discurso no 1º de dezembro (m1d) - josé ribeiro e castro, 1-dez-2014
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Movimento 1.º de Dezembro a/c Sociedade Histórica da Independência de Portugal Palácio da Independência
Largo de São Domingos, 11 1150-320 Lisboa Telefone: 21 324 14 70 Fax: 21 346 07 54
Email: movimento1dezembro@gmail.com Internet: www.facebook.com/1dezembro www.1dezembro.pt
Discurso do coordenador-geral do Movimento José Ribeiro e Castro
Cerimónias oficiais do 1º de Dezembro
Lisboa, Praça dos Restauradores
1 de Dezembro de 2014
Senhor General Vasco Rocha Vieira, representando Sua Excelência o Presidente da República,
Senhora Vice-Presidente da Assembleia da República, deputada Teresa Caeiro, em
representação da Senhora Presidente da Assembleia da República,
Senhor Dom Duarte, em quem saúdo a Fundação e toda a História de Portugal, livre e e
independente,
Senhora Presidente da Assembleia Municipal,
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
Senhor Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Dr. José Alarcão Troni
Demais autoridades,
Portugueses,
Dirijo as primeiras palavras à Sociedade Histórica da Independência de Portugal,
continuadora da Comissão Central do 1º de Dezembro, a que desde 1861 tudo devemos
nestas celebrações, e à Câmara Municipal de Lisboa, que continua a mostrar-se à altura das
responsabilidades patrióticas de que é guardiã e de que outros, infelizmente, desertaram.
O Município de Lisboa é, desde 1910, desde a instituição do feriado civil, o parceiro
fundamental da Sociedade Histórica na organização das Comemorações Nacionais do 1º de
Dezembro. Nesta crise do feriado, agradeço a receptividade com que recebeu as iniciativas
inovadoras do Movimento 1º de Dezembro e a capacidade organizativa que lhes ofereceu,
através da EGEAC. E felicito-o, na pessoa do seu Presidente, Dr. António Costa, e da
Vereadora da Cultura, Dr.ª Catarina Vaz Pinto, por haver enriquecido o programa oficial com
um amplo Percurso Histórico, de forte e rico portuguesismo.
*
* *
Este é o primeiro dia em que sentimos a falta do feriado. Há um ano, o atentado
contra esta data fundamental foi descafeinado, porque esse primeiro 1º de Dezembro não
[2]
feriado calhou a um domingo. Neste ano, todos nos damos conta dessa falta – e deste
absurdo. Por isso, as palavras que hoje dizemos soarão mais. E serão mais lidas.
Quando eu era adolescente, havia duas marcas de cigarros populares de que
gostávamos: havia os Definitivos; e havia os Provisórios – baratinhos, ao alcance das nossas
bolsas, que aviávamos nas tabernas ou tabacarias de bairro, para as nossas primeiras
“passas” às escondidas dos pais, que bem sabiam o que escondíamos e financiavam em
magras semanadas. A minha semanada era uma nota de Santo António: 20$00 (vinte
escudos) – na moeda de hoje, são 10 cêntimos de euro e, usando o conversor em preços da
PORDATA, equivaleria a quase 7,00 € (sete euros) de hoje. Se, então, eu a gastasse toda em
tabaco, não chegava para cinco maços normais: SG, Ritz, Porto, Sagres, outros. Já nos
Provisórios ou Definitivos dava para quase dez maços, ou seja, dava para o tabaquito e ainda
sobrava bastante. E, nas nossas brincadeiras, era corrente dizer-se “mais vale Provisórios
definitivamente do que Definitivos provisoriamente”. Vê-se que não tínhamos noção dos
riscos dos cigarros para a nossa saúde, senão antes diríamos ao contrário: “mais vale
Definitivos provisoriamente do que Provisórios definitivamente” – e deixaríamos de fumar
na primeira oportunidade.
Esta outra declinação é que é semelhante ao que, aqui, afirmo quanto à decretada
eliminação do feriado do 1º de Dezembro: mais vale uma eliminação provisória do que uma
suspensão definitiva. Temos de continuar a trabalhar, no plano cívico, social e político, para
o duplo pleonasmo: a eliminação da eliminação, a restauração da Restauração, tal como nos
empenhamos desde o primeiro dia no Movimento 1º de Dezembro.
Estamos no bom caminho. É claro, absolutamente claro, que Portugal vai ganhar.
A tradição popular, bem enraizada, deste feriado civil e das suas simples e
espontâneas manifestações patrióticas continua a exprimir-se e, um pouco por todo o país,
a furar o cerco da comentocracia reinante, contra o erro e a violência da lei que o quis
matar. Ampliámos, e vamos continuar a ampliar, o eco desse carácter popular com o
espectacular Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas que, celebrando o 1º de Dezembro,
Lisboa acolheu ontem de novo, já na terceira edição, numa grandiosa festa cívica que,
provindo de todo o país, aqui desagua todos os anos na Avenida da Liberdade e no obelisco
da Restauração.
