direitos humanos e o trabalho escravo no brasil: … · exemplo este que, servirá ainda, para...
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* Mestrando em Direito e Inovação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Bacharel em Direito pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Brasil. E-mail: brunogoulartcunha@gmail.com.
DIREITOS HUMANOS E O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL:
Breves reflexões.
HUMAN RIGHTS AND THE SLAVE LABOR IN BRAZIL:
Brief reflections.
Bruno Goulart Cunha*
Resumo: Este artigo pretende lançar luzes sobre o tema trabalho escravo no país. Se no mundo
a atuação empresarial está sob análise, no Brasil crescem as denúncias de utilização de trabalho
escravo por empresas, principalmente nos setores têxtil e da construção. A análise destacará
como o tema tem sido tratado hoje, de que forma tem se portado governo, empresas, e
principalmente, organizações não governamentais, no que tange a esta odiosa forma de violação
a direitos humanos. Ao final, um caso específico, que une os três atores, será abordado, que diz
respeito à “lista suja” do trabalho escravo.
Palavras-chave: Direitos Humanos; Empresas; Organizações Não Governamentais; Trabalho
escravo.
Abstract: This article aims to shed light on the subject of slave labor in the country. If in the
world the use business activities are under review, in Brazil grow allegations about the use of
slave labor by companies, especially in the textile and construction sectors. The analysis will
highlight how the issue has been dealt with today, how has the government, business, and
especially non-governmental organizations, ported with respect to this odious form of violation
of human rights. Finally, a specific case which unites the three actors will be covered, as regards
the "dirty list" of slave labor.
Keywords: Corporates; Human Rights; Non-Governmental Organizations; Slave Labor.
1 – Introdução.
As discussões atuais a respeito do tema Direitos Humanos avançam em diferentes
sentidos, quanto ao caráter universal ou não, quanto às suas diferentes gerações, quanto à
existência ou não de um conteúdo mínimo, e até mesmo a respeito de seu valor ou desvalor,
mas em um deles e, não menos relevante, as discussões tem estado atreladas a outros vocábulos,
quais sejam, empresas ou corporações. Os termos estão na pauta de debates, que já se
consolidam em âmbito internacional, mas ainda se iniciam no âmbito interno.
Desse modo, a seguir será promovida uma breve análise do cenário internacional
no qual estudiosos e organizações internacionais tem se debruçado no estudo da violação de
direitos humanos por empresas, sobretudo a respeito da evolução da discussão a respeito do
tema “Direitos Humanos e Empresas”, estruturada no seio do Conselho de Direitos Humanos
da ONU. Em seguida, o olhar será lançado para o cenário interno, de modo a se avaliar a atuação
empresarial no que diz respeito a utilização de práticas de redução do trabalhador à condição
análoga a de escravo. A intenção é ressaltar que a nível mundial as empresas estão sob análise,
e que a nível local elas também deveriam estar, sobretudo porque, no país, o panorama de
violações a direitos humanos observado mundo afora se repete. O recorte mais específico está
na demonstração de que a atuação da sociedade civil mobilizada, em especial de organizações
não governamentais, tem se mostrado de grande importância para o incremento na proteção do
trabalhador. Um exemplo deste incremento será trabalhado em pormenores, consiste nos
esforços envidados em prol da elaboração e da expansão da “lista suja” do trabalho escravo,
exemplo este que, servirá ainda, para demonstrar a complexidade e a atualidade da questão,
permeada por avanços e retrocessos, um constante caminhar para a frente e para trás.
2 – ONU, Direitos Humanos e Empresas. Do voluntarismo à vinculação?
Em artigo publicado na Revista “The New York Times Magazine”, no dia 13 de
setembro de 1970, o defensor do liberalismo econômico e vencedor do prêmio Nobel de
Economia de 1976, Milton Friedman, externou sua descrença quanto ao conteúdo do conceito
de responsabilidade social da empresa, manifestando-se no sentido que a única e exclusiva
responsabilidade social que a empresa teria, seria a de aumentar seu próprio lucro, respeitando
regras de livre concorrência, sem cometer enganações ou fraudes (FRIEDMAN, 1970, s/p).
Desta concepção de Friedman pode-se dizer polêmica, tanto à época em que foi proferida,
quanto o mais hoje, sobretudo por parecer não levar em conta o papel que as empresas podem
(e devem) desempenhar na promoção e no respeito aos direitos humanos.
Surya Deva, aponta no texto “Guiding Principles on Business and Human Rights:
Implications for Companies”, que nos próprios anos 70 encontra-se a origem longínqua do
processo que deu origem à criação dos “Princípios Orientadores” (DEVA, 2012, p.102), que
polarizam hoje o debate sobre direitos humanos e empresas, tendo em vista que, no ano de
1972, o Conselho Econômico e Social da ONU solicitou ao Secretário-Geral, que promovesse
a criação de um grupo de trabalho responsável por elaborar um estudo a respeito da atuação de
empresas transnacionais no processo de desenvolvimento de países, notadamente no de países
em desenvolvimento.
