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Q uando falamos em acidentes
com animais peçonhentos, a
primeira coisa que nos vem à
mente é acidentes com serpentes. Apesar
de serem comuns, principalmente no
meio rural, outros animais têm contribuí-
do também. Segundo informações do
Sistema Nacional de Notificações de
Agravos (SINAN) de 162.234 acidentes
notificados em 2013, no Brasil, 79.481
eram por escorpiões, seguidos de 29.816
acidentes por aranhas e 28.247 por ser-
pentes. O aumento no número de aciden-
tes é decorrente da influência do homem
no habitat natural dos animais, o que é
preocupante, pois, estes acidentes podem
matar ou produzir sequelas que incapaci-
tam temporária ou definitivamente para
o trabalho e para as atividades habituais
de lazer.
Embora o número de acidentes notifi-
cados por escorpiões seja maior, as ser-
pentes estão entre os animais peçonhen-
tos mais perigosos, sendo responsáveis
por 132 óbitos, em média por ano, para o
período de 1990 a 1995, segundo o Sis-
tema de Informações de Mortalidade
(SIM). Já os escorpiões e as aranhas são
responsáveis pela média de 38 e 6 óbi-
tos, respectivamente.
No Brasil, também são considerados
peçonhentos algumas abelhas, formigas,
vespas, besouros, lacraias, águas-vivas e
caravelas.
Desta maneira, falaremos sobre ser-
pentes, escorpiões, aranhas, lagartas e
prevenção e no próximo número sobre
outros animais, cuidados e o que fazer
em casos de acidentes.
Acidentes de Trabalho com Animais Peçonhentos
2ª Etapa do Curso de Visat em Cuiabá
Fonte: SINAN MS
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Ano 2 Número 3
Janeiro/Fevereiro 2016
0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%
O Cerest Regional junto com profissionais
dos estados de Goiás, Mato Grosso e Tocan-
tins, participou da 2ª Etapa do Curso de For-
mação de Multiplicadores para a Imple-
mentação de Ações de Vigilância em Saúde
do Trabalhador no âmbito da RENAST,
em Cuiabá-MT.
O objetivo do curso, é qualificar profissionais
para atuarem no Curso Básico de Vigilância
em Saúde do Trabalhador (Visat) como
estratégia de capacitação maciça de agentes
de Visat.
O Cerest Regional também participou do I
Fórum Intersindical de Formação em Saú-
de -
Trabalho-Direito para a ação em Saúde do
Trabalhador do Estado de Mato Grosso.
Estiveram presentes membros da CIST, dos
Sindica tos da Cons trução Civi l
(SINTAICCCM), da Construção Pesada
(SINTECOMP), e dos Trabalhadores em Sa-
úde e Meio-Ambiente (SISMA).
Mordida ou picada:
as serpentes que não possu-
em presas (áglifas) deixam
uma marca com os dentes do mesmo tamanho
(1);
a coral-falsa (opistóglifas) deixa uma marca
com dois furos maiores no fundo (2);
já a coral-verdadeira (proteróglifa) tem a
mordida fechada com dois furos maiores na
frente (3);
as jararacas e cascavéis (solenóglifas) dei-
xam uma marca mais reta e dois furos grandes
na frente (4)
Fosseta loreal: é um buraquinho que fica
ente o olho e a narina e permite à serpente sen-
tir as diferenças de temperatura no ambiente e
de outros animais. É comum nas serpentes pe-
çonhentas, embora a coral-verdadeira não a
tenha.
Escamas: as escamas das serpentes peço-
nhentas parecem muito casca de arroz e não são bri-
lhantes, novamente, a coral-verdadeira possui as esca-
mas lisas (placas) e brilhantes.
Caudas: as jararacas e corais apresentam a cauda lisa;
já as cascavéis apresentam um guizo (chocalho) no fi-
nal da cauda, e as surucucus possuem as escamas eriça-
das (levantadas).
