação de trabalho que não se limitasse a esta audiência pública, mas que se
prolongasse ao longo dos trabalhos de desta Comissão.
S.Sa. tem, como disse no seu currículo, experiência quase que
cinqüentenária na atividade forense e na atividade de advogado, com passagens
pela Administração Pública, e hoje é dirigente da Ordem dos Advogados do Brasil.
Por isso penso que a contribuição do Dr. Rubens Approbato seria especialmente útil,
levando-se em conta o fato de que a nossa Comissão, na circunstância em que ela
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
31
trabalha, deverá se concentrar mais de perto, com mais empenho, nos aspectos
práticos, se o senhor me permite esse termo. São as questões de cuja decisão
depende a boa prática da atividade jurisdicional do nosso País.
Corremos um risco sério. Como somos homens titulares de um Poder —
V.Sa. convive com o Congresso, com a Ordem, com os tribunais superiores e tem
visão macro do Brasil —, corremos o risco de estar envolvidos em questões que
digam respeito ao Poder dentro do Poder, como é, por exemplo, a questão do
controle externo. Essa é uma questão, Sr. Presidente, que está agora no Senado.
Concordo com V.Exa., meu caro Presidente, que não devemos ter
promulgação fatiada pelos inconvenientes apontados e também pelo fato de que
promulgação fatiada de emenda constitucional destrói a idéia de sistema; são
pedaços que você faz que nem sempre fazem sentido juntos. Mas essa é uma
questão que está lá e que nos divide. Digo-lhe francamente, sou profundamente
hostil ao controle externo. Entendo que ele acaba por minar seriamente e
comprometer a independência do Judiciário.
Teremos a oportunidade de discutir essa questão aqui se a matéria voltar à
Câmara. Não sei se voltará; neste ano seguramente não. Sou a favor, por exemplo,
de algumas medidas como a transcendência, porque considero que os Tribunais
Superiores hoje estão se transformando em terceira instância, onde se prolonga a
lide, o conflito interindividual, quando não é essa a função do Tribunal Superior. Mas
isso também está lá no Senado.
Creio que temos de nos concentrar, meus caros colegas, nas questões do
funcionamento do dia-a-dia do Judiciário, questões de gestão. A primeira instância
está relegada ao descaso, inclusive por nós, quando elaboramos os orçamentos,
porque não somos obrigados a aceitar a proposta orçamentária do Poder Judiciário
tal como ela é enviada para cá. Por que não incluímos nas diretrizes orçamentárias
um mecanismo que determine uma aplicação mínima de recursos no
desenvolvimento dos meios materiais para a primeira instância funcionar?
Os juizados especiais, em grande parte, têm problemas de gestão. Há
problema legislativo, porque eles acabaram se transformando em agências de
cobrança de microempresa, mas há problemas de gestão também. V.Sa. sabe, não
sei os colegas, que, pelo menos no Estado de São Paulo, os Juizados Especiais são
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
32
como que uma atividade lateral da atividade dos juízes. Vai para o juizado especial o
juiz que tiver tempo. Como o juiz não tem tempo... A atividade jurisdicional do
magistrado no juizado especial não conta para efeito de promoção, para efeito de
medir o seu desempenho, é algo que fica à parte.
Creio que a eleição direta proposta pelo Deputado João Alfredo para os
órgãos de direção dos tribunais tem inconvenientes, como V.Sa. apontou. Mas
também ficarmos na situação de hoje, em que só podem ser eleitos aqueles que
fazem parte do grupo mais antigo do órgão especial é condenar os tribunais a serem
dirigidos por uma gerontocracia.
Nada tenho contra os velhos, eu sou velho, tenho 58 anos, acontece que
alguém que esteja à beira da aposentadoria já não tem mais nenhum compromisso
com o desenvolvimento do serviço que venha a presidir. Já está no final, não olha
mais para o amanhã, olha para a hora seguinte, que é a hora em que vai se
aposentar. É uma homenagem que se presta a um grande magistrado. Isso se pode
resolver no Estatuto da Magistratura.
Agora, Dr. Rubens Approbato, resolvemos dar ênfase especial nos nossos
trabalhos ao Estatuto da Magistratura, que está na Casa há 12 anos. Hoje a Lei
Orgânica da Magistratura é produto do pacote de abril, veio embrulhada no pacote
de abril.
Conclamo V.Sa. a que nos ajude, especialmente agora, no exame dessa
matéria, que está aqui, ao nosso alcance, que podemos resolver. Como modernizar
as carreiras? Como dar maior importância à formação e às escolas da Magistratura
como requisito de promoção? Que tratamento dar no Estatuto da Magistratura a
essas formas, digamos, alternativas, novas, modernas, que aproximam a Justiça do
jurisdicionado, como os juizados especiais? Como democratizar a estrutura do
Poder Judiciário, dando voz ao juiz de primeiro grau, talvez não a todos, mas pelo
menos àqueles que se encontram em determinado estágio de suas carreiras, na
eleição dos órgãos dirigentes dos tribunais?
Para essas questões, evidentemente, sabendo que tudo que vier de V.Sa.
será recebido com muito prazer e interesse por nós, é que chamaria especialmente
a sua atenção e a da Ordem dos Advogados do Brasil.
Muito obrigado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
33
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Tem a palavra o
Dr. Rubens Approbato Machado.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Em primeiro lugar, quero dizer
que é muita honra receber essa manifestação do Deputado Aloysio Nunes Ferreira,
que se disse velho, apesar de ser menino, porque tive a honra de ser amigo do seu
pranteado pai, figura notável. Quero dizer, portanto, que os nossos laços afetivos
são muito antigos e agradeço-lhe a interferência.
No que se refere à colaboração a respeito do tema proposto, quero dizer, de
público, ao Presidente, ao Relator e a todos membros desta Comissão que a Ordem
dos Advogados se põe à disposição.
De mãos dadas, ao recebermos todo o material, criaremos uma comissão
específica para isso e que manterá contato direto com esta Comissão na busca
daquilo que seja o melhor para esta reforma.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Srs. Deputados,
temos ainda muitos inscritos, vou procurar ser o mais rigoroso possível na
observância do tempo de 3 minutos.
Com a palavra o Deputado Carlos Mota.
O SR. DEPUTADO CARLOS MOTA - Sr. Presidente, Dr. Rubens Approbato
Machado, nosso Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, elenquei algumas
questões para submeter à sua análise, mas antes quero anunciar a minha condição
de advogado licenciado de uma delinqüente contumaz, que é uma autarquia
chamada INSS, à qual tenho a honra de servir, mas sei que hoje responde por cerca
de 70% de todo o movimento da Justiça Federal, monopolizando o funcionamento
dos juizados especiais federais.
Seriam 2 os motivos a ditar uma situação esdrúxula e absurda como essa: ou
as leis feitas nesta Casa são incompreensíveis e o INSS não consegue interpretá-las
e ministrar os direitos aos seus beneficiários, cobrar devidamente as suas
contribuições, ou, então, a administração previdenciária utiliza da não concessão do
benefício ou da cobrança indevida de contribuições como forma de protelar suas
obrigações.
Assim, na condição de membro de uma carreira que se insere na Constituição
como função essencial à Justiça, ao lado do Ministério Público, da Defensoria
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
34
Pública e da Polícia Federal, quero saber de V.Sa. qual o pensamento da Ordem
dos Advogados do Brasil com relação a alguns pontos, principalmente sobre a
isonomia entre essas carreiras, uma vez que hoje há quase uma autofagia entre
membros estatais: a Justiça concorre com a Advocacia Pública e com a Defensoria
Pública no aproveitamento dos seus melhores quadros. Isso cria uma situação muito
ruim, de beligerância até entre os membros dessas carreiras.
Fui eleito por uma região muito pobre de Minas Gerais e do Brasil, o Vale do
Jequitinhonha, com cidades pequenas, onde temos, às vezes, em torno de uma
única Comarca, 11 ou 12 Municípios, em que os juízes ali empossados não querem
viver naquelas regiões remotas e sem o conforto da cidade grande. Assim, ocorrem
muitas denúncias, inclusive de abusos cometidos por juízes, que vêem nisso uma
forma de remoção.
Esse fato é muito comum nas pequenas cidades do interior: quando o juiz não
quer cumprir o interregno previsto na lei para permanecer numa Comarca, utiliza
artifícios, para que a própria comunidade peça sua expulsão. E o juiz assente com
aquilo, porque não quer viver em cidades pequenas. Chamo a atenção, inclusive,
para esse aspecto da interiorização da Justiça.
O outro aspecto seria o da juvenilização da Justiça. Nas Comarcas do interior,
são os jovens juízes que ali chegam, às vezes oriundos de regiões com culturas,
comportamentos e hábitos diferentes, e a Magistratura passa a ser vista como um
choque entre culturas regionais.
Quanto à responsabilidade pessoal do juiz pela prática de atos jurisdicionais
danosos, penso que somos um dos poucos países em que o juiz é totalmente
irresponsável quando comete um dano contra o cidadão.