Ao se traçar a evolução do tema de forma geral, e não ponto-a-ponto, pode-se
afirmar que em sequência, merece destaque o lançamento no ano de 1999, do Pacto Global da
ONU, pelo Secretário-Geral da ONU à época, Kofi Annan, uma “iniciativa planejada para
empresas comprometidas em alinhar suas operações e estratégias com os dez princípios
universalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à
corrupção” (ONU, 1999), de adesão voluntária. Dentre os idealizadores do Pacto, merece
destaque o professor John Ruggie, que, conforme se demonstrará, será peça-chave na evolução
dos estudos e na condução ao estágio no qual a discussão se encontra hoje. O Pacto e seus dez
princípios tiveram o mérito de incrementar os debates, mas ficaram aquém das expectativas da
sociedade civil, principalmente por ser de adesão voluntária, e por não normas de caráter
sancionatório propriamente ditas, ou de restrições às empresas transnacionais violadoras de
direitos humanos, por nem mesmo tratá-las desta forma.
A Subcomissão da ONU sobre a Promoção e Proteção de Direitos Humanos,
atuando em paralelo à equipe que elaborou o “Pacto”, esteve atenta às expectativas sociais,
prova disso é que, em 2003, aprovou um documento intitulado “Normas da ONU sobre as
Responsabilidades das Empresas Transnacionais e outros Empreendimentos Privados com
relação aos Direitos Humanos” (ONU, 2003), comumente chamado só de “Normas”, fruto do
estudo independente iniciado dentro do órgão no ano de 1997.
Segundo Patricia Feenay as “Normas” estariam calcadas em quatro princípios
(FEENAY,2009, s/p.), que se traduziriam: em obrigações para empresas no que tange a direitos
humanos à nível internacional; em obrigações aplicadas universalmente e com vasta gama de
direitos; na necessidade de proteção dos cidadãos pelos governos contra violações cometidas
por empresas; e em mecanismos que garantiriam o cumprimento das normas a nível nacional e
internacional por parte de empresas. Segundo Surya Deva (DEVA, 2004, p.507) as “Normas”
foram um passo imperfeito mas na direção certa, sendo responsáveis por reavivar a esperança
na criação de um regime internacional juridicamente vinculante de responsabilidade
corporativa por violações dos direitos humanos.
Se por um lado a sociedade civil reagiu de modo positivo às “Normas”, por outro
lado, a reação por parte de Estados e empresas foi diversa: estes se mostraram resistentes quanto
à adoção. Resistência esta que rapidamente se transformou em oposição. Instaurada a
controvérsia, a solução engendrada pela Comissão de Direitos Humanos foi abandonar as
discussões relativas às “Normas”, e no ano de 2005, requisitar ao Secretário Geral da ONU a
indicação de um relator, ou representante especial para questões de direitos humanos e
empresas. Nesta esteira, em 2005, foi nomeado o professor de direitos humanos de Harvard,
John Ruggie, como “Special Representative of the Secretary-General” (SRSG). Ruggie e sua
equipe decidiram que parecia ser melhor não levar a discussão a respeito das “Normas” adiante,
e que mais profícuo seria buscar o consenso entre as partes, o que por sua vez, parecia mais
provável de ocorrer com a construção de algo novo. Em última análise, argumentou-se que as
“Normas”, ainda que adotadas, não poderiam vincular juridicamente as empresas, por não
existirem instrumentos de direitos humanos capazes de impor obrigações em negócios a elas,
conforme apontou Carlos López (LÓPEZ, 2013, p.63).
O Trabalho do representante especial teve como primeiro fruto a apresentação, no
ano de 2008, perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU, do Framework “Proteger,
Respeitar e Reparar” que obteve ampla aceitação perante representantes de empresas, estados
e organizações da sociedade civil. O Framework está centrado em três diretrizes ou pilares
(ONU, 2008): aos Estados, incumbe o dever de proteger os direitos humanos; às Empresas resta
a responsabilidade de respeitar direitos humanos; perante o descumprimento por parte de
empresas, devem existir mecanismos eficazes de reparo (remédios) à disposição daqueles que
sejam afetados em seus direitos. À apresentação do Framework se seguiu o entendimento de
que este, no próximo passo, deveria ser operacionalizado, de modo que, em junho de 2008, o
mandato de Ruggie foi renovado por mais três anos.
O representante especial cumpriu a tarefa e apresentou em junho de 2011 para o
Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) os “Princípios
Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos”, aprovados por consenso. São trinta e um
princípios que seguem a lógica apresentada no framework (CONECTAS, 2012), ou seja,
reforçam a ideia de que o Estado tem o dever proteger os direitos humanos, (Princípio de
número 1 ao Princípio de número 10), as Empresas tem a responsabilidade de respeitar os
direitos humanos (Princípio de número 11 ao Princípio de número 24), e que devem ser
promovidos meios de acesso à mecanismos de reparação para vítimas (Princípio de número 25
ao Princípio de número 31). Findo o mandato de Ruggie, o Conselho de Direitos Humanos das
Nacões Unidas criou um grupo de trabalho com a intenção de operacionalizar os “Princípios”,
também com mandato de três anos.
Merece destaque, o desfecho da 26ª sessão do Conselho de Direitos Humanos,
realizada entre os dias 10 e 27 de junho de 2014, em Genebra, na Suíça. Nesta sessão, em que
pesem os votos contrários e as abstenções, foi aprovada resolução, capitaneada por
representantes do Equador e da África do Sul (ONU, 2014, p.2), na qual restou consignada que
deve ser criado um grupo de trabalho intergovernamental com vistas a se elaborar um
documento de caráter vinculante a incidir sobre a atuação de empresas transnacionais no que
tange a direitos humanos (CONECTAS, 2014b). Este se afigura um grande passo rumo à
responsabilização de empresas por violações, mas esta discussão, ainda que tenha “ganhado
corpo”, tem um longo período de intensos debates pela frente. Desse modo é preciso estar atento
à evolução do trabalho do grupo. Este pode ser o momento de transição da voluntariedade à
vinculação.