O termo “serpente” é utilizado de modo geral,
enquanto que “cobra” é usado para alguns
répteis muito venenosos da África e Ásia – as
najas. Apesar dessas diferenças em algumas partes do
mundo, no Brasil são sinônimos. Não está errado utili-
zar o termo cobra, mas o mais adequa-
do é utilizar serpente.
As vítimas mais comuns das serpen-
tes são trabalhadores rurais, e 80% dos
acidentes ocorrem abaixo do joelho,
portanto, é importante conhecer para
prevenir.
Cabeça triangular: embora seja uma
característica comum nas serpentes peçonhentas, a ji-
boia também possui cabeça triangular, enquanto que a
coral-verdadeira possui a cabeça ovalada.
Dentição: como já vimos, as
mais perigosas são aquelas que
possuem presas inoculadoras de
veneno. Estas são móveis e se
abrem totalmente (solenóglifas):
cascavel, jararaca e surucucu. Nou-
tras, a presa é fixa e fica na região
anterior da boca (proteróglifas):
coral-verdadeira. Ainda há as ser-
pentes que possuem as presas fixas no fundo (posterior)
da boca (opistóglifas): coral-falsa,
muçurana e cobra-cipó. Nestas últi-
mas os envenenamentos são mais
raros.
A nimal venenoso é aquele que secreta algu-
ma substância tóxica para outros animais,
inclusive para o ser humano. Essas subs-
tâncias, ou venenos, podem estar presentes na pele ou
em outros órgãos e têm a função de proteger o animal
contra predadores. Alguns pei-
xes, diversos anfíbios e alguns
invertebrados são exemplos de
animais venenosos.
Existem animais que, além
de possuir veneno, possuem
estruturas especializadas
(dentes, ferrões, espinhos),
capazes de injetar (inocular)
seus venenos. Quando isto
ocorre, os animais são chama-
dos de peçonhentos. As abelhas, marimbondos, lagar-
tas, aranhas, escorpiões, alguns peixes e as serpentes
são exemplos de animais peçonhentos.
As serpentes consideradas peçonhentas possuem
bolsas de veneno localizadas de cada lado da cabeça,
recobertas por músculos e ligadas às presas injetoras
(inoculadoras). Essas presas têm tamanho diferencia-
do dos demais dentes e podem estar localizadas na
região anterior e posterior da boca (na frente ou no
fundo da boca).
Muitas serpentes possuem
uma secreção cujo objetivo é
iniciar a digestão da presa já na
boca. Numa mordida, pode ha-
ver infecção, mas não é enve-
nenamento. Outras, como a ji-
boia, sucuri ou boipeva (foto),
não possuem venenos e matam
por asfixia, isto é, se enrolam
no corpo da vítima e comprimem o corpo.
Página 2
Cobras ou Serpentes?
Animais Venenosos ou Peçonhentos?
I NF ORM AT IV O DA SA Ú DE DO T RA B ALHA DOR
As jararacas estão em todo o Brasil e são responsá-
veis por 90% dos acidentes com serpentes. Após a pica-
da surgem manchas arroxeadas no local, dor e inchaço.
Pode haver sangramento no local, e em outras partes do
corpo, como nas gengivas, em ferimentos recentes e na
urina podendo haver complica-
ções, como infecção e morte do
tecido (necrose) no local picado.
Nos casos mais graves, os rins
param de funcionar, levando à
morte.
As cascavéis também ocorrem em todo o Brasil, em-
bora prefiram áreas abertas, secas, arenosas e com pe-
dras. São responsáveis por cerca de 8% dos acidentes
com serpentes, cujo número reduzido deve-se ao guizo
(chocalho) que a serpente agita quando se sente ameaça-
da.
Após a picada, quase não ha alterações no local. A
vitima pode apresentar visão borrada ou dupla, pálpe-
bras caídas e aspecto sonolento. Pode haver dor muscu-
lar e a urina torna-se escura algumas horas depois do
acidente. Os rins podem ser afetados e haver diminuição
da urina, podendo levar à morte.