As outras questões são interiorização da Justiça, a quarentena, que V.Exa. já
mencionou, e a incompatibilidade do exercício da advocacia para parentes de juízes,
procuradores, como é o meu caso, membros do Ministério Público.
Essas as minhas perguntas, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Tem a palavra o
Dr. Rubens Approbato Machado.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Meu caro colega advogado,
ainda que licenciado, em primeiro lugar, quando falou do movimento do INSS que
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
35
causa esse amontoado de ações, parece que ouvimos um coro dizendo o seguinte:
hoje, a Justiça está a serviço de quem não tem direito e não a serviço de quem tem
direito, o que é uma anomalia.
Por exemplo, se alguém, no seu direito, for cobrar de outro que lhe deve, o
que deve, em vez de pagar, vai à Justiça. Usa Justiça aquele que não teria direito de
usá-la, e o Poder Público acaba fazendo igual, ou seja, usa o Poder Judiciário para
procrastinar o cumprimento das suas obrigações. Em vez de reconhecer o direito, e
o Poder estatal é que teria de assegurar isso, é o primeiro a usar o outro Poder para
não cumprir essas obrigações, o que é realmente lamentável.
No que diz respeito às indagações específicas, isonomia das carreiras
jurídicas, sempre entendi que as carreiras jurídicas, por terem as mesmas
perspectivas e finalidades de trabalhos, têm de ter essa isonomia. Na minha visão,
advogado, juiz, promotor, que fazem parte do mesmo sistema judiciário, têm de ter o
mesmo tipo de tratamento, inclusive de remuneração.
No que se refere aos abusos de juízes para remoção, não deixa de ser algo
inteligente, apesar de um absurdo. Aí é que penso entra o controle externo. O povo
vai reclamar, vai haver até uma ouvidoria ligada ao controle externo, que vai levar as
reclamações do cidadão ao órgão de controle externo. No projeto que saiu daqui
constava isso, inclusive com a ouvidoria ligada ao controle externo, o que perfaz o
conjunto do sistema.
Na juvenilização da Justiça, todos nós, advogados, acabamos ficando meio
brabos quando encontramos um juizinho jovem que passa a ser o dono do mundo.
Mas fico me perguntando se é melhor ter um juiz jovem do que não ter juiz, do que
não ter Justiça.
Hoje, com a situação da Previdência e com outros meios, o advogado mais
antigo está fugindo da carreira. E, ao fugir da carreira, não vamos ter juiz. Se não
tivermos juiz, não teremos Justiça. Então, temos de aceitar uma verdade, que é a
juvenilização. Mas temos de criar no jovem um amadurecimento, porque conheço
muita gente velha que não amadurece também e muita gente jovem que amadurece
mais facilmente.
Temos de criar um sistema de trabalho que mostre a ele, juiz, o que ele
realmente representa, para que possa ter amadurecimento. Temos, hoje, grandes
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
36
jovens talentosos. Não é o problema, portanto, de ser juvenil que vai criar
deficiências. É problema psicológico de cada um, e temos de fazer um trabalho
nesse sentido. Ainda prefiro ter um juiz nos cafundós da minha terra, numa cidade
que precisa de um juiz, do que não ter juiz, porque, pelo menos, tenho a certeza de
que a Justiça estará presente.
No que se refere à responsabilidade pessoal por atos danosos, a minha
proposta vai além: penso que a responsabilidade tem de ser até por atos que não
sejam danosos, como, por exemplo, falta de proficiência na época oportuna. Ou
seja, o juiz que não julga, ainda que julgue mais tarde e a sentença me seja
favorável e venha a dizer que não me causou danos. Causou danos, sim, o tempo
também é um dano causado. Isso não é um problema que estou suscitando como se
fosse novidadeiro, ocorre em outros países.
Sobre a incompatibilidade de parentes, penso que parentesco, em regra, não
é problema, depende do comportamento ético de cada um. Conheço filhos de
Ministros que têm comportamento exemplar; outros, não têm. Realmente, temos de
tomar o cuidado de criar um tipo de suspeição ou de afastamento do pai, do tio, do
parente, numa causa já posta em que não era advogado. Aí, realmente, é um caso
muito sério, em que o problema não é nem do magistrado, mas do advogado e
compete à Ordem tomar providências.
O problema em si da incompatibilidade de parentes temos de analisar. Ela
cria dificuldades? Cria, porque, muitas vezes, o cliente procura o advogado pelo
sobrenome. Isso acontece mesmo. Precisamos, portanto, tomar alguns cuidados.
Sei que já há no Congresso o desenvolvimento de uma legislação nesse sentido, e a
Ordem dos Advogados está aguardando. Não deu a sua opinião, até porque
entende que é competência desta Casa e vamos obedecer àquilo que for deliberado.
Portanto, não podemos condenar por condenar, porque, se conheço gente que
merece ser condenada, também conheço muita gente que tem comportamento
exemplar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Prosseguindo na
discussão, concedo a palavra ao Deputado Paes Landim, por três minutos.
O SR. DEPUTADO PAES LANDIM - Sr. Presidente, quero parabenizar o
Prof. Rubens Approbato. Realmente, é uma grande figura humana. Credenciou-se
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
37
na liderança dos advogados do Brasil pela sua competência, autoridade moral e
capacidade de trabalho. Claro que discordo, Dr. Rubens Approbato, de alguns dos
temas aqui expostos, mas gostaria de me situar em dois ou três, por causa do
tempo.
V.Exa. fala muito bem da posição dos Tribunais Regionais Eleitorais.
Considero um absurdo, realmente, que os Tribunais Regionais Eleitorais tenham
essa posição majoritariamente nos Estados.
Conseguimos incluir essa tese na reforma do Judiciário, mas, infelizmente, o
Plenário, depois, derrubou. Não quero entrar no mérito da questão, mas nos Estados
Unidos cada Estado tem o seu direito eleitoral. Se o Direito é todo ele federal, por
que entregar a decisão dos problemas eleitorais à maioria de juízes estaduais? Além
do mais, entregar a um juiz de comarca decisões como o poder de invocar as Forças
Armadas, etc., para demonstrações de arrogância, de força, que está comandando,
batalhando aquele dia de eleição, é um vício muito grande. Esse é um tema que
esta Comissão não poderá deixar de abordar.
Concordo com o Deputado Aloysio Nunes Ferreira no sentido de que a
presença de V.Exa. aqui, Dr. Rubens Approbato, não deveria limitar-se só a essa
assentada. Em cada tema importante dever-se-ia ouvir a opinião da Ordem dos
Advogados. O Ministro Delfim Netto tinha uma tese, há vinte anos, quando as
instituições brasileiras eram muito frágeis, mas que ainda hoje se aplica. As
instituições brasileiras, às vezes, dependem muito das pessoas que as dirigem, e
V.Exa. realmente engrandece a Ordem dos Advogados. Seria importante que a sua
posição pessoal ou institucional trouxesse as reflexões sobre os temas que esta
Comissão fosse discutir, depois, em caráter sistemático.
Discordo do eminente Presidente em dois aspectos: no que se refere ao
controle externo, estou com a tese do grande Dr. Hélio Bicudo. Discordo de outros
temas da reforma do Judiciário, mas essa tese é interessante: como vai ser um
órgão sem função jurisdicional controlar os que têm atividade jurisdicional? É uma
reflexão muito interessante.
Quanto ao problema da súmula vinculante, penso que se tirasse o ”não
vinculante”... A grande idéia da súmula no Brasil foi de um dos maiores juízes do
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
38
séc. XX. Dois grandes juízes da Suprema Corte: Pedro Lessa, de 1950 para baixo,
e, a partir de 1950, Vítor Nunes Leal, que criou a súmula no Brasil.
Isso não impediu, nem nos Estados Unidos nem aqui, a criatividade, porque a
sociedade, a cada dia, é mais complexa, novos fatos econômicos, culturais,
tecnológicos estão obrigando a novos raciocínios, novas interpretações, etc.
Lembro-me de que o maior prejulgado da história dos Estados Unidos, que
repercute até hoje no mundo inteiro, foi o julgamento de Marshall no controle da
constitucionalidade da lei. Isso não está escrito em nenhum documento legislativo
americano. Foi uma decisão do raciocínio de Marshall que o mundo inteiro segue,
sobretudo na cultura ocidental.
Penso que temos de retirar o nome “vinculante” e deixar tão-somente o nome
súmula, e só o Supremo Tribunal Federal poderia fazê-lo. O Brasil é o único país do
mundo que põe um elenco de tribunais no seu corpo judiciário, criando até
ciumeiras, falta de respeito hierárquico, etc.