3 – O trabalho escravo, as empresas e as organizações não governamentais no Brasil.
No capítulo antecedente a intenção foi demonstrar que no contexto internacional
ganha força e torna-se a cada dia mais sólida a discussão a respeito da relação entre atuação
empresarial e direitos humanos. Neste capítulo e nos subcapítulos que seguem, pretende-se
demonstrar que o país não pode se manter inerte ao tema, primeiro porque o “III Fórum Anual
sobre Empresas e Direitos Humanos da ONU”, realizado entre os dias primeiro e terceiro de
dezembro, na cidade de Genebra, na Suíça, reafirmou a necessidade dos estados
confeccionarem seus “Planos Nacionais de Ação” para implementação dos já mencionados,
“Princípios Orientadores” (CONECTAS, 2014a), e , segundo, e mais importante, porque é
preciso incrementar à proteção às vítimas, coibindo o avanço das práticas violadoras à direitos.
Se o ponto de partida foi o da breve análise global, é tempo de se aprofundar no âmbito
interno, seguindo o caminho delineado a seguir. O primeiro subcapítulo estará voltado para a
correlação entre trabalho escravo e empresas no Brasil, de modo que o acento estará no
panorama atual de violações. O segundo subcapítulo voltar-se-á para a análise do papel que a
sociedade civil tem desempenhado em meio ao cenário de violações, procurando-se demonstrar
que, se tem existido avanços, estes são obtidos com a parcela de contribuição de organizações
não governamentais. O terceiro capítulo trará os três termos abordados em conjunto, “trabalho
escravo”, “organizações não governamentais” e “empresas”, unidos pelo estudo da questão
referente à “Lista Suja do Trabalho Escravo”, que se acredita ser exemplo de como se dá a
proteção aos direitos humanos no país: de forma vacilante, marcada por avanços e retrocessos.
Antes contudo, é preciso delimitar o conceito legal de trabalho escravo no Brasil,
ao menos como ele é descrito como crime no Código Penal. Com isso será possível entender
de forma mais nítida o modo pelo qual se dá tanto a proteção quanto a violação. O artigo 149
do mencionado código diz que deve-se punir àqueles responsáveis pela prática de se reduzir o
outro à condição análoga a de escravo, “quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”
(BRASIL, 1940), incorrendo ainda nas penas do artigo quem, com a finalidade de reter o
trabalhador no campo, cerceia o uso de meio de transporte, mantem vigilância ostensivo do
local de trabalho ou apreende documentos ou objetos pessoais do trabalhador.
A jurisprudência dos tribunais superiores amplia as garantias e reforça a proteção,
consagrando que configura-se o cometimento do delito ainda que no caso concreto inexista
violência ou uso de força física (BRASIL, 2014h), e/ou restrição à liberdade de locomoção do
trabalhador (BRASIL, 2014e). Os tribunais entendem ser importante observar se em meio à
relação de trabalho, está à ocorrer o processo de “coisificação” do ser humano. Nestes termos
vê-se que no núcleo do crime estão o trabalho forçado, a jornada exaustiva, a servidão por
dívidas e a exposição do trabalhador a condições degradantes.
Após a introdução ao capítulo, e apresentado o delito de redução de outrem à
condição análoga à de escravo, promover-se-á uma breve análise do panorama brasileiro atual
no que diz respeito à questão.
3.1 – Trabalho Escravo e Empresas no Brasil.
O trabalho escravo no país, ao contrário do que se pode pensar, não é encontrado
com exclusividade no meio rural, em localidades longínquas e de difícil acesso. Antes pelo
contrário, ele também se dá no meio urbano, no coração das grandes cidades brasileiras, por
exemplo, conforme será visto a seguir. Aponta o estudo “Trabalho Escravo no Brasil em
Retrospectiva: Referências para estudos e pesquisas”, elaborado pela Secretaria de Inspeção do
Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, que no âmbito urbano, dois setores se destacam
de modo negativo em função da escravização: o setor da indústria da construção e o setor da
indústria têxtil (BRASIL, 2012a). No mesmo sentido concluiu a Comissão Parlamentar de
Inquérito do Trabalho Escravo, instituída pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo,
que identificou prioritária a investigação nos dois setores supramencionados (SÃO PAULO,
2014). Nestes termos, será traçada uma breve análise destes setores, com a intenção de tornar
claro o elo que une empresas e escravização.
O Brasil, nos últimos anos, tornou-se o país dos megaeventos, obteve êxito em atrair
a Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos de Verão
de 2016, e dos megaempreendimentos, como por exemplo a construção da usina de Belo Monte,
no estado do Pará, do Superporto do Açu e da Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA),
ambos no estado do Rio de Janeiro. Em síntese, nos últimos anos, o país colocou “em marcha
o maior pacote de obras públicas da sua história” (ATTUCH, 2008). Alguns programas
adotados pelo governo impressionam pela magnitude, como o “Programa Minha Casa. Minha
Vida”, que nos termos do artigo primeiro da lei 11977/09, tem por finalidade “criar mecanismos
de incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais ou requalificação de
imóveis urbanos e produção ou reforma de habitações rurais(...)” (BRASIL, 2009). O programa
tem números grandiosos conforme informou a presidenta Dilma Rousseff através da coluna
semanal “Conversa com a Presidenta”, do dia 27/01/2014: até aquele momento já haviam sido
beneficiadas mais de um milhão e meio de famílias, através de investimentos da ordem de
duzentos bilhões de reais, com meta de se atingir 2,750 milhões de casas contratadas até 2014
(BRASIL, 2014a).