A surucucu é responsável por apenas 1,5% dos aci-
dentes e é encontrada na Amazônia e nas florestas da
Mata Atlântica, do Estado do Rio de Janeiro ao Nordes-
te. São serpentes que chegam até a 3,5 m e o quadro a-
pós a picada é muito semelhante à jararaca, podendo ha-
ver vômitos, diarreia e queda da pressão arterial, poden-
do levar a morte.
A coral é encontradas em todo o Brasil vivendo no
solo sob folhagens, buracos, entre raízes de árvores, am-
bientes florestais e próximo de água.
No local da picada não se observa alteração importan-
te, porém a vítima apresenta visão borrada ou dupla, pál-
pebras caídas e aspecto sonolento. Pode haver aumento
na salivação e insuficiência respiratória e consequente-
mente, morte.
Picadas e mordidas
A NO 2 NÚ ME RO 3 Página 3
Lagartas Lonomia As lagartas são formas larvais (não adultas) de borbo-
letas ou mariposas. As taturanas ou lagartas de fogo, são
as espécies que possuem pelos (cerdas) longas e colori-
das, as vezes inofensivas. Outras como a lonomia (foto
acima), possuem cerdas que lembram pinheirinhos com
glândula de veneno que provocam ardência, inchaço ou
queimação. As vezes hemorragia (gengivas), mal fun-
cionamento renal e sangramento grave no pulmão e cé-
rebro. A lonomia é encontrada em todo o Brasil e o tra-
tamento do envenenamento é com soro antilonômico.
Porém existe uma outra taturana, responsável pelo
“reumatismo dos seringueiros” ou “paramose”: a parara-
ma (Premolis semirufa, foto abaixo). O veneno dessa
lagarta causa inflamação nas
articulações do seringueiros,
podendo levar a deformações
nas mãos impossibilitando o
trabalho.
As aranhas são animais carnívoros. Alimentam-se princi-
palmente de insetos, e as vezes lagartixas, rãs, peixes, roe-
dores e filhotes de pássaros.
Todas as aranhas têm veneno, mas nem todas são preju-
diciais aos seres humanos, por causa da baixa toxicidade
do veneno, da pequena quantidade de veneno injetada e das
quelíceras (ferrões) incapazes de perfurar a pele.
No Brasil , apenas três gêneros, possuem interesse para a
saúde:
viúva negra (Latrodectus) - constrói teias irregulares
em arbustos, latas e pneus velhos, não é agressiva e os aci-
dentes ocorrem quando são espremidas contra o corpo;
causa dor e contrações musculares no local da picada que
podem ser aliviados com compressa quente. Suor intenso
(sudorese) e alterações circulatórias também podem ocor-
rer. Existe soro específico, mas não no Brasil;
aranha marrom (Loxoceles), constrói teias irregulares
em fendas, telhas, tijolos e cantos ao abrigo da luz. A pica-
da não dói, podendo passar despercebida, depois aparece
vermelhidão, dor, endurecimento, bolhas e escurecimento
(necrose); febre, cor de cabeça e urina escu-
ra. Possui soro específico (antiloxoscélico);
armadeira (Phoneutria) - não constrói
teia, se esconde em telhas, cascas de árvore,
materiais de construção, etc... É agressiva,
fica sobre as patas traseiras e “arma” o bote,
podendo saltar sobre a vítima. Sua picada é
dolorosa e acompanhada de edema
(inchaço) pode haver sudorese, enjoos, vômitos,Em crian-
ças problemas cardíacos e choque (situação em que algu-
mas alterações no corpo podem levar à morte).
Dependendo da gravidade do caso, o soro antiaracnídico é
o indicado, porém pode ser usado o soro antiescorpiônico.
Os acidentes causados por aranha de grama (Lychosa) e
caranguejeiras (tarântulas) provocam, em geral, apenas
sintomas leves.