Por último, concordo com o Deputado Roberto Magalhães, quando chamou a
atenção para uma expressão muito oportuna de V.Exa., de que, realmente, nas
reformas que vêm sendo apresentadas a esta Casa há dez, onze anos, ninguém se
preocupa com o primeiro grau. Fala-se tanto em Justiça Cidadã, mas não há
nenhuma Justiça Cidadã, o importante é o primeiro grau. Realmente, esse tema é
completamente obscurecido nas reformas e vem tramitando pelas duas Casas do
Congresso Nacional sem ser discutido.
Não tinha praticamente uma pergunta a fazer ao Dr. Rubens Approbato.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Tem a palavra o
Dr. Rubens Approbato.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Na verdade não vejo
discordância. No que se refere ao controle externo, não queremos entrar nas
decisões dos juízes, na atividade jurisdicional.
Ninguém é contra a súmula, inclusive o Vítor Nunes Leal, que foi o grande
idealizador da súmula e a criou exatamente para cristalizar, vamos dizer assim,
aquelas decisões mais constantes. Mas isso não tiraria a criatividade e as
modificações. Ninguém é contra a súmula. Eu sou escandalosamente favorável à
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
39
sumula. Sou escandalosamente contra que ela tenha efeito vinculante. É esse o
aspecto.
E, no primeiro grau, estamos também de acordo, porque o direito é vida, o
direito nasce das relações entre as pessoas que são vistas nos fatos concretos no
juiz de primeiro grau. E é ele que está lá no dia-a-dia, verificando os problemas do
seu vizinho, da pessoa do lado, daquele cidadão que vai falar com o juiz, etc. O juiz
de primeiro grau tem de ser prestigiado.
No que se refere aos recursos, entendo que precisamos reanalisar o
problema desse instrumento processual. Não que não tenha recurso, porque recurso
é uma forma de acesso ao Judiciário também, mas precisamos minimizar os seus
efeitos ou diminuir a quantidade, principalmente nos aspectos dos recursos
meramente formais.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Com a palavra o
Deputado Dimas Ramalho, por 3 minutos.
O SR. DEPUTADO DIMAS RAMALHO - Sr. Presidente, ao cumprimentar o
nosso convidado, Dr. Rubens Approbato, quero dizer a S.Exa., como todos
disseram, que para nós, paulistas, é uma honra tê-lo hoje como Presidente da OAB
Nacional e, para o Brasil, tê-lo como essa voz corajosa que opina, que faz o debate
nacional e nunca se furta de discutir os assuntos de interesse do País. Acredito que
esse é um papel muito importante da OAB, e V.Exa. tem tido um papel fundamental
nas grandes discussões nacionais. Tanto é verdade que a presença de V.Exa. na
Câmara, em várias Comissões, demonstra isso. Sempre presente. Nunca a OAB se
omite, pelo contrário. Então, é uma honra tê-lo aqui nesta tarde.
Levanto duas questões. Ajudei a aprovar na Assembléia de São Paulo as
eleições diretas para os tribunais e a unificação dos tribunais de alçada aos tribunais
de justiça. Por questão de economia processual, de economia material, como disse
o Deputado Aloysio Nunes Ferreira, temos de cuidar mais da gestão. E, naquele
momento, vi a grande discussão que se deu em São Paulo sobre se deveríamos
aprovar ou não a eleição direta para os tribunais.
Nós a aprovamos. Posteriormente uma ADIN a suspendeu. E a
argumentação, Sr. Presidente, é que o Presidente de Tribunal de Justiça vai precisar
de conversar com o juiz da pequena comarca. Tudo bem, ela tem certa procedência,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
40
mas para se eleger Presidente de Tribunal de Justiça também tem de se conversar,
só que com desembargadores. Concentra-se, mais uma vez, a articulação política.
E bem lembrado ainda pelo Deputado Aloysio que muitos desembargadores
vão para o tribunal e ficam lá 15, 20, 25 anos e durante esse período, por mais que
conversem com os advogados, participem dos julgamentos, acabam perdendo
contato com a população, com o povo, que o advogado militante possui e a primeira
instância também. De certa maneira, fica um pouco irreal o que acontece no dia-a-
dia.
Solicito que a OAB aprofunde um pouco mais o estudo sobre as eleições
diretas para os cargos de segunda instância. Não que seja a solução para os
problemas, mas poderia ser uma discussão profunda para a oxigenação dos
tribunais, de comprometimento com as questões da primeira instância.
Pertenço a uma instituição que tem eleições diretas, o Ministério Público. Há
muitos problemas, é evidente, mas também há algumas virtudes.
Como V.Exa. vê a unificação dos tribunais? Não acha que deveríamos
chamar aqui também os usuários da Justiça, pessoas comuns que não têm acesso à
Justiça? Muitas vezes, convidamos para comparecer às nossas reuniões juristas,
desembargadores e professores, pessoas que nos dão a tese, mas, como bem
lembrou o Deputado Ibrahim Abi-Ackel, não falam do dia-a-dia. E, nesta Comissão,
nossa preocupação é sermos práticos, pois, do contrário, não caminharemos para
uma reforma do Judiciário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Tem a palavra o
Dr. Rubens Approbato Machado.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Sinto-me extremamente
honrado por rever o Deputado Dimas Ramalho. Fomos companheiros no famoso
Jornal da Tosse. S.Exa. é um dos Deputados mais atuantes do Estado de São
Paulo.
No que se refere às eleições diretas, o Deputado Aloysio Nunes Ferreira fez
uma abordagem que me pareceu muito interessante, porque, pelo menos, prega um
contrabalanço. Se não todos, pelo menos a metade ou uma parte deveria ser
reeleita. Essa proposta me parece muito interessante, porque não podemos
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
41
dispensar a experiência dos mais antigos. Creio que deveria haver um
balanceamento, pois isso pode dar força à nossa instituição.
Entendo que eleição direta tem caráter democrático e ninguém pode ser
contra isso, nem mesmo a Ordem dos Advogados do Brasil. Mas, no Poder
Judiciário, que V.Exa. tão bem conhece, devemos tomar alguns cuidados. Não
ousaria dizer, desde já, que esse sistema deve ser implantado. Temos de analisar
melhor a situação para evitarmos alguns problemas.
No Ministério Público, parece-me que o caso é diferente. Por sua forma de
agir, como advogado da sociedade, o Ministério Público tem maior liberdade no que
se refere às suas concepções e posições. Por isso, nessa entidade, pode haver
alguns segmentos que, entre aspas, são partidários das eleições diretas. Como
V.Exa. bem sabe, em São Paulo, existem esses segmentos. Não vejo, portanto,
qualquer tipo de problema, até por que, no final, saem 3, dos quais 1 é escolhido. No
Poder Judiciário, uma pessoa seria diretamente eleita. Precisamos analisar o que se
pretende, mas não estou dizendo que sou contra. Creio que a proposta merece um
estudo um pouco mais adequado.
No que se refere à unificação dos tribunais, em São Paulo temos adeptos de
todas as correntes. Em poucos Estados — creio que em São Paulo e em mais 2 —,
há tribunais de alçada. A essa altura dos acontecimentos, não vejo vantagem em
termos muitos tribunais. Na minha opinião, precisamos, sim, de muitos julgadores.
Temos, portanto, de dividir os tribunais em câmaras. O ideal seria que tivéssemos
apenas 1 tribunal, mas dividido em inúmeras câmaras, inclusive regionais. Cada
tribunal tem um Presidente, um Vice-Presidente, uma administração e uma série de
problemas que, muitas vezes, causam conflitos. Às vezes, há dificuldade em se
saber quem é o titular do poder.
Parece-me que o estudo da unificação é bastante interessante. Desde que
haja uma substituição do modelo existente por algo que seja melhor e mais eficiente,
estou absolutamente de acordo.
Quero apenas dar mais uma informação. A Ordem dos Advogados do Brasil,
atendendo às ponderações que V.Exa. fez há pouco, fará uma pesquisa nacional,
junto à população brasileira, para saber o que ela pensa do Poder Judiciário, quais
os seus defeitos, em que momento ela precisou desse Poder, quais as respostas
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
42
foram dadas e como está sendo a atuação dos advogados e dos órgãos ligados a
esse Poder. Assim que essa pesquisa estiver definida, eu a trarei a esta Casa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Concedo a palavra
ao Deputado Darci Coelho, que disporá de 3 minutos.
O SR. DEPUTADO DARCI COELHO - Sr. Presidente, eminente Presidente
da OAB Nacional, Sras. e Srs. Deputados, o advogado representa as partes em
juízo, isto é, o destinatário do serviço público Justiça. Daí por que a Ordem dos
Advogados do Brasil tem conhecimento de causa para debater os assuntos relativos
ao Poder Judiciário. Por isso, quase todas as propostas trazidas pela OAB merecem
nossa aprovação.
Em um primeiro momento, registro a séria questão dos precatórios, que
V.Exa. abordou com muita propriedade. Também estou de acordo com relação à
súmula vinculante. Realmente, não podemos obstruir o caminho aos recursos,
principalmente porque sabemos que o direito é federal e as Justiças são estaduais,
com raras exceções. As questões a respeito da quarentena, do litigante de má-fé e
as demais trazidas pela OAB merecem nossa aprovação.