Não é preciso listar de modo exaustivo as obras que tiveram e ainda estão em curso,
para que se consiga visualizar o espantoso crescimento no setor da construção civil. Todavia,
caminharam (e ainda caminham), lado a lado com o “desenvolvimento”, o desrespeito à direitos
e garantias fundamentais. O desrespeito, ou mesmo, a violação a direitos, é cometida tanto por
empresas brasileiras, quanto por empresas transnacionais. Exemplos não faltam, como o
veiculado pela ONG Repórter Brasil, que dá conta de que autoridades governamentais estão
com seus olhos voltados para as obras promovidas pela mineradora britânica Anglo American,
na cidade mineira de Conceição do Mato Dentro. A construção da estrutura de exploração da
mina e daquele que será o maior mineroduto do mundo, responsável por ligar o local de extração
ao Porto de Açu, no estado do Rio de Janeiro, estão envoltas à denúncias e flagrantes de
exposição de trabalhadores à jornadas exaustivas de trabalho com descumprimento de limitação
de jornada máxima semanal, desrespeito ao horário para almoço, terceirização precária,
fornecimento de alimentação de baixa qualidade, com denúncias até mesmo de escravização de
mão de obra imigrante, tendo em vista que foram resgatados trabalhadores haitianos
(WROBLESKI, 2014c).
No mesmo turno, exemplos não faltam de denúncias de utilização de trabalho
escravo por parte de empresas ligadas ao “Programa Minha Casa. Minha Vida”. Conforme
aponta a ONG Repórter Brasil, até mesmo a maior construtora do programa foi alvo de
autuações (REPÓRTER BRASIL, 2012b).
A situação é preocupante, tanto que à data de primeiro de março de 2012 foi firmado
o “Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Indústria da
Construção”, sob coordenação da Secretaria-Geral da Presidência da República em conjunto
com as entidades representativas de empresários e empregados do setor da construção
(BRASIL, 2012b). A intenção não foi outra senão a de se buscar melhorias para trabalhadores
em canteiros de obras. A preocupação governamental justifica-se pelos dados apresentados
pelo Ministério do Trabalho e Emprego referentes aos seis primeiros meses do ano de 2014
(BRASIL, 2014c), e pelos dados referentes ao ano de 2013 (BRASIL, 2014b), segundo os quais
o ramo da construção civil e pesada tem sido o principal local de resgate de trabalhadores
reduzidos à condição análoga de escravo pela Divisão de Fiscalização para Erradicação do
Trabalho Escravo (Detrae), da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e
Emprego (SIT/MTE). Dados publicados pela Comissão Pastoral da Terra dão conta inclusive
que os resgates de trabalhadores pela primeira vez foram maiores no meio urbano do que no
meio rural, e com maior frequência na região Sudeste do país, ultrapassando quantitativamente
a região Norte, até então a líder em número de resgates (CPT, 2014).
Como dito, no que diz respeito a trabalho escravo no meio urbano, não só o setor
da construção encontra-se em meio a denúncias, de modo que também tem merecido destaque
negativo o setor têxtil. Grandes marcas e grandes empresas deste ramo tem sido alvo de
denúncias e flagrantes, conforme noticia a ONG Repórter Brasil no “Especial: flagrantes de
trabalho escravo na indústria têxtil no Brasil”. Neste âmbito, um fator torna ainda mais sensível
a questão: a escravização de imigrantes, notadamente de países da América do Sul, como
Bolívia e Peru (REPÓRTER BRASIL, 2012a). Esta aliás foi uma das conclusões a que chegou
a CPI paulista do Trabalho Escravo:
“De acordo com os registros do MTE, do MPT e da Defensoria Pública,
quase todos os casos envolvendo trabalho escravo no setor têxtil em São
Paulo nos últimos anos têm como vítimas imigrantes de países vizinhos,
principalmente Bolívia, que buscam o Brasil como alternativa para
fugir da miséria e tentativa de construir uma vida melhor” (SÃO
PAULO, 2014, p.2).
A questão é complexa. Conforme já perceberam as entidades mobilizadas, não é
fácil identificar o infrator e a infração. As grandes empresas refinam o processo de escravização
do trabalhador mediante contratações, subcontratações, intermediários, fornecedores escusos,
que funcionam como véus a encobrir a forma verdadeira pela qual funcionam as engrenagens
da cadeia produtiva. A obscuridade na cadeia produtiva torna ainda mais silencioso o
cometimento do delito. E neste ínterim empresas e até órgãos públicos podem estar a se valerem
de trabalho escravo sem saber, tal qual se passou no caso dos coletes dos funcionários do censo
de 2010 do IBGE. A empresa vencedora da licitação para confecção dos coletes, segundo
noticiou a ONG Repórter Brasil, fez o que tem-se mostrado comum no setor têxtil: o repasse
da produção. A produção é seguidamente repassada a outros responsáveis, até que o trabalho
seja efetivamente realizado mediante baixíssima remuneração e sob condições degradantes
(PYL, HASHIZUME, 2010).