Aranhas Peçonhentas
alimento destes predadores;
Sempre que for remexer em bura-
cos, folhas secas, vãos de pedras,
ocos de troncos ou caminhar pelos
campos, use um pedaço de pau ou
graveto. Eles ajudam a evitar aci-
dentes;
Tapar vãos em portas, janelas e muros e usar telas
quando possível. Nas soleiras das portas é necessário
colocar sacos de areia (em forma de cobra) para vedá-
las. Evita-se, assim, a entrada de animais peçonhentos;
Não se deve segurar as serpentes com as mãos. Mes-
mo quando mortas, suas presas continuam sendo um
risco de envenenamento;
Verificar, antes de utilizar sapatos, roupas e outros
objetos de uso pessoal, se eles não trazem escondidos
alguns desses animais peçonhentos;
Para evitar contato com lagartas, utilizar luvas quando
na colheita de frutas e observar nos troncos das árvores
durante o dia.
Rua Sergipe, 402 - Jardim dos Estados
Campo Grande– MS
79.020-160
CERE ST REGIONAL C AMPO
GRANDE
Tel.: 67 3314-3718
E-mail: cerestregional@sesau.capital.ms.gov.br
Participe!
Para saber mais, clique no texto e acesse as fontes consul-tadas para este Informativo:
Cartilha de Animais Peçonhentos da Fundação Ezequiel Dias
Prevenção de Acidentes com Animais Peçonhentos da Fundacentro
Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peço-
nhentos da FUNASA
Outras fontes:
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/08/acidentes-com-animais
-peconhentos-no-pais-dobram-em-10-anos.html
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/
svs/acidentes-por-animais-peconhentos
As imagens e figuras foram obtidas em sites, blogs e homepages da internet, cujo objetivo é harmonizar os textos, tornando
a leitura mais agradável.
Prevenção de Acidentes Conforme disposto na Norma Regulamentadora Rural
(NRR) nº 4, aprovada por meio da Porta-
ria n° 3.067, de 12/4/1988, do Ministério
do Trabalho, os proprietários rurais são
obrigados a fornecer gratuitamente aos
empregados proteção para os pés, pernas,
braços e mãos. Leia com atenção as dicas
abaixo para evitar acidentes com animais
peçonhentos:
Use sempre botas de cano alto ou botinas com pernei-
ras, bem como luvas de raspa de couro e/ou mangas de
proteção nas atividades que ofereçam riscos para os bra-
ços e mãos. Botas podem evitar 80% dos acidentes com
serpentes, enquanto que os sapatos comuns evitam até
30% destes acidentes;
Para evitar a presença de animais peçonhentos nas
proximidades da residência, é importante realizar a lim-
peza das áreas ao redor da casa, paiol ou plantação, eli-
minando montes de entulho, acumulo de lixo ou de fo-
lhagens secas e alimentos espalhados no ambiente. Isso
evita a aproximação de ratos, baratas e outros insetos,
Os escorpiões são animais carnívoros que se alimen-
tam de insetos, principalmente baratas, mas podem ficar
longos períodos sem se alimentar. Absorvem água pelo
corpo, por isso são encontrados em locais com pouca
umidade, embaixo de madeiras, entulhos, troncos, telhas
e esgotos.
De 1.500 espécies de escorpiões, apenas 25 são capa-
zes de provocar acidentes graves ou fatais. No Brasil, as
principais espécies são: escorpião amarelo (Tityus serru-
latus), responsável por acidentes de maior gravidade,
ocorre na Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Góias,
São Paulo e Paraná; escorpião marrom (Tityus bahiensis
-foto alto à esquerda), ocorre em Goiás, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul; Tityus stigmurus que ocorre nos es-
tado da Região Nordeste; Tityus cambridgei (escorpião
preto-foto alto à direita) ocorre na Região Amazônica e
não existem relatos de acidentes.
Todos são achatados com quatro pares de patas,
“mãos” em formato de pinças, um par de quelíceras e
uma cauda com um ferrão na ponta (aguilhão) por onde
injetam o veneno.
No local da picada, surge dor imediata e, muitas vezes,
intensa, ardor, queimação ou agulhadas. Nos casos gra-
ves, que ocorrem geralmente com crianças, e principal-
mente nos acidentes causados por T. serrulatus, pode
haver sudorese intensa, enjôos, vômitos, agitação, bati-
mento cardíaco acelerado (arritmia) e choque.
Escorpiões
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