Quero uma opinião mais extensa de V.Exa. no que se refere ao controle, que,
sabemos, é necessário e que alguma coisa tem de ser feita. Mas o que deve ser
feito? Há quase que um consenso quanto ao fato de que é necessário o controle do
Judiciário. Mas não tenho opinião formada sobre isso.
Sou juiz federal aposentado. Fui promotor, procurador de Justiça e juiz de
Estado até a 3ª entrância. Não tenho idéia de como esse controle pode ser feito.
Não sei se devemos criar um novo órgão, um outro tribunal. Teria de ser um novo
Supremo Tribunal. Não sei se devemos buscar pessoas de fora, que,
evidentemente, não têm conhecimento sobre os mecanismos do Judiciário. Quem
determinaria a forma de escolha dessas pessoas? Como proposto naquele projeto,
pareceu-me muito dividido. Apareceu a OAB, o Ministério Público. Não sei se
pessoas estranhas ao funcionamento do Judiciário conseguiriam entender a maneira
como ele atua.
Concordo com a necessidade do controle. Sei que alguma precisa ser feita,
principalmente no que se refere à administração. Mas tenho dúvidas quanto à
possibilidade de esse controle tolher a atuação do Poder Judiciário. Não sei se quem
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
43
vai mandar em meu dinheiro também não vai mandar em mim. Não sei se a
fiscalização financeira por um órgão externo não comprometeria a independência do
Poder Judiciário.
Pergunto o seguinte: a OAB já tem idéia de como esse controle poderia ser
feito? Ainda não vi qualquer sugestão explícita. Ninguém disse como funcionaria
esse conselho. De acordo com o que entendi, a maioria dos membros seria de fora,
mas, se são de fora, quem vai mandar são pessoas de fora. Esse conselho
terminaria virando um novo órgão jurisdicional — ou um órgão político ou algo como
o Congresso ou o Poder Executivo.
Desejo saber se a OAB já tem o esboço do futuro desenho, a fim de que
possamos discutir o controle externo da magistratura.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Tem a palavra o
Dr. Rubens Approbato Machado.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Deputado Darci Coelho, pode
ser que eu esteja equivocado, mas estou sentindo, a não ser por algumas
manifestações muito firmes, que a grande maioria ou a quase totalidade das
pessoas é a favor de um controle. Estamos divergindo quanto à composição desse
conselho, pois é claro que ela será importante. Afinal, se fizermos uma composição
malfeita, o controle será malfeito. Parece-me que esse aspecto é imprescindível.
Na minha visão, esse conselho deve ser composto por membros do Poder
Judiciário — isso me parece óbvio — e por aqueles ligados à administração da
Justiça. O Poder Judiciário — e V.Exa. já declinou sua condição de juiz aposentado
— não é composto apenas por magistrados. O Poder Judiciário é muito mais do que
isso. Ele é composto por magistrados e também por todos ligados à administração
da Justiça. E integram a administração da Justiça não só os juízes, mas os membros
do Ministério Público, da OAB, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública. Enfim,
o Poder Judiciário é o conjunto desses membros e se destina ao jurisdicionado. E
quem é o jurisdicionado? É o cidadão comum.
Se vamos, portanto, fazer o controle, temos de englobar essas pessoas, ou
seja, temos de incluir os magistrados e aqueles que estão ligados ao Poder
Judiciário por serem responsáveis pela administração da Justiça. Além disso,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
44
precisamos ter, de alguma forma, a inteligência e a sabedoria de incluirmos também
o jurisdicionado.
Por isso, quando fala em composição, a Ordem diz que, além de juízes,
promotores, advogados e demais membros, tem de haver também a indicação do
Parlamento. Afinal, o Parlamento representa o cidadão. Mas não estou dizendo que
qualquer cidadão deva ser indicado. Como se trata de um Poder que tem
características técnicas, um jurista deve ser indicado pelo Parlamento. Essa pessoa
será o representante da cidadania. Em nossa imaginação, a composição é dessa
forma. Se está certo ou não, precisamos discutir. Ao sair daqui, comparecerei a um
debate na TV Justiça, com representantes da AJUFE, para falar exatamente sobre o
controle externo.
O SR. DEPUTADO ALOYSIO NUNES FERREIRA - Haveria um único órgão
de controle externo ou um em cada Estado?
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Entendo que esse controle
deveria ser nacional. Em relação aos controles estaduais, podem realmente surgir
alguns problemas, sabemos o que é este Brasil. Podemos ter situações diferentes,
até porque os Tribunais de Justiça e os Tribunais Estaduais hoje são controlados
pelo Superior Tribunal de Justiça. Os problemas dos juízes são julgados naquele
tribunal. Há realmente um controle nacional interno, por meio do sistema do Superior
Tribunal de Justiça. Não vejo por que indicar locais, o que realmente pode criar
alguns problemas políticos.
Lembro-me, querido Deputado Ibrahim Abi-Ackel, de que quando V.Exa. era
Ministro da Justiça discutimos a famosa Lei de Execução Fiscal, que se tornou a Lei
nº 6.830. O projeto inicial era escabroso. Eu era Presidente do Instituto dos
Advogados de São Paulo. Fomos discutir com o Ministro, que nos deu uma lição
dizendo o seguinte: “Do jeito que está não pode passar, porque vai ficar nas mãos
do chefe do Poder Executivo lá do município de caixa-pregos a manipulação política
de perseguição”.
A meu ver, o que não se pode ter é a manipulação política de perseguição,
instaurando-se 27 controles externos...
(Intervenção inaudível.)
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
45
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Cinqüenta e tantos. Torna-se
realmente muito complicado. Na minha visão, temos de ter um controle externo
nacional de caráter nacional e não federal. Vamos deixar isso claro. Parece-me que
essa seria a visão da Ordem dos Advogados. Repito: sem entrar nas decisões
judiciais, não vamos saber se o juiz decidiu bem ou mal. Isso é problema do controle
recursal. Não vamos entrar na fiscalização financeira de ninguém. Essa competência
não é nossa, está na Constituição, é do Tribunal de Contas, como órgão auxiliar do
Poder Legislativo. Portanto, não há esse tipo de controle. O nosso controle é
administrativo, funcional e de gestão. É diferente.
É essa, resumidamente, nossa idéia sobre controle externo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Com a palavra o
Deputado João Paulo Gomes da Silva. S.Exa. dispõe de 3 minutos.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Cumprimento o
Presidente da OAB. Também sou advogado inscrito há 30 anos, embora não
militante em razão da dedicação exclusiva aos deveres do mandato. Vou fazer 3
considerações específicas sobre situações que se tornaram recorrentes nesta
Comissão.
Em relação à eleição popular no Poder Judiciário, vejo que o nobre
Presidente da OAB parece ter alguma restrição, em virtude de um receio pessoal, ou
extraído da entidade, no sentido de que ela possa trazer algum risco à qualidade da
prestação jurisdicional.
Veja bem, caro Presidente, nós, do Poder Legislativo, convivemos com a
eleição. A eleição é essencial para o Poder Legislativo, como também para o Poder
Executivo. Prestamos serviços ao público, e nem por isso dizemos que a eleição
poderá eventualmente comprometer a qualidade das leis que aqui votamos. De
outro lado, a eleição também não poderá comprometer a qualidade da administração
do Poder Executivo.
Portanto, nobre Presidente, peço a V.Exa. que faça uma reflexão sobre essa
proposta e a leve eventualmente à OAB. Advogado que sou, gostaria de que a OAB
reciclasse sua posição no sentido de acatar essa sugestão. Aliás, a Constituição diz
que todo poder emana do povo. Então, quem quiser exercer um cargo no Poder
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
46
Executivo tem de buscar esse espaço junto ao povo. Nós, do Legislativo, da mesma
forma. O Judiciário não deve ser diferente, seguindo a mesma direção de todos nós.
Isso resolve uma série de problemas. Por exemplo, é constrangedor o fato de
ainda hoje, num País que achamos até que está redemocratizado, o Chefe do
Executivo escolher os membros do Poder Judiciário. Não quero fazer nenhuma
ilação com relação ao passo seguinte, que o escolhido, uma vez indicado pelo Chefe
do Executivo, pudesse, como gratidão, transigir nas decisões que vier a tomar.
Reputo o fato, em si só, como extremamente constrangedor.
O Poder Judiciário não deveria conviver com essa situação há muitos anos. E
resolve também o problema do controle, a que V.Exa. várias vezes se referiu, que
deveria ser externo. Sou tentado a perguntar: Quem vai prender o xerife? O Poder
Judiciário é o Poder escolhido pela sociedade para dar a última palavra, mas não
dará a última palavra, que será do controlador do Judiciário. Se esse Poder vier a
ser o povo, nas malhas da eleição, a questão estará resolvida.