A terceirização, enquanto ferramenta empresarial para o repasse de atividades a
terceiros, tem sido levado ao extremo em alguns casos no país, transformando o que
suspostamente era um ganho em eficiência, em verdadeira forma de precarização do trabalho,
a ensejar a violação de direitos dos trabalhadores. Os temas mencionados acima, trabalho
escravo e terceirização, caminham lado a lado, como afirma o auditor fiscal do trabalho Dr.
Vitor Araújo Filgueiras:
“Dos 10 maiores resgates de trabalhadores em condições análogas à de
escravos no Brasil em cada um dos últimos quatro anos (2010 a 2013),
em 90% dos flagrantes os trabalhadores vitimados eram terceirizados,
conforme dados obtidos a partir do total de ações do Departamento de
Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae) do Ministério do Trabalho e
Emprego” (FILGUEIRAS, 2014).
Nestes termos, vê-se que é necessário punir o responsável imediato pela prática
delituosa, mas que esta medida é paliativa e promove um ganho que se mostra efêmero. Se se
quer obter resultados mais efetivos e duradouros é preciso subir na cadeia de produção.
Conforme se verá mais à frente, a “lista suja” do trabalho escravo, mostrou-se eficaz sobretudo
porque expos o nome de empregadores violadores, o nome de quem realmente se beneficiava
da atividade criminosa.
Neste breve excurso a intenção foi demonstrar a ligação entre a escravização e
empresas, que tem se dado em setores como o têxtil e o da construção. No próximo tópico
procurar-se-á demonstrar que a sociedade não ficou inerte perante a questão, que dela surgiram
iniciativas vitais para que o tema seja levado a sério no país.
3.2 – Trabalho Escravo e as organizações não governamentais no Brasil.
A escravização do trabalhador afigura-se um delito silencioso. Na verdade, o
silencio é imposto, sobretudo por ameaças e pela violência. Nestes ínterim, nem mesmo
autoridades estatais são poupadas, tal qual se passou no episódio conhecido por “Chacina de
Unaí”, no qual três auditores do trabalho e um motorista foram assassinados quando faziam
uma operação de fiscalização na cidade mineira que dá nome à chacina (WROBLESKI, 2014b).
Nesse cenário árido merece destaque o papel desempenhado por entidades da sociedade civil,
sobretudo por organizações não governamentais. Elas tem sido responsáveis por dar voz às
vítimas.
A origem próxima do cenário atual pode ser encontrada na denúncia pública da
existência de escravização no meio rural promovida por D.Pedro Casaldáliga, Bispo Emérito
da Prelazia de São Félix do Araguaia, no ano de 1971, uma das primeiras de que se tem notícia
(BRASIL, 2012a, p.03). Após esta primeira denúncia, nasce no ano de 1975 a primeira
organização não governamental voltada para os conflitos no campo, a Comissão Pastoral da
Terra-CPT, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB (BRASIL, 2012a,
p.03).
Há que se destacar que o estado brasileiro já havia se comprometido a garantir a
proteção do trabalhador, muitos anos antes da criação da Comissão Pastoral da Terra. Prova
disso é que havia ratificado em 1957, a Convenção nº 29, sobre Trabalho Forçado ou
Obrigatório, e em 1965, a Convenção nº 105, sobre Abolição do Trabalho Forçado, ambas da
Organização Internacional do Trabalho - OIT. Contudo, em que pesem estes compromissos, a
questão restou ignorada por um longo período de tempo por parte das autoridades estatais. Não
há exagero em se afirmar que a inércia estatal somente foi rompida com a atuação de
organizações da sociedade civil. No ano de 1992, por exemplo, o padre Ricardo Rezende, da
Comissão Pastoral da Terra, conseguiu fazer com que parlamentares visitassem a localidade de
Rio Maria no estado do Maranhão, a fim de que presenciassem a dura realidade de trabalho na
região, que à época estava de luto em razão do assassinato do ex-presidente da associação local
de trabalhadores rurais (BRASIL, 2011b, p.57). No mesmo ano a CPT levou a questão ao
exterior, através do pronunciamento no plenário da Subcomissão de Direitos Humanos da
Organização das Nações Unidas – ONU, em Genebra, a convite da Federação Internacional dos
Direitos Humanos (BRASIL, 2012a, p.05).
Também na década de noventa, precisamente no ano de 1994, duas organizações
não governamentais, Américas Watch e Centro pela Justiça e o Direito Internacional-CEJIL,
deram início ao processo no qual o estado brasileiro viu-se compelido à responder perante a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos-CIDH pela violação a dispositivos referentes à
proteção a direitos humanos. E mais, foi devido a essa ação que, pela primeira vez, o país
reconheceu publicamente a existência de trabalho escravo em seu território (BRASIL, 2011b,
p.28). O caso, que na Corte recebeu o número 11289, é comumente denominado “Zé Pereira”,
em menção ao nome da vítima. Escravizado ainda adolescente em uma fazenda do sul do estado
do Pará, José Pereira Ferreira tentou fugir e foi alvo de uma emboscada orquestrada por
funcionários da propriedade, a qual conseguiu sobreviver de forma milagrosa, porque os
funcionários acreditavam tê-lo matado (CIDH, 2003). A mesma sorte não teve seu companheiro
de fuga.