Mas, além disso, nestas coisas da política e seus humores, é sempre bom ver como
está o tempo e perguntar aos passarinhos, assim como quem quer ouvir a “trova do vento
que passa”.
É sintomático que os spin doctors da maioria e do Governo desde há largos meses
tenham colocado a correr a ideia e a palavra de que houve apenas uma “suspensão” dos
feriados. Não é verdade: Todo este episódio de “legislação à paulada”, como lhe chamei, foi
desastrado e deplorável quer na substância, quer na forma. A verdade, para quem a ler
objectivamente, é a de que a lei, aprovada em 2012, eliminou todos os feriados alvejados: o
Corpo de Deus, Todos-os-Santos a 1 de Novembro, o 5 de Outubro e o 1º de Dezembro. Mas,
[3]
como tinham feito um erro grave e, como denunciei e fui protestando, haviam até violado
um acordo com a Santa Sé, o Governo e a maioria aproveitaram uma outra alteração ao
Código do Trabalho, um ano depois, no Verão de 2013, para, de forma assaz clandestina e à
socapa, para não dar muito nas vistas, aditarem uma norma que é a primeira correcção: “a
eliminação dos feriados (…) será obrigatoriamente objecto de reavaliação num período não
superior a cinco anos”, ou seja, na minha interpretação, até 2017.
Nestes procedimentos esconsos, percebe-se a vergonha. Há boas razões para isso.
É natural que quem quis destruir o 1º de Dezembro sinta vergonha. Não se escreveu ainda
“suspensão”, como os spin doctors plantaram na comunicação social. Mas já estamos – foi
um passo na boa direcção – no quadro da tal “eliminação provisória”, que pode ser melhor
do que uma “suspensão definitiva”.
Agora, temos que o concluir e fazer acontecer. Temos a rolar uma Iniciativa
Legislativa dos Cidadãos para restaurar o feriado, para que convocamos o esforço dos
nossos voluntários e amigos e das entidades que se associaram; e pedimos também
mobilização e endosso de Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia junto dos respectivos
munícipes e fregueses. Este é um Dia de todo o Portugal, o Dia de Portugal inteiro ou, como
tenho dito e repetido, “o dia mais de todos de entre todos os dias de Portugal”.
Apelo a todos para que nos mobilizemos nesta recta final a fim de concluir e
ultrapassar o requisito das 35 mil assinaturas, devidamente identificadas e em papel.
Queremos levar à Assembleia da República a lei da cidadania para eliminar a
eliminação, restaurar a Restauração. E queremos fazer assim, porque queremos recordar,
repetir, saudar, traduzir, manifestar que este feriado, sendo um feriado do Estado, é um
feriado civil, é um feriado do Povo português e da cidadania, um feriado que foi declarado
pelo Estado em 1910, mas como consagração legal de uma longa e profunda reclamação da
sociedade portuguesa que vinha, pelo menos, desde 1861. É essa mesma histórica torrente
de cidadania, corporizada hoje na Sociedade Histórica, que pretendemos repetir e emular
para enfrentar o ataque da lei contra o “feriado dos feriados”, o “mais alto dos feriados
patrióticos”, o “mais nacional de todos os feriados nacionais” – e ao emularmos e repetirmos
na circunstância de 2015 essa maré cidadã, esse mesmo clamor civil original da base da
Nação que somos, não estamos apenas a restaurar o feriado, mas fortalecemos e
refrescamos o seu significado e o seu carácter.
*
* *
Dê por onde der, 2015 vai ser o ano em que vamos restaurar a Restauração. Está
marcado.
Temos, aliás, que dar descanso a São Pedro.
Quando, em 2012, nos lançámos na iniciativa de organizar o Desfile Nacional das
Bandas Filarmónicas como um dos novos momentos altos das comemorações oficiais, ficou
[4]
sempre uma ansiedade, às vezes até angústia à aproximação do dia: «E se chove? E se
chove?...»
São Pedro tem sido amigo e tem ouvido as nossas orações, brindando-nos com sol a
1 de Dezembro, como, aliás, é memória antiga dos mais antigos.
Mas, neste ano, calhando o 1º de Dezembro a uma segunda-feira e tendo-nos
abolido o feriado, tivemos que antecipar o Desfile para ontem, domingo, e, assim, que pedir
a São Pedro o favor adicional de uma antecipatória e alargatória: que nos desse sol também
no dia 30. São Pedro, impecável, no final de uma semana de chuva muito intensa, voltou a
cumprir e a estar à altura do contrato, no que só confirma o patriotismo com que nos
distingue, que é o mesmo que lhe dedicamos.