Como terceira questão recorrente, V.Exa. se referiu à quarentena como algo
que a OAB defende. Caro Presidente, há ainda em atividade desembargadores,
juízes, cujos familiares são advogados, e V.Exa. já antecipou que muitas pessoas
procuram o advogado para defender seus interesses a partir do sobrenome,
querendo dizer que isso pode ajudar na efetiva decisão da causa.
Eu não chegaria a tanto. Mas pode haver perfeitamente tráfico de influência,
que é o que se pretende evitar, quando o cidadão procura o juiz, o desembargador,
ou o Ministro, que estão no exercício efetivo dos seus cargos. A OAB estaria, no
caso, defendendo que pudéssemos chegar, por intermédio da lei, a uma situação
que não se alcança por meio da lei? Isso está no domínio da ética, porque o tráfico
de influência se processa de forma subterrânea, e a lei a ele não conseguirá chegar.
Sr. Presidente, gostaria, se for o caso, que a OAB se abstivesse de fazer
carga pesada nessa questão, porque todos sabemos que se pode estar defendendo
algo que não terá nenhuma eficácia.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Concedo a palavra
ao Dr. Rubens Approbato Machado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
47
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Agradeço ao Deputado João
Paulo Gomes da Silva. Não há nenhuma incompatibilidade entre V.Exa. exercer a
advocacia e ser Deputado. V.Exa. está convidado a voltar para o exercício da
profissão.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Não tenho tempo,
Presidente, infelizmente.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - No que se refere ao programa
mencionado, quero fazer uma distinção: os cargos públicos são preenchidos por
meio da eleição ou do concurso público. Os primeiros são cargos temporários: de
Presidente da República, Governadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais,
Vereadores, etc.
No que se refere ao Poder Judiciário, seus membros não são eleitos pelo
povo. O magistrado entra no Poder Público por meio do concurso público. Há uma
diferença substanciosa entre os membros do Poder Legislativo e os do Poder
Judiciário. Há um controle externo do Poder Legislativo, que é o voto. Se o
Parlamentar for bem será reeleito; se for mal, será recusado. Este é o controle
externo do Parlamento.
No Poder Judiciário, como é por concurso público, não existe esse controle
externo. Ou seja, se o cidadão for mau — e quando digo mau não me refiro às
decisões, mas como juiz mesmo —, não haverá outro caminho a não ser o processo
administrativo. E sabemos o que acontece na maioria dos casos.
Lembro-me de que participei de sindicância de juiz federal. O Poder
Judiciário, naquele momento, desejava a participação de um membro do Ministério
Público, um membro da Ordem e um membro do Judiciário. Chegamos à conclusão
de que o juiz havia praticado crime, sim, e que deveria de ser demitido e
processado. Levamos nossa conclusão ao órgão específico daquele Tribunal, para
que fossem adotadas as medidas necessárias. A atitude tomada, porém, foi
recomendar ao juiz que se aposentasse para não ferir o Poder Judiciário.
É o que acontece, e não é um caso só: quando apuram que o cidadão se
comportou mal, chamam-no e o aconselham a se afastar ou a pedir demissão,
dizendo que tudo será esquecido para que não atinja os demais, como se esse
procedimento não atingisse todo o órgão a que pertence.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
48
Queremos que isso não mais ocorra. Se o cidadão praticou crime, que se
defenda com o devido processo legal. Se for absolvido, palmas para ele, mas se não
for absolvido, que cumpra o determinado pela sentença. E não podemos destituí-lo
pelo voto, porque não ele é eleito; então, mudemos as regras, façamos como os
Estados Unidos e elejamos nossos juízes. Já houve proposta no sentido — o
Deputado Aloysio Nunes Ferreira foi Relator — de que até o Supremo Tribunal
Federal se tornasse corte constitucional e que seus membros fossem eleitos para
mandatos com prazos estabelecidos. Aí, sim, não precisaríamos de controle externo,
este passaria a ser o eleitor.
Falamos a mesma linguagem. Queremos eficácia: não adianta corregedoria,
não adianta investigação interna sem punição — na verdade, o que há é premiação:
a aposentadoria, a fim de que a má conduta não contagie a imagem do Poder, para
que se possa continuar dizendo que o Judiciário é incorruptível, tanto que nenhum
de seus membros foi excluído por corrupção.
A Ordem dos Advogados do Brasil vai insistir nessa questão por entender que
o controle externo, nesse caso, é necessário. Se o acesso se deu por concurso
público, não há como tirar pelo voto — assim me parece. Repito: V.Exas. têm
obrigações com o eleitor e, se não as cumprirem, certamente não voltarão para esta
Casa, este é o controle externo da democracia. Portanto, os que estão aqui e os que
voltaram foram aprovados e merecem aplausos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) – Srs. Deputados,
temos ainda 3 inscritos, além da apuração das eleições, e está para ser iniciada a
Ordem do Dia.
A fim de que não tenhamos problema procedimental, coloco em votação
requerimento para que seja ouvido na próxima quarta-feira, em audiência pública,
S.Exa. o Procurador-Geral da República.
Os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se
encontram. (Pausa.)
Aprovado o requerimento.
Como previmos, a Ordem do Dia acaba de começar no plenário da Câmara
dos Deputados. Solicito, portanto, aos Srs. Deputados a maior brevidade possível —
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
49
peço desculpas, mas foram muitos os oradores inscritos — para que possamos
concluir com rapidez esta reunião.
Com a palavra a nobre Deputada Dra. Clair.
A SRA. DEPUTADA DRA. CLAIR – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
antes de mais nada, quero dizer que é grande a minha satisfação em ver aqui o Dr.
Rubens Approbato Machado, Presidente da OAB.
Advogada que sou, estou em perfeita consonância com os pontos defendidos
por S.Sa. e pelo conjunto dos advogados sobre a reforma do Poder Judiciário.
Pergunto ao Dr. Rubens que ponto de partida devemos tomar para o debate
da reforma do Poder Judiciário. A população brasileira, o conjunto de nossos
jurisdicionados, quer uma Justiça acessível, ágil, transparente e democrática. No
seu entendimento, o que é mais necessário hoje para atingirmos esse objetivo: a
reforma da estrutura do Poder Judiciário, constante nesse projeto que se encontra
no Senado Federal e que já foi debatido na Câmara dos Deputados, ou a reforma
processual para diminuir recursos e prazos? O que seria mais imediato para
atingirmos esse objetivo?
Gostaria que V.Sa. explicasse o contraponto da OAB em relação à súmula
vinculante. A OAB traz a proposta da súmula impeditiva de recursos. Portanto, peço
a V.Sa. que esclareça a esta Casa o fundamento desse contraponto da OAB em
relação à súmula vinculante.
Por último, quero dizer que recebi uma mensagem, datada de julho de 1998,
do nosso Presidente. Alegra-me muito que V.Sa. tenha trazido essa mensagem que
é bastante atual e realmente traduz as propostas do povo brasileiro em relação ao
Judiciário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) – Dr. Approbato.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO – Agradeço à Deputada,
estimada colega, a pergunta sobre a reforma do Judiciário. Já foi feito um trabalho
nesta Casa que não pode ser desprezado, e entendo que a reforma deve partir dele.
O relatório da Deputada Zulaiê Cobra, consumado e adotado por consenso, na
minha visão, vale a pena. É evidente que, se houver algum ponto que não esteja de
acordo com o pensamento atual, devemos propor nova discussão. Parece-me que é
um ponto de partida, pois, se começarmos tudo de novo, podemos levar talvez mais
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
50
10 anos. É claro que contamos com a eficiência da atual Legislatura, mas é melhor
termos um ponto de partida. Creio, e não estou aconselhando ninguém — quem sou
eu para fazê-lo —, que não pode ser desprezado o trabalho já realizado nesta Casa.
O que é mais necessário: a reforma estrutural ou processual? Acredito
possível fazer tudo, mas temos de partir da reforma constitucional, porque esta
ditará os comandos. A reforma processual vem sendo feita em fatias, o que cria
alguns problemas. Algumas coisas boas vêm sendo feitas, mas outras criam
dificuldades. Se houver um comando constitucional, as coisas ficam mais
adequadas. A reforma estrutural é imprescindível. Já discutimos as questões da
gestão, da tecnologia etc. Portanto, ela se torna absolutamente necessária, e sem
ela não adianta fazer a reforma constitucional. Desculpem-me o termo, mas sem a
reforma estrutural, o que estamos fazendo é uma enganação. Vamos dizer para o
povo: “Olha, nós fizemos a reforma constitucional”? Não vai funcionar. Se não
tivermos a complementação das reformas infraconstitucionais, estruturais e
processuais, a reforma constitucional será uma frustração para o povo brasileiro.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Com a palavra o
Deputado Wilson Santiago.