As peticionárias expuseram à CIDH o panorama de leniência e cumplicidade das
autoridades estatais a nível local e regional para com os responsáveis pelo delito. Em síntese, o
desfecho positivo no ano de 2003, quando o estado reconheceu sua responsabilidade ao assinar
um acordo de solução amistosa, foi possível graças à coragem da vítima, à atuação das
organizações não governamentais e à via que estas escolheram para o trato da questão, a via
internacional, que expôs o país de forma negativa no cenário internacional.
Até este ponto já é possível perceber que o país deve muito às entidades da
sociedade civil quando o assunto diz respeito a combate ao trabalho escravo. A elas são devidas
as primeiras denúncias públicas (modernas), quer seja em âmbito nacional ou internacional. A
despeito das já mencionadas, merece destaque a atuação da ONG Repórter Brasil, que tem se
notabilizado pela atuação especializada no tema. Ela foi criada no ano de 2001, por jornalistas,
cientistas sociais e educadores, e tem atuado em diversas frentes, em parceria com outras
organizações não governamentais, com órgãos e entidades públicas e com organizações
internacionais. Promove denúncias, propõe iniciativas, publica estudos, estatísticas, artigos e
cartilhas, como a “Escravo nem pensar” (REPÓRTER BRASIL, 2009), cria inclusive
ferramentas e aplicativos para dispositivos móveis, como o aplicativo “Moda Livre”
(REPÓRTER BRASIL, 2013a), que traz informações ao consumidor sobre empresas do setor
têxtil que foram denunciadas por irregularidades na sua cadeia produtiva. Todo o esforço, e
todo o trabalho, com a intenção de não deixar que reste silenciosa a exploração do trabalhador.
Dentre os inúmeros projetos com os quais a ONG Repórter Brasil encontra-se
engajada, um deles será destacado e abordado de forma detalhada a seguir, sobretudo pela sua
relevância, pela atualidade e pelo risco que a iniciativa corre de perecer. Ela trouxe inestimáveis
ganhos, e colocou o país como modelo perante a comunidade internacional, contudo é alvo de
ação direta de inconstitucionalidade e encontra-se no centro da discussão que envolve trabalho
escravo, empresas (também pessoas físicas) e direitos humanos. O próximo tópico será a
respeito da “Lista Suja” do Trabalho Escravo no Brasil.
4 – A Lista Suja do Trabalho Escravo no Brasil.
A “Lista Suja” do Trabalho Escravo decorre de uma ideia simples mas ao mesmo
tempo poderosa. Trata-se de um cadastro de empregadores, tanto pessoas físicas, quanto
jurídicas, flagrados na prática de redução do trabalhador à condição análoga a de escravo. A
origem está na Portaria nº 1.234, de 17 de novembro de 2003, do Ministério do Trabalho e
Emprego, posteriormente revogada pela Portaria nº 540, de 15 de outubro de 2004, do mesmo
ministério. Esta portaria, encontra-se igualmente revogada, desta vez pela Portaria
Interministerial nº. 2, de 12 de maio de 2011 da lavra do Ministério do Trabalho e Emprego e
da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que ampara e disciplina a
matéria hoje. Na verdade, vive-se situação atípica tendo em vista que, a portaria nº. 2/2011
encontra-se com sua eficácia suspensa por força da liminar concedida pelo presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, à data de 27/10/2014, no bojo da
Ação Direta de Inconstitucionalidade de número 5209/DF, ajuizada pela Associação Brasileira
de Incorporadoras Imobiliárias, ABRAINC. Nestes termos o cadastro não está disponível para
acesso enquanto perdurar a decisão (BRASIL, 2014g).
Como visto, a constitucionalidade da “Lista” está sob análise. A profundidade da
questão somente pode ser compreendida se se analisa o modo de funcionamento do cadastro,
os motivos que levaram à sua criação, e os desdobramentos que se tornaram possíveis graças à
participação da sociedade civil. As regras que disciplinam o modo de funcionamento do
cadastro encontram-se na já mencionada portaria interministerial nº. 2/2011 (BRASIL, 2011a).
Lá é possível observar que a lista deve ser atualizada de modo semestral pelo MTE (em virtude
de decisão judicial ele não foi atualizado, nem mesmo está disponível para consulta). A inclusão
do nome no cadastro tem início com o auto de infração e se dá mediante decisão final em
processo administrativo, no qual se garante o contraditório e a ampla defesa. A exclusão, por
outro lado, se dá por meio do monitoramento do infrator pelo prazo de dois anos, a contar da
data da inclusão, que constate não haver reincidência na prática da escravização. Inclusão,
permanência e exclusão do nome no cadastro, ocorrem sem que exista a expedição de qualquer
certidão pelo poder público.
Apresentada a definição, a portaria na qual a matéria está regulamentada, e as
regras de funcionamento, cumpre analisar a intenção por trás da criação da “Lista”. A intenção
mediata foi lançar luzes sobre a escravização de trabalhadores, que reitera-se é prática criminosa
violadora de direitos humanos que se mantem na sombra e em silêncio. A intenção imediata foi
a de se procurar restringir o acesso dos infratores a linhas de crédito e financiamentos públicos,
de se sinalizar ao mercado que aquele particular ou empresa não é um parceiro honesto para
negócios, de se mostrar que as leis da concorrência empresarial encontram-se prejudicadas
porque alguém reduz seus custos de produção mediante práticas ilegais, e de se expor à
sociedade que há algo de errado na cadeia de produção do bem que lhe é colocado a consumo.