A partir de 2015, porém, a proeza meteorológica começa a ficar mais difícil: teríamos
que lhe pedir sol no dia 1 e também no dia 29, podendo o outono invernoso desabafar e
chover livremente a 30. E, em 2016, ano bissexto, pedir-lhe sol no dia 1 e também no dia 27,
não havendo problema com chuva a 28, 29 e 30. Começa a ser uma empreitada de risco
mesmo para santos de alto gabarito, experimentados e generosos. E basta um pequeno
erro na pontaria e lá se nos encharca o brilho popular das comemorações de Portugal.
Disse logo no princípio deste processo, tão desastrado e errado, que bastará a
mudança de ciclo político para a reparação ser feita e o feriado ser reposto, como outros. E
saúdo o Senhor Presidente da Câmara Municipal por, tanto nessa qualidade, como noutras
funções que titula, ter já expresso a mesma ideia e declarado um compromisso.
Todavia, para isto, não é necessário mudar o ciclo político. É bom haver essa
perspectiva e garantia, mas não tem que ser assim. É de bom-tom que cada um limpe o
próprio lixo. É regra de educação e até de civismo que eu não faça lixo e, fazendo-o, eu
próprio apanhe o lixo que porventura faça, em vez de o deixar para outros. Devemos, por
isso, esperar que o Governo e a maioria, de que também sou parte, estejam à altura desse
princípio de ecologia política fundamental: limpar o próprio lixo.
Se o fizerem, o resultado, neste particular, ficará 1 a 1 – menos mal... Meteram o
golo na própria baliza; mas corrigiram heroicamente na segunda parte. Se o não fizerem, o
resultado, jogando em casa, ficará 0 a 2: ofereceram à oposição o auto-golo e, mais ainda,
oportunidade de um golaço de belo efeito na segunda parte. Os chefes é que sabem.
Em resposta à iniciativa da cidadania, os chefes decidirão. Eu, que não sou chefe,
digo apenas o seguinte: continuarei neste trabalho cívico, independente, entre outros; e
não votarei em ninguém em 2015 que, entre outras correções e ajustamentos que importa
fazer, não se comprometa claramente com a reposição do feriado nacional do 1º de
Dezembro. Ou já o tenha feito antes.
*
* *
[5]
Nós precisamos do 1º de Dezembro. Portugal precisa do 1º de Dezembro. As
comunidades nacionais precisam de momentos e dias de celebração daquilo que são e de
cultivo dos valores que as justificam e fortalecem. Quanto mais difíceis forem os tempos – e
eles são-no – mais disso precisamos. Precisamos dessas datas – e seus valores e símbolos –
que nos alimentam, que nos animam, que nos confortam, que nos reparam, que nos
orgulham, que nos levantam, que nos reúnem, que nos mobilizam. E não há data tão
nacional, tão colectiva, tão gregária, tão profunda, tão portuguesa de Portugal, tão festiva,
tão popular quanto o 1º de Dezembro e, sobretudo, o tesouro moral que guarda e encerra.
O país sente-se perdido, bastante à deriva. Aumentam inquietações e
perplexidades. Falta-nos um rumo, um propósito, um destino. Sim, sabemos que é preciso
sacrifícios; mas para quê? E em que sentido? Pois sim, era a troika. E depois da troika? Quo
vadis? Para onde vamos? E somos o quê? Queremos o quê? Temos destino? Claro que temos
destino! Mas qual? Qual é o futuro e o destino que queremos construir? De que raiz vimos?
De que fonte brotamos? Qual é o rumo para que apontamos, à proa, e não apenas aquele
que nos empurram, à popa?
Em todas estas questões e outras que nos inquietam, o 1º de Dezembro é uma
resposta, uma poderosa fonte de energia e uma belíssima circunstância. Porque é
património de liberdade, de independência e de galhardia. Porque nos ajuda a recentrarmo-
nos na nossa própria centralidade e na eficácia única da nossa vontade colectiva. Porque
nos refresca – e nós estamos a precisar tanto de água fresca e de ar fresco.
O 1º de Dezembro é espiritualmente potente para isso. Tem na longuíssima História
portuguesa e na memória que carrega e nos alimenta um valor simbólico único que nos
presta precioso serviço enquanto portugueses e como europeus. Sim, nós somos europeus,
mas não somos alemães. Nós somos europeus, mas não somos espanhóis. Nós somos
europeus, mas não somos franceses. Nós somos europeus, mas não somos finlandeses.
Nós somos europeus, porque somos portugueses. E é refazendo-nos sobre nós próprios,
recentrando-nos nas nossas capacidades e vocação, vencendo as nossas dificuldades e
problemas e reconstruindo a centralidade do nosso papel e destino que superamos o
decadente sentimento periférico e desvalido. Sendo nós, fortes e fortalecidos portugueses
de Portugal, também nos apetrechamos para ir contribuir para socorrer a Europa da
perigosa encruzilhada – perigosíssima encruzilhada! – em que está e onde nós fazemos
falta, fazemos muita falta, para proteger, construir e salvar o destino continental
verdadeiramente comum.
Viva o 1º de Dezembro!
Obrigado, Portugal. Viva Portugal!
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