O SR. DEPUTADO WILSON SANTIAGO - Sr. Presidente, Deputado José
Eduardo Cardozo; Sr. Relator, Deputado Ibrahim Abi-Ackel; Sras. e Srs. Deputados,
a presença do Dr. Rubens Approbato Machado, Presidente da OAB nacional,
engrandece os debates nesta Casa.
Dr. Rubens, quanto aos assuntos em relação aos quais V.Sa. se posicionou
na tarde de hoje, eu, na qualidade de seu admirador, sinto-me no direito de
discordar de alguns pontos. V.Sa. disse anteriormente que é desnecessária a
criação da Defensoria Pública no Estado de São Paulo, por entender que a OAB,
que tem 30 mil advogados à disposição dos pobres, na forma da lei e por meio de
convênio com o Estado, realiza serviço igual ou melhor do que o prestado pela
Defensoria Pública em alguns Estados da Federação.
Desculpe-me discordar de V.Sa., e apenas nesse ponto, por entender que a
Defensoria Pública Nacional tem realizado grande trabalho na maioria dos Estados
brasileiros, um trabalho voltado para os pobres, os pequenos, os oprimidos, os
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
51
desprotegidos da própria Lei. E esse trabalho se tem estendido por todos os
recantos do País.
Estranho não terem ainda os governantes do Estado de São Paulo adotado a
Defensoria Pública, que presta nos demais Estados da Federação grande trabalho,
levando Justiça aos que não têm acesso a ela, à custa do suor derramado nos
corredores dos tribunais por advogados que, na maioria, ganham salários
insignificantes.
Por considerar a Defensoria Pública costela do próprio Judiciário, na medida
em que a ele vive agregada, prestando relevante serviço para a comunidade pobre,
discordo de V.Sa., a quem passo alguns dados de 2002. No Estado do Rio de
Janeiro, com um orçamento de pessoal e de custeio de 70 milhões de reais e
apenas 700 defensores públicos, foram patrocinados pela Defensoria Pública mais
de 2 milhões de processos; ou seja, mais de 2 milhões de habitantes do Rio de
Janeiro foram atendidos pela Defensoria Pública. No Estado de Minas Gerais, com
apenas 430 defensores públicos e um orçamento de 21 milhões, foram atendidos
também 2 milhões de processos. Enquanto isso, em São Paulo, o Estado gastou, de
acordo com dados do Sindicato dos Procuradores, 144 milhões para que apenas
600 mil habitantes fossem atendidos pelo convênio com a OAB.
O convênio é, portanto, mais oneroso para o Estado, além de não atender
plenamente os pobres, os menos protegidos, aqueles que buscam a Lei para
angariar seu próprio direito.
Novamente peço desculpas a V.Sa. por discordar desse posicionamento — e
o faço também na condição de integrante da OAB, órgão que tem desempenhado
papel essencial para o regime democrático do País.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Com a palavra o
Sr. Approbato.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Deputado, quero dizer que não
divergimos. Eu não disse, em momento algum, que seria desnecessária, em São
Paulo, a Defensoria. Disse, e torno a repetir, que as partes interessadas, inclusive o
Estado, não a querem, o que não significa que eu esteja de acordo. Tanto é assim
que a primeira proposta de criação de Defensoria Pública no Estado de São Paulo
foi elaborada quando eu exercia a Secretaria de Justiça estadual. Elaboramos o
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
52
projeto — e posso assegurar a V.Exa. que estava muito bem-feito —, mas ele não
saiu da gaveta do Governador de então. Mais tarde, meu sucessor, o ilustre
advogado Manoel Alceu, procurou fazer outro projeto e convidou todos a participar
da iniciativa. Novamente, porém, a idéia não conseguiu êxito. Portanto, houve
interesse por parte do Secretário de Justiça.
Por que não há Defensoria Pública em São Paulo? A Procuradoria não a quer
porque não quer perder o que já tem. Afinal, por intermédio da assistência judiciária,
ela presta uma parte do serviço da Defensoria e não quer perder o segmento que
lhe é próprio por meio do estabelecimento da Defensoria. A Ordem dos Advogados
local não a quer porque tem o convênio de que já falamos. E o Estado não a quer
porque não quer criar um novo órgão, outra estrutura em seu organismo. Então, em
São Paulo, o que existe é uma conjugação de não quereres. Por isso é que não
existe lá a Defensoria.
Acredite V.Exa.: o primeiro projeto foi elaborado quando eu era Secretário da
Justiça do Estado. Portanto, não sou contra. Ao contrário: acredito que a Defensoria
Pública deve ter mais força do que tem e precisa de estrutura maior. Em alguns
Estados, ela é criada, mas sem estrutura, o que abala o conceito da própria
Defensoria. Precisamos prestigiá-la. Criei na Ordem dos Advogados a Comissão
Nacional do Advogado Público, que inclui o defensor público. Um dos nossos
conselheiros foi presidente dos defensores públicos. Estamos estimulando o
fortalecimento da Defensoria Pública, porque queremos a presença de bons
defensores para aqueles que mais precisam: os mais carentes, que não têm
assistência judiciária alguma.
Então, eu gostaria de levar ao conhecimento de V.Exa. que não estamos em
divergência. Em nenhum momento disse que não quero a Defensoria Pública. Ao
contrário: gostaria de vê-la cada vez mais forte.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Com a palavra o
Deputado Antonio Carlos Biscaia.
O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS BISCAIA - Sr. Presidente, serei
breve. Quero associar-me às justas homenagens prestadas à OAB, como instituição,
e a seu Presidente, pelas posições assumidas em defesa da cidadania e da
sociedade. Todas as homenagens prestadas a S.Sa. são por demais justas.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
53
A importante ponderação que quero registrar é no sentido de que, quando se
discute reforma do Poder Judiciário, discute-se também a reforma dessas funções
essenciais ao Poder Judiciário: Ministério Público, Defensoria Pública e advocacia
em geral.
Tive de me ausentar temporariamente desta reunião. Pretendia fazer uma
ponderação a respeito da Defensoria Pública, com base em algo que o Deputado
Wilson Santiago transmitiu incorretamente. Não se podia esperar outra declaração
de V.Sa. senão a de que, no aprimoramento do Poder Judiciário, busca-se o
fortalecimento da Defensoria Pública como instituição.
Quero, então. apenas fazer uma única indagação. Projeto que hoje está na
Comissão de Constituição e Justiça pretende modificar o Estatuto da OAB, a CLT e
a Lei nº 9.099, dos Juizados Especiais, para que a presença do advogado seja
indispensável nesses casos excepcionados pelos referidos diplomas legais. Qual
seria a posição da OAB, ou de V.Sa., sobre o tema?
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) - Há mais um orador
inscrito, o Deputado Arnaldo Faria de Sá. Se me permitirem os Deputados, por
questão de agilidade, eu gostaria de ouvir agora o Deputado Arnaldo Faria de Sá; e
o Presidente Rubens Approbato responderia aos 2 Deputados.
Antes, porém, declaro encerrada a votação.
Peço ao Deputado Biscaia que, durante a fala do Deputado Ibrahim Abi-Ackel,
colabore com a Mesa na apuração do resultado.
Com a palavra o Deputado Arnaldo Faria de Sá.
O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ – Sr. Presidente, Sr. Relator,
digno Presidente da OAB, Dr. Rubens Approbato Machado, sabemos que se
encontra em tramitação a PEC da reforma do Judiciário, que já passou por esta
Casa. No entanto, vários projetos de emenda à Constituição ainda continuam em
discussão.
Na verdade, quero ouvir a avaliação do eminente Presidente da OAB sobre
assunto correlato. Pergunto se a reforma da Previdência em tramitação nesta Casa
que propõe sérias alterações na Magistratura e no Ministério Pública poderá ter
implicações no Judiciário de maneira geral. Na condição de alguém que conhece
tanto a questão do Judiciário quanto a reforma da Previdência e que não está
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
54
diretamente envolvido nas questões legislativas, com a maior isenção, o Presidente
da OAB poderia nos dizer de que forma a correlação entre essas duas discussões, a
reforma da Previdência e a do Judiciário, poderá trazer alguma implicação ao
Judiciário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) – Dr. Approbato.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO – Deputado Biscaia, agradeço a
V.Exa. as palavras. No que se refere à indispensabilidade do advogado, ela está
expressa no art. 133 da Constituição. Numa leitura equivocada de alguns exegetas,
a lei poderia se referir à indispensabilidade do advogado, quando na verdade se
refere, até pela história da elaboração da Carta, ao texto final, relativo ao problema
da violação dos atos do advogado e, sim, sujeita a uma norma infraconstitucional.
Mas a essencialidade não depende de norma alguma. Portanto, a atividade do
advogado é indispensável à administração da Justiça.
Na minha visão, qualquer lei que retire o advogado das pendências judiciais é
absolutamente inconstitucional. Temos, porém, de enfrentar problema que está no
Supremo. Na edição da Lei nº 8.906, de 1994, que regula a atividade da advocacia,
havia um dispositivo que repetia o que dizia a Constituição sobre a participação do
advogado em todos os processos. Houve uma ação direta de inconstitucionalidade
da Associação dos Magistrados brasileiros, e esse tópico foi suspenso por liminar.