Os desdobramentos da “Lista” revelam que ela é, na verdade, exemplo de como a
atuação de organizações não governamentais, é vital para a promoção da dignidade humana,
para a proteção ao trabalhador contra a escravização, para a maior vigilância da atuação
empresarial e das relações empregatícias. Não há como expor os acontecimentos subsequentes
à sua criação sem fazer menção a entidades como a ONG Repórter Brasil, que contribuíram
diretamente para que a iniciativa governamental apresentasse resultados para além dos
esperados, responsáveis por tornar o país referência global no que diz respeito a engajamento
em prol da erradicação. Esta organização atuou na divulgação da primeira “lista”, criada pelo
Ministério do Trabalho e Emprego em 2003, até a última atualização, no ano de 2014. Não só
divulgou, como facilitou o acesso ao cadastro de infratores, tanto que, no ano de 2005, ao lado
da Organização Internacional do Trabalho e do Instituto Ethos, atuou na criação de um sistema
de consulta ao cadastro ainda mais completo e refinado, disponível não só português, como
também em francês, inglês e alemão.
A Repórter Brasil divulgou, facilitou o acesso e investigou as ligações comerciais
de alguns dos nomes presentes na lista (REPÓRTER BRASIL, 2006). A organização, ao lado
da OIT, no ano de 2004, atendeu ao pedido da Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH) e investigou o modo pelo qual atuavam propriedades rurais que figuravam no cadastro
de infratores à época. A intenção por traz da iniciativa foi traçar o mapa da cadeia produtiva,
da origem remota do produto até a etapa final no varejo ou na exportação. O estudo serviu de
base para informar não só a sociedade, mas também industrias, empresas, exportadores e
importadores, a respeito de irregularidades que estas desconheciam na cadeia de produção de
seus bens.
De posse do estudo, as suas responsáveis, somadas ao Instituto Ethos, deram início
a uma nova empreitada: estreitar os laços para com o setor empresarial, com vistas a conseguir
conscientizar a este a não negociar com fornecedores que se utilizavam de mão de obra escrava.
Desse diálogo foi concebido o “Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo” no ano
de 2005, que já conta com 220 signatários, que somados representam aproximadamente 20%
do produto interno bruto brasileiro (PACTO, 2005). O Pacto teve o mérito de despertar nas
empresas a responsabilidade pela questão. Na verdade, fez mais, transformou-se em ferramenta
para elas, tendo em vista que também ganham direta e indiretamente com a transparência e com
os indicadores positivos que o pacto gera. O Pacto transformou-se inclusive em política pública
através do “2º Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo”.
Esta junção entre governo e entidades não governamentais, que procurou atrair
também a participação do setor privado, colocou o país como referência no combate ao trabalho
escravo. Despertou a atenção da Organização Internacional do Trabalho-OIT, como pode ser
visto no estudo “Fighting Forced Labour: The Example of Brazil”, publicado em 2009, e
despertou também a atenção da Organização das Nações Unidas-ONU, que através de sua
Comissão de Direitos Humanos, enviou ao país no ano de 2010, a relatora especial Gulnara
Shahinian, para conduzir a primeira visita de inspeção do órgão sobre tema no território
nacional (ONU, 2010a). A conclusão inicial do relatório exaltou os esforços empreendidos
pelos país:
“The Special Rapporteur commends Brazil for recognizing that slave labour
exists and for the exemplary programmes and policies that the Government
has put in place to combat it. The Government should therefore share its
examples with other countries beyond Latin America” (ONU, 2010b, p.17).
Apontou a importância da “lista suja”, como se pode ver abaixo, inclusive por
ela servir de base ao “Pacto”:
“The Special Rapporteur believes that this is an effective tool for combating
slave labour. Its success is highlighted by the fact that a significant number of
companies, such as Walmart and Carrefour, have already signed the National
Pact by which they commit to end all business relations, direct or indirect, that
they may have with farms on the list” (ONU, 2010b, p.09).
No Relatório consta ainda que: “The “dirty list” should be strengthened by
incorporating it into law. Additionally, it should be extended to other sectors, such as the garment
industry” (ONU, 2010b, p.18). Ou seja, recomendou-se que à lista deveria ser dado amparo legal,
e que ela deveria ser expandida, de modo a cobrir também outros setores, tais como o setor
têxtil, que à data apresentava crescimento no que tange a denúncias, autuações e resgates. A
primeira consideração é a de que a lei não foi criada. A segunda é que, de fato representantes
de outros setores passaram a figurar no cadastro de infratores, com destaque para dois: empresas
da construção civil e do mencionado, setor têxtil. Matérias da Repórter Brasil a respeito das
atualizações da “lista”, como o “Especial: 10 anos da ‘lista suja’ do trabalho escravo”
(REPÓRTER BRASIL, 2013b), e “Cresce número de casos de trabalho escravo urbano na ‘lista
suja’” (WROBLESKI, 2014a), evidenciam esta realidade. O correr dos anos demonstrou que o
relatório realçou dois pontos que hoje estão de certa forma envolvidos com o risco que corre a
“lista suja”. A abertura para outros setores, notadamente o da construção, fez com que
aumentasse a pressão dos violadores por sobre a “lista”. Nestes termos a Associação Brasileira
de Incorporadoras Imobiliárias, ABRAINC acionou o Supremo Tribunal Federal questionando
a constitucionalidade da portaria que hoje fundamenta o cadastro (ADIN 5209/DF). A partir de
então, todo o processo que culminou na suspensão liminar dos efeitos da Portaria
Interministerial MTE/SDH nº 2/2011, transcorreu rapidamente: a ação foi impetrada no dia
22/12/2014 e a medida liminar foi concedida pelo presidente da Corte logo no dia 27/12/2014
(BRASIL, 2014g).