Isso está no Supremo deitado em berço esplêndido desde 1994, e não se decide o
mérito. Portanto, qualquer medida em qualquer lei que a Ordem entrar alegando
inconstitucionalidade será julgada prejudicada, porque já existe ADIN que a
suspende.
Informo que há 15 dias — apesar de não ser parte no processo, porque a
OAB entrou contra a Presidência da República, que sancionou a lei —, a Ordem
entrou com uma petição, subscrita por mim, pedindo uma definição do Supremo a
respeito do nosso Estatuto. É preciso que ele diga definitivamente se aquilo que
suspendeu é inconstitucional ou não. Não podemos viver eternamente com uma
liminar que não se decide, e ficarmos por isso mesmo. Então, esse é o problema: se
entrarmos em juízo, vamos ter como prejudicada qualquer lei que retire o advogado.
No que se refere à indagação do meu querido amigo de longa data, inclusive
de hostes futebolísticas, apesar de divergirmos nas nossas convicções nessa área,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
55
e emérito entendedor da matéria previdenciária, acredito que há muitas implicações
para o Judiciário, e disse isso na Comissão. A reforma da Previdência, dependendo
do caminho que tomar, poderá criar seriíssimos embaraços ao Judiciário. Em
primeiro lugar, porque vai acumular o Judiciário de ações, a partir do Supremo
Tribunal Federal, no que concerne a medidas de constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da norma derivada da emenda constitucional.
O meu querido mestre Deputado José Eduardo Cardozo entende que a lei
não pode alterar, mas a emenda pode. Esse é um debate que será levado a juízo,
se isso acontecer. Portanto, vamos acumular discussões no Judiciário.
A experiência mostra que, na administração passada, quando se pretendeu
fazer mais ou menos esse tipo de reforma, houve uma evasão de magistrados. São
Paulo teve um número absurdo de pedidos de aposentadoria precoces, desfalcando
um quadro de magistrados já extremamente reduzido. Corremos o risco de
novamente ter essa corrida para aposentadoria, o que pode ocasionar sério dano ao
Poder Judiciário. Além disso, tira também a perspectiva do interesse do ingresso.
Muitos bacharéis em Direito procuram o concurso público não só pela nobreza da
função, mas também por verificarem o que vai acontecer com seu futuro. Na
advocacia — e já estou quase no fim da vida — tenho uma aposentadoria de mil
reais.
Não sei se é bom ou ruim, mas se eu fosse magistrado estaria ganhando um
salário normal, não teria nenhum tipo de problema. Eliminada a oportunidade de, lá
na frente, ocorrendo a redução dos vencimentos, o magistrado aposentado receber
um salário igual ao que vinha ganhando, não vai haver interesse em ingressar na
carreira. E isso desfalca a profissão também no ingresso.
Há outro problema: o quinto constitucional. Quem vai se aventurar pelo quinto
constitucional, a não ser advogados públicos? O advogado da iniciativa privada será
regido por 2 regimes tão diferentes que, no final, não saberá de que forma ele será
remunerado na sua aposentadoria. Isso é desestímulo ao quinto constitucional.
Tais ações vão provocar repercussão? É claro que sim. Daí, louvo — e fiquei
sabendo disso hoje — o fato de que aquilo que, na minha visão, estava fechado a 4
chaves, que não se podia alterar, agora pode ser discutido. E isso é necessário.
Vamos ter de debater as conseqüências, o que é bom e mal. Persistirão aspectos
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
56
negativos graves se não fizerem a reforma. Temos de estudar tudo. Parece que,
agora, proporcionaram uma abertura. Parabenizo esta Casa por permitir que cada
um se manifeste, sem que haja qualquer tipo de controle, o que não é próprio do
regime democrático.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) – Com a palavra o
Sr. Relator, Deputado Ibrahim Abi-Ackel.
O SR. DEPUTADO IBRAHIM ABI-ACKEL – Sr. Presidente, Srs. Deputados,
ilustre depoente, Dr. Rubens Approbato Machado, a Relatoria se associa a todas as
manifestações de apreço que foram prestadas a V.Sa. pelos que reconhecem a
importância do seu excepcional trabalho à frente de fundamental organismo para
defesa da democracia em nosso País: a Ordem dos Advogados do Brasil.
A Relatoria também o cumprimenta pela clareza e objetividade da exposição.
Nada como ouvir quem é do ramo e que, ao falar sobre assunto de seu
conhecimento, não apenas teórico, mas também feito de experiência, pode trazer a
uma Comissão tão importante como esta colaboração ampla, minuciosa, abrangente
e, ao mesmo tempo, precisa. A Relatoria faz questão de consignar as maiores
homenagens a V.Sa. por sua vida pública, pelo seu tirocínio de advogado e pela
extraordinária colaboração que acaba de nos prestar.
Dr. Rubens, estou de acordo com praticamente todas as respostas com que
V.Sa. solucionou as questões que lhe foram suscitadas. Creio apenas que fica
pendente de maiores esclarecimentos a formatação do controle externo do Poder
Judiciário, do órgão de controle. Acredito também que o tema relativo a súmula
deveria merecer melhor exame, para que pudéssemos emprestar-lhe não um caráter
obrigatório, mas um sentido propedêutico, didático, que pudesse orientar os
profissionais a respeito do pensamento dos Tribunais Superiores sobre
determinados fatos, em virtude da constância ou do grande número de processos já
julgados de uma só maneira.
Finalmente, apresento 2 questionamentos. V.Sa., com muita propriedade,
falou sobre a quarentena tanto para aqueles que saem do Judiciário quanto para
aqueles que saem de cargos de grande prestígio no Poder Executivo e em outros
Poderes da República. Exponho a seguinte questão: há crítica generalizada a
respeito da pouca idade com alguns juízes de Direito tomam posse no cargo.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
57
Pergunto a V.Exa. qual seria a faixa etária aconselhável para a investidura do
bacharel no cargo de juiz de Direito, tento em vista a necessidade de alguma
vivência dos problemas humanos, e quantos anos deveria ter de exercício
profissional contínuo para poder candidatar-se ao cargo de juiz.
Finalmente se, uma vez aprovado no concurso, o bacharel, nomeado juiz de
Direito, deveria freqüentar uma escola da magistratura, tal como acontece no
Instituto Rio Branco, em que, a despeito do rigor do exame, o candidato à diplomacia
é obrigado a freqüentar o Instituto Rio Branco, já percebendo vencimentos, com o
fim de adestrar-se para os misteres da sua profissão.
A última questão diz respeito aos recursos para o Superior Tribunal de
Justiça. Como todos sabemos, os recursos para o Superior Tribunal de Justiça
somente podem ser aceitos quando a questão federal é pré-questionada, isto é,
quando a sentença judicial ou o acórdão peca por questão de divergência
jurisprudencial ou quando nega aplicação a uma lei federal. No entanto, o que temos
observado é a utilização dos embargos declaratórios para uma espécie de
proposição tardia da questão federal. Sabemos que os embargos declaratórios se
destinam a esclarecer pontos obscuros, omissos, contraditórios ou ambíguos do
acórdão. Mas, como a questão federal muitas vezes não foi pré-questionada e a
parte vencida pretende chegar ao Superior Tribunal de Justiça, entra-se com
embargos declaratórios, o que é motivo de alongamento temporal da causa.
Indago a V.Sa. se, na visão da Ordem dos Advogados do Brasil, esse é um
expediente que se deve manter a fim de permitir o exame pela instância federal da
questão sujeita, ou se devemos modificar a Constituição nesse aspecto peculiar.
Agradeço a V.Sa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) – Antes de passar a
palavra ao Dr. Approbato para suas respostas e considerações finais, gostaria de
informar aos Srs. Deputados que, em face de já ter tido início a Ordem do Dia, ficam
adiados para a próxima sessão os Requerimentos nºs 21 e 23 da pauta — o
Requerimento nº 22 foi aprovado antes que a Ordem do Dia se iniciasse.
E, de imediato, proclamo o resultado da eleição, uma vez que está encerrada
a apuração: foram 29 os Deputados votantes. Foram dados 27 votos ao nobre
Deputado Nelson Trad; 2 votos em branco e nenhum voto nulo.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
58
Portanto, está eleito para 2º Vice-Presidente desta Comissão o Deputado
Nelson Trad. E, na forma regimental, declaro S.Exa. empossado 2º Vice-Presidente.
(Palmas.)
Lembro aos Srs. Deputados que a eleição para 3º Vice-Presidente ocorrerá
na próxima reunião.
Nossos cumprimentos ao Deputado Nelson Trad, a quem passo a palavra.
O SR. DEPUTADO NELSON TRAD – Sr. Presidente, gostaria de agradecer a
V.Exa. a manifestação — e o faço por circunstância especial. Vou ser breve.
Uma eleição nessas circunstâncias, para quem está descendo a montanha da
vida política, tem importante significado. Depois de 2 anos na Liderança da Bancada
do Partido Trabalhista Brasileiro, em que liderava colegas como Bonifácio de
Andrada, Israel Pinheiro, Roberto Brant, José Rezende, Leopoldo Bessone e outros
da estirpe do paulista Cardoso Alves, recebo a manifestação de solidariedade do
partido a que pertenço há apenas 72 dias, depois de 45 anos de militância constante
em agremiação de que fui ejetado por vontade própria, em função, evidentemente,
da promiscuidade do sistema partidário brasileiro.
Tendo em vista os votos que recebi de substanciosa parcela dos 39
companheiros que irão trabalhar conosco nessa missão, quero dizer que sou muito
grato ao PMDB por depositar em mim essa confiança. Depois de ser, durante 4
anos, 2º Secretário desta Casa, de ser fundador e instalador da Comissão Especial
de Altos Estudos em Ciências Tecnológicas e de ter cumprido outras missões, tenho
absoluta certeza de que corresponderei à expectativa de V.Exa., ilustre jurista, e
desse emblemático e insuperável Deputado jurista Ibrahim Abi-Ackel. Fico ainda
mais satisfeito ao ver aqui a presença, feliz coincidência, do meu bâtonnier,
Presidente da OAB, Dr. Approbato.
Esta Comissão Especial terá um destino e um futuro promissores, sobretudo
com realizações positivas pela própria formação dos seus membros, cuja moralidade
é a própria significação do Parlamento Nacional.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) – Nós que
integramos a Comissão sentimo-nos imensamente honrados em ter V.Exa. na
função para a qual acaba de ser eleito.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
59
Com os cumprimentos de todos os Deputados, passo a palavra ao Dr.
Rubens Approbato Machado.
O SR. RUBENS APPROBATO MACHADO - Associo-me à manifestação do
Presidente e transmito ao Deputado Nelson Trad meus cumprimentos. É para mim
motivo de honra estar presente à sua justa eleição para o cargo de Vice-Presidente
desta Comissão, que realizará um trabalho árduo, mas, certamente, contará com a
colaboração e o entusiasmo — permita-me dizer — juvenil de S.Exa., porque a
juventude está no coração.
Com sua intervenção, o meu querido Deputado Ibrahim Abi-Ackel mostra o
grande advogado que é. S.Exa. é um dos orgulhos da Advocacia brasileira.
Portanto, sinto-me extremamente lisonjeado com a manifestação de S.Exa. a
respeito da quarentena e, no que se refere ao ingresso do juiz, com sua
preocupação com a faixa etária, com a experiência humana e com o tempo de
exercício profissional necessário.
Realmente, isso é muito sério. Estamos vivendo grande momento de
desestímulo ao ingresso na magistratura, e isso acontece devido a uma série de
razões. Uma delas é exatamente a experiência profissional. O advogado, depois de
certo período, com a experiência profissional que tem, fica pouco motivado a
ingressar na carreira da magistratura.
É difícil dizer quanto tempo de exercício profissional é necessário. Preferia
dizer, se o Deputado me permitir, que é preciso ter experiência não só profissional,
mas também no âmbito do Poder Judiciário. Aí, encontraremos escreventes de
cartório, serventuários da Justiça, enfim, uma série de pessoas que teriam
condições de fazer esse tipo de ingresso. Se ficarmos só na carreira de advogado, o
estímulo vai existir, mas em bases muito pequenas, aquém do necessário para
preenchermos os cargos.
Torno a repetir que a maturidade do ser humano não depende da idade, mas
da forma como conduzimos esse ser humano. Se tivermos uma escola — e
concordo com a necessidade desse instrumento — para aquele que fez o exame,
ele poderá aprender ali como tratar as pessoas, as partes, os advogados, o
Ministério Público, enfim, poderá aprender a grandeza que se faz por meio da
humildade, sem que se perca a autoridade, e isso é maturidade. Esse é um trabalho
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
60
que depende de escola e de uma série de circunstâncias que o próprio Poder
Judiciário tem de resolver.
Não criaria muitos embaraços no que se refere ao ingresso na carreira
porque, se fizermos isso, não teremos ninguém. Querer a perfeição é querer o
impossível, e a própria vida, muitas vezes, vai revelar os talentos que um concurso
público bem-feito já vai selecionar.
Entendo necessária uma certa experiência, mas não a ponto de já querermos
uma pessoa extremamente madura para o exercício de tão nobre função. Vamos ter
de correr alguns riscos, senão não teremos justiça.
No que se refere ao problema processual do pré-questionamento da questão
federal, realmente, os embargos declaratórios... E isso mostra inclusive a necessária
presença de um advogado no dia-a-dia em uma Comissão dessa natureza.
O Deputado Ibrahim Abi-Ackel revela profundo conhecimento do que está
acontecendo nos balcões dos nossos tribunais. Hoje, o caminho é este: na hora em
que sai a decisão contrária, propõe-se embargos declaratórios — e para tudo.
Embargos declaratórios viraram até embargos declaratórios com efeitos infringentes
para mudar decisão. É um negócio maravilhoso, temos de aplaudir a inteligência dos
advogados que, quando se vêm no desespero para resolver o problema do cliente,
usam sua imaginação.
Não se trata, porém, de matéria constitucional, mas infraconstitucional. E
temos de analisar e encontrar caminhos para modificar essa sistemática. Porque,
realmente, agravo de instrumentos, embargos declaratórios etc. viraram festa. E isso
serve para aqueles que não querem trabalhar do outro lado justificar: “Está vendo?
Não podemos fazer porque não anda, porque o advogado recorre”. E acaba por não
se resolver nada.
Este é o momento de acharmos o caminho, o que interessa ao jurisdicionado
é saber se tem ou não direito, se o seu direito foi lesionado ou não. É isso o que ele
quer saber. É claro que o processo é necessário, mas não podemos realçar o
instrumento — a forma do processo — acima do direito material.
A escola processualista — e sei que vou receber pancadas de todos os lados
—, que é uma das melhores que há no mundo jurídico, consegue convencer a todos
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
61
de que o processo é o principal, não a matéria de fundo. É o que está acontecendo:
estamos discutindo matéria processual, pois não se discute mais o direito.
O cliente bate à nossa porta, pergunta se o problema foi resolvido e, em caso
afirmativo, fica feliz e indaga se agora vai poder reaver seus direitos. A resposta que
ouve, porém, é: “Agora vamos começar outro processinho chamado de execução,
que vai levar mais 10 anos”.
É realmente um negócio muito sério. Se queremos uma Justiça ágil e justa,
temos do devido processo legal, temos de ter o direito à defesa, mas temos de ter
controles; caso contrário, vira um festival. Passa-se a usar a Justiça como se ela
pudesse ser a arma do crime, a arma do devedor contumaz, de quem não cumpre a
lei, de quem não cumpre o Direito.
É hora de reagirmos. E a hora da reação — permita-me, meu caro Presidente
— está em tão boas mãos nesta Casa que temos de aplaudir. Certamente sairá
daqui trabalho de excelência.
E a Ordem dos Advogados do Brasil, torno a repetir, está à disposição para
participar desse trabalho. Em meu nome, em nome da Ordem dos Advogados do
Brasil, em nome dos advogados brasileiros, quero agradecer a todos o carinho com
que os advogados foram recebidos e dizer que estamos realmente à disposição.
Quero ressaltar, se V.Exas. ainda me permitem, a figura talentosa do meu
querido Deputado José Eduardo Cardozo, pessoa extraordinariamente bem dotada
intelectualmente de conceitos jurídicos e emérito professor da nossa querida PUC,
que nos acalanta e nos anima.
Nós, da área do Direito, ficamos muito felizes ao ver jovens tão talentosos
como V.Exa. não só a serviço do Judiciário, da Advocacia, mas a serviço do
interesse público. V.Exa., que hoje tão bem já se está apresentando na Câmara dos
Deputados, na minha opinião, foi um dos maiores Vereadores da história da Câmara
Municipal do Estado de São Paulo.
Muito obrigado a todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Eduardo Cardozo) – Agradeço
imensamente ao Dr. Approbato as palavras. Mais uma vez, o brilhantismo, o
conhecimento e a abnegação de S.Sa. estiveram a serviço da causa pública, a
serviço desta Casa.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma do JudiciárioComissão Especial - Reforma do JudiciárioNúmero: 0945/03 Data: 09/07/03
62
Dr. Approbato, saiba do apreço e do carinho que temos por V.Sa. e pela
classe dos advogados. Agradeço-lhe pela presença nesta Comissão.
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos, antes
convocando reunião para o dia 16, quarta-feira, às 14h30, com a presença de S.Exa.
o Procurador-Geral da República, Dr. Cláudio Lemos Fonteles.
Está encerrada a reunião.
top related