No centro da fundamentação encontra-se a ausência de positivação da “lista
suja” em lei, ponto frágil que a relatora especial da ONU já destacava. Em que pese a ausência
de lei sobre o assunto, tem-se que a concessão da medida liminar provocou certa perplexidade
porque no mesmo mês de dezembro de 2014, a “Lista Suja” foi premiada no Concurso de Boas
Práticas da Controladoria Geral da União na categoria “Promoção da Transparência Ativa e/ou
Passiva” (BRASIL, 2014d). Perplexidade também porque a ADI 5209/DF não trouxe à
apreciação do Supremo um tema novo, na verdade ela tem o mesmo teor de pedidos da ADI
5115/DF, impetrada pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA à
data de 24/04/2014, que tramita, desde então sem produzir qualquer efeito de suspensão liminar
(BRASIL, 2014f).
A suspensão dos efeitos da portaria que disciplina o cadastro de infratores
obstaculiza o acesso à informação, e desse modo torna menos eficaz as ações do governo. Ela
deixa às cegas a sociedade e também as empresas. Apresenta reflexos em outras iniciativas
como o “Pacto Nacional Pela Erradicação do Trabalho Escravo”, que tem a “lista” como base.
BNDES e Caixa Econômica Federal já afirmaram que, após a decisão do STF, passaram a não
mais chegar a “lista suja” no processo de concessão de empréstimos públicos a empresas
(MAGALHÃES, 2015). É retrocesso na proteção a direitos humanos e na proteção ao
trabalhador. Hoje, a manutenção da “lista suja” é um dos grandes desafios para entidades não
governamentais que tanto fizeram para que ela fosse divulgada, estudada e ampliada para outras
iniciativas que, somadas, levaram o país a se tornar modelo no combate ao trabalho escravo no
mundo. No que tange à matéria, os avanços e retrocessos, fazem valer a máxima de Bobbio
quando este diz que “O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é
tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los” (BOBBIO, 2004, p. 23).
5 – Conclusão.
O presente trabalho procurou lançar luzes sobre a questão que congrega
empresas, organizações não governamentais e direitos humanos. O recorte esteve centrado na
questão do trabalho escravo e nas feições que a questão possui na atualidade. Primeiro
procurou-se demonstrar que no cenário internacional a atuação empresarial encontra-se sob
análise, em discussão que avança hoje especialmente no seio da Organização das Nações
Unidas. Procurou-se demonstrar através do eixo “trabalho escravo-empresas”, que o país não
tem motivos para se manter alienado à discussão, tendo em mente que setores empresariais,
como o têxtil e o da construção civil, tem se destacado por serem alvo de denúncias e autuações,
como locais de resgates a trabalhadores escravizados.
Se setores empresariais encontram-se em meio a denúncias, o próximo passo foi
o de se aprofundar no tema específico do trabalho escravo no país. Argumentou-se que não se
pode adentrar no tema sem se destacar a atuação de organizações não governamentais, atuação
que foi e continua a ser vital para que a questão seja “levada à sério” pelo estado. A junção
governo e organizações não governamentais, foi essencial para que o Brasil se tornasse
referência no combate a esta forma odiosa de exploração do trabalhador.
Em seguida, foi trabalhada a questão da “lista suja” do trabalho escravo, como elo
entre governo, organizações não governamentais e empresas. O governo foi o responsável pela
sua criação e manutenção. As organizações não governamentais atuaram em prol da divulgação,
da facilitação ao acesso e consulta, da promoção e publicação de estudos e da ampliação dos
limites da iniciativa governamental. As empresas, por seu turno, foram atingidas pela “lista”
de duas formas diretamente relacionadas com o modo pelo qual atuam: se atuam de modo
positivo, com respeito aos direitos humanos, viram nela uma ferramenta, um referencial para
não estabelecerem relações comerciais com violadores; se, de outro modo, atuam em
desrespeito à direitos humanos por se valerem de trabalho escravo, enxergaram-na de modo
negativo, tanto em razão da inserção quanto pelo temor de poder virem a ser inseridas na “lista”.
Como visto a “lista suja” está em perigo no momento, em virtude da suspensão
dos efeitos da portaria na qual está regulamentada. O deferimento da liminar enfraquece o
combate ao trabalho escravo. A confirmação desta decisão, através da declaração da
inconstitucionalidade da portaria, pode enfraquece-lo ainda mais. É preciso que a análise da
questão dê ao tema o acento necessário. Como visto a questão é complexa, a “lista suja” é mais
do que é possível ler na portaria. Ela é fruto do incansável trabalho de organizações não
governamentais que já há muitas décadas trabalham pela defesa das vítimas. Ela significa que
o país está em consonância com o contexto internacional e que ele é modelo no que tange ao
combate ao trabalho escravo, significa ainda, que o Brasil está preocupado com a atuação
empresarial e com as relações empregatícias. Por fim ela representa ferramenta para empresas
que pretendem manter relações comerciais sérias.
Em síntese, a proteção a direitos humanos no que diz respeito a trabalho escravo,
passa pela promoção da “lista suja”.
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